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03/07

Gabriel Monteiro, Larissa Rodrigues, Manuela Martins e Samuel G. Carvalho


Design e Percepção

Relatório de processos - Primeiro Trabalho (Mito de Prometeu)

Durante o processo coletivo de pesquisa e discussão de ideias em sala de aula, o


grupo buscou pensar a relação do mito de Prometeu com a contemporaneidade através da
análise dos 3 principais pontos da narrativa grega:
1- Prometeu e seu irmão Epimeteu eram titãs responsáveis por criar o homem e
demais animais. Assim, após atribuir a estes últimos todos os dons a serem destinados,
Epimeteu esgotou seus recursos, tendo que pedir ao irmão que o ajudasse a criar os seres
humanos;
2- Frente a tais circunstâncias, Prometeu rouba o fogo do Olimpo (símbolo do
conhecimento intuitivo) para concedê-lo aos homens e mulheres mortais, e assim faz. Tal
elemento foi essencial à evolução da espécie humana, uma vez que lhe forneceu a
capacidade de não apenas aquecer-se e cozer alimentos, mas também construir
ferramentas para caçar e cultivar a terra, além de, mais tarde, com a criação da moeda,
ampliar o comércio;
3- Ao descobrir este feito, Zeus, irado, decide acorrentar Prometeu ao topo do Monte
Cáucaso, onde o titã imortal, preso em um ciclo de sofrimento como punição, teria seu
fígado diariamente devorado por uma ave e, em seguida, regenerado.
Nesse sentido, para colocar o mito como uma metáfora do cotidiano moderno, o
grupo procurou trazer cada um desses pontos para a contemporaneidade, relacionando-os
a um processo que se repete em nossa sociedade: a martirização de “líderes
revolucionários”. Estes líderes são alegoricamente representativos de Prometeu e seu
martírio de Zeus, uma vez que seriam eles os responsáveis por promover formas
revolucionárias de conhecimento na sociedade atual - nesse caso, no que diz respeito à
necessidade de subversão de certas hierarquias sociais e preconceitos - e sua perseguição
e assassinato seriam a punição externa que sofreram por isso.
Desse modo, tem-se, no começo do vídeo, uma analogia ao momento de criação
(no mito, atribuído aos titãs), indicado audiovisualmente por uma série de fenômenos
naturais, que culminam no surgimento dos animais, e pelo som de um bebê chorando, que
culmina no surgimento dos seres humanos. Estes últimos são, entretanto, inicialmente
representados ainda “sem dons”, em situações cotidianas que transmitem a ideia de um
“comportamento de manada”, como uma multidão apressada atravessando a rua, um
ônibus e metrô lotados, um grupo de pessoas trabalhando em um escritório, dentre outras.
Logo a seguir, buscando obter contraste com essa apatia e alienação para fazer
referência à introdução do conhecimento pelo fogo de Prometeu (que é, ainda,
paralelamente feita a partir do aumento progressivo do som de fogo queimando), foram
colocados trechos de entrevistas e discursos de personalidades comumente consideradas
revolucionárias, as quais o grupo selecionou: Fred Hampton, Martin Luther King, Malcom X,
Marielle Franco e Chico Mendes. Ademais, são intercaladas cenas de manifestações nas
quais a população reitera reivindicações feitas por tais líderes, de forma a demonstrar o
impacto que estes tiveram nos pensamentos e comportamentos contemporâneos.
Finaliza-se, então, com a sobreposição de reportagens que informam sobre o
assassinato de tais personalidades, transformadas em mártir tal qual Prometeu. Esta
sobreposição de notícias é marcada por um áudio de corvo ao fundo, em uma relação direta
com a ave de mau-agouro que tortura o titã ao fim do Mito.
A execução dessa ideia se deu de forma conjunta por meio de uma vídeo-colagem.
As etapas desta (às quais precederam a delimitação do tema e planejamento geral do
trabalho) consistiram na coleta e seleção cuidadosa de imagens/vídeos que ilustrassem
cada um dos pontos anteriormente mencionados. Tendo feito isso, foi realizada a ordenação
e edição de todo o conteúdo, articulando-o a uma trilha sonora que, além de moldar o
destino da narrativa, tem papel sinestésico, considerando que contribui para que as
informações sejam obtidas pelos sentidos.
No entanto, estes não são despertos apenas pela música de fundo e demais áudios
e vídeos. Na vídeo-colagem, todos os cinco sentidos são direta ou indiretamente incitados,
uma vez que, por meio de seu histórico de vivências e repertórios pessoais, o espectador
recebe estímulos a todos os órgãos sensoriais. Isso porque, pode-se identificar o
provocamento do olfato e do paladar pelo uso de imagens capazes de transmitir o frescor
da natureza e o suor no ônibus lotado, por exemplo. O provocamento do tato também se faz
possível nessas mesmas situações, em que tem-se a sensação de tocar as folhas ou do
contato corpo-a-corpo.
Dessa forma, o grupo cumpriu a proposta do trabalho, cujo objetivo geral era
desenvolver a percepção e criatividade, utilizando dos nossos sentidos e repertório
sociocultural. Durante o processo, também entendemos a importância das figuras citadas e
o potencial do mito enquanto tentativa de explicação da realidade, não apenas no contexto
de sua criação, mas também na sociedade atual. Afinal, no caso do mito que escolhemos,
entende-se que a história inventada pelo ser humano concretiza-se, metaforicamente, na
sua existência contemporânea.

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