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INCLUSÃO E EXLUSÃO NO MEIO ESCOLAR


Eliza Desabado Castiglioni1

Resumo
O atual artigo tem por objetivo refletir sobre as condições dos grupos minoritários
presentes nas escolas. Para tanto, o presente estudo traz um breve panorama sobre a
realidade das escolas públicas brasileiras que não conseguem inserir pessoas portadoras
de deficiência, seja física ou intelectual, e até mesmo grupos étnicos que são
considerados “diferentes”. E a partir de então, verifica-se a necessidade de discutir o
significado das palavras “inclusão” e “exclusão”, e entender quais são os fatores que
levaram a escola a ter dificuldade em agregar esses grupos. Ademais, é imprescindível
que analisemos vias que promovam as desigualdades entre alunos, e meios possíveis
para que o professor, em meio a este impasse, consiga diminuir as diferenças e a ensinar
e aprender juntamente com os educandos a importância da inclusão escolar.
Palavras chaves: Inclusão. Exclusão. Grupos minoritários. Professor e aluno.

Abstract
The current article aims to reflect on the conditions of minority groups present in
schools. To this end, the present study provides a brief overview of the reality of
Brazilian public schools that fail to insert people with disabilities, whether physical or
intellectual, and even ethnic groups that are considered "different". And from then on,
there is a need to discuss the meaning of the words "inclusion" and "exclusion", and to
understand what are the factors that have led the school to have difficulty aggregating
these groups. In addition, it is imperative that we analyze ways that promote inequalities
among students, and possible means so that the teacher, in the midst of this impasse, can
reduce differences and teach and learn together with the students the importance of
school inclusion.
Key-words: Inclusion. Exclusion. Minority groups. Teacher and student.

Considerações iniciais

Muito se discute sobre a inclusão e exclusão no âmbito escolar atualmente, e não


podemos deixar de ressaltar que tais debates e discussões sobre o assunto têm
contribuído de forma significativa para o aperfeiçoamento das práticas pedagógicas.
Tais práticas possuem o papel fundamental de amenizar as desigualdades dos sujeitos
historicamente excluídos do processo educacionário e reconhecer que os grupos
minoritários possuem voz e que são capazes de adquirirem conhecimentos. Contudo,
ainda há na sociedade brasileira uma acentuada exclusão no que diz respeito a esses

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Eliza Desabado Castiglioni é graduanda em Licenciatura em História pela Universidade
Federal do Espírito Santo
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grupos presentes na escola, e é necessário então analisar as causas e soluções para


superar esta barreira e construir um ambiente escolar mais igualitário. Procuramos aqui
realizar esta tarefa a partir de autores como Bruna Caroline Moreira Silva, Enicéia
Gonçalves Mendes, Pierre Bourdieu entre outros, que iram nos auxiliar a compreender
de forma mais didática possível todos os parâmetros da exclusão e inclusão.

1. O conceito de exclusão e seus efeitos no âmbito escolar

Os dicionários de língua portuguesa definem o termo “exclusão” como ato de


excluir ou como uma ação que exclui ou priva alguém de exercer determinadas funções.
É entendido também como dificuldades que determinado grupo social possui, que levam
ao isolamento a até mesmo discriminação. Essa exclusão é visto como ponto máximo da
marginalização, fazendo com que este grupo se afaste gradativamente da sociedade.

No que diz respeito à exclusão no âmbito escolar, temos que ter em mente que
esse fator atinge diretamente os que possuem renda baixa, grupos étnicos e aqueles que
são portadoras de deficiências. Mas antes de analisar e discutir sobre esses grupos
minoritários e suas condições, é essencial trazer a tona os principais fatores e barreiras
que levam a privação escolar desses grupos.

O primeiro fator a ser analisado é a questão meritocrática que menospreza os


menos aptos. Segundo Bruna Caroline Moreira Silva (2017), a meritocracia se da por
meio da hierarquização dos cargos, sendo que cada pessoa é sujeita a um cargo com
base nos seus méritos e conhecimentos, e, portanto, o poder é caracterizado de forma
impessoal. Dessa forma, o conceito de meritocracia se constrói:

[...] justificado pela impessoalidade na hierarquização de


cargos, cujas ocupações seriam feitas apenas de acordo com a
competência e especialização dos indivíduos para tal. (MOREIRA,
2017, p.25, lei de cotas e o mito da meritocracia)

Muitas pessoas atualmente defendem a meritocracia, afirmando que


independente de seu status social, qualquer um é capaz de ascender através do seu
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esforço. Essa crença originou-se paralelamente a democracia moderna2, que garante


direitos igualitários a todos, e que basta apenas se dedicar para possuir uma condição de
vida mais favorável. Contudo, segundo o sociólogo Pierre Bourdieu, há muitas
evidências cientificas que nos permitem questionar sobre tal pensamento. É inegável
que muitos indivíduos sejam capazes de alcançar determinada posição social, no
entanto, mesmo assim a origem social ainda é um fator de extrema relevância para esse
assunto. Crianças e adolescentes que pertencem a famílias de origem mais pobres
possuem baixos índices de rendimento escolar, e o exemplo disse é que na sociedade
brasileira as chances de educação de qualidade pra os que são de famílias mais ricas são
maiores do que as de classes inferiores. Não irei me prolongar, contudo, nesse assunto,
pois renderia outro debate com muitas questões a serem analisadas a respeito da
meritocracia. O que enfatizo aqui é que de fato a meritocracia ignora as desigualdades
presentes no contexto escolar.

Outro aspecto a ser destacado são as condições socioeconômicas presentes nas


escolas. Seguindo ainda os pensamentos de Bourdieu para a explicação dos fatores que
geram desigualdades, ele aponta que os indivíduos possuem três tipos de capitais
culturais, mas em dimensões diferentes, sendo estes: econômico (salário), cultural
(conhecimento) e social (relações). O resultado desses capitais gera uma estratificação
social, e isto atinge de forma profunda a escola, pois os indivíduos que nascem em um
seio familiar que possuem tais capitais culturais possuem acesso livre a esses, já os que
nascem em um âmbito menos favorecido acabam por não desenvolverem esses
aspectos. Em decorrência da origem social, os alunos logo conhecem essas
desigualdades entre capitais e isso consequentemente gera uma reprodução social.
Segundo Bourdieu (1997, p.86),

Acumulação de capital cultural desde a mais tenra infância –


pressuposto de uma apropriação rápida e sem esforço de todo tipo de
capacidades úteis – só ocorre sem demora ou perda de tempo,
naquelas famílias possuidoras de um capital cultural tão sólido que
fazem com que todo período de socialização seja, ao mesmo tempo,
acumulação. Por consequência, a transmissão do capital cultural é,
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O seio familiar no qual a pessoa nascia era fator de extrema importância para a ascensão
social até na Idade Média. Aquele no qual pertencia a uma família mais nobre já possuía seus
direitos garantidos, o mesmo vale para aqueles que nasciam em famílias mais abastadas, ou seja,
não havia acesso aos direitos. Logo após o fim desse sistema com o surgimento da democracia
moderna, todos sem exceção, passaram a ter direitos de forma igualitária.
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sem dúvida, a mais dissimulada forma de transmissão hereditária de


capital.

E por fim, vale ressaltar que a nossa cultura sempre nos levar a pensar que
aquilo que é diferente é perigoso. Devido à falta de conhecimento e informações que os
professores não adquirem e que deixam de repassar aos seus alunos, acaba gerando
conflitos de não reconhecimento dos grupos minoritários e de muitas vezes um
relacionamento de estranheza em relação a este. A consequência disto claramente
resulta em uma segregação escolar, onde esta parcela excluída por ser “diferente” aos
olhares dos demais alunos, não conseguem se interagir com a escola.

Já então destacado quais são os principais aspectos que levam à exclusão


escolar, cabe agora fazer um breve panorama sobre quem são esses grupos minoritários.
Segundo dados elaborados pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância)  em
parceria com a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, relatam que os mais
atingidos são em especial meninas e meninos negros e pobres. Esses dados apontam que
há uma maior evasão escolar entre jovens de 15 a 17 anos, que juntos formam
aproximadamente 1,7 milhões de indivíduos fora das escolas. Infelizmente barreiras
como o racismo e a baixa escolaridade da família são fatores que impedem o acesso à
educação.

Ademais, outro grupo que se encontra nessas condições de exclusão são os


portadores de deficiências. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), cerca de 60% da população de 15 anos ou mais, que possuem alguma
deficiência, não chegaram a se quer concluir o ensino fundamental. A falta de
infraestrutura, equipamentos especializados e professores aperfeiçoados impedem que
esses grupos se desenvolvam e que criem laços de amizade e respeito com os outros
alunos. É preciso, portanto, vencer as barreiras psicológicas, que separam esses
estudantes com os demais da escola.

Expostos as causas da exclusão escolar os principais grupos afetados, é


necessário apresentar por fim, seus efeitos neste ambiente e consequentemente fora do
mesmo. Como já discutido acima, crianças e jovens cuja origem familiar é de classe
baixa ou pertencente à grupos étnicos, encontram maior dificuldade para interagirem
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com a escola, e o resultado disso claramente é um enorme evasão, pois muitos destes
alunos preferem assim ajudar a sustentar a família por meio do trabalho, já que não
encontram esperanças na educação. No que se refere aos grupos com portadores de
deficiência, a falta de equipamentos especializados e o certo “estranhamento” que
muitos alunos e professores possuem criam cada vez mais uma discriminação e
isolamento, impedindo que estes de construir sua identidade. A partir então desses
aspectos, irei abordar no próximo assunto, como professores e alunos podem trabalhar
em conjunto para diminuir as diferenças, aprender a aceitá-las para criar uma sociedade
mais justa e igualitária. Através disso é importante aprender e trabalhar sobre o conceito
de inclusão e suas mais diversas aplicações no âmbito escolar.

2. Reflexões sobre a importância da inclusão escolar

Entendemos que por inclusão seu significado em diferentes áreas 3pode ser
amplo, mas no que no geral representa ou condiz ao efeito de incluir, inserir ou fazer
parte de algo. No que se refere à inclusão escolar, assumi um caráter de tornar a escola
mais igualitária:

O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas


deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou
outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas,
crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de
população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas,
étnicas ou culturais e crianças de outros grupos desvantajosos ou
marginalizados (UNESCO, 1994, p.3).

A inclusão escolar, portanto, segundo Enicéia Gonçalves Mendes (2018, p.64),


pode representar pelo ato de matricular-se o inserir o aluno em uma classe comum, isto
seria de extrema importância, pois, aqueles indivíduos nos quais são exclusos, ao longo
prazo poderiam conquistar a incorporação social, seu desenvolvimento pessoal e sua
cidadania. Contudo, medidas precisam ser tomadas para que a inclusão se desenvolva
em âmbitos escolares, pois o que se percebe atualmente é que no Brasil, segundo

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Aqui, podemos analisar o significado de “inclusão” e aplicá-lo em diferentes áreas do dia a
dia. Com por exemplo no contexto de ciências sociais por significar direitos igualitários a todos,
na matemática um conjunto numérico, entre outros conceitos .
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avaliações internacionais, possui o pior desempenho do mundo, no que diz respeito ao


ato de incluir.

Medidas como redes de suportes instalados nas escolas públicas, diferentes tipos
de apoio, infraestrutura certa para atender crianças portadoras de deficiências como, por
exemplo, professores capacitados, materiais didáticos apropriados, adequação dos
espaços físicos de fácil locomoção, seria de extrema importância para promover a
inclusão. Ademais, as escolas deveriam trabalhar em conjunto com as famílias e
profissionais da área da saúde para que haja maior apoio e que o processo de
escolarização se torne mais acessível e justo:

O professor [...] deve ser assessorado na construção dos


saberes que envolvem a educação portadores de necessidades
especiais, a fim de que a educação inclusiva de fato promova a
aprendizagem de seus alunos e desenvolvimento de suas
possibilidades. (SERRA. 2006. p.31)

Em se tratando de grupos socio-econômicos-culturais, o professor possui um


pepel muito importante neste momento para maior igualdade escolar. O educador
deveria, portanto, seja por meio de literatura ou do próprio conteúdo passado, promover
debates e dinâmicas em sala de aula para que haja maior conscientização da parte dos
alunos. É de se pensar que a discriminação construída pela sociedade, precisa então,
passar por uma desconstrução. Isso tudo pode ser ensinado nas salas, pois a partir disso
os alunos poderão enxergar que mesmo em meio às diferenças, todos merecem direitos
iguais e acima de tudo, respeito. Nas palavras de Paulo Freire:

Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem o


que a escuta não se pode dar. Se discrimino o menino ou menina
pobre, a menina ou o menino negro, o menino índio, a menina rica; se
discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso
evidentemente escutá-las e se não as escuto, não posso falar com eles,
mas a eles, de cima para baixo. Sobretudo, me proíbo entendê-los. Se
me sinto superior ao diferente, não importa quem seja, recuso-me
escutá-lo ou escutá-la. O diferente não é o outro a merecer respeito é
um isto ou aquilo, destratável ou desprezível. 4

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FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 5ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1996. p. 136.
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Considerações finais

De fato, podemos perceber que a educação em muitos aspectos se da de forma


desigual e injusta, e que ao contrário, o propósito maior dela seria diminuir as diferenças
entre as pessoas e formar cidadãos mais conscientes a respeito do mundo. Ademais, os
fatores que causam a exclusão são diversos e ultrapassam os muros da escola, e superar
cada um desses obstáculos requer um compromisso das mais variadas esferas da
sociedade para garantir o acesso à educação das crianças e adolescentes.

Enfim, meu propósito neste ensaio foi propor reflexões para além dessas linhas
escritas sobre o quadro atual das escolas brasileiras no quesito educação igualitária e
mais inclusiva. Refletir sobre o sistema educacionario atual, seria uma forma de
desconstruir todos os paradigmas da exclusão, e a partir disso construir e formar
cidadãos por meio da própria educação, pois ela sim é o caminho para a democracia.

Referências bibliográficas

https://www.huffpostbrasil.com/cenpec/quando-o-discurso-da-meritocracia-ignora-a-
desigualdade_a_21692189/
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http://www.fclar.unesp.br/Home/Departamentos/PsicologiadaEducacao/inclusao-e-
exclusao-no-ambito-escolar.pdf

http://www.sociologia.com.br/sociologia-da-educacao-as-desigualdades-em-frente-a-
escola/

https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-exclusao-das-pessoas-com-deficiencia-do-
sistema-de-ensino

SERRA, Dayse: Inclusão e ambiente escolar, 2006.

MENDES, Enicéia Golçalves. Sobre alunos “incluídos” ou “da inclusão”: reflexões


sobre o conceito de inclusão escolar. In______ Educação especial inclusiva: 2018, p.
58-81.

BOURDIEU, P. Capital Cultural, Escuela y Espacio Social. México: Siglo Veinteuno.


1997.

SILVA, Bruna Caroline Moreira: Desconstruindo mitos: meritocracia e a lei de cotas.


Viçosa, Minas Gerais, 2017.

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