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Trabalho de Linguagens e

Tradução Intersemiótica

A Menina de

Editorial fotográfico de moda inspirado no conto de
João Guimarães Rosa

Aluna: Daniela Costa


Matrícula: 500813
Prof.ª: Gabriela Reinaldo
2022.2
ICA - UFC
Resumo

Partindo do conceito de tradução intersemiótica, isto é, a


reorganização criativa de signos de uma linguagem para
outra (PLAZA, 1987), este trabalho tem como objetivo a
adaptação do conto A menina de lá, de João Guimarães Rosa,
em um editorial fotográfico de moda.
Editorial de Moda

Série de fotografias que, através dos elementos que compõem as


imagens (roupas, cenários, maquiagem, enquadramentos de
câmera etc), serve para a divulgação de uma marca de moda ou
fazer parte de uma publicação, como revistas, ou sites e redes
sociais;

Configuram-se como discursos, pois trazem “arranjos que


guardam alinhamento interno e que, por tal característica,
podem ser tomados por sua natureza narrativa.” (Dal Bello et al.,
2020, p. 74)
Editorial de Moda - Breve Histórico

Começou a aparecer em publicações na


última década do séc. XIX; antes disso,
as imagens de moda eram ilustrações;
O francês Adolph de Meyer foi o primeiro
nome a ganhar destaque como fotógrafo
de moda;
Mulheres da alta sociedade da sua época
como modelos (vestimentas refletem
status social).
Editorial de Moda - Breve Histórico

“Importava menos a razão utilitária, aquela de “fazer ver” a


roupa, e muito mais a criação de outros mundos (mágicos,
enigmáticos, extasiantes etc.) nos quais o vestuário fazia parte
da construção de novos modos de ser.” (BRACCHI, 2013, p. 95)

Séc. XX: surgimento do stylist, fotografia digital; influência


diferentes áreas, como o fotojornalismo, a fotografia amadora, a
ficcionalização e a experimentação das imagens;

“A moda, porém (e cada vez mais), não fotografa apenas seus


significantes, mas também seus significados”. Barthes (2009, p.
444 apud NOGUEIRA, 2012, p. 103)
Primeiras Estórias,
Guimarães Rosa
Livro de 21 contos lançado em 1962;
Temas: infância, finitude da vida, busca
pelo autoconhecimento;
“As estórias de Rosa tentam vencer a
rotina, ultrapassar o peso do
quotidiano e da miséria através do riso,
do olhar lúdico e da ressurreição do
momento presente”.
Conto escolhido: A menina de lá
O conto A Menina de lá

4º conto do Primeiras Estórias;


Narra a história de Nhinhinha, menina que vive com a família em um
brejo de uma região interiorana, e que por seu comportamento, é
considerada pela família como alguém estranho e capaz de realizar
milagres.

“Nhinhinha, crescida no isolamento da roça, é, por isso, isenta da visto


convencional dos fenômenos, vislumbra-lhe os segredos em aceno que,
para a testemunha culta, são manifestações elementares do lirismo, e,
para os parentes simplórios, emanações de santidade. ” (Paulo Rónai em
Primeiras Estórias)
O conto A Menina de lá

Pensamento do mundo dos adultos (oficial, linear, legítimo) X


pensamento infantil (lúdico, desregrado)

“–– “Ninguém entende muita coisa que ela fala…” dizia o pai, com certo
espanto. Menos pela estranheza das palavras, pois só em raro ela
perguntava, por exemplo: –– “Ele xurugou?” –– e, vai ver, quem e o quê,
jamais se saberia” . (ROSA, 1962, p. 40)

Aproximação de Nhinhinha e do narrador (“E Nhinhinha gostava de


mim.”; “O que falava, às vezes era comum, a gente é que ouvia
exagerado”)
“Assim, a presença de um arco-íris, a chegada de
pamonha de goiabada enrolada na palha, a
aproximação de uma rã delineiam eventos cuja
realidade, por vezes, ultrapassa até o próprio
entendimento da realidade que se vive, rompendo com
maneiras prévias, domesticadas, familiares e
norteadas de se articular uma narrativa sobre o real.”
(MORAIS e LOPES, 2018, p. 187)
Signo e Tradução Intersemiótica

Signos que remetem ao universo infantil/lúdico/artístico


versus signos do universo adulto/linear;

Um signo, para a semiótica peirceana, é tudo aquilo que tem


poder de representar outra coisa;

Elementos sígnicos são importantes na composição das


imagens do editorial;

Semiose refere-se a capacidade do signo gerar outro signo de


maneira infinita.
“ O significado de um signo é outro signo — seja este
uma imagem mental ou palpável, uma ação ou mera
reação gestual, uma palavra ou um mero sentimento de
alegria, raiva... uma idéia, ou seja lá o que for — porque
esse seja lá o que for, que é criado na mente pelo signo, é
um outro signo (tradução do primeiro).” (SANTAELLA,
2003, p. 59)
Signo e Tradução Intersemiótica

Trânsito criativo entre linguagens, importando-se mais com


a atualização de uma história que já conhecemos, do que com
a fidelidade à obra original. (PLAZA, 1987);

Afinidade Eletiva: escolhas feitas dentro da obra original;

“Traduz-se aquilo que nos interessa dentro de um projeto criativo


(tradução como arte), aquilo que em nós suscita empatia e simpatia
como primeira qualidade de sentimento, presente à consciência de
modo instantâneo e inexaminável.” (PLAZA, 1987, p. 34).
O editorial, resultado da tradução intersemiótica do
conto, ou como Plaza (1987, p. 25) chama o signo
estético, faz uso do conceito peirciano de signo para
aproximar-se da antiga ideia das imagens de moda de
apresentar conceitos, possibilidades, atmosferas,
“embutindo significados em detalhes, poses e
expressões” (DAL BELLO et. al, 2020, p. 77), e não
somente apresentar as utilidades de uma roupa.
Processo
Destacar elementos que fazem parte da atmosfera do conto:
dois conjuntos de signos (universo infantil x universo
adulto)
Escolha de 3 cenas do conto:
Brinquedos como imposição dos adultos: "Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo
nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia."
Conversa esperançosa com o narrador: "Conversávamos, agora. Ela apreciava o casacão da noite.
– “Cheiinhas!” – olhava as estrelas, deléveis, sobrehumanas. Chamava-as de “estrelinhas pia-pia”.
Repetia: - “Tudo nascendo!” – essa sua exclamação dileta, em muitas ocasiões, com o deferir de um
sorriso."
Nhinhinha livre dos olhares: "Ninguém tinha real poder sobre ela, não se sabiam suas
preferências. Como puni-la? E, bater-lhe, não ousassem; nem havia motivo."
Processo
Ilustrações como fundo para as fotos;

A tradução intersemiótica é feita de escolhas afetivas e


sensíveis: sensação que tive em relação à personagem
principal;
A leitura de mundo, portanto a subjetividade, de Nhinhinha é
diferente da de seus pais.

Formas de escapar.
Imagens de
Referência
Imagens da
Produção
Parava quieta, não queria
bruxas de pano, brinquedo
nenhum...

Brinquedos: imposição pelos pais de uma


identidade sobre Nhinhinha;
Nhinhinha segura a máscara como quem
observa as imposições.
Ela apreciava o casacão da
noite. – “Cheiinhas!” – olhava
as estrelas, deléveis,
sobrehumanas. Chamava-as
de “estrelinhas pia-pia”.

Nhinhinha aproxima-se do narrador/artista;


Visões de mundo que se contrapõem à
linearidade do pensamento dos adultos.
Ninguém tinha real poder
sobre ela...

Ao mesmo tempo que as pessoas exigem


algo (milagres, comportamentos
convencionais etc) de Nhinhinha, ela se
impõe, afirmando sua identidade.
Créditos
Conceito, maquiagem e styling: Daniela Costa

Fotografia: João Santos

Modelo: Azzy

Assistência: Luana Karam e Ingrid Guerra

Apoio: Figurarte

Referências
BRACCHI, D. Fotografia de moda: padrões e inovações no gênero. dObra[s] – revista da Associação Brasileira de
Estudos de Pesquisas em Moda, [S. l.], v. 6, n. 14, p. 94–97, 2013. DOI: 10.26563/dobras.v6i14.59. Disponível em:
https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/article/view/59
Acesso em: 21 out. 2022.

DAL BELLO, L et al.. Moda, imagem e consumo: editoriais de moda como estratégia de comunicação para
marcas. Modapalavra e-periódico, Florianópolis, v. 13, n. 30, p. 70-93, 2020. DOI: 10.5965/1982615x13302020070.
Disponível em: https://www.revistas.udesc.br/index.php/modapalavra/article/view/18770
Acesso em: 26 out. 2022.

MORAIS, P; LOPES, F. O comum e o extraordinário em A menina de lá, de Guimarães Rosa. Revista Humanidades
e Inovação, Palmas, v. 5, n. 7, p. 178-188, 2018. Disponível em:
https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/785
Acesso em: 21 out. 2022.

NOGUEIRA, Letícia de Sá. Fotografia de Moda: linguagem e produção de sentido. CES Revista, [S.l.], v. 26, n. 1, p.
97-108, jul. 2015. ISSN 1983-1625. Disponível em:
https://seer.uniacademia.edu.br/index.php/cesRevista/article/view/391/278
Acesso em: 26 out. 2022.

PLAZA, Julio. Tradução Intersemiótica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

ROSA, Guimarães. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2003

Obrigada pela
atenção!

Boas férias =)

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