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29/01/2019 A fabricação do ferro fundido vermicular | Aranda Editora

A fabricação do ferro fundido vermicular


Este trabalho aborda as vantagens e algumas aplicações do ferro fundido vermicular, dando ênfase à
sua produção por meio da combinação de um pré-condicionamento e tratamento com arame com baixo
teor de magnésio. Também são feitas comparações entre o FoFo vermicular e os ferros fundidos
nodular e cinzento.

Werner Maschke e Manfred Jonuleit são da ASK Chemicals Metallurgy, da Alemanha. O artigo Herstellung von Gusseisen mit
Vermiculargraphi foi originalmente publicado na revista Giesserei no 100, de 2013, págs. 98 a 104. Repro dução autorizada p elo
editor. Tradução de Themistocles Rodrigues Júnior.

Data: 03/07/2017

Edição: FS Maio 2017 - Ano - 27 No 293

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O desenvolvimento do ferro fundido vermicular (GJV)


aconteceu simultaneamente ao do ferro fundido nodular
(GJS). Isso porque o FoFo vermicular surgiu como uma forma
indesejada da grafita ao se fabricar o FoFo nodular.
A sua importância para a produção de componentes resistentes à
temperatura e à fadiga térmica, no entanto, só se tornou evidente
mais tarde.
As vantagens práticas do ferro fundido vermicular, cujas
propriedades situam-se entre as do ferro fundido nodular e do
cinzento, logo foram reconhecidas.
Ao se comparar o FoFo vermicular com o nodular, temos um
coeficiente de dilatação mais baixo, uma maior condutividade
térmica, melhor comportamento à fadiga térmica, um módulo de
elasticidade mais baixo, menor tendência à distorção em
temperaturas elevadas, melhor capacidade de amortecimento e
boa fundibilidade.
A sua confrontação com o ferro fundido cinzento revela uma
menor dependência das propriedades da espessura de parede,
Fig. 1 Estrutura do ferro fundido vermicularnodular,
menor tendência à oxidação com um crescimento menor em altas
conforme a ISO 16112 com diferentes porcentagens de
temperaturas, maior resistência sem elementos de liga, maior
grafita
ductilidade e tenacidade.
Desta maneira, o ferro fundido vermicular é especialmente
indicado para a fundição de peças submetidas a temperaturas
elevadas e também a alterações da temperatura.
Nesse sentido, destacam-se blocos de motor, coletores dos gases de descarga e turboalimentadores, discos de embreagem, discos
de freio, peças hidráulicas, panelas de escória e moldes para vidro.
Trabalhar com o ferro fundido vermicular, entretanto, requer altos requisitos das fundições.

Processo de fabricação do FoFo vermicular


Uma condição fundamental para a produção de peças em ferro fundido vermicular é a con servação de parâmetros uniformes em
todos os passos do processo, desde a análise do ferro base até o vazamento.

O estado atual da técnica de fabricação do FoFo vermicular


compreende as seguintes variantes:
tratamento específico com baixo teor de magnésio,
utilizando uma liga-mãe ou arame com a adição de titânio e
ferro-titânio
pré-condicionamento e tratamento subsequente com arame
ou uma liga-mãe, com ou sem a adição de titânio
tratamento com pouco magnésio, com uma liga-mãe ou
arame e correção subsequente com arame de tratamento
e/ou arame de inoculação, com o auxílio da análise térmica
tratamento com teor reduzido de magnésio, com arame e
inoculação com arame, com base nos valores determinados

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na análise térmica da carga anterior


Fig. 2 -Influência do titânio sobre o ferro fundido vermicular
tratamento específico com baixo magnésio, com arame ou
uma liga-mãe e a adição de CerMM

Propriedades mecânicas do FoFo vermicular


Da mesma forma que o ferro fundido nodular, os valores
mecânicos da versão vermicular também podem ser determinados
a partir de corpos de prova fundidos separadamente, em conjunto
ou que foram extraídos do componente.
A tabela 1 mostra as propriedades mecânicas exigidas no
memorando VDG, enquanto a tabela 2 reúne os valores
característicos da norma ISO 16112.
Os dados relativos à dureza Brinell HB são semelhantes na norma
e no memorando, mas pequenas diferenças nas outras
propriedades devem ser consideradas.
Em relação à formação da grafita, é necessário cumprir
principalmente as exigências dos clientes. Em princípio, não deve
haver qualquer grafita lamelar.
Segundo a norma ISO, são exigidos 80% de grafita vermicular
(forma da grafita III) e são admissíveis 20% de grafita nodular
(forma da grafita V e VI). Porém, outras proporções, como por
exemplo 90/10 ou 60/40 também podem constar das
especificações de fornecimento.
Geralmente, a proporção na formação da grafita é especificada
pelo cliente.
A ausência de grafita lamelar é um fator decisivo em todos os tipos
de ferro fundido vermicular.
A figura 1 apresenta as estruturas do ferro fundido vermicular
conforme a ISO 16112, evidenciando a formação da grafita com
diferentes porcentagens de grafita vermicular e nodular.
Os fornecedores de ferro fundido vermicular devem observar que
a avaliação da grafita só é realizada em micrografias não Fig.3 Estação de tratamento com arame, parafabricação de
atacadas. ferro fundido vermicular
Em relação à estrutura da matriz metálica do ferro fundido
vermicular GJV-300, é possível basear-se principalmente na matriz
ferrítica.
No ferro fundido vermicular GJV350 existe uma estrutura ferrítico-perlítica, enquanto as versões GJV-400, GJV450 e GJV-500
apresentam principalmente estrutura perlítica.

Aspectos da fabricação de fundidos com arame de núcleo e material de


enchimento
Teores de enxofre e titânio
O teor de enxofre assume um papel decisivo no ajuste da análise inicial. O mais indicado para o ferro fundido vermicular são valores
de 0,010% a 0,012% no ferro base.
Quando o teor de enxofre é inferior a 0,010%, é possível efetuar a correção com a adição de sulfeto de ferro (FeS).
No caso de valores superiores a 0,012%, a correção é feita com a preparação da carga. A falta de observação pode provocar
rapidamente a formação da indesejada grafita lamelar ou resultar em proporções elevadas de grafita nodular.

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Fig.4 Exemplo I da estrutura de um ferro fundido vermicular


Fig 5 Exemplo II da estrutura de um ferro fundido
(ampliação 100:1 não atacada)
vermicular (ampliação 100:1 não atacada)

O titânio é outro elemento indicado, visto que ele é um elemento perturbador para a formação da grafita nodular.
O efeito perturbador deste elemento pode ser útil na fabricação do ferro fundido vermicular, uma vez que altera a grafita nodular,
tornando-a muito parecida com a grafita vermicular.
O emprego do titânio ocorre particularmente em coletores dos gases de descarga, nos quais existe a possibilidade da formação de
nódulos de grafita indesejados, em virtude do resfriamento rápido com uma espessura de parede fina, mesmo com baixíssimos teores
de magnésio.
Os teores de titânio podem oscilar entre 0,06% e 0,020%.
Ao se utilizar este elemento, no entanto, é possível que ocorra a formação de carbonetos, o que pode causar problemas na usinagem,
devido ao desgaste da ferramenta.
Como as fundições que trabalham com o ferro fundido vermicular geralmente também produzem peças em ferro fundido nodular, é
absolutamente necessário separar os materiais reciclados, pois a contaminação por titânio pode ter consequências sérias.
Quando possível, o recomendável é evitar o seu emprego. Atualmente, blocos de motor e um grande número de placas de
compressão são fabricados de modo bem-sucedido sem o uso de titânio.
Nos casos em que é preciso utilizálo, a adição de ferro-titânio deve ser efetuada na unidade de fusão.

Pré-condicionamento
Os teores de enxofre presentes no ferro base são conhecidos, mas o mesmo não ocorre com relação ao oxigênio no banho fundido,
embora ele desempenhe um papel decisivo na fabricação do ferro fundido nodular e ainda mais no vermicular.
Como o oxigênio consome duas vezes mais magnésio do que o enxofre, o seu teor deve ser baixo.
O ajuste de baixos valores totais de oxigênio e oxídulo (nódulo de óxido) antes do tratamento com magnésio é importante para a
fabricação do ferro fundido vermicular.
No caso de altos teores presentes no banho fundido, sempre existe o risco do magnésio ser convertido em óxido de magnésio (MgO)
ou sulfeto de magnésio (MgS), com a adição da mesma quantidade que resulta na formação de lamelas indesejadas.
Por meio de um pré-condicionamento com VL(Ce)2 (ASK Chemicals), por exemplo, é possível reduzir o teor total de oxigênio e
oxídulo no banho. A adição é realizada durante o vazamento, antes do tratamento com magnésio. Além da redução dos teores de
oxigênio, também é promovida a formação de sulfetos Cer-Oxi, os quais agem como germes e ainda são reforçados com a presença
de manganês e zircônio.
Um teor total de oxigênio em torno de 30 ppm e de oxídulo entre 1 e 2 ppm são boas condições para o tratamento bem-sucedido do
ferro fundido vermicular.
Exames realizados revelaram teores totais de oxigênio de 22 ppm em uma medição, e de 24 ppm em outra, após um pré-
condicionamento e antes do tratamento com baixo teor de magnésio.

O tratamento com arame


Após o pré-condicionamento durante o vazamento, é feita a transferência da panela para a estação de tratamento com arame (figura
3).
Caso exista uma quantidade excessiva de escória na superfície do banho, é necessário removê-la antes do tratamento com
magnésio. Para este tratamento, a AS K Chemicals desenvolveu arames especiais.
Com teor de enxofre inicial de 0,010% a 0,012%, faz-se necessário adicionar 8 a 10 m de arame/t. Isso significa 3 a 4 kg de arame/t.
Com um teor de material de enchimento ao redor de 60% do peso total do arame, o peso do agente de tratamento alcança 1,8 a 2,4
kg/t. Os tempos de tratamento chegam a 20 a 30 s. Após o tratamento com magnésio, é a vez de remover a escória.
A inoculação pode ser realizada durante a transferência para o equipamento de vazamento.

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O agente de inoculação SRF 75, com baixo teor de alumínio, é


apropriado para o ferro fundido vermicular.
As temperaturas de vazamento alcançam geralmente 1380°C a
1420°C, como é o caso dos platôs de embreagem.
Os coletores dos gases de descarga fundidos na liga GJV-SiMo
naturalmente requerem temperaturas de vazamento maiores.
Os tempos de vazamento para uma carga de 1 t, por exemplo, não
devem exceder 10 min. Isso devido ao efeito de desvanecimento,
que pode exercer uma influência negativa sobre a formação da
grafita.
Quando a fusão diária de ferro fundido nodular, cinzento e
vermicular é feita no mesmo forno, deve-se obedecer à seguinte
sequência: primeiro o nodular, depois o vermicular. Este último não
deve ser produzido depois do ferro fundido cinzento, quando se
usa o mesmo forno de vazamento.
A melhor opção é utilizar equipamentos de vazamento que
produzam apenas o ferro fundido vermicular, evitando assim
eventuais misturas.

Exemplos de fabricação do FoFo Fig. 6 Exemplo III da estrutura de um ferro fundido


vermicular (ampliação 50:1 não atacada)
vermicular, com arame de baixo teor
de Mg
Fabricação do GJV-350, com
teor de Ti
ferro base com 0,11% de titânio
quantidade de vazamento: 1.000
kg
pré-condicionamento com
VL(Ce) + CerMM
tratamento com arame de baixo
teor de magnésio
inoculação com SRF 75 durante
o transvazamento
ferro tratado: 0,015% de enxofre
e 0,012% de magnésio
propriedades mecânicas do
bloco Y2: Rm= 406 MPa; Rp0,2 = 333 MPa; m p0,2A = 2% e HB = 199
estrutura: 80% na forma da grafita III e 20 % na forma da grafita VI (figura 4).

Fabricação de GJV, com Rm > 385 MPa e 0,10% Ti


ferro base: 0,10% de titânio
quantidade de vazamento: 1.500
kg
pré-condicionamento com
VL(Ce)2
tratamento com arame de baixo
teor de magnésio
inoculação com SRF 75 durante
o transvazamento
ferro tratado: 0,011% de enxofre
e 0,014 % de magnésio
propriedades mecânicas da
amostra fundida em conjunto: Rm = 397 MPa; Rp0,2= 318 MPa; m p0,2A = 1,7 % e HB = 210
estrutura: 80% na forma da grafita III e 20 % na forma da grafita VI (figura 5)

Fabricação de GJV-SiMo, Rm mín. m= 400 MPa, A mín. = 3% e Ti máx. = 0,20%


ferro base: 0,14% de titânio
quantidade de vazamento: 1.200 kg
pré-condicionamento com VL(Ce)2 + CerMM
tratamento com arame de baixo teor de magnésio
inoculação com FeSi 75 durante o transvazamento
ferro tratado: 0,010% de enxofre e 0,018% de magnésio
propriedades mecânicas do bloco Y2: Rm = 545 MPa; Rp0,2 = 492 MPa; m p0,2A = 3,5 %; HB = 228;

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estrutura: 70% a 80% na forma da grafita III e 20% a 30% na forma da grafita VI (figura 6)

Métodos de teste de fabricação do FoFo vermicular


Mesmo com todos os ensaios automáticos, o fundidor deve conhecer os seguintes critérios entre os ferros fundidos vermicular e
cinzento, para efetuar a avaliação.

Características gerais do FoFo vermicular


comprimento da grafita da ordem de 50 mm
relação entre comprimento e largura inferior a 10
as extremidades da grafita são arredondadas

Características gerais do FoFo cinzento


comprimento da lamela de grafita até 500 mm
relação entre comprimento e largura de 50 a 100
as extremidades da grafita são pontiagudas

Sendo assim, a estrutura do ferro fundido cinzento pode ser controlada por meio dos seguintes métodos:

análise química de amostras espectrais


medição da atividade do oxigênio com o uso do método dos elementos finitos
análise térmica
exames metalográficos com o emprego das chamadas amostras rápidas, antes de cada tratamento
testes da frequência de ressonância
testes de ultrassom

Conclusões
O tratamento sem o uso de arames com magnésio não pode mais ser empregado nas fundições de ferro.
Determinados arames são bem apropriados para a fabricação de peças em ferro fundido vermicular e nodular.
O processo abordado neste trabalho para a fundição de FoFo vermicular, com pré-condicionamento, resulta em valores reduzidos de
oxigênio total e de oxídulo, além de criar boas condições metalúrgicas para o tratamento com arame de baixo teor de magnésio.
A combinação do pré-condicionamento com VL(Ce)2 e tratamento com arame de baixo magnésio consiste em um método seguro e
eficaz para a fabricação de peças em ferro fundido vermicular, a exemplo de volantes, discos de embreagem e de freio, e coletores
dos gases de descarga.

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