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4p. Mod3.

Caso 1

Objetivos de Aprendizagem:

- Identificar quais as principais correntes históricas da antropologia


cultural

- Explicar as mudanças gradativas que ocorreram ao longo da evolução


humana a partir da visão de cada corrente

- Definir determinismo biológico e geográfico

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ESQUELETO

- Conceito amplo de cultura

- Determinismo biológico e Determinismo geográfico

- Teóricos que abordaram conceito de cultura

- Cultura na visão antropológica: cultura para Tylor e cultura para Kroeber

- Endoculturação

- Questões
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ANOMIA. In. Dicionário do Google. Disponível em:


<https://www.google.com/search?q=anomia>;. Acesso em 11 de abril de 2022.
BARBOSA, Gilmara. Anomia, Direito e Pós-Modernidade. Revista do Instituto
do Direito Brasileiro, Vol. 2 (2013), No. 8, 9043-9081, 2013.

O que é ANOMIA?

Segundo artigo de Barbosa (2013):

"A palavra anomia tem origem grega. Deriva de anomos, onde a representa
ausência, inexistência, privação de; e nomos significa lei, norma.
Analisando seu significado estritamente etimológico, anomia será, portanto,
uma situação de falta de lei, ou falta de norma de conduta."

"[...] O primeiro uso dessa palavra, no âmbito da sociologia, é normalmente


atribuído ao fundador da sociologia moderna, o sociólogo francês Émile Durkheim
(1858-1917), e teria ocorrido em seu livro “A divisão do trabalho social”,
originalmente publicado em 1893."

"[...] de acordo com Marco Orru, [...] fora do âmbito da sociologia, o primeiro
emprego do termo anomia remonta à Grécia Antiga e foi feito por historiadores que
discutiam as condições sociais de seu tempo, sendo usado para indicar a violação
da lei."

"[...] Robert Bierstedt elencou três significados para o termo anomia que,
embora distintos, relacionam-se:
i) como sinônimo de “desorganização pessoal do tipo que resulta em um
indivíduo desorientado ou fora da lei, com reduzida vinculação à rigidez da estrutura
social ou à natureza de suas normas”, sendo, portanto, uma situação de
transgressão das normas (ex.: delinquência), significando ilegalidade;
ii) para expressar as “situações sociais em que as normas estão, elas
próprias, em conflito, e o indivíduo encontra dificuldades em seus próprios esforços
para se conformar às exigências contraditórias” (ex.: serviço militar x consciência
religiosa); e
iii) o terceiro refere-se à “situação social que, em seus casos limítrofes, não
contém normas e que é, em consequência, o contrário de ‘sociedade’, como
‘anarquia’ é o contrário de ‘governo’.”"

Agora, segundo o dicionário do google, há outros significados. Para a


Teologia, anomia seria uma desobediência à lei divina. Para a Neurologia, anomia
seria a impossibilidade de nomear ou recordar os nomes dos objetos (vimos
bastante isso, acho que no primeiro período, ao estudar os lobos do cérebro, e as
afasias). Para a Psicologia Social, anomia seria uma desorganização pessoal, que
resultaria num indivíduo desorientado, desvinculado do padrão do grupo social.
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CHAUI, Marilena de Souza. Cidadania Cultural: O direito à cultura. São Paulo:


Editora Fundação Perseu Abramo, 2006
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_bi
blioteca/bibli_servicos_produtos/BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Cid
adania-cultural%3Do-direito-a-cultura.pdf

Vinda do verbo latino colere, cultura é o cultivo e o cuidado com as plantas


e os animais para que possam bem desenvolver-se, donde agricultura (Em latim,
ager significa terra, campo; donde agrário) . Por extensão, é empregada no
cuidado com as crianças e sua educação, desenvolvendo suas qualidades e
faculdades naturais, donde puericultura (Em latim, puer significa menino e puera,
menina).

Hanna Arendt, em Entre o Passado e o Futuro , assinala ainda que cultura,


significando cuidado, cultivo, amanho, se estende ao cuidado com os deuses, isto
é, o culto, e com os monumentos do passado. Fundamentalmente, escreve ela,
cultura era a relação dos humanos com a natureza para torná-la habitável para
os homens. Significava, além disso, cultivo do espírito para a verdade e a beleza,
inseparáveis da natureza.

Raymond Williams observa que, a partir do século XVIII, cultura passa a


opor-se à civilização. Esta, entendida como um estágio acabado do
desenvolvimento social, econômico, político e científico, opõe-se à barbárie. É
história. Natureza é o que fazem os deuses, enquanto história é o que podem
fazer os homens. Ora, na oposição à civilização, cultura toma duas direções.
Por um lado, passa a significar o que é “natural” nos homens por oposição ao
artificialismo da civilização, ou seja, designa a interioridade humana (a
consciência, o espírito, a subjetividade) contra a exterioridade das convenções
e das instituições civis-civilizadas. Mas, por outro lado, passa a ser a medida
de uma civilização. Neste caso, cultura não é o “natural” qualquer, mas o que é
específico da natureza humana, ou seja, o desenvolvimento autônomo da
razão no conhecimento dos homens, da natureza e da sociedade, a fim de criar
uma ordem superior (civilizada) contra a ignorância e a superstição. Neste
sentido, torna-se sinônimo de progresso racional e de história. Entendida como
exercício racional da vontade, a cultura surge como reino humano dos fins ou da
liberdade, oposto ao reino das leis necessárias da natureza. Em outras palavras, a
oposição deixa de ser entre o “natural” e o “artificial” para tornar-se oposição entre
liberdade (cultura e história) e necessidade (natureza).

Em decorrência de seu sentido latino e do novo sentido que recebe no final do


século XVII, cultura passa a ter duas significações. Numa delas, refere-se ao
processo interior dos indivíduos educados intelectual e artisticamente; é o
campo das “humanidades”, apanágio do “homem culto” em contraposição ao
“inculto” – esse contraponto, diz Hanna Arendt, exprime e alimenta o filistinismo
burguês. Na outra, marcada pela relação com a história, torna-se o conjunto
internamente articulado dos modos de vida de uma sociedade determinada e é
concebida como o campo das formas simbólicas (trabalho, linguagem, religião,
ciências e artes), produzidas pelo trabalho do Espírito (em Hegel) ou como resultado
das determinações materiais econômicas sobre as relações sociais (em Marx).

[...] Ainda que cultura passasse a significar o campo materialmente


determinado das formas simbólicas e dos modos de vida de uma sociedade, a
divisão social das classes como distinção entre “culto” e “inculto” tornou-se
predominante. Com ela:
1) a cultura e as artes distinguiram-se em dois tipos principais: a erudita (ou
de elite), própria dos intelectuais e artistas da classe dominante, e a popular, própria
dos trabalhadores urbanos e rurais;
2) quando pensadas como produções ou criações do passado nacional,
formando a tradição nacional, a cultura e a arte populares receberam o nome de
folclore, constituído por mitos, lendas e ritos populares, danças e músicas regionais,
artesanato etc.; e
3) a arte erudita ou de elite passou a ser constituída pelas produções e
criações das belas-artes, consumidas por um público de letrados, isto é, pessoas
com bom grau de escolaridade, bom gosto e consumidoras de arte.
A distinção entre cultura/arte popular e erudita, embora seja realmente
expressão e consequência da divisão social das classes, aparece como diferença
qualitativa, que pode ser observada: a) na complexidade da elaboração (a arte
popular é mais simples e menos complexa do que a erudita); b) na relação com o
novo e com o tempo (a popular tende a ser tradicionalista e repetitiva, enquanto a
erudita tende a ser de vanguarda e voltada para o futuro); c) na relação com o
público (na popular, artistas e público tendem a não se distinguir, enquanto na
erudita é clara a distinção entre o artista e o público); e d) no modo de compreensão
(na arte popular, o artista exprime diretamente o que se passa em seu ambiente e é
imediatamente compreendido por todos; na erudita, ele cria novos meios de
expressão, de maneira que sua obra não é imediatamente compreensível a não ser
para os entendidos, que por isso a interpretam para o restante do público). Podemos
dizer que, sem se dar conta e involuntariamente, os dirigentes petistas tendem a
considerar a cultura pelo prisma do filistinismo burguês. Esperamos que os ensaios
deste livro possam ser uma contribuição para mudarmos de prisma.

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TAVARES, Hugo Moura. Raymond Williams: pensador da cultura. Revista


Ágora, Vitória, n. 8, p. 1-27, 2008.
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LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 1ª ed. Rio de


Janeiro: Zahar, 1986.

DETERMINISMO BIOLÓGICO

Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças


genéticas não são determinantes das diferenças culturais. Segundo Felix
Keesing, não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres
genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana
normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início e
m situação conveniente de aprendizado". Em outras palavras, se nós
transportarmos para o Brasil, logo após o seu nascimento, uma criança sueca e a
colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como tal e não
se diferenciam mentalmente e m nada de seu irmãos de criação. Ou ainda, se
retirarmos uma criança xinguana de seu meio e a educarmos como filha de uma
família de alta classe média de Ipanema, o mesmo acontecerá: ela terá as mesmas
oportunidades de desenvolvimento que os seus novos irmãos.

[...]

Resumindo, o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de


um processo que chamamos de endoculturação. Um menino e uma menina
agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de
uma educação diferenciada.
DETERMINISMO GEOGRÁFICO

O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente


físico condicionam a diversidade cultural. São explicações existentes desde a
Antigüidade, do tipo das formuladas por Pollio, Ibn Khaldun, Bodin e outros, como
vimos anteriormente.
Estas teorias, que foram desenvolvidas principalmente por geógrafos no final
do século XIX e no início do século XX, ganharam uma grande popularidade.
Exemplo significativo desse tipo de pensamento pode ser encontrado em
Huntington, em seu livro Civilization and Climate (1915), no qual formula uma
relação entre a latitude e os centros de civilização, considerando o clima como um
fator importante na dinâmica do progresso.
A partir de 1920, antropólogos como Boas, Wissler, Kroeber, entre outros,
refutaram este tipo de determinismo e demonstraram que existe uma limitação na
influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível e comum
existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente
físico.
CULTURA

No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur


era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade,
enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações
materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor
(1832-1917) no vocábulo inglês Culture, que "tomado em seu amplo sentido
etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo
homem como membro de uma sociedade". Com esta definição Tylor abrangia em
uma só palavra todas as possibilidades de realização humana, além de marcar
fortemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição à idéia de aquisição
inata, transmitida por mecanismos biológicos.

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