Gabriel Monteiro, Larissa Rodrigues, Manuela Martins e Samuel G. Carvalho
Design e Percepção
Relatório de processos - Primeiro Trabalho (Mito de Prometeu)
Durante o processo coletivo de pesquisa e discussão de ideias em sala de aula, o
grupo buscou pensar a relação do mito de Prometeu com a contemporaneidade através da análise dos 3 principais pontos da narrativa grega: 1- Prometeu e seu irmão Epimeteu eram titãs responsáveis por criar o homem e demais animais. Assim, após atribuir a estes últimos todos os dons a serem destinados, Epimeteu esgotou seus recursos, tendo que pedir ao irmão que o ajudasse a criar os seres humanos; 2- Frente a tais circunstâncias, Prometeu rouba o fogo do Olimpo (símbolo do conhecimento intuitivo) para concedê-lo aos homens e mulheres mortais, e assim faz. Tal elemento foi essencial à evolução da espécie humana, uma vez que lhe forneceu a capacidade de não apenas aquecer-se e cozer alimentos, mas também construir ferramentas para caçar e cultivar a terra, além de, mais tarde, com a criação da moeda, ampliar o comércio; 3- Ao descobrir este feito, Zeus, irado, decide acorrentar Prometeu ao topo do Monte Cáucaso, onde o titã imortal, preso em um ciclo de sofrimento como punição, teria seu fígado diariamente devorado por uma ave e, em seguida, regenerado. Nesse sentido, para colocar o mito como uma metáfora do cotidiano moderno, o grupo procurou trazer cada um desses pontos para a contemporaneidade, relacionando-os a um processo que se repete em nossa sociedade: a martirização de “líderes revolucionários”. Estes líderes são alegoricamente representativos de Prometeu e seu martírio de Zeus, uma vez que seriam eles os responsáveis por promover formas revolucionárias de conhecimento na sociedade atual - nesse caso, no que diz respeito à necessidade de subversão de certas hierarquias sociais e preconceitos - e sua perseguição e assassinato seriam a punição externa que sofreram por isso. Desse modo, tem-se, no começo do vídeo, uma analogia ao momento de criação (no mito, atribuído aos titãs), indicado audiovisualmente por uma série de fenômenos naturais, que culminam no surgimento dos animais, e pelo som de um bebê chorando, que culmina no surgimento dos seres humanos. Estes últimos são, entretanto, inicialmente representados ainda “sem dons”, em situações cotidianas que transmitem a ideia de um “comportamento de manada”, como uma multidão apressada atravessando a rua, um ônibus e metrô lotados, um grupo de pessoas trabalhando em um escritório, dentre outras. Logo a seguir, buscando obter contraste com essa apatia e alienação para fazer referência à introdução do conhecimento pelo fogo de Prometeu (que é, ainda, paralelamente feita a partir do aumento progressivo do som de fogo queimando), foram colocados trechos de entrevistas e discursos de personalidades comumente consideradas revolucionárias, as quais o grupo selecionou: Fred Hampton, Martin Luther King, Malcom X, Marielle Franco e Chico Mendes. Ademais, são intercaladas cenas de manifestações nas quais a população reitera reivindicações feitas por tais líderes, de forma a demonstrar o impacto que estes tiveram nos pensamentos e comportamentos contemporâneos. Finaliza-se, então, com a sobreposição de reportagens que informam sobre o assassinato de tais personalidades, transformadas em mártir tal qual Prometeu. Esta sobreposição de notícias é marcada por um áudio de corvo ao fundo, em uma relação direta com a ave de mau-agouro que tortura o titã ao fim do Mito. A execução dessa ideia se deu de forma conjunta por meio de uma vídeo-colagem. As etapas desta (às quais precederam a delimitação do tema e planejamento geral do trabalho) consistiram na coleta e seleção cuidadosa de imagens/vídeos que ilustrassem cada um dos pontos anteriormente mencionados. Tendo feito isso, foi realizada a ordenação e edição de todo o conteúdo, articulando-o a uma trilha sonora que, além de moldar o destino da narrativa, tem papel sinestésico, considerando que contribui para que as informações sejam obtidas pelos sentidos. No entanto, estes não são despertos apenas pela música de fundo e demais áudios e vídeos. Na vídeo-colagem, todos os cinco sentidos são direta ou indiretamente incitados, uma vez que, por meio de seu histórico de vivências e repertórios pessoais, o espectador recebe estímulos a todos os órgãos sensoriais. Isso porque, pode-se identificar o provocamento do olfato e do paladar pelo uso de imagens capazes de transmitir o frescor da natureza e o suor no ônibus lotado, por exemplo. O provocamento do tato também se faz possível nessas mesmas situações, em que tem-se a sensação de tocar as folhas ou do contato corpo-a-corpo. Dessa forma, o grupo cumpriu a proposta do trabalho, cujo objetivo geral era desenvolver a percepção e criatividade, utilizando dos nossos sentidos e repertório sociocultural. Durante o processo, também entendemos a importância das figuras citadas e o potencial do mito enquanto tentativa de explicação da realidade, não apenas no contexto de sua criação, mas também na sociedade atual. Afinal, no caso do mito que escolhemos, entende-se que a história inventada pelo ser humano concretiza-se, metaforicamente, na sua existência contemporânea.