ÃO III
GRUPO I
PARTE A
Leia o excerto do capítulo 11 da Crónica de D. João I.
Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavom o Meestre, e como aló foi Alvoro
Paaez1 e muitas gentes com ele.
O Page do Meestre que estava aa porta, como 2 lhe disserom que fosse pela vila segundo já era
percebido3, começou d’ir rijamente a galope em cima do cavalo em que estava, dizendo altas
vozes, braadando pela rua:
– Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Mestre que matam!
5 E assi chegou a casa d’ Alvoro Paaez, que era dali grande espaço.
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar uũs com
os outros, alvoraçavom-se nas voontades 4, e começavom de tomar armas, cada uũ como melhor
e mais asinha5 podia. Alvoro Paaez que estava prestes e armado com ũa coifa 6 na cabeça segundo
usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duũ cavalo que anos havia que nom
10 cavalgara; e todos seus aliados com ele, braadando a quaes quer que achava dizendo:
– Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca7 filho é del-Rei dom Pedro.
E assi braadavom el e o Page indo pela rua.
Soaram as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavom o Meestre; e
assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo 8 de marido, se moverom
15 todos com mão armada, correndo a pressa pera u 9 deziam que se esto fazia, por lhe darem vida e
escusar morte. Alvoro Paaez nom quedava10 d‘ ir pera alá11, braadando a todos:
– Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha cousa de veer. Nom cabiam
pelas ruas principaes, e atravessavom logares escusos, desejando cada uũ de seer o primeiro; e
20 preguntando uũs aos outros quem matava o Meestre, nom minguava 12 quem responder que o
matava o Conde Joam Fernandez13, per mandado da Rainha.
E per voontade de Deos todos feitos duũ coraçom 14 com talente15 de o vingar, como forom16
aas portas do Paço que eram já çarradas, ante que chegassem, com espantosas palavras
começarom de dizer:
25 – U matom o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?
Ali eram ouvidos braados de desvairadas maneiras. Taes i havia que certeficavom que o
Meestre era morto, pois as portas estavom çarradas, dizendo que as britassem 17 pera entrar
dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que cousa era aquela.
Deles18 braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e queimar o
30 treedor19 e a aleivosa20. Outros se aficavom 21 pedindo escaadas pera sobir acima, pera veerem
que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se nom entendiam uũs com os
outros, nem determinavom neũa cousa. E nom soomente era isto aa porta dos Paços, mas ainda
arredor deles per u homeẽs e molheres podiam estar. Ũas viinham com feixes de lenha, outras
tragiam carqueija pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo
35 muitos doestos22 contra a Rainha.
Fernão Lopes, in Teresa Amado (apresentação crítica), Crónica de D. João I de Fernão Lopes
(textos escolhidos), ed. Revista, Lisboa, Editorial Comunicação, 1992 [1980], pp. 95-96.
1
burguês bastante rico, padrasto de João das Regras, que fora chanceler-mor dos reis D. Pedro e D. Fernando; abandonou este
cargo com o pretexto de doença; mas, segundo Fernão Lopes, ter-se-ia afastado da corte, envergonhado com a desonra de
D. Fernando, ocasionada pelo licencioso comportamento da rainha; tornou-se o chefe da insurreição em 1383; 2 quando; 3
combinado; 4 alvoraçavom-se nas vontades: revoltavam-se; 5 depressa; 6 parte da armadura que defendia a cabeça; 7 porque; 8
em lugar de; 9 onde; 10 não parava; 11 lá; 12 não faltava; 13 Conde João Fernandes Andeiro, nobre galego, amante da rainha e por
ela nomeado conde de Ourém; 14 todos feitos duũ coraçom: todos animados pela mesma coragem; 15 desejo; 16 como forom:
logo que chegaram; 17 arrombassem; 18 alguns deles; 19 traidor; 20 adúltera; alusão a D. Leonor Teles.; 21 insistiam; 22 insultos.
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TESTE DE AVALIAÇÃO III
2
Indique as medidas tomadas pelo povo assim que chegou aos paços da rainha.
3
Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada
espaço.
a. b. c.
1. ter tomado consciência da 1. personificação 1. “e per voontade de Deos todos feitos
traição iminente. 2. antítese duũ coraçom”
2. se ter unido na defesa dos 3. metáfora 2. “desejando cada uũ de seer o primeiro”
interesses do reino. 3. “que se nom entendiam uũs com os
3. ter acorrido às ruas para outros”
denunciar o plano de Álvaro
Pais.
PARTE B
Leia a cantiga de escárnio a seguir apresentada.
Vem um ric’home1 das truitas,
que compra duas por muitas,2
e coz’end’a ũa.3
10 E, u as vendem bolindo5,
vai-s’en com duas riindo6,
e coz’end’a ũa.
Roi Paes de Ribela, V 1027 (in https: //cantigas.fcsh.unl.pt).
1
homem rico (pertencente à nobreza); 2 duas por muitas: duas como se fossem muitas; 3 e coz’end’a ũa: e coze uma delas;
4
Por quanto xi querem nenas: apesar de se quererem grandes (grossas); 5 fresquinhas, a saltar; 6 como se estivessem a frigir,
isto é, não frescas, por oposição a bolindo (v. 10).
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TESTE DE AVALIAÇÃO III
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TESTE DE AVALIAÇÃO III
GRUPO II
Leia atentamente o texto.
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TESTE DE AVALIAÇÃO III
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TESTE DE AVALIAÇÃO III
1
Para completar cada um dos itens de 1.1 a 1.7, selecione a opção correta.
1.3 Na frase “Os grandes símios, incluindo chimpanzés, orangotangos, bonobos e gorilas”
(l. 4), a palavra “símios” e os restantes nomes comuns
A. pertencem ao mesmo campo lexical.
B. estabelecem uma relação de hiperonímia/hiponímia.
C. pertencem ao mesmo campo semântico.
D. estabelecem uma relação de holonímia/meronímia.
1.5 A frase “Mas uma nova investigação de cientistas chineses mostrou que os macacos
Rhesus podem ser ensinados a reconhecer que a face que está a olhar para eles no
espelho é a sua própria face” (ll. 7-9) inclui
1.6 Na frase “pôs-se uma mancha de tinta na cara dos macacos” (l. 10), a expressão subli-
nhada desempenha a função sintática de
A. modificador.
B. predicativo do complemento direto.
C. complemento oblíquo.
D. complemento indireto.
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GRUPO III
Redija a síntese do artigo apresentado no grupo II, num texto com cerca de 110-130 palavras.
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