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Publicado em 1934 pela Parceria António Maria Pereira, o livro foi contemplado no
mesmo ano com o Prémio Antero de Quental, na categoria de «poema ou poesia
solta», do Secretariado Nacional de Informação, dirigido por António Ferro, o jovem
editor da Orpheu, revista trimestral de literatura, de que saíram dois números em
1915.
Criação
O título original do livro era Portugal. Influenciado por um amigo, Pessoa considera
"Mensagem" um título mais apropriado. Pelo nome "Portugal" se encontrar
"prostituído" no mais comum dos produtos. Pessoa gosta da palavra "mensagem"
a partir da expressão em latim: Mens agitat molem, isto é, "O espírito move a
matéria", frase da história de Eneida, de Virgílio, dita pela personagem Anquises
quando explica a Enéias o sistema do Universo. Pessoa não utiliza o sentido
original da frase, que denotava a existência de um princípio universal de onde
emanavam todos os seres.
Estrutura
Estes 43 poemas agrupados em 3 partes, representam as três etapas do Império
Português: Nascimento, Realização e Morte, seguida de um renascimento.
Brasão, Bellum Sine Bello (guerra sem guerra) – informações sobre a formação
da nacionalidade, heróis lendários e históricos.
I- Os Campos
III- As Quinas
Transposição heráldica das chagas de Jesus, que foram, segundo uma lenda,
oferecidas pelo próprio Cristo ao nosso primeiro rei..
Consagração das figuras nacionais nestes cinco poemas como heróis-mártires
que contribuíram para cimentar a mística nacional.
IV- A Coroa
Símbolo de perfeição e de poder; promessa de imortalidade.
Representada pelo arquétipo do herói-cavaleiro puro, o Condestável D. Nuno
Álvares Pereira, que coroa simbolicamente o fundador da dinastia de Avis, D. João
I
V- O Timbre
O grifo reforça uma dupla natureza celeste (a águia) e terrestre (o leão), as duas
qualidades de sabedoria e de força de Cristo.
A cabeça do grifo representa o Espírito, a Sabedoria, o Sonho inspirado do Alto; as
asas transportam o sonho, do plano celeste ao terrestre.
III. “PADRÃO”
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
Mar Português, Possesio Maris (a posse do mar) – descobertas, aventura
marítima, conquista do império, (Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce: Tudo
vale a pena se a alma não é pequena) ânsia do desconhecido e esforço heróico da
luta com o mar.
Entre a época do Infante e a de D. Sebastião, Portugal assume-se como a cabeça
da Cristandade ocidental, percorrendo mares desconhecidos e revelando mundos
ignorados, aos quais vai fazer
chegar a mensagem cristã. Descreve-se, primeiro, a epifania oceânica do novo
povo eleito, depois a sua perdição na noite e na tormenta e, finalmente, a sua
prece a Deus para o ressurgimento ou a reconquista da Distância, símbolo de
distância geográfica para a Ásia e as Américas, mas também símbolo da distância
para o mistério do absoluto ou do divino.
Quinto- “O ENCOBERTO”
Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.
Que símbolo final
Mostra o sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
O Encoberto, Pax In Excelsis (paz nas alturas) – morte das energias de Portugal
simbolizada pelo nevoeiro. Afirmação do Sebastianismo. País na estagnação à
espera do ressurgir, do aparecer da Nova Luz (numa alusão ao Quinto Império).
A constatação de um tempo e de um espaço perdidos, envoltos nas brumas da
memória, e o sofrimento do eu poético por ver dormir o seu povo, que tinha perdido
a sua identidade e os seus referentes.
É neste momento que o poeta explicita o significado do Quinto Império,
recorrendo a uma linguagem que deixa antever esse tempo de prosperidade
espiritual, numa estrutura tripartida:
I- Os Símbolos
Correspondem à própria linguagem da existência; os cinco grandes mitos
portugueses.
II- Os Avisos
As profecias dos três grandes arautos do messianismo português.
III- Os Tempos
Desvelam-se os sinais que indiciam a proximidade de «O Encoberto».
Mitos associados
Sebastianismo
1.º Crença do povo no seu regresso, após a derrota em Alcácer Quibir (D.
Sebastião, ente histórico: o «ser que houve», símbolo da decadência), como
salvador da pátria: a possibilidade teórica do regresso físico do rei ajudou a criar a
auréola de mito. Alonso Sánchez Coello, D. Sebastião, 1575.
2.º O regresso iminente do Encoberto foi garante de sobrevivência política, seja
porque congregou sob o mesmo pendão do sonho a Nação destroçada, seja
porque estimulou o instinto de conservação nacional, seja ainda porque foi o lugar
do refúgio contra uma morte anunciada.
3.º Mito messiânico que se funda na esperança da vinda de um Salvador, que virá
salvar e libertar o povo e restaurar o prestígio nacional.
O Quinto Império
Império construído na esfera de uma identidade cultural, um império que a vontade
e a esperança transformadora hão de por força (re)criar contra a decadência
presente, contra a Nação adormecida
Império civilizacional, de paz universal, espiritual, tendo como centro Portugal, que
pressupõe o regresso de um Messias: o D. Sebastião mítico, coordenada simbólica
da sua edificação
Representação mental, uma atitude perante a nação e a nossa própria existência:
a procura do nosso ser
no mundo, como indivíduos e como Povo historicamente predestinado a recuperar
o prestígio perdido.
Intenção do poeta:
Transformar a sua pátria (que se encontrava num estado de profunda letargia,
incapaz de agir coletivamente, olhando apenas para o passado) em «nação criadora
de civilização» através do poder do sonho.
“O mito é o nada que é tudo”, verso do poema “Ulisses”, é o paradoxo que melhor
define essa dimensão simbólica da matéria histórica da Mensagem.
Linguagem e estilo
Recursos expressivos
Linguagem simbólica, com recurso à apóstrofe, à metáfora, à gradação, à
enumeração e à interrogação
retórica
Pátria = Nação
conjunto humano unido por instituições comuns, tradições históricas e, acima de
tudo, uma língua comum.