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Revista de divulgação científica da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência


Ano 1 n9 3 - novembro/ dezembro de 1982 - CrS 400,00
WJ



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ARTIGOS
PLANTAS MEDICINAIS WALTER MORS 14
O poder curotrvo elo~ plontos: mito e realtdode


0 BRASIL VOLTA AS URNAS BOLIVAR LAMOUNIER 20
.A ctênc10 polthco dtonte elo fen6meno elos eletç6M

CARAJÁS, 0 GRANDE DESAFIO ARGEMJRO FERREIRA E OUTROS 30


Reportagem sobre o Programo Grande Corajas, com um doslté de estudos reloc•onodos ao temo

NOVAS TEORIAS DO COSMOS MARIO NOVELLO 54


.A concepção trod•c•onol do Unrverso questtonodo

. '
TRINTA ANOS DE FIS ICA TEORICA SILVIA CMt.POLIM 60
Trigéstmo onrversono do lnstttuto de fístca Teor•ca de Sôo Paulo

OS PARASITOS DO HOMEM ANTIGO LUIS FERNANDO FERREIRA, ADAUTO J G DE ARAUJO, ULISSES EUGENIO CONFALONIERI 63
Estudos em poleaporasitologta revelam doença\ dos nossos ancestrais

VACINAS NELSON MORAES 68


Como são fobricodos, e como se deve u~a-los

A CAMINHO DO CONTROLE BIOLÓGICO: O COMBATE ÀS PRAGAS SEM POLUIÇÃO ARGEMIRO FERREIRA 74


Novos pesquisas sobre métodos nõo-poluent~ de extermínio de progos

SEÇOES-
CARTAS 2
AO LEITOR 5
TOME CltNCIA • 6
TECNOLOGIA . .. ... ' '' o • o '

.. . .. . . .. .. • 8
PERFIL 10
O LEITOR PERGUNTA 12
HUMOR 13
RESENHA .. 77
t BOM SABER 78

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de Computação Ctentífica, CNPq); Henri· (Obsef\atório Nac1onal. CNPq), José Antô· te-fmal).

novem bro/dezembro 1982 1


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SUGESTOES gostaria de saber, se fosse possível, qual é a gulamentada a Lei n. o6 938. de 3 1/8/8 1, que
fonte do dado que o ar de Cubatão contém Se- cria a política naciOnal do meio amb1ente.
( ... )Gostaria de ver publicados em Ciência vin (como material particulado) numa quanti- modelo econômico e sua implicação ambien-
Hoje artigos obre plantas .medicinais. O as dade estimada de 35 kg/mês, que aparece na tal: teologia da questão ambiental ( ... ): parti-
sunto é tão vasto que podena merecer uma se- tabela Escolha seu \.·eneno, pág. 17 . A Union cipação popular nas que-.·õcs ambientais:
ção permanente: além domai.;;, com tanta ên Carbide é detentora desta marca registrada e Sete Quedas, Projeto Akoa-MA. COPE-
fase dada hoje em dia à ecologta e ao na- provavelmente sua fábrica de Cubatão é que SUL-RS, etc.: imprensa c meio ambiente:
turismo. não se encontra no mercado nenhu- deve -.er responsável pelo lançamento deste formação de pessoal especializado em ciên-
ma publicação capaz de enfocar o assunto praguicida no ar de Cubatáo. ( ... ) Espero que cia~ ambientais.
sem pairar sobre generalidades ou descambar o número 2 confirme a qualidade técnica, Finalizando. parabenizo-o" urna vez mais.
para o empirismo ou o mi~tici~mo tropi- científica c tipográfica da revista. da nossa prometendo ser um divulgador da rcvtsta en-
calista. Uma abordagem ctentífica, metódica querida SBPC. quanto perdurar sua atual linha editorial. que
e realmente profunda (por exemplo, a cada
t , , •
Joaquim Teodoro de Sou1a Campos - espero não ver modificada.
número uma· 'reportagem com uma cspecte Araraquara (SP) -João Augusto Samp~io - Salvador
ou exemplar selecionado) preencherá impor • Os dados constantes da tabela publicada (8A)
tante lacuna em nossa busca por conheci- resultaram de e.,rimadas emi.,,,ões de poluen-
mento. além de voltar os olhos da comuni- • A preocupação com tema<~ relmiwJs cw
re.~· .feitas pela CETESB com ba.H• 110\ proces-
dade de leitores para um campo de pesquisa meio amhienre é também IIOS.w . A SBPC
.w s produtivo.\·.
brasileiro por excelência, o que é sempre bom malltém uma comissão permanente encarre-
lembrar. ( ... ) gada do l'.wme e discusslio de temas referen-
Parabéns pela excelência da publicação
Carlos A. Flores Jr. -Rio (RJ) Estou muito satisfeito de possu1r a rev1sta te'\ â de(l'.
. \ll do meio embil'nte. Um de seu.\'
~

• Seu desejo está parcialmente satiJjeito desde o n." 1. Como certamente não serei o membro\, o prof Angelo Machado , illleRra
pela publicaçâo do artigo de Walter M ors. no único que vai colecioná-la, sugiro a elabora- no.\ \O Conselho l:..diroria/ e e.\llÍ aremo a pro-
'
presente numero . postas ( omo to !>LUIS.
ção de um índice anual. a~sirn como a confec-
ção de um sistema de capas apropriadas.
Gostaria inicialmente de parabenizá-los Frederico AI Strassburger - Itoupava Apesar de ter adqumd0 apenas a Ciência
pela excelente revi-.ta. onde o rigorismo cien (SC) lloje n.n 2 (não encontrei o n. I nas banca'> l.
tffico nunca é traído pela sunplicidade das ex- já deu para observar a excelente qualidade
plicações dos diferente~ autores-cientistas. ( .. ) tomo a liberdade de acrescentar algu- ... . . ão claros. ace s~ívci-.
<k-.ra revi-.ta. Os artigos
Aproveito a oportunidade para solicitar-lhes mas sugestocs para a revista, como por exem- c objetivos. Outro fato importante é que os as-
que em números luturos abordem o assunto plo uma capa dura, no final de cada se1s revis- suntos são realmente de grande intcressc. pois
Einstem e a teoria da relatividade em forma de tas, para o encadernamento das mesmas, além de tlcspertarem n.tturalrnente noss.t
divulgação científica para um público se ndo que em cada sexta rcv1sta acompanhas- atenção para os fatos são cscntm. por ctcntts-
leigo.( ... ) se um índice sobre os assunto .... tas brasill.:iro-. c tratam de a-.sunto.., de intercs-
Ricardo C. Martins- Porto Alegre (RS) Marcos Gomes Eleutério da Luz - ..,c do nosso país.
• O pedido está anotado. Maringá (PR) Como estudante secundário. gmtaria de di-
• A sugestão já constava de nossos planos. zer que Ciência Hoje desperta na gente aquele
Desejo cumprimentar a SB PC, em nome da e prova\·elmente será adotada . intcre-...,c c preocupação pela nova ciência.
Superintendência de Estudos Ambientais, da Scnttmos aquela vontade de participar c ag ir
Diretoria de Tecnologia e De~envolvimento Parabéns
, pela iniciativa! Acertaram em pelo desenvolvimento da pc ...quisa cicntític:~
da CETESB, pelo segundo número de Cic!n- cheio! E quase difícil de acreditar no que se vê no Brasil. Go . . taria de sugerir:
cia Hoje, que confirma e excede a expectattva nos dots primeiros número~! Mantenham o
criada pelo primeiro número. Permita-me su- padrão de qualidade. Em relação ao item 6 do - a publicação de uma seção que apresen-
gerir uma seção sobre instituições nacionais, tasse um painel sobre cur:-.o-.. sim pósio-. .
cupom de assinatura. tenho a dizer:
onde se divulgaria o que fizeram. o que fa- I. Achet muito tntere~sante c acessível ao palestras. congressos, publ icaçt)es etc.
7em, suas linhas principais de pesqutsas e do· - urna scçao que mostrasse rc'iumida-
público não especialtzado a reportagem sobre
céncia (quando couber). as oportunidades que mente os avanços e descobertas da pesquisa
Cubatão. Con~eguJU. realmente. fornecer um
oferecem de estágio. graduação. pós- quadro geral sobre o problema. Sugiro que o na ciência mundial
graduação etc. periódico ~irva de canal para o acompanha- Como ainda sou estudante secundário. es-
Luiz Roberto Tommasi - São Paulo (SP) mento das medidas corretivas que venham a tou preocupado em saber como estão as uni-
• A seção sugerida consta da pauta da re- . . cr adotadas para a região. Como vocês bem versidades em relação à biologia. c quais são
vista desde o início do projeto, tendo sidof o· discemiram. trata-se de um caso que definirá as perspectivas para um biólogo.
calizado o Museu Goeldi no número I. Ou- a questão ambiental no país ... Criará uma Gostaria de obter infom1açõcs sobre o Ins -
. . . - ..
tras mslltUlçoes se segmrao.
- ·'jurisprudência·· ambiental . tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Marcelo Augusto Gonçah·es- São Pau-
2. Reputo também muito oportuno o artigo lo (SP)
Estou escrevendo para enviar algumas su- sobre o arquipélago de Abrolho'>. Sem falar •
gestões para a revista Ciência lloje. que veio n.t apresentação gráfica primorosa. como • A idéia dl' uma seção de noricitirio de
ocupar uma lacuna no mercado editorial bra- também aconteceu no-. dl·mais artigos. evento.\ estâ sendo examinada. O endereço
sileiro.A primeira sugestão é um artigo sobre 1 Quanto aos arttgos '-lUC menos me agra- do INPA é: Caixa Po.\ ta/478: f>CJ .OOO - Ma-
os mios huer, sua produção c aplicações prá- dam cito aqueles referentes ao vento~ cósmi- naus (AM)
ticas. A sc~unda é a introdução de urna seção co... e aquele obre a est~cla (2." número) .
de cartas do Jeitore ( ... )Verifiquei que o nú- Contudo. tendo em vbta a intenção da revi~ta
mero I po sui alguns erros de Química, bem de ser uma publicação eclética. tal ob~erva­ -
CUBATAO
como algun erro tipográficos( ... ) A única ção assume um cunho memmentc particular.
crítica que faço à linguagem usada na revbta é 4. Como ugestões para a publicação. su- Pela grande procura que houve no meio estu-
a falta de explicaçáo de que PWR quer dizer giro uma grande reportagem obre a política dantil aqui de Santo:-;. motivado pelo anigo so-
reator de água prc suriz.ada (pág. 80, I. • colu- ambiental bra... ileira. envolvendo os ~ce:uintcs bre a poluição da revista Ciência Hoje, ficou ra-
na, 5. •linha) pois acredito que muitos leitore -
aspectos: legislação ambiental (naci ..1n.J. e~- pidanlcntc esgotado o primeiro fa cículo ( ... )
não entenderam estas iniciais. Por outro lado, tadual e municipal)- estti em vias de ser rc- José Antônio Maria Beiler - Santoc;; (SP)

2 ano 1/ n . o 3 CIENCIA HOJE


Depois de tcnno.., lido o artigo que trata da amigo de Bra ília, que chamou-me a atenção melhoramento, também de quase 20 anos. es·
trJgédia ecológica de Cubatão. ficamo' intere~­ para o artigo do colega e amigo Adelmar teve a meu cargo de 1958 a 1965 e tinha proje-
sadas em difundi-la atra\éS da feira de ciências Coimbra Filho. publicado no n.o 2, sobre o ção internacional:
aealizada anualmente em nosso colégio. ( ... ) trabalho. de conceito internacional e·talvez c) abate de um talhão de !->Cringueirm~. já em
acreditamos que cst~ trabalho virá a contribuir único no mundo, que vem sendo realizado início de produção e destinado ao estudo do
decisivamente para maior divulgação deste pela FEEMA no Centro de Primatologia em comportamento no RJ. cultura esta que está
problema. levando a um conseqüeme posicio- Magé. Estado du Rio de Janeiro. dirigido por sendo agora cogitada por candidatos a gover-
namento de nossa comunidade: por dispormos aquele técnico c destinado à preservação de nador do RJ e da qual já poderíamos ter mui-
apenas do artigo acima mencionado. vimos c"pécies da nossa riquíssima fauna de pri· tas informações valio,as:
solicitar a colaboração do~ -.enhore:-; no sentido matac;; . d) destruição de um pomar experimental ,
de complementar a nos~a pcc.,quisa. Gostaría- Todavia. como engenheiro agrônomo zoo· para observação c melhoramento de diversas

mos de receber material contendo as infonna- tecn i ta. e'pecializado em melhoramento c fruteiras adaptá\cis ao RJ. principalmente la-
çôes nccess{uia!". acrescido de fotos( . .. } nutrição animal c já aposentado pelo Governo ranjeiras (citros em geral). fruteiras-de-conde
Luciana Carlos· Campina Grande (PB) do E!-taúo do Rio de Janeiro por tempo de ser· (pinha). coqueiro-anão. cajueiros. goiabeiras
• A matéria sohre Cubarão despertou in- viço. chamou-me a atenção a nota Criaçcío dl• c outras espécies tropicais.
tt•re.\.\e como o rdatado em l'ário.\ .\e/Ore.\ de A' e.\ Reprodutoras, publicada na seção TEC- Dois cx-diretorl:' da Fa1enda Modelo de
emirw no pai.\. Jnfeli:mellfe não posswínos o NOLOGIA da revista. contando como novi- Guaratiba- Rafael Souto Maior e Clycinio
maTerial qul' no.\ é .wliciwdo, e remc•temos os dade o trabalho das Universidades da Viçosa do Amaral Morisson- já aposentados. mas
leitores ao., autores do texto, que sâo e.\pecia- e de Piracicaba no melhoramento genético de ainda ocupando cargos em comissão na Se·
li\fel.\ conht•ct•don•s do a .\SUIITO. aves. com o desenvolvimento de tecnologia crctaria de Agricultura do RJ. c quase todos
relativa à reprodução das chamadas ··aves- os protagonistas desse crime científico ainda
avós'' estão vivos c podem ser entrevistados, mas
FOTOGRAFIAS A bem da verdade. esse trabalho já existia não posso deixar de render um preito de sau-
Com unenso prazct comprei este segundo há muitos anos no Brasil. especialmente em dade a dois pioneiros dos trabalhos de melho-
número de Ciência 1/ojc. que "descobri'' na São Paulo. Minas Gerais e Rio de Janeiro. ramento avícola no Rio de Janeiro. a partir de
banca de Jnrnal. Parabcn11o~vos pela publica- Quando entret para os quadros da antiga Per· "aves-a vós". de desencarnados recentemen-
ção que tardou ma"> na">ceu! Considerando se a fe itura da Distri to Federal, por concurso. em te: Augusto Parisot de Gusmão (t 3 1.07 .82).
"enonnc" verba que este paí.., ga... ta crn pesqui 1948. encontrei um sério trabalho. de alguns pioneiro oficial. c Pcllcgrino Tolomei
sa. acho que o mínimo qul: possa fazer é contri- anos. com ··aves-avós'·. realizado no lnsti· <t 06. 10.82), pioneiro privado e um dos pri·
buir para 4ue a revi'ta seja raptdamente au· tuto de Zootecnia do Ministério da AgricuJ. mciros. maiores c melhore~ avicultores do
to · suficicntc . Peço~lhc-; atravé<., de ... ta um tura (Km 47) por Mcirclcs. Briquet Jr. e ou- município, hoje já sucedido por seu filho,
grande favm : gostaraa de corresponder-me com tros. e na razenda Modelo de Guaratiba. no também engenheiro-agrônomo Dionysio
os fotógrafos (profissional' ou não) que por- R io, por Gusmao. Clycinio. Alighieri e Tolomci.
ventura trabalhem ou colaborem na ilustrJção grande número de criadores que participavam Ao dispor de VV. Sas. para esclarecimen-
fotográfica da aevista. Cito alguns dele~: Carlos do Plano de Melhoramento Avícola do Distri· tos adicionais, fornecimento de documentos
Alves Seccin, Clovis B. e Castro. Wanderley to Federal. dentro da mais rigorosa técnica. originais c de nomes dos pioneiros,
de Souu. A . F. Coimbra F . R. A. \1itter- Posteriormente. as .. multinacionais das Procópio Gomes de OUveira Belchior •
mctcr. F. Amaral. R. Rocha e Stha Na ftrrna aves·· começaram a enviar pintos de um dia já Rio de Janeiro (RJ)
em que trabalho (Ktno Fotoarquivo) constante- selecionados. depois matrizes machos c fê-
mente precisamos de fotos (cromos) de temáti- meas a ~crcrn cruzadas no Brasil. para produ· •

cas brasileiras para publicações no Brasil e no ção de pintos comerciais. Isso destruiu o inci- ABElHAS
exterior.( ... ) piente trabalho que vinha sendo realizado no
Jacek Iwanicki -São Paulo (SP) nosso país. em tennos de melhoramento avi· Sou estudante de Biologia da UFRJ. Ao ler
&
• Nc·m toe/o.\ m.fotágrafos mencionados .mo cola. restando alguns técnicos abnegados c o artigo. ou melhor. a entrevista de Warwick
pro{issimuu.\. No entwllo, comunicamos a ele.\ previdentes, entre eles os que trabal havam na Kcrr. tomei conhecimento da existência da
\CU illfC'I'C.\ .\('. Fazenda Modelo de Guaratiba. tiúba. uma abelha sem ferrão. Gostaria de sa-
ber corno poderia obter informações sobre
(. .. )Venho parabcnizã.Jos pelo bom nível da Em 1965. o governador Carlos Lacerda. esta abelha.
revista, tanto no que se rdt.:re aos textos quanto considerando que em matéria de experimen- Claudia Petean 8ove- Rio de Janeiro
à qualidade gráfica. Porém. tenho uma crítica a tação agrícola. ou melhor agropecuária c ve- (RJ)
fazer. Ao ler o primeiro mimero. notei que pou- terinária. tudo já tinha sido feito no exterior c • O prof. Kerr u dispõe a atendê-la . Seu
quís,imas fotos são assinadas (... )Como fotó- bastava introduzir no Brasil. extinguiu a Se· endereço é Largo dos Amores 21- Unncrst-
gmfo. venho apelar pam o direito da nn,sa clas- cretaria de Economia. mcorporando os seus dade Federal do Maranhão - 65.000- Sôo
~erviços à COCEA. COPEG. Sécretaria de
~e profissional. em receber os cr~ditos pelos Luís (MA) .
trabalhos realil',ados. Já hü muito tempo nos ba- Saúde c Secretaria de Fazenda. Na ocastão. a
temos por cs c direito (... ) lnclu!)n'C. na própria sr. Sandra Cavalcanti. secretária de Serviços
Ciência 1/ojt•, todas a~ iJu..,tr..tçôes são assina- Socini~. obteve permissão para instalar. na UNIVERSIDADE
da...... Por que não fazer o mesmo com as fotos'? Fazenda Modelo de Guaratiba. um Centro de
Roberto Ramos Duarte - Rio (RJ) Triagem de Mendigos. construindo. para is· Com prazer adquiri o n! 1 dessa novel pu·
• O !t•itUI 1l'l1l ra::üo . Estwnos Tomando todo so. vários galpões c, nessa ocasião. foram co- blicação científica. ( .. .) Dos artigos publica-
metidos. pelo menos. quatro crimes contra a do~, A Reforma Universitária em Questâo,
o addado para mio omitir o.\· crédito.\ de,·ido.\, .
~ .
Ctencta: entre outros. despertou-me atenção. em razão
em qtul!cJIU'I' tipo de matéria .
a) a venda, a pe.w. das linhagens de "aves- de meu contato dtreto, durante mais de 30
, avós'' em criação controlada há quase 20 anos, com a juventude secundarista c a moci-
"AVES-AVOS" anos. c respectivos cruzamentos experimen- dade universitária. chamada prosaicamente
tais: de acadêmica. Essa relação se efetuou em de-
Tomei conhecimento da existência da re- b) venda. a peso. de um rebanho de suínos corrência de meus conhecimentos de espaço
vista Cit?ncia Hoje por intermédio de um da raça nacional Nilo-Canastra. cujo plano de das ciências sociais c humanas. O que se veri-

novembro/dezembro 1982 3
fica e amda se pode ver, coisa que não é do Eu c meus amigos. ~.:ada vez mais interessa- pado pela SBPC, em espectal pela Regional
conhecimento do povo, mas do entendimento dos nos assuntos ligados à ciência. adoramos do Rto, não pode ser perdtdo e , mats do que
dos mtelectuais, é a postção de torre de mar- as publicações n."'. I c 2 da rcvtsta Ciêncta Isso. precisa ser ampliado A revista está com
fim em que se coloca a ma10ria das nossas cs HoJe Sendo uma fonte riquí\sima em conhe- uma ltnguagem rnu1to boa junto a duas
colas superiores e os nossos doceme~ untver- Cimentos ctentífkos, c~ta rcvtsta leva à casa ciências a do JOrnalismo e as ciências exatas c
sitários. especialmente catedráticos. Assim, de muttos brasileiros o prazer de uma boa lei- humanas Destaco também neste primeiro nú-
perdem eles contato com a realidade de sua tura. sempre em linguagem de fáctl compre mero a divcrstdade de assunto~. coisa que me
obrigação de servir a ciência . em função um en~ão. a~ no\as descobertas no campo da parece fundamental para que Ciêncw Hoje
versa! e da comuntdadc em que vivem. En- ciência no Bra!'lil. Estamo~ mu ito ansiosos no nao vuc uma revista de dtvulgação específica •
quanto que a escola secundarista. despida de que diZ respeito ao Pn!mio Jovem Cientista, de qualquer uma das áreas do conhecimento.
objetividade, não só de cultura básica ou pro- esperançosos nos resultados, que certamente Acho também muüo oportuno. c fundamcn
fissionalizante, se perde no mare nostrum da serão de muita utilidade para as alternativas tal, a inclusao de temas como A Reforma Uni-
inutilidade No contexto da superestrutura so- de energia de que o nosso país tanto necessita versitána em Questão caracterizando assim
cial de nossa sociedade subdesenvolvida. a Com mUito orgulho de Já termos aqui no Bra- uma parte mais ligada à política educactonal e
umversidade desscrvc suas finalidade~ e ObJe- sil uma revista sena que trate tão bem da ciên ~ também à política da pesquisa. Excelente o
tivos. por se ver perdida ou deslocada de sua cia. e dando oportunidade a tantos ctentistas humor do Henfil. Como sempre! Go~taria de
função basilar da cultura brasileira. de nosso pais em divulgar ~eus projetos cien- solicitar o maior empenho do~ editores no
Em decorrência também de outros ensatos tíficos, desde Já agradecemos a SBPC e ao senttdo de não deixar acabar a prática deste
apresentados nesse número. entendemos que CNPq . pnmetro número de colocar. no final de cada
sua publicação prestará relevantes serviços à Alexandre Wanderley Cadête- Recife artigo. uma indicação de outras lettura~ sobre
comun idade brasileira, porque se revela (PE) o tema em questão. Acho fundamental Isto
como positiva na formação de novos valores pois tenho plena certeza de que Ciência Hoje
educativos, culturais, profissionais, sociais e será um excelente instrumento para profes ·
Hoje fui aprcscntaJo à revi!-.ta Ciência Hoje
econômicos ( ... ) Esta modesta mensagem de sorcs de 1 "2." e 3. " graus. Sugtro um trabalho
(n." I ) e fiquet entu~ia~mado com este· ·canal
aplauso pelo lançamento de Ciência Hoje se mat"> efetivo JUnto às escolas (bibliotecas) de •
de comumcação Jireta entre a comu nidade
faz sincera em decorrência de ponto de vista todo" os ntveis de ensmo.
cte ntffica e o público leitor". brilhante idéia
próprio c que por mais de uma vez fot, por Nelson Pretto- Salvador CBA)
da SBPC Atuando ~.,;umo receptor neste ca
mim pes~oalmentc, comunicado pela impren-
na!. lt num tapa a r~\ Ista de vocês e, melhor Consegui a duras penas o n o 2 da revista
sa escrita e falada e na cátedra.
de tudo. entendi aqu I ) que li A apresentação tqut em Brasíl ia. Estou enviando tudo dtrettt-
Sigefredo Marques Soares- Belo Hori-
gráfica da revi\ta L'~t :í muito boa e a lingua- nho para fazer a assinatura e não ter mais pro
zonte (MG)
gem utilizada é. sem dúvtda, o ponto alto da blemas. E por falar em problemas. unzinho:
publtcação, pois você'> conseguiram tornar não tenho o n." I da revista. Por isso. estou
acessíveis e até atraentes trabalhos que, por mandando um outro cheque de Cr$ 400.00
APOIO sua natureza. tendem a ande?. A-:- ilustrações para vocês mandarem o n. ~ Pelo amor de
aJudaram mutto na fix.açáo das mforrnações Deus. ME MANDEM O NUMERO I.( ... )
Devido à excelente qualidade da revtsta mas. a meu ver. você-.. poderiam abusar mais Achei a revtsta ótima. E caso vocês não te-
C1ência Hoje. apresentando artigos sérios de das cores. Outra cois<t boa que observet são os nham ma1s o número 1 disponível. o que não
plena confiança quanto à veracidade dos fa- temas variados c atuais. alguma-:- realidades pode de rnanetra alguma acontecer. por favor.
tos. abrangendo assuntos de interesse geral. brastleiras \Ístas -:-.ob fmgulos novos e que es- informem me a quem recorrer. 1::. \e não tiver
com uma impressão gráfica e fotografias im- timulam mutto a leitura de Ciência Hoje. ~
mesmo. se voces nao - consegUirem mesmo o
pecáveis( ... ) envio-lhes formulários de asst Por tudo o que.: c'\tá aí acima c pela curiosi- n ' I , cnvtcm de volta o cheque que eu vou ver
nante que estou presenteando a um amigo. dade c confiançc1 na qualidade daquilo que quem tem e tirar uma xerox
professor e pesquisador. na Untversidadc Fc virá em seguida. c..í estou. agora como trans- Nikolaus H.J.M. von Behr- nrasília
dera! do Amazonas, Manaus, onde a revi!-.ta missor no canal, por duas ratões· a pnmeira é (D(i')
ainda não é conhecida . Faço aqui uma suges cumprimentá-los pela inic tattva, desejando-
• Valeu o bom humor. Seu exemplar do
tão para que a revista também circule naquela lhes o mruor succ\~O que, o;,cm dúvida. vocês .. • , o ,. •

pnmetro numero Ja seguw.


cidade tão longínqua mas que ainda faz parte já estão por merel·er. A segunda é soltcitar a
de nosso território. Parabéns por esta inicia- inclusao de meu nome na lista de assinantes Estava vendo o 1.'' número da revista Ciên-
tiva de altíssimo gabarito. de Ciência Hoje ... ) cia Hoje na casa de um amigo. Achei muito
~

Urara Kawazoe- Campinas- SP Antônio Cesar B. Pereira da Si h ·a - interessante mesmo Continuando nesta li-
• Em Manaus . a revista pode ser enco111ra- Curitiba (PR) nha vai scruma revtstadiferente. Aliás vai ser
da através da Secretária Re8ional da SBPC. mais um serviço que a SBPC presta à nação.
Prof." Maria Lucia Ahsy. INPA . C P 478 . Es- Venho dar-lhes os parabéns pela mara"i- Frei João Xerri, O.P.- São Paulo (SP)
., , • "* •
peramos que Jll no pronmo numero a rewsta lhosa revista Ciência Hoje. Maravilhosa por
seja di.\lribuida em Manau.L seus ternas nacionais. por sua linguagem fácil Achei a revista muito interessante. ótima
e por abranger todos os assuntos Espero que mesmo . Trata de assuntos científicos
Foi com imensa alegria que recebi Ciência vocês continuem a!'..stm. pois o Brasil já es- (hiológicos , sociais. físicos, econômicos)
Hoje . Degustei-a com o prazer entre o jor- tava na hora de ter um veículo de divulgação com bastante seriedade e !'>em nenhum sensa-
nalista c o científico. c parabenizo os colegas da ciência. Por ~ .l(.cmplo. cu assinava Scienti- donalismo. Que ela tenha uma hoa sonc!
pela perfeita dosagem . Agora C!)tou com o fic An;erican . mas agora assinarei Ciência l\tarimélia Porcionatto -S. Paulo (SP)
exemplar debaixo do braço fazendo a divul- Hoje.
gação entre os brasileiros aqui na Alemanha. Carlos Borgarth da Sil\'a - Rio de Ja- Venho parabenizá-los pela excelente publi-
bem como solicitando às bibliotecas para que neiro (RJ) cação de Ciência Hoje. De há muito que ne-
assinem a revista. ( .. .) No '"namoro" do pró- cessitávamos de um porta-voz da Ciência em
.
XImo '
numero. Ciência Hoje é um novo espaço só panl o todos os seus a ... peclo~ e V. V. Sas. vieram em
Prof. Carh-,s Tomaz - Düsscldorf- campo editorial brasileiro mas também. e boa hom preencher essa lacuna.
República Federal da Alemanha. principalmente. para a ciência. O espaço ocu- José Ricardo Maluf- Sumaré (SP)

4 ano 1/ n.• 3 CIÊNCIA HOJE


A LEIT R
Caro leitor:

As eleições de 15 de novembro são assunto obrigatório. O de cada grupo de projetos deverá resultar da discussão demo-
processo de escolha de governantes e legisladores através da crática envolvendo a sociedade como um todo, seus represen-
consulta direta ao cidadão encerra a possibilidade de alteração tantes parlamentares, governantes e os cientistas.
da situação vigente. e cria em muitos a expectativa de conver- Já temos uma história muito digna de criação de bons cen-
ter aspirações em realidade. tro~ de ensino e pesquisa. Esse patrimônio. no entanto. é ex-
Quats seriam as aspirações daqueles que se preocupam com tremamente delicado e vulnerável~ se sua consolidação custou
a ciêncta brasileira em relação a um acontecimento de tama- consideráveis esforços, eles podem, no entanto, ser mviabihza-
~ ., ,
nho significado? Em várias ocas10es, nos último\ anos, os dos em tempos muttos curtos, como Ja ocorreu em epocas re-
cientistas brasileiros ofereceram à opinião pública e as autori- centes. Cnses de confiança, retrocessos e reVIravoltas na polí-
dades seu pensamento acerca de vários assuntos ligado~ à ati- ttca científica, perturbações no poder central, podem resultar
vidade científica O acordo nuclear. a defesa do meio am- na perda e evasão de talentos, ou, o que é ainda pior, no declí-
biente, a questão de Carajás (veJa a matéria de capa deste nto de instituições inteiras. Manguinhos que o diga.
número), para citar apenas alguns dos problema' mais gritan- O documento ind1ca ainda que a carência de recursos - ex-
tes, têm sido obJeto de pronunciamentos claros c bem funda- pressa pela dtminUtção progressiva, nos últimos cinco anos, do
mentados. percentual orçamentário federal dedicado à ciência e tecnolo-
Além disso, os presidentes de algumas das mais prestigio- gta (C & T) - , é, sem dúvida, um dos fatores de maior impor-
sas sociedades científicas do país escreveram recentemente tância em qualquer discussão sobre o assunto. Em 1975, o
um documento sobre a situação do apoio a pesquisa no Brasil, Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-
divulgado na imprensa. Esse documento oferece uma visão co representava l, I 11 o do Orçamento da União; em 1981, havia
didática e clara do sistema em vigor. Não custa relembrar, caído para 0,4° 0 , enquanto o número de pesquisadores em ati-
para o conhecimento de todos. em especial de nossos futuros vidade não deixou de crescer durante o período.
governantes c legisladores, os pontos mais notáveis do pensa- O que a redução de verbas para a C & T mdica é extrema-
mento ali expresso. mente grave: a insensibilidade do poder púbüco em relação à
Inicialmente não se pode pretender constituir da noite para importância da C & T para o futuro de um pais que pretende
o dia uma ciência atuante e capaz de produzir impacto social e algum dia classificar-se entre as nações desenvolvidas.
econômico. O processo é caracteristicamente lento, a escala Os cientistas - como de resto toda a população - vem
de tempo típica sendo da ordem de dezenas de anos. O pro- procurando aumentar sua participação no processo de desen-
duto obtido, contudo, é dos mais preciosos de que dispõe o volvimento do pais. Levar em conta este fato parece-nos a pri-
país, e se constitui em um dos melhores

investimentos que ele meir~ postura a esperar dos eleitos no pleito de 15 de no-
poderia fa1er visando um futuro de autonomia tecnológica. A vembro. Só assim poderão ser evitados episódios como o que
• atividade científica, em nosso país, se concentra nas universi- envolveu recentemente a questão do financiamento à C & T .
• dades, onde se associa às atividades de ensino. O resultado Um projeto que estava sendo dtscutido em âmbito governa-
principal desta conjunção é a transmissão de uma atitude cien- mental para a reforma do sistema de apoio à pesquisa no pais
tífica e de conhecimentos atualizados aos allHlos é:Jas carreiras .. vazou" através da imprensa, com grande impacto entre cien-
profissionais. E a reprodução. em alguns deles, da capacidade tistas. Felizmente vazou, pensamos nós, pois evitou-se assim a
de produzir mai' e mais ciêncta, numa esptral multiplicadora
, apresentação repentma de um fato consumado, como de resto
de grande importância para o desenvolvimento do país. E evi- já tem ocorrido em vários setores da administração. Infeliz-
dente que a obtenção de ensino com tais caracteristicas exige a mente, porém. esse vazamento demonstra que ainda se cogita
aplicação de recursos tao vultosos que só se torna viável com de alterações essenciais decididas debaixo do maior sigilo.
fundos governamentais. E isto, de resto, é obrigação constitu- Ora, o sigilo é anacrônico, quando se vive no Brasil um pro-
cional do Estado, e não uma simples pretensão dos profcs cesso eleitoral sem precedentes na história recente do pais.
sares e pesquisadores de nossas universidades. Da mesma forma que a consulta à população através das
Dispondo-se de verbas em proporção adequada, o critério eleições é fundamental para a saúde da nação, para se cons-
mai5 importante de ser aplicado na decisào de onde e quando truir uma ciência forte e responsável é prec1so discuti-la am-
investir deve ser o da qualidade e do mérito científico dos pro- plamente, com os cientistas e com a sociedade, tomando as
jetos propostos. bem como o de l-.Ua relevância social. O julga- decisões como resultado desse processo democrático. t isso
mento e o acompanhamento dos programas deve estar em que esperamos de nossos futuros governantes e legisladores.
mãos competentes, ou seja, deve ser feito por pesqui!'.adores
qualificados em cada assunto. E, é claro. a relevância social Os editores.

novembro/dezembro 1982 5

NOBEL PARA O sáveis pelos infartos de vários Da investigação das diferen- As conseqüências mais conhe-
órgãos; na asma brônquica; na tes ações da PGI 2 , como a prote- cidas da teoria desenvolvida por
ESTUDO DAS úlcera péptica; na doença vas- ção da mucosa gástrica contra a Wilson e, provavelmente , de
PROSTAGLANDINAS cular periférica; na inflamação ação erosiva de drogas antünfla- maior impacto, decorreram de
e no controle de fertilidade. matórias, novos análogos foram uma incursão temporária do fí-
O prêmio Nobel de Medicina Entre 1949 e 1960, foram de- descobertos, alguns deles mos- sico norte-americano no domí-
de 1982 foi concedido em reco- senvolvidos vários métodos de trando potente atividade antiul- nio dos agregados de muitas
nhecimento às investigações so- isolamento, purificação. análise cerativa. Foi também demons- partículas, como os sólidos e os
bre prostaglandinas (PGs) reali- e síntese de di,·ersas PGs na- trada a ~rande importância da líquidos. Nessa área, \\ ilson
zadas por dois cientistas suecos, turais e seus produtos metabóli- estabilização das plaquetas pro- deixou contribuições fundamen-
S. Bergstróm e B. Samuelsson, e cos. Os trabalhos fundamentais vocada pela PGI 2 em indivíduos tais para a compreensão dos fe-
um inglês, J. R. Vane. sobre a química das PGs se de- submetidos à circulação extra- nômenos de transição de fase e
O professor Fernando Uba- ,·em a Bergstrom e Samuelsson. corpórea, como nos casos de do chamado efeito 1\ondo. pro-
tuba, organizador da Unidade Cerca de uma dezena de PGs na- cirurgia cardíaca e hemodiálise. blemas até então sem explicação
de Farmacologia Experimental turais foram isoladas, sendo es- quantitativa que se baseasse de
Fina lmente, estudos dos me-
da Unh·ersidade de Brasília, tabelecidos seus efeitos farma- maneira natural nas leis funda-
tabólitos intermediários das
trabalhou no laboratório de J. cológicos. mentais da física.
prostaglandinas forneceram in-
R. Vane de 1974 a 1980. Nesse 'io final da década de 60, ' as transições de fase. as
dícios de seu envolvimento na
período, colaborou nas pesqui- Vane e seu grupo verificaram substancias mudam drástica e
patogenia da asma brônquica,
sas sobre prostaglandinas reali- que a aspirina e outros antiinfla- descontinuamente de proprie-
configurando um quadro de am- •
zadas por Vane nos Labora- matórios impediam a formação dades termodinâmica!). E o caso
plo eSJ)ectro de aÇao das PGs
tórios de Pesquisa 'Wellcome, na das PGs por inibirem a ciclo- das mudanças de estado. como a
tanto em processos fisioló~icos
Inglaterra. Sua experiência pes- oxigenase, sistema en;,imático fusão, em que um sólido se
como nu origem de patologias
soal no assunto permitiu o for- encontrado em todos os tecidos transforma ·em líquido ao ser
humanas que ainda conhecemos
necimento dos dados que trans- que participa da biossintesc das aquecido. Além da fusão. outras
insuficientemente.
mitimos a seguir. PGs a partir dos ácidos ~raxos mudanças de estado. como a se-
As PGs foram detectadas pela precursores. Esse trabalho au- para~·ão de misturas de líquiàos,
primeira vez em extratos de teci- mentou o conhecimento sobre a a magnetização dos ímas c a su-
dos da genitália masculina patogenia dos processos infla- percondutividade. exihcm tnm-
(donde seu nome, que vem de matórios e possibilitou o surgi- KENNETH WILSON,
1'\
sições de fase.
próstata), e despertaram a aten- mento de novas drogas antiin- PREMIO NOBEL DE Os fenômenos de transi\·áo dl'
ção por sua atividade hipoten- tlamatórias. , fase aparecem numa qmwti-
sora e provocadora de espasmos FISICA dade enorme de substâncias. No
Dos produtos intermediários
da musculatura lisa. Na ver- O prêmio Nobel de Física dl' entanto, apresentam caracterís-
(instáveis) da biossintese das
dade. as PGs são formadas em 1982 foi atribuído ao ticas comuns que não dependem
PGs (endoper<)xidos cíclicos) se
praticamente todos os tecidos norte-americano Kenneth C. do tipo de substância que sofre a
originam todas as PGs (.'lâssicas.
animais. a partir de ácidos gra- "Wilson por seus importanh•s transiçao: dependem exclusi\·a-
o tromboxano A 2 (TXA 2 ) e tam-
xos não saturados que integram • trabalhos em física tl·úrica ( teo- mente de propriedades muito
bém a mais no,·a das PGs, a
fosfolipídios das membranas ria do grupo de renormaliza- gerais como. por exemplo, se a
prostaciclina (PGI 2 ). Esta foi a •
celulares. As PGs desempe- ção). substância está distribuída num
grande descoberta dl' Vane. A
nham papel importante em Kenneth \Vilson trabalhou , ·o lu me. numa su perficie ou
PGI 2 revelou-se um potente va-
várias áreas da fisiologia durante vários anos na formula- numa linha (isso conduziu os fí-
sodilatador. relaxando inclusin
animal: proteção da mucosa e • ção matemática da estrutura c sicos ao conceito chamado de
os vasos coronanano~.
manutenção do tono do apare- da interação de partículas ele- uni,·er.w lidade).
lho gastrointestinal; proteção do Uma extensão dessas desco- mentares consideradas até há Existem. nas transições de
endotélio vascular (revestimen- bertas foi a hipótese de que os pouco como a última subdhisão fase, para certos 'atores de vari-

to interno dos vasos sangüí- processos arterioscleróticos de- da matéria. como o próton, o á' ci como a pressão, a tem-
neos), a segurando a não coa- penderiam da relação PG 12 / elétron. o nêutron etc. peratura. o campo magnético
gulação do sangue no interior TXA 2 ; a PGI 2 é formada no in- Em 1971. Wilson apresentou. etc .• pontos especiais. chamados
dos vasos: proteção contra a terior na parede dos vasos e a num trabalho publicado na Phy- pontos crítico\·, em que já não se
agregação das plaquetas (ele- "fXA 2 nas plaquetas. Dietas que sica/ Re,·iew. uma proposta teó- distingue a diferença entre as
mento do sangue <1ue contri- prm ocam arteriosclero e supri- rica chamada .. grupo de fase .
buem para a coagulação) e mo- mem drasticamente a produção renormalização". atra,·és da O fato importante é que, nes-
dulação dos neurotransmissores de PGI 2 na parede ,·ascular, en- qual o conceito dt.• renorma/izu- ses pontos críticos. todas as par-
nas sinap es (espaços atra' és quanto a infusão de PGI 2 im- ção (técnica matemática que eli- tículas agem coordenadamcnte. -
dos quais e processa a tran - pede os sintomas da arterioscle- mina de forma~istemática gran- em bloco. indeJ)Cndentcmcnte
missão do impulso nervoso). Em rose. Assim, a PGI 2 • passaria à dezas infinitas que surgem rws da distância entre elas l' do ta-
patologia. as PGs atuam na gê- categoria de hormônio antiar- cálculos das interações entn· as manho da amostra. Como esse
nese da hipertensão arterial; da teriosclerótico. capaz de neutra- partículas elementares) adqui- tamanho perde o signilk~tdo. as
trombose vascular, especial- lizar os efeitos dcletcrios da li- riu um conteúdo fi'\ico c uma partt•s e o todo se comtwrtam
mente por tr(}lmb os de plaque- beração de TXA 2 JH'Ias pla- abran~ênda muito superior aos exatamente do mesmo modo.
tas, espécie de coá~u(os, respon- quetas. tratamentos anteriores. Esse fato levou ~~ formulação.

*
6 ano 1/n. o 3 CIENCIA HOJE
...
pelo físico Leo Kadaooff. das lhos, frangos, porcos e até projeto inicial consistia em ten- el·ideociado pelos seguintes pa-
chamadas leis de escala. mesmo ruminantes em completo tar determinar as necessidades râmetros: aparecimento mais
Baseado no ('onceito de uni- isolamento biológico. ~tais re- nutricionais do caramujo Riom- tardio de o,·os nas fezes, menor
' 'ersalidadc c nas hipóteses de centemente, crianças porta- phalaria glabrata, transmissor peso do baço e do fígado. menor
esl·ala. \Vilson. munido de sua doras de deficiência imunoló- da esquistossomose. Criaram-se número de granulomas (focos de
formulação matemática do gru- gica têm crescido protegidas por os moluscos em condições isen- reação inflamatória). redução
po de renormaliza~áo. cons- condições isentas de germes. tas de germes em tubos de ensaio na intensidade da eosinofilia -
truiu um modelo rigoroso para Desenvolveu-se assim a gnoto- c, desses trabalhos. resultaram aumento da produção de certo

as transi~·õcs de fase. conse- biologia (estudo de formas de dados interessantes relaciona- tipo de glóbulos brancos. indica-
guindo. pela primeira vez. uma vida conhecidas). que abrange dos à nutrição do animal. Há. tivo de , ·crminose - e ausência
teoria geral. e bastante sutil. os animais isentos de germes e por exemplo. indícios que su- de sinais de hipertensão na veia
que explicou c. ao mesmo também os animais portadores gerem que a ribotlavina e a bio- porta (grande vaso que conduz a
tempo. permitiu calcular teori- apenas de germes conhecidos. tina - dua~ ,·itaminas do com- circulação sangüínea para o fí-
camente (•sscs fenômenos. com Deste modo, por exemplo, um l>lcxo B - não são essenciais ao ~ado). No entanto, no que sere-
alto grau de concordância l'om rato isento de germes em que se caramujo. aparentemente ca- fere à contagem de ovos e de ler-
resultados obtidos experimcn- injete uma espécie conhecida de paz de sintetizá-las. Este é um mes no fígado e nos intestinos,
tahnente nos lahoratúrios. . . - ,
mtcroorgamsmo nao e ma1s um
. achado inédito, pois não se tem não se notou diferença significa-
Atualmente. \\'ilson está tra- animal isento de germe, mas notícias de quaisquer outros
.hva entre os amma1s
. . convenciO-
..

balhando novamente na física permanece ainda assim um ani- animais capazes de sintetizares- nais e os isentos de germes. Estes
de partÍl'ulas elementares. Ele mal gootobiótico. tas vitaminas. dados foram obtidos com ape-
prol'ura explicar as proprieda- O desenvolvimento da gooto- Posteriormente. ad<auiriram- nas seis animais (três convencio-
de' de novas partículas. l'hama- biologia permitu que se esclare- "c üoladores - câmaras de nais e três ist·ntos de germes) e
das quarh. que seriam as ccms- cesst.'m diversas questões nas isolamento onde se criam ani- necessitam, 1>ortanto, de confir-
tituintes fundamentais das até áreas mais diversas. Como mais isentos de germes. com o maçao. -
então chamada~ partículas ••ele- exemplo. pode-se citar a cárie que o rendimento do trabalho Paralelamente. o professor
mentares''. ('orno o próton e o dentária. Havia dúvida quanto melhorou «.~onsideravelmeilte. Maurício Resende. do Departa-
nêutron. A interação entre os à origem da cárie -se seria de- Decidiu-se então est&tbelecer mento de Microbiologia da
• quarks é bastante estranha: en- vida a uma infecção microbiana uma colônia de camundongos UFMG, interessou-se pelo es-
qu<mto a força entre eles se ou a algum outro agente. Estu- isentos de germes a fim de estu- tudo da bronquite a' iária '\iró-
anula em distâncias curtas. ela é dos constataram que os animais dar as endemias brasileiras em tica em frangos isentos de ger-
atrath·a e cresce quando a dis- isentos de germes nunl'a desen- condições gnotobiüticas. As ma- mes. Scus dados preliminares
tância aumenta. Por isso. essas volvem cáries. que no entanto trizes foram importadas da Uni- sugerem que os sintomas como a
partículas nãn podem ser se- aparecem quando estes animais versidade de Notre Dame. In- coriza. H obstrução nasal. acre-
paradas dcfiniti\'amentc uma são contaminados com uma es- diana. EUA. de onde também pitação pulmonar e os espirros
das outras, c "ic) podem ser ob- pécie de estreptococo- o Strep- ,·eio o profc..lisor .Julian R. Ph.·a- são menos freqüentes nas aves

ser\'adas indirctamenh.·. nunca tococcus mutans, microorga- sants para dar assistência na isentas de germes, obtidas por
como partículas isoladas (elas nismo de dcsen,·olvimento mui- fase de estabelecimento da colô- meio da desinfccÇao dos ovos. do
• •
são confinadas). Estes cálculos to lento. Outro exemplo intcrc..'i- nia. Expuseram-se esses camun- que nas com cnc10nms.
exigem um trabalho computa- sante é o da amcbíase. A ameba dongos a cercárias - a forma Os animais isentos de gcrme.s
cio•ml que atinge o limite da ca- não se instala em cobaias isentas larvar do Schislosomu ma11soni repres(.•ntam uma importantl·
pacidade dos atuais computa- de germes. mas provoca a que contamina o hnmem- isen- ferramenta para o innstigador.
dores. Essa teoria dos quarks é doença quando a cobaia possui tas de germes. Estas cercárias Como se trata de animais que
chamadH de cromodinâmica uma flora intestinal definida. foram der i\ a das de caramujos nunca foram desafiado por mi-
~ .
quant1ca. Outros exemplos do emprego também isentos de germes que, croor~anismos, são considera-
de têcoicas gnotobióticns são o por sua vc1., foram infectados dos imunologicamentc virgens.
• isolamento de pacientes subme- com miracídios - forma larvar Assim, pode-se estudar uma
GNOTOBIOLOGIA tidos à supressão de resposta do csquistossomo que infccta o doença isolada de quaisquer ou-
EM MINAS GERAIS imunológica (imunossupres- caramujo- também isentos de tras interferência'\.
são), a esterilização das cápsulas germes. Estes mirHddios foram Na lJMF<;, a equipe multidis-
Animais isentos de germes espaciais e do dejetos dos astro- obtidos de l~amsters convencio- ciplinar que se Yem dedicando a
(g(•rmfree) têm sido amplamente nautas e a utilização de ambien- nais, por meio de cirurgia reali- c sas 11csquisas, com o aJ>oio de
utilizados OH im estigação cientí- tes isento de germe~ t>ara cirur- zada em condições a épticas. organismos norte-americanos e
fica. Disciplinas como a imu- gias, diminuindo o risco de in- Ao mesmo tempo em que se nacionciis, sobretudo o CNPq e a
nologia, a oncologia (estudo dos fecções. infectaram os camundongos Fincp, pretende ampliar o es-
tumores). a epidemiologia, a !Em princí1>io de 1960, ini- isentos de germes nos isola- tudo de endemias de modo a nele
parasitologia, a patologia, a ciou-se no Departamento de dores. outros camundongos incluir a leishmaoio c c a doença
ecologia microbiana c outras ti- Bioquímica. então subordinado coo\'encionais- criados fora de Chagas. Para tanto, diversos
veram grande H\'anço com o ad- à Faculdude de Medicina da dos isoladores- foram também isoladores já foram construídos
\'ento das técnicas para a cria- Unh·ersidade }~ederal de 1inas infectados. A esquistossomose no próprio laboratório de bio-
ção de animais isentos de ger- Gerais, um programa de gnoto- mostrou-se menos grave nos química nutricional da uni\'crsi-
mes. Atualmente. criam-se ca- biologia coordenada pelo t>ro- animais isentos de germes do dade. lançando mão de apenas
mundongos, ratos, cobaias, coe- fessor Enio Cardillo Vieira. O que nos convencionais. o que foi nlgumas pet;as im11ortadas.

novembro/dezembro 1982 7
COMBUSTÍVEIS grafia gasosa. Através da com- ções ótimas para a hidrólisc. Es- como fonte de glicose e de álcool,
, paração destes compostos se- tes objetivos devem ser conduzi- por degradação enzimática da
UQUIDOS parados com os obtidos pela de- dos até a escala piloto, com oti- celulose nele contida.
A PARTIR composição termoquímica de mização. A Biofcrm \em buscando di-
compostos puro. pretende-se es- Por meio de técnicas de mula- fundir o uso de celulases para
DE BIOMASSA tabelecer o mecanismo do pro- gênese experimental, foi isolada fins técnicos ou industriais, e
O Brasil vem empreendendo cesso de liqüefação. uma linhagem mutada de Tri- oferece amostras a tecnólogos ou
esforços para a utilização de bio- O grupo de biomassa do Ins- choderma sp. que apresenta cientistas que se interessarem.
massas de diferentes origens, tituto de Química da Unicamp maior produtividade do que a li- Os trabalhos sao desenvolvi-
uma vez que apresentam grande estuda também novos catalisa- nhagem selva~em. As condições dos por Gecernir C'olen. Mariza
potencial energético e podem vir dores para a reação de transes- ótimas de crescimento do micro- Xavier, Heloísa Tunes e Jose f E.
a colaborar na substituição de terificação de óleos veg~tais, a organismo e de produção das en- Thiemann (coordenador).
fontes de energia importadas . fim de obter ésteres mctílicos e zimas já foram determinadas em
Os processos industriais de pro- etílicos como substitutos para nível piloto. Desta forma, foi
dução de álcool a partir da ca- óleo diesel. Foi desenvolvido um possiv·cl produzir celulascs mais
APRIMORAMENTO
,
na-de-açúcar ou de celulose a novo catalisador orgânico que puras, suficientes para atender à GENETICO
partir da madeira geram sub- tem como características não demanda do mercado farmacêu- -
DE GRAO EM GRAO
-
produtos como bagaço de cana e formar sabão e emulsões, além tico brasileiro. coisa que já sere-
lixívia negra, que até agora pos: de permitir o emprego de óleos aliza na prática. Pesquisadores da Universi-
suem pouco valor comercial. As- brutos apenas degomados e ál- Outro resultado marcante dade de Campinas conseguiram
• • •
sim. torna-se necessário o má- cooas comercaaas sem secagem atingido pelo projeto foi o da aumentar substancialmente o
ximo empenho no aproveita- prévia. Este catalisador está constru\·ão e montagem de uma teor de óleo em grãos de milho
mento dessas biomassas. sendo combinado com polímeros planta l'iloto de fermentação cu- pela técnica de seleção das se-
O grupo de biomassa sob a orgânicos insolúveis no meio re- jos equipamentos foram proje- mentes por ressonância magné-
coordenação do químico Ulf F. acional(heterogeneização do ca- tados por pessoal da Bioferm c tica, técnica muito útil de seleção
Schuchardt (do Instituto de Quí- talisador) para poder separá-lo da Biobrás e construídos c ins- genética, pois não destrói a se-
mica da Universidade de no final do pr<k:esso pela simples trumentados no país. O equipa- mente selecionada. Após quatro
Campinas), estuda há três anos filtração. Quando empregado mento compreende 12 fermcnta- anos e cerca de oito gerações do
processos de liqüefação direta no reator continuo, este catalisa- dore~ de seis litros, dois de cem milho aprimorado, foi possível
dessas matérias. Utilizando rea- dor permanecerá sempre no rea- litros, três de mil litros c um de aumentar o teor de óleo dos
tores de batelada. foi demons- tor, não sendo descartado e por- de~ metros cúbicos, este último grãos de 4 para 6,5%.
trado que o bagaço de cana e lixá- tanto barateando o processo. Já já semi-industrial. O programa agora será am-
via negra podem ser liqüefeitos foi depositada uma patente no O uso de celulascs para a pro- pliado de modo a incluir outros
em condições relativamente INPI para esse novo processo. dução de açúcares fermt.•ntescí- grãos oleaginosos como a soja, a
brandas (200-250"C c pressão de veis esbarra em dois obstáculos mamona e o amendoim. Nesta
I00-200bar), fornecendo com principais: o custo atual da pro- segunda fase, os pesquisadores
bom rendimento óleos de peso CELULASES dução de en~imas e o custo do pretendem elevar o teor de óleo
molecular médio de 300 a 400, PARA DEGRADAÇAO
- pré-tratamento. O custo da en- no milho para até 8 ~ - o dobro
,
apresentando ainda um teor de zima tende a cair à medida que do teor médio no início dos tra- •

oxigênio de I O a 30%, depen-


DE RESIDUOS cresce a produtividade, que por balhos. Posteriormente, após a
dendo da matéria-prima empre- O complexo enzimático res- sua ve~ é função do aa,rimora- chegada de novos equipamentos

. gada. ponsável pela degradação da mento das condições de fermen- já encomendados na Alemanha,
Encontra-se em construção celulose, as celulases, parece ser tação e de modificações genéti- será possível selecionar os grãos -
uma planta contínua de bancada a chave para a eliminação c cas que se introduzem no micro- também pelo tipo de proteína,
que processará cerca de 1Okg aproveitamento de resíduos organismo produtor. 'a área do ou seja. pela qualidade protéica
por hora de suspensão aquosa agrícolas, florestais ou de papel pré-tratamento, foram desen- do óleo, e não apenas por sua •
dessas biomassas, com o apoio de lixo. Um projeto com a finali- volvidos processos de baixo quantidade.
financeiro da Finep. Será objeto dade de produzir a~ en1.ima~ e custo para papel d~>lho urbano c Atualmente, trabalham nessa
de investigação o processamento desen\!ol\·cr o proce~o de hidró- para ba~aço de cana, atual- pesquisa os professores Carlos
da parte lignínica da biomassa, lisc enzimática \'em sendo objeto me n te sendo Ie v· a dos à fase Rettori e Gaston Eduardo Bar-
uma vez que fornece um óleo de do trabalho da Bioferm. empre- piloto. beris, do Instituto de Física, e
melhor qualidade, cuja extração • sa formada pela Bioquímica do No momento, a Biofcrm pro- \Villiam da Silva, do Instituto de
I

do meio reacional é mai~ fácil. A Brasil S.A. e pela Finep para a cura associar-se a grupos de Biologia da Area Vegetal. O pro-
separação do bagaço de cana em pesquisa e desenvolvimento na cientistas universitários na área grama é financiado em parte
seus constituintes - celulose, área de fermentações. de genética de microorganismos pelo Conselho Nacional de De-
hemicelulose e lignina - está O projeto prevê também a com o fim de obter mutantes senvolvimento Científico e Tec-
sendo estudada. Para facilitar a seleção de co ndições de pré- com produtividade ainda maior. nológico, que comprou o equipa-
identificação dos compostos, tratamento dos materiais cclu Ió- O objetivo último do projeto é mento de ressonância nuclear
faz-se a separação dos óleos nas sicos, a fim de torná-los inteira- o de chegar a uma tecnologia in- magnética, e pela Financiadora
diferentes classes de compostos mente suscetíveis à hidró lise dustraal que permita o aprovei- de Estudos e Projetos (Finep).
químicos, que serão posterior- pelo complexo enzimático, bem tamento econômico do bagaço Em sua nova fase, o programa
mente analisados por cromato- como a determinação das condi- de cana, em primeiro lugar, contará também com a partici-

8 ano 1/n.• 3 CiêNCIA HOJE


pação do Instituto Agronômico dadc de óleos ~· egetaic; que po- já atendem.à quinta parte das ne- entanto, a pesar na balança co-
de Campinas e da Escola Su- dem ~er obtidas por hectare de cessidades do mercado consumi- mercial do país. A ampliação do
perior de Agricultura Luiz de terra ocupada, no entanto, são dor brasileiro. parque industrial da empresa
Queiroz. de Piracicaba. · pequenas, com a exceção do O projeto foi iniciado em 1979 para a produção de albumina em
Além das implicações óbvias dendê, que no entanto leva mais e, no ano passado, os pesquisa- escala suficiente para atender às
dessa pesquisa para a indústria de cinco anos para atingir pro- dores já dominavam o processo necessidades do mercado nacio-
de óleos comesth·eis. ela poderá duth·idade plena. Daí a grande tecnológico de fracionamento al- nal ou para exportação poderá
influir decish·amente nos pro- importância das pesquisas que coólico de J. E. Khaon, a forma ser feita, mas não de imediato.
gramas de substituição do óleo procuram desen\oher c pécics tradicional utilizada tanto para o -Como firma nacional- fri-
diesel por óleos vegetais. já em mais ricas em óleos, em culturas plasma human\l quanto para o sa seu diretor técnico-cientifico
estudos. Os óleos vegetais são os não permanentes. animal. No caso brasileiro, a al- - sofremo inúmeras dificulda-
melhores substitutos potenciais bumina está sendo extraída do des, como a restrição à compra
do óleo diesel. Com pequenas al- plasma bovino, sendo então ati- de material no exterior. No mo-
DOBRA A
terações nos motores. mais sim-
ples <Jue as necessárias para a
-
PRODUÇAO DE
vada e polimerizada para ser
usada na fabricação do soro em-
mento, não podemos competir no
mercado nacional por falta de ca-
adaptação dos motores do ciclo ALBUMINA pregado na classificação do fator pital para montarmos a infra-
Otto da gasolina para o álcool, Rh. estrutura básica. O financia-
os motores do ciclo Diesel podem A produção nacional de albu- Segundo o diretor técnico- mento também é difícil de ser
funcionar com óleos vegetais. O mina para uso imuno-bematológi- científico da empresa paulista, conseguido, mas acreditamos
consumo aumenta apenas 20%. co, iniciada há um ano como conse- Geraldo Souza Patto, o volume que o país não deveria depender
Além disso, os óleos vegetais po- qüência de um projeto de pesqui- da albumina para uso imuno-be- da importação de um produto
dem ser misturados ao óleo die- sa patrocinado pela Finep. foi du- matológico importado pelo país é fundamental para o desenvolvi-
sel, na proporção de até 30%, plicada, e os 20 litros atualmente pequeno, mas seu custo é razoa- mento de sua ciência como a al-
sem que haja necessidade de fabricados a cada mês pela Bio- velmente alto (cerca de Cr$ 5 mi- bumina de uso imuno-bematoló-
qualquer adaptaçao. As quanti- teste S.A. Indústria e Comércio lhões por mês), não chegando, no gico.

.....
....•
'.....•..
....
Pl )QU I~AS, PRO JETOS l ESTUDOS 1ECN0 l ÓGICO <;

• Responsável pela interface COPPE/ Governo, Empresas e


Indústria
• Equipes multidisciplinares formadas por docentes,
pesquisadores e técnicos da COPPE/ UFRJ
• 300 Profissionais de nível superior
• Atuação em todas as áreas da engenharia
• Utilização dos laboratónos e equipamentos do Centro
de Tecnologia
• Colaboração estre1ta com os grupos de pesquisa dos
demais órgãos da Universidade


• Responsável pelo NIT - Núcleo de Inovação Tecnológ1ca
• no Estado do Rio de Janeiro
• Atividades conjuntas com os princ1pais institutos de
pesqu1sa tecnológica do país
• Desenvolvimento de tecnologia nacional
• Atuação na absorção e transferência de tecnologia ao
setor produttvo brastle1ro
COPPE/ UFRJ • Substttuição de consultoria estrange~ra
eAcesso aos principais órgãos de financiamento do Governo
Endereço :
• Ma1s de 1000 proJetos realizados
C1dadc Un •vers1t âna Ilh a d o Fundao • 1 O anos de expenêncta em projetos com indústria e governo
Centro d e Tecnolog ia - bloco h - sala h -203
Caixa Postal 68 5 1 3 .... ZC- 00
C EP ~ 1 9 1 0
R•o d e Jane1ro. RJ - Bras•l
telegramas COPPEUB RIO

novembro/dezembro 1982
' •

- I

/ /

Entrevista a Bernardo Kucinski

- Professor Simáu 1athias. como o senhor chegou a fisicu-qui- mília in-.i . . tia na quc,tão da profissdo, escolhi a química, c dentro dc::.ta a
mica? físico-química .
- Por aproxim.tljOC~ 'u~c'''"a'. Minha grande patxão. qu.mdo jo- - Essa sua paixão pela matemática era n()rmal em jovens da sua
vem. l.!ra a matcmatic:a. :V1a' nos anos 20 não havt.t umvcr,tdm.Jc c o lu- geração'!
gar ontlc '>l! c.!Studava m.th.:mática .:ra a E ...coiJ Pülil~~ntca . Naquela - Minha gcraçiio fl>l muito privilcgiadc1 Como não havia univer:-~i­
ép >ca. os pais é que tlctcrminavam o canunho Ô\>s lilhu..... ~ com1> cu já dadc, \l nível uo !)C~undáno era muito elevado, o qui! de certa forma su-
tinha um irmüo na engenharia civil. só restava a cngcnhana qutmtca pria a ddi~i\:nt:ia . EsLUuava-:-.c nro .. ofia. c tudol!ra lido cm francês . Eu
como algo pr6ximo da matcm:ítka Mmha mãe alc~ava que a qu ímica ia muito ü biblioteca publica. praticamente toda' as noite:-., c comecei a
condu1.iJ a uma proli-...üo . enquanto ser marcmatiC<> não era nada. era ler texto" de rnatcmütic:a em francês. Fiquei empolgado. Aos 18 ano" li o
como ser poeta M.ts l'u1 ohngado a sair da Polllccntc:t quandt> veio a D t'tCUI"W -.obn: o l'vlétodo. de Descartes.
crbc c rncu p<ll padcu tudo o que llnha. Enquanll> tr.tbalhava. e-.tudava - Então o senhor sempre esteve na profissão errada'!
odontologia à noite. Quando :-.urgiu em 193~ a Faculdade de Fih>..,ol'ia. Stm. \C fo~se seguir meu impulso teria fl!ito matemátJLJ. ou talvez
Ciência" c Letras. tive a chance de reali7.ar minha vocação. Como a fa- a ... tronornra .

O professor Suncio Mathias. sócio


numero 134 da So< U!dad<.> Brasileira para o .
Prog.re.no da Cttnda e um de \l!li.\ mais
de\lacados lídcre.\ IUl década pa.\ \ada. tem
hoje 74 anos. Foi um dos quatro alunos da
primeira I/Irma da Escola de Química da
Faculdade de Filmofia . Ciencim e Letra.,·.
que iniciou .'ilWS atividade.\ em S<io Paulo
em 1935. Foi ramhém o primetro
doutorando em C'ihte'ia.\ da IW\'(1 j(IC uldade,
deft'fldendo uma tt'.\l' t'lll /fsico-qtumica . Em
St'!?IÚda, {Jli.\.\Oll doi.\ CIIIO.'i IIO.'i f..\ ((Idos
Unido.\. "mtdt• d<• fato aprendi
físico-química'·, diria t•le mm ,. tarde em
Jeu.\ clt'poimentm. De volta ao Brasil,
-
o ( U/1.\t','Çllitt ( 'lJIII KfWUJt• ÍIIJÍStência Cl
,. . . .
llt!Ce.\sarta para cmrstrmr o pnmetro
.
\'l!rba


laboratório de fi\ico-química do paú .
3 momado com sum próprias mãos, que •
-C'
Jerl'ÍII para u formaçao de gerações de
8 pesqui.mdore.\. Em 1960, como clze{e do
"' Departamemo de Química. or~ani;ou a
~
cemrali:ação de todO\ m departamemos de
--
o
-o
qufmica e.\istentl's llll USP nw11 único
grande• ill.\tirwo. Foi da diretoria da SBPC
-
o
ii
c:
ao tempo t•m qm• t'l'll diri~ida por Wan1'id.
Kerr (é .H'U pre.\idente de honm) e atuou
1::
::l.
o
c: com empenho na abortada tentat i l'f.l de
111
reforma univer.\itcíria do final dos anos 60.
-"'
10
L
Hoje a(t1\lado da química. o profesJor
~
o Simiio Matllia.\ dnlica-.w ao e\·tudo da
"".c:
(/) hi.\ tória e filo.wjia da ciência, agregado ao
-o
~
grupo de história da ciência do
o Departamemo de Hi\lória da USP.

-
ano 1/ n. • 3 CIENCIA HOJE
- O senhor construiu o primeiro laboratório de físico-química - A química é a base da indú~tria. c é uma ciência essencialmente
em São PauJo. Como compara os laboratórios daquela época com os experimentaL Só nos últimos ano-. a indústria pa..,~ou a requerer, além de
de hoje, nos quais basta apertar um botão e surgem os resultados quínucos. também pessoal de eletrônica. físicos de c-.tado sólido. etc.
tabelados e num gráfico? Mas a ligação da quín\ica com a indústria sempre ficou dentro de limites.
- Houve quase uma revolução sob esse aspeclO Naquela época não porque toda a indústna esta praticamente nas mãos das multinacionais e
havia rccur~os . Para fazer qualquer coisa mais criat1 \a a pessoa tinh~r que tem seus ccnrroo; de pesqUisa no exterior !\renas no!) últimos anos uma
idear e con\truir seu próprio aparelho. tudo com ~uas próprias mãos Eu ou outra empresa instalou laboratónos aqut. sempre de pc-.quisa.apli-
havia e ... tado nos Estados Unidos entre 1942 c 1944. na Universidade de cada.
\\ tscon-.in. Lá. c em outros lugares. tive uma idéia bem clara de como - Professor Simão Mathias. o Instituto de Química também so-
-
cnsmar físico·química Ao voltar. propus a construção do Jabomtóno c freu um processo de queda no nível de ensino em virtude da massifica-
tive que criar uma pequena of1cma mecânica c trcmar um técnico vidrei- ção dos últimos anos?
ro Con~truí os ::tparclho-. . as célula" dlcll!trica.... c por ele" foram pas- Na química 1sso também ocorreu. mas em menor escala. A minha
s:mdo meus estudantes. Foi a\sim que começou o ensino de fbico-quí- opinião é que o Instituto de Química conseguiu manta o n!!or de cn..,ino
rnica em São Paulo. c pcsqu1sa. Mas de uns anos para cá estamos correndo novo risco de
- Era mais sólida a formação de um cientista experimental nesse provocar queda no nível de cosmo. dcv1do a lei que criou o Ingresso na
tipo de laboratório, construído por ele mesmo? carreira de magistcrio supenor por concurso. Muitos joven\ '\equcr ti
- I lá um aspecto quase filosófico nisso. porque a pcsqu1sa científica veram tempo de completar o mestrado, a1nda não publicaram trabalhos,
é um ato no qual o pesquisador está em contato com a natureza através de c já se tornam docentes através de concur-.o Então, l.'Orrcmo:-. o risco de
..,cus \cntidos. A introdução da aparelhagem moderna de certa forma cria ter um número grande de elementos medíocres que. uma vez dentro da
um obstáculo entre o pesquisador c a natureza. Eu diria que naquela universidade. nunca ma1s saem.
época havia um contato ma1s direto. A aparelhagem era mais simples. o - Aliás, apesar de ter sido o primeiro doutor em ciências da Facul-
própr1o pesqui ...ador con .. truía \CU aparelho. que era uma exten\ão de dade de Filosofia. o senhor sempre foi contra os concursos, não é?
seus sent1dos. -Sim. c agora mats do que nunca. Basta ver como as universidades
-Mas a aparelhagem moderna simplifica extraordinariamente européia\ selecionam seus profcs~orcs. Nmguém se toma um professor
a tarefa de pensar do pesquisador, não é? numa un1versidadc européia ou americana sem ter se revelado como
- Claro. o que levava um ano para -,cr medtdo hoje é feito em uma cientista. Na Alemanha. quem indica o novo professor é urna com1ssão
~cman<t Se cu hoJe estivesse ativo na pesquisa. aguardaria a chegada dos fom1ada por c1ent1stas não só alemães ma-. também de outros países
novos modelo\ de aparelhos com a me~ma ans1edade de todos. -Sua menção a mediocrização do ensino nos remete a luta peJa
- Prof Mathias, cu gostaria que o senhor falasse um pouco reforma universitária do final dos anos 60, na qual o senhor teve
desse J>ersonagem sempre onipresente quando se trata das origens uma participação ati\'a. Poderia falar sobre isso?

da química no Brasil, Heinrich Rheinboldt, que criou o departa- - E cxtremumcnte difícil. porque me envolvi çom tal paixão que não
mento de química da Faculdade de Filosofia. consigo ainda hoje f ater um depoimento objetivo. Mas tanto quanto pos
- Bem. ele era o típ1cn Herr Profe.uor. a figura tradicional do pro- s.r me lembrar daquela atmosfera. foi uma luta para salvar alguns pnnc1
tcssor un1vers1tário alemão. extremamente formaL Em pcsqutsa quí- pios fundamentais. O que nós propúnhamos era a c nação de urna umvcr-
mica de nível contc n~po rân eo. ele foi o primeiro. não só em São Paulo Sidade nos moldes c no espfrito da antiga Faculdade de Pilosofia. Um
mas em todo o Brasil. Mas eu dma que ele fo1 antes de tudo um educa- lugar onde as 1de1as se desenvolvessem sem tn1b1ção. onde houvesse um
dor. um grande educador Com ele não só aprendemos química. mas intercâmbio vivo de 1de1as, um contato entre os homens da~ ciência~
também a disc1plma no trabalho , o respei to mútuo. Rhcmboldt fo1 um exatas c das humanas, a verdadeira universidade. Mas éramos ingênuos.
dos professare~ europeus convidados por Teodoro Ramos quando foi Acred1tavamos que esse espínto podena ser mcorporado à Universidade
fundada a Faculdade de F1losofia. C.ênc1as e Letras da Linivcrstdade de de São Paulo c nos esquecemos da força da tradiçao das escolas profis-
São Paulo, junto com Wataghin para a física. Fantappié para a matemá- sionais do passado mcorporadas a USP. a Politécnica, a Med1cina. a Fa-
tica. Brcslaw para a zoolog1a e RavJtchcr para a botân1ca Todos grandes culdade de D1retto . Elas tinham trad1çõcs muito ma1s fortes.
nomes. já conhecido-. mtcrnacionalmente. Minha geração fm pn\ 1leg1a- - Foi nessa época também da luta pela reforma universitária
da. poi-. t1vemos a oportunidade de usufruir desse ambiente europeu da que o senhor se destacou como um dos dirigentes da SBPC. Poderia
mais alta erud1ção . fa lar como isso se deu'?
- Professor Mathias, quando se cogitou de reunir todos os de- - Nc ...sa época entrei para a diretoria da SBPC. da qual já era um dos
partamentos de qufmica da universidade num único instituto. pro- primei mo., membros. Achei que a SBPC poderia entrar na luta pela prc-
cesso aliás coordenado pelo senhor, teve um papel imp<)rtante um scrvaçao dos valores umversitánns e para ISSO era prec1so torná-la uma
donativo de 500.000 dólares da Fundação Ford. que propiciou a organint<jao grande como a equ1valente norte-amencana. que tinha en-
construçao do conjunto. O senhor acha que esse donath·o era fruto tão 140.000 membros. Era ncccs\áno também interligar setores das

de uma visão da indústria química como etapa preliminar imi)Or- uências exatas c naturais com as humanas. Foi a p~trtir dessu época que a
taote no , surto de industrialização que ocorreria depois'? SBPC começou a ganhar maior dimensão. até culminar com a Reunião
- E possível. Eu não \Ci que ra7õe., levaram a Fundação Ford a Anual de 1977. que teve de ser feita em São Paulo devido à falta de au-
oferecer o donativo. ma .. nao foi -.o a I·ord. Tivemos muitos rcn1r-.os xílio governamental para a sua realização em Fortaleza. como estava
nesta época. o que aliá~ reforÇa a h1pótc\e da Sll<l pergunta O BNDE programado.
ajudou. o CNPq aJudou. e até a CAPl·.S. roi um período n:almcntc de - Professor Mathias, uma última pergunta: o que o senhor faz
muitos recursos 1::: hoJe. de fato. o In stituto de Química da USP é o mai!) hoje. já aposentado da físico-química?
importante centro de pesqul\a'> químicas da Amenc.t Latina. com um - Realizo um sonho da juventude. l::..studo htstóna e filosofm da c ~e!n­
ativo mtcrcâmb1o com o exterior. cia. Já publiquei um trabalho sobre alqUIIllla, qúc c parte de um plano de
- O Instituto de Quimica sempre te\-·e mais ligação com a indús- estudo da filosofia da ciência à luz da cvoluçao da química. Desde o
tria do que outros departamentos da Faculdade de Filosofia. Por ou- ~ccundário cu me interessava por 1sso. c meu interesse foi estimulado
tro lado. há pouca pesquisa básica na indústria nacional. Como o pelas longas conversas com o professor Rheinboldt. que conhecia pro-
senhor explica isso? fundamente a história da química .

novembro/dezembro 1982 11

AFINAL, ,
INDUÇ AO DA PRODUÇAO DE INTERFERON
OQUE

E AÇAO DO INTERFERON
VIRUS
INTERFERON? IFN

"Na notícia sobre a prod ução de interfer on


no Brasil, publicada em Ciência Hoje n o I .
vocês esquecer a m d e explicar o que é inter-
feron ... (R. Leite, Rio).

O in terferon foi descoberto em 1957, por


Alick l~aac~ e Jean Lindenmann no famoso
RESPOSTA CELUlAR
Instituto Nacional de Pcsqutsa Médica de
Londrc~. A descoberta do interferon resultou
de um intenso estudo que esses pcsqubadores
vinham realizando sobre a multiplicação, em
célu la~ de embrião de galinha, do vírus in- A
I. ESTADO ANTIVIRAL
11. INIBICÃO DA DIVIS AO CELULAR B
IFN
fl ucnza, que provoca a gripe. Inicialmente,
observaram que e~tas células, quando infecta-
das, produziam uma substância c'om uma no- põem cada molécula de intcrferon obtido de ai nda se encontra em fa ...c ex perimental. c
tável propriedade: inibir a reproduçao do célula.., de diferentes tipo.., c de diferentes es apenas alguns hosp1ta1s em todo o mundo
vírus Constataram depot.., que ~e tratava de péc1e.., animais revela que ele não se apresenta uttl11ani a droga. Isto ..,e deve a pelo menos
uma proteína. como uma proteína homogênea. Os d1fcrentcs do 1~ tato;, d1gnos de nota. primeiro. apesar do
Mais tarde . estudos realizados em divcr~as tipos de interferon . _ao caracterizados não so eno1mc progresso ohtido nos úl timo;, dez
instituições de todo o mundo nao 'lÓ confir- pela espécie celular de origem co mo também anos. o mecanismo de ação do interferon ao
maram

esses resultado.., como também mos- por s ua atividade an ti vi ral. A.._sim, o intcr- nível cel ular e de sua ação fa1 rnacológica sao
traram que praticamente todo~ os víru.., pos- feron de leucócitos humano' (células branc<ts apcna... parcialmente conhec1dns. Em segundo
suíam a capacidade de estimular a produção do sangue) é ativo em célultt.., de boi e macaco. lugar. a., d1ficuldades técn1cas para a produ-
dessa substância- o tn terferon - em di- emhora o interferon de fibroblastos humanos ção de intcrferon humano cn1 grande e\cala
ferentes tipos de células Atualmente. acredi- só seja ativo em célula., humcwas. aJ!lda não foram solucionadas Os métodos
ta-se que o intcrferon faz parte do ..,,..,tema de Devido à grande vancdadc de interfcrons convencionais. 1sto é. a preparação de lnter-
defesa natural dos anirnats ve rtebrado~ contra extstcntcs c à falta de uma nomenclatura para fcron atravcs do cultivo de libroblastos ou leu-
a infecção vira!. O desenho ilustra este meca- a sua Identificação. o lmlltuto Nacional de cóci tos humanos, tem se reve lado uma téc-
nismo. Quando um vírus animal entra em con- Saúde do.., Estados Unido.., promoveu em 1980 nica eficaz. mas de baixo rendimento. Vale a
tato com a célula hospedeira (A). de flagra-c;e um s1mpós1o sobre a m.tténa Como resul- pena a.,stnalar. porém. que no., últimos a no~
um sinal de ongem desconhecida. que esti- tado. ftcou es tabelecido que o interferon os Cientistas se vêm dedicando ativamente ao
mula a célula a smtetizar uma proteína especí- CIFN) ..,cria classificado em trê., ttpo..,. con- dpnmoramcnto de uma técnica que poderá as-
fica, o intcrferon. O gene responsável pela forme seu tipo molecular c ...ua açao: IFNa. sumir capital importância para resolver o pro-
fomta~·ão do interferon está local indo no cro- lFN~ c IFNõ. A indicação da origem animal. blema Esta técmca se tornou popularmente
mossomo 2 1 das células humana .... c o tnter- bem como do peso molecular. devem ser ao.,<.:,i- conhcctda como "engenharia genética", c
teron, à semelhança dos hormôn1o..,, é libera- nalados. como no exe mplo segui nte: Hu lFNet em linhas gerais consiste em tntroduzir em
do pela célula. Ao entrar em contato com ou- ( I 8K). uma bactéria um gene e ... pecífico para a ..,ín-
tras células ainda não infectadas (8), indul o A atividade biológica do interferon não ..,c tesc de uma certa protc1na. O proces-.o de
chamado estado amh•iral. que pode ser defi- restringe apenas. porém, l1 indução do estado biossintcse de proteínas especificas por e ...tc
nido como uma condição fisiológica na qual a antiviral. Diversa~ alteraçôcs fisiológicas têm método apresenta alto rendimento. e tem stdo
célula perde a ~ompct6n~:ia paJa multiplicaJ u sido 1cgi ... tradas em '-é lula~ tr.ttaJa.., ~\>lll inter- tentado na rabncação não só do tnrerferon
víru , impedindo deste modo que a infecção feron. Dentre c~sas alterações. a mab notável como de outras protemas de importância me-
se c~palhe. é . sem dúvida. a dimmuição do ritmo da divi- dica. como a msuhna c o hormônio de cresci- •
O estado antiviral depende da concentração são celular. Esta observação foi rapidamente mento.
de interfcron . Num cálculo aproximado. po- explorada por cientistas que reali1aram pe\- Fi nalmente. pode-se concluir q ue o intcr-
demos afirmar que para cada cinco mi Jhões de quisas visando a verificar ..,c o interferon teria fc ron tem sido. desde sua descoberta. um
células de camundongo são necessárias duas algum efeito sobre a prolifcra~· ão de células sério candidato a constituir-se em droga eficaz
u nidade~ internacionais (UI) de interferon. tu morab. De fato. o intcrfcron se tem revela- no tratamento das viroses, tendo-se tomado.
Isto equivale a dizer que cada célula ncce~sita do eficiente no controle de alguns tipo~ de mais recentemente. uma grande esperança
de apcna cinco ou ei moléculas de inter- câncer, como por exemplo o sarcoma osreo- do~ cicnti ta!) na busca de uma terapêutica cfi-

feron para se proteger da agres ão viral. fato r:ênico (câncer de origem ó s~ea). o mieloma caz para o cancer.
que faria do interfcron a mai potente droga mtlltiplo tcâncer de medula ó-.~t!a) e certos ti-
antiviral jamais descoberta pelo homem . pos d~ leucemia. que é o cúncer do sangue Moac)r A. Rebello
A análise comparativa do peso molecular e Apc..,ar destes resu ltados animadores. a Prur~r-acijunto du ln,llluto de Biofl~lca da
llnhersjdade 1-"C'dl'ral do Rio de JanC'Iro
do número e tipo de aminoácidos que com- utilização do ínterfcron na clínica medtca


(Para ter sua pergunta respondida, escre,·a para CIE. CIA HOJE- O Leitor Pergunta. Avenida \Venceslau Braz, 71,
fundos. casa 27, CEP 22.290. Rio de Janeiro)
~

12 ano 1/n.• 3 CI ENCI A HOJE


Millôr Fernandes


Eu sou da geração O relóg1o d1gital
Que mais se boqUJabriu O computador- e a computação! -
E se esbugalhou A lente helicoidal
Imbecil E a radiografia;
À florescência Mas me babei mesmo foi com a holografia!
Da c1ência Embora pro
Me maravilhei com a sulfa Sou pré-jatopropulsão
A penicilina O que me faz um própréprô,
O trans1stor, o laser, Termo que não ocorre na a meu avo.
Sem falar da vitamina. Tenho a vaga impressão
Ante-televisão De que os Cientistas,
Beste1 com a tele-objetiva Vão perder a tesão
A quarta dimensão E brochar de invençao
O qu1louót1 posto na locomotiva Quando morrer o espanto
Da minha geração.

novembro/dezembro 1982 13
.I

O gt~araná (Paul/mia cupa e


ma}, ra era
conhectdo pelos tndtos do
Brastl como esttrnulan te
~
antes ao E>escobriment o .
o
"' Suas sementes são mUlto
-
<1
o ncas em cafetna •
o
u.. /

~----------W-'ru_t_~r_~_1_or_s_*----------~ Periodicamente, observa se no mundo


um retorno do interesse pelo poder curativo das plantas.
arte de curar, em sua evolu- Como explicar que os homens se estejam
ção ao longo da h1storia da
~..... humanidade, atravessou nu-
voltando para as mais antigas fontes de remédios, ainda que
merosas fases. No entanto, estes nem sempre tragam a chancela da medicina ofícial?
essas fases não se sucederam com
separações nítidas e até hoje, na era
dos antibióticos, ainda se encontra
com considerável f reqüência o recur-
so a rezas e invocações para expulsar
as enfermidades, como nas primiti-
vas práticas xamanís ticas.
• coor-denador de ~uisas do ~ucleo dt' Pt.,qui-.a' de
ProdutO!! N111urais d11 l., 1- RJ.

14 ano 1/n. • 3 CIÊNCIA HOJE


tinha seu uso mdicado no tratamento


de fendas. Certos líquens. que por
' sua forma lembram um pulmão.
eram remédio para os ttsicos . E a ser- •

pentária, erva da família das aráceas


cuja haste malhada lembra o corpo d~
•• uma serpente. seria a cura certa para
1
as mordidas de cobra ..Este antídoto
t.
j
tem um correspondente usado no
-·-·.. Brasil ainda hOJe. o ta já-de cobra. mi-
lho de-cobra ou Jararaca (Oracontium

asperum). popular
. antiof1dtco O ra-
CIOC1n10 do homem simples não
mudou .

, Ao lado da crendice, porém. obser-
va-se em muitos casos o pleno acerto
da sabedona popular. Mu1tos medica-
mentos onginaram-se desse uso em-
píneo, fruto de um longo processo de
descoberta por tentativas. como por
exemplo os dJgJtá!Jcos. drogas deriva
das das folhas da dedale1ra (Digita!Js
purpurea e O. lanata). com poderosa
i
ação específ1ca sobre o musculo car
f díaco . Seus pnncfp1os at1vos. os gl1-
cosíd1os card1otôn1cos. são hoje ar-
mas obrigatónas no combate a certas
doenças do coração. Outros exem-
plos são os alcalótdes do grupo do
tropano. extra1dos da beladona (Atro-
pa belladonna) e de outras plantas da
fam il1a das solanáceas. que são an-
tiespasmódiCOS ainda sem sucedâ-
neos na terapêutica contemporânea.
e os alcalóides do esporão do-cen-
f
teio (C/av1ceps purpurea). fungo que
A dedaleira (Oigltalls purpu- ataca as esp1gas dos cereais. conhe-
rea), uma das plantas Cidos e utilizados há séculos como
mcd1c1na1s clássicas do
Velho Mundo, empregada·
estimuladores dos centros vasomo

~o tratamento de a tores e dos mov1mentos do utero. [s-
insufícrências card1acas tas e mu1tas outras drogas de ongem

Desenhos reproduzrdos de vegetal. bem como seus pnncíp1os
'
Plantas e substânctas at1vos. isolados e punf1cados. são ele-
vogeta1s tóx1cas e
med1cmais. de F. C. mentos indispensáveis em nosso ar-
Hoebne. senal terapêutiCO.
• Até meados do século XIX. os ani-
mais e as plantas eram as ún1cas fon-
No processo de evoluçao da arte verdade1ra finalidade da química No tes de maténa orgân1ca de que os ho-
• de cu rar. coube aos alquimistas um entanto, este progresso conv1v1a mens dispunham. Somente em
passo de grande 1mportânc1a De seu com 1de1as confusas. tanto que o pró 1828. quando Fnedrich Wohler pro-
trabalho, que combmava a expen- prio Paracelso (1493-1541) - um dos duziu a smtese da uréia a part1r de
mentação válida com teses absurdas pnnc1pa1s responsaveis pelo avanço uma substãnc1a inorgânica. o c1anato
e superstições. nasceu a quím1ca tal da terapêutica - defendia a teona da de amôn1o, foi quebrado o velho tabu
como a conhecemos hoje . Tentando "assinatura dos corpos". segundo a que exigld a presença de uma "força
fabricar o ouro a partir de maténa vil e qual as plantas e os anima1s haviam vital" para a cnação das substâncias
também produzir o "elixir da longa VI- receb1do. ao serem criados. uma "Im- que compõem o mundo v1vo Esse
da" capaz de vencer a doença. a ve- pressão d1vma" que indicava suas vir- fato foi fundamental para a produção
lhice e a _decrepitude, eles introdu- tudes curat1vas. Ass1m. o sapo. de dos chamados med1camentos Sinté-
Ziram a aplicação de elementos inor- vida à repugnâncta que inspirava, era ticos. cuja ascensão teve in1cio há
gânicos. como o enxofre. o mercúno tido como reméd1o contra a peste. a exatamente cem anos: em 1883.
e o ant1môn1o, na cura das doenças ma1s repugnante das molest1as. A Ludwig Knorr produziu a antipirina. o
Nasceu assim a iatroquímica. dou- pers1cána, erva que tem uma mancha pnmeiro medicamento ant1térrnico
tnna que v1a na cura das doenças a vermelha no centro da lâmina foliar. ef1caz a substitUir a quinma. alcalóide

novembro/dezembro 1982 15
caro e de difícil obtenção extraído da OMS, expressa no lema "Saúde para descoberta dos medicamentos mo-
casca da quina, árvore nativa do Peru. todos até o ano 2000" . dernos p roduz idos em labo ratório
Seguiram-se. pouco depois, a antde- Em nossos dias, coube à China rea- está na natureza das "coba1as" utili-
brina (nome pelo qual ficou conhe- brir os olhos do Ocidente para a rique- zadas e nas condições que cercam a
cida a acetanilida) e, na virada do sé- za que representam as plantas como expe rimentação . As expe riências
culo, a aspirina, certamente um dos medicamentos . Em conseqüência da modernas - com toda a lentidão im-
mais difund idos medicamentos, abertura provocada pelo presidente posta pela cau tela - têm de ser abre-
prescrito em casos específicos pelos Nixon com sua "d1p lomac ia de viadas e, por uma questão de ét1ca,
médicos mas também utilizado como pingue-pongue" no início da década conduzidas em anima1s. Já os remé
uma espécie de remédio universal de 1970, uma comissão de 12 c1ent1s dios populares se af irmaram através
pelo homem da rua . tas norte america nos fo1 e nv1ada de um processo longo de tentativas,
Nestes cem ano s, oco rreu uma àquele pafs pelo Conselho Nacional com erros e acertos, conduzidas no
multiplic<:lção astronômica dos fárma de Pesqu1sas dos Estados U n1dos próprio homem Fo1uma experimen-
cos sintéticos. Mi lhares deles ocu- tação "em câ mara lenta", mas com
pam as prateleiras das nossas farmá - resultados segu ros. Só podemos ad-
cias. No entanto. um total de cerca de mirar a experiência milenar de povos
duzentas substâncias ativas seria su- primitivos que, muito antes do su rgi-
ficiente para cobrir as necessidades mento da ciência moderna, descobri-
de profilaxia e de tratamento das ram po r exem plo todas as plantas •
doenças suscetíveis à ação dos qui- portadoras de cafeína: o chá na As1a,

mioterápicos. E, destas, umas 20, ou o café e a noz-de-cola na Afnca, o gua-
seja, 10°/o, ainda hoje são de ongem runá, o ioco e o mate na Aménca. E o
vegetal. efeito estimulante da cafema nem é
, tao f lagrante que possa ser reconhe-
fácil apontar o principal obstá- Cido num s1mples mascar de folhas
culo ao emprego universal dos ou sementes .
medicamentos Que intu 1ção levaria o caboclo a
industnalizados · o seu custo é Identificar no suco da casca da ra1z da
elevado, tanto para o 1nd1víduo como mama ca dela (Brosimum gaudichau-
para os órgãos de prov1dênc1a . Entre dit) o reméd1o para o vitillgo? No en-
as. razões que determmam essa si- tanto, fo1 verificado no antigo Insti-
tuação, sobressaem o próprio custo tu to de Ou1mica Ag rícola do R1o de
das pesquisas que levam à desco- Rodolfo Albino Dias da Silva (1889- Janeiro que esse vegetal encerra de
1931) compilou uma Farmacopéia bra-
berta de um novo medicamento e as sileira de que constam cerca de cem fato substâ ncias fotossen s1bll1zan-
exigênc1as em relação à sua se- plantas medicinais indígenas. tes. que podem estimular a reversão
gurança, que requerem uma dlspen- de alguns tipos de despigmentação
rlio~~ nrn::~n•7~,..5,... ~ ..... ",..,,....._;_...,.. '~-- ~­
- ~-· •• --v-"' '-"'-' VI h.JUIV...J 1011110 Aú , ~yr e~~ar, esses homens procla- da pele .
cológicos destinados a comprovar, maram seu espanto diante das reali- A avaliação da correspondência en-
na medida do possível, a eficácia do zações de um g rupo de institutos ofi- tre a reputação e a eficácia de uma
remédio, bem como a ausência de to- ciais chineses, que desenvolviam planta medicinal é relativamente fácil
xicidade e de efeitos colaterais inde- produtos fa rmacêutiCOS a pa rt1r de er- quando há um efe1to fa rmacológico
sejáveis. Estes últimos. aliás, nem vas medicinais da tradição popular. O bem defm1do . Esse é o caso, por
sempre são evitados. Calcula se que mais importante desses mst1tutos, exemplo, da casca de quina, do ópio,
mais de três bilhões de dólares sejam criado em 1958 pela Academia Ch 1 da beladona, e de d1versas outras
gastos anualmente nos Estados Uni- nesa de Ciências Médicas, contava plantas com propriedade abort1vas,
dos no tratamento dos chamados com um co rpo técnico do cerca de laxantes, diu réticas, sedativas e esti-
males iatrogênicos, ou seja, doenças trezentos Cientistas. mulantes. As informações popu lares,
causadas por medicamentos. no entanto, ab rangem toda uma
Foi nesse contexto que uma ten- o entanto, com ou sem estí- gama de qualificações, que vão •

dência generalizada de retorno à fito- mulo oficial, o uso de plantas desde indicações muito precisas e
terapia (tratamento de doenças com como medicamen tos acha- corretas até as mais vagas e imprová-
plantas) recebeu a chancela da Orga- se realmente em ascensão. veis, sem falar das indicações contra
nização Mundial de Saúde (QMS). ór- O que falta na maio ria dos casos é ma les que simplesmente não exis-
gão das Nações Unidas. O fato se uma avaliação científica das virtudes tem. como a "espinhela ca1.da · e o
deu em ma io de 1978, através de propaladas . O campo ainda é bas- "sangue grosso" .
uma resolução da XXXI Assembléia tante confuso e controvert ido. en-
Geral desse organismo, que determi- volto numa aura de mistic smo que alvez nada se compare- no
nou o inicio de um programa mundial dificulta uma apreciação objetiva . Fa- caso das indicações vagas de
com o fim de avaliar e utilizar os mé- tores emocionais tendem a super- plantas med1cinais- à diver-
todos da chamada "medic i na simplificar os problemas, leva ndo à sidade de• reméd1os indica-
tradicional" . Esse programa contri- perda da perspectiva científica. dos pa ra os males do f ígado. Esses
buiria, aliás, para se atingir a ambicio- A d1ferença entre o mecanismo de remédios podem varia r desde sim-
sa meta lançada em 1973 pela própria adoção das drogas t radicionaiS e de ples colagogos (estimu lantes da se-
~

16 ano 1/n. • 3 CIENCIA HOJE


ereção biliar) até regeneradores das
células hepáticas. encontrados de
fato em vegetais. Quem. a não ser
um pesquisador especializado, seria
capaz de verificar a procedência de
tais indicações?
Que dizer dos "fortificantes". dos
remédios "para o peito", como a sei-
va de jatobá (Hymenae sourbaril)? Al-
guém já os analisou? Quem garante
que eles realmente reabilitam o orga-
nismo depauperado pelas mais drver-
sas causas? E os febrífugos. como o
pau-pereira (Ge1ssospermum levaeP

Febres têm ongens diversas e o re-
médio não pode ser sempre o
mesmo. O povo associa o efeito anti-
térmico ao sabor amargo. na lem- c
brança do amargor da casca de quina
que cura o impaludismo
E existem as panacéras - os re-
médios que servem para tudo São
exemplos as numerosas espécies
que respondem pelo nome de "para-
tudo" Sweetia dasycarpa. Gom·
phrena /eucocephala, S1maba ce
dron. Hont1a arborea, para citar ape- d
nas algumas, além da próprra planta
conhec1da como "panacéra ". Sola-
num cernuum.
Por ma1s convictos que se mos-
trem os seus adeptos. os anttluétrcos
ou "depurativos do sangue", outrora
murto em voga, como o rnhame /
(Colocasia antiquorum). o cipó-azou-
gue (Apodanthera smilacdolia) e o
taruiá (Trianosperma tayuya), só po-
dem nos inspirar pouca confiança. .Y
Certa ocasião. as autorrdades sani-
tárras obrigaram o fabricante a adicio-
nar um sal de bismuto a um "elrxir",
amplamente comercraltzado nas far-
-ot:
111
<O
m
mácias. preparado com uma dessas e ~

o<O
plantas, o que demonstra sua des ~
9
o
crença nas VIrtudes do vegetal. u..

Igual ceticismo for demonstrado


A beladona (A tropa belladonna) já era conhecida na Roma antiga por dilatar as pu-
em relação a alguns chas com grande pilas e conferir brilho aos olhos, sendo usada com esta finalidade pelas mulheres,
fama de provocar a eliminação de cál- donde seu nome. Reproduzido do livro de Hoehne.
culos. como os de língua-de-vaca
(Eiephantopus scaber) e erva-pombi- puama (Ptychopetalum uncinatum), mastruço (Chenopodim ambrosioi-
nha ou quebra-pedras (Phyllanthus para só citar alguns . Sua avaliação. des). que força a eliminação de ver-
niruri). Determinou-se que. aos pre- por demais subjetiva, tem resistido mes graças ao escaridol existente
parados industrializados feitos com até hoje a uma aferição científica in- em suas folhas. As sementes de abó-
base nessas plantas. fossem asso- suspeita . bora (Cucurbita pepo) encerram cu-
ciados diuréticos e desrnfetantes uri- curbitina, um aminoácido não protéico
nários comuns. o caso das plantas com indi- que é tóxico para os helmintos intes-
Muito suspeitos também- como cações precisas pisa-se ter- tinais . E o leito da gemelerra ((!cus
não podiam deixar de ser- são os reno mais firme. Existem de doliana} literalmente dtgere os ver
afrodisíacos. de que o povo conhece fato as quo trveram seus pnn- mes, graças a suas propriedades pro-
uma legião · vários t1pos de catuabas cípios at1vos identrf1cados. Entre os teolíticas .
(Anemopaegma mirandum e Trichilia muitos v.egetais com propriedades Um "falso jaborandi". Ottoma cor·
catuaba, por exemplo). o cipó-cravo anti-helmínticas, por exemplo, vale covadensis, recentemente estudado
(Tynnanthus fasciculatus) e muira- lembrar a erva -de-santa-maria ou no Núcleo de Pesquisas de Produtos

novembro/dezembro 1982 17
Naturais (NPPN} da UFRJ . encerra sy/vestris) e do bálsamo de copaíba santa (Maytenus ilicifolia). e para a
uma substância anestés1ca. a pipero- (Copalfera officinalis). Famosa. tam- amebíase, como a aruca (Calea pin-
vatlna, em suas hastes e raizes, que bém, é a ação do 1nfuso da cabacinha natdlda). além de lactagogos (esti-
são as partes da planta mastigadas (Luffa operculata) em instllações con- mulantes da lactação), como as to
para al1viar dores de dente. A eme tra as Sinusites Mu1ta gente recorre lhas do coqueiro macaúba (Acroco-
tina. principal alcaló1de da ipecacua- com êxito aos calmantes preparados mla sclerocarpa), do captm-gomoso
nha ou poaia (Cephalis lpecacunha). é à base de mulungu (Erythrma velu- (Commelma nudiflora) e do azevém
a substância responsável pela ação tina), perobinha (Acosmwm subele- (Lolium aristatum), devem-se men-
curat1va dessa planta sobre a disen gans) e maracujá (Passdlora quadran cionar ainda os antidesenténcos
teria amebiana O pnncíp10 ativo da gulans), e é Indiscutível o efeito da como a quássia (Ouass1a amara) e o
mama-cadela, cuja efic1ênc1a no com- abutua (C1ssampelos pere1ra) como guiné caboclo (Anoma acutifol!a).
bate ao vitil1go já mencionamos, é emenagogo (medicamento que induz
uma furocumarina conhecida por ber a menstruação} ou abortivo, con- ão inúmeras as dificuldades a
gapteno forme a dose. Cabem também ser superar no estudo séno dos
f1toterápicos. Elas começam •
pela identificação correta das
plantas, com a mdispensável assis
tênc1a dos botân1cos sistematas. Os
nomes populares pouco ou nada sig
nificam sem a complementação do
nome botân1co autenticado. "lnha
me". no Sul do Brastl, é Colocas/a an-
tiquorum, da família das aráceas, ao
passo que no Nordeste se refere a
espécies do gênero D10scora, das
d1osconáceas. Inversamente. uma
mesma planta pode ter nomes vul-
gares diversos nas d[ferentes reg1ôes
do país. como acontece com as espé-
Cies do gênero Tecoma ou Tabebuia,
que são "pau-d'arco" no Norte. mas
"1pê"
,
no Sul.
E dtfícil. também, mu1tas vezes,
obter a confi rmação Científica da eft
cácia de uma droga conforme pre-
tende a voz popular. Não se pode es
4
quecer a possível tnfluênc1a da época
oll
-
·~
,_ da coleta e um eventual efe1to preju
"'- dicial do armazenamento Cuidados
"'E
0 especiaiS se impõem d1ante de 1nfor
maçoes de pessoas sem tnstrução,
embora de boa fé Há a1nda as Infor-
mações deliberadamente falsas e a
Compreender melhor as plantas medicinais e abandonar alguns dos mitos que as
cercam é fundamental para que seu uso se afirme como alternativa ao consumo de desconf1ança que demonstram os in-
medicamentos industrializados. divíduos envolvidos no comerc1o de
drogas vegetaiS, reticentes nas suas
Pelo menos uma entre as muitas lembradas aqu1 as numerosas drogas informações dev1do ao medo que
drogas hipoglicemiantes (que redu- antid1abéticas em uso. além da já ci- lhes insp1ra uma suspeita de f1scaltza-·
zem a taxa de glicose no sangue) usa- tada, como o caJueiro (Anacardium ção. Fmalmente, é prec1so levar em
das por diabét1cos tem , sua substân- occldentale). o guajeru (Chrysobala- conta o efeito placebo. de medica-
cia ativa identif icada E a pedra-hume- nus !Caco), a unha de-vaca (Bauhinia mentos inertes que graças à suges-
caá (Myrcia un i flora). em CUJO de- forf1cata), o jamelão (Eugenia jam- tão produzem no paciente efeito real
cacto a equipe de pesqu1sa do N PPN bolana), as sementes verdes do café ou aparente .
. dentificou um glico pept1deo que (Coffea arabica) e o jucá ou pau -ferro
inibe a absorção da gltcose pelo intes- (Caesalpinia ferrea). todas hipoglice- ma apreciação objetiva de
tino. miantes plenamente consagradas um assunto tão complexo
Sabemos ainda de outros tantos pelo uso popular. evidentemente nos • obnga a
vegetais de efeito comprovado, mas Outras 1nd tcaçôes, menos se- observar uma grande cau-
cujo princípio ativo é até hoje desco- guras, merecem ser investtgadas de- tela Embora possam curar muitas•
nhecido É patente a ação cicatrizante VIdo à tns1st ênc1a com que são cita- doenças. as plantas nao podem curar
da muctlagem da babosa (Aiow vera). das . Estao entre elas os remed1os tudo Entre os males que não podem
asstm como e largamente divulgada a para úlceras. como o saião (Kalan ou até hoje não puderam ser de-
ação antiinflamatória da malva (Malva choe brasil iensis) e a espinheira- belados com f1toteráp1cos estão a sí-
A

18 ano 1/n .• 3 CIENCIA HOJE


filis, a febre tifóide, a esquistosso- do numa abordagem interdisciplinar. zadas e de uso popular generalizado;
mose, a doença de Chagas, as leish- Botânicos. antropólogos. farmacólo- estudos botânicos, farmacotécnicos
manioses, a filariose e a febre amare- gos e químicos precisam ser mobili- e químicos de preparações fitoterápi-
la, entre muitos outros . Por outro la- zados para trabalhar em conjunto. e cas, cotn vistas à defimção de méto-
do, é bem verdade que há uma par- não isoladamente, como vem ocor- dos de preparo, dosagem de princi-
cela de acerto no ponto de vista dos rendo . As plantas medicinais em uso pias ativos e controle de qualidade ; o
céticos que vêem como um bem o precisam ter evidenciada sua real efi- desenvolvimento de ensaios farma-
simples fato de as pessoas não recor- cácia, é preciso que se estude a su- coclínicos

para avaliação das proprie-
rerem a medicamentos sintéticos de posta sinergia. ou mútua potenciali- dades terapêuticas das preparações
ação poderosa, substituindo-os por zaçao. dos seus constituintes quími- farmacêuticas de uso popular obtidas
drogas vegetais, mesmo que inó- cos, e que se comprove a pretensa de plantas medicinais, · e o esquadri-;
cuas variedade de efeitos de uma mesma nhamento farmacológico e fitoquí-
Há ainda a considerar as proprieda- droga. Faltam pesquisas. também, mico de espécies selecionadas da
des de plantas que o povo não desco- sobre os riscos toxicológicos poten- flora brasileira e outros produtos na-

briu, como a ação da pilocarpina do ja- era s. turais.
borandi (Pilocarpus pinnatifolius) con-
tra o glaucoma, o efeito antileucê-
mico de alguns alcalóides da boa-
noite (Catharanthus roseus), a ação
sedativa da rese rpin a, co ntida na
Rauwolf1a, e a atrv1dade dos alcalói-
des das plantas do gênero Fagara

so-
bre a anemia falcif orme A medida
que os homens se ''civ1l1zam", cessa
gradualmente seu contato com a na-
tu reza e novas observações empíri-
cas tornam-se cada vez menos prová-
veiS. No entanto, o distanciamento
ent re nossa cultu ra moderna e a m e-
dicina trad iCional nao é Irreversível,
como o demonstra a grande aceita-
ção dos medicamentos vegetais
quando oferecidos ou apregoados. É
cunoso também o fenômeno de o
povo estar at ribu1ndo a algumas plan-
tas no m es de medicamentos rndus-
tr1al1zados . No mercado de Ve r o
Peso. em Belém do Pará, encontram-
se. por exemplo. em barracas de rai-
-
o
Cll
~
~

"'
m
ZCiros, "folha de a nado r", "flor de eli- j
<t
XIr paregórico" e "folha de cora-
mrna"! Também a propnedade que o
-
o
o
~-

óleo dos frutos da sucupira-branca


Este desenho da ip!!cacuanha { Cephae/is ipecacuanha) figura no livro História na-
(Pterodon pubescens) têm de prote- tural e médica da lndia Ocidental, de Guilherme Piso, chefe da missão científica
ger a pele dos anrmais e do homem trazida ao Brasil por Maurício de Nassau .
contra a penetração das cercárias do
Schtstosoma (propriedade desco- O Brasil possui competência em Uma atuação decidida dentro des-
berta por cientistas do N PPN e da todas as áreas relacionadas com es sa filosofia governamental só poderá
Universidade Federal de M1nas tes estudos. e o que falta é uma inte- ter êxito. não só em termos de divi-
Gerais) já vem sendo apregoada, no gração dos cientistas numa ação dendos científicos, mas também de
Pará, por um vendedor de drogas ve- firme, coerente e coordenada . Numa redução dos custos ass istenciais.
getais . demonstração de total compreensão oferecendo alternativas de trata-
Nessa nova corrida para as plantas destes problemas. o mrn1stro da Saú- mento acessíveis e adequadas ao ní-
medicinais. existe o perigo de o pên- de baixou. há um ano. as Diretrizes e vel cultural dos beneficiários.
du lo oscilar dema1s para o lado da fito Prrorrdades de Investigação em Saú-
terapia empírrca . Uma prova d1sso de (Portaria n. 212, de 11 de setem- SUG ESTOF-~ PARA L EITURA
são os numerosos "chás" que ulti- bro de 1981) Neste ato em que es-
mamente vêm sendo postos à venda tão definidas as áreas prioritárias de HOEHNE. F. C Plantas e ~ulntilncias
sem o conhecimento dos efe1tos pre- pesquisa. f1gura também o estudo \'<'g(•tais toxtcaJ e medicínws São
Paulo. Departamento de Hotamca du
judiciais que possam acarretar. Como das plantas medicinais. Essa ampla E'ltauo. 2.• cu . 1979.
proceder em situação tão complexa? investigação abrangeria estudos de RIZ71NI. C. e MORS. W. Borémica
O que falta, evidentemente. é um ident1frcação. avaliação e controle de nonômica lmwletra . São Paulo. EPU
cEd USP . 1976.
estudo científico aprofundado basea- preparações fitoterápicas comerciali-

novembro/dezembro 1982 19
A constituição de Cacânia
11

era liberal,
mas o regime era clerical.
O regime era clerical,
mas os habitantes
eram livres -pensadores .
Todos os burgueses
eram iguais perante a lei,
mas nem todos, é claro,
eram burgueses.
O parlamento
fazia um uso
tão impetuoso de sua liberdade
que geralmente se preferia
mantê-lo fechado;
mas havia também
uma lei de exceção
que p ermitia
dispensar o Parlamento; •

e toda vez que o Estado


s e preparava a gozar
os benefícios do absolutismo ,
a Coroa decretava
que se voltasse a viver sob
o regime parlamentarista."
(Robert Musil,
O Homem sem Qualidades)

-o
.E

C- - - - - - - -
Bolivar Lamounier* )

eu ponto de partida ao Este adjet1vo" é aqu1 usado. em rela-


anal 1sar a abertura polí- ção ao autontarismo, para designar a
tica consiste em procurar ausência de monol1t1smo ideológico
uma expl i cação que e a presença de forças importantes
mereça ser des1gnada como '' estru- que procuram (nem sempre com
tural'· - isto é, que não se perca na êx1to. é óbvio} moderar o compo- •

mera crônica das idas e v1ndas con- nente de arbítno e violência tnerente
junturais - e que. ao mesmo tempo, a ta1s regimes.
dê a devida ênfase a processos e Dentro desta ordem de idéias. te-
constrangtmentos (cons traints) pro nho destacado em vários trabalhos
priamente ideológicos e polítlco-insti- dois pontos que me parecem cru-
tuciona;s. O resultado desta linha de ctais. Pnmeiro, que o ststema polít1co
reflexão tem s1do uma ênfase consi- brasiletro contém forças poderosas
derável no que se pod eria chamar. que dtficultam a substituição daquilo
com referência aos reg im es pré- e que a1nda resta do modelo liberal por
pós-64. de uma passagem da demo- princípios de representação funda-
cracia limitada (alguns dirão populis- mentalmente d istintos Está, pois.
ta) ao autoritarismo mitigado; e uma em boa medida. submetido a um im -
·Prore-;wr dt ci-'ncia puhtica d 11 Pon tif1cia l n htr~idlldl'
v1são da atual abertu ra como retorno Católica dt Silo Pa ulo e direto r do Instituto d t> E\tudO\ peratiVO eleitoral. condtção indispen-
t conomico~. Sociah e Puhticos de Sao Paulo.
a uma democrac1a também mitigada. sável para evttar a radicalização seja
~

20 ano 1/n.o 3 CIENCIA HOJE


çm

na d1reção autontária fasc1St1zanto, ções militares e burocráticas normal- ponto de se tornarem autojconscien ·
seja no sentido das alternativas de mente des1gnadas como "duras" ou tes e facilmente Identificáveis Não
esquerda . Em segundo lugar parece- como "antiliberais". Ma1s ainda, esta existem, como se sabe, clivagens et-
me que a prática do jogo representa- segunda estratégia, praticada entre nicas ou regionais política e demogra·
tivo, mesmo dentro dos l1m1tes su- 1964 e 1968 e novamente a partir de ficamente significativas . Mesmo o
• geridos, coloca o sistema militar-bu- 197 4, requer espaços significativos fenômeno do voto classista, enten-
rocrático

diante de um sério dilema . para uma imprensa livre, para asso- dido no sent1do usual de diferenciaiS
Manter esse jogo, mas esvaziando-o ciações soc1ais autônomas, enfim que se estabelecem em função da
de todo conteúdo, transforma as elei- para toda uma série de mecanismos escala ocupacional - e especial-
ções em plebiscitos sobre a natureza que tendem a transpor para o plano mente da distinção entre trabalha-
do regime e em canal de expressão político a diversidade efetivamente dores manuais e não-manuais - é
para Insatisfações e ressentimentos existente na estrutura social. menos dec1sivo que na ma1oria dos
de toda ordem. Mantê lo, mas devol- países europeus . Tampouco é possí-
vendo-lhe, amda que gradualmente, uais são as bases sociais vel falar em uma clivagem rural-urba-
alguma significação prática, abre es- deste dilema, vistas agora na. se por esta expressão se enten-
paços para um processo "autonoma- sob o prisma da sociologia der a existêncta de partidos ou movi-
mente político" - isto é, uma série - ele1toral? Trata-se de uma mentos propriamente agrá rios , con-
de desdobramentos que não pode indagação pertinente, pois não exis- duzidos por proprietários rurais e/ou
ser contida com 100°/o de êx1to den- tem no Brasil c!Jvagens (d1v1sões) so- pelo campes1nato, como forças políti-
tro dos limites desejados pelas fac- ciais histoncamente sedimentadas a cas bem delineadas e independen-

novembro/dezembro 1982 21
tes, contrapostas a um equivalente
Figura 1 ·
urbano.
O que singulariza a experiência bra-
sileira é que os partidos dominantes
do lado conservador no período %
NOIITI
1945-1965- da mesma formá que a
Arena, partido de apoio ao governo a
partir desta última data - viram-se
presos a uma base social demografi- Ar...,

camente declinante. As mudanças na


estrutura social responsáveis por
este alinhamento desfavorável •
às
pretensões de legitimação do regime IYóô 197() 197A 1918

de 1964 pela via eleitoral são funda-


mentalmente: (a) a crescente con-
centração da população em grandes
centros urbanos. acentuando a carac-
terística ao menos genericamente
"oposicionista" do e leitorado; (b) a Aretto
composição desse eleitorado urbano
segundo faixas etárias e níveis edu-
cacionais, da qual resulta um peso
MOS
também crescente do eleitorado jo-
vem e pouco instruído; isto é, preci- --
samente daquela parcela da popula- 1970 1918

ção que não tem memória alguma


dos acontecimentos invocados pelos
militares como justificativa para a to-
%
mada do poder em 1964. Estes fa- CENTRO-OESTE
tores. tendencialmente favoráveis ao
apelo oposicionista, foram provavel-
mente muito acentuados pela impo-

-- MD8
Arena
sição, em 1965, de uma estrutura bi-
partidária que facilitou a transposição
~---a.#.--
------ -··.
~ t:o c: c: ::::~ c:
I n n
-:;:,-· f"' i"::::~
....... , .·------· ·-· . ·-· . ... ......
n c: c: r i m n
t:o c: t:o f"' t:o ::::~ ::::~ t:> t t:> ~ -- Broncos e
Nulos
difusas. para o plano político-eleito- I
I I I
ral. IYóô 1970 197A 1978

O que se convencionou chamar de


"voto urbano", na experiência bra-
sileira recente. de fato comporta uma %
SUDESTE
divisão em pelo menos três aspectos
distintos. Primeiro. entre as grandes -
regiões do país, contrapondo as mais
ricas e industrializadas às ma is po- - - - - - - MOB

bres e menos industrializadas, nas


qua1s a rigor somente as capitais são
Nulos
centros urbanos de grande porte . Se-
gundo, dentro de cada estado, visto 19]4 1076

que existe uma evidente correlação
entre urbanização e voto, sendo
mesmo habitual no discurso político
corrente considerar as capitais (que %
SUl.
são normalmente grandes cidades)
como "redutos oposicionistas" e o
interior como "governista". O quadro
real é evidentemente mais complexo AreNl
MD8
que isso, mas a afirmação é em geral
correta. Terceiro, e talvez mais deci- ...
sivo, é o asp.ecto referente à distribui- ~g
ção dos votos dentro das grandes IYóô 1910
5
o
metrópoles, no sentido de que a opo-
sição obteve grandes maiorias na l

~

22 ano 1/n . • 3 CIENCIA HOJE


periferia pobre, formada pela expan- felizmente, não há dados compará-


Figura 2
são urbana recente. veis para todos os estados, mas há
fortes indicações de que o padrão

CAMAitA fiDIJlA1.
omo se pode observar apresentado na tabela I é válido para
pelo gráfico da figura 1. a as grandes capitais e aglomerações

votação do partido gover- metropolitanas. Nesta tabela. o munl-
nista '(a Arena) entre 1966 cfpio de São Paulo foi subdividido em
e 1978 foi proporcionalmente muito oito áreas sócio-econômicas homo-
maior nos estados menores e/ou nas gêneas. e a margem de votos entre
dANCOII
NUlOI regiões menos industnalizadas e me- os do1s partidos. dentro de cada uma
nos urbanizadas (Norte. Nordeste e dessas áreas, foi comparada para to-
Centro Oeste). Assim. embora o sis- das as eleições legislativas de 1966 a
tema eleitoral tradicionalmente su- 1978. Pode-se facilmente constatar
brepresente os estados mais desen- que as áreas mais pobres mclma-
Coptrol
volvidos- o caso de São Paulo é fla- ram-se muito mais fortemente para a
grante - a oposição pôde crescer oposição; e, não menos importante.
eleitoralmente ao apo1ar-se (o que é que esse padrão ocorreu também
também um padrão trad1c1onal) nas nas ele1ções de 1966 e 1970, ou seja,
áreas mais desenvolvidas e dtnâ- na prime:ra eleição b1part1dária (1966)

m1cas. e na de 1970, realizada em chma alta-
Em segundo lugar, como fo1 d1to, mente repress1vo, praticamente sem

existe também uma d1ferenc1ação propaganda e sem campanha elei-
desse tipo dentro de cada estado. O toral.
gráfico da figura 2 oferece como Os dados da tabela I parecem con-
exemplo as ele1ções de 1978 para a tradizer a afirmação ante rior segundo
Mun:c p:os com mo:s de 30 000
hob:ronrc: em 1970 Camara Federal em São Paulo. um a qual as diferenças no comporta-
bom exemplo, se considerarmos mento eleitoral devidas à estratifica-
que, nesse estado, as diferenças nas ção sócio-econômica, especialmente
condições de vida entre cidade e ocupacional, não parecem mu1to
campo, grandes e pequenas cidades. acentuadas no Brasil. Este é um as-
são bem menos discrepantes que no pecto pouco estudado e certamente
resto do pafs. fundamental para se entender o efei-
Fmalmente. e esta é talvez uma di- to político das mudanças que vêm
vagem com implicações pol1t1cas ocorrendo na estrutura social. Não
mais profundas. a geografia eleitoral obstante. duas indicações podem ser
interna das metrópoles comporta feitas Em primeiro lugar, as áreas só-
Mun c p os com menos de 30 000
também diferenciações importantes cio-econômicas homogêneas a que
hob tontcs em 1970 e, ao que tudo 1nd1ca. acentuadas se refere a tabela I são homogêneas
pela impostção do bipartidarismo. In- basicamente do ponto de v1sta da in-

Tabela 1
NÚMERO DE VOTOS DADOS À ARENA PARA CADA VOTO DADO AO MDB, POR ÁREA SÓCIO-ECONÔMICA HOMOGÊNEA DO MUNidPIO DE SÃO PAULO

CIWARA ASSEMBLEIA CÂMARA
MUNICIPAL LEGISLATIVA FEDERAL SENADO ELEITORADO
ÁREAS
EM 1978
1968 1972 1976 1966 1970 1974 1978 1966 1970 1794 1978 1966 1970 1974 1978

I 1,45 3,05 0,95 1,23 3,65 0,79 0,52 1,23 3,45 0,82 0,51 1,96 1,34 0,52 0,25 342.651
-
- 11 1,32 2,64 0,80 1,13 3,11 0,66 0,45 1112 2,92 0,68 0,45 1,76 1,16 0,43 0,21 288.077
~ •

111 1,33 2,58 0,77 1,03 3,01 0,57 0,43 0,97 2,83 0,60 0,42 1,63 1,1 o 0,37 o, 19 334.940

IV 1,19 2,44 0,76 0,86 2,87 0,49 0,40 0,84 2,74 0,51 0,39 1,50 1,09 0,33 0,18 307.881

v 1,21 2,34 0,70 0,81 2,69 0,43 0,32 0,79 2,59 0,45 0,32 1,49 0,96 0,29 o, 15 600.884

VI 0,93 1,86 0,58 0,55 2,04 0,26 0,24 0,51 1,92 0,26 0,24 1,12 0,71 o,17 o, 11 643.535

VIl 0,94 1,59 0,53 0,55 1,99 0,24 0,23 0,52 1,86 0,26 0,22 1,09 0,64 0,17 o, 10 642.020

VIII 1,13 1,65 0,48 0,52 1,69 0,19 o, 18 0,48 1,56 0,20 o, 17 0,95 0,54 o, 14 0,08 611326

Sobre o tlivisão ct. S, um 6reos hlomoglm os, wwr SEPlAN - S.C:ehlnll lle l.no;:- o "•••jcn•-oto lle Sã.,_..- lolut:m do Estudo• a '•tqul110s n.• 13, 19n

nowembw old•ze:nbofo 1982 23


fra-estrutura urbana e de serviços. tecimentos que precederam a to- cia lmente, entre os mais velhos de
Embora esses fatores sejam forte- mada do poder pelos militares em alto n fvel educacional, consideran-
mente condicionantes das condições 1964 Dentro de uma estrutura b1par- do-se aqui que este último atributo
de vida, 1sto não quer d1zer, pelo me t1dária. seu voto tend ia, por conse- pode mdicar tanto um ma1or volume
nos no caso de São Paulo. que as g um te, a exprimir pu r a e simples- de mformações quanto uma posição
áreas mais "pobres" sejam homogê- mente uma avaliação difusa dos re- de classe compatível com essa per-
neas em termos de renda familiar e/ sultados alcançados pelo regime; ao cepção. Nesta linha de raciocínio, os
ou da pos1ção ocupacional dos indiví- passo que, na memória dos eleitores dados da tabela li mostram, com efei-
duos. De fato, a d1stnbUJção das Iden- mais velhos, essa avaliação é muitas to, que os jovens de ba1xo nível edu-
tificações partidárias, ao nível 1nd1ví- vezes temperada e mediatizada por cacional foram em 1974 o pnnc1pal
dual , não se d1ferenc1a acentuada- uma visão também crítica do regime reduto do voto opOSICIOnista no muni-
mente em função dos níveis de renda pré 1964, especialmente do governo cípio de São Paulo. dando-se o Inver-
ou de ocupação. Goulart, perceb1do como algo "ainda so com os mais velhos de alto nível
Em segundo lugar, e aqu1 sim en pior". educacional.
contramos uma chave importante Observe-se entretanto que esta di- Um título alternativo para este ar-
para a compreensão do problema, es ferenciação não se estabelece exclu- tigo poderia ter sido "Dados em
sa distnbuição é fortemente condi- sivamente em funçao das faixas busca de um modelo político" . A
cionada pelo efeito simultâneo da diS- etárias. A ausência de memória entre busca de legitimação pela v1a ele1toral
tribuição etána e educacional. O Sig- os JOvens é evidentemente maior en- esbarra necessariamente nos obstá-
nificado político destas duas variá- tre os jovens de baixo nível educacío- culos aqui brevemente delmeados
veis é evidente Metade ou ma1s do ndl. A percepção negativa do reg1me em função destes quatro fatores: di-
eleitorado que agora começa a votar pré-1964, ao contráno, é mais fre- ferenças sócio-econômicas entre as
não tem qualquer memóna dos acon qüente entre os mais velhos e, espe- grandes reg1ões; diferenças sócio-

--
I

Olavo Brasil de Lima Junior*

O Brasil vai às urnas . Muitas Do ponto de vi.,ta do poder. o governo bases razoáveis de susten- partidário incluindo grande número
foram as garantia~ c promessas de novo '>J.,tcma partidário teria nece ...- t.t~.to político parlamentar. Isto de partidos é pouco repre:-.entativo e
que as eleiçoes scnam realizada'>. -.ariam~nte de <:Ht.:nder a pelo mcno" porque nao mtercssava ao governo, inoperante para atender às várias
advindas não somcmc do pres1dentc doi~ rcqui.,ito..,· at.:omodar a:-. elite'> <.:orno não mtcrcssa. a s 1 mplc~ trans funções do governo. O que frequen-
da República, que tem prometido política<, cxtstente\ e garanLir ao go- krén<.:ia do poder para a opo..,1ção. temente não é levado em conta é
fazer do pais uma democracia, mas verno sustentação político-parla- Consequcntcmcnte. a tentativa de que a dinâmica real do antigo sis-
também de outros Importantes se- mentar. Vejamos por quê. maximização do apoio político par tema partidário do regime de 1946.
tores governamentais. Ao que tudo Novos partidos, descartada a hi- lamentar determinaria não só a frag tanto do ponto de vista eleitoral
indica, o caminho é o da redemo- pótese de reordenamento políti- mentação da oposição como ainda como parlamentar, incluía número
eratização, já com novos partidos e co-i nstitucional através de uma um exercício de engenharia política bem menor de partidos políticos
através de eleições. O projeto de re- Constituinte, têm origem em insti.: que leva~se ao surgimento de par efetivos, com a vantagem adicional
democratização, ainda em curso, tuições parlamentares, daí o requi- tido (ou partidos) que a~segurasse a de garantir represenlação à maior
w.quer como um de seus principais sito de que, mdependentemente de maioria governamental parte, do espectro da opinião públi-
condutos um novo ststema de parti- quais fossem os contornos do novo ca. E assim em toda~ a~ democra

dos polfttcos efetivos, representati- sistema, este deveria acomodar da O preenchimento de tais cond1 cias representati\as. ~e m que se
vos e legftimos. E requer um novo melhor mane1ra possível as elites ções ocorreu com a implantação de corra risco algum, a pnon, de insta-
sistema partidário sobretudo por políttca5 existentes. E não só aque- um sistema multipartidário com um bilidade política.
duas razões. Em primeiro lugar. o las que ora transitam do autori- número reduzido de partidos. A ne- As peças fundamentais da enge·
sistema bipartidário vigente até há tarismo para a democracia, mas cessidade de o sistema constitutr-se nharia política que puseram em
pouco era extremamente precário, também quadros políticos que se com pequeno número de parttdos marcha a reorganização partidária c
uma verdadeira camisa-de-força in- reincorporam à vida política em de- teria origem na preocupação de evi os atos legais posteriore~ já sao hoje
capaz de representar efetivamente corrência da anistia e - por que tar legendas de aluguel . partidos de conhecimento público. Cabe. no
sequer a~ parcelas politicamente or- não?- lideranças emergentes da pouco representativos ou partidos entanto, destacar pelo menos três de
. .
ganizada~ da c;ociedade brasileira. própria sociedade política. as quats, regaonats, para citar uns poucos seus principais componente~ que.
Em segundo lugar. como herdetro legitimamente, têm demandado es- exemplos. Suspeito. no entanto. de resto, estão estreitamente vin-
bastardo do autoritarismo, fal- paço para atuação. que o fantasma do sistema parti- culados às condições governamen-
taria a este ::,tstema legitimidade A segunda condição a ser preen- dário do regime de 1946 estava c tais para a implantação do novo sis-
ate mesmo para sobreviver em chida pelo novo quadro partidário, ainda está a rondar mUitas portas. tema e à tentativa de criar um sis-
uma fase de transição democrá- ainda do ponto de vista governa- Explico. Prevalece ainda a opimão tema multipartidário com reduzido
mental, consistiria em garantir ao segundo a qual um sistema multi- número de atores institucionais.
tica.

24 "
ano 1/n . o 3 CIENCIA HOJE
econômicas e/ou sócio·culturais en- dito, nenhuma destas clivagens pode uma oposição enquadrada num sis-
tre grandes cidades e interior, dentro ser comparada em "concretude" aos tema militar-burocrático responsável
de cada estado; flagrantes contras- modelos europeus do "voto por transformações de grande porte
tes nas condições de vida dentro das classista" . Contudo, não é surpreen- e por um processo de industrialização
grandes cidades; e distribuição etária dente que tenham exercido um efei- rápida não acompanhado de uma
e educacional do eleitorado. Como foi to conjunto como base eleitoral para adequada redistribuição de renda.

Ta b e la 2
IDENTIFICAÇÕES COM A ARENA, SEGUNDO A IDADE E O NÍVEL DE ESCOLARI DADE, M U NICIPIO DE SÃ O PAULO, EM 1974 E 19 78 (EM PORCENTAGENS)<•)

IDADE 1974 1978

ESCOLARIDADE 18/2 8 2 9 /44 4 5 /6 4 TOTAL 18f2 8 29 /44 4 5 164 TO TA L


Até primário completo 12,4 19,7 25,9 20,5 12,5 19,9 19,4 18,2

G ina sial a cole gial incompl eto 24,0 26,3 37,8 26,9 8,8 15,3 23, 1 13,6
-
Colegial incomple to e superio r 26,4 33,5 50,4 33,6 8,5 15,3 39, I 15,3

TOTAL 21 ,8 24,4 32,8 25,7 9,8 17,7 22,6 16,2


fonte lomounoer , 6 - Voto de DcsconftOnro (op cu )
(•) O comple,...nto dos porc41ntogens corresponde aos que declararom preferir o MOS e aos que noo doria teve a Hguinte r.da~õo : •·o Sr gooto moia de algum do• does partedos otuo11, Arena e
manifestaram preferi nela entre os do1s partedos. fm I 974, a pergunta sobre o preferincio porti· M 08?". E em 1978 1"O Sr. M considero do Arena, do MOS, ou de nenhum dos dois?u.

Rcfiro- m~; a., exigênctas lcga1s fonnaçao de \Ua imagem perante o Embora ainda às véspera ... da que trouxerem propo'>l.t\ c rnensa
para (a) organ1/.ação. reg1stro c re- elc1torado c. a<;socaada ao voto vin eleição. pelo meno!-1 algumas ten ...ecns movadom..,
presentação de partido~: (b) vin- culado, eleva em muito os custos de dênc1as _1a podem ser identificadas Finalmente. tendo em vi~ta. mrus
culação total de voto., e (c) supres- mfonnação do eleuor. t.m pnmdro lugar. o conJunto dos uma vez. o forçado e faccio~o rc
são de voto de legenda. Dentro deste quadro msutucio- partidos 'c está'atfcquando "" espe- corte que o governo pretende dar ao
naL há ainda que apontar algumas cificidade.., política~ da., vánas uni- espectro tdcológtco da opimão pú-
A., exigênc1as lega~s para o regis-
contradiçoc~ Ja vi..,íve1s no prOJeto dade~ da kdcmçao. r: grande a dl blica no Brasil que ..,e m..uufestará
tro de part1dos Junto a JU~tlça elei-
governamental de cnação de novo vcr... adadc s6do-econômica c polí ncs~ clciçoe~. o quadro parudáno
toral e sobretudo os requJ\llO\ de
sistema panidário. Em primeiro lu - tica dos estados. variada o bastante encontra-se mutilado, !-.ohretudo à
votação minuna. nacional c pores-
gar. tais dcctsõcs ora pretendem o para condicionar diferentes formas esquerda A saudável e até rnesmo
tado. cstabclectdo'l para que os elea-
fQ.rtalec1mcnto do partado enquanto de competição cJcJtoraJ que. em úl- e.,tabilt1adora compet1ção tdcoló·
tos assumam cfeta\antentc seus
taJ. ora v1sam fortalecer lideranças tima instância. revelarão. local- g1ca real entre os partido~ náo
mandatos são certamente extrema
que se pretende sejam bons." puxa- mente. a existência de subsistemas ocorrera. terá que !>C refugiar no in-
mente pesados. tendo dificultado. c
dores de votos". No primeiro caso partidários. Em algun'l cswdos. de tenor dos parttdos que o permi-
muito. a organização partidária Por
silua-se a supressão do voto apenas fato. não haverá compellção elei- urcm. com conseqüências pvs~lvel­
outro lado. a vinculaçüo total do'
na legenda c ex1gêncms de votação toral. dada a .,1tuaçáo hegcrnôntc~ mcntc desa.,tro~as para sua organi •
voto. de vereador a senador, vem
a nível na~..:tonal. por exemplo !'lo de um dos atuaas partido.. Noutros. zação c umdade interna' Dado que
apenas dificultar a participação elei-
segundo. a manutenção da suble- a competição real c ...tará centrada ao~ panido., de e.,querda nãu se per
toral dos panidos menores , amea
genda para prefeito c senador e a lipenas em tomo de do1s panidos- rnite a exbtênda legal , J3 que cxts
çando em muito contrihuir para ele
vinculação total do voto que. de o 'ai\érn do b1parudansmo, Ern tem são levados a participar de ou
vara proporção de voto~ nulos c em
certa forma. municipaliza . mas un' poucos eo;,rados. ainda. a com- tros partidos
branco. Em princípio. favorece
também · ·governaliza" a eleição. petição sc1á rna1s acentuada. c as O quadro aru.tttucional que ai eMá
apenas os grandes partidos, c como
Mais complicada ainda tem sido preferências eleitoral"> se divtdlfão e o SIStema partidário que pôde ~cr
os grandes parttdos não são ncccs
• a preocupação do governo em tentar entre três, talvez. quatro. dos atuais orgaruz.ado certamente representam
sariamente os mesmos em todas as
a priori maximizar sua hase de sus- partidos. um passo à frente no processo de re
unidades da federação. scna um
tentação scm.reduzir. ou até mesmo democratização. Mas o processo
princípio aparentemente neutro. na Em segundo lugar. as dcJçõcs
eliminar. a legitimidade do próximo está apenas tendo imcto. A compk
nlcdida em que bcncficiruia igual-
pleito. Dua., pondemções são sufi- deverão cnntirmar a cxistêncta de xidadc atual da sociedade brcU.aleira
mente os grandes partidos. Além
cientemente ilustrativas: como In- um grande partido governista c um requer novos passos. com vtsl~ ao
dhto. a vmculação totaJ impede que
terpretar a manife:-.tação de pre- grande partido de oposição que. estabelcctmcnto de instJtuiçoes
as forçac; sociais se façam represen-
ferências eleitorais. diante de novos pela sua própria origem. nascem políticas n1a1s reprcscntauvas e efi-
tar livremente de fom1a a permitir,
partidos. se a taxa de votos nulos c ba\tante inflados devendo. em clet cazes que enfrentem. c já. os grc~ves
no momento da representação, uma
em hranco. alta. for suficiente- ~ocs subseqüentes. caso subsistam. problcmao;, de JUStiça social cujo
reordenação partidária mais conse-
mente atípica em relação a eleições po.:rder \Uhstância eleitoral rcpc equaLionarnemo tem sido ~btemati­
qüente e homogênea. Serve. a:-.::.im, lindo possivelmente a evolução do
anteriores! Como entender. c so camentc postergado.
sohretudo para acomodar os atuais
hretudo pretender. que a optmão PSD e da LDN depoas da.., elcJçocs
quadros dtngcntes.
púhlica a ... ~irnile situações em que de 19~7. O corolário natural c que
A supressão do voto apcnac; na le lideres populares com expressiva os demais partidos. uma vez man- • Prof~......,..r r pt..""'UJ~1r do lmululo l ni-
\U!>ilario di! Pt!<;qui<.a.\ do Rio df Jaufiru
gemia enfmquece todos o:-. partidos votação não tenham o direito de as- tida a configuração atual. cresçam cll1PE RJ 1.
em um momento decisivo para a ~umtr seus mandatos'? eleitoralmente. sobretudo aqueles
-
novembro/dezembro 1982 25
luz do que fo1 exposto, pare- mente da liberdade da imprensa es- bi r excessos e arbitrariedades que
cem razoavelmente claras as crita), mas ao mesmo tempo o impas- viessem a ser cometidos pelo apare-
~-~ implicações da "abertu ra " e se ele1toral que acuava o governo é lho repress1vo policial e militar. E uma
seus poss íve1s desdobra- desfeito, ou pe lo menos atenuado, terceira, sobre os efeitos que a nova
mentos. Em primeiro lugar, compre- ao desfazer-se a estrutura bipartidária situação econômica, problemática
ende-se que o processo eleitoral re- (e co nseqüentemente a frente de em 1979 e 1980 e cla ramente repres-
teve no Brasil a potencialidade de ser- opos1ção agrupada no MDB}. siva em 1981 , te na sobre a Situação
VI r como veículo para uma trans1ção A lcançado esse estágiO, três inda- política em seu conjunto .
ordenada e pacífica, po1s se de um la- gações fundamentais apresentar-se- Des tas t rê s indagações, a se-
do o governo dispunha e dispõe de iam necessariamente Uma, sobre a gu nda, provavelmente, é a que for-
ma1ona parlamentar (além. é claro. de natureza do processo de · 'institucio- nece a chave pa ra os acontecimentos
seu enorme poder em outras arenas), nallzação democrática" a ser g radati- de 1981 e para as perspectivas que
de outro é também certo que a oposi- va mente implantado : 1st o é, sobre o o ra se apresentam O apa recimento
ção encontrou amplos espaços para carát:êr e os efe1tos das elc1çoes pre- do terronsmo da d1 re1ta e. especial-
se organ1zar eleitoralmente. A passa- vistas para 1980 e 1982 (aí incluída a mente, o episódio das bombas no Rl-
gem do governo Ge1sel ao governo nova legislação elei toral a ser ado- ocentro. no dia 1.0 de maio de 1981,
Figue1 redo conclui uma etapa desse tada, a nova regulamentação para a tornaram cla ro que as força s armadas
processo . são fe1tas Importantes propaganda polít1ca no rádio c na tele- não se d 1spõem a admitir Investiga-
"concessões" liberalizantes (como a vlsao etc) . Outra sobre o grau em ções independentes e rigorosas de
an1st1a e o quase to tal restabeleci- que o governo esta ria disposto a co1- tais atos O p rocesso de abertura

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------~
I I
/

e o~~os e UISO e 1 oro


Amaun de Souza·

Como ato polftico realizado popular a partir da única via dei Em 1916, uma gigantesca strmv tes auto-selecionados. o que ocor
. ,
sem constrangimentos, e carac xada aberta peJo sigilo do voto poli promovida pela revista Li- ria rotmetramcnte nas straw polls.
terísttca do voto exercer forte a revelação. pelo~ próprios e lct teral'.\ f>lge,·t previu que o candi Na seleção intenctonal. adotada
pressão na arena pública sem con tores, de suas prcfcrênctas e le1 dato democrata à presidência dos a parttr do ftasco de 1916. os pe\-
tudo revelar por inteiro as razões torais . EUA. Frankl in Roosc..,elt. rece q utsadores determinavam inicia l-
que o mot1varam. Ainda que seu be rta a pena' 40% do<.; vo tos. mente quotas de mformantes com
Datam do mícto do século XIX , , .
poder de escolha esteja limitado se ndo derrotado . Na ve rdade, certas c aractensttcas, na propor-
nos Estados Untdos, as pnmeiras
pelas alternativas existentes, a de
•-
\, l~ulU
1.• I t• o 1 I
\,UICll V <I UU CICilUlé:tUU lJUUI,;
tentativas de •nrevisão do voto de , ,,,
\1'.1 / (
.
porém, Roo'>evelt ve nceu. co m
U \1~
. .
V\l l\1:') .
~

t:.~lC III~U\.I,; ........ U


.
11,; ~
.
ção e xata e m que tais cnracterísti-
.. '
L <I:, I.ILUII C lll I lU L\HJIU C ICilUI dl.

selar a sorte de governantes. pôr


que se tem notícta as c hamadas vou a urna ampla reformulaçao da Sexo, tdade e pmtçao \Oc ial são
termo a c arre1ras parlamentares
straw polls , pequenas "eletções metodologia de pesquisa e lettoral. fatores comumente usado.., na de-
simuladas'· e m a ntecipação ao contexto e m que surgiu o nome de finição das quotas. ftcando ao ar-
veneráveis ou resgatar partidos c
pleito o ficial Promovidas pela George Gallup. hoje de mençao bítrio dm, e ntrevtstadorcs a sele-
candidatos da obscuridade, alçan
imprensa c fazendo uso de cédulas o bngat6ria quando se fala da ma ção de um certo número de elei-
do os ao poder, sem que se sruba
tdênticas às o fictats . essas "clct , .
precisamente q ual a natureza do tena . tores considerado<.; " representati-
çoes em mintatura ·'. baseadas nos vo'·· ou " típ1cos" de diversas
" mandato" expresso na manifes-
tação das umas . "votos" e nviados por milhões de combmaçôes daquelas caracterís-
A partir de e ntão, dois princí-
eleitores, atingiram seu apogeu .
Historicamente, o aumento da ptos passaram a nortear a exec u ticas.
nas primeiras três décadas deste
incerteza quanto ao resultado c ao ção de pesqutsas e leitorai\ O pn No e ntanto, também este mé-
significado de e leições populares século.
metro e ra o de q ue as \ondagens todo vtria a fracassar na previsão •

resultou na adoção de prática' que Há, e ntretanto . uma d iferença deveriam hasear-'e e m amostras do resultado das e letçõcs prest
vbavam assegurar a livre mamfes- fundamental e ntre essas -.ersões CUJa co mposição refletisse fie l- denciais norte-americanas. desta
tação do eleitor. Asstm, a institui- mi niatunzadas de ele tçõcs c as me nte a csrrutura do e leitorado. vez em 1948 . Dado como derro •
ção do voto secreto e sua e xlensao modernas sondagen s c lcttorat s Em vez de \C basear nos resultados tado pelas pe..,q uisas. o democrata
a grandes e leitorados foram intcia- Confiante na prcctsão dos grandes de e leiçóes s imulada'>, e m que Truman nao o bstante derrotou seu
tivas que tomaram o processo c lct números. as strm1.•poll.s não se ba conJuntos díspares de eleitores se o ponente. Dewcy, c foi e leito .
toral politicamente mats decistvo. seavam e m amostras prevtamente ma nife~tav.tm voluntariamente. a Este resultado ev1denctou não só a
precisamente porque seus result..t- seleciOnadas . As · cédulas" eram pesquisa dcvcna selecionar imen- incom·eniência de se realizar a úl-
dos se tornaram menos previsí- envtadas pelo correio de modo in cionalmr.nte esses ·'eleitorados tima pesquisa e m data relativa
veis. A cautela que passou a cercar discrumnado. valendo-se de h~tas e m m iniatura··. e só e ntão indaJ!ar mente di..,tante do ple ito (no caso.
o e xercícto do voto determinou di s poníveis de e ndereço s ( no acerca de suas preferências clet um mês antes das clctçõcs) como
que este fo se regtstrado como um caso. catálogos de telefone e listas torat!-1 . Ao mesmo tempo. abando tambem a m sufictêncta da noção
ato anônimo. despido de quais- de proprietários de autornóvets) . nou se a prática de coletar respos- de amo ... tra co mo uma cópia e m
q uer traços que permitissem a sem maiores preocupações quanto ta~ pdo correio em favor da enrre- miniatura do eleitorado Deste

identificação de suas origens. E da as características de q uem nele\ ~ 1sta pe..,snal dos e leitores sclccio modo . ab riu -se ca minho para a
consolidação de tais práticas. por- residia. Nessas ctrcunstãnctas. era nados Em conjunto, esses novos adoção dos métodos probabilísti-
tanto, que advém o surgtmento de inevitável que vánas tmprectsões proccdtmentos visavam e liminar a co.\ de se leção atualmente e mpre-
esforços metódicos de antecipa- acabas~em po r dts torcer sena- tendenciosidade introduzida nas gados pe la pcsqui'a clettoraL so-
ção e de mterpretação do veredicto mente os prognósticos elettorats. esttmativas de voto por inform •.m h retudo a pesquisa fe ita em uni -


26 ano 1/n. • 3 CIENCIA HOJE
,
esta
. . . ,.
po1s suJeitO a um parametro ou
balizamento fundamental. que lança
sobre ele uma permanente ameaça
de retrocesso.
Em parte como decorrência deste
fa~o e em parte devido ao falec i-
mento do m inistro Petrónio Portella e
ao afastam~nto do general Golbery
do Couto e Silva {idealizadores e es-
trateg istas da chamada "distensão
gradual e segura"). há indíciOS de que
a institucionalização passa a ser con- g
oo.
cebida em termos distintos. Em vez ~
z
da tentativa de constituir uma estru- m
UJ

tura pluripartidária sól1da. capaz de ~


:>

assegurar credibilidade às mstitui- ~


g
ções representativas. o processo -o

político parece absorver doses cres-


O povo fez festa em frente ao Palácio Tiradentes, no Rio, na inauguração na Consti-
centes de man;pulação casuística e tuinte de 1946. Os partidos então formados sobreviveram até novembro de 1965,
de util1zaçao ostens1va da máqu1na do quando o Ato Institucional número 2 extinguiu todos eles.

vcrsidadcs ou instituições de pes- um número consideravelmente voto, pon! m. leva até mesmo oh- l:::.sta con~tatação tem tmplica
.
qu1sa. grande e diversificado de indaga- o..,crvadores mais astutoo.., da vida çõcs para a metodologia da pes-
A seleção probabilhtica ba- ções relativas aos interesses. às política a atribuírem a cada elettor qutsa eleitoral A pnme1ra é. ob
,.. . ,. ..
seia-se no uo;,o de mecamo;,moc; de atltudes c as percepçoe.s '\UbJacen- uma coercncta programauca que viamente. a de que a importãncia
so rte io , que asseguram a cada tes à dec1~ao eleitoral. Em decor- as cntrcvto..,tas raramente consc relativa da 1dent1ficação partidária
PIPitor uma probabilidade, conhe- rência, as sondagens voltaram-se guem detectar. na determinação do voto depende
cida de antemão. de ser mcluído progressivamente para a aferição Longe de obedecer a um mesmo do grau de continuidade do pró
na amostra. Ehmma-se. assim, o do sentimento do público não ape- conjunto de motivações. a identi- pno sistema partidário A di ssol u-
papel do julgamento do entrevista- nas no que dizia respeito às suas ficação parttdária dos eleitores ção e reorgan1zaçao de partidos,
dor, obngado agora a contactar opções part1dário.s ou pref1!rênc1as de1xa entrever a contribUição das ao impedir que lealdades Já con
um determinado eleitor em um en- por candi datos específicos. mas mats diversas expcnências e per ~olidadas encaminhem a votação,
dereço previame nte escolhido. também ao seu posicionamento cepções. E possíveL entretanto. abrem cam1nho para que fatores
Deste modo. eleitores que com- frente a questões de polttica púbh- d1scernir certas regularidades na conjuntura1o.., passem a exercer
partilham características Similares ca. Recuperou-se, por esta via. a natureza doo.., vínculos que se esta- uma influêncta multo mator sobre
deverão se fazer representar na associação entre o voto c suas ori- belecem entre partido~ c eleitores. a dcctsão eleitoral, novamente au-
amostra de acordo com sua distri- gens que havia sido rompida pelo Ass1m. nm segmentos mais aten mentando a incerteza quanto ao
buição relat1 va no elettorado. Em voto secreto. tomando-se factível tos do elettorado. a idenuftcação re~ultado das um(U)
outras palavras, a representativi o mapeamento do comportamento parttdána pode ser interpretada O entendimento do papel de-
dade toma se propriedade do mé- eleitoral ao longo de linhas soc iais como indtcativa de adesão aos sempenhado pela Identificação
todo de seleção, c não do grau de de clivagem ou de correntes di- programa\ do partido Sao este\ o~ part1dána também colocou em
semelhança que se possa eventual- ferenciadas e relativamente está- eleitores. ao que "'e o..,abe. CUJO ní- de•aaque a escassez de informação
mente obter pela seleção mtcncio- veis de opinião. vel de politização lhes permtte to- que o elettorado demonstra frente
nal entre amostras e eleitorados. Uma conseqüência do enrique mar o pulso das controvérsias so· a questões de política públtca
Como seria de esperar. o rccur c1mento da pauta das entrevistas bre o curso da política pública. Uma cons~.:qüêncta desta constata
so a esses métodos teve um cfetto foi a de permitir uma avaliação a<.,soctando-as a seus próprios in- ção foi o abandono dos prcssupos·
palpável <.,obre a precisão das esti- mais matizada da manifestação teresses c as postçõcs representa- tos tradicionais relativos à vali-
mativas do resultado eleitoral. elettoral. A tentativa de extratr das das por cada um dos parttdos. Jã a dade e confiabilidadc das respos
o;,cndo hoJe possível redu11r o erro umas uma · 'tntenção de voto'· es precanedadc do rcpcrtóno de cx- tas rcgtstradas durante as cntrevts
de previsão para ctfras da ordem barra. com freqüência. na atribui pcnênctas c conhccunentos da tas. Em particular, a posstbilidadc
de 1% ou até menos. Menos no- ção eqUivocada dos resultados a grande parte dos eleitores parece de que um.t fração doo.., eleitores se
tória, entretanto, tem stdo a con- alguma motivação homogênea do ind1car que. entre eles. a cnação visse compelida a ··estruturar"
tribuição da pesquisa ele ttoral elcltorado. Sabe-se que se pode de lealdades partidarms antecede o uma opuHão apenas para fins da
para o entendimen to do processo compreender melhor os resultados altnhamcnto programatico As- entrevista ahuu pela b.lse a preten-
pelo qual diferentes mteresc;es e de uma eleição através da stmples si m. os parttdos políticos. em lu- são de se transformar a pesqu1sa
atitudes políticas se agregam para
formar o resultado eleitoral .
agregação dos votos individuais
segundo a opção partidária ou sua
-
gar de ser...:m tributário ... de corrcn-
tcs polítJcas cxtstentcs no eleitora-
eleitoral em um permanente "ple-
bi!->cito em miniatura", através do
A intcrprctaçao do voto a partir distribuição espacial: mas isto do. passam a operar fundamental- qual a ma1ona silenciosa pudesse
,
dos depOimentos dos próprios ocorre prectsamente porque o pro- mente como fonte'> de formação exercer. à margem do' part1dos c
ele ttores tem ongem relativa- pno processo de agregação. ao de opiniões e de orientação do eleições. infl uência decisiva na
mente recente . Entre os fatores acentuar a tendência central dos voto. Por esta razão. mesmo condução da pólítica públtca.
que propiciaram este desenvolvi- votos, e/unina as mamfestações quando b.to..,eada em pouco ma1s
mento, dots merecem de~taque. mais extremas decorrentes da que a simpatia pela sigla. a identi-
De um lado, o recurso à entrevista imensa diversidade de interesse ... e ficação partidária empresta um • Profe~sor de ciencia pohclca do Instituto
atitudes ex1stenteo.., no eleitorado. llnhel'5itirio de P~quisa,, do Rio de Janeiro
pessoal possibtlitou a elaboração grau considerável de previsibili- UtiPI':RJJ
de questionários que abrangiam A nitidc1 da divisao partidária do dade à votação.

novembro/dezembro 1982 27
,l
.. ,.• l l-. .
. ~ .' I ' menta dos srndrcatos (devido ao
·"' ... -

crescente desemprego} e da capacr
dade de arregrmentação dos partidos
de oposrção. Por outro lado. deve-se
também regrstrar com ênfase que o
Brasrl não está sujeito apenas a uma
situação temporanamente recessiva.
Os constrangrmentos econômicos

representados pela escassez energé-
tica. pelo volume da dívida externa e
pelas elevadas taxas de juros prevale-
centes no mercado interl"]acronal pro-
vavelmente signifrcam que as taxas
de crescrmento manter-se-ão
durante alguns ou murtos anos sen si- ..
velmente abaixo daquelas que têm
caracterizado a econom1a brasileira.
em média. há cerca de 40 anos. A ser
correta esta hipótese. estaremos
drante não apenas de uma srtuação
m
;;z recessiva. com altos índrces de de

-- semprego e demars seqüelas. mas


o
o
também dtante da necessidade de re-
Os resultados do pleito em Minas e no Rio geraram em 1965 uma crise do regime, estruturar drasticamente as expecta-
cuja resposta foi a instituição do bipartidarismo, que prevaleceu até 1980. tivas típrcas de um país acostumado
a elevadas taxas de expansão do pro
Estado na campanha elertoral. Com mesmo de plertear a anulação. caso o duto Nessas condrçoes. impor-se-ão
que objetivo? A resposta genénca - percentual de votos nu los ultrapasse mudanças substancrais no tocante a
e óbvia - é que o grupo dominante 50°/o Finalmente. sendo pratica- expectatrvas de mobilidade socia l e
procura legalizar sua continurdade no mente rmpossível para os partrdos de de acesso a bens de consumo durá •
poder. oposrção a conquista da maroria no vel. Serão progressrvamente questio-
Num exame mars detalhado. po- Senado. visto que somente um terço nados os padrões de consumo tidos
dem-se drstrnguir três momentos ou das caderras acha-se em drsputa este como apropnados pa ra as camadas
aspectos dessa estratégia, no que dtz ano. t ratou o governo de restaurar. médras. ao mesmo tempo que se rn
resperto espectftcamente ao proces- neste pnmeiro semestre. o quorum tensrfica nas camadas barxas a exi-
so eiertoral. t-'nmerro. pode-se atrrmar de dots terços para a ap rovação de gência de correção das excessrvas
que a incerteza quanto à realrzação emendas constitucronars. preventn- desrgualdades exrstcntes. A crença
das eleições tem sido uma cons- do-se contra a marona simples que num horizonte econômico generoso
tante. e rnclusrve que se achava em- esses partidos certamente obte rao tera de ceder lugar. em alguma me-
butida na própna ref o rma parttdána na Câmara dos Deputados. Tratou dida. mesmo entre as camadas mé
de 1979. Os reqursitos de organiza- também de modificar a seu favo r o dras. a uma concepção mais austera
ção a serem cumpridos pelos novos Colegro Elertoral que elegera o Presi- da vida .
parttdos. nos termos da leg rslação dente da República em 1984. (Alem A curto prazo. porém. o desempre
adotada naquele ano. inviabllrzaram. dos deputados federars e senadores. go e as altas taxas de rnflação consti-
como se sabe. as elerções munrcipais a legrslaçao prevê uma representa- tuem o dado politrco fundamentaL
prevrstas para 1980. que foram adra ção nesse colégro por parte das as- Preocupado em evrtar uma derrota
das. passando a coinctdir com as elet- sembleias estaduars . Essa represen - elertoral "excessrva". o governo te ·
ções legrslativas estaduaiS e federars tação será agora de sers por estado, e dera I não adota uma pol íttca anti-
e para o executrvo dos estados. pro não proporcional a população. o que inflacionária consistente. e rnclusive
gramadas para novembro de 1982 obvramente aumenta o peso das as- se vê forçado a elaborar programas
Em segundo lugar. o srmples gigan- sembléras dos estados menores. de- de investimento "social" de curto
tismo dessa eleição. assocrado à ex- mrnadas pelo partido governista). prazo. cujo impacto inflacionário não
cessrva complexrdade das regras será desprezível.
ele1torais impostas pelo chamado inalmente. no tocante ao
"pacote de novembro". de 1981. per- efeito da crise econôm ica. o que diz resperto a cenarios
mite prever um elevado percentual três considerações parecem e projeçoes. três hrpóteses
de votos em branco e nulos. Pode-se essencra,s. Pnme1ro. que. ao precisam ser consideradas .
portanto especular que, uma vez ad- contrário do que normalmente se su- Uma vitória maciça da oposi-
mrtrda a realização das eleições. al- põe. a conJuntura recessrva nao ne- ção certamente adqumna contornos
guns setores do governo procuram cessanamente enfraquece o governo de cnse. não por ser este partrdo um
assegurar de antemão uma maneira ou o sistema rn·litar ·burocrático do- oponente formidável. homogêneo e
de dJ!UJr seus resultados. de questro- minante no Brasil O que se observou radrcal. mas por ser esta a definrção
nar sua representat1vrdade. ou até em 1981 for sobretudo o enfraquect- que se vem gradualmente dando a
A

28 ano 1/n . o 3 CIENCIA HOJE


der este cenário. é preciso levar-se
em conta toda uma série de fatores.
Primeiro , que as e-•r ·ções não afe-
tarão de maneira substancial o pro-
cesso de tomada de: dec.soes na área
econômica . a menos que o regime
. . . " .
entre numa cnse mu1to ma1s serra
que a atual. Segundo. como vimos.
que o governo tem conseguido res-
guardar adequadamente suJ área de
manobra parlamentar. não impor-
tando no momento a moralidade ou
não dos procedimentos utll1zados
Terceiro. que mesmo a conqu1sta de
alguns governos estaduais pela opo-
sição tem seu impacto atenuado pela
acentuada dependência destes, em
matéria econômica e de segurança,
em relação ao executivo federal.
Quarto. que a própria insatisfação rei-
..
- nante nos part.dos de oposição. para
n5o mencionar os conflitos entre
eles. diminui sua capacidade de ação
.8 e arregimentação A "frente de opo-
.2
(.!)
sição" antes constituída pelo M DB,
-IQ
u
c:
oq)
no esquema b1partidário. e pelo apo1o
OI
<{ das associaçoes ma1s representati-
-()

.2 •• •
vas da chamada · sociedade c1v1l" é
hoje numencamente ma1s ampla,
No pleito de 1982 marcado pelo pluripartidarismo. o eleitor contará c om alternati- mas politicamente mais frágil Por
vas que resultarão num quadro polí.tico mais rico em nuances. tudo isso, pode-se afirmar que a aber-
tura não estagnou. mas também que
esse possível resultado Como se su seja mesmo sob a forma de um en- não está próx1mo o seu desfecho.
genu, há indícios de que uma atmos- durecimento. N;=to hd dúvida de que a
fera de "impasse" está sendo criada v1tóna eleitoral, nos termos aqu1 pro ·
Esses esforços parecem ter um en- postos. deflagrana pressões de diret-
dereço certo a eventualidade de ta no sentido do fechamento- pres- SUGESTOES PARA LEITURA
uma ma1ona opos1cion1sta na Câmara sões que o núcleo moderado do re-
Federal (bastante provável) e no Se- gime certamente não deseja, mas às Kr~zo Mar1.1 Dalv<~ Gil Repr("!)('ntaçõo
Pohtica < SiMema f leitora/ 110 Brasil
nado (quase imposs1vel). especial- quais poderia eventualmente não re - São Paul(l Editora ~ímbolo. 1980
mente se concentrada, como prova- sistir l.AMOUNfrR , Bolivar O D1scurso c o Pro-
velmente aconteceria nesta hipó- A hipótese mais provável é uma cc.,so. in Rra.çi/ f ()C}(} CH Rattncr. org .)
São Paulo: Editora Brasilicnsc. 1979.
tese, no pnnc1pal partido de oposi- terceira: a de que nenhum partido ob- I.A\.10l ~ l ER. Bolivar (org ) \. oto de Des
ção, o PMDB (Partido do Movimento tenha maioria absoluta, ou mesmo confiança : Eleiçm's e Mudan ça Política
Democrático Brasileiro). que incor- uma maioria expressiva, na Câmara no Rra.\il. 1970-1978 R1o de Janeiro
l:ditora V<l7cs. 19XO
porou o extinto PP (Partido Popular), Federal. e que mesmo nas assem- LAMOUN I ER. Bolivar. Rcprc.,cntação
antes destinado a tornar-se o centro bléias estaduais o grau de fragmenta- Politica: a Importância de C'crto'í r or-
' liberal ção seja elevado Configurando-se tal malismos. in Direito. Cidadania e Par-
ticipação CB. Lamuunier. F Weffort c
Ex1ste também a hipótese. remota. resultado. estana reaberto, em tese. M . V . Benevides, org . ) <)ão Pau lo :
de uma vitória do governo. que con- o caminho para um governo de coali- T \ Quc:iroL. 1981
SIStiria, d1gamos, em conservar amai- zão, mas isso dificilmente ocorrerá LAMOUNil:R. Boltvar A Representação
Propon.1on.1l no Bras1l Mapeamento de
oria absoluta no Senado, a maioria sem outra reforma part.dána - uma um Ochatc. in Rcl'Í.Ha de Cultura C(m-
simples na Câmara. e em derrotar o nova ciranda que desfaça as preven- temporctm·a. n. 7. 1982.
LAMOUN fFR Bohvar c CARDOSO. Fer-
PMDB na disputa pelo executivo em ções existentes. sobretudo por parte nando H ~::nnquc . Ot Partulos t a.\ Elei-
dois ou mais dos c1nco princ1pa1s es- dos militares. em relação ao quadro çõt•\ no Brasil. Rio de Janeiro: l·.dltora
tados (São Paulo, Rio de Janeiro, Mi- atual. Pa1 e Terra. 197'\
RH ~. hbin \V andcrlcy Os Pamdo.\ e oRe-
nas Gerais, R1o Grande do Sul e Per- Descontadas as hipóteses mais xime Sao Paulo. Pd1tora Símbolo.
nambuco} Neste caso. estanam sem extremadas, não é diffcil visualizar o 1978
dúvida criadas as bases para uma ten- que chamamos de "estado estac·o SO-\RES. (.Jauc.io s,. 1edade e Política no
Brastl. ~ão Paulo lJifel. 197 J .
tativa ma1s v1gorosa de cont1nu1dade náno. isto é, uma situação politica- ~OliZA. Ma11a do Camw . Estado.\ l' Partt
do reg1me. seJa sob a forma de um mente ag.tadd na superfície, mJs re (/os Po/fticm no /Jw:síl. 1930- 1964 S.tn
-
"estado estacionário". sem novos Paulo: Editora Alfa-Omega. 1976
!ativamente estável nas correntes
avanços no processo de abertura. mais profundas. Para se compreen-
. .. - --

30 ano 1/n. • 3 CIENCIA HOJE


A saída ou o fundo
do poço ?
A d i f ic uldade de
uma resposta simples
e imediata ao poeta -
e ao país - em torno do Programa
Grande Carajás (PGC) é gerada pela
própria complexidade da questão.
na qual estão envolvidos ao mesmo
tempo problemas de fluxo financei-
ro. dívida externa. mineração, ecolo-
gia, agropecuária exploração flores-
tal, antropologia, identidade cul-
tural, energia, transportes e pesqui-
sa c1entffica .
E quem explica isso em língua fá-
cil e troco miudo ")
A explicação reclamada é 1mpres
cind .vel para que a soc1edade bra-
Sileira participe efetivamente do de-
bate. não apenas pela própna d1
mensão do programa - o total de
investimentos previstos aproxima-
se do valor da dív1da externa brasilei
ra - e por envolver a exploração de
recursos não renováveis, mas a1nda
pela necess1dade, nesse período de
resgate das formas democráticas
de governo. de se democratizar os
processos de dec1são.
Não havena divergência quanto a
uma prime1ra constatação, de sen
tido altamente pos1tivo : ex1ste una-
nimidade quanto à nqueza fantás- .
tica e às potenc1al1dades da região
de CaraJáS, que reúne três fatores
considerados decisivos para o de
senvolv1mento nos d1as atuais. em
qualquer parte do mundo- espaço,
maténa-prima e energia.
Nos 900.000 quilômetros quadra-
dos (90 milhões de hectares) do
PGC ou "Carajazão", uma área da
Amazôn a Oriental que abrange o
Ma ranhão e partes do Pará e Go1ás,
correspondente a um décimo de t~r
ritório brasileiro e supenor a grandes
países da Europa como a França ou
as duas Alemanhas Juntas, estão
concentradas as principais reservas
minera1s do país e uma das grandes
anomal1as geológ1cas da Terra .
No campo mine.ral, os próprios es-
pec1al1stas, mesmo admitindo que
ainda é baixo o conhecimento geoló-
gico da Província Mineral de Carajás
("Não se conhece hoje 20°/o de
Carajás" d1sse Gabriel Guerreiro no
Congresso Nac1onal, ano passado).
acham espantoso que uma jaz1da
desse porte tenha ficado 1gnorada
até as ult1mas décadas do século.

novembro/dezembrp 1982 ...


ÁREA DO PROGRAMA GRANDE CARAJÁS

tv\AlAPA
(

BELHJ

AL TAMIRA

•••••
~---··
•••
••••• ~ AI\JTINOPOL S

)
Qt·
J


COI\JCEic.,.AO D<J •
ARAGUA. A

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• )
/

ESCALA

I I I
O ~ 100 -m

área do Projeto Grande Carajás


• cidades

área das jazidas minerais o capitais de estados e territórios

• • • ferrovia C_arajás-ltaqui rodovias

ano 1/n.o 3 CIÊNCIA HOJE


A imagem do formigueiro humano registrada em Serra Pelada invadiu de repente as páginas dos jornais, revistas e
estações de televisão. Essa área tornou-se a maior concentração humana já registrada nos garimpos da Amazônia.

Pelas ava li ações mais conserva- Ao mesmo tempo, o conjunto de A riqueza está ali, à d1spos1çao do
doras, são 25 a 30 b1lhões de tonela- nos dessa região representa um res- país. Pode ser bem ou mal explora-
das de variados mmérios, bem no peitável potencial hidrelétrico. Só a da- tanto a saída como o fundo do
coração da selva amazônica . E nes- usina de Tucuruí. cujas obras já es- poço, para usar as imagens extre-
se total estao mcluídas as mais Im- tão em andamento há sete anos, mas do poeta . Tudo depende da ma-
portantes reservas de mmé rio de terá a capacidade fina l de geração neira como se dec1da explorá-la. E
,
ferro de alto teor do mundo; as de energia de sete milhões de quilo- reside nessa questão. p reei sa-
ma1ores reservas brasileiras de alu- watts. O potencial da reg1ao- mente. o grande desafio de Carajás.
mímo e de cobre; a segunda maior 70.000 megawatts, segundo os da- Aqui começam as profundas diver-
reserva de manganês do oaís; im dos disponíveis - perm:tirá a ins gências
portantes reservas de ouro. nfquel e talaçâo de centenas de Indústrias de A base das 1niciat1vas do governo
estanho transformação de minenos. quanto a de~ . nição do Programa
O geólogo Breno Augusto dos Grande Carajás é a proposta de ex-
Santos (ver.pág 37} está convencido As reservas de madeira, incalculá- ploração global dos recursos dare-
de que se conhece a geologia de veis, somam-se a esse quadro das g1ã0, elaborada no f1nal de 19 79 pela
Carajás de forma apenas razoável. potencialidades de Carajás, ofere- Companhia Vale do R1o Doce
pois foram detectadas somente as cendo a possibilidade de programas (CVRD). Consolidada e atual1zada no
grandes reservas. Há possibilidade de reflo restamento. Sem falar nas documento denominado Amazôma
ainda de descobertas de novas jazi mensas áreas para a utilização de Oriental - Plano Preliminar de De-
das de cobre, além de chumbo e recursos naturais em plantações ou senvolvimento, editado em abril de
.
ZinCO. cnação de gado . 1981. a proposta prevê investimen-

novembro/dezembro 1982 33

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Já em construção, a ferrovia de 900 quilômetros vai ligar a Maranhão. E parte do Projeto Ferro, da Vale do Rio Doce, e
serra dos Carajás ao porto da Madeira, em São Luís do foi transformada num " corredor de exportação" do PGC.

tos de 61 ,7 b1lhoes de dólares, distri- metalúrg1co; 13,3 aos segmentos A elaboração da proposta global
buídos entre aplicações na infra- agricultura, pecuária e ref loresta- da CVRD fo1 mot1vada basicamente
estrutura (22,5 bilhões de dólares) e mento, e 2,4 aos demais. pelas possibilidades de exploração
investimentos diretos nos projetos Os 1nvest1mentos d1retos nos pro- de bens mmera1s e outros produtos,
- - · - - - - - '"'/""\" l - _ l l - : - - \ .a. ... • - - - - . - -- - • - - .. -- •- -. - - - .... ___ l. t_ -- -- • ·--- ---
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tJVlCIIviOI,:) UIIIIUC.;)j . jt:au;::, 1-JUltlll,;ldl;::, l..UIIltiiii-Jidlll 1-JIIIIl..l- l..UIIIU l d i i i U t l l l 1-Jell d l..di-Jldl I tl..UI ;::,u;::,

Os projetos de infra-estrutura plamente o setor m i nero - no exterior. Apesar de não ter cará-
abrangem pnncipalmente energia metalú rgico, prevendo se no con ter oficial, esse plano permanece
elétnca, ferrovias , portos marítimos junto uma destinação de 28,1 bi- como a base das iniciativas oficiais.
e fluv1a1s, rodov1as e núcleos urba lhões de dólares Para a agncultura, Os grandes projetos mtnero -
nos. De acordo com a proposta, um a prev1são é de 8,1 bilhões, para a metalúrgkos ali previstos e que já
total de 6,8 bilhões de dólares re- pecuária, 1,7 bilhões, e para o reflo- se encontram em fase de implanta
ferem-se ao seg mento minero- restamento, 1,3 bilhões. ção são o da Mrneração Rro do Norte

::ron~=es ~~ ro e os
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Os grandes projetos que já ~c 2 Alunort.f - da Vale do Rao 4. Alumar (60% Alcoa maas grande\ proJetos arrolados no
encontram em implantação na Doce (60.8 ~) com a Nappon 40% Billiton - grupo Shell) - ob- Plano Prelammar de Desenvol-
área mínero- mctalúrgica de Amazon Aluminaum Co . jetivando a produção de 2 mi- vimento da Ama7.ônta Onental.
Carajás são: (39. 2%). objcti v ando a produ lhões de toneladas/ano de alu- Tem por objetavo exportar 3.4
ção de 800.000 toneladas/ano m ina, sendo I ,2 milhão para a mtlhõcs de toneladas por ano de
de alumina. das quaas 160 000 exportação e 800.000 para pro- bauxata. numa assoc1ação da
I . Projeto Ferro Carajás - de tonelada~ 'ano serão vendadas à dução de 400.000 toneladas/ano CVRD (46%), ALCAN (24%).
responsabilidade exclusiva da Valcsul (51 Of da Vale. 44% da de alumínio . Companhia Brasilctra de Alu -
Companhia Vale do Rio Doce, Shell do Brasal. 5% da Rc)'nolds mínio - Grupo ErÍntrio de
vi<;ando à produção de 35 mi- Internacional) e 640 000 serão Situado geograficamente fora Moraes (10%). Mineração Rao
lhões de toneladas de minério de destinadas à Albrás da área de abrangência do Pro- Xtngu - Grupo Shcll (10%),
ferro por ano. para a exportação 3. Albrás (5 1% CVRD mats grama Grande Carajás, o Pro- Reynolds Alumímo do Brasil
sob a forma primaria ou de fer- 49~ NAAC). visando à produ- jeto de Mtneração do Rio do (50f) e Norsk Hydro do Brasi l
ro-gusa: ção de 320.000 toneladas/ano. Norte tambem figura entre os (5c,'f ).

34 ano 1/n . • 3 CIÊNCIA HOJE


(geograficamente fora da área dell portação avaliadas em 1O bilhões de cessidade brasileira é fixada em 20
m•tada no programa. mas incluído dólares por ano, total suficiente para bilhões por ano - déficit de transa-
no plano), Ferro Carajás, Alunorte, pagar todo o petróleo que o país im- ções correntes mais amortização da
Albrás e Alumar (ver pàg. 34} . porta. Mas na sucessão de debates. divida (ver página 41 ).
Para se ter uma idéia da grandeza seminários e simpósios realizados Além da constatação desses nú-
de Carajás como empreendimento nos últimos meses em torno do pro-. meros, critica-se a própna concep-
econômico. basta lembrar que o ga- grama tem sido questionada parti- ção do programa, que não é visto
soduto trans1benano- já chamado cularmente a estratégia governa- prioritariamente como instrumento
de "projeto do século"- cuja cons mental, acusada de buscar atrair de de desenvolvimento reg1onal e na-
trução a Un1ão Soviética realiza para forma indiscriminada capitais es- cional, como meio de relançar a eco-
levar gás à Europa Ocidental e que trangeiros, ameaçando uma desne- nomia não apenas através da utiliza-
tantas dificuldades gera hoje no rela cessária tnte rnac10nal1zação da ção e valorização de recursos na-
c1onamento entre os Estados Uni- Amazônia Onental. turais e energéticos, mas também
dos e seus aliados da OTAN, está or- O PGC foi conceb1do, nos termos de recursos técnicos, empresariais
çado em 1O bilhões de dólares lm expostos na reunião do Conselho de e mão-de-obra nacionais.
portância equivalente va1 ser consu Desenvolvimento Econômico que Discute-se com preocupação o
mida apenas nas obras de Infra- aprovou sua execução, a 19 de no- que va1 ser feito na Amazônia, num
estrutura já iniciadas do PGC. a hi- vembro de 1980, como "um projeto ecossistema extremamente frágil,
drelétrica de Tucuruí. no no Tocan voltado para a exportação, com a fi- que terá de enfrentar a Investida dos
t1ns. iniciada em 1975, a ferrovia de nalidade de gerar novas d1v1sas em grandes projetos capitalistas de mi-
900 quilômetros que l1gará a serra valores compatíveis com as neces- neração, exploração florestal e agro-
dos Carajás a São Luís do Mara- Sidades do Bras i l nos próximos pecuária . Aceita-se a necessidade
nhão. e o porto de embarque do mi anos". Mas mesmo partindo dessa de exploração econôm1ca dos recur-
nério para navios de grande calado concepção oficial, os críticos do pro- sos naturais, mas d1scute-se a es-
(ver box). grama concluem que o PGC só pro- cala e o ntmo propostos pelo PGC,
Na v1são do governo brasile1ro. os mete um saldo anual médio que não considerados 1ncompatíve1s com a
fantásticos mvest1mentos de Cara- chega a meio bilhão de dólares ao efet1va art1culaçào dos projetos com
jás permitirão obter rece1tas de ex- longo da década de 80, quando a ne- a capacidade de mvest1mento das

I / I ,- I

1\ 1~ =re e rtco e o ·-errovlo


A descoberta de jaz1das mi- des, também fará desaparecer No caso da ferrovia de 900 apenas à cnação de condições
nerais na região da serra dos um total de 250 quilômetros de quilômetros entre a serra dos favoráveis ao setor privado -
Carajás, miciada há apenas 15 rodovaas, dos quais I 50 resul- Carajas e o porto da Made1ra. considerando-se, em especaal, a
anos por geólogos braSJleiros tam da maior aventura brasileira em São Lufs do Maranhão. forte predominância do capital
que trabalhavam para a U.S. na selva a Transarnazônica. constante do ProJeto Ferro da estrange1ro. O Estado monta a
Steel, foi a justlficattva para a Concebida, segundo as au- CVRD. pergunta-se como de- tnfra-es trutura necessária aos
implantação de um ambicioso toridades do PGC, para reforçar vem ser justificados os investi- empreendimentos que venham a
• programa de infra-e~trutura - o fomec1mento de energia elé mentos de quatro bllhôes de se estabelecer na reg1ão e ainda
hidrelétrica de Tucuruí, ferrovia tnca para o Nordeste c também dólares para a exportação de concede incenttvos. Essa soma
de 900 quilômetros e porto para para servir à região amazônica, apenas 500 mllhões de dólares singular de favores - mcenttvos
navios de grande calado. Tucurua representa a base mo- de minério de ferro por ano. fiM:ais, energia elétr1ca e trans-
O programa destina-se, as- dular do programa. Mas os críti- Em busca dessa justificativa, portes subsidiários - visa, na in-
Sim. a VIabilizar primeiro a ex- cos questionam o cntério Já fi- a ferrov1a fo1 transformada num terpretação dos críticos do pro-
portação de minério de ferro - xado para as tarifas de energia "corredor de exportação", lo- grama, a atra1r capttais privados
estratégica para a Companhia elétrica a serem cobradas. teando -se s uas margens com que realizem vultosas aplica-
Vale do Rao Doce, CUJas reser- As tartfas serão subsidiadas glebas de 10.000 hectares . ções num momento em que
vas de Minas Gerais estão em para alguns grandes empreendi- Além de arcar o Estado, através ex1ste uma conjuntura parti-
fase de esgotamento e depo1s mentos do programa. como a da CVRO, com o proJeto menos cularmente

desfavorável às de-
o~ outros proJetos de manera- área do alumínio. Vendendo lucrativo (o Projeto Ferro, que c isões de longo prazo.
çao. abaixo do custo de geração para inclui a infra-estrutura de trans- O acúmulo de favores, se-
A construção da usina de Tu- esses empreendimentos. a Elc- porte para a série de outros pro- gundo as críticas ao PGC.
curuí, no rio Tocantins, com ca- trofonte (uma empresa estatal, jetos), a venda de seus serviços- caracteri7a uma espécie de se-
pacidade final para geração de naturalmente) ftcará obrigada a na matoria das vezes a preços guro que socializa antecipada-
sete milhóes de quilowatts, co- vender o resto a preços mais ele- inferiores ao custo, como forma mente perdas eventuais dos In-
meçou em 1975. A barragem. a vados, como uma compensação de favorecer os empreendimen- vestidores. Ou seja. como a si-
ca rgo da Eletronorte e da em- natural. A polítaca oftcial é jus- tos privados - prejudica a hipó- tuação é de incerteza. o governo
preiteira Camargo Correia, vai tificada sob o argumento de que tese de obtenção de retomo do atrai os mvestidores com a pos-
inundar uma área de 216.000 em todo o sistema de tarifas bra- investimento num prazo consi- sibilidade de transferir antecipa-
hectare~ na altura da cidade de sileiro o consumo de grandes derado razoável. damente ao contribuinte possí-
Marabá. no Pará. Além de co- massas é mais barato do que o Questiona-se, assim, a deci- veis perdas resultantes dos in-
brir de água três pequenas c ida- consumo domiciliar. são de limitar o papel do Estado vestimentos em Camjás.

novembro/dezembro 1982 35
"Carajazão". ele acha necessário
perguntar pelos seus benefícros O
documento da CVRD fixa. como
metas : 6 300 x 1 0 3 t de madeira;
3,427 x 10't de g rãos ; 1.050 x 10 t
de pellet de mandroca; 900 x 1O~ de
borracha natural; 5,4 X 10~ de álCOOl
e 400 x 10 3t de carne.
Para Baiardi, o planejador, murto
mais voltado para os planos em mar-
cos temporais defmidos, tende a
confundrr a mtenção com o real. mo-
tivo pelo ·qua l o pesquisado r. com
base no seu conhocrmento a respei -
to do desempenho da agropecuána
na Amazônia, consrdera as metas fi-
xadas excessivamente otrmrstas.
marcadas por certa dose de emocio-
Acampamentos de obras no coração da Amazônia. passaram a surgir com freqüên- nahsmo. A sugestão desse pesqui-
cia. como revela a foto acima. sador é a de que se examinem alter-
nativas de localização, seja no Cerra-
empresas nacionais e do potencial floresta amazônica pela população do, na Pré-Amazônia maranhense
da economia

do pars, a produção de local"> ou ~a? próprias várzeas da Amazô-
tecnologia e a efetrva contnbuição 3. Como fazer o manejo susten- nia, resguardando e pre servando
da comunidade crentífica. Cntrca-se tado de uma floresta tropical"> floresta densa, cuja reconstrução,
o fato de ter o programa deixado à 4. O PGC pode ser pensado em depois de destruída. não sena ta refa
margem toda a experiência de pes termos de auto suficiência energéti- para uma única geração
qu rsa crentífrca brasllerra sobre a ca? Quais as possrbllrdades de alter-
Amazônia, sobre geologra, metalur nativas energétrcas na regiao: madei Em plano de destaque. restana
gia, crêncras agránas. ecologia. an- ra, babaçu. pequenas quedas ainda colocar a dimensão humana
tropologia etc. d'água, solar. eólica etc I do PGC - os seus efeitos sobre os
O professor de economia mineral 5 . Com as informaçoes geológi- que já viviam na região; as esperan-
Octávio Elísio Alves de Bnto lembra. cas colhidas nos trabalhos de pes- ças dos que ali seguem agora de
por exemplo. que a exploração dos qursa mineral. que dados poderão toda parto. atmídos por um milhão
recursos minerais tem ocorndo no servir para a prospecçãode novas de novos empregos: a ameaça à in-
RrAsil rlP Arnrrln r.nm :::~~ P'\llnPnri:::~~ • •t ..... , f - I

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JdLIUdS f na cu r r era<.,:ao Clara enue
do mercado comprador A tecnolo- vegetação e teores anôma los de sultante inclusivo do impacto ecoló-
gia de produção utilizada, em conse- minerais? gico dos empreendimentos planeJa-
qüência disso. em geral nada tem a 6 . Que conhecimento se tem so- dos (ver páginas 45 e 51).
ver com as características especifi- bre as condições de degradação am- Também nesse sentido conde-
cas dos depósrtos brasilerros. Sua biental na região (erosão, desertifi- na-se a pressa. sob o argumento de
proposta agora é no sentido de que cação etc.)? Problemas como con- quo seria recomendavel. para onen-
a tecnologia seja defrnida a partrr da trole de poluição e recuperação de tar o programa. o exame de propos-
jazida e condicionada ao melhor efluontes e as doenças ambrentais tas alternativas de aproveitamento
aproveitamento do recurso mineral. desafiam a posqursa Científica. dos recursos naturais. capazes de
de forma que tanto o meio físrco 7. Como preservar a 1dent1dade conduzir a um efetivo desenvolvr-
quanto o social sejam respeitados. cultural e resguardar as 25 comuni- mento social da região, com priori-
Além disso. ele relaciona outras dades indígenas que estão localiza- dade para as necessidades da po-
dúvidas que perturbam os c1entrstas das na região do PGC? pulação.
brasileiros em relação a Carajás. De acordo com essa visão seria
1. Quais as características e o ní- Na sua análise dos segmentos ex- uma oportunidade para !Je buscar
vel de interdependência ecológica ploração florestal. agricultura e pe- um modelo de desenvolvimento
entre os diversos elementos do cuária do PGC. o engenheiro agrô- mais Igualitário, com maror partici-
ecossistema amazônico: floresta. nomo Am ílca r Baia r di (ver pági- pação e controle democrático sobre
fauna. solo. regime hídrico. clima na 42 ) observa que eles irão deter- as decisões da parte daqueles que
etc? Qual a fert ilidade do· solo minar o comprometimento de 30o/o sofrem suas consequências, com
amazônico? da área total do programa Com um maior racionalidade social no em-
2. Qual a experiência científica único golpe. serão sacrifrcados 4°/o prego dos recursos e na seleção de
em termos de agricultura tropical? da área total florestada. o que - na tecnologias- além de atenção es-
Quais as possibilidade.s da agricultura sua opinião - não deve ser aceito pecial aos impactos negativos que o
consorciada, que evite as desvanta- sem ressalvas e desconfianças processo de crescimento econô-
gens da monocultura? Qual é a tradi- Antes de avaliar friamente através mico pode gerar sobre o mero am-
ção acumulada sobre agricultura na de algarismos o impacto do biente físico e social.
..
A

36 ano 1/n.o 3 CIENCIA HOJE


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Santo~•
Breno A. do" )

us A importância estraté- prematura a defin ição de diretnzes ção de um total superior a 50.000 ho-
gica do manganês para para seu aproveitamento econômjco. mens, tem sido responsável pela pro-
o mundo ocidental mo- A região conhecida como província dução mineral da reg1ao, havendo
tivou os primeiros tra- mineral de Carajás não está restrita apenas um empreend.mento m1ne1ro
balhos de prospecção apenas à serra do mesmo nome. mas indtJstrial, na exploração da cassiterita
mineral na região de CaraJáS Desen- abrange praticamente todo o sul do da Jazida do Antônio Vicente, no
volvidos em 1966 pela CODIM, subsi- Pará, entre os rios Araguaia e X1ngu, Xingu Os demais projetos para explo-
diária da Union Carbide, obt1veram re- numa área de aprox imadamente ração dos seus depósitos minerais es-
lativo sucesso com a descoberta dos 100.000km7• Dos m inerais de amplo tão ainda em fase de estudos, com
depósitos da serra do Sereno. Esse uso industrial- ferro, manganês, co- exceção da mineração do ferro da ja-
fato atra1u outra mult1nac1onal, a Uni- bre alumínio e níquel - aos de ma1or zida N4E, já em fase de plena mplan-
ted States Steel, que em meados de valor unitário (ouro, estanho e tungs- tação.
1967, através de sua subs1diána, a tento), seus depósitos são signtftcatt- As jazidas de ferro de Carajás, com
Companhia Mendtonal de Mtneraçâo, vos. alguns de grande expressão in- reservas da ordem de 18 bilhões de
não so descobriu o depós1to de man~ ternacional. A maior parte das reser- toneladas. correspondem a maior
ganês de Burit1rama como também vas de ferro. manganês, cobre, alumí- concentração de minério de alto teor
revelou, durante seu programa de nto, ntquel e ouro, está concentrada (66°/o) existente na Terra. Estao locali-
prospecção, as fabulosas jaztdas de na serra dos Carajás propriamente zadas em quatro setores pnncipais
ferro da serra de Carajás. Desde en- d1ta . (Serra Norte, Serra Sul, Serra Leste e
tão, a regtão de Cara)ás passou a A existência de depóst tos de me- Serra São Féhx), mas há outros depó-
merecer a atenção geral, mais intensa taiS de alto valor passíveis de explora sitos menores, como as serras Arque-
nos ultimes anos, quando o governo ção econômtca com técnicas rud1 ada e do Ptum . Se forem considera
federal firmou o propósito de criar um mentares, aliada à presença de ex- dos os pequenos depósitos, bem
programa de desenvolvimento para a pressivo contmgente humano que como os de menor teor. certamente o
reg tão com base na exploração de seu tem mtgrado para a região em busca . potencial total da região deverá ultra-
potenctal m1neral. Hoje, Carajás dei- passar 20 bilhões de toneladas. O pro-
xou de ser assunto exclusivo do fe- jeto de mineração do ferro está sendo
chado e restnto clube mineral brasilei- implantado pela Companhia Vale do
ro, pois as Implicações econômicas. Rio Doce (CVRD). tendo como obje
soc1a1s e mesmo estratégtcas relacio- tivo a exploração de 35 m llhoes de to-
I
nadas com a políttca que irá onentar neladas por ano, com 1nício de produ-
seu desenvolvimento são do 1nteres ção em meados de 1985, a partir da
se de todos os segmentos da socte- lavra do braço leste da jaz1da N4 A In-
dade fra-estrutura que está sendo implan-
Sua importância, embora já estives- tada exclusivamente pela CVRD -
se garant1da apenas por seu consi- ferrovia. porto e núcleos residenciais
derável potenc1al em minério de ferro, - deverá serv1r de apoio para os de-
9
vem sendo aumentada, de ano para ~ mais projetos dq Programa Grande
ano, com novas e expressivas desco- CaraJáS.
bertas que já permitem que se consi- A reg1ão de Carajás também apre
g
dere a reg1ão de Carajás como a pnn- ~ senta um consideravel potencial em
Ctpal prov neta m1neral brastleira. En- ~ cobre, m1neral para o qual o país é ho-
tretanto, embora seu potencial não
- je totalmente dependente do mer-
possa ser dtscutido, é importante as- Curionópolis é um dos povoamentos cado externo Os depósitos de cobre,
surgidos da noite para o dia no sul do
Sinalar que o conhecimento geológ1co
Pará, gerados pelo garimpo ou pela
à luz dos conhecimentos atua1s, estão
da reg1ão ainda é prelimmar, sendo atividade madeireira. Este teve a sua assoctados a três t1pos de ambientes
necessários novos trabalhos de ex- origem no garimpo de ouro do quilô- geológ1cos vulcano-sedtmentar.
ploração para que se esgotem as pos- metro 30 da rodovia dos Carajás. vulcanogêntco e sedimentar- o que
s=bilidades de descoberta Por outro amplia consideravelmente a potencia

lado, com a exceção de alguns depó de terras, motivou o surg1mento a par- ltdade e as possibtltdades de novas
Sitos de ferro, manganês, cobre e es- tir de meados da década passada, de descobertas de cobre na reg~ão. Ape-
tanho, a grande maioria ainda neces-= vários garimpos, dos quais o mais fa- nas um depósito do tipo vulcano-sedi-
sita de trabalhos de pesquisa para sua moso é o de Serra Pelada . A atividade
• Gl'é>logo d a Compllnhla Vale do Rio Oott.
avaliação correta, sendo muitas vezes garimpeira, que envolve hoje a ocupa-

novembro/dezembro 1982 37
-
POTENCIAL MINERAL DA REGIAO DOS CARAJAS
,

, ,
MINERIO JAZIDA/DEPOSITO RESERVA/POTENCIAL TEOR

FERRO Serra Norte 6.172 milhões de ton 65,0o/oFe


Serra Sul 10.335 milhões de ton 66,3°/oFe
Serra Leste 414 milhões de ton 65,9°/oFe
Serra São Félix 369 milhões de ton 62,8°/ofe
Pequenas jaz1das 595 milhões de ton 66,1 °/ofe

TOTAL 17.885 milhões de ton 66,00/ofe

MANGANÊS Azul 45 milhões de ton 42,2o/oMn


Bunt1rama 12-16 milhões de ton 47,0°/oMn
Sereno 3 m1lhões de ton 40,0°/oMn

TOTAL 60 milhões de ton

COBRE Salobo 3AI4A 1.200 milhões de ton 0,83o/oCu


") ")
Pojuca (MM 1) .
"). ")
Rio Novo
"). ")
Bahia •

TOTAL Superior a 2.000 milhões de ton 0~1,0°/oCu


,
ALUMINIO Platô N5 48 milhões de ton 35°/oAI203 "A"
1, 7°/oSi02 "R"
,
NIQUEL Vermelho 45 m1lhões de ton 1,5°/oNi
Puma 25 m1lhões de ton 2,2o/oNi
Onça 18 milhões de ton 2,2°/oNi

TOTAL 88 milhões de ton 1,SO/oN i

OURO Andorinhas (Babaçu-Mamão) 1 ton Au 15gAu/t


Andorinhas (Lagoa Seca) 3-5 ton Au 10gAut
Rio Branco (Gradaús) ") ")
• •

Cumaru (Gradaús) ") ")


") ")
Salobo •
Serra Pelada (S. Leste) ") ")
. •

TOTAL Superior a 100 ton Au

ESTANHO Antonio Vicente 25 mil ton Sn02 70°/oSn


Mocambo 11,5 milton Sn02 66°/oSn
Velho Guilherme O, 7 mil ton Sn0 2 66°/oSn
São Francisco ") ")
.

") ")
Cachoeirinha • •
") ")
Gradaús •
") ")
Outros Gran1tos .

TOTAL 100 milton

TUNGSTÊNIO Musa ")

Bom Jardim ")


Cachoeinnha ")

mentar, a jazida Salobo 3A-4A, já fo1 sido descobertos e estejam em pes- ao atendimento de nossas necessida-
avaliado. havendo sido encontradas quisa pela DOCEGEO. discute-se ho- des internas. ou mesmo ao própno
reservas equivalentes a 1O milhões je sua pnvat1zação, sendo difícil imagi- desenvolvimento da jazida, ja que o
de toneladas de cobre, ou seja, quase nar um empresáno nacional capaz de Bras1l é um dos grandes importadores
quatro vezes o total das demais reser- assumir sua exploração com recursos 1nternac1ona1s de cobre.
vas braslle1ras; há dois depósitos. Per própnos; por outro lado. e d1fíc1l acei- Quanto ao manganês, que motivou
juca e Bahia, em fase de avaliação tar que, com a entrega a empresas os pnmeiros trabalhos de prospecção
Embora todos os depósitos tenham multinac1onais. seja dada priondade em Carajás, duas jaz1das já estão aval!- -
38 ano 1/n .• 3 Cl i NCIA HOJE
I 111!1--

,
A RIQUEZA MINERAL DE CARAJAS Ftlttos. quartzttos.
siltitos, grauvacas e
rochas ultramáftcas

Arenitos, conglo-
- - merados. argihtos e
siltitos

Granitos intrusivos

Seqüência vulcanica
ácida e i n t e r m e-
dtárra

Granitos e granodlo-
ntos IntrUSIVOS

-o Arenitos. grauvacas.
conglomerados. sil-
titos folhelhos car-
bonosos e manga-
nes'feros. rochas
máficas

Formação ferrífera
com itabiritos e len-
-Cu tes de hematita: vul-
cãnicas máficas epi-
metamórficas

., Seqüência vulcânica

..

sedimentar epime-
,
tamórfica

Ag - prata

Car - carvão Mn - manganês O jazida Gnaisses. granitos.
migmatitos. rochas
AI - alumínio Cu - cobre Ni - níquel
Au - ouro Fe - ferro Sn - estanho +
• depósito
ocorrência significativa
máficas e ultramá-
flcas

adas. havendo propostas para seu


aproveitamento econômico. A do
Azul, atualmente a mais Importante

jazida brasileira, Situada no "quintal"
da mineração do ferro, foi descoberta
e pesquisada pela CVRD Suas reser-
- vas tota1s atingem 45 milhões d~ to-
neladas, com teor médio de 42°/o de
manganês; além do minério do tipo
metalúrgico, há reservas do t1po ade-
quado à fabricação de pilhas eletroliti-
cas, do qual o Brasil é dependente do
mercado externo. Embora a1nda es-
teja em discussão a privatízação desta
jaz1da, os debates da sociedade bra-
sileira a respe1to de Carajás Já resul-
taram em uma mudança pnmordial-
não se ace1ta mais. em nenhuma pro-
posta, a simples exportação de ml-
néno in natura. Através de negoc1ação A planta piloto para a implantação da mina na jazida N4E poderá vir a ser utili-
zada na mineração do manganês do Azul, caso a sua lavra fique sob a responsa-
com a United States Steel, a JaZida de bilidade da CVRD.
Buntirama teve sua pesqu1sa concluí-
da pela Mineração Colorado (Utah),
tendo sido constatadas reservas da Os grandes depósitos de m1nério te/Aibrás e Alumar - Aicoa/Shell). En-
ordem de 12 a 16 m1lhões de tonela- de alumínio da Amazônia, quedao ao tretanto, há em Carajás depós1tos de
das, com teor ao redor de 47°/o. As- Brasil o terceiro lugar entre as reser- bauxita que, uma vez resolvidos al-
sim como a jazida do Azul, certa- vas mundiais, estão às margens dos guns problemas tecnológicos, po-
mente deverá ser explorada para a nos Trombetas, Alme1rim e Paragoml- derao apresentar condições de explo-
produção de ferrol1gas. Na serra do nas, e é dessas reg1ões, particular- ração econômica, pois estão situados
Sereno também há um pequeno de- mente do Trombetas, que se pre- ao lado do terminal ferroviário O po-
pósitO de manganês, com um poten- tende extra1r a bauxita para os gran- tencial total é da ordem de 48 m1lhões
cial da ordem de três m1lhões de to- des projetos de alum1na/alumfn1o do de toneladas de baux1ta, com 35°/o de
- neladas. Programa Grande CaraJáS (Aiunor- alum1na aprove1tável e 1, 7°/o de sílica

novembro/dezembro 1982 39
pelo Grupo Paranapanema: foram de-
te r minadas reservas da ordem de
25.000 toneladas de concentrado de
cassiterita. parcialmente exploradas
por garimpagem entre 1976 e 1980,
com a extração de 3 800 toneladas de
cassiterita, e atualmente em lavra
pelo Grupo Paranapanema, sob arren-
damento da CVRD.com a produção
mensal de 100 toneladas. Tambem já
foi avaliado o depos1to do Mocambo.
descoberto e pesqu1sado pela empre-
sa paraense Prom1x. com a determi-
nação de reservas da ordem de
11 .000 toneladas de concentrados de
cassiterita . Recentemente essa jaz1da
fo1vendida a multinacional St. Joe. de-
VIdo às dificuldades encontradas pela
empresa paraense na obtenção de fi-
nanciamentos.
Em 1981. a atividade garimpeira foi
responsável pela revelaçao de três
depósitos de tungstênio, estando a
wolframita assoc1ada a veios de
quartzo relacionados com corpos gra-
níticos. O depós1to da Musa está em
g
...
pesquisa pela DOCEGEO. c o de Bom
co
Q)
Jard1m pela mult1nac1onal Rhod1a; a
"O
ativ1dade no depósito de Cachoeirinha
"'
c
..J
estél restnta à ganmpagem .
~
~ A lém dos bens m1nera1s menciona-
g
-
o dos acima. também são conhecidas
ocorrências de z1nco e chumbo em
O acampamento de uma mina de cobre representa um marco, pois o país é to- São Félix do X1ngu e na serra das An-
talmente dependente do mercado externo para as necessidades desse m ineral. dorinhas. de z1nco assoc1ado ao cobre
Há ainda duas jazidas de cobre em fase de avaliação. do depóSito Pojuca. de molibdênio e
"""' ..."+" ""'""" """ __ ;_...J __
tJ' u •u
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u~~UI...IOUU;:> OU l.UUI I:: UU
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reativa. e com boas facilidades de la- sitos desse metal em Carajás. a maio- de palád1o ao ouro de Serra Pelada. e
vra. pois o minério é friável e sem ca- ria deles descoberta e em exploração crômio da Serra de Ouat1puru. ao sul
peamento por garimpeiros Os de m aior expres- de Conce1ção de Araguaia.
As cond ções de laterização (forma- são correspondem ao garimpo de Embora Jazidas minerais possam
ção de solos vermelhos nas regiões Serra Pelada, onde atualmente cerca ser encontradas no~ mais variados
úmidas e quentes) que permitiram a de 35.000 ganmpe1ros estao em atiVI- amb1entes geológicos da Terra. em
constituição das jaZidas de ferro, man- dade. com uma produção da ordem poucas reg1ões houve um somatono
ganês e alumínio foram também res- de 13 toneladas de concentrado de de fatores tão favoráveis à geração de
ponsáveis pela geração de depósitos ouro. acumulada de abril de 1980 a ju- jazidas importantes como em Carajas.
de níquel nas áreas com rochas ultra- lho de 1982 e o do Cumaru. onde a A nação brasileira encontra aí uma ex-
básicas (tipo de rocha magmática). Há produção acumulada entre 1980 e celente oportunidade para promover
três destes depósitos submefdos a 1982 é da ordem de três toneladas de o seu desenvolvimento sócio-econô-
trabalhos de pesquisa. dois desenvol- concentrado de ouro. Atualmente, a mico. através da exploração racional
vidos pela mulfnacional INCO e um DOCEGEO desenvolve pesquisas de das riquezas da Amazônia. com a par-
pela DOCEGEO O depósito do Ver- ouro em Serra Pelada .. na serra das ticipação de sua sociedade. A gerpção
melho é o melhor Situado. e ainda Andorinhas e na serra dos Gradaus; o atua l tem diante de si essa grande
está em pesqu sa ; seu potencial é de ouro também deverá ser explorado oportunidade, mas também a grande
45 milhões de toneladas. com 1,5°/o como subproduto do minério de co- responsabilidade de bem orientar es-
de níquel. Os outros depósitos, Puma bre do Salobo. se desenvolvimento. sem se deixar
e Onça, estão situados mais a oeste. Na região de Carajás, particular- atrair pelas tentações fáceis de uma
e apresentam respectivamente os mente na sua porção sudoeste. há política imediatista que venha a resul-
potenciais de 25 e 18 milhões de to- uma série de granitos mineralizados a tar em uma pesada herança para os
neladas. com teor de 2.2°/o de níquel. cassiterita Dos depósitos conheci- brasileiros de amanhã . Será triste e
Apesar dos poucos trabalhos de dos. o mais Importante ó o do AntôniO decepcionante se 1sso v1er a con-
prospecção orientados para a busca V1cente, descoberto pela DOCEGEO, tecer...
de ouro, já se conhecem vá nos depó- e pesqu isado por essa empresa e

40 ano 1/ n . • 3 CIÊNCIA HOJE


~-·
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s
J2
O asfalto começa a cobrir o acesso a Carajás. cortando terras já devastadas pela especulação.

?•
G rupo de T r a balho Carajás S BPC- Rio

Conceb1do. conform e mas de Governo -CPPG/82-85, ser relacionados às necessidades


I I

os termos oficiais. co. mato de 1982), acabam por demons do Brasil nos próx1mos anos"- isto
mo "um projeto volta- trar ser mínima a contribuição que o é, à dívida externa e ao balanço de
do para a exportaçao. PGC poderá gerar sob forma de divi- pagamentos.
com a f1nalidade de ge- sas pela exportaçao e substituição Sem contar os juros, a dívida ex-
rar novas div1sas em valores compatl- de importações de produtos até o fi- terna elevava-se em dezembro de
veis com as necess1dades do Bras1l nal do seculo. 1981 a 61 ,4 b1lhoes de dólares. Seu
nos próx1mos anos", o Programa Sem levar em conta também as principal supera hoje a casa dos 70
Grande CaraJas (PGC) não confirma deficiênc1as metodológicas que bilhoes de dólares, valor que
na realidade as declarações governa- colocam em questão o conjunto do representa 1. quase 30°/o do Pro.
mentais de que conseguira gerar uma trabalho, o saldo de div1sas favorável duto Interno Bruto (PIB) em um ano;
exportação adicional de minério de ao país de acordo com esse balanço 2. três vezes o valor anual das expor-
ferro de 1Obilhões de dolares por ano do IPEA/SEPLAN seria o que apare tações brasileiras, 3 . uma dívida ex
até 1900. ce no quadro 1. Tais dados devem terna por habitante de quase 660
Ainda que não se concorde com o dólares .
estabelecimento de tal meta como Quadro 1 Quanto ao chamado perfil da dí-
objetivo maior de CaraJáS, é perfeita- BALANÇO DE DIVISAS DOS QUATRO vida, é preciso considerar que mais
mente possível submeter a uma PROJETOS MINERO-METALÚRGICOS de 50°/o do total devem ser pagos
análise os própnos números do APROVADOS NO PGC nos próximos cmco anos (quando as
balanço de divisas dos projetos mi- divisas anua1s obtidàs com o PGC
nero-metalúrgicos aprovados até o • são estimadas em menos de 400
MEDIA
momento e as projeções até o final •
PER IODOS SALDOS ANUAL
milhoes de dólares anua1s) e mais
do século do que se espera em gera- 198011985 2. 360,6 393,4 de 90°/o até 1990 Mesmo consi-
çao de d1v1sas. E esses cálculos ofi- 1986/ 1990 2.374, 4 475,0 derando-se que a dívida náo será
Ciais, elaborados pelo IPEAISEPLAN 1991/1995 4 .342,3 868,5 paga tão cedo, mas apenas "rolada"
(Consolidação Plurianual de Progra- 1996/2000 5.579' 1 1.115,8 (o que equivale a contrair novos em-
• •
novembro/dezembro 1982 41
três últimos anos foi de 15,5 bilhões
(79). 16,5 bilhões (80) e 16,6 b1lhões
de dólares (81). sendo que em 1980
e 1981 não foi possível cobrir os to-
tais necessários com novos em-
préstimos. detalhe que deterrn·nou
reduções nos recursos internacio-
nais do pafs
Até o ftnal da década atual, por-
tanto, o saldo anual de div1sas dos
projetos aprovados não .atmg1ria se-
quer meio btlhão de dólarss, só ul-
trapassando de pouco a casa do bi-
lhão no qu1nqüênio ftnal do século.
D1ante das cifras já Citadas para
1979, 80 e 81, vê-se que. mesmo
que o PGC Já estivesse gerando re
su ltados , sua contri bu tção seria
inexpressiva Isso sem cons1derar
que a tendência de nossas necessi-
dades de divisas a cada ano é de au-
mentar com a esp1ral da dív1da.
Aspecto da lavra experimental da jazida de manganês do Azul. descoberta e pes- Outro argumento usado para jus-
quisada pela CVR O. No centro. o in feio da lavra e ao fundo a pera rodoviária . tificar a pressa em iniciar os Investi-
mentos na área de Carajás é a ne-
prést1mos para pagar os antenores). e 1981, fo1 o seguinte o crescimento cessidade de se retomar o caminho
a situação implicará um esforço per dos servtços da dívida (juros mais do cresctmento econômico A parti-
manente para captar no extenor. a amortizações) : em 1970, o total era Cipação d1reta ou indireta do capttal
cada ano, recursos da ordem de 12 a inferior a um bi lhão de dólares; em estrange1ro é atribuída à incapaci
15 bilhões de dólares, mdependente 1979, 80 e 81, as c1fras saltaram dade de se matenal1zar no país o
do que será necessáno para cobrir para 11,7, 12,5 e 16,8 btlhões de volume prev1sto de investimentos
outros "juros" do balanço de paga- dólares (e este último numero já apenas com a poupança interna ,
mentos . Este montante refere-se ao equ1vale a 72°/o do valor das exporta compromettda com outros prog ra-
pnncipal da dív1da, não estando in- ções brasileiras) . mas em execuçao. -
cluídos os juros, cujo cálculo é tm- Por outro outro lado, o déficit total A verdade é que o nível de pou-
possível de se antecipar. Entre 1970 do Balanço de Pagamentos nestes pança interna depende das deci

,_
/ ' ~ =ue se es: =era ~~o o:~ r1cu -~uro
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~----------Am
__o_c_a_r_B_a_Ja_r_d_i•-----------~
Até o momento, tem fa ltado a Companhia Vale do Rio Doce tos, recettas de exportação etc . cultura e pecuária, ter sido ela-
coerência nas definições em (CVRD) em abril de 198 1; 3. o dando a entender a existência de borado sem maior conheci-
tomo do que deverá ser a explo- ProJeto Grãos, da Empresa conhecimentos acumulados su- mento da Amazônia na sua inti -
ração do solo dentro do Progra- Brasileira de Pesquisa Agrope ftcientes para orientar os empre- midade. talvez por não dispor
ma Grande Carajás. Não se ob- cuária. de fevereiro de 1982; 4 . endimentos agro-silvo-pastoris de condiçõe\ adequadas para
serva entre os documentos apre- as Dtretrizes gerats para Cara Devido a seu caráter prelimi- um trabalho com ngor técmco-
sentados uma ligação que cxplt- jás a~rícola, documento amda nar. nao se podem esperar mai- ctentífico nessa área Números
que melhor essa parte do pro- em forma de minuta. datado de ores definições desse estudo. irreais. capa1es de impres\ionar
grama. abril de 1982. a ser ~ubmetldo que tem como aspecto positivo a' pnme1ra - se susten-
. VISta. nao
Extstem quatro propostas que ao Conselho Intermin1stenal do o esforço no sentido de conhe- tam quando submetidos a uma
tratam do assunto. surgidas na Programa Grande Carajás cer a regtão através da biblio- análise. Se consultadas. msti-
segumte ordem: 1 o estudo ela- O estudo Japonês apresenta a grafia disponível e en trar em tuiçoes como o Institu to de Pes-
borado pelo Centro Internacio- imagem de um trabalho siste contato com 1nst1tuições que quisas da Amazônia (INPA). o
nal de Desenvolvimento do Ja- matizado que aponta metas para atuam na área Sua pnncipal li- Centro de l:.nergia Nucle<~r

pão em março de 1980. sob o tí- a agncultura, a silvicultura, a mitação está em formular reco- Aplicada à Agricultura (CENA)
tulo de Estudo preltminar do pecuária e a pesca, mas não che mendaçoes com base em estu- e o Centro de Pesquisas Agro-

desenvolvimento regional do ga à locahzação das unidades dos msuficientes do ProJetoRa- pecuánas do Tróp1co Umido
corredor de Carajás no Brasil; produtoras nem a definições so dam Brasil. (CEPATU) seguramente dis-
2 . o documento Amazônia Ori- bre sistemas produt tvos. Res A leitura do segundo estudo cordariam das expectativas de
ental, plano preltmmar de de- tringe-se a afirmaçõe~ genéncas - o da CVRD- sugere, em receitas anuais da ordem de 7. 7
senvolvimento, elaborado para sobre mvestimentos. rendimen- relação a reflorestamento, agri- bilhoes de dólares (quase o que

42 cano 1/n. • 3 CI~NCIA HOJE


sões de mvestimento dos capitalis-
tas e do governo, além da capaci-
dade de produção do setor de bens
de capital A poupança externa, por
sua vez, correspondena então à par-
cela de bens e serv1ços produtivos
que a economia nac1onal não pode,
em termos lfqu1dos. suprir. E repre-
sentada, a grosso modo, por défic1t
na balança comerc1al.
Sob esse ponto de vista, não se "'e
JUStifica atualmente realizar um pro- ~
~

Q)
grama como Carajás pela necess1 "O

dade de se captar "poupança "'c


...J
o
externa" No ano de 1981, a econo ..,
5
u:
m1a brasi leira conheceu a maior re- o

cessão Industrial e o maior superávit


õ
-
comercial de todo o pós-guerra. Não mento. A "poupança financeira A Amazônia em transformação : no
ex1ste, portanto, nenhuma restrição externa" corresponde aprox1mada alto, o caminho aberto para a linha de
força da u sina de Tucuruí; e, abaixo,
ma1or à produção de bens neces- mente ao volume de d1v1sas capaz uma imagem da pequena Santa Inês,
sanos à materialização de um volu de financiar o déficit em conta cor- uma . cidade onde vai pas sar a fer-
me ma1or de investimentos. Ao con- rente (balança come r cia l mais rovea .
tráno, a Implementação de CaraJáS serv1ços)
pode e deve permitir uma redução E a esse tipo de poupança que o
na ociosidade Industrial e, com isso, governo se refere. Como se viu, a si-
produz1r um volume ad1c1onal de tuação externa do país o obrigará a
poupança interna. tomar quase 20 bilhões de dólares
Mas o conceito de poupança ad este ano junto ao sistema financeiro
m1te também a acepção financeira, internacional. Para isso, o Brasil terá
o que gera a confusão. Em oposição de gerar um grande volume de pro-
à "poupança real", ela corresponde jetos de investimentos, capaz de "'o
~
~

ao fluxo de todos os ativos atra1r soma tão fantást1ca. Um pro- ""


co
Q)
"O

fmanceiros: cadernetas de pou- grama como Carajás, que apresenta "'


c
-'
pança, títulos públicos. CDB's etc a1nda alguma poss1bil1dade de gerar o
s
g
Essas aplicações não têm neces- um saldo líqu1do de divtsas, torna-se ....
~::~ri::~mPnte re!~ç§o com 0 im.'est•- '
--=·9

o Brasil exportou no primeiro milhões de hectare~) para plan- cidade gereuctal esca!:lsa na re- Ele dá a impressão de um recuo
seme.,tre deste ano) Além d1s tio de la \louras de c1clo curto - -
gtao. ou mudança de rumo. com a
so, os rendimentos esperados o que sena um contra-~cn~o. Questionado por técmcos do substituição de metas excessi-
e~tão acima das médias nacio- IPLAN/IPE por privilegiar a vame nte a mbiciosas por uma
naiS, e as limitações para a agri - Já o PrOJeto Grãos. da Em- ocupação capital ista-cspccula · proposta ma1s reahsta, cuja tô
cultura de c1clo curto na Ama- brapa, tem a ~cu favor a nltida t1 va da área sem cond1çocs de nica é nada criar. mas si rnplcs-
zônia não justificam tais níveis opção e m termos de macrolo- consolidação, o Proje to Graos me nte apoiar e coordenar o que
de produtiVIdade As exigên calização por áreas compreen- tem stdo confrontado com pro já existe. Por que tanto alarde
c tas de consumo de energia, fer didas no ecossistema do cerra- p ostas de aproveitamento da e ntão sobre as poss ibilidades
tihzantes c defensivos correm o do. pastagens degradadas c ca terra mais cond izente\ com o.., agro silvo-pastoris do PGC?
n.,co de tornarem os proJetos poe 1r as - o que oferece a ecoss1stemas. menos dependeo
economicamente •tnVIàVels ante garanti a de intocabilidadc da tes dos centros fornecedores de Enquanto não surg trem nessa

a queda continuada dos preços floresta densa. Su.ts limit.tções insumos modernos localizados área propostas de desenvolvi-
de produtoo;; agrícolas que se concentram se em especial nas a grande~ distânc1.ts c ma1 s mento do PGC e da Ama1ônia
verifica hoje nos mercados tn- recomcndaçõe~ ~obre as técni- compatÍ'-'eis com a capacidade verdadeiramente voltadas para
• •
ternac1ona1s . cas a serem ut1lt1Jdas. que de- gerencial disponível. mercados a'> populações da região, com-
.
O documento da CVRO é mandam equipamentos pesados reg10na1s etc. patíveis com as vocações do
ainda mais incompleto - e e grandes quantidades de cal- O último dos quatro doc.u et..O.,\ISternas c com a preserva-
omisso -do que o Japonês caria. ferultzantcs c dcfen~t\OS. mentos não guarda dependência çao da floresta densa, as autori-
quanto à macrolocali1ação. for- sugenndo uma agncultura de em relação aos demais . Trata da dade~ responsáveis pelo progra-
ma'i de gerenciamento, organi- porte emprcsanal- e portanto criação de pólos agropecuário.,. ma continuarão em dívida com
taçtto da produção etc. A ma- menos atraente em relação a al- áreas escolhidas para a concen- a nação- c, em particular,
crolocahzação dos lmestimen- ternativas ma1s ao sul. nO"> cer- traçao de ações na linha de com a comunidade ctcntífica.
tos na área do PGC é relevante rados do Planalto f:entral. A apoio à produção agropecuária.
para que se sa1ba se as propostas produtividade esperada nesse corno investimentos comple-
podem resultar no desmata- •Ocpartamenlo de Estudo) e Pesquisas (l>l'Pl
projeto. sempre .tc1ma das mé- mentares em mfra-e~trutura. as-
da l-1nandlldora de Estudeb e Projei<K
mento da floresta densa (270 dias nac10na1s. prevê uma capa- sistência técnica. créd1to etc.

novembro/dezembro 1982 43
ter melhores possibilidades de fi- teira de expansão do capitalismo in- em função da produção de bens.
nanciamento junto aos bancos inter- ternacional. uma vez que tal estratégia implica
• •
nac1ona1s . Não existe qualquer razão estru- pagamentos de amortizações ,
E não haveria um volume de pou- t'ural para que não se possa financiar juros. lucros, div idendos e reme s-
pança financeira interna capaz de fi- Carajás com poupança financeira in- sas devidas à importação de tec-
nanciar Carajás? terna. E. num horizonte visfvel. o im- nologia. equipamentos etc. Além
Haveria. sem dúvida . Frente à ne- disso. baseia-se na exportação volu-
cessidade de captar volumes cres- mosa de bens cuja situação no mer-
centes de emprést imos externos. cado internacional é desvantajosa.
porém. o governo vem restringindo dentro de procedimentos que se-
de forma drástica a capacidade de quer podem ser considerados racio-
expansão do crédito em moeda na- nais (no sentido estrito das relações
cional. diretas de troca).
A análise do balanço de divisas ou Existem também impactos de
a discussão sobre poupança interna curtíss1mo prazo- as entradas de
e externa acabam por desvtar o de- divisas sob a forma de capttats de fi-
bate de questões fundamentais re- nanciamento e investimento direto
lacionadas ao PGC Já existem as in- estrangeiro. no momento mesmo
formações bás1cas que permitem da implantação dos projetos . De
compreender porque Carajás agora acordo com essa lógica, conclui-se
e desta forma Num plano ma1s am- -o
c::
ID
que quanto maior for a participação
estange1ra nos projetos do PGC mai-
plo. é possível 1dent1f1car a necessi- ~
"O
cn
dade de avaliação dos espaços que ores são as possibilidades teóricas
o governo busca em termos de cres-
~ de ampliação do ingresso de curto
2
ctmento interr.o e de inserção do -
·-"'
w prazo de divisas estrangeiras. Todas
o
país na d i nám1ca do desenvolvi- >
"'-u as concessões são feitas buscando
mento mternac1onal. o essa ma1or participação, dentro de
Neste s"ntido. cabe considerar as
-
o
~o
um jogo no qual o Conselho lntermi-
tentativas oe real mentação do ve- Com Serra Pelada, o ouro de garimpo nisterial do programa pode, a toda
lho modele dac: vantagens compara- conquistou o segundo lugar entre as
. .. . ..
hora e acima de tudo. estabelecer as
ma1s Importantes nque zas mi- regras Não apenas do própno pro-
tivas. foca lizando-se as possibilida- nerais brasileiras, abaixo do minério
des de um pa;s detenlor de recur- grama, mas todas as outras que re-
de ferro .
sos natura1s e energéticos dentro da gem a economia, a política e a soc1e
d1v1são internacional do trabalho O dade brasileiras .
11 P N D ( Pl a n o N aciona l de As questões de estrangulamento
Desenvolvimento) de1xa claro, por externo da economia brasileira, em
exemplo. o objetivo de "dar impulso suma, jamais poderiam servir de jus-
à cond1ção brasileira de fornecedor tificativa para a adoção de uma es-
mundial de alimentos e matérias- tratégia apressada de exploração de
primas e desenvolver novas monta- recursos não renováveis na Amazô-
gens comparativas à base de utiliza- nia Onental. Pois isso significaria
ção 1ntens1va de formas de al1enar a soberania nacional em
enerÇJia" nome de um objetivo que sequer
Novas frentes de expansão preci- será alcançado .
sam ser abertas. mas a pnondade Mas Carajás oferece ao país uma
pnnc1pal loca liza-se de modo deter- oportunidade imensa em termos de
mmante no objetiVO de resolver Im- relações mternas e externas . Com
passes de curto prazo . De certa relação ao nosso grau de endivida-
forma. o segundo objet1vo depende "'
.9 mento, é evidente que nada interes-
c:
do pnme1ro. Pelos dois lados Cara- c'l saria menos aos banque1ros interna-
jás oferece perspectivas Interessan- "'
o
--= cionais do que ver o Brasil Impossibi-
tes. Perm1te projetar a possibilidade ~
oc: litado de pagar os juros e amortiza-
de reequacionar e readaptar as po- -
':J
0:0 ções de sua dívida. Todos os trunfos
tencialidades nacionais e a p rópria .9 devem ser utilizados, po1s a estraté-
economta brasileira ao movimento
-o
gia- adotada tantas vezes- de fa-
de expansão capitalista internacio- pacto num possível balanço de divi- zer apelos ao capital estrangeiro e
nal. A implementação do PGC pode sas, mesmo• sobreavaliado, revela- concessões atrás de concessões le-
propiciar a criação e manipulação de se mínimo. E exatamente a estragé- va apenas à perda do poder deci-
uma perspectiva de pais com alto gia adotada de captação de recursos sóno sobre o processo produt1vo, ao
potencial desenvolvimentista Con- financeiros. empresariais e técnicos desperdício de recursos materiais e
tribUI para reabilitar a credib1hdade no exterior que subtrai parcela subs- financeiros e ao estrangulamento
do Brasil. ao recriar a figura da fron - tancia l do volume de divisas obt1do crescente da economia.

44 ano 1/n . o 3 CIÊNCIA HOJE


Bertha Becker
Lia Machado*

A implantação do Pro (ou pelo menos dificultam) que a terras e na exploração de recursos
grama Grande Carajás população adqu1ra o conhecimento naturais. com a mediação do Es-
envolve a cnação de necessáno para mterfenr no pro- tado
um novo espaço de cesso de decisão, isto é, seJa capaz O valor estratég1co da área do
proporções gigantes- de avaliar de forma realista o custo programa se deve principalmente à
cas. incorporando grandes exten- soc1al desta reestruturação, po- riqueza natural de seu territó rio:
sões dos estados do Pará. Goiás e dendo eventualmente apresentar solos. recursos florestais e hfdncos
Maranhão De novo, a soc1edade alternativas ma1s razoáveis e, sobretudo. produtos mmerais.
brasileira. e a Amazônia em parti- Sob que cond1ções. porém. está Contam ainda para seu valor sua
cular. encontram se d1ante do desa sendo promovida a criação e a rees- prox1m1dade com a área povoada,
fio representado por um modelo de truturação deste novo espaço? Em tornando-a acessrvel aos mercados
desenvolvimento econôm1co que que med1da não serão elas condi- e centros de comando do Sudeste
se caracteriza pela rapidez das deci- ções que susc1tarao a ocorrência de e à área fornecedora de mão de-
sões. a grande escala dos Investi- problemas novos, surgidos da pró- obra do Nordeste e. finalmente,
mentos e a ausência de d1scussão a pria solução escolhida para os sua relat1va proximidade do oceano
nível nac1onal ant1gos"J Atlântico. o que permite a exporta-
Essas características. ao mesmo A área prevista para a atuação do
tempo que permitem a reestrutura- PGC constitui a vanguarda da ex-
ção do espaço físico e a moderniza- pansão de investimentos capitalis- *Profes.wnu do l>f~nto de Geografia da Univer-
ção em tempo reduzido, Impedem sidade t 'edenl do Rlo de Janeiro.
tas Interessados na apropnação de

LOCALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA LEGAL E DA REGIÃO DO PROJETO GRANDE CARAJÁS NO MAPA DO BRASIL.


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novembro/dezembro 1982 45
ção de seus produtos através de detêm o capital e a capacidade de para determinadas atividades são
Belém e de São Luís. organização necessária. Diante do mecanismos seletivos que subsi-
fraco povoamento da região, confi- diam a implantação em grande es-
O projeto político de ocupação gura-se uma situação de relativa es- cala da iniciativa privada na região
do terntóno onde se instalará o cassez de mão-de-obra. gerando-se de Carajás .
PGC envolve um processo de apro- então uma importante contradição : Uma distribuição controlada de
pnação das terras cada vez mais rá- como atrair a força de trabalho ne- terras em áreas limttadas atrai os
pido e em maior escala, com a ação cessária ao projeto e fixá-la na re- migrantes destituídos ou providos
crescente do Estado e o progres- g ião sem ao mesmo tempo lhe dar de muito pouco capital. que afluem
SIVO agravamento das contradições o domin1o efct1vo sobre a terra? em quantidade muito superior ao
presentes na reg1ão. A ação do Estado tem-se pau- número disponível de lotes Quem
Face à escala dos investimentos tado por contornar a questão por não consegue terra se transforma
e da organ ização empresarial ne- meio de várias políticas. que criam em força de trabalho Uma parte re-
cessána para a rápida ocupação de ao mesmo tempo as condições cebe ou se apossa de lotes, mas
uma área tão extensa. o Estado para a apropriação das terras e para ante a necess1dade de complemen-
vem criando cond1ções favoráveis à a estruturação de um mercado de tar a renda famtliar é obrigada a en-
apropriação das terras devolutas trabalho regional. Incentivos fiscais trar no mercado de trabalho. e mui-
"' . ... .
por segmentos da sociedade que tas vezes se ve suJeita a expropna-
'

e crédttos especiais a juros baixos

1\
I ,_, I

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ensao soc1a o a
C- - - - - - Lúcio Flávio Pinto* )

Se o Programa Grande Cara- grinação, interiorizando-se pelo Essa explosao súbita já causa ção. ou procura as luzes da
JáS realmente executasse sua estado e pela regtão Outras enorme'> complacaçõe~ soc1ais grande cidade
principal meta social de criar quatro pessoas instalavam -se Segundo as estatísticas oficiais, Belém, a pnncipal cidade da
um milhão de novos empregos em tomo do projeto, exercendo a mortalidade anfantal em Tu- Amazôn1a. v1ve uma Situação
na área sob sua JUrisdtção (90 atividades instáveis. Entre elas curut (mator cresc1mento rela socJal cxplostva dev1do a esse
milhões de hectares), isso s igni- estão muitas prostitutas, que so- tivo no Pará na década passada). fluxo campo-cidade Em 1978,
ficaria que, em 15 anos. nove manam 4.000. deslocando se que há dez anos era de 40 por segundo levantamento fcllo
milhõe:, de pessoas se dmgiriam entre os acampamentos con- mil crianças na'>cidas vivas, ho- pela empre'.a metropolitana,
para os estados do Pará, Mara- forme os dias de pagamento das je é de 100 por mil Em 1978, a dos 950.000 habitantes da capi-
nhão e Gotás, atraídas pelos em- empreiteiras- e carregando con- Prefeitura Municipal dispunha tal paraense 650.000 estavam
preendimentos econômicos que sigo doenças de difíc1l controle de 40.000 cruze1ros para apltcar em tdade de trabalhar, mas só
ali seriam implantados. Oito Jevido a essa mobilidade. durante um ano mtc1ro no setor 280 000 estavam efetivamente
milhões de pessoas, não absor · Adm1ttndo-se que haJa apro- de saúde. O saláno do dtrctor de trabalhando. Deste;,, 65% sem
vidas pelas atividades econômt · ximadamente 60.000 pessoas o;crviço méd1co da Construtora qualquer vínculo empregatíciO,
cas do programa, contmuariam atuando nos cmco grandes pro- Camargo Correia. principal cm- ·no chamado "mercado infor-
sua migração mais para o in- Jetos em implantação na área do preitetra da obra. era o dobro mal". sem renda fixa . Trezen-
terior da Amazônia ou ficariam "CaraJazão", seria possível desse valor. tos e quarenta mil pessoas vt-
nas dezenas de cidades que es- conclu1r, com base no levanta- Obngados a trabalhar de I O a vem nos pântanos da cidade,
tão surgindo ao redor dos gran- mento da Secretaria, que 12 horas por d1a durante o "pi- alagados penod1camente pelas
des projetos. 540.000 pessoas fizeram algum que'' da obra. milhares de imi- águas das marés. Nas .. baixa-
ttpo de m1gração atraídas pores- grantes. vindos princtpalmcnte das'', 60% das famfltas ganham
Dificilmente essa proJeção de ses empreendimentos. e que do Nordeste c particularmente menos de um salário mínimo
empregos- 900.000 em ativida- umas 250.000 acabaram tns- do Maranhão, são depois despe- por mcs.
des agropecuárias e florestais. talando-sc em áreas próximas, didos c devolvidos a ;,cus locais Diftcilmente o Programa
mais 100 OOOem mineração. st formando um círculo de pobre· de origem, quando náo insistem Grande Carajás terá soluções
derurgia c me tal urgia · será la e marginalidade em tomo dos em ficar ou prosseguir em seu para esses problemas, cada vez
cumprida. Mas o crescente núcleos urbanm dos projetos caminho. São em sua ma1ona mais graves. Pnvileg1ando o c a
êxodo para a área do "Caraja- Tucuruí, que no início do ano lavradores, mas poucos conse- pitaJ c usando tecnologia poupa-
zão" já tem trazido muito mais empregava 27 .000 trabalha- guem dispor de um pedaço de dora de mão -de obra, o "Cara-
problemas do que soluções para dores. demitirá mais de I O 000 terra para instalar-se. Para al- jazão". ao contráno. deverá
a própna região. Fazendo um aré dezembro, quando a u;,tna guns há sucedâneos atraentes, mult1placar c ampltar a gravi-
levantamento em Tucuruf, a Se estiver operando Só mil funcJO- corno o garimpo de Serra Pela- dade desses problemas. Sobre-
cretaria de Saúde do Pará cons nárto'> '>erão necessários. em da: pelo menos 60% de seus tudo porque, até agora. a di-
tatou que, de cada dez pessoas 1986. Como o governo já não garimpeiros são na verdade la- mensão social do programa é
chegadas à cidade, nove não tem mai;, condições de abrir no- vradores que não dispõem de uma questão '>tmplcsmente omi-
eram absorvidas pelas obras da vas frentes de trabalho em nú- um lote de terra. mas a maioria tida em todos os planos.
grande htdrelétrica, que será a mero capal de receber tantos instala-se ali mesmo nas deze-
segunda maior do pafs quando dispensados, a peregrinação nas de pequenas cidades c po- • Jornali.!ita, colaborador dt Cibtda
llo)t, autor do li"ro Cat74}as, o ataqu~
concluída. Dessas nove. quatro dentro da Amazônia deverá voados que brotam do dia para a 110 roraç.eo da A IJJIIZÕoi•.
.
ou cmco prossegu1am sua pere crescer ainda mais . noite nas estradas de penetra-

46 ano 1/n . • 3 Cl l NCIA HOJE


, - A

ESTRATEGIA DE APROPRIAÇAO DA AMAZONIA ORIENTAL


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rodovias área do GETAT (Grupo Execut.'VO de


Terras Araguaia-Tocantins)


cidades Projeto Fundiáno Altamira

o capitais de estados e territónos • -. • • • projetos agropecuários aprovados

novembro/dezembro 1982 47
ção por procedimentos burocrát1 vem se deslocar de um lugar para Por outro lado, as unidades produ-
cos de regularização de títulos e outro e de uma ocupação para outra. toras capitalistas que exercem o
discriminação de terras. Esta mobilidade permite compati- monopólio da terra na região não
Reproduz-se assim, na reg1ão de bilizar a necessidade intermitente constituem um bloco homogêneo.
Carajás, o padrão nacional de estru de força de trabalho com a produção Em relação ao mercado de trabalho,
tura fundiária, com forte concentra- de alimentos para sustentá-la. En- diferenciam se. a grosso modo, em
ção das terras nas maos de poucos. quanto muitos dos imigrantes que dois tipos·
Face a estas ca racterísticas, a es se tornaram pequenos produtores Prime1ro, as empresas agrícolas
cala de apropriação de terras é con- têm s1do exproprtados. engros- ligadas a grupos nacionais e multina-
siderável. Os dados, entretanto, In- sando o contigente de assalariados cionais, pertencentes a firmas se-
dicam ser prematura a tese, ampla- permanentes, outros são mantidos diadas no Centro·Sul, que se locali-
mente difundida, sobre o como camponeses proletários. ven- zam no sul do Pará Utilizam trabalho
"fecham ento" da fronteira. isto é, a dendo sua força de trabalho sazonal assalanado para o desmatamento,
inexistência de terras "livres": a ou eventualmente Essa assoc1ado a av ões que espalham
área ocupada pelos estabelec1men "pol1valênc1a", isto é, o emprego desfolhantes, defensivos e semen-
tos para o conjunta da Amazônia Ie em atividades rurais (agrícolas e tes de cap1m, numa operação que
gal representava apenas 15o/o da extrativas) e urbanas (exercendo em trés d1as real1za o equivalente a
área total dos estabelecimentos mais de um tipo de tarefa). é carac- um ano de trabalho braçal. Dada a
em 1975 No sul do Pará. apenas terística do mercado de trabalho da escala do desmatamento, utll1zam
.- . ,
em Conceição do Araguaia e em reg1ao. ass1m como e comum a po- grande número de assalariados, re-
Santana do Araguaia é que a pro- pulação deslocar-se até cem quilô- crutados e agenciados por uma ca-
porção da área mun1c1pal ocupada metros de seu local de moradia para dela de intermediários - conheci-
a l cançava cerca de 50o/o (ver encontrar trabalho. dos como "gatos"- que vão aliciá-
tabela).
Ist o s1gn1f1ca que. se a fronte1 ra
não está fechada. existe ainda muita
terra que pode ser apropnada atra-
vés de uma polít1ca ma1s eqU1tat1va.
Será ela possível com o tipo de pro
gramas atualmente propostos?

Dadas as condições Impostas


pelo próprio projeto de povoamento
da reg1ão de CaraJáS, cnam-se diver-
sos problemas em relaçao à oferta e
à demanda de mão-de-obra. Por um
lado, a orgamzação das grandes un1
dades produtoras só exige mão-de-
obra pa ra determmadas tarefas, e
por tempo limitado. Por outro, os pe
que nos produtores de alimentos ne-
cessitam do trabalho assalanado
pa ra completar sua renda familiar. A
solução é a moblltdade da fo rça de
t rabalho, tanto espacial quanto ocu-
pacional, 1sto é, os trabalhadores de· Na Cidade Nova de Marabá, busca-se ainda manter o sonho da Transamazônica .

,
AREA DOS ESTABELECIMENTOS (ha)

1960 1975 % da área dos municípios


Amazônia legal 3 960 393 70.483.453 15

Sul do Pará :
Conceição do Araguaia 137.002 1.512.556 52,9
7"-S-7'-an:..:.t.=a~n=a-=d-=o;....;.A_.:.r-=a:..;:,g=u-=a=ia:...___________________ 934.45 7 43, O
~M~a~ra=b~á~----------------------~5~1~60~9~___________ 82087~1;~~~~~~~~~~----------~=2~1~.9~_-_-_-_-_-_-_-
Aitamlra 73.574 1 968.811 12,7
São Félix do Xmgu 21 724 O, 18

Fonte: IBGE. Censo Agropecuàno.

48 • ano 1/n .• 3 CIENCIA HOJE


los às vezes a ma1s de 200km de diS-
tância Term1nado o desmatamento.
essa massa de peões é dispensada.
Em segundo lugar. há os fazen-
deiros :ndtviduais. proven entes
principalmente de Mmas Gerais.
São Paulo e Go1ás. Instalando-se ao
longo da rodov1a Belém-Brasília De
v1do a sua menor capac1dade flnan-
cetra. o r tmo de desmatamento de
suas fazendas é menos mtenso -
de 20 a 100 alqueires anuais. contra
1 00 a 400 nas fazendas das empre-
sas . Reduzmdo os gastos com salá-
rios. ut1l1zam em matar proporção
mão de-obra não assalanada, os
"rendistas". que pagam ao fazen-
d e i r o e m t r a b a Ih o de de s mata-
menta e plantio de capim o aluguel
da terra que ut·llzam em suas lavou-
ras de subsistência.
Do ponto de v1sta do mercado de
trabalho, a d1ferença entre empresa
e fazenda desaparece quando. for-
mados os pastos. Introduz-se o
gado e reduz-se inapelavelmente a
demanda de mão-de-obra. O Estado
promove a atraçao em massa de m~
g rantes. seja através da propa-
ganda. seja acenando com o empre
go em grandes obras v1ánas e h:dre-
létncas com a perspectiva de aces-
so à terra. As oportunidades de aqui-
sição de títulos de posse de terras ~
.r;
9
Situam-se em locats selecionados. i=
perto das empresas e fazendas. ou m
....J

então junto às reservas mdígenas e §


aos latifúndios tradic1ona1s. dando Queimada de castanhais na região de Marabá, no km 544 da Transamazônica .
ongem a vá nos t1pos de conflitos en-
tre posse1ros e fazendeiros ou em-
presários. posseiros e latifundiários transformação da estrutura ocupa- A mobilidade constitui, portanto.
tradicionais (donos de castanhais). e cional da população, organizando-se •
um doloroso processo de aprendi-
finalmente entre posse1ros e índios. o mercado de trabalho Há uma ten-. zado soc1al, em que a população se
O Nordeste é a princ1pal fonte for- dência à eliminação gradual das ca- diferencia, aprende ofícios e eleva o
t~gorias ocupacionais que têm laços nível de suas aspirações. à custa de
necedora de mão-de-obra não-
qualificada, seguido da zona Bragan- mais estreitos com a terra, isto é, os seu desenraizamento e de uma
tina e do sul de Goiás O uso cres- pequenos produtores, em contra- forte InStabilidade. o que dificu lta
cente de equipamentos pelas em- partida, crescem as categonas sua organização para formula r qual-
'
presas agropecuárias e o cresci- " polivalentes". quer t1po de reiv1nd1cação.
mento das funções urbanas estão A " polivalência" configura uma No processo de povoamento da
ampliando o mercado para a mão- tendência à dissolução de relações Amazônia onental e do conJunto co-
de-obra qualificada e. em decorrên- tradicionais de trabalho, estabele- nhecido como Amazônia legal há um
cia deste fato, vem crescendo o nú- cendo ao mesmo tempo um limite aparente paradoxo · a expansão da
mero de im1grantes do Centro-Sul. para o processo de proletarização; fronteira agrícola. numa escala sem
oriundos principalmente de cidades para o pequeno produtor, é uma es- precedentes na h1stór a do Bras1l dá-
médias e pequenas. tratégia de sobrevivênc·a para man- se num contexto urbano.
A mobilidade espacial e ocupacio- ter seu status de camponês. e para
nal da população é um processo de os grandes produtores representa A população urbana da Amazônia
diferenciação que promove a trans- uma forma de 1ntens1f1car o trabalho onental (Pará e oeste do Maranhão}
formação de camponeses em traba- e obter mão-de-obra na quantidade passou. no período de 1970 a 1980,
lhadores assalariados em o utras e no ritmo determinados pelas ne- de 1.652.688 para 2 720 140 habi-
ocupações, e é no próprio decorrer cessidades de desbravamento e or- tantes. ou seja, de 36°/o para 43°/o
do processo m1gratório que se dá a ganização da fronteira . do total do estado . Na mesma dé-

novembro/dezembro 1982 49
cada, a população rural cresceu de presentados principalmente pelos {fornecedores e comissários) dos
2 948.324 para 3.982 194 habitan- latifúndios extrativistas e pastoris castanhais. É o que ocorre ainda no
tes, ntmo lento e quase insignifi- tradicionais. chamado Bico do Papagaio, entre

cante se comprado com a escala de Goiás, Maranhão e Pará, onde a luta
apropriação de terras. Vale assinalar Nos últimos anos, resistências se trava entre fazendeiros e possei-
que esses números estão aquém da menos pacíficas do que a mera es- ros, últimos remanescentes dos pe-
realidade, uma vez que não estão tratégia de sobrevivência vêm-se quenos produtores de arroz do norte
computadas as populações dos nú- manifestando, sob a forma de confli- de Goiás.
cleos pioneiros que vêm surgindo e tos diversos, nesses diferentes es-
crescendo num ritmo acelerado. paços subregionais . Podem-se dis- Há uma outra ordem de conflitos
tinguir, a grosso modo, os conflitos na região, entre as próprias institui-
O paradoxo. porém, é apenas em áreas de terras de ocupação tra- ções engajadas no processo de po-
aparente. A urbanização adquire um dicional dos conflitos em terras de- voamento, que muitas vezes discor-
novo sign 1f1cado se encarada como volutas dam quanto à portica a ser adotada.

estrat égia para a ocupação ráp1da do Nas terras já ocupadas, com ti- E patente, por exemplo, a d1visão •

terntório O núcleo urbano e o ponto tulação antrga, os confl1tos tomam exrstente no lNCRA. uma corrente
de fixação e redistribuição da força a
quase sempre forma de invasões se mantém fiel à colonização pela
de trabalho, e nele a população In- por posseiros de latifúndios cujos concessão de lotes de cem hec-
corpora os valores do sistema domi- donos muitas vezes não têm condi- tares, enquanto outra afirma que,
nante, interionzando os pnncípios çoes de cer.car ou defender. No caso sendo Impossível demarcar todo o
de autoridade; é ainda uma condi- dos latifúndros pastons e de babaçu polígono de desapropriação, a trtula-
ção fundamental do funcionamento no norte de Goiás e no Maranhão, ção deve ser liberada para aqueles
do esquema produtivo, servindo ant1gos agregados das fazendas sao que têm condições de arcar com a
como base para a Circulação da força estimulados por grileiros a requerer inic1at1va de ocupação Assim, na re-
de trabalho (que deve estar disponí- o direito de posse da terra para de- gião de Marabá e de Altamira tenta-
vel e fixa em determinados pontos pois negociar as posses, desagre- se manter o sonho da Transamazõ-
do terntóno), do capital (o que se ob- gando o latifúndio "por dentro". No nica, demarcando os lotes e fixar)do
tém com a concentração do comér- caso dos castanhais dos vales da re- os colonos. Já na área de Rurópolis,
CIO e dos serv1ços), da Informação e gião de Maraba, os posse1ros pro- em d1reção a lta1tuba, onde afrontei-
de bens e mercadorias movem a mesma desagregaçao, só ra ainda é indefinida, predomina o
Deste modo, as c1dades estao que "pelas bordas". segundo ponto de v1sta. e a popula-
diretamente relacionadas à estru Embora a confrontação se dê en- ção é de1xada à própria sorte.
tu ração do m ercado de trabalho por tre posse1 ros, ag regados e latifun-
meio da fixação da população num diários, trata-se na verdade do pro- Ocorrem também confl1tos entre
processo de assalariamento, end1v1 cesso de expansão da empresa ca- a esfera do governo estadual e a do
damento e cooptação soc1al. pitalista, em que o posseiro é utili- federal em torno da questão da su-
zado para efetuar a tarefa de desin- perposição de títulos exped1dos por
Ao estruturar se, o espaço regional tegração do lat1fúnd1o tradicional. órgãos fundiários federaiS e esta-
se diferencia gradativamente A lo- cujo subsolo detém riquezas mi- duais. As relações entre o Estado e a
calização e as formas de apropnaçao nerais extremamente atraentes. As· Igreja também são delicados. Num
das forças atuantes na fronteira, nas Sim, no vale do no Xmgu, no Alto lnn, plano -o da opção pela vra tecnoló-
d1ve rsas fases, combmam se com as empresas se defrontam direta- gica de desenvolvimento - o Es-
as características pré-existentes, mente com os senngalistas. tado é aliado da empresa, confli-
tanto natu ra1s como h1stóncas. que tando com a Igreja. Em outro plano,
determinam o grau de resisténc1a à Nas terras devolutas, os conflitos contudo, há coincidência de pontos
expropriação, tomando forma como se dão entre, de um lado, gnleiros, de vista, como na questão do traba-
diferenciações subreg1ona1s. As fazendeiros e empresários e, de ou· lho famrhar, que envolve a caprtaliza-
sim, podem-se d1stingu1r diversas tro, posseiros e 1nd1os. Ocorrem na ção do pequeno produtor e a forma-
fa1xas de ocupação dos espaços na proximidade de estradas e núcleos ção de uma classe média rural.
-
reg1ao: urbanos a que os posseiros têm
a) os espaços de ocupação acesso, nos pontos de contato entre Hoje, um novo espaço se
"espontânea", introduzida pela ro- diferentes

tipos de espaços subre- organ1za : o espaço programado para
dovia Belém-Brasília e pelo crédito g1onais. E o que ocorre no trecho da o PGC. Pela diversidade de ativida-
concedido na reg1ão do norte de estrada PA-150 (ant1ga PA-70) que des produtivas previstas - explora-
Goiás, onde predominam fazendei- segue de Marabá em direção a ção mineral, metalúrgrca e florestal,
ros individuaiS, b) o espaço de ocu- Belém, atravessando terras que se pecuária e agricultura- bem como
pação incentivada pelo grupos eco- valorizam perto da represa de Tu- pela magnitude dos incentivos e da
nômicos graças aos mcentivos fis- curuí É o que ocorre tambem ao Infra-estrutura oferecidos, além do
cais, localizado no sul do Pará; c) o longo do tronco sul da mesma PA- montante dos recursos a sérem in-
espaço de ocupação dirigida dos 150, que liga Marabá a Conceição do vestidos, este espaço ma1s recente
colonos da Transamazõnica: d) os Araguaia cortando uma área em que e mais extenso se sobrepóe aos· de-
espaços res1dua1s que permane- se confrontam posseiros, empre- mais, definindo uma nova fronteira
ceram à margem da valonzação, re- sários, fazende1ros e "aviadores· para o seculo XXI.

50 ano 1/n . • 3 CIENCIA HOJE

O isolamento em que ainda se encontram os Xikrin do Cateté permitiu manter a integridade dessa sociedade tribal t?
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C:___________I_a_ra__Fe_r_r_~._*__________)
A palavra "carajá", em nucleos habitacionais de apo1o à fer
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língua tupi, des1gna o "1- rov1a.
n1m1go", o "outro po- No entanto, cerca de 25 grupos -
·-
"r-. " 1\I ::::. c: r r A n 1r ::::. c: rf n c:
·----. --·- --- our1se

1O 000 1nd1víduos- serão atin-
v1ajantes do século gidos, em graus variados. Alguns. cer-
XVII, já se encontram referências a ín- tamente . de mane1ra mais di reta,
diOS "Carajás" vivendo na região da como os grupos de língua Tup1 do vale
serra do Mar- assim chamados do rio Pindaré, no Maranhão, que se
pelos Tupi do litoral. No decorrer do caracterizam sobretudo por sua forte
século XIX, todos os grupos de l1ngua resistência cultural, po1s preservam
Jê dos vales dos rios Tocantins e sua identidade apesar de estarem em
Xmgu eram também chamados de contato com os ''brancos" há cerca
CarajáS por seus inim1gos. os povos de quatro séculos. São os Guajajara,
de língua Tupi da reg1ão os Tembé e os Urubu-Kaapor- estes
A ferrovia que dará apo1o ao Progra- com contato desde 1928 - que vi-
ma Grande Carajás encontra-se em vem em sete reservas. sendo que
fase adiantada de implantação. Por duas- Caru e Pindaré- estão locali-
ela passarão diariamente, nos do1s zadas perto da ferrovia, que chegará a
sent1dos, 20 comboios com 160 va- ~)of
passar bem junto (a cerca de 200
;:)

gões carregados de m1nério de ferro, ...J


metros) de uma aldeia Guajajara.
-·-
o
0
transportado a descoberto, durante O ritmo acelerado que se impõe ao
os próx1mos 50 anos. E qual será o fu- O xamã Xikrin (Kaiapó) e seu povo projeto poderá sepultar os índios Gua-
turo dos diferentes povos indígenas sofrem a ameaça das empresas ma- já, um dos poucos grupos nômades
que vivem em sua zona de Influência? deireiras e pecuárias, do garimpo e brasileiros, que ainda se encontra dis-
O Banco Mundial, um dos princi- da proximidade da area da mina de perso, margeando o le1to da ferrovia
Carajás.
pais f1nanciadores do Projeto Fer- em construção Dos 180 possíveis in-
ro-Carajás, a cargo da C1a. Vale do R1o foram apontadas 14 reservas indígc divíduos sobrevivendo em vános pe-
Doce, recomendou a demarcação ofi- nas, situadas entre a pré-Amazôn1a quenos grupos, mais de cem vivem
Cial e a proteçao das áreas Indígenas maranhense, o sudeste do Pará e o fora das reservas, muitos já bem d1s-
afetadas, além de garantir a esses po- norte de Go1ás, Incluídas em zonas de
• Pt-;quisadora do l:k-partarmnto d~ Cimda~ Social~ -
vos condições de sobrev1vênc1a impacto d1reto e indireto devido à im- \nii'OpoloRia '«la!- da Unh~ ck Sào PauJo.
digna Após uma prime1ra avaliação, plantação de estradas vicinais e novos

novembro/dexembro 1982 51
PRESENÇA IND,IGENA NA AMAZÔNIA ORIENTAL

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............... rodovias aldeicrs indígenas f I I ferrovia Carajás-ltaqui o capitais estaduais

tantes de seu habitattrad1cional. acos- tência, o que poderá levar a baixas po- tonomia a partir de 1976 A alarmante
sados por camponeses, -gnlerros e pulacionars . A transferênCia deste dim1nuição da produção de castanha
empresas agropecuárias. grupo fo1 provocada pela construção em toda aquela reg1ão do sudeste
Na regrão compreendida entre o da Us1na Hidrelétrica de Tucuruí, que paraense deveu-se à extinção dos In-
oeste maranhense e o norte de Gorás inundará também parte da reserva setos pol1n1zadores da castanherra,
tradicionalmente o "país dos Tim- dos Asunn1. decorrente dos desmatamentos e
bira" -serão afetados os Krêjê, os Do1s grupos Jê, os Gaviões de Mãe que1madas que se verifrcam em
Krikatr, os Canela-Ramkokamekra e Mana (Timbira) e os Xikrin do no Ca- grande escala. E resulta também, en-
Apanrekra, os Gaviões de Amarante teté (Kaiapó) serão ma1s diretamente tre os Gavrões, da perda de porções ,
(pYkobjê) e os ApinaJé, grupos que se afetados. O terntóno dos Gav1ões - srgn1frcatrvas de seu terntóno.
drstrnguem por uma intensa vida ri- exemplar quanto aos efe1tos da "pro·· Já os índ1os X1krin, grupo que ainda
tual, hab1tando na regiao do Cerrado, teção" governamental em relação às vive em cond1ções de relativo Isola-
rnvadrda desde o século XVII I pelos. áreas tnd ígenas - for atravessado mento, para quem a caça e a coleta
criadores de gado em toda a sua extensão (cerca de são essenc1a1s à sua 1ntegndade, têm
No sudeste do Pará, serão atingi- 19km) por uma rodov1a estadual. uma como limite de sua reserva a área da
dos três outros grupos de língua Tupi, linha de transmissão de alta tensão provfnc1a m1neral de Carajás, a leste,
os Sun, os Asunn1 do Trocará e os subsidiária de Tucurur e, agora, pela exatamente onde se encontram as
Parakanã. Apesar do contato muito re- ferrovia de CaraJáS Em breve, esta re- cabece1ras dos pnnc1pa1s cursos
cente dos Parakanã e do pouco co- serva deixará de ser uma rmportante d'água utilizados por eles. Uma rodo-
nhecimento que se tem a seu respei- área produtora de castanha-do-pará, via estadual e invasões de grandes
to, este povo está sendo of1c1almente fonte pnmordial de subsrstência, e so- empresas madeireiras e pecuánas es-
removrdo de seu terntóno tradicional bretudo de recursos para os Gaviões, facelaram o sul do território. A demar
sem a observância de cu1dados com o cuJa comercrahzação d1reta aos expor- cação adequada da ma1or parte des-
preparo prévio das roças de subsis- tadores valeu-lhes a conquista da au- tas áreas Indígenas não fo1 , todavra,

52 ano 1/n . • 3 CllNt"l.& wn u:


'

A ,

ÁREAS INDÍGENAS EM ZONA DE INFLUENCIA DO PROJETO FERRO-CARAJAS


Reservo População
(e posto Funoi) Grupo Indígena (estimado)

Area ( ho) Muni cíp i o
Alto Tur.oçu Urubu-Koopor e •
495 Corutoperos.
e Con.r•de Tembé (Tupo 130
530.520 1\Aonçóo,

Guo1o
Kri ji ITomboro) s Cõndodo Mendes e
Guo j6 {Tup 30(?) Tvrooc;u (MA)
Coru
Awo (subsede)
Guojojaro T •P•)
Guojá
102
60
170.000 Bom Jardim (MA) No Alto
c:nn
o~vv -
Pin~ar~,
- • 1- V~
11n;n, - - \,oiG
- - ·ICI
em_ áre~
----··--
situad~
I UVIG, ·VIVCIII
.···----- U~
a
- - 111•
--
I
Gua ja jara 300
Pmdoré " Timbiro" 7 15.000 dios Guajá, que já sofrem os efeitos
Outros 60 da presença branca.
(foro de
r0$1lrvo) Guajó ISS(?) ?

Aronbóoo Guajajara 560


Angoco Torto Guo jajara 1 125 413.590 Amoronte (MA)
efetuada, e a ineficácia da proteção
Conudol Gua jajara 430 oficial levou ao recrudescimento das
Krokoh Kríkat i (Timboro)
. 305 136000 1\Aontes Altos (MA) invasões, componente peculiar à es-

Governador Gaviões (Tomb~ro) Corvtopero e
trutura fundiária de toda a região at ra-
280 41.640
N\onçao (MA) • vessada pela ferrovia de Carajás.
Bocunzonho Guajajora 965 82.430 Gro1oü (MA) Dada a inexistência de estudos es-
Co110brovo Gua jo jora I 100
1 405 131.870 Borro do Cardo (MA) pecíficos acerca do impacto ecoló-
Cone lo Ramkokomekro Tomhoro 690
gico destes empreendirnemos plane-
125.210 Borro da Cardo (MA)
jados para uma reg1ão de floresta tro-
Porqunhos A paniekra (Trmbora 270 79,420 (?) Borro do Corda (MA) pical, as conseqüências são ainda
Urucu-Juruó • Gu a 1aja ro 190 46.000 Gro1ou(MA) mais 1mprev1síveis para seus habitan-
Geraldo• Pykobjê (T•mbora 21 .
? GrOJOU (MA)
tes, os povos indígenas, que terão
Morro Bronco• Guajajpra 80 48 Groj(lú (MA)
Guaja jaro e
seus terntónos afetados pela trepida-
Rodeador• óreo de 2 .342 Borro do Corda (MA)
Canel a coça ção e pela poluição do ar, das águas e,
Apnoé Apina jé (Trmboro} 400 IOI 000 (?) Tocontrnópolrs (00) em alguns casos, também visual e so-
Sororó Surui (Tupr) 100 SõoJoóo do nora.
26.200
Aroguo10 (PA)
Só o conhecimento destes povos e
Trocoró Asurini 'T pi) 120 21.700 Tucurur (PA)
Porokol'lÕ Porakonã [Tupr)
o respeito à s ua integ ridade poderá
140 309.000 Tucurur (PA)
Pvcuruo P-Gra kanã 40 (?)
imped1r se u desaparecimento, ou
(?)
(3.• ocompomenro) mesmo s ua descaracterização en-
Nlõe tvlo r l(l Gaviões 170 64.000 N\orabó (PA) quanto sociedades distintas, que vêm
Cotcté Xiki'on ,Kuoopo) 260 ~9.1 50
9 .99 5
fiAorobO tpA) sofrendo sempre o primeiro e drás-
TOTAL
• Se m posto da Funai. tico impacto das investidas da " civili-
zação''.
Fontes Funoo ( 1982)
AssocooçOo Brosoleoro de Antropologoa (ABA) CamossOo Pro-fnd10 de Sõo Paulo
53
A Teoria da Relatividade Ger a l d e Albert Einstein , publicada em 1916,
revolucionou n ossa concep çã o do Cosmos.
A poss ibilidade d e existência d e buracos brancos e a imprevis ibilida d e d o Universo
tomaram ainda mais complexa esta concep ção .

-
----
~
-
-
- -
- ------,-
..........


Ma rio Novcllo•

r--- ntre as diferentes questões que caráter determinista do mundo, nos- uma totalidade (o Cosmos), enquanto
t---
são ObJeto de estudo em cos- sa capacidade de previsão de eventos estamos acostumados. em pratica-
mologia, duas merecem desta · futuros a part1r da observação siste- mente toda atividade c1ent1fica. a tra-
- - que espec1al. dev1do as suas mática do passado, e, por outro, o tar separadamente de propnedades e
conseqüências de caráter filosófico e caráter aleatóno do Un1verso. e a con · processos que ocorrem em uma re-
ao Impacto que podem produzir em seqüente necessidade de historificar gião limitada do espaço e do tempo.
algumas das idé1as que são parte es- a cosmologia. isto é, dar-lhe conteudo Além disso. nosso pensamento cien -
sencial das bases de nossa cultura e histónco, legitimando a dependência tífico é organ1zado em SIStemas que
de nossa orga nização do mundo: a do mu ndo de nossa própna ex1stência possuem sempre um l1mite natural
existência de buracos brancos no Uni- - um ponto de v1sta que prat .ca entre o seu 1nterior e o seu exterior.
verso e a ocorrêncta de processos de mente sugere uma sistematização Para um dado fenômeno fís1co. o ex-
bifurcação nos primórdios do Cos- anticopernicana do Universo. terior é tratado como condições de
mos As consequênc1as práticas dessa contorno, isto é, vínculos impostos a
Neste art1go. limitar me ei a des- aparen t e tr1v1a l1dade são bastante um certo conjunto de vanáveis Signifi-
. . . , .
c rever as p r1nc1pa1s c a racter1 st1cas grandes em cosmologia. cativamente envolvidas no processo
gera1s dessas duas questões do em exame, e que servem para carac-
ponto de vista de um cosmólogo, dei- estudo científico do Uni- terizá lo
xa ndo de exammar suas infuências verso. em sua prát1ca coti- Este procedimento. d1to "natural",
mais•
amplas sobre nossa cultura. diana, não pode 1gnorar a deve ser abando11ado ao tratarmos
E Im portante no entanto ressaltar explicitação de um ponto das questões do Universo. Estamos
que o q ue está sendo colocado em de v1sta filosófico. Isso se deve basi-
questão nessas pesqu1sas. como camente ao fato de que a cosmolog1a •Pe:squiudor do Centro Brtiilt!iro di! Pt! q uisas t •~íca
veremos ad1ante. é, por um lado, o pretende investigar propnedades de
~

54 ano 1/ n .• 3 CIENCIA HOJE


sempre "dentro", ou melhor. na o te-
mos acesso às condiçoes que fixam
os v1nculos externos de nosso
mundo . Podemos por 1sso sempre
pensar esses vínculos como inexis-
tentes
Uma outra particularidade notável
da cosmologra está assoc1ada à acei-
tação. com base na extrapolação sim-
plista da expe(ência cot1d :ana de
cada um de nos (bem como nas re-
gras do ntual crentíf1co). da exrstêncra
de um e somente um Universo. Isso
parecena estar assoc1ado a uma
questão semântica de definição da
palavra universo. No entanto. como
veremos na 1nvest1gação da proposta
da bifurcação do Cosmos, devemos
estar preparados para reexamrnar hi-
Duas galáxias espirais : acima, NGC 5194; abaixo, NGC 4594. póteses alternativas e pensar na es-
truturação de um mundo mais com-
plexo, onde nosso Unrverso de ex-
perrência não denotana a grande To-
talidade mas uma categoria parti-
cular . por sua vez também abran-
gente e abrang1da Não podemos
identificar o Cosmos com a totaliza
• ção final. Só assim poderemos tenta r
entender o que chamamos de meca
nrsmos de b1furcaçao do Un1verso

visão oficial da ciênc1a sobre a


estrutura de nosso Universo
-
m
E
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~-4 se fundamenta basrcamente
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de Albert Einste1n, que estabelece a
:::! dinâmica dos processos de origem
g
•• grav1tac1onal e que vero substrtuir a
~ teorra newtoniana neste século
~
D
o A Teorra da Relat1v1dade Geral
-
o
E (TRG) pretende incorporar o espaço e

I I I

• rOVI OCIOnO IS
,_, I


e rocessos noo-1neores
quando isoladas. eriando-o;;e novas
Na escala de espaço c de tl.!mpo
estudada pela cosmologia. a força
-
cnção global do Cosmos. devido à
aparentL mexistência no Universo fonnas. no'\as configurações.
gera um mundo de evolução não
programada que pode constitu1r-~e
gravitacional é dominante sobre as de excesso de cargas cl~tncas não O caráter não -linear das forças num universo indeterminista (ver
outras forças que conhecemos em compensadas. texto)
gra\ Jtacionais tmplica uma proprie-
físic3 . Podemos dizer. de modo Os processos físicos lineares são Aç, equaçoe~ não-lineare~ pro-
dade nova. ate então desconhecida:
bastante simplificado. que isso se aqueles nos quais os cfeJtos devidos po'>tas por F tnstein em meados de
.. ,. . - . a de que. na gmvitac,;ao. existe um
deve ao caráter puramente atratt"o as vanas mtcraçocs presentes eqUI- I 9 I 5 para descrever os processos
proçcsso de autocatãlise pelo qual
da gravitação c à sua universali- valem à soma dessas intcntções to- 3\SOCi..tdos às forças gravttacionais
!:,'Ta'\ ltaçao gem gravitação. Isto é. o
dade A' demais forças ou são de madas uma a uma . Os processos constituem ainda hoJe um dos mrus
campo de forças gravitacional altera
curto alcance (responsávets por pro não-lineares, para os quais i\tO não alto, momentos de sucesso da e~pe­
sua configuraçao interagindo con-
cessos de nuclctzação c estabilidade se verificLt, condulcm a estruturas .
stgo propno.
, . culação teónca em física Elas le-
da matéria) ou. quando de longo al- mais ncJs, mais complexas, onde a varam a uma sén e de prcvi~ôcs que
cance (forças eletromagnéticas}. união das partes de um todo apaga A complexidade das estruturas foram confllTiladas por ob crv açocs
, .
podem ser desprezadas numa des- as caractensucas que possuem descri tas por equaç<'"-,es não- I i neares subseqüentes .

novembro/dezembro 1982 55
o tempo à dinâmica das forças de ori- molog ias art iculadas no passado gularidade. nada poderia ser compre-
gem gravitacional. através de uma es- onde esta visão dinâmica aparece ex- endtdo.
~ . . . .
trutura teonca CUJOS pnnc1pa1s mo-
.
plic itada . Para citar somente um O cônego belga Lemaitre. indepen-
mentos seriam : a unificação das exemp lo notável. podemos ler nas den temente de Friedmann. desen-
características do espaço (entendido Opere Scelte de Giordano Bruno volveu esse modelo em 1925. e tor-
como uma estrutura tridimensional) e (1580) que a existência de múltiplos nou conhecida essa visão quase fan-
do tempo (unidimensional) em uma universos provoca naturalmente a tástica de uma explosão cósmica pri-
totalidade: o contínuo espaço-tempo idéia de que "o repouso cósm1co é in- mordial a partir da qual tudo se teria
quadridimensional; e a caracterização concebível". ong inado . A contribuição original de
desta estrutura espaço-tempo atra- Lemaitre nesse contexto foi demons-
vés de instrumentos de medição (ré- descoberta de Friedmann es- trar que praticamente qualquer mo-
guas e relógios) capazes de operacio- teve. no começo. exposta a se- delo de Universo estacionário (isto é,
nalizar a noção de medida de distân- ~--~ veras críticas - porque lhe fal- cujas características gerais não se al-
cia espaço-temporal entre dois acon- tava então apo1o observacio- teram com o tempo) deveria ser alta-
tecimentos arbitrários. fixando uma nal. Ela se fundamentava em extra- mente instável. devido ao caráter di-
geometria não-euclidiana específica. polações de propriedades locais e de nâmtco-atrativo da gravitação. Po-
a chamada geometria dos espaços hipóteses simplificadoras neces- deria sobreviver por um certo perío-
curvos de Riemann. E. finalmente. a sárias à redução do compl1cado con- do. mas inevitavelmente deveria de-
associação a essa geometria rieman- junto de equações de Einstein a um sagregar-se . explodindo. liberando
niana de equações de movimento sistema de tratamento matemático sua energia interna . Desse modo. a
que relac1onam alterações das propri- acess ível. expansão do Universo esta ria asso-
edades métricas do espaço-tempo à Quase meio século depois. vamos ciada à necessidade de diminuir sua
presença de matéria . encontmr aquele simplificado modelo instabil idade e prolongar sua exis-
De posse dessa nova teoria da gra- cosmológico por ele proposto alçado tência .
VItação. Einstein pôde rediscutir a à cond1ção de modelo oficial. padrão A 1déia de um Universo não estacio-
Questão Cosmológica em bases bas- da cosmologia moderna . nário. em expansão. surgido de uma
tante disti ntas de seus antecessores. Com efeito. a maioria dos cosmólo- grande explosão. começa então a do-
oferecendo-nos a possibilidade de gos cons1dera que o universo pode minôr o pensômento dos cosmólogos
uma visão a um só tempo fantástica e ser entendido como uma estrutura -corroborada por observélções notá-
maravilhosa dos acontecimentos homogênea e isotrópica (isto é. cujas veis que pareciam confirmá-la.
cósmicos. Como se uma chave até propriedades são as fnesmôS em
Nos últimos anos. umô série de ar-
então desconhecida dos mistérios qualquer direção). que evolui com o
tigos e livros de divulgação conseguiu
dos céus nos fosse finalmente entre- tempo . A matéria distribu ida sob
popularizar essa idéia de Grande Ex-
gue (ou conquistada). forma de grandes conglomerados de
plosão Inicial (Big BangJ. segundo a
Em meados da segunda década galaxias estariô, além de certos dom í-
qual nosso Un1verso prov1ria da desin-
deste sécu lo. aparecem as primeiras nios espaciais. homogenoamento
tegração. ocornda há um tempo finito
tentativas relativistas de descrição do distribuída. tal qual um fluido contí-
(aproximadômente 1O bilhões de
universo tendo como fundamento nuo cujôs partes são indistinguíveis e
ônos). de uma estrutura sinç1ular.
teónco bás1co a relatividade geral . desprovidas de características pró-
além da qua l nada poderia ser com-
Parttcular atenção mereceu uma vi- prias ospec1a1s. Tais considerações.
preendido .
são evolutiva que trata o Cosmos que hoje estão baseadas em impor-
como uma bolha tridimensional in- tantes observações. acrescidas da hi- O prêmio Nobel de Física de 1978.
flando ao longo do tempo cósmico pótese de que não ocupamos posição concedido aos radio~strôn0mos Arno
g lobal. Este modelo. proposto pelo pnvtlegiada nem no espaço nem no A Penzias e Robert W. Wilson por ob-
matemático soviético Alexander Fri- tempo (uma ve rsão do Princípio de servações relac1onadas a essa explo-
edmann. introduz a idéia. então ver- Copérnico). conduz quase inevitavel- são. consolidou junto ao leigo a cer-
dadeiramente revolucionária, de um mente à acei télção do modelo cos- teza de que a imagem do átomo pri-
Universo em expansão que poderia mológico de Friedmann . mordial em explosão é considerada
ser espacialmente finito ou infinito. A evolução desse modelo 1mpl1ca pelos cientistas como a melhor repre-
Isso contrariava as visões estáticas que o volume do Universo. constituí- sentação do Cosmos.
dominantes nas teorias de seus con- do por todo o espaço tridimensional, Entretanto. por mais espetacular
temporâneos. algumas delas aceitas é função crescente do tempo cós- que seja a confirmação observacional
e até mesmo sugeridas por Einstein. mico. Isso significa que. em algum de algumas característ icas do mo-
que se colocara. nesse momento. em momento do pôssado. o volume de- delo cosmológico de Friedmann. ele
uma posição conservadora. em veria ter atingido o valor zero . Toda continua sendo uma grosseira simpli-
aparente contradição com suas matéria existente. isto é . todo o Uni- ficação do Universo. Por exemplo. a
idéias. em geral revolucionárias e não verso como o compreendemos hoje. idéia simplista de um flu ido contínuo
• •
convenc1onats . estaria então furiosamente concen- de matéria homogeneamente distri-

E talvez importante notar aqui que a tr~do em um só ponto. Dito de outro bu ído no espaço não resiste a uma
visão de um universo em evolução só modo. haveria uma singularidade ini- crítica um pouco mais severa. Há con-
aparece como novidade revolucio- Cial que teria gerado tudo o que figurações materiais isoladas de vari-
nária para a ciência do começo do sé- existe. todo o Universo: a matéria e o adas dimensões astronôm icas quo
culo . Com efeito. são várias as cos- espaço-tempo ; para além dessa sin- revelam uma boa dose de inomoge-
~

56 ano 1/ n . o 3 CIENC.A HOJE


Representação artística da irrupção no espaço de um buraco branco (no centro) . Este surgimento de matéria-nova do vazio
ainda não foi observado, mas é uma possibilidade decorrente da Teoria da Relatividade Geral de Einstein.

neidade em diferentes escalas (esca- sonho da simplicidade e. sofisticada- tas. deve ser inexoravelmente consi-
• la galática, estelar etc.) . mente. o endeusamos. Sua fraqueza . derada como o momento único de cri-
Em verdade, o modelo de Fried- porque não possui suficiente riqueza -
açao.
mann e por demais bem comportado, estrutural para descrever as múltiplas De um ponto de vista teórico, no
s1mpl1f1cado e idealizado Embora configurações do real. contexto da teoria cláss1ca da Relativi-
possa servir como ponto de partida dade Geral, sabemos que ó possível
para a construção de um modelo mais árias são as teorias alternati- existir grandes vaz1os no Universo,
completo do mundo, ele não permite vas sobre o comportamento constituindo imensas Ilhas de pura
descrever o formidável e complexo global do Universo. O estado geometria sem nenhuma forma de
fluxo do real em suas múltiplas e atual da astronomia não nos energia presente: somente o espa-
aparentemente inesgotáveis . formas . permite tomar uma decisão na esco- ço-tempo oscilando, contorcendo-se
Isso. é claro. se deve precisamente lha do modelo cosmológico capaz de sobre si mesmo, vib rando e susten-
à sua extrema simplicidade, que descrever nosso passado remoto. tando-se sobre o nada.
constitui a um só tempo sua força e Podemos no entanto questionar se No interior desses vazios - e de
sua fraqueza. Sua força, porque entre a Grande Explosão Inicial, presente um modo completamente imprevisí-
nossos mitos culturais acalentamos o em diversos modelos expansionis- vel- a maté ria pode eventualmente

novembro/dezembro 1982 57
aparecer e ser abruptamente injetada que nos asseguram a conexão e a de- o aceitarmos a hipótese da
no nosso espaço-tempo . Como se pendência entre o futuro e o passado. Grande Explosão. abdicamos
houvesse estado em gestação desde A teoria da Grande Explosão Inicial ~--4 de examinar o que ocorre para
a origem dos tempos, essa maténa pretende que a criação da matéria (e além dela. Nas vizinhanças da
nova aparece como uma forte explo- do espaço-tempo} teve um·instante singularidade inicial, a aplicação da tr-
são. liberando intensamente diferen- único comum universal. Isso significa sica passa a ser uma extrapolaçâo du-
tes formas de energia. como se a re- que a idade cósmica de toda matéria vidosa, pois toda informação anterior
petir em escala reduzida a Grande Ex- é uma só. qualquer que seja a forma seria apagada pela singularidade. pri-
plosão Inicial. São os núcleos atrasa- particular que ela tenha assum1do mordial.
dos de matéria (também conhecidos A descoberta de um núcleo atra- Independentemente do modelo
como buracos brancos), form1dáve1s sado, se e quando ocorrer, irá obngar- cosmológico adotad8, a conexão en-
m inicataclismos cósmicos tre as propriedades mais localizadas
Esses objetos, assim como os bem
c
l da matéria (como aquelas que carac-
conhecidos buracos negros. são con- terizam as partrculas ditas elementa-
seqüências quase inevitáveis da teo- res) e as propriedades globais asso-
ria da gravitação einsteiniana. Ambos ~ ciadas à estrutura do espaço-tempo
constituem configurações localizadas oo têm sido objeto de intenso estudo a
no espaço-tempo. situações hm1te da . 2 - partir da década passada- época em
matéria. que a idéia da unificação da fís1ca em
Um buraco negro constitui o está- uma única estrutura matemática
g io f1na l da matéria colapsada. uma (geométrica ou algébrica) fo i mcor-
configuração do espaço tempo es- porada ao pensamento dos fís1cos:
fericamente simétrica e estática, fe- uma das últimas conquistas do pro-
chada sobre si mesma. onde forças grama de Einstein
grav1tac1ona1s mu ito Intensas impe Embora uma das grandes etapas
dem a saída para seu extenor de qual- dessa unificação, 1sto é, a conexão de
quer forma de energia. até mesmo da uma teoria quântica da matéria com a
luz, donde seu nome. Teoria da Relatividade Geral, amda es-
O buraco branco, uma estrutura teja por ser completada, podemos
quase mversa dos buracos negros. aceitar hoJe - com uma boa proba-
também possui simetria esférica. bilidade de não cometermos erro -
mas, em opos1ção à Situação destes, que a presença de um campo gravita-
sua fronteira só é atravessada de den cional pode gerar um mecanismo
tro para fora. Além disso. tal objeto pelo qual partículas materiais de di-
possui uma propriedade notável que ferentes espécies são criadas.
o diferencia de outras estruturas gra- No exame desse mecanismo. des-
vitacionalmente organizadas. A irrup- cobrimos que a quantidade de ma-
ção de um núcleo atrasado, ejetando téria criada é função da intens1dade
maténa nova no espaço-tempo, se dá do campo Isto é, partículas materiais
de um modo completamente alea- Aglomerado globular Omega Centauri. são criadas preferencialmente nas vi-
tóno, eliminando qualquer possibili- Zinhanças de campos grav1tac1ona1s
dade de previsão desse fenômeno e nos a aceitar a idéia de que a criação intensos.
conseqüentemente de relação causal não cessou, ocorrendo descontínua e Tal fenômeno conduziu alguns
com fases e processos anteriores do aleatoriamente, e que tempos de Cientistas à elaboração, talvez precipi-
Universo. existência distintos devem ser atri- tada, da hipótese segundo a qual toda
, . .. .. .
Tal situação gera um indetermi- bUidos a essas configurações O con- a matena ex1stente possu1 ongem
nismo e nos obriga a uma revisão crí- ceito de idade do Universo perde as- gravitacional. De um certo modo,
tica das idéias, tão básicas em física. sim sua s1gnificância. esta idéia é um desenvolvimento na-

I I I

eocos ICO re O IVIS O •


Um modelo cosmológico relati- paço-tempo especificando suas pro- Do1s exemplos notávets desses umven.o (isto é, da gntvitação) é ele
vista é constitufdo basicamente de priedades geométricas em cada modelos foram criados pelos mate- próprio: o universo (e graças ao
duas estruturas: ponto. máticos Friedmann (ver texto) e caráter náo-linear das equações que
1) Uma distribuição específica de Essas duas estruturas estão arti- Kasner. o descreve) constitu1-se em pura
matéria (podendo consistir de uma culadas pelas equações de Einstein Este segundo criou uma estrutura geometria. Tal modelo de universo
determinada configuração de con- da gravitação e devem assim seres- teórica que descreve um universo deve ser entendido como a prcdo-
centração galáctica e/ou de energia pecificadas simultaneamente para no qual só existe campo gravitacio- minâncta ontológica do campo gra-
sob diferentes formas); que possam constituir um modelo nal e um imenso vazio de matéria. vitacional sobre a matéria (ver tex-
2) Uma configuração métnca does- coerente do espaço-tempo. A fonte da estrutura métrica desse to) .

58 ano 1/n . • 3 Cl l NCIA HOJE
tural, mais elaborado, do modelo de O resultado mais notável decor- sui significação se pensamos cole-
Friedmann do Universo. rente deste estudo consistiu no reco- ções de mundos em evolução, confi-
Assim, o campo gravitacional pas- nhecimento da existência de um fe- gurações distintas de universos com-
saria a ter predominância sobre os de- nômeno ainda não de todo entendido, possíveis (igualmente possíveis).
mais, pois seria ele- enquanto orga- que nos parece levar a admitir a ne- Assim, embora no começo de nos-
nizador da estrutura global do espa- cessidade de historificar o Universo, sa investigação tenhamos procurado
ço-tempo- que determina todas as ou seja, de introduzir a história no pro- utilizar leis deterministas e uma des-
demais formas da matéria. cesso de descrição do Cosmos. crição única para o Universo, somos
Neste momento, nosso projeto de A análise empreendida requer uma levados (ao tomarmos em considera-
conhecimento cósmico passa da fase certa dose de sofisticação matemá- ção o mecanismo de criação de partí-
ato m i s ta à fase g I oba I - c o n s i- tica, o que não cabe neste artigo, mas culas. gerando um cosmos viscoso) a
derando a totalidade como o funda-
mento principal do real e as individua-
lidades como meras abstrações, idea-
lizações de nossa divisão arbitrária do
mundo. Em outras palavras, teríamos
a predominância do espaço-tempo, o
gerador do mundo material.
As partículas materiais criadas pelo ....
ro
campo gravitacional constituem uma E
-o
fonte de energia que irá gerar altera-
ções na configuração do campo des-
crito pelas equações de Einstein. As-
sim, o campo gravitacional cria partí-
culas que alteram o campo, que altera
a produção de partículas, que modifi-
. .
cam o campo e ass1m sucessiva-
mente, em um processo conver- Galáxia espiral NGC 4565.
gente cuja estabilização requer o •
aparecimento de um mecanismo au- podemos apresentar nossa argumen- introduzir um indeterminismo no
to-regulador. tação do seguinte modo simplificado: mundo, criando assim uma questão
Nosso conhecimento desse pro- As equaçõês que descrevem o que está aparentemente longe de ser
cesso bastante complexo é ainda in- " Universo Viscoso" possuem tais compreendida.
completo, e utilizamos em sua análi- características que geram, em condi- As características indeterminista e
se uma descrição semifenomenoló- ções extremas de energia (um estado aleatória que nos aparecem nas duas
•.- • o,,,
QICa, tentando apreender seu com- que podemos 1dent1t1car como asso- snuaçoes exammaaas \nuc1eos aua-
portamento macroscópiCO. ciado, no modelo padrão, à o rigem do sados e Universo viscoso) nos condu-
Pode-se mostrar que um sistema Cosmos), um processo de bifurca- zem à necessidade. aparentemente
constituído pelo campo gravitacional ção. Isso significa que nas vizinhan- inevitável, de introduzir a idéia de de-
e partículas materiais por ele criadas ças desse estado a evolução do mo- pendência histórica do mundo, aban-
tem uma formulação equivalente à de delo pode seguir- em condições donando a descrição determinista
um fluido com viscosidade, descrito completamente idênticas - opções que supúnhamos estar garantida
por equações que representam um distintas, isto é, chegado nas vizi- pelas equações com que descreve-
sistema de processos termodinâmi- nhanças da bifurcação, o caminho mos os processos físicos g lobais e
cos irreversíveis. Desse modo, afas- " escolhido" pelo sistema para sua afastando-nos do modelo simplista
tamo-nos das características simplis- evolução passa a depender de even- do Universo padrão.
tas do universo-padrão de Friedmann, tuais flutuações no Cosmos de per-
reversível, para um modelo mais turbações que podem ocorrer e que
complexo, onde processos irrevers í- são aleatórias.
. . ,... .
ve1s passam a ter 1mportanc1a. Note-se que estamos falando do
Saímos assim de um universo sem Universo como um todo, cuja descri-
-
SUGESTOES PARA LEITURA
direção temporal necessária para um ção fazemos
, em um tempo cósmico
universo onde passado e futuro cons- global. E assim o próprio Universo NOVELLO, M . Algumas questões cosmoló-
tituem entidades dinamicamente dis- que se torna hesitante e que "esco- gicas. Revista Brasileira de Física, 10: 3
tintas. lhe" um caminho, de modo fortuito. (1980), p. 599.

U m o bservador que, como nós, WEINBERG, S. Os três primeiros minutos.
ecentemente, nós do grupo pretenda descrever um tal Cosmos · Rio, Guanabara Dois, 1980.
de cosmologia do Centro Bra- segundo leis deterministas, defron- SCIENTIFIC AMERTCAN. A nova astrono-
sileiro de Pesquisas Físicas ta-se aqui com um problema aparen- mia. São Paulo , Ibrasa. 1959.
resolvemos empreender o temente insolúvel, uma vez que o in-
ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNA-
estudo detalhado das equações que determinismo que percebe é real e só CIONAL, vol. 10, p. 5277 e s.eg. e p. 5428 e
descrevem uma tal estruturação do poderá ser compreendido através de seg.
mundo. sua história. Isso, claro está, só pos-

novembro/dezembro 1982 59
O Instituto de Física Teórica de São Paulo completa trinta anos.
Por ele passaram várias gerações de pesquisadores
que trabalharam em todos os campos da física teórica,
desde a cosmologia até a física de partículas subnucleares.

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Sílvia Campolim* )

sala ampla com estantes de sica Teórica, em São Paulo. construí- do IFT e da física teórica brasileira . E é
made1ra encostadas nos can- do no tempo em que se usava madei- indiscut1vel, para a comun1dade cien -
,__-f tos das paredes. onde os livros ra de lei para os revestimentos e pe- tífica. a autoridade da instituição na
estão empilhados. uma escri- dras de mármore e granito puros. não área em que atua: física de partículas •
vanmha grande no centro e o forte faltam vánas salas desse tipo, nem a e campos; física nuclear; física mate-
che1ro de made1ra. que só se dilui famosa foto de Albert Einste1n, para mática; cosmologia; gravitação; me-
quando as janelas sao abertas. com- "1nsp1rar os VISitantes" O terreno de cânica estatística. e fís1ca atômica,
põem o cenáno perfeito da fantasia cerca de 6.500 m 2 na rua Pamplona. todos ramos do conhecimento que
que um simples mortal possa ter so região central e sofisticada de São vêm sendo cultivados no país depois
bre o trabalho de um físico teórico. Al- Paulo, que serve de sede e patrimô- de 1934, quando o estudo da física
guém que passa dias e noites às vol nio do 1FT. ostenta um belo bosque moderna foi mtroduzido com a cria-
tas com fórmu las matemáticas com- de eucaliptos, além de várias jaboti- ção da Universidade de Sãu Paulo.
plexas. e que depois de abalar a con- cabeiras e pitangueiras que dão fru- A história do IFT. aliás, é mais re-
cepção que temos do mundo mostra tos de fazer mveja a qualquer habi- cente, e posterior ao surgimento da
a língua. sublmhando sua desco- tante da cidade grande. completando USP. Ele foi criado em 1951 e seu
berta . o cenáno para a imaginação. Só que funcionamento se efet1vou a partir de
No casarão de três pisos onde está são seres deste mundo. competen- •
•jornalista, col.abon~dorat dt Cl f::-.ICIA HOJE
instalado há 30 anos o Instituto de Fí- tes e cnat1vos. que fazem a história

60 ano 1/ n. • 3 CIENCIA HOJE


I

10 e co
O IFr dispõe de uma da'.) melho- bibhófilo a e la se dedicou desde a cm e Tecnologia um serviço regular Também integram o acervo da
res b1bhotecas especialiLaua~ do cnação do I Ff. assessomdo por um de prepublicações (preprints) por biblioteca do l f<T numerosas cole-
país. contando no seu acervo. de mcansável colaborador. o tenente ela receb1dac; dos principab centros ções, até mesmo raridades como
alto nível. com cerca uc I0.500 li- Moacyr A. dos Santos. do ex tenor. A listagem das mesmas Zeitschriftfiir Physik, Il Nuovo Ci-
vros e 9.500 volumes de periódicos A b1bl10teca do IFT mantém é dis tribuída regulármentc, para mellfo, The Britüh Journalfor Phi-
encadernados. A biblioteca é obra, também, com o apoio do Instituto efeito de requisição por parte das bi- losophy of Science e R eviews of
em grande parte. do profc~sor Jorge Brasile~ro de lnfonnaçoes em Ciên- bliotecas especializadas do paí~. Modern Phvsics, todas e las c om-
Leal Ferreira, que com o seu zelo de pletas.

- 14 de junho de 1952 O pa1 da idéia,


res ponsável pela sobrevivência do
1fT nos anos seg uintes. foi um enge-
nhei ro civil- José Hugo Leal Ferre1ra,
morto em 1978, aos 78 anos for-
mado pela Escola Politécnica do Rio
de Jane1ro. Conv1cto da importância
da Ciência fundamental, mas decep ·

c1onado com a adm1n1st ração e a
ciênc1a em seu meio, onde as priori-
dades políticas 1n1b1am a liberdade de
pesqutsa e conhecimento, Leal Fer-
reira passou a idealizar o mstituto . Se-
gundo o testemunho de José Reis,
antigo membro do Conselho Diretor
...
A biblioteca do 1FT conta com um acervo de alto nível, com cerca de 10.500 livros e
do 1FT, o que revoltava Leal Ferreira quase 10.000 volumes de periódicos encadernados, verdadeiras raridades.
era pe rceber o pnmado da tecnologia
sem lastro, em detnmento da ciência quando se comemoravam 20 anos de Foi assim, baseado no esforço pes
fundamental, e a ausênc1a de condi- IFT, ele agradecia especialmente ao soai de José Hugo Leal Ferreira ju nto
ções para que "os cientistas pudes- marechal Henrique Lott a cnação do a personalidades da época, q ue a his
sem viver exclusivamente para a instituto . Segundo Leal Ferre1ra, Lott tóna do IFT começou a se r forjada.
ciência, sem emperramento burocrá- tinha sido testemunha, nos Estados Suas primeiras gerações de fls1cos
t icos nem dissenções estéreiS, tan - Un1dos - onde chefiara a missão mi li- teóricos fo ram formadas por cientis-
tas vezes causadas em grandes insti- tar brasileira - da luta por recu rsos tas alemães e japoneses, que demar-
tuições pela luta em busca do po- dos pesquisadores amencanos de caram fases diversas de trabalho,
der" ciênc1a pura. "vtsto que as doações conforme conta o pesqUisador e pro-
A formação de Leal Ferreira no em vida ou pós-morte eram encami- fessor do I FT, D1ógenes Rodngues
Colég1o Mll1tar do R1o de Jane1ro. e as nhadas a Instituições técn1cas e com de Oliveira, seu atual coordenador de
amizades sólidas que lá começaram , finalidades marcadas de cunho utili- projetos institucionais. As atividades
v1eram respaldar decisivamente o táno Leu e estudou inumeros traba- do Instituto foram abertas c om a
que poderia ter sido apenas um so- lhos de cientistas em defesa da ciên- vmda ao Brasil dos físicos alemàes
nho. Em um artiÇJo escrito em 1971 , Cia fundamental, e guardou a l1ção." Carl Friedrich Von We1zsacker, Wi-

e _ers~ :ec 1vas


Surgido em 1952 como fu ndação -.ando a reduzir a atual dependência Científico c Tecnológico (CNPq) · ·• redutido mas eficiente, tem sido
de direito privado. o IFT co nta com da.., agência~ financiadora\ fe- com o qual ficariam as~egumdo-. re- norma constante nos 30 anos de
um considerável patrimômo. no der..tl~ Mesmo ass1m. há con\ciên- cur~os par.t a cobertura da pmgm- vida do IFT. A condição de funda-
qual '>C inclui a cdc própna. Situada cia dl.! que a obtenção de rccur\os maçao da institUição pelo período ção privada. na q ual os vínculos
em local privilegiado
,
c de alta valo- fedcn.ti'> continuará sendo indi\pen- de c inco a nos. com acompa nha- burocráticos são bem menores. sem
nLação E um importante ObJCtJvo \ávd apó., \C atingu aquele objetivo mento anual dos resultado-. obtidos . perda de eflc1ência e qualidade. e vi
uo conselhor diretor da fundação patrimom,ll E"'a idéia do "laboratório a\\OCÍa- denc.a o contraste com a sttuação
tomar e~te patrimônio rentável. a A manutenção da autonomia do do .. foi lançada. al1ás. h..í alguns burocratizada que tem as fixiado
tim de contribuu - ainda que par- IFf c a bu'lca de maio re-.rahilidade ano'l no próprio lFI . e parece ser tantas mst1tutções do pais.
c ialmente - para a manutenção da'> tinanceira poderiam \CJ alcançadas uma solução apltcável a vária' msu
ativ1dades do mstltuto. atm\é'> dl! um vínculo do tipo "la- tuiçocs do país Oc upa a prc-.idência do 1FT
esforços consideráveiS têm sido boratório aso,ociado ao Con:-.elho A adoção de uma adminio,tração atualmente o professor Jorge Leal

empreendidos neste '>Cntido. \i- Nacional de Descn\ol\ 1mento simp!Jficada. a cargo de um quadro Ferrcir.t

novembro/dezembro 1 982 61
I

Pelos cur-.os de pós-graduação altas energias. modelos a q:wrks, A realização dessas pesqu1sas pado periodicamente de congressos
do IFT passaram. desde I 970. 17 5 teorias de campo de calibre c exige condições adequadas, entre e estágios no exterior. em particular
alunos. dos quais 50 reccbcmm o tí- grande uni fi cação. monopolos as quais a manutenção de uma es- no Centro Internacional de Fís1ca
tulo de mestre e 12 o de doutor em magnéticos. estrutura c reações nu- treita colaboração internacional. Teórica (ICI'P) de Tricstc. na Itália,
física . Os temas de tese\ estão cleares. teoria de grupos c aplica- Atento a este importante objetivo. o com o qual o CNPq mantém convê-
geralmente associados às próprias ções. tópicos de matéria conden- 1FT tem convidado anualmente re- nio. c a Universidade de Paris.
pesquisas em andamento na insti- sada. Sl..,temas não-lineares. Nos nomados físicos do exterior, que Cabe salientar que está em fase de
tutção. cabendo salientar, a título seus 30 anoc:, de existência. o 1FT aqu1 vêm a fim de ministrar cursos c elaboração final, através da C A-
de exemplos. os seguintes: modelos publicou 350 trabalhos científicos seminários avançados c participar Pf::...<i, um convênio .de colaboração
cosmológicos, gravitação como em rev1stas cspcc1ahzadas mtcma- de pesquisas em andamento . entre o IFr c as universidades de

teoria de calibre. fenomenologia de CIOfiaJS. Seus pesquisadores têm partici- Parh VI e VII.

lhelm Macke e Reinhard Oehme. que f1co. marcou todos nós . Embora às quisadores. entre os quais Paulo Leal
trabalharam de 1952 a 1954. Na se- vezes um pouco autoritário. ele fazia Ferreira, Jorge Leal Ferreira e
qüência. estiveram no 1FT os profes- com que t r aba I há sse mos dura- Abraham H. Zimerman. G. W Band,
sores Gert Mol1ére, Werner Güttin mente, mas com entusiasmo". conta Paulo Roberto de Paula e S1lva. Syl
ger e Hans Joos, que f1caram até hoje o professor Paulo Leal Ferreira . vestre Ragusa, Diógenes R. de Oli-
1957 . Em 1959. o IFT ingressou no "Após apenas um ano de preparação. veira. entre outros A -expenênc1a Já
que seus pesquisadores denomi- os jovens pesquisadores do 1FT apre acumulada permitiu que a d ireção
naram "período japonês", inicial- sentavam à Reunião da SBPC em Sal- Científica pudesse ser exerc1da por
mente com a presença dos profes vador (1959) inúmeras comunica- elementos já formados pelo 1FT. Ape-
sores Mituo Taketani e Yasuh1sa Ka- ções de trabalhos. que forarn posten sar d1sso. a partir de 1962 o 1FT não
tayama, e depois dos professores Ta- ormente publicados em Progress of deixou de consolidar o aperfeiçoa-
tuoki Miyazima. Daisuke Ito e Jun'ich1 TheoretJcal Physícs. a pnncipal re- mento de seu pessoal c1entíf1co pro-
Osada . vista de física japonesa O trabalho movendo estágios no exterior. em ní-
A 1dé1a de in1c1ar uma colaboração ding1do por Taketan1 e Katayama vel de doutorado, sobretudo em uni-
com a física japonesa. conforme rela compreendia, em caráter regular, se- versidades norte-amencanas .
tou a Ciência Hoje o professor Paulo minários de informações semana1s Em 1962. a Escola Latino-America
Leal Ferre1ra, nasceu durante uma (com duas horas de duração}. nos na de Fís1ca, que reun1a físicos de
viagem que real1zou à Europa em quais cada pesquisador. mesmo os toda a América Lat1na no Méx1co, ins-
companhia de Jorge Leal Ferreira recém-formados. expunham durante pirou o Interesse de alguns pesquisa-
com o propósito de convidar físicos 15 minutos um art1go de pesquisa re- dores do IFT, liderados por Paulo Leal
europeus a VISitarem o IFT. As dificul- cente . Paralelamente. havia todas as Ferre1ra. pela Teona de Grupos de
dades encontradas fizeram com que semanas 'semmários culturais' em Lie. e deu ongem a um forte núcleo
se voltassem para os Japoneses. que artigos de fís1ca. importantes e de pesqu1sas nesta área da matemá-
Pelo sucesso posterior dessa ini- extensos. eram expostos por grupos. tica e em suas aplicações para a física
ciativa. muito deve o 1FT ao empenho coletivamente. cada membro sendo moderna. tanto em problemas liga-
do professor Roberto A. Salmeron. responsável por uma parte do dos à estrutura dos núcleos atômicos
àquela época no CERN (Centro Euro- mesmo." como na das partículas elementares
peu de Pesquisas Nucleares). em Ge- Como conseqüência desse exten- que mteragem fortemente. os há-
nebra. Em conseqüência das nego- so programa de trabalho. conforme drons.
ciações então empreendidas. v1eram relata o professor Paulo Leal Ferreira. No mesmo ano se invertia a polí-
ao Brasi l do1s eminentes físicos japo- o grupo adquiriu a base necessána tica de formação dos pesquisadores
neses - os professores Taketan1 e Ka para enfrentar com sucesso um pio- do 1FT. e sua direção Científica e ad-
tayama (este. asststente do famoso neiro programa de pesquisa. no qual mmistrativa se redefinia no trabalho
professor H . Yukawa) O 1nício do in- se procuraria revelar a existência de do físico Paulo Leal Ferreira. que cui-
tercãmbio com o Japão em f ísica teó- uma estrutura de partículas elemen daria dos destmos do instituto até ju-
rica daria posteriormente ongem a tares. proposto por Taketani e Katay- lho de 1981. Fo1 o período de consoli
novos projetos com trsicos japone- ama. "É inegável que a expenênc1a dação do IFT enquanto centro de pes
ses em outras institUições brasile1 adqu~r~da nesta época fo1 de Impor- qu1sa e formação em fís1ca teónca, e
ras. o que dura até hoje. conforme de- tância fundamental na direção pos- de cristalização de uma liderança .
monstra a colaboração Brasil-Japão tenor dos trabalhos do 1FT", assinala Atualmente, a direção c1entíf1ca do
em radiação cósm1ca. dirig1da pelo o professor ! FT é exerc1da pelo professor
professor César M. G Lattes. da Uni- O período de colaboração estran- Abraham H. Z1merman, cujo trabalho
camp. geira no 1FT - de 1952 a 1961 - fo1 ex- vem sendo complementado por uma
"A presença de Taketani. que se tremamente produt1vo para a forma- terceira geração de f ísicos. de atua-
revelou um excelente diretor cientí- ção científica dos seus primeiros pes- ção destacada nos últimos dez anos .

62 ano 1/n . o 3 CltNCIA HOJE


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Associando o exame de restos humanos, fezes fossilizadas ainda pouco tempo de existência- já fez descobertas impor-
contendo ovos de parasitos e outros indícios arqueológicos tantes para a compreensão da difusão das doenças parasi-
ou históricos, a paleoparasitologia - disciplina que tem tárias e, muitas vezes, da própria história do homem.

Luiz Fernando Ferreira*


Adauto J.G. de Araújo**
Ulisses t:u~ênio Confalonieri *..

exemplo do próprio estudo da No início do século XX, com a ob- nas amostras de material

orgânico-
História, a história da medicina servação direta de múmias egípcias tornou-se possível localizar diversas
,_-t também utiliza documentos pelo pesquisador britânico sir Marc doenças na Antigüidade clássica, e
como fonte de informação bá- Armand Ruffer, desenvolveram-se até mesmo na Pré-História.
sica. Na falta de documentos escri- os primeiros trabalhos de paleopa- Entre elas. foram descritas diver-
tos. obras de arte, como pinturas e tologia. que representaram um consi- sas doenças parasitánas. confirma-
esculturas. podem testemunhar a derável avanço para o estudo da his- das pelo encontro de parasitos pre-
existência de determinadas doenças tória das doenças. Com o encontro e servados em material arqueológico.
entre povos desaparecidos Todavia, a descrição de alterações patológicas
tanto os textos. muttas vezes escri- em achados arqueológtcos. permi- • ProfesiOr·titular de Parasitologia da f_'Cula Naci<>·
nal de Saude Publica, Fundação Oswaldo ( ' ru.t.
tos em ltnguas não mais utilizadas tindo datações precisas pelo método •• Prurn~or·asshtwte do IHpartammtu de Para Í ·
como as representações artfsticas do radiocarbono - que verifica a toloala da l fnínr..ídAde t'~eral do Riu de Janeiro.
.. • Prof~,ur-a»istente do [)(opartllmeoto de BloiOJia
requerem interpretações freqüente- idade dos achados pela medição da Animal da l!nher..idade Federal Rural do Rio de
mente subjetivas. quantidade de carbono-14 que resta Janrtro.

novembro/dezembro 1982 63
Como ramo da paleopatologia, surgiu •
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então a paleoparasitologla, dedtcada
ao estudo dessas doenças no pas- ,
. ...,, . I ; . ;.. v..f ., '"'i (" •
.. ./ ... •

sado
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No Brasil, trabalhos pioneiros no
,
ramo foram realizados pelo professor
Olympio da Fonseca Filho, que obser-
vou a inctdênc1a de parasttos entre os
indios Lengua (tribo tndígena para-
guaia radtcada em uma ilha isolada do
rio Paraguai) e comparou esses resul-
tados com pesquisas Similares reali-
zadas entre nat1vos da Polinésia e da •
Oceania. Assim, constatou traços co-
muns (no caso, a presença de deter- •

minadas paras1toses e a ausêncta de


outras), o que lhe permttiu formular
hipóteses sobre a dtstnbutção geo
gráfica de paras1tos entre as popula-
ções anteriores ao contato com euro- .. /
peus e africanos e possíveis rotas mi- A história da medicina vale-se de uma série de fontes, entre as quais os próprios
gratónas desses povos. Esses traba- documentos históricos, como esse livro de óbitos da igreja de Santo Antônio
lhos chamaram a atenção, entre nós, Aparecido, de ltacambira (MG), onde foram encontrados corpos mumificados.
para a parasitologia geográfica e com- Interpreta-se este trecho como a Brastl recém-descoberto Em Tratado
parativa, que proporciona dados pre- descrição de uma epidem1a de peste Descntivo do Brasil, de Gabriel Soa-
ciosos para a anál1se de relações et- bubônica Note-se a referência ao res de Sousa (1587), encontramos a
nográficas entre populações cujos in- quadro clínico (bubões na reg1ão tn seguinte passagem.
divíduos apresentem Infestação pelo gumal) e à presença de ratos, fator "Tem esse gentio out ra barbárie
mesmo tipo de parasitos. fundamental na transmissão da muito grande, que tomam qualquer
doença. desgosto, se anojam de maneira que
ánas referências em do- Ainda no Velho Testamento. en- determ1nam de morrer, e põem se a
cumentos antigos perm1tem contra-se menção, no L1vro de Nú comer terra. cada dia uma pouca, até
1denttf1car ou supor a presença meros, a "serpentes ardentes" ou que vêm a deftnhar e inchar do rosto
de determinadas doenças in- "serpentes de fogo", em certas edi e olhos, e a morrer dtsso, sem lhe
fecciosas ou parasitárias. Ass1m, en- çoes anotadas da Bíblia identificadas ninguém poder valer, nem desviar de
contra-se no Velho Testamento: como "dragões", que "devoram os se quererem matar o que afirmam
"Os Filisteus tomaram a arca de homens por dentro" Interpreta-se que lhes ensmou o dtabo, e que lhes
Deus, meteram-na no Templo de Da- esta referência como possível 1nfec- aparece, como se determinam a co
gon e colocaram-na junto de Dagon. ção pela f1lána Dracunculus ("peque mer terra "
A mão do Senhor carregou pesada- no dragão") medmens1s, verme que Pera de Magalhães Gândavo, em
mente sobre os de Azoth e desolou- se desenvolve no corpo humano e H1stóna da Província de Santa Cruz
os; castigou com tumores, tanto os cujas fêmeas adultas, que chegam a (1576), fazia observação semelhante.
da Cidade como os de seu territóno. at1ng1r um metro de comprimento. e esses dois textos sao Interpretados
Todas as cidades estavam cheias de migram para o tec1do subcutâneo dos como descnções do quadro clínico da
medo de morrer, e a mão de Deus membros 1nfenores, abrindo perto do anc1lostomose, que entre seus s1nais
fazia-se senttr extraord1nanamente tornozelo uma fenda por onde as lar- apresenta nos tndtvtduos afetados o
pesada; as pessoas que não mornam vas são expelidas na água Na África. háb1to de comer terra na fase grave
eram feridas nas partes ma1s ocultas onde a "f1lána de Medma", como da doença.
do corpo e o alarido de cada cidade também é conhec1da, fo1 descnta em Este fato pode ser observado ainda
sub1a até o céu. Os Filisteus então populações pnmitivas, os nativos tra- hoje no mtenor do Brasil, onde chega-
procuraram seus sacerdotes e per- tam a paras1tose prendendo a extre- se mesmo a vender, nas fetras, pe-
guntaram: que devemos nós dar-lhe midade do verme em um graveto. quenos tijolos de barro para roer Jd
pelo delito? Eles responderam: fareis enrolando-o gradativamente até que em 1519, o cronista espanhol Del
cinco bubões de ouro e cinco ratos de todo ele seja extraído Castillo observava. na c1dade de Te
ou ro seg undo o número de príncipes Além da Bíblia, numerosas re- nochtitlán, centro do império asteca:
dos Filisteus, porque vós e vossos ferênc1as a doenças desse t1po po- "Muttas mulheres vendiam peixes e
prínc1pes fostes fertdos de uma dem ser encontradas em textos gre- pequenos 'pães' feitos de determi-
mesma praga Fare1s pois f1guras de gos e latmos, bem como em papiros nada argila especial que eles acha-
vossos tumores e dos ratos que de- egípcios. vam no lago e que se assemelhava ao
vastaram a terra e dare1s glória ao Os cron1stas portugueses do sé- queijo "
Deus de Israel para ver se t1ra a sua cu lo XVI também de1xaram importan- Os estudos diretos de material ar-
mão de uma vez de vossos deuses e tes testemunhos a respeito da exis- queológ :co desenvolveram se a par-
da vossa terra." têncla de doenças parasitánas no tir das técnicas cnadas por s1r Marc

ano 1/n. • 3 CIÊNCIA HOJE
an1ma1s. e para tanto têm sido pro- em 1972, cujo periódico. o Paleopa-
postos alguns parâmetros. Em sua thology News/etter, reúne as publica-
ma1ona. os coprólitos são encontra- ções sobre paleopatolog1a e paleo-
dos em grutas ou sítios arqueológi 1
parasitologia.
cos de ocupação humana. dispersos Para o fornecimento de material
nas d1versas camadas. agrupados em para exame. é fundamental a cola-
fossas ou ainda no interior de corpos. boração de arqueólogos. e fizemos
O matenal é coletado pelo arqueólo- contato com a equipe do professor
go, que o envia ao parasitologista Ondemar Dias Júnior. do Instituto de
para exame. Arqueologia Brasileira. e com o Dr.
Durante a análise no laboratório, André Prous, do Museu de Históna
certos parâmetros, como a forma, a Natural da Universidade Federal de
coloração, o tamanho e a cor que a Minas Gerais.
solução adquire após três dias de A análise do material que recebe-
imersão do coprólito, podem indicar mos até agora de diversas localida-
sua origem. Neste sentido, já foram des do Brasil e de outros países da
feitos trabalhos experimentais com América do Sul permite algumas con-
fezes artificialmente dessecadas de clusões sobre parasitoses intest inais
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animais e de seres humanos para na América pré-colonial e no início do
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comparação. Verificou-se que as fe- período colonial.
g zes humanas tornam a solução iniCial-
---oo mente hial1na, de cor preta e opaca, lém dos relatos dos cronistas,
além de apresentarem odor fét1do. que não deixam dúv1 d as
As múmias de ltacambira datam do sé- Esses dados, porém, podem não ser ,__-t quanto à incidência de deter-
culo XVIII ou XIX, e foram utilizadas
para pesquisas em busca de parasitos exatos ou conclusivos como pude- minadas parasitoses na época
intestinais. mos verificar em algumas experiên- colonial. foi constatada a presença de

c1as. vermes (helmmtos) em corpos mu-
Armand Ruffer para permitir o exame A análise do conteúdo macro e mi- mificados datados do século XVI II ,
microscópico de tecidos mumifica- croscópico pode trazer respostas encontrados no municfpio de ltacam-
dos . Em suas pesquisas. Ruffer en- mais objetivas, como no caso do en- bira (MG) .
controu ovos de Schistosoma hae- contro de restos vegetais e animais. O povoado de ltacambira foi fu n-
matobwm. um dos vermes causa- denotando uma alimentação onívora. dado em 1674, mas só se consolidou
dores da esquistossomose. em te- Conclu1-se também que o coprólrto é no século seguinte, com o garimpo
cido renal de múmias egípcias data de ongem humana quando se encon- de diamantes. A igreja local, Santo
das de 1250 a.C .. confirmando ases- tram fragmentos de carvão, denun- Antônio Aparecido, fo1 construída no
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peculações em torno de referfmr.i~~ ~ rirlnrln
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----····--v---- ''""'::1'"' ''""" t--'''-'tJVIV ' " •v• uv ..;)CvUIU A v 111, t: IILt::l d lll -::,~ ~11-

hematúria (presença de sangue na dos alimentos, e, principalmente, terramentOS tanto no adro quanto no
urina) em papiros egípcios. quando se encontram parasitos es- corpo da igreja, conforme consta de
O encontro de parasitos em ma- pecíficos do homem . seu livro de óbitos.
terial arqueológico se tornou ma1s Em certas Situações, porém, o tra- Durante a reforma da 1greja. há
freqüente quando se iniciaram as balho é extremamente facilitado cerca de cem anos. os corpos enter-
análises em copról!tos, ou fezes res- quando os coprólitos e seu conteúdo rados no adro foram encontrados mu-
secadas. Identificam-se do1s t1pos de podem ser comparados aos retirados mificados. e então depositados no
copról1tos : os mineralrzados e os pre de corpos mumificados encontrados porão da Igreja Três desses corpos,
servados em estado orgân1co. e são no mesmo sítio ou quando. no caso coletados pelo h1stonador S1meão Ri-
estes últimos que se prestam à rei- de coprólitos de anima1s, a fauna beiro Pires, de Montes Claros. foram
dratação e ao exame microscópico atual pode ser estudada e seus para- env1ados a nós para exame de parasi-
A técnica de re1dratação dos copró- Sitos relacionados aos dos copról1tos . tos intestinais.
• lltos fo1 proposta pelos Cientistas Cal Embora a paleoparasitologia. amda Retiramos, através de um onfício
len. norte-amencano. e Cameron, ca- em fase experimental, tenha propor- aberto na parede abdommal dos três
nadense. em 1960, mediante o uso cionado respostas a alguns proble- corpos, fragmentos de vísceras e co-
da solução de fosfato tnssód1co utili- mas, há questões sem solução e mui- prólitos. Após o processo de reidrata-
zada para a recuperação de matenal tos achados ainda não foram cate- ção em fosfato trissódico, encontra-
zoológ1co dessecado. Os coprolitos goricamente 1dentif1cados mos no sed1mento dos coprólitos,
1mersos na solução reidratante read- exammado ao microscópio. ovos de
quirem o aspecto e a forma onginais, uando in1c1amos nossa li- Tnchuris tnchwra e de Tnchostron-
perm1t1ndo que seu conteúdo, Inclu- nha de pesquisa em paleo- gylideo. A presença desses paras1tos
sive os parasitos. seja observado ao parasitologia em 1978, dis- em 1ndivfduos que viveram no século
microscópio ._____púnhamos apenas de arti- XVIII traz dados para o estudo da dis-
O estudo de parasitos em copróli- gos esparsos, publicados em periódi- persão da tncuríase. verminose prati-
tos apresenta . às vezes. problemas cos de difícil localização Hoje, é bas- camente assintomát1ca hoje encon-
de d1fícil solução É fundamental co- tante ativa a Associação de Paleopa- trada em grande parte da população
nhecer sua origem. se humanos ou tologia. fundada nos Estados Unidos em todo o mundo. e evidencia a pre-

novembro/dezembro 19 82 65
também de corpos. como o de uma
criança que também tivemos oportu-
nidade de examinar.
Para o exame deste corpo mumifi-
cado utilizou-se um retossigmoidos-
cópio, a fim de evitar danos à rede
que o envolvia. Os coprólitos retira -
dos da cavidade abdominal revelaram
os mesmos parasitos encontrados
nos coprólitos coletados do solo :
ovos de Trichuris trichiura e de an-
cilostomídeos. confirmando a pre-
sença desses parasitos entre índios
da América pré-colonial.
Também nos coprólitos do sítio de
Boqueirão Soberbo, em Varzelândia.
a cerca de 300km de Una i. com data-
ções de 4.905 + 85 a 1 .325 ± 60
anos, foram encontrados ovos de Tri-
churis trichiura e de ancilostomídeos.
Estes achados de Varzelând1a e
Unaí são especialmente ;nteressan-
tes por confirmarem as hipóteses de
Olympio da r onseca. baseadas em
estudos anteriores. de que a ancilos-
tomose ja se encontrava na América
• antes dos descobrimentos. não
tendo sido introduzida pelos colomza
dores europeus ou pelos escravos
africanos. As Implicações etnográf1
cas dessa descoberta afetam as con-
cepções correntes acerca das corren-·
tes migratórias humanas que trou -
xeram os primeiros habitantes da
América
Seg undo estas concepções, o ho
mem 1ngressou no contmente amen
cano através do estre1to de Behnng.
vindo da Sibéna . No entanto, sabe-se
que os ancllostomídeos humanos fa-
zem uma parte de seu ciclo evolutivo
no solo, necessitando para tal de
temperaturas quentes. pois as larvas
não suportam o frio intenso Como na
época presumida dessas migrações
a rota percorrida pelos povos que
--oo ocuparam a América estava subme-
tida a temperaturas muito bai~as. é
Na gruta do Gentio 11, em Unaí (MG), entre outros achados arqueológicos, encon-
trou-se o corpo relativamente bem conservado de uma criança. Por meio de um
impossível que essas populações es- •

retossigmoidoscópio, Adauto de Araújo retira material para exame. tivessem infectadas por ancilósto-
mos Assim, a hipótese ma1s prová
sença de um helminto (o Trichostron- A Gruta do Gentio li, em Unaí, apre- vel para explicar a presença do para-
gyfldeo) apenas ocasionalmente en- senta datações mais antigas, de sito no cont1nente é a de que tenham
contrado em fezes humanas, pois é 8.620 :: 100 anos. período corres- ocorrido m1graçoes •
de cont1ngentes
basicamente um parasito de herbí- pondente à ocupação por caçadores- significativos. da As ia para a América.
voros. coletores. Mas foi nas camadas mais através do Pacífico. Essa teona e sus-
recentes. datadas de 3 .490 -+- 120 a tentada pelos antropólogos norte-
,....-- m segUida, a equipe do Instituto 430 ± 70 anos, época correspon- americanos Meggers e Evans, e tam-
de Arqueologia Brasileira nos dente à ocupação por agricultores- bém fo1 aventada pelo navegador
t--- enviou copról1tos coletados em ceramistas, que foram encontrados Thor Heyerdahl, que replicou este tra-
___ sít1os arqueológicos dos municí- numerosos coprólltos. As condições jeto na célebre expedição da Kon- Tiki
pios de Unaí e Varzelândia. também microclimát1cas da gruta permitiram embora no sentido oposto (América-

em Minas Gera1s. a conservação de restos orgânicos e Asia).
~

66 ano 1/n. • 3 CIENCIA HOJE


ecentemente, recebemos
para análise copról1tos cole-
tados pelo professor Lautaro
N unez em Tll1v1che, no norte
do Chile O s1tio arqueolog1co Situa-
se a 40km da costa, em regtão árida .
O extenso acampamento de que se
compõe o sítio tem datações que vão
de 5000 a 2000 a.C.
Confirmou-se que os coprólitos en-
contrados sao humanos pela p re-
sença de f1bras de plantas cactáceas
(Opuntta sp.) e de partes duras de
pe1xes e outros vertebrados, além de
numerosos fragmentos de carvão.
Nesse material , talvez pela grande
quantidade de matéria vegetal. a
solução reidratante tornou-se mar
rom escura e translúcida. e não
--
o
opaca como é comum no caso de o
coprólitos humanos.
O exame microscópico revelou a A análise de coprólitos revela muitas presença fica asstnalada no cerrado
presença de ovos de Oiphyllobo- vezes dados de interesse. A presença mine1ro há 12.000 anos. Este dado
de ovos de ancilostomídeos (acima)
thnum pactficum,. um verme quo nos coprólitos de Unaí, por exemplo,
pode contribuir em estudos sobre o
parasita pe1xes e mam iferos como o atesta que nem todos os habitantes paleochma e a distribuição cronoló-
leão-marinho e outros animais do gru- humanos da América pré-colombiana gica da fauna na região.
po das focas, mas que em certas con- aqui chegaram através do estreito de
dições podem parasitar o homem . Behring, como se supunha. Abaixo, Inda em fase experimental, en-
ovo de D. pacificum encontrado em co-
A d1fll0botríase humana por O pa- prólito humano colhido no Chile. frentando problemas met o-
ciftcum é encontrada ainda hoje no ,__-t dológ1cos constderáveis, a
norte do Chile e no sul do Peru, indi- paleoparasttologta de todo
cando o háb1to que têm essas popula modo Já revelou como pode contri-
ções de 1ngenr carne de pe1xe malco- bu ir para a história da medictna, for-
Zida. O encontro do mesmo paras1to necendo dados para a compreensão
em populações pré-coloniats fornece da d1stnbuição geográfica das parast-
informações sobre a antigü1dade da toses e das origens dos processos de
1nfecção e sobre seus háb1tos alimen- Infestação, bem como para o conhe-
tares. Cimento de hábitos culturais de po-
vos pnm1tivos. como a alimentação, e
á a identificação de coprólitos de seus fluxos mtgratórios
animais e dos parasttos neles
--
o
encontrados torna-se. em al- o
SUGESTOES PARA LEITURA
guns casos. extremamente dif í-
cil e implica trabalhos experimentais nnos" situavam-se no f1nal de tune1s '
ARAUJO. A.J.G. de. Contribuição ao es
e o exame da fauna atual. Por esse com 2,5cm de diâmetro. e mu1tos tudo de lzelmimo$ encontrados em ma-
raia/ arqueoló~ico no Brajif (te e).
motivo, e com base em experiências deles se encontravam junto a enter- R10 de Janeiro, ln.;;tituto Oswaldo Cruz.
anteriores. iniciamos uma linha de ramentos humanos. 1980.
trabalho em que pretendemos catalo- Durante o exame microscópico. ARAUJO. A.J G de, fERRE IRA. I..r . c
.. CONFALONJERI . U.E.C. "A contri-
gar a morfologia e as mod1f1caçõos encontramos ovos que não consegui- butJOn to the study o f helmmth finding-.
sofridas no processo de dessecação mos ident1f1car. Solicitamos então a in archaeological material in Bralil~ln
dos restos alimentares e das formas captura de pequenos anima1s da área Revista Brasileira de Biologia 4 I :~73 -
881. 1981.
evolutivas de parasitos. e. no intestino de lagartos Tropidurus CALLEN. E. O. e CAMFRON. T.W.M .
O trabalho efetuado em coprólitos sp) encontramos fêmeas grávidas " A Prehistoric D1et Re\ealcd by Co-
de lagartos, datados de até 12 000 do verme Parapharyngodon scelera- prolitcs". In Thc Nev. Scienti'it 8:
35-40, 1960 .
anos e encontrados em abrigos sob tus (da tamíha Oxyundae), com ovos COCKBl!RN. A. e E. (orgs.). Mummicc;,
rocha em Santana do Riacho (MG). idênticos aos encontrados nos copró- Di ~ease c1nd Ancicnt Culturcs. Cam- ·
bridge University Pre~s. 1980.
ilustra o problema . litos examinados. Observando as fe- FONSECA FILHO, O. Paras1t1smo e migra-
A equipe do Dr . André Prous cole- zes desses lagartos após a desseca- ÇtlCS humanas pré-históricas Rio de Ja-
tou, durante escavações no Grande ção artificial em estufa, venficamos netro, Familiar, 1972.
MEGGERS, B.J. América pré-histórica. Rio
Abrigo de Santana do Riacho. nu - que apresentaram a mesma morfolo- de Jane1ro . Paz c Terra, 1979.
merosos coprólitos agrupados em gia e os mesmos ovos do parasito. RUFfER . M.A. Studic!> m the Paleopatholo-
"ninhos". associados a possíveis Dessa maneira. conseguimos identi- gy of Eg)pt Chicago. Univer ity of
Chicago Pre~s . 1921.
restos de pele de réptil. Esses "ni- ficar o paras1to e seu hospedeiro. cuja

novembro/d e ze mbro 1982 67


A vacinação é um dos atos médicos que com mais freqüência se pratica no mundo.
Anualmente, alguns milhões de doses de diversas vacinas são aplicados
em todos os quadrantes da terra,
conseguindo-se por intermédio delas um controle eficaz de várias doenças transmissíveis e,
por vezes, a sua erradicação, como ocorreu recentemente com a varíola.

C- - - - - Nélson Moraes• )

prática da vac1nação foi introdu- "pega" típica e, em 1 " de julho do sado. Publicou -o então sob a forma de
zida pelo méd1co 1ngles Edward mesmo ano, Jenner inoculou no me- livro, com o título de Investigação sobre
~_. Jenner (1749-1823), o primeiro a nino material s1mllar mas colh1do de le- as causas e efe1tos da vario/a vaccinal,
provar cientificamente um fato sões de um doente de varíola, e o jo doença descoberta em alguns dos con-
que há mUJto Já era conhecido dos fa- vem Ph1pps não contraiu a doença. Me- dados do oeste da Inglaterra, especial-
zendeiros 1ngleses- o de que uma pes- ses ma1s tarde, o men ino foi nova- mente Gloucestershire, livro que é hoje
soa acometida da forma leve de varíola mente inoculado, com o mesmo resul- considerado um clássico da medicina
bovina (cowpox) f1cava protegida con- tado. mundial
tra a forma grave da varíola. Além desta prova direta, Jenner Ino- Na Amórica, a primeira vacmação
Jenner fez sua experiência decis1va culou material das lesões vanollcas em ocorreu em 8 de julho de 1800. quando
em 14 de maio de 1798. quando trans- dez pessoas que haviam contraído an- Benjamin Waterhouse, da Escola de
fenu matenal retirado de uma lesão pro- tes a varíola bov1na, verificando que to- Medicina de Harvard. vacinou seu filho
vocada por aquela doença na mão de dos eles eram resistentes à forma mais de cinco anos de tdade. Depo1s de seu
uma ordenhadora chamada Sarah pem1c1osa da doença. filho e dois escravos terem s1do vacina-
Nelms para o braço de um menino de Em 1796, Jenner apresentou os re -
otto anos de 1dade, James Phipps . A sultados de suas observações a Real •Profe-.~r
dr mtilícima pre~rnliva da Unhe~íd~adr dn
f'~do do Rio dr Janriro (t lt .RJ),
inoculação provocou no menino uma Sociedade, mas seu trabalho foi recu -
~

68 ano 1/n . o 3 CIENCIA HOJE


dos com sucesso. foram inoculados no sentido de eliminar dela o tecido ner- vacina contra a pneumonia pneumocó-
com varíola com resultados negat1vos voso do animal que fornec1a o vírus. o cica. a vacina contra a febre amarela, a
Em 1802. em Boston. fez-se uma que fo1 conseguido recentemente vactna contra a tuberculose. a vac1na
das experiências mais crucia1s da h1s O grande passo seguinte registrado contra a raiva e a vactna contra a hepa-
tória da vacmação. envolvendo a Ino- no desenvolvimento das vacinas foi a tite B.
culação de 19 meninos com varíola bo atenuação dos vírus por vários proces-
vina e sua rnoculação posterior com sos. A tenuando-se. o vírus perde a ca- vac1na ant!Vanól!ca pe rm1t1u
varíola. levando a Com1ssão de Saúde pacidade de produzir a doença no ho- transforma r uma doença que
daquela cidade a declarar que "a varíola mem. sem contudo deixar de 1nduzir no ,__-I aflig1a a humanidade desde tem-
bovina representa segurança completa organ1smo onde é inoculado a produ- pos imcmoriais. provocando
contra a varíola". ção de anticorpos. Em 1955, Sabin e ep1demias e d1z1mando por vezes po-
A palavra "vacina" vem de vaccmus, Koprowski apresentaram seus traba pulações 1nte1ras. no pnmeiro caso de
do lat1m vacca (vaca). c o Novo dicio lhos sobre a atenuação do vírus da pol1 erradicação em termos mundiais. Com
nário da língua portuguesa, de Aurélio om1ehte. abrindo o cam1nho para as 1t efeito, em outubro de 1979 a varíola fo1
Buarque de Holanda. ainda reg1stra nhas de pesqu1sa com base em proce- cons1derada errad1cada do planeta, 1sto
como primeira acepção de "vacina": dimentos de atenuação que susci- é, cons1derou-se extinto seu agente in-
"doença infecciosa. contagiosa. que taram o surgimento de tantas novas va- feccioso Há autores, mais voltados
acomete o gado vacum e cav(;llar. sob a cinas contra infecções por vírus. para resultados práticos, segundo os
forma de pústulas. e cuja transm1ssão quais "errad1car" significa reduzi r a fre
ac1dental ao homem o imuniza contra a ma vacina. para ser útil à colet1v1 qüência de uma doença a um n ível tal
varíola." dade, permitindo sua apltcaçao que sua transmissão resulta perma-
Quase cem anos depois da primeira em massa. deve satisfazer a di- nentemente 1nterromp1da. Ass 1m.
experiência de Jcnner. Louis Pasteur versos critérios. entre os quais mesmo que algum exemplar da espé-
(1822-1895) empreendeu o desenvolvi merecem destaque os seguintes: dis- cie transmissora venha a sobreviver,
monto SIStemático de um tratamento ponibilidade. conservação. ef1các1a. lno- pode-se falar em e rrad icação da
preventivo para a raiva. que resultou no cuidade. duração da imunidade. Inexis- doença
primeiro caso de produção deliberada tência de contra indicações. facilidade A eliminação completa da varíola só
de uma vacina Em 1881. ele e seus de aplicação. prazo de validade. ace1ta- se tornou possível devido a uma fi rme
colaboradores verificaram que o bil1dade

pela população e custo. decisão polít1ca. sob a coordenaçao e
"veneno da raiva po1s ainda não re- E muito difícil que uma vacina possa com o apo1o da Organização Mund1al
conheciam a ex1stonc1a dos vírus po- atender plenamente a esses dez cri- de Saúde (OMS), à ut1hzação de uma
dia ser obtido de forma relativamente térios ao mesmo tempo; ex1stem algu- vac1na lioftltzada de alta potência, ao
pura do cérebro e da medula de um ani- mas. entretanto. que o fazem. como é uso de injetores a pressão (pistolas) de
mal infectado, e com esse "veneno" o caso. por exemplo. do toxóide tetâ alto rendimento, e à instituição de uma
(na verdade um preparado contendo n1co. amplamente conhec1do como viailânc1a OP1dem1olóa1Ca muito riao
- - ro-
suspensão de tec1do nervoso do an1 "antt tetânica". ou da vacina contra a sa, capaz de investigar cada caso sus
mal. com vírus mortos ou vivos) 1no-· varíola. pe1to
cularam cães mordidos por outros sabi- Entre as vacinas que satisfazem ra- O Brasil -onde chegou a haver um
damente doentes. e os salvaram da zoavelmente a esses criténos. devem mov1mento armado em reação à vaci-
morte pela raiva ser mencionadas a vacina contra o té- nação compulsória contra a varíola de-
Animados com os resultados. pas- tano, a d1fteria e a coq4eluche. ou cretada em 1904. no governo de Rodri-
saram a aplicar o mesmo tratamento. "tríplice". a vacina contra a poliomielite. gues Alves teve seus ult1mos q uatro
que exig1a de 21 a 28 doses do prepara- a vacina contra o sarampo, a vacina casos dessa doença registrados em

do, no homem. também com sucesso. contra a rubéola, a vacina contra a ca- 1971, na cidade do Rio de Janeiro.
Depois de Pasteur. todo o esforço em xumba, a vacina contra a gnpe, a vacina Atualmente. a vacinação antivariólica
relação à vac1na contra a ra1va fo1 feito contra a meningite meningocócica, a deixou de ser feita no país, e ninguém

I I

une ona~ os oc1nos .


Quando um indivíduo é mva de engolfar c digerir germes mva- Ao.., vacinas são antígeno-.: subs- variada..,, podendo o..,cr um produw
dido por um mi<.:roorgant~mo. sores. tanctas que reproduzem no orga- químt<.:o I!Xtraído do micrnorga-
ocorrem em seu corpo reaçÕ<'·' de A-. reações que ocorrem no nr- nismo humano as mesmas reações nbmo ou por c h.: produzido. corno
imunidade , que se caractcnzam gani mo infectado são complexa. . provocadas peJo-. microorganis- no ca . . o do toxóidl! tetânico: uma
pelo aparecimento de células que e altamente específicas. isto é : mos invasore-.. Dc...,cncadl!ando re- b:tct~ria inativada. como no ca. . o
sintetizam c sccretam sub-.tâncias para cada tipo de microorganic;;mo açôcs de imunidade. têm a capaci - da vadna contra a coqueluche, ou
protetoras - os anticorpo.\ · ou ele: produz um ou mais ttpo~ de an - dade de preparar antecipadamente um vtru' vi vo atenuado. como no
de células que podem partictpar ticorpo' Toda~ as \Ubstâncias que o organismo humano para cnfren caso do vírus do sarampo Todas
diretamente de proce-.sos de de provocam esse ttpo de reação tar com êxito uma inva ... ão futura . elas têm ern comum. por~m. uma
fe,a. como é o caso dos macroja- quando introduLida-. no orgamsmo característica fundamental: seu
go.\, c~ lulas do sangue com !!rande humano são conhecidas pelo nome As substância que entram na poda antieênico.

capacidade dcjagoâto.w. ou seJa. genérico de antígenos. compo!)tção das vacinas são muito

novembro/dezembro 1982 69
mais pode exigir atestado de vacinação fracionamento a álcool de Pillemer, são contra o sarampo além do 12 o mês
contra a varíola, como era uso de diver- diluídas em uma solução apropriada de vida. Esses estudos mostraram
sas instituições. contendo timerosal {Methiolate) como que mais de 22 °/o das cnanças não
preservativo. A vacina contra a coquelu- desenvolvem anfcorpos contra o
vactna contra a poflom1elite che é preparada mediante o cresci- sarampo quando vacrnadas aos 12
usada atualmente no Brdsll é de mento da bactéria que a provoca. a Bor- meses de idade . Pelo menos 93 o/o
1'---t vírus vivos atenuados. Contém de te/la pertussis, em caldo apropnado. das crianças vacinadas aos 14 meses
os três tipos de vírus que provo- e sua suspensão é ministrada junta- de idade ou depois apresentaram
cam a doença, nas seguintes concen- mente com os toxóides tetânico e dif- soroconversão. isto é, formação de
trações por dose : tipo l 800.000 ténco. antrcorpos Como a infecçao por
unidades ; trpo 11- 100 000 unrdades. Três doses dessa mistura contêm 12 sarampo durante o prime:ro ano de
e tipo 11 I - 500 000 unrdades. unidades protetoras de vacina contra a vida é rara nas cr : anças norte -
Sua aplicação é feita por via oral. com coqueluche com base no padrao norte- amerrcanas, a idade recomendada
contai;jotas apropriado A vacina deve americano. e quatro doses de 0,5 ou para a adm.nistração rotineira de va-
ser estocada a baixas temperaturas, de 1.0ml fornecem material antigên ico cina anti-sarampo nos Estados Unr
e
-40"C a -20· C, durante sua aplicação para a efetiva imunrzaçao contra essas dos foi fixada em 15 meses Entre-
deve ser conservada em geladeira en- doenças. desde que admmrstradas tanto, em mUitos outros países. inclu-
tre 4 c e 8°C. convenientemente srve o Brasrl. 30°/o ou mais das crian-
A vacina utilizada no país é estabili- As reações à vacrna tríplice são geral- ças já terão contra ído sarampo ao
zada com cloreto de magnésio ou sa- mente locais: dor. errtema atmgrr 12 meses de rdade A mais ele ·
carose, permitindo que os vírus atenua- (vermelhidão). sensrbrltdade ao toque e vada rncidôncia de óbitos devrdos ao
dos permaneçam vrvos O pnmerro es tnduração (endurecrmento da pele) na sarampo ocorre nos dois prrmeiros
tabrlrza a vacina até uma temperatura área em que for feita a aplrcação. As re- anos de vrda, e taxas de letalidade
de 40°C por períodos de até um mês, ações gerais também podem ocorrer e (relação entre casos de infecção e
enquanto a sacarose só protege a va- se traduzem por febre moderada, cala- óbrtos ocorridos) por essa doença
crna até uma temperatura de 30 a 35 C frios, mal-estar e irritabilidade. Tanto as acrma de 1 0°/o têm SidO notadas em
por uma semana . reações locars quanto as gerais ocor- crianças menores de 12 meses. es-
A vacrna de vírus vrvos atenuados rem nas 24 ou 48 horas seguintes à pecralmente nas áreas com alta pre
contra a poliomielite apresenta muitas aplicação da vacina, e desaparecem es- valêncra de desnutrição
vantagens, conferindo rmunrdade hu pontaneamente. Em colaboração com a Organrza-
moral e intestinal, como ocorre com a ção Pan-Amencana de Saúde, os mr
infecção natural, além de proteção vacina contra o sarampo é um nrstérros da Saúde do Brasil, Chile,
duradoura, ademars, a admrnrstração preparado lrofrhzado de vírus vi- Costa Rica e Equador frzeram um es-
oral é fácil e pode ser feita por pessoal ,__...... vos atenuados, contendo cada tudo sobre a presença de antrcorpos
auxrhar, e a vacrna mantém sua potên- dose, no mínrmo. 1.000 TCI050 e sua quantrdade {títulos) em cnanças
cia quando estabrltzada, mesmo em (doses rnfectantes de cultura de da América Latina de sers a 12 meses
condições precánas de refrigeração. tecido). A ltofihzação é o processo de de rdade vacrnadas contra o sarampo.
Para suprir as falhas de seus progra- dessecação de um produto sob baixa No Brasil, esse estudo for conduzido
mas de rotrna contra a pollomrehte, o pressão e baixa temperatura, reduzin- no Rro Grande do Sul. na Grande São
governo brasileiro rnstitUiu o Ora Nacio- do-o a pó. Paulo. em Pernambuco e em várias
nal de Vacrnação, procurando vacinar A vacina contra o sarampo, lrcencra- localidades do Pará .
num só dra todas as crianças do país da para uso púbhco em 1963 nos Esta- Com base nos resultados desse es-
com até crnco anos de rdade. O Ora Na dos Unidos, tem revelado elevada efi- tudo e em outras consrderações. po
cional de Vacinação é marcado duas ve- cácia no controle desta vrrose em todos de se recomendar a idade de orto me-
zes por ano, e com esse procedimento os países que a empregam em escala ses para a vacinaçào contra o
o número de casos de polromrelrte apropnada. sarampo no Brasil, sabendo-se que
paralítica foi sensrvelmente reduzrdo. Em quase 20 anos de uso. as suces- cerca de 20°/o das r;nanças poderão
bastando ass1nalar que em 1981 só se sivas atenuações dos vírus utilizados não fazer a soroconversao esperada .
registraram 33 casos desta vrrose no na vacrna elimrnaram um dos únrcos rn- Justrfica-se assim a aplrcação de uma
país. convenrentes que apresentava. uma segunda dose da vacrna como re-
reação febril por vezes intensa, cerca forço, de prefe rência aos 15 meses
vacina tríplice, como é geral- de cinco a 12 dras após a rnoculaçao. derdade
mente conhec1da no Brasrl, é Restava apenas um problema · saber
~-t uma combinação de toxóides a rdade rdeal para a vacrnaçao da cri- vacrna atualmente utilizada em
tetânrco e d1fténco c da vac1na ança . E que os antrcorpos maternos grande escala contra a tuber
contra a coqueluche. contra o sarampo transmitidos através ~--~ culose no Brasil é a vacma BCG
Os m1croorgamsmos que causam a da placenta proporcronam às crianças (Bacrlo Calmette Guérin), ela é
d1fteria e o tétano l1beram no orga- proteção contra d doença varias meses obtida de uma cultura vrva deste ba-
nismo toxrnas, substâncias que produ- após o nascimento. cilo, estrrpe Moreau-Rio de Janeiro.
zem a doença. Tanto a toxina tetânica Estudos realizados nos Estados mantrda pelo lnstrtuto de Soro de Co-
quanto a d1ftérica, depo1s de perderem Unidos revelaram que os anticorpos penhague (laboratórro de referênc a
a toxrcrdade com tratamento pelo for- maternos podem persrstir nas crran- da OMS para o BCG). A vacrna lrofrl i
moi e serem refinadas pelo método de ças e rnterfenr na resposta à vacrna zada , uma vez rcconst rtuída com
A

70 ano 1/ n . o 3 CIENCIA HOJE


solução fisiológica. contém entre 16 e
20 milhões de bacilos por mililitro.
A vac·na BCG deteriora-se rapida-
A V ACCINAÇÃO
~~... ~ .:./0 :::;;;; . -
mente quando exposta à luz solar
direta ou d1fusa. mesmo por curto

período, perdendo sua potênc1a. Con-
servada a temperatura entre 2 e 4 C.
mantém sua atividade pelo prazo mí-
nimo de um ano. Mantida à tempera-
tura ambiente, perde sua potência -
em poucas semanas.
Deve ser aplicada por via intradér-
mica na altura da inserção inferior do
músculo dAitóide, com agulra e
seringa apropriadas . Também pode
ser aplicada com injetores a pressao .
- Por bem, ar regaço a manga e dou o braço ate para torcer •••
A vacinação com o BCG não pro-
voca reações gerais. como febre ou
mal-estar Um mês após a vacinação,
surge um nódulo pequeno no local di.l
aplicação. ao qual se segue o apareci-
mento de uma pústula com crosta. A
tuberculose decresceu muito de im-
portância como causa de morte no

país. mas a morb1dade por ela cau-
sada ainda é muito grande, o que jus-
tifica o emprego da vacina BCG em o
massa . -
••
G.>

vacma contra a febre amarela. -Por mal, arregaço a manga mae é ~ para outro ge ilo •.•
ou vacina antiamarflica. e pre-
,__~ parada com ar}'lostras de vírus
Charge de Raul combatendo a vacinação obrigatória contra a varíola, publicada
vivo designado no laboratório em O Correio de 4 de outubro de 1904.

como 17D, atenuado in vitro e culti-
vado em embrião de galinha em de- tre as mulheres grávidas. porém, nas crianças com idade de um ano ou
• • . .. - . . •
~tH IVUIVIrTlefltU . rmecçoes pnmanas. apos a crrcutaçao ma1s.
O Brasil ainda registra. no Centro- do vírus no sangue da mãe (viremia As vacinas de vírus atenuados con-
Oeste e na Amazônia. casos isolados materna) ocorre 1nfecçao da placenta tra a rubéola e a caxumba podem ser
e pequenos surtos de febre amarela e. em conseqüência. v1remia e Infec- aplicadas de uma só vez, junto com a
silvestre. o que justifica plenamente o ção do feto. Nisso reside a gravidade vacina contra o sarampo, na mesma
emprego da vacina antiamarílica em da rubéola, pois entre as man ifesta - dose. constituindo a vacina conhe-
circunstâncias especiais. Com o rea- ções clínicas da chamada síndrome cida como M M R (M = measles.
parecimento nas grandes cidades da rubéola congênita podem ser sarampo, M = mumps. caxumba. e R
brasileiras do Aedes aegypti- mos- citados: baixo peso. retardo do cres- = rubella, rubéola) Diversos estudos
quito transmissor da febre amarela cimento pós-natal. alta mortalidade. em crianças de 11 meses a sete anos
em me1o urbano - existe mais um persistência de canal arterial, necrose de idade mostram que a vacina MMR
motivo. e muito forte. para a manu- miocárdica, catarata, surdez. micro- é altamente irnunogênica e geral-
tenção de um estoque considerável cefalia. retardo mental. paralisia cere- mente bem tolerada.

dessa vacina no país. já que pode ha- bral e outras. Assim, recomenda-se a
• ver um caso de febre amarela silves- inclusão da vacina contra a rubéola vacina contra a meningite me-
tre que vá à cidade e seja picado por nos programas de vacinação de rotina ningocócica é um preparado li-
um desses mosquitos. criando uma no Brasil . ,__~ of1llzado de antígenos dos gru-
cadeia de transmissão da doença de pos A e C combtnados da Nels-
graves conseqüências para a po- A vacina contra a caxumba é um Sbna meningitid1s. Após a reconstitui-
pulação. preparado liofilizado de vírus vivos ção com diluente. cada dose de 0,5
atenuados. contendo cada dõse no ml contém 50~g de material do grupo
vacina contra a rubéola é um mínimo 5.000 TCID50. A e 50~g de material do grupo C em
preparado liofilizado de vírus A caxumba é uma doença que nor- solução de cloreto de sódio preser-
,__-4 vivos atenuados, contendo malmente evolui para a cura sem vado com timerosal. Esta vacina é in-
cada dose no mínimo 1.000 seqüelas; entre suas complicações. dicada para pessoas de qualquer
TCID50. porém. merecem referência especial idade, a partir de três meses de vida.
Sabe-se que a rubéola é doença be- a meningoencefalite e a orqUite. A va- sempre que a meningite meningocó-
mgna. de excelente prognostico; en- cina contra a caxumba é indicada para cica dos grupos A e C estiver provo-

novembro/dezembro 1982 71
cando casos de doença e morte na se sua aplicação apenas a pessoas morte em todo o mundo. A vacin a
comunidade, especialmente nos que por alguma razão tenham alto pode ser aplicada em qualquer idade
períodos de epidemia . risco de contrair a doença, para quem a partir de dois anos, sendo especial-
A vacina contra a gripe é um pre- a gripe possa ter conseqüências gra- mente indicada para crianças e adul-
parado estéril para injeção intramus- ves ou que prestem serviços essen- tos com doenças crônicas do cora-
cular. contendo os antígenos das ra- ciais à população. ção. pulmão e rins, pessoas com dia-
ças de vírus recomendadas pela A vacina contra a pneumonia pneu- betes e outros distúrbios metaból i-
OMS . No momento, as formulações mocócica consiste de antígenos cos, pessoas com disfunção esplê-
para a temporada de 1982-83 contêm isolados de 14 tipos de pneumococos nica, convalescentes de doença gra-
ant1genos dos vírus A/ 8rasil/ 11 / 78 (tipos 1. 2. 3, 4, 6, 8, 9, 12, 14, 19, 23. ve e pessoas de 50 anos de idade ou

(H1 N1) e A t 8angkok/ 1/ 79 (H3N2), 25, 51 e 56). ma1s .
como representantes da gripe A, e do Estudos recentes revelaram que as
vírus 8 /Cingapura/222/79, como re- O Streptococcus pneumon i ae vacinas contra a gripe e a pneumonia
presentante da gripe 8 . (pneumococo) é responsável por mui- pneumocócica podem ser aplicadas
O uso da vacina contra a gnpe não tos casos de pneumonia, meningite e simultaneamente , em pontos d i-
deve ser feito de rotina. Recomenda- otite média, importantes causas de ferentes da mesma pessoa.

I / I

~unlzo __..ao e _ou ICO


José Fernando de Souza Vcrani"
Eduardo Ponce Maranhão''

Cerca de cem rnilhôe\ de crian- anças de até cinco anos . No cn - Para que se alcancem es..,es níveis , nibilidadc de rede de •f'rio (si ... tema
ças nascem por ano nos paa..,c'> sub- tanto, são JUstamente esta'> as for- é fundamental a adoção da' estra· de conscnação crn haixa tempera .
de..,envolv ados. c aproxa mada- ma" que podem ser cvttadas me - tegta-. correta' de lmUntLaç.to. tur.t l .1 fim de .t'iscgurar a manuten
mente cinco milhões morrem diante a vacan.açao precoce com o com uma .tbonJ.I!!Cill operacional ção da potência d.1s vacmas. Do
anualmente devido a doenças que BCG. A inctdêncaa da dtltcria é eficiente do problema. ponto de vista opcracion,al. trata
podcnam ter sido evitada' com a mal conhcc tda na maiona dos pai A tcrmtnologia empregada na \C dt.: um fator muJto tmportante.
vacinação . No entanto. ~•pena.., ses. ma~ cc..tlcula se que faça anual - área de trnun inçiin ta; rclêrênct.l uma ve7 4ue o de,cmpenho do
10% das crianças de todo o mundo mente mai" de I OO.<X>O vítima\ en- a trê.., tipm h:htco' de C\tt atégta a programa em termo.., de tmpacto
vêm \endo \-acinadas de forma tre .1 ... cr1am,as de até ...ei" .mo' campanha. a tntcn . . tttca~,-.1n da m e...,ta intimamente rdàctonado com
correta: a~ demai~ f1cam exposta.., No Bra..,al, o Ministério da Sau- tina C·a manutençao da rotina. A a rede de lno. naturalmente mat..,
a p<tgar um alto preço pela falta de de elaborou um C\quema bá~aco de adoçao de um dele\ não exclut os prcc.ma .a medida 4ue o prol!ram.t
proteção adequada . vacanação. resultante da aplicação de ma i.... c em determinado.., mo atin!!l: o.., nÍ\.eis mais pcrifcnco'

Quase todas as cnanças que não dos cnténo.., de tnc tdênc ta dao.., mcnlO~ dua~ ou rnai~ c~t ratégta.., do' \<.:rviço.., de saudc
são vactnadas contra o ....uampo doenças. cxto..,têncta de "'acm.t..., cft podem 'c cnJLar No entanto. o I m 197ó . a A'-sl:mbléia \-1un
contraem a mol6tia em algum cazc..,, aceitabilidadc da vacinação nbJettvo prioritário c mtcgrar a va· dia I de Saudc ..,olicitou à Or!'.miza
momento. Destas. de I a I OCX pela popu laçao. cu...,to da.., vacinas cmação nos ..,ervt<;o..., de rotina, de c;ao Mundial de Saude COMS) a
morrem no'> paísc\ ..,ubde ...envolva- ad,>tadas c ncces't1dadc de cxpan modo que \C mantenha atravé' do.., cn.tção de um Programa Arnplaado
dos, enquanto nos paí"e' desen- ">âo da cobertura me inal. ou seja· anos o nave! 1munitário que a\\e- de lmumzações em escala mun
volvidos esta proporção é de uma o numero de pessoa-. efetivamente gurc o controle das doença .... '>Uh.., - dial, com o \Cnttdo de promover
para cada 10 000 A coqueluche imunttada..., em rcla<,"ao ~~ p<lpula- tituindo 'c as campanha' 4ue. por pc..,qu1..,as que vtscm obter melhor
também pode matar a\ criança.., çüo que se dc~eja imunizar. roram \Ua irrcgulartdadc. nüo podem estabtltdade térmtca das vac1nas, a
não vacinadas, especialmente '>C con..,tderadas básicas na composi- manttr um alto tHvcl de imunidade produção dt.: cqutparncnto ma1..,
as atingir no\ primeiro\ mc,es dt.: ção desse esquema de vacinações na população. adequado para rede.., de frio c o de-
vida. Em alguns paí..,es ..,uhdesen a~ vacma~ c·ontra o sarampo. con - Uma noçüo fundamental para a senvolvimento de programa.., de
volvidos. 2c-~ do.., recém-nasctdos tra a poliomielite. a tnpltce c o escolha da c\lratcg1a é - .tlém das capacitação de pe ......oal de todo' o ...
• •
contraem o tétano neonatal (co - BCG contra a tuberculose Em consideraçôcs de viabilidade cspc- nJVeJ'i
nheeido como "mal do"i ... etc di- fun<;fto da idade c do número de ctftca... para cada <irea- a de con· No Brasil. o Programa Nàcinnal
as"), e RO% destes acabJm mor- dose.., ótimos para cada vacina. rc tato entre os serviÇos de saúde c a de lmunizaçôcs. de 1973. da prio

rendo. comenda se o calendário que re- população-alvo . E sempre mai~ ridadc à vacinação contra a.., sea..,
A poliomielite atinge pnnctpal produzimos no quadro desta pá- viável a c..,tratégia que exija menor doenças que Citamos durante n pn
mente a' crianças com menos de ~
gma . número de.,....es cúntatos, o que le- meiro ano de vida. A..., e!'ltrategta~ ~

cinco amh de idade nos paíse~ sub- O impacto da vacanaçao sohrc o vou à idéia da simultaneidade das adotadas variam conforme a situa-
desenvolvidos. c alguma.., ftcam .:ornportarnento eptderlllológ ico vacinaçoe..,, permitindo que num ção pantcular do.., dt\ ersm c ... tados
paralítica~ pelo resto da vtda. das doenças-alvo relaciona - :-~e S<) contato seJa possível adminis- da fc:deração c tamhl!m conforme a
quando não se incluem entre os din:tarm:nte com o nível de cober- trar-se diversas vacinas. \ssun. a conjuntura Em certo.., mornc:ntos.
15<7c que :-~ão vitimado.., pela tura vacina! que ...c atinge numa de- série completa de vacinaçõc.., (três c pam determinada.., doença'. pro-
doença. A tuberculose. mal fn.: terminada populaç<io Embora os ~o ...e.., da vacina antipólio. três da movem- <te campanha.., de ma..,,a.
qücnte em todas as idades (ocor- níveis mínimos variem conforme tnplacc. uma contra o sarampo c de modo geral. porém. o program.t
rem no mundo 3.5 milhões de ca- a' ~.;,tracteri~tica' d.ts popul<tçôcs uma de BCG) poderia ser adminb- procura concentrar-se na manuten-
so.., novos a cada ano. c 50(UXXl em qucstao, c..,tabcleccu-se 4uc. trada em apenas três ou quatro ção ou na mtcnsificu~·ão da rotina .
moncs). assume.: suas formas mais de modo geral. devem ser superio- contatos dos serviços de saúde rtttnolugista da E<eola Nad1mal de ~aud~ Plj.
graves. que deixam marcas pelo res aRO% para que a.., doenças po~­ com a criança. Da mesma torma. a blka.
•• Au"l:iliar de fnslno da t:::M:ul11 !'/aciomll dt Sau-
resto da vida. quando atinge as cn- sam se considerar controladas. e'tratégia deve adc4uar-se à dt..,po- dt Pljblica.

72 ano 1/ n . o 3 CIENCIA HOJE



TABELA 1
- . '
PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇOES DO MINISTERIO DA SAUDE

ESQUEMA DE VACINAÇÃO

• INTERVALO ENTRE AS DOSES


IDADE PARA INICIO DA VACINAÇAO N.• DE DOSES - BASICA)
(VACINAÇAO '
VACINA -
PROTEÇAO CONTRA
VACINAÇAO
MINIMA MAXIMA REFORÇO MINI MO RECOMENDADO
BASICA

1
' poliomielite 4 anos
ANTIPOLIO- ORAL (paralisia infanti l)
2 meses
(59 meses)
3 (um ano após a 45 dias 2 meses
3 .• dose)

difteria 1
• 4 anos
TRIPLICE coqueluche 2 meses
(59 meses)
3 (um ano após a 30 dias 2 meses
tétano 3 .• do ..e)

ANTI-SARAMPO
sarampo 9 meses
4 anos
(59 meses)
1 - - -
BCG tuberculose Ao nascer 14 anos(*"') 1 - - -

GESTANTES
o . nóo rmumzodos• com DPT ou TT 2 (*) - 30 dias 2 meses
(vacrnor o ponrr do 6 .o mês)

tétano b rncomple•omente rmunrzÓdos comple tar


neonatal (menos de 3 doses) com DPT ou TT
3 doses - 30 d ias 2 meses
(vocrnor o portn do 6. mês)

TOXOIDE 1

TETANICO c. prevromente rmunrzodos
(se a última dose
(TT) •
(3 doses) com DPT ou TI
(vocrnar no 8.0 mês) - foi aplicada há - -
mais de 5 anos)

ESCOLARES E OUTROS GRUPOS


completar cada dez anos
tétano Considerar os doses de DPT 30 d ias 2 meses
3 doses •após a 3 .• dose
ou TT aplicados anteriormente

( ' )Para a prevenção espec1frca do tétano neonatal no produto da gestaçllo " atual", sao sufrcten· (• • 1 Segundo mformaçOos da ONPS (Drvrsão NaetoMI de Pncumol!'{lra Sanrtllrra) devert'l S!l r uma
°
tes duas doses. aplicadas rro 6 ° c no 8 mês Todavra. para adequada proteção da mulher e nov;• recomenda~o hxando em 4 ttnos a rd.trlc maxrmn para o BCG
prevençao do tétano neolllrt.JI om gest:Jçõcs futuras. é rnportante a aplrcaçllo da tercerra
dose, que poderá ser lerta após o parto

ecentemente foi elaborada é.1 vacina, os dados disponíveis su- secutivos. e dots reforços, no 15.0 dia
vacma contra a hepatite B. gerem que ela persiste por 15 anos e no 30. d1a após a sét1ma dose.
Esta vacma é constituída de parq as pessoas que tomaram três Um grande progresso foi feito re-
unidades subvirais {partes do doses, conforme o recomendado centemente com a vac1na anti-rábica
vírus) inativadas pelo formal. não in- Depois desse prazo. uma dose de re- de vírus cult1vado em células diplói-
fecciosas, derivadas do antígeno de forço é bastante para manter a imuni- des humanas Esta vacina permite re-
superfície (HBsHg ou antígeno dade. duzir as doses a no máximo se1s
Austrália) do vírus da hepatite B. O (aplicadas nos dias O, 3, 7, 14, 30 e 90)
antígeno é colhido e purificado do vac·na contra a raiva usada no e, testada em condições críticas (em
plasma de portadores humanos do . Brasil é do tipo Fuenzalida- 45 individuas gravemente mordidos
'
VlruS. ,__.... Palacios, e consiste de sus- por cães ou lobos no I rã) mostrou ter
A vacinação contra a hepatite B. pensão a 2°/o de tecido ner elevada capacidade de proteção.

t1po de hepatite v1ral endêm1co no vaso de camundongo recém nasc1do,
mundo inteiro, é recomendada para inoculado por via cerebral com v1rus
pessoas com três meses de idade ou rábico Pasteur fixo. inativada por ra- Sl GESTOES P\RA LEITURA
mais sempre que exista o risco au- diação ultravioleta. O produto final
mentado de contrair a doença, como contém O, 1 °/o de fcnol e timerosal.
ocorre, por exemplo. com pessoal Esta vacina é indicada para a imuni- AMATO 1\SETO. Vicenre e BALDY. J. L.
médico e paramédico, pacientes que zação de indivíduos mordidos ou arra- da Silveira. lmuni:ações. 2.• cd .•
Sarvier. 1979.
se submetem a hemodiálise ou ne- nhados por animais raivosos ou sus- BAER. George M . The Natural History of
cessitam de transfusões de sangue peitos, ou de pessoas expostas ao Rabies. Acadcmic Pre~s. 1975.
FARHAT. Calil K . FundamentrJs e prática
freqüentes, funcionários de bancos contágio por contato de ferimentos das imunizaçcjes. Medisa Editora,
de sangue e pessoas submetidas a ou escoriações recentes ou abertos 1980 .
nsco elevado de contrair doenças se- com a sahva do animal. ORGAN IZAÇÃO MUNDIAL DE S A. UDE.
The Role of lmmunintion m
xualmente transmitidas, entre outras. O tratamento preventivo completo Communicable Dic;.eac;c Control .
Embora não se conheça ainda a está hoje reduzido a sete doses. apli- Public Health Papers n.0 8. 1961
duração da 1mun1dade conferida pela cadas uma por dia em sete dias con-

novembro/dexembro 1982 73
I

ALTEINAnYA AO USO DE INSETICIDAS


!

Argemiro Ferreira

A CAMINHO DO CONTROLE BIOLÓGICO:


O COMBATE ÀS PRAGAS SEM POLUI ÃO
Atraído pelo sangue contido num comedouro espe-
cialmente imaginado para isso e aquecido a 37 graus. o
inseto hematófago pica a membrana que cobre a aber-
tura e ingere seu alimento favorito. Mas graças à mis-
tura naquele sangue, em quantidades mínimas. de uma
MEMBRANA
droga biodcgradável e de pouca toxicidade para ho-
mens c animais, ocorre urna alteração profunda no de-
senvolvimento nounal do inseto: ele sofre envelheci- '-A~YtARA INTERNA
COM SANGUE
mento precoce. toma-se incapaz para a reprodução c
vive bem menos tempo do que o nonnal. CÂMARA EXTERNA DE AQUECIMENTO

Experiências assim, que se realizam nos laboratórios


do Instituto Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro, e em ou- Na mamadeira para in set os hematófagos, o sangue na
tras partes do país. abrem amplas perspectivas para o câmara interna é aquecido pela circulação de água na
futuro controle de pragas sem poluição ambiental. Pre- câmara externa e delicadamente agitado por uma
seringa ligada a um fino tubo de polietileno. Os insetos
vê-se que mediante a utilização de drogas como o prc- alimentam-se picando a membrana.
coceno. um anti-hormônio extremamente eficaz, como
atestam pesquisas atualmente em desenvolvimento. pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz. que nos últi-
será possível dentro de algum tempo manter sob con- mos 20 anos tem trabalhado em fisiologia e bioquímica
trole populações de insetos no campo. de insetos transmissores de doença de Chagas estão •

Esse tema atraiu grande número de pessoas às expo- sendo utilizados a cada ano no mundo 2.5 milhões de
sições apresentadas na última reunião anual da SBPC. toneladas de inseticidas.
em Campina~. pelos profes~ores e pe::~quisadores No que se refere aos métodos de controle dos insetos
George Washington Gomes de Moraes. Alaíde B. de que transmitem doenças ou inutiJizam plantações. esta-
Oliveira. P.G. Brun. L.A. Soares. Elói de Souza Gar- mos vivendo já o que os cientistas consideram a quarta
cia e Patrícia de Azamhuja. geração. Na primeira. antes da década de I 940. a res-
A exploração das novas alternativas se deve em ponsabilidade pelo controle recaía exclusivamente em
grande parte ao generalizado desencanto com os inseti- substâncias como sais metálicos em geral (sais de co-
cidas. que em certos casos tomaram-se uma dor de ca- bre, chumbo, etc .). nicotina. rotenona. piretrinas e ou-
beça quase tão grande como a praga que deviam com- tras. Eles tinham algum efeito, mas revelaram-se de
bater. Conforme observou o professor Elói Garcia - decepcionante ineficácia.

Na experiência de Manguinhos, ao invés do barbeiro torna um adultóide (o segundo e o terceiro) incapaz para
ainda em estádio de ninfa (primeiro à esquerda) a reprodução devido ao envelhecimento precoce, e vive
desenvolver-se até virar adulto (último, à direita), ele se bem menos tempo que o normal.

74 ano 1/n.• 3 CIÊNCIA HOJE


ALTERNATIVA AO USO DE INSETICIDAS
~ .

A c;egunda geração foi marcada pela explosão do No controle de insetos, que antes da partida para os
DDT, já nos anos 40. O DDT tomou-se aos olhos de testes de campo vive a sua fase indispensável de labora-
todos uma espécie de substância mágica, que iria solu- tório. são consideradas segundo explica o professor
cionar quaisquer problemas de pragas. doenças. etc. O Elói Garcia quatro etapas críticas:
BHC, surgido pouco depois, fortaleceu ainda mais a 1. em primeiro lugar. procura-se impedir que o in-
idéia equivocada de que os compostos químico~ dessa seto chegue à fonte de alimentação, o que o levaria a
natureza levariam ao controle definitivo das pragas da morrer de fome: usa-se. para isso, drogas que tenham
lavoura e do~ insetos transmissores de doenças. capacidade de repeli-los (repelentes);
A terceira geração é a do hormônio juvenil, quando 2. na segunda etapa, o inseto chega a essa fonte, mas
drogas biodegradáveis são usadas para alterar o desen- recorre-se então aos chamados · ·anti-feedants" dro-
volvimento do inseto numa certa fase. Esse caminho gas de gosto desagradável, que o fazem reduzir a quan-
foi uma conseqüência das dúvidas geradas pela surpre.- tidade de alimento ingerido a um ponto insuficiente
endente capacidade de adaptação do inseto. que na dé- para a sua necessidade:
cada de 1950 mostrou-se cada vez mais resistente aos 3. alimentado o inseto, o que o cientista busca é a
inseticiuas, exigindo o aumento sistemático das quanti- maneira de inibir a digestão, mediante outras drogas
dades que tinham de ser usadas para se obter os resulta- (os inibidores de digestão):
dos desejados . Os animais e o próprio homem. alimen- 4. e quando o inseto se alimentou e digeriu o ali-
tados com plantações tratadas com toneladas de in~eti­ mento, os el)forços são no sentido de alterar o seu de-
cida, passaram a sofrer gravemente os efeitos tóxicos senvolvimento e reprodução. através dos anti-
de tais substâncias. às quais o inseto se tomava resis- honnônios, como o precoceno.
tente. •
Experiências desses três últimos tipos são reali.ladas
Na quarta geração. descobre-se un1a substância com no Instituto Oswaldo Cruz. Nos últimos I O anos, por
ação anti-hormônio juvenil: ao invés de se tentar inibir exemplo, o professor Elói Garcia tem estudado princi-
a maturação do inseto, tendência da terceira geração, palmente a digestão de insetos hcmatófagos. Entre ou-
busca-se apressar esse desenvolvimento, forçando um tras coisas, conseguiu evidenciar. nas suas pesquisas, a
envelhecimento antes da hora. Daí o nome da droga. presença no tubo digestivo desses insetos de uma série
precoceno. capaz de provocar aquilo que é conhecido de enzimas. E estudando cada uma dessas substâncias
na literatura como envelhecimento precoce. que degradam o sangue para fazer a digestão, ele puri-
No Instituto Oswaldo Cruz. a bióloga Patrícia de ficou uma que era inibida por uma droga descoberta em
Azambuja trabalha há mais de três anos especialmente 1970 pelos japoneses a pepstatina.
com os análogos mais eficientes o precoce no I I e o A droga não mata o inseto e nem é tóxica. simples-
precoceno Ill e já obteve resultados significativos. mente inibe o processo de digestão.ao inibir a ação da
expostos em "iUa tese de doutoramento. Contribui para enzima. Assim. o inseto, mesmo alimentado, deixa de
as pesquisas desse instituto do Rio a engenhosa inven- digerir o sangue, o que acarreta uma drástica redução
ção do comedouro para insetos hematófagos, cuja sim- na postura de ovos e diminuição das mudas responsá-
plicidade costuma surpreeender pesquisadores de ou- veis pelo crescimento. A julgar pelos resultados já obti-
tros países, acostumados ao método clássico e ex- dos, será possível no futuro, inibindo-se a digestão,
cessivamente oneroso no Brasil. ante a nossa carência manter o controle populacional desses insetos. Prevê-
de recursos de criar animais de pequeno porte (pom- se. ao mesmo tempo, que as enzimas variem de inseto
bos. ....galinhas. cobaios e coelhos) . para inseto. e que outros tipos. com características di-
• O comedouro uma espécie de mamadeira para in- ferentes. exigirão outras tantas drogas inibidoras. Mas
setos permite economizar consideravelmente a o trabalho desde já abre uma perspectiva ampla, con-
quantidade de precoceno que tem de ser utilizada nas fonne admite o pesquisador.
experiências, pois basta uma mistura da droga em pro- Nos próximos cinco a 10 anos, acreditam os cientis-
porções diminutas na faixa a que os cientista~ sere- tas que trabalham na área. o controle dos insetos tende
ferem como p pm(Parte Por Milhão). equivalente a um a seguir esse mesmo caminho . ··o controle biológico é
miligrama por quilo . Além de ser uma droga recente e o controle do futuro·', observa a professora Patrícia de
ainda muito cara. o precoceno não é encontrado com Azan1buja. Ela admite que um mesmo processo não
facilidade no comércio. Para se obter a quantidade ne- pode ser aplicado a todos os insetos. mas está conven-
ce~sária às suas experiências, a equipe do Instituto Os- cida de que o uso conjunto de vários o ·'controle in-
valdo Cruz tem recorrido principalmente ao professor tegrado''. conforme a expressão dos cientistas dessa
\V .S. Bowers. um dos pioneiros em tais pesquisas nos área obterá os melhores resultados. "Isso nos per-
Estados Unidos. mitirá atacar o inseto de várias formas, combinadas.

novembro!dez:embro 1982 75

ALTERNATIVA AO USO DE INSETICIDAS

Até mesmo recorrendo moderadamente ao inseticida. um controle. portanto. mais ou menos orientado para
No ataque conjunto. de alguma fonna o inseto acabará detei minados tipos de insetos.
sendo atingido·· .
~
No trabalho em que relata os últimos resultados das
Os cientistas encontraram na própria Natureza as suas pesquisas, a ser publicado ainda este ano na re-
pistas que afinal indicaram os caminhos mais recentes vista Experientia, da Suíça, a bióloga Patrícia de
para o controle das pragas da agricultura e dos insetos Azambuja registra também o efeito anti-feedant do
transmissores de doenças. Foi observado. por exem- precoceno sobre insetos hematófagos, medido nos la-
plo, que certos vegetais revelam-se imunes às pragas. boratórios do Instituto Oswaldo Cruz. Ao mesmo
Ao se estudar as causas de tal fenômeno. pôde ser veri- tempo em que altera o desenvolvimento do inseto. ao
ficado que alguns desses vegetais eram portadores de provocar o seu envelhecimento precoce. esse anti-
anti-hormônios, enquanto outros apresentavam subs- hormônio inibe a alimentação dois fenômenos dis-
tâncias extremamente eficazes para inibir a alimen- tintos.
tação. Um número reduzido de pesquisadores brasileiros
dedica-se hoje ao estudo do controle biológico c das
Com o conhecimento da estrutura dessas moléculas, drogas biodegradáveis como repelentes, anti-feedants
tomou-se possível então originalmente a produção das c anti-hormônios. Em linhas diferentes. pesquisa-se
drogas. até mesmo ampliando a eficiência e a sensibili- •
atualmente nesse sentido na Universidade federal de
dade originalmente constatadas nos vegetais estuda- Pernambuco. na Universidade Federal de Mina\
dos . Um caso notável, por exemplo, é o de uma planta Gerais. na USP. na Universidade de São Carlos. além
que não é &tacada por insetos o Argeratum sp. Cou-
• do~ principai~ núcleos do Rio em Manguinhos. na
be ao professor Bowers, após aprofundar o estudo des- Universidade Rural e na UFRJ.
sa planta, extrair dela pela primeira vez, em 1976. a Para os cientistas empenhados nes~as pesquisas. há
droga anti-hormonal. uma grande necessidade de atrair mais gente c de se tra-
Outra vantagem de anti-hormônios como o prcco- balhar mais nc\sa direção. Eles estão convencidos de
ceno, segundo a explicação dos cientistas do Instituto que virão daí. nos próximos anos, as grandes soluções
Oswaldo Cruz, é que tal droga permite selecionar a es- para o melhor tipo de controle de pragas e de inseto\
pécie a ser controlada, já que ataca algumas ao mesmo tran~missores de doenças ~ um controle sem poluição
tempo em que não tem qualquer efeito sobre outras- ambiental .

, -
LABO~TORIO DE COMPUTAÇAO
CIENTIFICA DO CNPq

A pesquisa gerando as nossas soluções de problemas


científicos e tecnológicos

- programação científica
- métodos computacionais em engenharia
- modelagem matemática e análise numérica
- modelagem estatística e análise de dados
- microprocessadores

Av. Venceslau Brás, 71 -Rio de Janeiro, RJ- 22.290

76 ano 1/n. • 3 CIÊNCIA HOJE


,
gência. sua subjetividade, seu sen- vindo libertar o homem · da dita- cos. Ele depende de uma estrutura
EXISTE UM REPTIL
, dura do cérebro réptil com seus que fica na parte superior do
ttdo de espaço c tempo. sua me-
DENTRO DE NOS . mória e outras funções, podendo atos estereotipados, sem todavia tronco cerebral. o pedúnculo em
O Lérebro e. sua.\ \'eneme.\. de \V_ reagir independentemente das ou- deixar de cooperar com o cérebro que assentam os hemisférios . Essa

L Sanvito. tras. em certas circunstâncias. E a réptil nos atos destinados à preser- estrutura é a formação reticular
Panamed Editorial. São Paulo. hipótese do cérebro triuno. vação do indivíduo e da espéc1e. O que assegura os estados de atenção
1982. 202 páginas. ilust. Veja no desenho. A camada ex- sistemà límbico é o centro de ativi - e vigília do córtex. A essa
tema ou I (ncomamífcro)éacstru dades relacionadas com alimenta- ''vcnente' ',corno diz Sanvito, in-

Os especialistas brasileiros tura cerebwl mais recente. o cór- ção, fuga e comportamento corpora-se o sistema límbico, mas
ainda não se habituaram, em sua tex. que ganhou desenvolvimento sexual; funciona corno elemento o c<'lrtcx também exerce controle
• maioria, a escrever para o grande nos primatas c especialmente. no uniftcador do comportamento. da atividade reticular, de modo
público. Têm medo, talvez. de se homem . A média. 2 (paleomamí- contnbuindo ainda para o sentido que o todo forma um circUitO.
apequenarem aos olhos dos cole- fero). domina nos mamíferos não de identificação pessoal c inte- Ao segundo bloco pertencem a
gas. descendo de ~eu~ pedestais. primatas e con-.titui o chamado sis- grando experiências externas c ·in- elaboração c a conservação da in-
Ou. quem sabe, não encontram tema límbico . E a interna ou 3 ternas. Analisando a força dos formação . Nele se incluem áreas
editores dispostos a publicar seus (réptil) corre-.pondc ao cérebro dos cérebros réptil e límbico. alguns da:-; regiõe~ parietais. temporais e
,
trabalhos desse gênero. E tão mais répteis. sendo a ma i~ antiga do especialistas têm procurado inter- occipital. em estreita ligação com
fácil traduzir! Merece por isso es- ponto de vista evolucionário. pretar o comportamento extrava- os órgãos dos sentidos, nas quais
pecial referência o livro do profes- gante de certos líderes. c até se encontra uma hierarquia de
sor de neurologia da Faculdade de mesmo o caso Watergate. áreas primárias. secundárias c
Medicina da Santa Casa de São O cérebro neomamífero fica tcrc1árias; as primárias captam.
Paulo. Ele e~tá escrito em lingua- com as funções superiores, como a analisam e decompõem as excita-
gem tão simples c fluente que tanto linguagem. muitos atos motores c ções. as secundárias orgamzam es-
pode servir a estuaantes quanto ao a percepção. Os lobos prefrontais ses dados, num processo de sín-
público culto. Constitui agradável respondem por nossas abstrações, tese. As terciárias, que asseguram
passeio. que nos leva desde a intuições e criatiVIdade. as formas mais complexas de fun-
evolução do sistema nervoso até a Importante, na concepção de ções do <;egundo bloco. parecem
maneira pela qual -.c processam as MacLcan, é que os três cérebros ser especificamente humanas .
várias funções que o cérebro con- têm de v1ver em harmonia. O tercc1ro bloco responde pela
trola. como o sono e a vigília. a Quando esta falha, surgem proce- programação, regulação e controle
memória. as ernoçôcs, a lingua- dimentos irracionais, sinal de que do desempenho individual. última
.... .
gcm, a consc1enc1a, para term1nar
. um dos cérebros inferiores está fase da atividade consciente que
numa comparação entre o homem Entre os pesquisadores do com- pondo as manguinhas de fora . começou com o recebimento c o
• • •
Também é 1mportante notar que.
c sua cnatura. 1sto c. o computa- portamento humano. uns têm-se processamento das informações .
dor. comparação que , por mais concentrado no cérebro neomamí- até certo ponto. o passo de nosso Seu funcionamento está ligado às
voltas que se dê. sempre há de ter- feroe outros no-. efeitos do sistema cérebro superior tem de acomodar- regiões anteriores do cérebro, es-
minar na fra.;;c de McCulloch: ··o límbico sobre a aprendizagem c a se ao ··andar de carroça·· dos cére- pecialmente os lobos frontais.
cérebro se parece com o computa- memória. MacLcan decidiu inves- bros inferiores Se houvesse es- Também nas regiões que consti-
dor. mas não existe computador tigar nos animais e no homem as
~
paço, poderíamos dar aqui um tuem esse bloco ternos <trea~ pri-
que se pareça com o cérebro.·· artes do cérebro réptil, também exemplo de comportamento global márias. secundárias e terciárias: as
Trata-se. entretanto. de livro chamado de co mplexo -R Se- de um homem que se encontra de primárias são motoras. e sobre elas
geral, que procura mostrar as rela gundo ele, o compottamcnto das subito com sua antiga namorada, estrutura-se a região pré-motora.
ções entre o cérebro c suas partes e formas animais inferiores é pré- sabendo que sua mulher e suas ti- que prepara .. o lançame nto dos
o comportamento humano. não programado pelo complexo-R lhas estão para chegar a qualquer impulsos e cria a melodia cinét ica

descendo por isso à descrição das numa série de ações e~tereotipa­ momento. E curioso. na interpre- que aciona as 'teclas· da área mo-
estruturas microscópicas nem à fi- das . Quando se chega perto de um tação de MacLean. o jogo das par- tora do córtex··. segundo diz Lu-
, siologia das células nervosas. bando de (X!rus c se emite um ruí- ticipações dos três cérebros nesta e ria . Sobre a área pré-motora ficam
Não é possível resumir cada ca- do. todos os perus começam a fa- noutras situações. A hipótese triu- as c trutura~ das áreas terciárias do
pítulo da obra. Por isso elegemos. zer gluglu ao me~mo tempo. Não na de Mac Lean é criticada por córtex frontal. que atinge máximo
para tratar aqui. a seção em que haverá gluglu. entretanto, se o muitos especialistas. desenvolvimento no homem . Elas
Sanvito aborda duas concepções complexo-R dos animais estiver Luria não se preocupa com a ~c ligam·a todas as regiões do cére-
.. diferentes do cérebro, a do norte· lesado. Essa lesão também supri- evolução filogenética do cérebro e bro c à formação reticular .
americano P. MacLcan c a do rus- me a tendência dessa~ aves para condena também a exagerada Nesta resenha do capitulo em
~o A . R. Luria. andar em bandos . Muitas ações atenção que se dá às localizaçôcs que Sanvito trata das duas conccp-
Devemos a Mac Lean uma con- humanas de tipo ritualbta. for- cerebrais . Para ele. o cérebro é um çõc do cérebro desenvolvemos al-
cepção filogcnética. segu ndo a malista. preconceituoso, de fingi- todo dinâmico. um sistema for- gun~ pontos. mas o essencial do
qual o encéfalo. a mas~a que fica mento ou de imitação, ou ainda mado de três blocos que de.;;crnpe- que di~-.cmos lá está. claramente
dentro da caixa craniana, repre- que revelem tendência para seguir nham papéis especiais na atividade exposto. como todo os outros as-
senta. no fundo, superposição de prccedentl:.s. conto em assunto-. Ic- psíquica. mas são integrados. Re- ~untos de que o livro trata.
trê~ cérebro~. cada um dos quais
. . ..
gats c outro . tcnam pan1c1paçao
- laciona-se o primeiro bloco com a
corre.,ponde a uma fase ela evolu- de no..,so cérebro réptil. manutenção geral do tono cortical. José Reis*
ção dos vertebrados. Cada parte
tem. por assim dizer, sua inteli-
-
· O sistema lírnhico. segundo
membro da trindade cerebral. teria
sem o qual não se poderiam dc-.cn-
vol\.er as funções dos outros hlo-
• Jornall~la, tditor de Ciencüz ~ Cultura e mt"m-
hro du Con..elho Editorial de Ciincüz llfijr.

novembro/dezembro 1982 77
U E E A B p
A SBPC - Sociedade Brasileira para o ciência e à cultura; e atender a outros ob- tíficos e realizadas 250 mesas-redondas,
Progresso da Ciência - tem por objetho cursos e conferência~. Através de suas se-
contribuir para o desenvolvimento cientí-
jethos que não colidam com seus estatu-
tos.
. . . .
cretanas regaonalS, promove SJmposaos,
, .

fico e tecnológico do país; promover e fa- Atividades da S B PC -A SBPC orga- encontros e iniciativas de difusão científi-
cilitar a cooperação entre os pesquisad~ niza e promove, desde a sua fundação, ca ao longo de todo o ano.
res; zelar pela manutenção de elevado pa- reuniões anuais durante as .quais cientis-
drão de ética entre os cientistas; defender tas, estudantes e professores têm uma Desde o ano de sua fundação, a SBPC
os interesses dos cientistas, tendo em vis- oportunidade ímpar de comunicar seus edita a revi~ta Ciência e Cultura, mensal
ta o reconhecimento de sua operosidade, trabalhos e discutir seus projetos de pes- a partir de 1972. Suplementos desta revis-
do respeito pela sua pessoa, de sua liber- quisa. '-estas reuniões, o jovem pesquisa- ta são publicados durante as reuniões
dade de pesquisa e de opinião, bem wmo dor encontra a ocasião própria para apre- anuais, contendo os resumos dos traba-
do direito aos meios necessários à realiza- sentar seus trabalhos, ouvir apreciações, lhos científicos apresentados. Além desta
ção de seu trabalho; lutar pela remoção criticar e comentar trabalhos de outros. revista e de Ciência Hoje, a SBPC tem
de empecilhos e incompreeffiÕes que em- Temas e problemas nacionais e regionais publicado boletins regionais e volumes es-
baracem o progresso da ciência; lutar relevantes são expostos e discutidos, com peciais dedicados a simpósios e reuniões
pela efetiva participação da SBPC em audiência franqueada ao público em ge- que organiza periodicamente.
questões de política científica e progra- ral, que tem ainda o direito de participar
mas de desenvolvimento científico e tec- dos debates. Finalmente, assuntos e tópi- O corpo de assoc1ados. Podem
nológico que atendam aos reais interesses cos das mais variadas áreas do wnheci- a.\.WCiar-se à SBPC cientistas e nã~
do país; congregar pessoas e instituições mento são tratados com a participação de cientistas que manif~1em interesse pela
interessadas no progresso e na difusão da entidades e sociedades científicas especia- ciência. Para tanto, basta ser apresenta-
ciência; apoiar associações que visem ob- lizadas. do por um sócio ou secretário regional e
jetivos semelhantes; representar aos po- Fundada em 8 de junho de 1948 por preencher um formulário apropriado. A
deres públicos ou a entidades particula- um pequeno grupo de cientistas, a SB PC filiação é efetiva após a aprovação da di-
res, solicitando medidas referentes aos reúne hoje mais de 17.000 associados, e retoria, e dá direito a receber a revista
objetivos da Sociedade; incentivar e esti- em suas reuniões são apresentados cerca Ciência e Cultura e a obter um preço es-
mular o interesse do público em relação à de 2.800 comunicações de trabalhos cien- pecial para a assinatura de Ciência Hoje.

AS S E D E S DA S B P C

Lm São Paulo, cncontnt-\t! Depto. de Btologta. U FMT. tel. Geraldo \Vanderle} Marques); Erlon A raujo Rodrigues): San-
na Rua Pcdroso de Morats, 322-00 11 (G ermano Guarim Ne- l\tanaus - l nst1tuto Nacional tos - Facu ldade de Filosofia ,
1512. Pin hei ros - tels.: 21 1-0495 to); Curitiba - D epto. de Zoolo- de Pesquisas d a Amazônia, te l. Cienctas e Letras de Santos, tel.
c 212-0740. Nos outros estados. gia, U FPR, tel. 266-3633 (Wal- 236-0700 (Mana Lúcia Absy); 37-3435 (Alfred o Cordella); São
as rcgionats, com os respecti- mi r Esper): Florianópolis - Cen- 'atai - Centro d e Biocienctas, Carlos - Depto. de Ciê ncias
vos secretários, estão localiw- tro Tec no lógico d a UFSC, tel. U FRN, te l. 23 1-1266 ( Lúcio R á- B1ológicas, U FSCar, tel. 71-8111
d as e m: 33-9465 (Waltcr Celso de Lim a); vio de So uL.a Moreira); Pelotas- (Josué Marqu es Pacheco); São
Aracaju - Coordenação de Fortaleza - De pto. de C iê ncias Depto. de Zoologia e Genética, José dos Campos - Instituto N a-
Pós-Gradu ação e Pesquisa, U r- Socia~c;, UFCE, tel. 223-5951 (E- UF Pelotas. te!. 21-0933 (Jud ith cional de Pesquisas Espactais.
SE, tel.: 224-133 1 (Gtzeld a Sa n- duardo Diata} Be1erra d e Me- Viegas): Piracicaba - Depto de tel 22-9977 (Aydano Barreto
tana Mo rais); Araraquara- Insti- nezes); Goiânia- Depto. d e Ad- Genética, ESA LQ, te l. 33-0011 Culeial): São .José do Rio Preto-
tuto de Química, UN ESP. t el. ministração Escolar. U FG O, tel. (G crhard Bandel); Porto Alegre Depto. de Biologia, Instituto de
32-0144 (Joaquim Theodoro de 225-3788 (Darcy Costa); ltabuna - Instituto d e Ftsica, U f RS. tel. Btociências, Letras e Ctênc1as
Souza Campos); Belém - Labo- - Centro de Pesqutsas do Cacau 31-1215 (Edemundo da Rocha Exatas. tel. 32-4966 (Grigor Var-
rató rio de Psicologia, UFPA, (Paulo de T arso Alvtm); Jaboti- Vieiril); Recife- PIMES. t; FPE. tani.m): São Leopoldo - Museu
tel. 228-2088 (Olavo d e Faria cabal - Depto. de Patologta Ve- tel. 227-2794 (Silke Weber); Ri- de Zoologia. Univ. Vale d o R1o
Galvão); Belo Horizonte - Fun- teriná na. UNESP, tel. 22-081 4 beirão Preto- Depto. de ~1ed tcl­ do ... Stnos (Martin Sander); São
d ep, Re1to ria da U f\.1G, tel.: (Ai vimar Jose dJ Costa): João na Social. LS P. tel. 634-6880 Luis - D epto. de Biologia.
44 1-1365 (Octavio Elisto Alves Pessoa - Laboratóno de T écni- (Jo'\e da Rocha Cavalheiro). Rio UFM A. te! 227- 1003 (Maria
de Bn to): Botucatu - Depto. ca Fa rmacêutica, UFPB, tel. Claro - Instituto de B tOCtênctas, Célia P i re~ C os ta); Teresina- te!.
de M o rfo logia, UN I:.SP, t el. 224-7200 (Lauro Xavier Filho); U""''ESP, te l. 24-23 15 (M aria 232- 1457 (José Wilson Campos
22-0555 ( Lu tz Antonto To ledo): Juiz de Fora- Depto. de Bioquí- '-leysa Silva Stort); Rio de Janei- Batista): Viçosa - Depto. de
Brasilia - ( nstituto de Ciênc1as mtca, U FJF. (D ager Moreira da ro - Coordendção dos Progra- Q uimtca, LFY. tel 891-1790
Biológ1cas, Un B, tel. 272-0000 Rocha): Londrina - Fundação mas de Pós-G raduação em En- {Franc1sca Valverde Garotti);
(Felizard o Pena lva da Silva); IAPAR, tel. 23-2525 (Laura Re- genharia, UFRJ, te!. 280-9322 Vitória - Depto. d e Fisiologia,
Campinas - Instituto de Física, gina Mendes Bernardes): Ma- (Ad ílson de Oliveira, interino); U I I·S. tcl. 227- 131 4 (Marcus LI·
Unicamp, tel. 39-1232 (M ar- ceió - Centro de Cienctas Bioló- Sall'ador - Depto de Bioquími- ra Brandão).
cio D' Olne Cam pos); Cuiabá - gicas, UF AL. tel. 223-3531 (José ca, UFBA. te!. 235-6851 (Luiz

78 ano 1/ n . • 3 CIÊNCIA HOJE


análise do consumo de energia Promovida pela Fundaçao tros de pesquisa próprios man-
JOVENS
- na fabricação de tijolos cerâmi- Roberto ~larinho, a Hocchst do tém con'\·ênios com dezenas de
CIENTISTAS SAO cos utilizados na indústria de Brasil e a Fundação Nacional do laboratórios universitários,
PREMIADOS construção civil. Livro Infantil e Juvenil, a tanto de pesquisa pura quanto
"'Ciranda dos Livros" é um aplicada. O convênio permite ao
O Prêmio Jo,·cm Cientista, projeto de caráter cultural, com CNPq atingir objetivos determi-
promovido pelo Conselho Na- reflexos na educaçao. Paralela- nados de sua política científica,
Os cientistas Curlos Valois cional dl' l>csenvolvimento mente à campanha pela TV. sem necessariamente criar no-
Maciel Braga. do Rio de Janei- Científiro c Tecnológico serão doadas coleçoes dos livros vos centros de pesquisa, bas-
ro, Oswaldo Cândido Lopes, do (CNPq), Companhia União dos selecionados a mais de 30.000 tando privilegiar laboratórios já
Paraná. e Eleri Cardo1.o, de São Refinadores Açúcar e Café e escolas carentes de todo o país. existentes. A eles, o CNPq con-
Paulo, são. rc pectivamente. os Fundação Roberto Marinho, Para isso. a equipe da • •Ciranda fere prioridade, não tanto como
três primeiros lugares (catego- concedeu. ainda. menções hon- de Livros•• idealizou uma órgão de fomento, mas como ór-
ria Graduados) do l'rêmio Jo- rosas a Fernando Oscar Rutt- biblioteca diferente, que em ,·ez gão de coordenação do apoio à
\em Cientista deste ano, que kay Pereira. do Departamento de estantes utiliza displays de pesquisa. A unhersidadc com-
reuniu 65 candidato de todo o de Arquitetura c Urbanismo da plástico. tornando mais atra- promete-se a dar mais estabili-
país em torno do tema •• Ener- Uninrsidade Federal de Santa ente a apresentação dos livros. dade aos laboratórios seleciona-
gia: Fontes Altcrnati,·as e Con- Catarina, a Enio Rozenbojn, dos para esse tipo de apoio. Com
servação •'. engenheiro mecânico pela Es- Essas bibliotecas básicas isso, o laboratório ganha dos
cola de Engenharia Mackcnzie,e serão distribuídas pelas secre- dois lados, sem perda de autono-
Com pesquisas em otimização a Salcione Terc~.:inha S. Pache· tarias de Educação e Cultura re- mia c sem sair da égide da uni-
de rendimento térmico de mo- co, do Rio Grande do Sul, pelo gionais, e serão acompanhadas versidade.
tores de combustão interna, de trabalho que vêm desenvol· por peças destinadas a orientar
combustível altermttivo c estudo vendo neste campo. os professores e alunos para o Um dos laboratórios escolhi-
da utilização de misturas água- Instituído no ano passado. o uso adequado dos livros, ou dos, o Laboratório de Pe~<luisas
álcool hidratadas. Carlos Valois Prêmio Jo' em Cientista visa a seja. o livro como meio que pos- l'm nispositivos (LPD), pertence
Maciel Braga, proft.·ssor do De- estimular aqueles que se dedi- sa, efeth·amente, alimentar o ao Instituto de Física e vem se
partamento de Engt.•nharia Me- cam a pesquisas científicas no imaginário da criança, enrique- dedkando ao estudo de disposi-
cânica da PUC/ RJ. recebeu o país, e é aberto a jovens de até 30 cendo sua relação com a vida. tivos scmicondutores e ópticos,
prêmio de 1,8 milhão de cru- anos incompletos . inclusive lasers. Os outro~ dois

zearos. A ••ciranda de Livros" terá, pertencem à Faculdade dt.•
numa primeira etapa, a duração En~cnharia: o Laboratório de
Oswaldo Cândido Lopes. com TV LANÇA de dois anos. podendo se esten- Eletrônica e Dispositivos <LED>.
pe"quisas em transe~tcrificação der por períodos de igual dura- <l<.·,·otado principalmente a cir-
"CIRANDA
de óleos vegetais com a utilila- ção. As edições estarão. tam- cuitos integrados, e o Labora-
ção de catalisadores orgânicos DE liVROS" bém. disponh·cis para o público tório de ~lateriais de Grau Ele-
em substituição ao óleo diesel. e nas Jh·rarias de todo o país. trônico (l\IGE), que estuda ma·
Eleri Cardozo. que vem reali- tcriais básicos, como cristais,
zando trabalhos com modela- Já está em andamento no Bra- silido ultrapuro e fios de ouro.
gem, controle e simulação da sil inteiro. a ••ciranda de
operação de plantas industriais, Livros", uma campanha inten- A escolha desses três labora-
OS NOVOS , túrios, que já mantinham entre
,·isando a eficiência energética e siva de televisão para formar en-
a determinação do impacto da tre nossas crian~·as e nossos jo- LABORATO RIOS si uma coordenação sob o nome
substituição de derivados de pe- vens o hábito da leitura. O pro· ASSOCIADOS de Centro de Componentes Sc-
tróh.·o. receberam. rc pccth·a- jeto. lançado na última Bienal mieletrônicos. denota a alta pri-
mcnte. 1.2 milhão c 800.000 Internacional do Lh·ro. reali- AO CNPq oridade que o CNPq está con-
cruzeiro . zada em São Paulo, selecionou. ferindo ao setor da microclctrô-
atra,-é" da Fundação Nacional . nica. Por esse motivo. e pelo fato
Foram premiados. ainda. na do Livro Infantil e .Ju,·enil. 15 tí- Uma no' a e promissora mo- de o texto do primeiro com ênio
categoria Estudante~. com prê- tulos dos mais renomados au- dalidade de estímulo à pesquisa ~er deliberadamente ,- a~o. os

mios de estimulo no Yalor de tores nacionais, entre os quais científica foi inaugurada pelo meios acadêmicos ainda consi-

300.000 cruzeiros cada um, o l\lontciro Lobato. Erico Verís- Conselho 'acionai de Desen,·ol- deram um pouco prematuro fa-
paulista Adelino Zonho. com simo. Vinicius de Moraes. ' imento Científico e Tecnológico zer um prognóstico seguro . obre
llcsquisas em biolumin cência. l\fârio Quintana. Chico Suar- (C ~Pq) com a a~inatura de con- o possh el alcance dessa no' a
células foto-eletroquímicas c fi. que de Holanda, Clarice Li pec- \'ênio com a Unh ersidade de modalidade de estímulo à pes-
tobiônica, o mineiro 1arcclo tor. Ziraldo c Lygia Bojunga Campinas que declara trê la- quisa. A idéia básica em discus-
Abdala da Sih a, que está dcsen- Nunes. lensagens na TV basea- boratórios daquela unh· c~idade ão no CNPq em 1980 era a de
voh·endo trabalhos para a fabri- das no ·Ih ros de ·tes autores mo- as ociadas ao C 'Pq. O con\'ênio fazer dos laboratórios associa-
cação de álcool ctllico sintético a th·arão as criança"' para o hábito inspira-c;c na experiênc a muito dos um poderoso instrumento de
partir de calcário c fino~ de car- de ler, prontndo que a leitura hem sucedida do Centro Nacio· C..\timulo à pesquisa em todos os
\'áo ,·egetal, c o gaúcho \Vcrner pode ser uma '"gostosa nal de l,esquisa Científica da camJ>OS do conhecimento puro e
Lorcnz. <am· está realizando a brincadeira, •. França (CNRS). que além de <.-en- aplicado.

novembro/dezembro 1982 79

MORTALIDADE como a a i tência ho pita lar c o identificam a ação de uma variá- salário se deve na maior parte a
abastecimento de água. ou po- vel independente, tendo a outra uma identificação da evolução
INFANTIL dem mesmo apresentar relação sob controle. dos salários com a da cobertura
EM S. PAULO complexa e de mais de um sen- O resultados mostraram de água. Diferentemente dos
tido com as condições de vida - que, na década de 50. a mortali- períodos anteriore • não se po-
O coeficiente de mortalidade como o~ padrões de fertilidade c dade este,·e signifkativamente deria dizer que a evolução da~
infantil - número de óbitos de os movimentos migratórios. In- correlacionada à evolução do fa- demais condiçf;es componentes
menores de um ano para cada dícios de predomínio de fatore tor de maior abrangência - o da qualidade de vida da popula-
• mil na~imentos , ·h·os - apesar menos abrangentes com relação ' 'alo r do salário mínimo real, le- ção tenha acompanhado a ten-
de sua especificidade, freqüente- à qualidade de ,·ida podem ser ' 'ando a crer que o restante das dência da mortalidade. já que
mente é considerado como me- detectados nas quedas de mor- condições de vid~t, do mesmo desta ~·u um fator de maior cs-
dida indicadora da qualidade da talidade observadas neste século modo como a mortalidade infan- pecifiddade é que teria atuado
vida de uma dada população e, devido ao progressh•o aperfei- til. de,·a
,
ter melhorado no perío- sobre o coeficiente.
portanto, do seu oâ\:el de desen- çoamento da tecnologia médica do. E inexpressh·a. nesta dé- Diante dos resultados obser-
volvimento. nos países desenvolvidos e ao cada, a correlação entre a mor- vados, o autor conclui que:
A justificativa teórica para a • emprego de campanhas de sa- talidade infantil c o fator de me- a) em São Paulo, como em ou-
elevada "sensibilidade social" neamento nos países não desen- nor abrangência (a cobertura do tros locais. a interpretação da
do coeficiente de mortalidade in- voh·idos. Do mesmo modo. re- abastecimento de água). que relação entre a mortalidade in-
fantil tem repousado na grande duções seletivas de natalidade permanece estagnada no fantil c a qualidade de vida como
influência que os principais de- observadas nos estratos popula- período. uma relação simplesmente li-
terminantes de nivel de vida - cionais mais pobres da popula- Na década de 60, novamentt• a near c de nature1.a imersa é ex-
alimentação. moradia, acesso a ção, e portanto mais expostos a evolução dos valores da mortali- tremamente perjgosa. quando
serviços de saúde, entre outros risco, têm ensejado em pais€!s dade se mostra correlacionada à não contraproducente;
- exercem sobre a probabili- desenvolvidos e não desenvolvi- evolução dos valores do salário b) recursos de saúde pública,
dade de sobrevivência no pri- dos quedas de mortalidade in- mínimo real, com a diferença de que no passado t•xerceram im-
meiro ano de vida. fantil independente da evolução que. desta vez, o período carac- portante papel na redução da
Buscando compreender esta~ das condições de 'ida. teriza-se por sensível agrava- mortalidade, como as campa-
articulações no município de São O estudo do significado assu- mento da mortalidade infantil, nhas de crradica~·ão de vetores e
PauJo, o professor Carlos Au- mido no município de São"' Pauro bem comÕ pela redução dos outras campanhas sanitárias.
gusto Monteiro. do Departa- pela relação entre a mortalidade valores do salário mínimo real. ainda têm um potencial muito
mento de Nutrição da .F aculdade infantil e a e,•olução da quali- A correlação entre o coeficiente expressivo para a diminuição
de Saúde Pública da lJSP, publi- dade de vida se afigurava pro- de mortalidade c a cobertura de dos nh.. eis de mortalidade infan-
cou na Revista de Saúde Pública missor em função de três razücs água é inversa no período, idên- til de localidades como São Pau-
artigo em que examina as corre- básicas: a) a condição singular tica à existente entre mortali- lo, desde que sejam desen\olvi-
lações existentes nas três últimas do município. uma IO<.·alidadt• de dade e salário. emhora não che- dos de forma a se contraporem
décadas entre as séries históricas um pais não descn~ohido com gue a st•r estatisticamente signi- especificamente aos fatores de
da mortalidade e as séries his- um sistema razoável de registro ficativa nem pareça influir na maior peso na mortalidade~
tóricas do valor do salário mí- de estatísticas vitais; h} o caráter correla\·ão alcançada entre mor- c) a concomitância da imple-
nimo real e da cobertura do hegemúnico da economia de São talidade e salário. Pode-se su- mentação de recursos mais espe-
abastecimento público de água . Paulo no processo nacional de por. portanto, que na década de cíficos de combate a mortalidade

Estes dois últimos - salário c desenvolvimento; c) a inusitada

60 o restante das condições de infantil, como ocorreu em São
água- entendidos como fatores evolução de sua mortalidade in- vida <tue dependt•m igualmente Paulo c.:om o abastecimento de
de maior e menor abrangência fantil, em declínio na década de do poder aquisith•o da popula- água c com a melhoria das con-
para o conjunto das condições de 50, em intensa elevação na dé- ção tenham, como a mortalidade dições gerais de ' 'ida proporcio-
vida da população. cada de 60 e novamente em de- infantil, piorado. nada pelo aumento do poder
A relação que a evolução se- clínio acentuado na década de Na década de 70, caracteri- aquisitivo da população. é a si-
cular da mortalidade infantil 70. zada em sua segunda metade por tuação que reúne o maior poten-
vem mantendo com a evolução A relação que a evolução de acelerada redução do coeficiente cial llara a redução do coefi-
das condições da qualidade de cada uma das variáveis indepen- de mortalidade infantil. ambas ciente de mortalidade infantil.
vida tem ·se revestido de caráter dentes - salário mínimo real e evoluções, do salário e da água. Em São Paulo, pode-se perfeita-
intrinsecamente dinâmico ao proporção da populaçao coberta se mostraram significat h ·a- mente supor que o encontro do
longo do tempo e das estruturas com água- manteve no período mente correlacionadas à e\·olu- salário mínimo de 59 com o
sociais. O caráter dinâmico de- considerado com a l'ariá,·el de- ção da mortalidade, com coefi- abastecimento de água de 79,
corre da abrangência maior ou pendentt• (coeficiente de mor- cientes,próximos a um. O estudo que nunca existiu na prática.
menor que os fatores determi- talidade infantil) foi estudada indh i dualizado da ação de cada teria sido capaz de propiciar
nantes da redução ou elevação através do cálculo do coeficiente uma daquelas variáveis mos- condições para que a mortali-
da mortalidade po ucm com re- de correlação entre as respecti- trou, entretanto, ubsistência da dade infantil do município
lação às condições gerais de vas séries históricas. Em virtude significação da t•orrelação ape- nunca tivesse interrompido sua
vida. Estes faton•s podem ter de possível correlação entre as nas no caso da C\ olução da co- tendência secular de queda e
grande abrangência - como o \'ariá,·eis independentes. foram bertura de água. Assim. parece atingisse níveis realmente com-
nh·el de renda e de educação, também calculados os coeficien- que a correlação observada no path·eis com a magnitude de seu
abrangência mais restrita - tes parciais de correlação que período entre mortalidade e desenvolvimento econômico.
A

80 ano 1/n.• 3 CIENCIA HOJE



Em 1982, com a mesma Com o Programa Fundo de Sul)erando as limitB}Ções
quantidade de petróleo, a Barril, esses excedentes de Adotado pela Petrot5rás
Petrobrás conseguiu produzir óleo combustível estão sendo desde meados de 1981, o
mais 40 mil barris diários de transformados em outros Programa Fundo de Barril
óleo diesel, gasolina e gás derivados, ainda responde aos esforços da
liquefeito, devendo alcançar imprescindíveis a Companhia, através de novas
os 100 mil barris em 1985. importantes setores do técnicas de refino que
Este volume adicional gerou sistema produtivo brasileiro, desenvolveu em função das
uma economia de divisas principalmente o dos recentes necessidades do
superior a 200 milhões de transportes e mecanização mercado nacional.
dólares, podendo chegar a agrícola - além do uso Um avanço que superou a
500 milhões em 1983 e dobrar doméstico do gás de limitação técnica das
para 1 bilhão de dólares em cozinha. unidades industriais.
1985.
,
E o Programa Fundo de Barril.
Por meio dele a Petrobrás 1982
está redúzindo a produção de
óleo combustível e
aumentando a dos derivados
leves, bem mais valorizados
no mercado.

Racionalizando a produção •

O esforço para reduzir as


importações de petróleo,
resultou na entrada do carvão,
madeira e de outras fontes
alternativas de energia que
gradativamente foram
L EGEND A
substituindo o óleo D GÀ S
1985
combustível para movimentar CJ GASOLJHA
as indústrias. liliiJ DIESEL
Por isso, o óleo combustível Olf O COMBUSTI VEL

passou a ter grandes


excedentes, cujo destino final
seria a exportação - no caso,
com poucas vantagens PETROBRAS
PETROU.O BRASIL EIROS A
econômicas, pelo seu valor
muito baixo no mercado Estamos trabalhando para um m elh or aprovei tamen to d o barril de ,.trólttO

externo. governo João Figueiredo


JUL. DE1983 ,

BELE -PARA

Caixa Postal 2089


São Paulo - SP
Telefone : 814-9119
Subvencionado :
Fundação de Amparo à Pesquisa do Es t ado de Sao Paulo
~ INSTITUTO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO, CIENCIA E C ULTURA
r--.... IBECC / UNESCO- C0MISSÃO DE SÃO PAULO ..
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