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Resumo_ Amarante – Saúde Mental e Atenção Psicossocial

 SM – área muito extensa e complexa do conhecimento. Campo de conhecimento e de atuaçõ técnica no


âmbito das políticas públicas de saúde. Complexo, plural, intersetorial e com transversalidades de saber (a
SM diferente da psiquiatria não se baseia em apenas um tipo de saber). Difícil saber onde começam ou
terminam seus limites.
 SM não pode ser reduzida ao estudo e tratamento das doenças mentais. Além dos saberes clássicos que
costumam habitar o campo da SM, devem ser incluídas manifestações religiosas, ideológicas, éticas e morais
das comunidades e povos em questão.
 Campo da SM contribui para desconstruir o paradigma da vdd definitiva e impulsiona o pensamento em
termos de complexidade, transversalidade de saberes, construcionismo, reflexividade.
 Saúde mental = estado de bem estar mental ou sandade ou de inexistência de desordem mental.
 OMS – estado completo de bem-estar físico, mental e social = saúde.
 SM – polissêmico e plural > estado mental de sujeitos e coletividades > condições altamente complexas –
categorizações correm rico de serem reducionistas e de achatarem as possibilidades da existência humana e
social.
 Alienismo – P. Pinel – pai da psiquiatria sucessora do alienismo. Revolução Francesa x Idade Média – época
em que o hospital era uma instituição de caridade e não médica (como viria a se tornar na modernidade).
Séc XVII – nova modalidade de hospital com função de cumprir uma ordem social e política = hospital geral
(Grande Internação/Enclausuramento) veio a dar um novo lugar social ao louco e à loucura (Foucault).
 Desde então a internação passou a ser determinada por autoridades. Estrutura semi-jurídica: estranho
poder eu o rei exerce entre a política e a justiça, oredem terceira da repressão.
 Período em que o hospital passa de instituição de caridade a funções sociais e políticas – foi aí que o médicos
entraram com tarefa de humanizar e acabaram por transformá-las em instituições médicas > medicalizaram
os hospitais. Dentro da lógica da RF todos os espaços deveriam ser democratizados.
 Os hospitais passaram a assumir a função de tratar enfermos. Hospital – permite ao md agrupar as doenças,
observá-las – curso e evolução. O hospital foi apropriado pela medicina & a medicina se tornou saber e
prática hospitalar > nascimento da anatomoclínica. Tal processo se deu a partir de uma tecnologia política
que é a disciplina (arte de distribuição espacial dos indivíduos – controle, vigilância e registro constantes de
tudo que acontece na instituição.
 Hospital – espaço do exame/ tratamento/ reprodução do saber md. Novo saber sobre as doenças –
referente a uma doença institucionalizada, modificada pela institucionalização (isolada, em estado puro
etc.).
 Sociedade disciplinar – instituições com o papel de disciplinar os corpos, introjetar as normas do pacto
social, normalizar os cidadãos e a PP noção de cidadania. Hospital – lugar de vdd, saber, positividade.
 Modelo médico que coloca a doença como objeto abstrato e natural não lançando luz sobre o sujeito da
experiência da doença.
 Pinel > ideólogos> conhecimento = processo com base na observação empírica dos fenômenos. Loucos
devem ser submetidos ao isolamento/ asilamento – que não era equivalente à perda de liberdade pois
entendia-se que esta seria restituída pelo tratamento que o libertaria da alienação lhe devolvendo a
liberdade. Pcp terapêutico = tratamento moral/ isolamento do mundo exterior (permite afastar o sujeito das
causas da alienação mental).
 Primeira nosografia, primeiros hospitais psiquiátricos, primeiro modelo de tratamento.
 Alienação mental – distúrbio no âmbito das paixões capaz de produzir desarmonia na mente e na
possibilidade do indivíduo perceber a realidade. Não seria a perda absoluta da razão mas a desordem em
seu âmago. Conceito de alienação mental associado à periculosidade – atitude social de medo e
discriminação com o louco. Alienação> perda da razão> irracionalidade> animalidade.
 Primeiro passo do tratamento – Pinel: isolamento do mundo exterior (observação apurada, diagnóstico e
tratamento moral requeriam ordem e disciplina) – alienação em estado puro, livre de qq interferência>
produção de conhecimento.
 Trtamento moral = soma dos pcps e medidas que impostos aos alienados pretendiam reeducar a mente,
afastar os delírios e ilusões e chamar a consciência à realidade. Hospital = instituição disciplinar> terapêutica.
Reeducar comportamentos e mentes desregradas. Dentre as principais estratégias estava o trabalho
terapêutico - reeducação das mentes desregradas e das paixões incontroláveis através do labor (pano de
fundo – capitalismo).
 Revolução Francesa – bandeira de direitos – conceito de cidadania concomitantemente cunhado com o
conceito de alienação mental. Alienado – desarrazoado, ptt não admitido como cidadão. Para recuperar a
liberdade era necessário recuperar a razão. Ptt o louco permanece acorrentado não mais literalmente mas
pela clausura de um imperativo terapêutico (e não mais por caridade ou repressão).
 Nos termos de Esquirol, a questão da segurança/periculosidade assume papel de destaque em relação às
funções terapêuticas do hospício.

Cap 3 – das psiquiatrias reformadas às rupturas com a psiquiatria


 Btasil – uma das mais importantes críticas ao alienismo, à sua versão contemporânea = psiquiatria. Crítica
ao modelo de ciência positivista que legitimou o alienismo – O alienista de Machado de Assis.
 Tentativa de resgatar o potencial terapêutico dos hospícios – colônia de alienados, onde eram feitos
trabalhos terapêuticos (agrícolas por ex.). trabalho como meio terapêutico precioso que estimulava a
vontade e a energia, consolidava a resistência cerebral tendendo a fazer desaparecer os vestígios do delírio.
Auge nas décadas de 40 e 50. Logo mostraram-se iguais aos antigos hospitais.
 Após a IIGM a sociedade percebeu que as condições de vida nos hospícios eram muito parecidas com de
campos de concentração. Daí nasceram as primeiras experiências de reforma psiquiátrica (RP).
 1º grupo: Comunidade terapêutica e Psicoterapia Institucional – fracasso na forma de gestão do hospital e
a solução era mudar a instituição. Seria possível qualificar a psiquiatria mudando o hospital para que fosse
eficazmente terapêutico (esquirol).
 Na Inglaterra os PP pacientes tinham potencial de tratamento – reuniões para falar das dificuldades,
projetos, planos, assembléias. Contexto de reabilitação de combatentes pós-gruerra para que se tornassem
trabalhadores. Expressão psicossocial nasce aí – relação entre transformações sociais e o psiquismo.
 Maxwell Jones (1959) – grupos operativos – função terapêutica deveria ser assumida por todos (prof.,
familiares, pacientes). Reuniões e assembléias para discutir aspectos institucionais.
 Comunidade Terapêutica = processo de reformas institucionais que continham em si mesmas uma luta
contra a hierarquização ou verticalidade dos papéis sociais, ou um processo de horizontalidade e
democratização das relaçõesque imprimia em todos os atores sociais uma verve terapêutica. Organização
social democrática, igualitária.
 França – Tosquelles: Psicoterapia institucional (coletivo terapêutico). Propostas: escuta polifônica (ampliação
dos referenciais teóricos); noção de acolhimento e ênfase na equipe e na instituição na cosntrução de
suporte e referencia para os internos do hospital.
 Neste modelo, a noção de trabalho terapêutico foi retomada – possibilidade de participação e de assunção
de responsabilidades pelos internos. Clube terapêutico/ ateliês ou oficinas de trabalho e arte.
Fundamentados pela psicanálise - reorganização interna da dinâmica psíquica. No hospital, todos teriam
uma função terapêutica e deveriam fazer parte de uma mesma comunidade – questionar e lutar contra a
violência institucional e a verticalidade nas relações intra-institucionais – transversalidade para
problematizar hierarquias e hegemonias.
 Tal proposta não tem nenhuma relação com as atuais comunidades terapêuticas.
 2º grupo: Psiquiatria de setor e psiquiatria preventiva – modelo hospitalar está esgotado e deve ser
desmontado “pelas beiradas”, deveem ser substituídos por outros serviços assitenciais que iriam qualificar o
cuidado terapêutico.
 Psiquiatria de setor – nasceu da limitação da psicoterapia institucional> necessidade de um trabalho externo
ao manicômio> criação de centros de saúde mental (CSM) = estabelecidos de acordo com a distribuição da
população por região (regionalização). Setorialização começaria dentro do hospital.
 Acompanhamento terapêutico dos pacientes – mesma eqp multiprofissional (!) dentro e fora do HP.
 Psiquiatria preventiva – EUA (SM comunitária): G, Caplan. Este adotava uma teoria etiológica para a DM que
pressupunha uma linearidade processo saúde/enfermidade e uma evolução a-histórica da doença, ptt
entendia que todas as DM poderiam ser prevenidas, desde que detectadas precocemente. DM = desordens,
males sociais –possíveis de prevenir e erradicáveis (busca de suspeitos).
 Prevenção em 3 níveis: primária – intervenção nas condições etiológicas (possíveis de formação da DM –
individuias ou do meio)./ secundária – intervenção para diagnóstico e tratamento precoces e/ terciária –
readaptação do paciente à vida social após sua melhora.
 Conceito de CRISE – estratégico equivalente à adaptação e desadaptação. Crises: evolutivas = quando
equivalentes a processos normais, físicos, emocionais ou sociais. Transitórias, caso não fossem bem
absorvidas poderiam levar à desadaptação e à DM; acidentais – quando ocasionadas por perdas ou riscos – a
detecção favorece a atuação preventiva. Crise pode ser encarada como possibilidade de crescimento para o
indivíduo.
 A partir do conceito de crise advieram estratégia de trabalho de base comunitária – eqps de SM passaram a
ser consultores comunitários. Devio (conceito fundamental) – comportamento desadaptado. Foi ainda neste
âmbito que surgiu a idéia de desinstitucionalização, que se tornou uma das principais diretrizes das políticas
de SM nos EUA. Desins = desospitalização = redução do ingresso e/ou do tempo de permanência dos pcts
nos HPs.
 Implantados centros de SM, oficinas protegidas, lares abrigados, HDs, leitos em hospitais gerais etc. visando
tornar o HP um lugar obsoleto. No entanto levou a um aumento significativo das demandas por assistência
psiquiátrica inclusive nos HPs, tornando-se um novo projeto de medicalização da ordem social.
 Outro grupo: Antipsiquiatria e Psiquiatria Democrática – reforma não é um termo adequado – o modelo
científico psiquiátrico é todo colocado em xeque, assim como as instituições assistenciais.
 Antipsiquiatria – Inglaterra (50-60), R. Laing e D, Cooper. Os fundadores compreendiam os ditos loucos como
pessoas oprimidas e violentadas nas isntituições de cuidado, na família e na sociedade. Antítese em relação
à psiquiatria – experiência dita patológica não acomete corpo ou mente do indivíduo mas as relações entre
ele e a sociedade. Critica à importação da lógica das ciências naturais para as ciências humanas. O HP não só
reproduz mas radicaliza as estruturas opressoras e patogênicas da organização social (fortemente
manifestada na família).
 Relação com a teoria da lógica das comunicações da Escola de Palo Alto – “duplo vínculo” que estaria no
âmago da experiência esquizofrênica. Neste contexto não existiria a DM enquanto objeto natural (como
considera a psiquiatria), mas uma determinada experiência do sujeito em sua relação com o ambiente social.
Assim, não havia uma proposta de tratamento (já que não havia DM), o proposto era permitir que as
pessoas vivenciassem suas experiências e o sintoma expressaria uma possibilidade de reorganização interior,
o terapeuta deveria auxiliar a pessoa a vivenciar e superar esse processo, acompanhando e protegendo
inclusive da violência da psiquiatria.
 Goffman – instituições totais> o que a psiquiatria denomina de curso natural da doença é na vdd a carreira
moral do doente mental.> estigmatização e mortificação do eu. Desinstitucionalização torna-se algo mais
complexo que desospitalização.
 Psiquiatria democrática – Basaglia em Trieste – Gorizia (1960). Instituição psiquiátrica> mortificação e des-
historicização. Início com inspiração na CT e na PI, pretendia inicialmente transformar Gorizia em um lugar
de tratamento e reabilitação, mas constatou com o tempo que a serpente do manicômio não podia ser
combatida com medidas administrativas ou de humanização.
 Negação da psiquiatria enquanto ideologia (Foucault e Goffman) – superação do aparato manicomial
entendido não só como estrutura física (do hospício), mas como conjunto de saberes e práticas, científicas,
sociais, legislativas e jurídicas que fundamentam a existência de um lugar de isolamento e segregação e
patologização da experiência humana.
 Fechamento dos pavilhões e concomitante criação de svcs e dispositivos substitutivos ao modelo
manicomial. Durante o fechmannto as experiências das CT e da PI foram importantes como estratégias
provisórias para alcançar a meta de desmontagem da estrutura manicomial, construir as bases para tal.
 1ºs svcs substitutivos: CSMs regionalizados (inspirados na psiquiatria de setor francesa ou na saúde
comunitária americana). Estes svcs ao contrário de seus antecessores não dialogavam com o manicomio mas
o substituiam, tratavam até mesmo das situações mais graves.
 Tomada de responsabilidade – os CSM assumiam a integralidade das questões relativas ao cuidado no
campo da SM de cada território (base territorial). Ali tinham a responsabilidade de reconstruir as formas
como a sociedade lida com as pessoas com sofrimento mental, reestabelecendo o lugar social da loucura
que, desde Pinel estava relacionado ao erro, periculosidade, insensatez, incapacidade.
 Outras estratégias visavam possibilidades reais de inclusão social: cooperativas de trabalho, residências e
outras inúmeras formas de participação e produção social.
 Rotteli – sucessor de Basaglia: desinstitucionalização = desconstrução do paradigma racionalista problema-
solução; o mal obscuro da psiquiatria está em haver separado um objeto fictício, a doença, da existência
global, complexa e concreta dos sujeitos e do corpo social. Desconstrução seria a desmontagem deste
conjunto de aparatos para poder reestabelecer uma relação com os sujeitos em sofrimento. É proposta uma
outra via – processo social complexo que busca acionar atores sociais diretamente envolvidos, compreende
que a transformação deva transcender à simples reorganização do modelo assistencial e alcançar as práticas
e concepções sociais.

4- Estratégias e dimensões do campo da SM e Atenção Psicossocial (AP)


 Modelo psiquiátrico – derivado do modelo biomédico> sistema terapêutico baseado na hospitalização.

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