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1 Introdução Curriculares Nacionais (PCN), publicados pelo
MEC, desde de 1998. Os PCNs têm como preocu-
O ensino tradicional de língua portuguesa pação central a noção de gênero porque, nessas
em nossas escolas constantemente dedicou especial formas de trabalho didático, pode-se analisar não
atenção à ortografia, à sintaxe e ao texto como um só a língua em funcionamento, mas o funciona-
produto, pois sua configuração sempre foi normati- mento da própria sociedade por meio das atividades
va e conceitual. discursivas, pois eles são parte da estrutura social e
Nos anos 1980, esse ensino tradicional passou não apenas um reflexo dela, segundo Luiz Antônio
a ser contestado quando surgiram novas teorias Marcuschi (2005).
inspiradas no sociointeracionismo, na teoria da Com base no que postulam os PCNs, surgiu
enunciação e do discurso e na linguística textual. a preocupação em apresentar uma proposta para
Segundo essas teorias, a linguagem é considerada o trabalho com gênero na 8ª série do Ensino
“[…] como atividade, como forma de ação, ação Fundamental, do Colégio Santo Américo, em São
interindividual finalisticamente orientada; como Paulo. O gênero escolhido foi a propaganda im-
lugar de interação que possibilita aos membros de pressa, em razão de estar presente no cotidiano dos
uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de alunos, que parecem demonstrar interesse em co-
atos” (KOCH, 2006, p. 6). nhecer melhor os recursos desse gênero.
De acordo com essa concepção, a linguagem
é uma forma de interação dos sujeitos, e o texto é o
resultado dessa interação. Isso contribuiu para uma 2 Concepção de gênero
gama de estudos, visando não apenas aos enun-
ciados linguísticos, mas às relações entre eles e o Apresentamos, nesta seção, alguns pressu-
contexto de uso, suas condições de produção e o pro- postos teóricos que embasam a atual concepção de
cesso mental de todos esses elementos pelos falantes. gênero textual. Partimos, para tanto, dos estudos
O ensino de língua materna, que antes era de Mikail Bakhtin que subjazem às novas teorias
normativo e conceitual, passa a se centrar, nos sobre gêneros.
últimos anos, no uso e no funcionamento da língua Bakhtin (2000) expõe que a língua é utili-
em um determinado contexto sócio-histórico. Com zada em todos os âmbitos da atividade humana e,
base nessa compreensão, surgem novas propos- por isso, é tão variado o modo como é usada. O
tas, apontando para as diferentes práticas discur- seu emprego se dá em forma de enunciados orais
sivas, ou seja, para os diversos gêneros discursivos e escritos, elaborados pelos usuários de um ou
(BAKTHIN, 2000). Os diferentes gêneros mostram-se outro segmento da atividade humana, refletindo
fundamentais para uma construção significativa de as suas condições e as finalidades por seu conteú-
conhecimentos inerentes à linguagem no ensino de do, estilo verbal e recursos lexicais, fraseológicos e
língua materna. gramaticais. Segundo o autor, em cada segmento
Apoiados nessa nova concepção teórica, da atividade humana, elaboram-se enunciados re-
ao estabelecerem diretrizes curriculares para o lativamente estáveis e é isso o que ele denomina de
Ensino Fundamental, encontram-se os Parâmetros gêneros do discurso.
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Para Bakhtin, os gêneros do discurso apre- de gêneros existentes hoje é muito maior do que
sentam uma variedade que não se esgota, em razão em outras sociedades, em outros tempos.
de ser essa também uma característica da atividade L. A. Marcushi ressalta que o fato de surgirem
humana da qual eles decorrem. Os gêneros orais e novas tecnologias não é a única razão responsável
escritos são bastante heterogêneos e, por essa razão, pela adoção de novos gêneros, mas sim a intensi-
não podem ser estudados de forma única. Devem-se dade do uso dessas tecnologias e suas interferências
levar em conta, ao estudá-los, as diferenças essen- no cotidiano das pessoas. Esclarece, ainda, que os
ciais existentes entre eles. gêneros novos apresentam uma identidade própria,
Ancorado nas ideias de Bakhtin, temos o tra- mas não são inovações absolutas, pois houve uma
balho de Helena Nagamine Brandão (2001). Nele adaptação de um gênero antigo a um suporte novo.
se encontra um panorama sobre as concepções de Lembra o autor que os gêneros textuais não
gênero que vai da Retórica e Literatura até os estudos se caracterizam nem se definem por aspectos es-
mais recentes feitos pela Linguística. truturais, linguísticos ou apenas formais, mas
Segundo a autora, a noção de gênero existe por aspectos sociocomunicativos e funcionais. Há
desde a época de Platão e Aristóteles, na distinção casos em que a forma define o gênero, em outros
entre poesia e prosa, entre gênero lírico, épico e a função e haverá ainda outros que serão definidos
dramático, entre tragédia e comédia e entre estilo pelo suporte, ou seja, para L. A. Marcuschi, é preciso
elevado, médio e humilde que são classificações da definir o gênero com certo cuidado.
Literatura. Também a Retórica deixou sua classifi- A distinção entre o que ele chama de tipos
cação, ao reconhecer os três tipos de discurso: deli- textuais e gêneros textuais também deve ser objeto
berativo, judiciário e epidítico. de atenção, pois, para o autor, tipo textual deve de-
O estudo dos gêneros foi sempre uma preo- signar as sequências linguísticas conhecidas como
cupação da Poética e da Retórica, mas passa a ser narração, argumentação, descrição, injunção, ex-
também da Linguística, quando inclui em seus posição. O gênero textual, por sua vez, deve referir-
estudos o funcionamento do texto e o de qualquer se aos “textos materializados que encontramos em
texto, não apenas o literário. A Linguística vai, então, nossa vida diária e que apresentam características
fazer uma tipologização, uma classificação dos dis- sócio-comunicativas definidas por conteúdos, pro-
cursos em gêneros para que seus estudos adquiram priedades funcionais, estilo e composição caracte-
status científico. rística”. (MARCUSCHI, 2005, p. 22)
Atualmente, são bastante significativos os Esse quadro conduz a reflexões sobre a fina-
estudos do professor L. A. Marcuschi (2005). Para lidade e os conteúdos do ensino de língua materna,
ele, gêneros textuais são fenômenos históricos principalmente no que diz respeito ao enfoque dos
ligados à vida cultural e social e ajudam a ordenar textos e seus usos em sala de aula. O resultado dessas
as atividades comunicativas do cotidiano. Ressalta reflexões encontra-se nos programas e nas propostas
que os gêneros surgem, espalham-se e alteram-se curriculares oficiais, com a incorporação, nos PCNs
para atender as necessidades socioculturais e a de língua portuguesa, das situações de produção e de
evolução tecnológica, por essa razão a quantidade circulação dos textos, convocando-se, dessa forma, a
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noção de gênero para o ensino de leitura e produção Segundo eles, existem diversas maneiras
de textos escritos e também orais. de se fazer tal tarefa; no entanto, elas nem sempre
O trecho a seguir, retirado dos PCNs (1998, p. atendem |às seguintes demandas:
21), comprova que:
[…]
Todo texto se organiza dentro de determi- • permitir o ensino da oralidade e da
nado gênero em função das intenções co- escrita a partir de um encaminhando, a
municativas, como parte das condições de um só tempo, semelhante e diferenciado;
produção dos discursos, as quais geram • propor uma concepção que englobe o
usos sociais que os determinam. Os gêneros conjunto da escolaridade obrigatória;
são, portanto, determinados historicamen- • centrar-se , de fato, nas dimensões tex-
te, constituindo formas relativamente está- tuais da expressão oral e escrita;
veis de enunciados, disponíveis na cultura. • oferecer um material rico em textos de
referência, escritos e orais, nos quais os
Começa-se, então, a ensaiar uma nova forma alunos possam inspirar-se para as suas
de ensinar língua materna. Em outros termos, produções;
começa-se a pensar em maneiras mais adequa- • ser modular, para permitir uma diferen-
das de se ensinar gêneros escritos e orais em sala ciação do ensino;
de aula. Nesse contexto, encontra-se a contribuição • favorecer a elaboração de projetos de
de Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz (2004), que classe. (DOLZ; NAVERRAZ; SHNEUWLY,
apresentam procedimentos para o trabalho com os 2004, p. 96).
gêneros textuais, o que chamam de sequências di-
dáticas, que serão explicitadas na próxima seção. O processo de ensino e aprendizagem que
mais se aproxima dessas exigências consiste na ela-
boração de sequência didática com base em gêneros
3 Sequências didáticas textuais, por criar contextos de produção precisos e
propiciar a elaboração de atividades variadas. Isso
Para escrever a sequência didática apresenta- levará o aluno a se apropriar das noções, das téc-
da, neste trabalho, seguimos, então, as orientações nicas e dos instrumentos exigidos para o desenvol-
dadas por Schneuwly e Dolz, dois pesquisadores da vimento de sua capacidade de expressão, nas mais
Escola de Genebra que se dedicam ao ensino da diferentes situações de comunicação.
expressão oral e escrita e postulam sobre a impor- Os gêneros textuais são aquisições feitas por
tância de se desenvolver essa tarefa com base nos grupos sociais no decorrer da história, sendo, ao
gêneros textuais. Entendem, pois, que, ensinar um mesmo tempo, reflexo e instrumento da interação
gênero textual é levar o aluno a dominá-lo para social que os cristalizam. Segundo B. Schneuwly
depois poder produzi-lo na escola ou fora dela. Nesse (2004), é em razão das mediações comunicativas
sentido, sugerem, para o ensino de produção de que as significações sociais são, gradativamente,
textos, a organização de sequências didáticas. reconstruídas e, por isso, o domínio da produção
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da linguagem deve ser feito por meio dos gêneros. que está sempre presente no cotidiano dos estudan-
Tal princípio é o que norteia a criação de espaços de tes e, portanto, pode propiciar maior motivação e
aprendizagem, construídos por sequências didáticas. envolvimento em seu processo de aprendizagem.
Essa estratégia refere-se a “[…] uma seqüên- J. Dolz, M. Naverraz e B. Shneuwly (2004)
cia de módulos de ensino, organizados conjunta- orientam para o fato de que uma sequência didá-
mente para melhorar uma determinada prática de tica deve ter a seguinte estrutura: apresentação da
linguagem” (SCHNEUWLY, 2004, p. 51). As sequ- situação, primeira produção, módulo 1, módulo 2,
ências didáticas estabelecem uma primeira relação módulo “n” e produção final.
entre um projeto de apropriação de um gênero Na apresentação da situação, deve-se expor
textual e os instrumentos que facilitam essa apro- aos alunos o projeto de comunicação que será re-
priação. São elaboradas com a finalidade de por os alizado, preparando-os para a produção final e a
alunos em contato com os gêneros textuais para que inicial, que é a primeira etapa do trabalho. Nesse
possam reconstruí-los e deles se apropriarem. momento, deve ficar bastante claro o gênero que
A reconstrução de um gênero textual ocorre
será tratado, a quem se dirige a produção, que forma
pela interação de três fatores: “[…] as especificida-
assumirá e quem participará dela. Também, nessa
des dos gêneros textuais que são objeto de aprendi-
etapa, é importante que os alunos percebam a im-
zagem, as capacidades de linguagem dos alunos e
portância do conteúdo com o qual vão trabalhar.
as estratégias de ensino propostas pela seqüência
Na produção inicial, tem-se, como finali-
didática” (SCHNEUWLY, 2004, p. 51).
dade, revelar as representações que os alunos têm
Analisar as especificidades de um gênero
dessa atividade para si mesmos e para o professor.
é verificar a situação de comunicação em que se
Aqui os alunos seguem a instrução dada e, mesmo
inserem os conteúdos que são ditos por meio dele,
que não consigam respeitar todas as caracterís-
sua estrutura e as sequências que a compõem e a
ticas do gênero escolhido, é possível verificar as
linguagem utilizada. Verificar a capacidade de lin-
capacidades de que já dispõem. A avaliação dessa
guagem do aluno para a produção de um gênero é
observar se ele é capaz de reproduzir aquele gênero produção será formativa, uma vez que serão evi-
que está disponível num determinado ambien- denciados os pontos fortes e fracos, as técnicas
te social. Por fim, aplicar as estratégias de ensino discutidas e avaliadas e os problemas identifica-
consiste em realizar intervenções que favoreçam a dos. Ocorre, então, uma primeira linguagem entre
mudança ou o melhor desempenho dos alunos nas alunos e professor a respeito das questões que serão
situações de comunicação. tratadas nos módulos seguintes.
Em outras palavras, ao se elaborar uma sequ- Os módulos serão organizados no intuito
ência didática, tem-se o objetivo de levar o aluno a de sanar os problemas que apareceram na primei-
dominar, de maneira mais satisfatória, um gênero ra produção e de fornecer condições aos alunos de
textual, permitindo-lhe escrever ou falar de forma superá-los. Três questões devem ser expostas na
mais apropriada em uma determinada situação de elaboração dos módulos: “[…] que dificuldades da
comunicação. Neste trabalho, conforme menciona- expressão oral e escrita abordar; como construir um
mos, privilegiamos o gênero propaganda, uma vez módulo para trabalhar um problema particular;
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como capitalizar o que é adquirido nos módulos” 4 Gênero propaganda em uma
(DOLZ; NAVERRAZ ; SHNEUWLY, 2004, p. 102). sequência didática
Em primeiro lugar, o aluno deve fazer uma
imagem do destinatário do texto, da finalidade de Pautamo-nos nas orientações de Joaquim
sua própria posição, como autor; deve conhecer as Dolz, Michele Noverraz e Bernard Shneuwly (2004)
técnicas para elaborar e criar conteúdos; deve estru- para a elaboração dessa sequência didática com o
turar um plano de acordo com o que deseja atingir gênero propaganda, na qual levamos em conta:
e escolher os recursos de linguagem apropriados. Na
elaboração dos módulos, as atividades podem ser 1. Verificar como a linguagem não-verbal se
propostas em grupos ou individualmente, variando relaciona com a linguagem verbal e o que
os modos de trabalho com atividades e exercícios de ambas revelam sobre os procedimentos enun-
leitura e escrita ou oral e escrita. ciativos;
Em seguida, devem-se capitalizar as aquisi- 2. Observar, na linguagem verbal, a língua em
ções, pois seu contexto de uso, reveladora de aspectos
social, histórico, político, ideológico;
[…] quando aprendemos, por meio de 3. Atentar ao fato de que a língua se adapta
diferentes exercícios, quais são as partes às situações de comunicação; não é, pois,
de uma instrução de montagem, ou objeto único, funcionando sempre da mesma
quais são as técnicas para transformar as maneira;
respostas, numa entrevista, por exemplo, 4. Reconhecer que os gêneros textuais é que
esses conhecimentos trabalhados, dis- definem o que se pode dizer, por meio de que
cutidos, explicitados numa linguagem estruturas e com que meios linguísticos.
técnica – que pode ser simples – per-
mitem a revisão do próprio texto ou a O gênero propaganda está presente no rádio,
melhor antecipação do que deve fazer na televisão, nas revistas, nos jornais, na internet,
numa produção oral (DOLZ; NAVERRAZ; nos panfletos e também estampado em ônibus,
SCHNEUWLY, 2004, p. 106). carros, muros, roupas. Sua função, hoje, não se
limita apenas a informar; tem “[…] a função de
A última etapa da sequência é a produção vender um bem de consumo – um produto, um
final, oportunidade na qual o aluno coloca em serviço – ou uma idéia; é persuadir alguém, é levar
prática tudo o que aprendeu sobre aquele gênero es- alguém a um comportamento” (SANDMANN,
tudado. Essa produção permite ao professor avaliar 2000, p. 27).
se os elementos trabalhados nos módulos foram Segundo Jorge S. Martins (1997), a propa-
apreendidos e, dessa forma, planejar a continuação ganda constitui uma maneira pública de comuni-
do trabalho. Na seção a seguir, transcreveremos a cação verbal e não-verbal e, para tanto, opera como
sequência didática com o gênero propaganda, apli- discurso informativo e persuasivo. Informativo
cada na 8ª série do Ensino Fundamental, do Colégio quando cumpre a função de transmitir, fazendo
Santo Américo. uso de recursos visuais, verbais e sonoros; persu-
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asivos quando se tem o objetivo de fazer acreditar Nesse sentido, a linguagem da propaganda
naquilo que se propõe e, para tanto, utilizam-se tem como característica ser direta, acessível e ori-
apelos verbais e visuais. ginal. Evita-se o uso de artigos, preposições, con-
J. S. Martins (1997) expõe que a apresenta- junções e empregam-se formas diretas nas frases,
ção do produto ou de sua imagem, a divulgação do de tratamento coloquial, verbos no imperativo, lin-
nome ou da marca, a simbologia em estereótipos já guagem figurada, expressões claras referindo-se ao
consagrados são recursos visuais de que faz uso a produto, formas que exaltem as suas qualidades.
propaganda. Já a significação poderá vir de textos Além desses recursos, utilizam-se também modis-
cujos recursos linguísticos demonstrem os resulta- mos, gírias, regionalismos, neologismos, palavras
dos e benefícios do produto, descrevam característi- ou expressões ambíguas ou polissêmicas.
cas e atributos, narrem a história do próprio produto. Destacamos que, na sequência didática consi-
No discurso persuasivo, o autor relacio- derada neste trabalho, tais recursos foram apresen-
na como apelos visuais imagens, formas, cores, tados aos alunos como estratégias de persuasão, que
volumes, gestos, olhares, expressão corporal. produzem determinados efeitos de sentido. As propa-
Rostos belos, ídolos, artistas, heróis, esportistas, gandas escolhidas foram as comerciais, veiculadas
ambientes elegantes, tudo isso concretiza esses pelas revistas: Veja, Isto é, Época, Caras, Capricho
apelos. Os recursos apelativos de natureza linguís- e Família cristã e trabalhadas em quatro oficinas,
tica são depoimentos, citações, argumentos com explicitadas a seguir, com base nas etapas propostas
base em dados concretos, demonstrações de causa J. Dolz, M. Naverraz e B. Shneuwly (2004).
e efeito e figuras estilísticas.
Além desses recursos, a persuasão ainda
pode ocorrer pela predisposição do consumidor em Oficina 1: Apresentação do gênero propaganda
aceitar a mensagem e isso justifica, muitas vezes, o Apresentamos aos alunos dez propagandas de
clima fantasioso em que o produto é apresentado, o diferentes revistas, com o objetivo de expor a eles as
ambiente envolvente, a satisfação hedonista propor- características do gênero, dando-lhes suporte para
cionada pela posse e pelo uso do produto, a lingua- elaborarem uma propaganda do colégio em que
gem positiva. estudavam. Ficou definido que na última oficina
Dessa forma, conforme já explicitamos, a algumas propagandas seriam escolhidas pelos pró-
finalidade da propaganda não é apenas informar, prios estudantes para serem veiculadas no jornal da
mas persuadir as pessoas a tomar decisões e modi- instituição. A elaboração do gênero textual proposto
ficar suas atitudes. Tal gênero tem, pois, em vista o foi realizada em grupos de quatro alunos e, após ser
propósito comunicacional, o público-alvo, o veículo avaliada, constatamos que a produção inicial não
da comunicação, a forma de tratamento para se estava totalmente adequada, pois verificamos que os
dirigir ao consumidor, que poderá ser de acordo aprendizes não atentavam de forma satisfatória para
com a região, com os níveis social e profissional, a relação entre a linguagem verbal e não-verbal e
entre outros. Assim, reitera-se a ideia de que a lin- para a importância do gênero inserido em seu con-
guagem deve estar sempre inserida em um determi- texto interacional, fatos que nos levaram a realizar
nado contexto. as oficinas seguintes.
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Oficina 2: Relação entre a linguagem verbal e rência entre marcas e produtos. Entretanto, com o
não-verbal na propaganda acirramento da concorrência, tornou-se necessário o
Propusemos aos alunos que pesquisassem emprego de recursos persuasivos. Foram pontuados,
sobre o conceito e os tipos de linguagem, no intuito de então, aspectos social, histórico, político e ideológi-
compreenderem as diferenças e as relações existentes co, revelados pela linguagem empregada no gênero
entre linguagem verbal e não-verbal, visto que essas propaganda, destacando-se a importância das esco-
modalidades estão presentes de forma significativa no lhas linguísticas de acordo com o contexto em que se
gênero propaganda. O resultado da pesquisa foi apre- insere um gênero textual.
sentado à classe pelos grupos e, em decorrência da
apresentação, surgiram as seguintes perguntas: Oficina 4: Para quem estou escrevendo?
Propusemos, para dar continuidade ao estudo
1. Qual a linguagem que transmite a informa- do gênero inserido em seu contexto, que os alunos
ção de forma mais objetiva e completa? selecionassem algumas propagandas das revistas
2. Qual a linguagem mais econômica por veicu- indicadas e discutissem, em grupos, as seguintes
lar a informação com mais rapidez? questões:
3. O que se vê primeiro: a imagem ou o texto
escrito? 1. Ao selecionar as propagandas de diferentes re-
4. Há uma relação entre o produto e as cores uti- vistas, você observa alguma diferença entre os
lizadas em uma propaganda? leitores de cada uma delas?
5. Há relação entre imagem, produto e texto 2. Você acha que a propaganda é capaz de in-
escrito? fluenciar as pessoas? Em caso afirmativo,
como pode ocorrer?
Na última etapa desta oficina, depois da dis- 3. As propagandas são feitas de qualquer jeito
cussão realizada em classe, solicitamos que cada ou resultam de um processo de análise de
grupo refizesse sua produção textual e tornasse a alguns fatores importantes? Você é capaz de
apresentá-la aos colegas, enfatizando, principal- citar alguns deles?
mente, a relação entre a linguagem verbal e não-
verbal, ou seja, entre a imagem e o texto escrito. Tais perguntas visavam a conduzir os alunos
a refletirem sobre a relação entre escolhas linguísti-
Oficina 3: Gênero e contexto cas e público-alvo na propaganda. Por exemplo, em
Realizamos uma aula expositiva, cujo tema foi quais propagandas havia a necessidade do emprego
a história da propaganda no Brasil, para mostrar aos de gírias ou de linguagem coloquial; qual a exten-
estudantes a importância do gênero em seu contexto são das frases e como eram as construções sintáti-
interacional. Apresentamos em slides propagandas de cas; como se construíam as imagens dos produtos
diferentes épocas, inclusive os anúncios de escravos no anunciados por meio da linguagem verbal e não-
século XIX, com o objetivo de alertá-los para o fato verbal, entre outros recursos. Os grupos fizeram um
de que, até um determinado momento, a propaganda painel com as respostas dadas e apresentaram-no à
era mais informativa, pois não havia muita concor- classe. Na sequência, reelaboraram suas produções
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textuais, fundamentados na discussão realizada, the idiom itself in a determined socio-historical
tendo em vista a linguagem voltada para um inter- context in opposition to the traditional one which
is based in rules and concepts. Under this point of
locutor e os recursos persuasivos utilizados.
view, the researches about text genres are funda-
mental if we mean a Teaching that aims to develop
among students the communicative competence in
5 Considerações finais several social groups of Language users.
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