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FERREIRO, Emília. Alfabetização em processo. São Paulo Editora Cortez, 1984.

Tradicionalmente, o processo de aquisição do sistema alfabético de escrita tem sido


considerado como a aprendizagem de um código de transcrição (de sons e grafemas). Os
processos psicológicos envolvidos eram de índole periférica: discriminação visual e auditiva,
coordenações sensoriais e motoras etc.
Há poucos anos, a visão do processo de aquisição do sistema de escrita mudou de forma
radical, considerando que existe um conhecimento linguístico prévio que o leitor traz para a tarefa.
Agora, as produções escritas das crianças adquiriram um novo significado, merecendo ser
interpretadas e aceitas como escritas verdadeiras, embora se apresentem fora dos padrões do
sistema alfabético.

Definição de alfabetização
A alfabetização é um processo interno, que acontece de formas diferentes em cada
indivíduo, dependendo da forma com que é estimulado por seu meio ambiente. É caracterizada
por grandes dificuldades e conflitos a nível cognitivo, levando a criança a estar em constante
coordenação de informações e reconstrução de seu conhecimento adquirido, provocando assim
mudanças internas e grandes avanços para se chegar no pleno desenvolvimento da escrita e da
leitura.
É uma aventura excitante, repleta de incertezas, com muitos momentos críticos, nos quais
é difícil manter a ansiedade sob controle.” (p. 63)

I. Etapas
A informação oferecida é absorvida, mas se deixa de lado parte dessa informação que no momento
não pode ser assimilada e introduz-se um elemento interpretativo próprio.
A criança estabelece a sua própria lógica na construção da leitura e da escrita e busca respostas
de acordo com o que tem como sua verdade.
Cria a sua própria forma de ler e escrever, e vai assim, conflito após conflito, dificuldade após
dificuldade, criando intrinsecamente as bases para a alfabetização nos modelos convencionais.

I -Modos de representação que precedem a representação alfabética da linguagem:


Modos de representação alheios a qualquer busca de correspondência entre a emissão de um som
e a escrita.
Toda criança parte do suposto que tudo o que está escrito representa o nome da figura que é
mostrada, independente das letras e do som que representem.
Pode-se associar as letras de nomes próprios ou de objetos como se a letra pertencesse àquela
pessoa, mas sem a preocupação do som x letra.

Etapa silábica
Modo de representação silábico, com ou sem valor sonoro convencional.
Aqui cabe salientar a tematização (sob a ótica de Piaget), pois se inicia um certo grau de tomada
de consciência.
Etapas:
1) A sílaba é utilizada sem que o sujeito consiga tirar partido deste “saber como”;
2) A sílaba começa a atuar como indicador, mas impossível de ser coordenado com outros
da mesma natureza (dadas duas sílabas em um nome, em vez de coordená-las na busca de um só
nome, cada sílaba desencadeia uma exploração individual);
3) A sílaba se converte em uma parte não ordenada do nome;
4) A sílaba de um nome passa a ser ordenada. É considerada a relação das partes com o todo
e a ordem serial.
A transição do “saber como”, ao “saber sobre” pode implicar uma série não especificada de passos
ou níveis. O chegar a ser consciente de certos processos implica sempre uma reconstrução com
grande esforço cognitivo.

Etapa silábico-alfabética
Modos de representação silábico-alfabética que precedem a escrita regida pelos princípios
alfabéticos.
Período de reorganização da hipótese da criança. Ela já sabe que precisa olhar todas as letras.
Apresenta a conservação de um significado atribuído ao longo de mudanças contextuais. A
criança construiu sozinha uma hipótese silábica e começa a compreender a relação entre a
totalidade e as partes, além de estar chegando a compreender a relação entre as letras e os sons da
fala.
Depois de passar por vários conflitos, a criança chega à conclusão de que não se pode adivinhar
o que está escrito, mas se precisa reconhecer os fonemas e as letras.
Apesar de a escrita ainda não ter um único sentido, acontecendo da direita para a esquerda, ou da
esquerda para a direita, de baixo para cima, ou de cima para baixo. Começa-se a escrever com
princípios alfabéticos, sem resíduos silábicos, e usando as letras com seu valor convencional.
II – Diferentes modos de se estabelecerem diferenciações qualitativas ou quantitativas, nos
diversos estágios da etapa pré-alfabética:

*Quantitativos
a) Diferenciação quantitativa intra-relacional:
é expressa como a quantidade mínima de letras que uma sequência deve ter a fim de possibilitar
uma leitura.
b) Diferenciação quantitativa inter relacional (não-sistemática): estabelece-se pela quantidade de
letras que um texto deve ter com respeito a um ponto referencial externo não-estável.
c) Diferenciação quantitativa inter-relacional sistemática: estabele-se pela quantidade de letras
que um texto deve ter em relação a um marco referencial externo considerado como fixo. Neste
caso, estabelece-se um relacionamento entre os sistemas sonoro e o gráfico.

Qualitativos
a) Diferenciação qualitativa intra-relacional: estabelece-se pela exigência da variação interna, de
acordo com a qual um texto escrito não pode ter a repetição da mesma letra. Um nome deve ser
escrito com letras diferentes.
b) Diferenciação qualitativa inter-relacional (não-sistemática): para que haja interpretações
diferentes deve haver uma diferença objetiva nos próprios textos.
c) Diferenciação qualitativa inter-relacional sistemática: estabelece-se pela possibilidade de
determinar quais letras, e em que ordem, compõem um nome escrito, com relação a uma estrutura
referencial externa fixa. Neste caso, as letras têm valores estáveis e começam a corresponderem
aos valores sonoros convencionais das letras.

Apreciação Crítica
Emilia Ferreiro, grande precursora e estudiosa do Construtivismo explica nessa obra todo
o processo complexo da aquisição da linguagem escrita.
Para todos os alfabetizadores que se importam realmente com a qualidade de seu trabalho
pedagógico com a mudança radical da vida daqueles pequeninos alunos que lhe são confiados,
esse livro é um dos pontos de partida.
Estudar as etapas da aquisição da leitura e escrita é admitir que as crianças são seres
pensantes e capazes de aprender e ajudar para que todo o processo aconteça da forma mais calma
e tranquila.

Questões de Concursos
Questão 01. Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de referência para o ensino brasileiro e seu
nome passou a ser ligado ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas descobertas a que
chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) na investigação dos processos de aquisição e
elaboração de conhecimento pela criança – ou seja, de que modo ela aprende. As pesquisas de
Emilia Ferreiro, que estudou e trabalhou com Piaget, concentram o foco nos mecanismos
cognitivos relacionados à leitura e à escrita.
Disponível em: http://novaescola.org.br/conteudo/338/emilia-ferreiro-estudiosa-que-
revolucionou-alfabetizacao . Acesso em: 20 out. 2016.
A partir das produções teóricas de Emilia Ferreiro, é possível compreender a escrita infantil. Com
base no referencial de Emília Ferreiro, está CORRETA a afirmação contemplada na seguinte
alternativa:
(A) observa-se que a criança elabora hipóteses acerca da língua escrita, sendo função da escola
promover o avanço dessas hipóteses até a escrita convencional.
(B) a criança sempre aprende, naturalmente, a ler e escrever, sem interferência da escola.
(C) desde que viva numa sociedade letrada, a criança aprenderá a escrita convencional, sem
interferência da escola.
(D) somente no ambiente escolar, aplicando-se métodos e técnicas de alfabetização, com etapas
demarcadas, é possível levar a criança ao uso correto da escrita convencional.
Ano: 2016 Banca: FUNRIO Órgão: Prefeitura de Nilópolis – RJ Prova: FUNRIO – 2016 –
Prefeitura de Nilópolis – RJ – Professor I

Questão 02. Segundo Emília Ferreiro, a criança elabora diferentes hipóteses sobre a escrita, que
são:
(A) Silábica, simbólica, convencional e alfabética.
(B) Pré-silábica, silábica, simbólica e convencional.
(C) Pré-silábica, convencional, alfabética e simbólica.
(D) Pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e simbólica.
(E) Pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética.
Ano: 2013 Banca: IDECAN Órgão: CFFA

Questão 03. Assinale a alternativa que corresponde ao nível silábico de alfabetização com base
em Emília Ferreiro:
(A) A criança passa a adquirir formas fixas de escrita, utilizando letras do seu próprio nome ou
letras conhecidas como fonte principal para seu registro. Cada letra não possui ainda valor sonoro
por si só. Assim, a leitura permanece realizada de modo global. Predomina a escrita em letra de
imprensa maiúscula.
(B) A criança se aproxima de uma análise de fonema a fonema. Percebe que escrever é representar
progressivamente as partes sonoras das palavras.
(C) A criança atribui um valor sonoro a cada sílaba das palavras que registra. As crianças
relacionam a escrita à fala. Algumas crianças escrevem silabicamente, sem valor sonoro. Começa
um conflito entre a hipótese silábica e a quantidade mínima de letras exigidas para que a palavra
possa ser lida. Ela utiliza duas formas gráficas para escrever palavras com duas sílabas, o que vai
de encontro à ideia inicial de precisar no mínimo de três caracteres.
(D) Nenhuma das alternativas.
Ano: 2019 Banca: Instituto Excelência Órgão: Prefeitura de Catanduvas – PR Prova:
Instituto Excelência – 2019 – Prefeitura deCatanduvas – PR – Professor de Educação
Infantil

Questão 04. São constatações de Emília Ferreiro, do ponto de vista construtivo, sobre a escrita
infantil. É INCORRETO afirmar que
(A) a criança que cresce em um meio letrado está exposta à influência de uma série de interações.
(B) a escrita não é um produto, mas sim um objetivo cultural, resultado do esforço coletivo da
humanidade. Como objeto cultural, a escrita cumpre diversas funções de existências.
(C) as crianças precisam atingir certa idade e também precisam de professores para começar a
aprender.
(D) quando uma criança escreve, tal como acredita que poderia ou deveria escrever um certo
conjunto de palavras, está oferecendo um valioso documento que precisa ser interpretado para ser
avaliado.
Ano: 2013 Banca: FRAMINAS Órgão: Prefeitura de Itabirito – MG Prova: FRAMINAS –
2013 – Prefeitura de Itabirito – MG – Professor de Educação Básica – Nível I

Questão 05. Emília Ferreiro, ao se referir à intervenção adequada à natureza do processo de


aprendizagem da língua escrita, indica a
(A) necessidade imperiosa de escolha do método a ser utilizado como produtor de conhecimento
sobre a língua escrita na escola e que o mesmo seja indutor das práticas dos docentes.
(B) eficácia da reflexão epistemológica na identificação dos processos de ensino-aprendizagem
da escrita e da leitura na escola para a compreensão das práticas.
(C) necessidade de perguntar-se sobre as práticas através das quais a criança é introduzida na
língua escrita e como se apresenta este objeto no contexto escolar.
(D) não intervenção do professor nas fases iniciais da alfabetização para que o processo de
construção coletiva das hipóteses seja estimulado e, então, gerar conhecimento.
(E) necessidade de exercitar a dissociação entre o ensino da leitura e da escrita enquanto
aprendizagem de duas técnicas operatórias diferentes, porém interdependentes.
Ano: 2011 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de São Paulo – SP Prova: FCC – 2011 – SME –
SP – Coordenador Pedagógico

Questão 06. Emília Ferreiro descreveu os estágios da escrita, adotando a perspectiva da


psicogênese. Acerca desse conteúdo, assinale a alternativa correta.
(A) Na fase da escrita pré‐silábica, a criança já estabelece relação entre o sistema ortográfico e o
sistema fonológico da língua, apesar de não haver relação sistemática entre letra e som.
(B) No período silábico, as crianças empregam letras para representar uma determinada sílaba,
acrescentando a correspondência letra‐som que conhecem de maneira mais sistemática (ex.:
cnoura em vez de cenoura).
(C) No período silábico‐alfabético, a criança já estabelece correspondências grafofônicas de
maneira mais sistemática e convencional; cada letra representa apenas um fonema e cada fonema
é representado por uma só letra.
(D) Quando a criança entra na fase de escrita alfabética, significa que todas as habilidades
relacionadas à escrita já foram desenvolvidas e dificuldades como a troca de letras, escrita de
sílabas complexas e segmentação das palavras que compõem uma frase não são mais observadas.
(E) No início da fonetização da escrita, a sílaba atua como unidade e a criança representa cada
sílaba da palavra por uma letra: hipótese silábica. O período anterior ao processo de fonetização
é denominado de pré‐silábico.
Ano: 2018 Banca: Quadrix Órgão: Prefeitura de Cristalina – GO Prova: Quadrix – 2018 –
Prefeitura de Cristalina – GO – Fonoaudiólogo Escolar

Questão 07. A teoria do aprendizado de Emília Ferreiro descreve algumas hipóteses do processo
de alfabetização infantil. A hipótese definida como silábica-alfabética se refere:
(A) A criança passa a compreender que a escrita representa o som da fala, a fazer uma leitura
termo a termo e não mais global, consegue combinar vogais e consoantes numa mesma palavra
na tentativa de combinar sons, mas sua escrita ainda não é socializável.
(B) Nessa etapa que a criança passa pelo realismo nominal, supõe que a escrita representa o nome
dos objetos, que as coisas grandes devem ter nomes grandes e as coisas pequenas devem ter nomes
pequenos.
(C) A criança já supõe que a escrita representa a fala e tenta fonetizar a escrita dando valor sonoro
às letras compreendendo que as diferenças na representação escrita estão relacionadas com o som
das palavras.
(D) Caracteriza uma palavra como apenas a letra inicial e tem uma leitura global e individual do
que escreve, ou seja, somente ela sabe o que quis escrever.
Ano: 2019 Banca: AMEOSC Órgão: Prefeitura de São José do Cedro – SC Prova:
AMEOSC – 2019 – Prefeitura de São José do Cedro – SC- Professor – Artes

Questão 08. A teoria do aprendizado de Emília Ferreiro descreve algumas hipóteses do processo
de alfabetização infantil. A hipótese definida como pré-silábica se refere à:
(A) Nessa etapa que a criança passa pelo realismo nominal, supõe que a escrita representa o nome
dos objetos, que as coisas grandes devem ter nomes grandes e as coisas pequenas devem ter nomes
pequenos
(B) A criança já supõe que a escrita representa a fala e tenta fonetizar a escrita dando valor sonoro
às letras compreendendo que as diferenças na representação escrita estão relacionadas com o
“som” das palavras.
(C) Passa a compreender que a escrita representa o som da fala, consegue combinar vogais e
consoantes numa mesma palavra, na tentativa de combinar sons, mas sua escrita ainda não é
socializável.
(D) A criança começa a atribuir valor sonoro as letras, aceitar que não é preciso muitas letras para
se escrever, apenas o necessário para representar a fala.
Ano: 2019 Banca: AMEOSC Órgão: Prefeitura de São José do Cedro – SC Prova:
AMEOSC – 2019 – Prefeitura de São José do Cedro – SC- Professor – Geografia

Questão 09. O Construtivismo, segundo Emília Ferreiro, é uma concepção com base na
Epistemologia Genética de Jean Piaget. Referente à concepção construtivista, é correto afirmar
que ela defende
(A) a repetição e a memorização e o erro é considerado um dos pontos fundamentais, pois mostra
como a criança está construindo o conhecimento e, assim, precisará usar da repetição para a
correção.
(B) a transmissão de conteúdos pelo professor, sendo que o aluno é o receptor/passivo do
conhecimento.
(C) a participação ativa da própria criança, pois ela constrói o seu conhecimento, por meio da
experimentação, do trabalho em grupo e de estímulos que possam gerar dúvidas. O erro é
entendido como um dos pontos fundamentais da construção do conhecimento para que, assim, a
criança busque as respostas.
(D) a prática escolar por meio de aulas expositivas, exercícios repetitivos, para a memorização,
já que o aprendiz é considerado uma tábula rasa.
(E) que o professor é o centro dos processos de ensino e aprendizagem e o aluno, com base na
curiosidade, constrói o seu próprio conhecimento.
Ano: 2019 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: UFPB Prova: INSTITUTO AOCP – 2019 –
UFPB – Pedagogo

Questão 10. Segundo Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, no livro Reflexões sobre Alfabetização:
“A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, resultado do esforço coletivo
da…”
(A) criança
(B) escola
(C) humanidade
(D) família
Ano: 2017 Banca: CONSESP Órgão: Prefeitura de Mesópolis – SP

GABARITO:
1. A
2. E
3. C
4. C
5. C
6. E
7. A
8. A
9. C
10. C

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