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D-XXIII

Shiford - 23, Forst, 1328

Os preparativos estão prontos para apresentar ao conselho real. Os registros de Darporden já


foram enviados para Silvertrone e Solomon deve estar atravessando a fronteira ainda esta noite
com o que foi possível reunir em Terra Além. Acredito que agora eles não tenham outra saída a
não ser apoiar minha causa. Velhos acovardados! Sinto que não temos tempo para essas
burocracias descabidas. Há algo naquela terra que pode corromper todas as nações e eles se
preocupam com fronteiras! Mas o sangue ainda tem algum valor em Silvertrone, eles me
ouvirão.

Silvertrone – 33, Forst, 1328

Tratados internacionais! Não acredito que eles têm a coragem de ME explicar sobre esses
tratados internacionais! A maioria deles tem a minha assinatura. Mas se é isso que querem tudo
bem. Vou conseguir convencer a todos. Parto amanhã mesmo para Nilfien. Tenho um plano em
mente. Algo melhor do que tentar um acordo de colaboração. Uma iniciativa independente irá
suavizar o peso burocrático da empreitada, ao mesmo tempo que atiçará a cobiça das nações
para conspirar esquemas de infiltração e controle indireto da expedição. Bom é preferível um
grupo de espiões e trapaceiros do que grupo nenhum. Estou assumindo estes riscos.

Favereton – 10, Andra, 1328

Não é nenhuma surpresa que os Vonwinter tenham sido os primeiros a responder. Os corvos
sempre aparecem quando as coisas ficam ruins. Esse povo do norte são sobreviventes natos,
precavidos, desconfiados e muito informados. Nunca posso me esquecer disso. Conde Duvein
Horseman me recebeu muito bem hoje, ele estará em Antares para discutir sobre a expedição.
Me pareceu aberto ao debate, mas não acho que o homem tenha interesse rela em investir seus
esforços para o Oeste, seus olhos estão voltados para as maravilhas a Leste. Solomon não
ajudou em nada ao entreter o homem com histórias de um mar que ele nunca chegará a alcançar.

Extedling – 78, Andra, 1328

Essa peregrinação tem sido mais demorada do que eu previa. Articular as informações e
encontrar o paradeiro de todos que tenho em mente tem sido uma tarefa árdua. Os relatórios dos
Grupos VI e VII do experimento 357 foram promissores, acredito que esteja perto de encontrar
a combinação certa de runas. O processo de infusão titânica ainda precisa ser aprimorado. ​Os
reagentes parecem não ser suficientes para estabilizar o artefato.1 Sinto que estou chegando ao
limite do que posso progredir com o experimento com animais, mas não ouso pensar em nada
além deste ponto. Expor seres civilizados a loucura de Sansarako poderia ser catastrófico.

Antares – 27, Tredje, 1328

Como sempre os humanos foram diretos e pouco prudentes em suas deliberações.


Demonstraram interesse em participar e chegaram a sugerir não envolver Caltracas no processo.
Mas os elfos não devem ser subestimados assim facilmente. Porém foi muito mais fácil dobrar a
vontade dos homens do que a dos teimosos de Silvertrone. Anões são feitos de uma liga mais
resistente e pouco flexível. Os homens irão colaborar, este é o ponto importante.

Antares - 28, Tredje, 1328

1
E anos depois uma criança resolveria a equação!
Tive acesso a escrituras e registros dos homens a respeito da unificação das tribos bárbaras e do
combate as criaturas Sansaraki após a queda. Aqui os efeitos da guerra foram mais longos e
duradouros e os homens, que aquela época eram ainda nômades, tiveram muito trabalho em
retomar seu território. Porém houve aqui certa preocupação em estudar o inimigo para
estabelecer estratégias de combate. O que faz com que eles tenham muitos escritos descritivos
das criaturas. Que em sua maioria têm formas humanoides distorcidas e pouca racionalidade.
Muitas vezes se apresentando como híbridos distorcidos de animais e humanóides.2 Sendo
inclusive relatado que essas criaturas eram corruptoras de outras criaturas sadias. Tornando o
combate mais arriscado. O cenário todo foi muito diferente em Rovênia, uma vez que nossas
fortificações barram o avanço das criaturas e nos deram melhor capacidade de batalha.

Combolbor- 82, Tredje, 1328

O grupo XI do experimento 357 parece ter apresentado os resultados esperados, porém ainda
falta equilíbrio a fórmula. Seus efeitos são promissores e eficazes, porém a energia titânica
segue instável e causando efeitos adversos. Perdemos membros nos grupos XI, XII e XIII para
efeitos adversos distintos e sem conexão aparente. Mas que nitidamente tem origem não natural.
Já os experimentos relacionados ao projeto G0T não apresentaram avanços. Animar os
construtos com energia arcana não confere ao material nenhuma propriedade especial, enquanto
os construtos seguem suscetíveis a falhas quando irradiados diretamente com energia titanica.
Acredito que esse seja apenas mais um dos dispositivos de proteção do coração. Será necessário
encontrar uma maneira de contornar esse problema. Embora acredite que a melhor saída seja
proteger a sanidade através do condutor 357. Estamos próximos da fronteira de Caltacras, logo
estaremos em terreno hostil e meu controle sob os experimentos ficará ainda mais complicado.
Corro contra o tempo e essas andanças, embora acabem me trazendo informações úteis, não me
ajudam a progredir.

Skipleroe- 11, Sovrum, 1328

Templos, Templos e mais Templos… Toda visita a Caltacras me lembra o por que de eu não
gostar nada deste local. E espero que a próxima vez que minha comitiva for revistada alguém
leia esse trecho com muita atenção. Tão sábios e tão cegos! Aqui sempre encontrei pouca
informação. Parece que Elenil não quer ouvir falar de Titãs em suas terras. O que também
explica a dificuldade que estou encontrando para chegar até ele. Aqui os mitos da criação e toda
a veneração do povo é voltada para os Deuses e minha cabeça só se encontrar ligada ao meu
pescoço graças a minha descendência. Qualquer um aqui seria decapitado por defender que
energias arcanas e divinas provém de uma outra fonte ainda mais inacessível e antiga.

Martonso- 34, Sovrum, 1328

A permissão de Solomon e demais membros da comitiva só vai até aqui. Hoje a noite parto
escoltado e vendado para Yggdrasill. Um costume que faço questão de implementar para
qualquer Caltraquiano que peça uma consulta na corte de Rovenia. Deixarei minhas anotações
com Solomon e espero não me demorar por lá. Lidar com fanáticos religiosos tende a ser muito
mais difícil do que lidar com todos os demais envolvidos. Mas eles precisam entender que algo
será feito, quer eles apoiem ou não. Porém tenho a impressão de que essa conversa vá ser mais
fácil e breve do que eu poderia supor a uns dias atrás. A sua maneira os elfos estão receptivos e
tem me permitido “blasfemar” muito mais do que de costume. Talvez eles tão já tenham

2
Enquanto as partículas afetam a estrutura me parece o selo ressoa e afete a consciência.
percebido as mudanças que o Coração está provocando e também já estejam buscando soluções.
embora certamente soluções questionáveis.

Martonso- 04, Forst, 1329

Elenil e seu conselho estavam mais cientes da crise do que esperava. Os métodos utilizados
foram curiosos, mas eles perceberam como a instabilidade está afetando a energia arcana e
divina. Mas para variar Elenil se colocou absolutamente contra qualquer tentativa de utilizar a
energia titanica para solucionar o problema. Ele segue completamente fechado a discutir a
cultura Sansaraki e sobre o que sabe do coração. Quando insinuei deveria ter alguma relação
com o projeto foi categórico em me dizer que não repetisse nada daqui-lo em sua presença. E
devo admitir que me desestimulou a repetir isso em qualquer canto dessas terras. O plano de
Caltacras é trabalhar na contenção da energia reforçando as barreiras. Entendo a intenção deles,
mas pelos meus calculos conter esa energia pode estar acelerando o processo. O que me lembra
que em Nilfien chegaram a defender outra postura, criar vazão para que a corrupção pudesse ser
liberada e combatida. Minha postura é a de que nada que deixe a fonte intacta deveria ser
chamado de solução. Mas há abertura para uma iniciativa “independente” como supus
inicialmente.

Altongay- 25, Forst, 1329

As coisas parecem estar se acertando, consegui finalmente acesso aos cofres de Meseymoth. Os
mesmos cofres que por mil anos os Romanoff negaram existir. Mas não é hora de se importar
com a teimosia e desconfiança dos gnomos. O velho Alexei sempre foi um bom amigo, sabia
que uma hora entenderia a importância desta abertura. Os tesouros de Meseymoth são o que há
de melhor preservado sobre história antiga. Uma vez que os cofres de gnomos são os mais
seguros do mundo. Segundo os gnomos é claro! Mas no caso de Meseymoth não tenho como
contestar. Espero encontrar algumas respostas por lá. Certamente não poderei retirar nada
daquelas colinas, mas posso transferir parte do meu pessoal para lá. Já enviei as cartas
necessárias e assim que minha peregrinação pela “santa terra de Elenil” terminar irei apressar
meu passo para os salões das colinas.

Wenhithing- 52, Forst, 1329

Aproveitei minha passagem por Wenhithing para colher amostras das águas do lago Saiki.
Águas do coração de Sansarako. O povo daqui vê o lago com desconfiança, mas pelo motivo
errado. Não são criaturas ou magias que eles deveriam temer, mas as partículas titânicas
presentes na água. Elas estão mais reativas. Sem dúvidas as barreiras do Coração estão
enfraquecendo. E pelas amostras que colhi me parece que a deterioração da barreira está
acelerando. O que indica que o artefato deve estar em um ponto crítico e uma ruptura possa
estar próxima. Tenho registros deste mesmo lago a 50 anos atrás, e as leituras seguem uma
lógica geométrica. Ao contrário dos artefatos Sansaraki retirados da zona de influência direta do
Coração que ​decaem3 ​em uma estimativa de partículas titânicas com o tempo e não parecem se
recarregar naturalmente em ciclos como artefatos arcanos ou divinos. Suponho que a energia
titanica precise de outro elemento para se estabilizar. Mas ainda não encontramos a variável
desconhecida desta equação.

3
As partículas decaem! Os Sansarakis sabendo disso criaram um dispositivo capaz de se equacionar.
Porém com a intervenção das barreiras houve um aumento de partículas acumuladas no ponto central,
ampliando o efeito das partículas sobre as estruturas numa taxa maior do que os Sansarakis previram.
Interrompemos a vazão do sistema! Pelas barbas de meu pai, como não vi isso?
Alham- 90, Forst, 1329

Novos registros das escavações de Darporden parecem colaborar com a minha tese e
preocupação. Existe um cerne de energia titanica primordial selado em Sansarako e essa ​energia
pode ser de certa forma senciente.4 Podemos estar próximos do despertar da criatura mais
perigosa que a existência já viu. Isso se os escritos Sansarakis de fato tiverem alguma validade.
Ainda que não se trate do Caos primordial acredito que temos indícios o suficiente para teorizar
que se trate ao menos de um grande corruptor. A energia que emana não é maléfica ou negativa
em si,mas reage com elementos físicos e não físicos alterando sua estrutura. O que pode
significar que o próprio artefato e selo estejam sofrendo alteração constante com o tempo. Isso
faria do Coração uma verdadeira bomba relógio. E ainda não sei definir o quão perto estamos da
ativação. Espero que longe o suficiente para ter tempo de completar meus estudos.

Maseymoth- 24, Andra, 1329

Esses pequenos patifes! Os tesouros desses cofres é inestimável. Temos aqui alguns construtos
quase intactos, que devem datar da época da expansão Sansaraki muitos anos antes da queda.
alguns possuem inscrições em gnomico antigo e variantes no dialeto do povo das florestas.
Assim como traços de Terran, algo que o próprio Alexei não soube explicar a origem. Mas me
disse que seu povo descende das longínquas montanhas do norte de Nilfien e que há relatos
vagos de elementais interagindo com o povo gnomo em suas eras primevas. Muito do que está
aqui está preservado, ainda que desmontado. E embora eu não conheça a real extensão destes
túneis posso supor que existem construtos aqui para um pequeno exército. Provavelmente para
o controle de fronteira Sansaraki. Porém acredito que com a queda de Sansarako os construtos
devem ter ficado inoperantes e as hordas varreram os gnomos destas terras, levando eles aos pés
das montanhas anãs e a aliança de libertação de Rovênia. Ainda que dados mais efetivos desses
fatos nos faltem. Há uma história perdida no nosso mundo. Como se a sombra da queda de
Sansarako também tivesse calado os escribas, sacerdotes, xamãs e bardos de toda a terra. Uma
mortalha de horror e silêncio.

Maseymoth- 26, Andra, 1329

O mesmo acontece aqui com os construtos de Meseymoth. Conseguimos ativar parcialmente


seus funcionamentos com energia arcana ou divina, e muito brevemente com fragmentos de
particulas titanicas, porem nada estabiliza o funcionamento dos artefatos. Um gerador titanico
parece funcionar por um princípio de entropia onde as partículas tendem ao caos e a
desintegração do sistema. Porém numa ordem e potência que através dos conhecimentos
arcanos não é possível controlar ou direcionar e cuja influência divina se mostra igualmente
ineficaz. Trata-se de mudanças complexas e imprevisíveis, difíceis de mapear e acompanhar.
ainda que me pareça existir alguma constante ela ainda me escapa. Me pergunto como os
Sansarakis conseguiram encontrar a resposta para essa fórmula. Uma vez que desconheço um
elemento capaz de acompanhar esse grau de variação e servir de regulador a essa energia.

Maseymoth- 38, Andra, 1329

O que inicialmente me pareceu ser um avanço agora se mostra uma grande fonte de frustração.
Todo o material presente nos túneis de Maseymoth não passa de metal inerte se não somos

4
Energia senciente. Talvez seja essa a definição mais próxima da existência titanica. mas como os
Sansarakis provocaram a cisão dessa consciência? Ou a energia passou a ter consciência após a
interferência Sansaraki?
capazes de estabilizar a ativação de um único núcleo titanico. Analisei boa parte do arsenal
Sansaraki presente aqui e selecionamos 3 exemplares que nos parecem de menor complexidade.
Vamos desmontá-los totalmente para fazer um processo de engenharia reversa. Trata-se de 3
construtos humanoides, formados por uma estrutura circular das quais saem 4 membros
voltados a locomoção. Aparentemente a movimentação seria similar a aracnídeos, ainda que
apenas 4 membros estejam envolvidos. Há também um outro par de membros voltados a
manuseio de ferramentas, uma vez que possuem mãos com polegares opositores. Pretendemos
desmembrar os construtos e separar seus componentes. Buscando entender seu funcionamento
e, em uma abordagem paralela, buscar elementos que possam substituir as partes que não somos
capazes de ativar.

Maseymoth- 50, Andra, 1329

Estou suspendendo os experimentos relacionados ao projeto 357. Os grupos XXV e XXVI não
apresentaram avanços significativos. Embora a fórmula encontrada parece ser efetiva como
proteção a influência das partículas titânicas e também aos efeitos neurológicos relacionados a
proximidade do Coração está claro que não avançaremos mais nessa linha até que encontremos
um elemento estabilizador. Os artefatos de proteção 357 se mostram efetivos, mas a sua
efetividade decai rapidamente. Os espécimes testados tiveram uma taxa de êxito de 90% que
decai a zero em um prazo de 3 a 4 dias. Já os avanços no projeto G0T tiveram pequenos
avanços. Conseguimos criar condutores arcanos capazes de mimetizar os condutores Sansaraki,
porém com menor efetividade e maior gasto energético. Para auxiliar na nos experimentos
requisitei a ajuda de SulFur Pedraviva. Um anão de gênio forte, o que no caso dele é uma
expressão que vai além da redundância, mas sem dúvidas o melhor ferreiro e engenhoqueiro que
Rovenia já viu. Quero ver o que ele pensa a respeito desses construtos.

Maseymoth- 80, Andra, 1329

Como previ Sulfor foi de grande ajuda ao experimento G0T. Não avançamos na estabilização
dos núcleos Titânicos, mas estabilizamos núcleos arcanos similares. Limitados em potência e
possibilidades, porém muito versáteis. A engenharia reversa nos possibilitou desenvolver
mecanismos muito mais precisos e afinados do que qualquer obra de engenharia anterior. Um de
nossos colaboradores disse que Sulfor fez uma obra de arte reproduzindo as articulações dos
construtos com tecnologia Rovena, o que nos levou a nomear a arte de união da forja com os
princípios da engenharia e a construção de autômatos como “Artificeria”, um nome temporário
mas que já pretendemos aplicar a algumas cadeiras de conhecimento dos colégios Rovenos.
Porém todos esses avanços me parecem distrações perigosas no momento. Embora os novos
construtos arcanos estejam muito além de meros objetos animados e abrem um leque amplo de
possibilidades e avanço tecnológico eles seguem vulneráveis as partículas titânicas.
Dependendo da presença de um conjurador para estabilizar seus núcleos. De forma que seguem
incapaz de explorar o território Sansaraki.

Maseymoth – 13, Tredje, 1329

Estou interrompendo os experimentos em Maseymoth. Os avanços foram surpreendentes, mas


os colégios podem lidar com isso a partir daqui. Está claro que me faltam informações e que
este experimento não me dará as ferramentas que preciso para adentrar Sansarako. Mesmo tendo
o apoio das nações não posso avançar e isso logo será cobrado de mim. Fui precipitado. Parto
amanhã para Wigdonby, de lá para as planícies escaldantes de Terra Além. Por algum motivo os
segredos de Sansarako parecem mais vivos dentre os povos de terras distantes do que para
aqueles próximos a catástrofe. E imagino que não seja apenas uma questão de distância focal,
sinto que algo está passando despercebido. Talvez deliberadamente. A frustração é notória em
despertar toda sorte de sentimentos persecutórios e conspiracionistas. Devo me atentar aos
fatos, pensar nas origens e consequências, buscar o padrão que me falta para equacionar esse
problema. Ou esses problemas. A questão do estabilizador para um artefato de proteção ainda
me preocupa. Limitações tecnológicas, lacunas históricas e uma contagem regressiva para algo
que pode colocar em risco a existência do mundo conhecido. E mesmo assim são poucos que
me ouvem com a urgência que a problemática exige. Estou cansado.

Maseymoth – 14, Tredje, 1329

A partida de Maseymoth foi conturbada. Gnomos tendem a festejar muito mais do que um anão
consideraria adequado. E este anão não quer perder tempo com festividades descabidas! Mas
Alexei pode ser um tanto intempestivo quanto a essas futilidades da corte. Um banquete
enquanto discutimos o fim do mundo… Alexei pareceu achar isso pertinente. A mim parece
suicida. Nessa minha estadia nas colinas não tive muito tempo para interação, quase não sai dos
cofres na verdade, mas acabei por conhecer um garoto muito promissor. Deveria estar nos
colégios de SilverTrone, mas Alexei tende a superproteger o garoto ao que parece. Vi algumas
engenhocas dele sob a mesa, realmente promissor. Numa realidade menos atípica e preocupante
eu teria tirado um tempo para inspirar o garoto. Sinto que estou me perdendo. Mas me parece
uma idiossincrasia que estejam vivendo normalmente enquanto uma fonte de energia titânica
está para romper um selo antigo. Ou isso tudo pode ser apenas um erro interpretativo de um
velho anão castigado pela idade e pelo péssimo hábito de ler a luz de velas ao invés de
descansar. Parece que foi a uma era atrás que eu e Alexei bebíamos juntos nos bailes da corte
enquanto divagavamos sobre teorias que a luz da ebriedade pareciam geniais. Espero encontrar
algo no Leste. Preciso de uma pista.

Hatford- 56, Tredje, 1329

Estamos a meia viagem de Soutboume,embora estejamos avançando a uma boa velocidade para
cavalos eu lamento ter dado ouvidos a Solomon. Com uma carruagem automática estaríamos
viajando muito mais rápido e com menos paradas. Mas ele insiste que o deserto é cruel com
mecanismos e engenhocas. Porém poderíamos ter trocado de veículo ou “montaria” em Nilfien
sem muito problema. Desconfio que a negação de Solomon tenha uma base supersticiosa, o
diabo é bastante sábio e astuto, mas tem suas limitações no que diz respeito a crenças. Mas devo
respeitá-lo, pois podem ser suas crenças e superstições que tragam uma luz as minhas dúvidas e
temores. Espero que as areias do povo de Solomon revele aquilo que busco. Estive pensando no
mito da criação que ele me contou a um tempo atrás, sobre irmãos em guerra e conflitos. Bate
com os registros mais antigos que tenho. Os titãs provavelmente eram seres (ou não seres) de
pura energia e sua interação, ou conflito, resultaram em criação. Como se tudo que existe fosse
proveniente de uma certa interação de quatro elementos primordiais que vaiaram em sua
preponderância. Nessa linha de raciocínio o embate dos titãs seria na verdade uma descrição
rudimentar do processo de interação das forças primordiais resultante na criação. E o “abraço
eterno” seria a descrição de um estado de equilíbrio dinâmico entre as 4 forças, resultando em
uma redução ou anulação do processo criativo do universo e ou dimensão. Mas caio no mesmo
ponto que impede os avanços do experimento 357 e G0T. como atingir o equilíbrio na interação
de forças titânicas, que aparentemente tentem tendem naturalmente a desorganização em um
sistema livre. Algo nessa combinação gera um 5 elemento que equilibra a equação. E
aparentemente os Sansaraki parecem ter perturbado esse equilíbrio de alguma forma. E embora
não esteja claro a mim se a queda Sansaraki foi efeito desse desequilíbrio ou causada pelo
esforço de contê-lo, ​me parece razoável atribuir ao coração de Sansaraki um papel de
mantenedor, talvez temporário, desse suposto equilíbrio.5 Uma tese totalmente baseada em
inferências de devaneios e sem comprovação. Ainda que não haja também algo que a refute. Já
está amanhecendo… Novamente eu não dormi.

Soutboume- 85, Tredje, 1329

As fronteiras Orientais de Nilfien são um bom exemplo de como esse mundo é corruptível. A
expansão dos humanos um dia poderá se tornar um grande problema, inclusive para Rovenia.
Humanos, ainda que breves em existência, são sedentos de conquistas. Vejo em Soutbourme
muito pouco da cultura e do povo livre de Telenissi. Uma cidade oasis muito mais vibrante e
rica em história do que essa fortificação na qual me encontro agora. É “O progresso” como
dizem os conquistadores. Mas o que vejo são fortes de pedra e casas fortificadas de madeira
vinda do Oeste, esmagando a cultura e a alma de um povo. Sei que meu próprio povo também
ergueu seu império sobre a lembrança de outros. Gnomos, Halflings, Vedalkens, Kenkus…
Muitas foram as civilizações assimiladas pelo povo de Baldur. Mas nada como o que fazem os
humanos. Esse mundo precisa ser salvo, mas às vezes não sei se merece. Por sorte não cabe a
mim decidir. Sou muito pequeno e essas decisões grandes demais. A verdade é que tudo que
faço é pela vista das vastas planícies que lembro observar das arcadas de Silvertrone. Quero que
as rochas, pedras e árvores dessa terra resistam para serem vistas e apreciadas por aqueles que
estiverem de passagem sobre elas. Por mais longevos ou efêmeros que sejam os seres, todos
deveriam ter ao menos a oportunidade de ter seu tempo por sobre esta terra.

Wigdonby- 18, Sovrum, 1329

Visitar um cerco não é das atividades mais agradáveis. Há tensão e desconfiança. Olhares
atentos e maliciosos. Se há algo que Wigdonby possa ter a dizer sobre os tempos do império
Sansaraki acredito que não me dirá assim tão facilmente. As pistas que me trouxeram aqui
tratavam de um grupo nômade com um culto aos elementais que possivelmente têm de fundo
uma base titanica, cuja origem remonta a eras passadas. Trata-se de uma seita xamanica muito
antiga e em declínio, mas que mantém relações comerciais com o povo de Wigdonby. O grupo
parece ser formado pelos raros Loxodons, um povo antigo e sereno. Mas cujo conhecimento
histórico está presente em lendas. Eu particularmente acreditava que estavam extintos ou até
mesmo que não passassem de criações folclóricas. Mas Solomon me garante que dentre uma
semana eu estarei na presença dessas criaturas míticas. Os povos das areias de Terra Além
parecem ter uma relação muito próxima com os elementos e Genasis são vistos com maior
frequência do que em qualquer outra região que eu tenha visitado em minhas andanças. Esse
povo parece apegado as energias primordiais, mas não encontro uma construção teórica a esse
respeito. Se trata de uma crença muito arraigada ao sentidos e sensações do que a elaborações.

Wigdonby- 26, Sovrum, 1329

A espera foi muito maior do que gostaria, mas a insistência de Solomon para que
aguardasse-mos se mostrou recompensadora. Enfim os Loxodons chegaram! Um grupo pequeno
de mercadores de peles, essências vegetais e derivados de leite. O chefe da pequena comitiva de
cinco membros se chama ​Pompadour. É o “Líder da manada” como ele mesmo se nomeou.
Trata-se de uma liderança política, embora o legislativo fica com o “Chefe da Manada”, um
ancião conhecido por Babar. Criaturas suntuosas esses Lexodons. Majestosos e imponentes e ao
mesmo tempo pacientes e receptivos. Pompadour ouviu minhas inquietações e questões a
respeito do conhecimento titânico de maneira muito receptiva e prontamente me convidou para

5
Talvez uma espécie de limitador artificial que agora se encontra em sobrecarga. Precisamos de acesso
para verificar a situação e efetuar os reparos.
conhecer seu povo. Partiremos ainda esta noite. Eu, Solomon e o restante da comitiva de
Pompaduor. Enquanto nos conhecíamos e almoçamos ao largo de um poço e sob a sombra de
palmeiras meu anfitrião contava histórias de seu povo. Aparentemente os Loxodons se
orgulham muito de sua memória e longevidade, acreditando caber a eles a missão de ser a
memória viva do mundo. Segundo Pompaduor, nos “tempos do sono eterno” (medida que não
ficou clara a mim mas me parece remontar a Primeira Era ou período anterior) os Loxodons
tinham uma migração muito maior. Perambulando por uma vasta região de terra. Acredito que
possam ter registros de ​Yggdrasill e das Montanhas de Prata inclusive. Porém não parecem
aprovar a cultura Sansaraki, vendo estes como corruptores. Provavelmente por tratarem como
objeto científico a energia que para os Loxodons se trata de uma forma de divindade. As
descrições das terras por onde seus antepassados andaram batem com alguns marcos
geográficos, ainda que desatualizados por milhares de anos. Estou confiante de que posso
aprender o que preciso com esse sábio povo.

Dunas de Retã- 37, Sovrum, 1329

Parece existir um bom motivo para que nunca se tenha ouvido falar em anões do deserto! Por
mais que meus anfitriões se esforcem em fazer a travessia das areias algo agradável a mim tem
sido um grande desafio. Da comitiva apenas Pompaduor e Solomon falam idioma comum, o que
faz com que esses sejam mesmo meus interlocutores, ainda que os demais Loxodons sejam
muito cordiais a sua maneira. Estamos atravessando uma vastidão de areia que parece se chamar
Retã. Uma terra selvagem e implacável. Tenho sede constante e por vezes já pensei em cortar a
minha barba para tentar aplacar o calor intenso. Pompaduor me explica que seu povo segue
uma religião monoteísta e ao mesmo tempo acredita em múltiplas personificações desse “deus”.
Na verdade os Loxodons acreditam que tudo provém de uma fonte única. Que a existência era
um deserto escuro e neste deserto havia apenas um oásis, de onde vieram todas as coisas. Todas
criadas pelo único habitante desse oásis que na solidão passou a se admirar no espelho d'água.
Fazendo companhia para si mesmo passou a se entender e criar consciência de si, de suas
potências e de suas contradições. Culminando numa cisão em 4 seres,mas sem deixar de ser um.
E das interações e conversas entre os 4 toda a criação se fez. O que se alinha muito com a tese
de que os titãs seriam energias primordiais interagindo em equilíbrio dinâmico. Porém na
filosofia Loxodons os 4 jamais compreenderam que eram 4 e portanto seguiram sendo um. O
que me parece algo muito confuso. Teorizo que se trate de uma forma alegórica de representar
que essas energias primordiais não eram sencientes. Uma crença filosófica muito curiosa, mas
que não me dá nenhuma pista para desvendar o elemento estabilizador da energia titanica.

Dunas de Retã- 59, Sovrum, 1329

Já são mais de 40 dias no deserto. Pompaduor está nos guiando para um dos abrigos de seu povo
chamado de Gald’Anur. Que em seu dialeto significa algo como “Sombra da Pedra Velha”.
Tenho buscado entender mais sobre a filosofia Loxodon e suas aplicabilidades. Eles parecem
dominar certa perícia em interagir com o meio de forma fluida. O calor e o vento escaldante
parecem estar em harmonia com eles, de forma que sofrem menos nesta travessia do que eu e
Solomon. Embora seus corpos sejam pesados, seus movimentos são leves e harmoniosos.
Fazendo com que caminhem pelas dunas com a mesma facilidade que um anão atravessa um
salão de pedra cortada. Elas chamam essa sintonia de ​Shaair​, que tem um significado próximo a
“Deixe Estar”. Uma filosofia interessante e despreocupada,mas que não sei se adequada aos
mundos atuais. Temo que a última era dos Loxodons esteja próxima. E o mundo ficará
empobrecido com a saída deles.
Gald’Anur- 83, Sovrum, 1329

Chegamos a uma região rochosa, que segundo Solomon forma uma barreira natural entre as
areias e as terras litorâneas e que para além das pedras há campos verdes. Mas admito que esteja
difícil de acreditar nisso após essa extenuante travessia. Gald’Anur è um acampamento colorido,
com tendas e tapetes dando cor e receptividade as reentrâncias das rochas. No centro do que
poderia ser o salão principal, caso houvesse um teto ali, está um poço simples e um tanto
rudimentar. Conheci Babar, o ancião. Maior que os demais e muito mais velho, com o corpo
tomado por tatuagens e símbolos, muitos deles semelhantes as runas Sansarakis. Parecem ser, na
verdade uma variação de um dialeto primevo e esquecido. O ancião não se comunica bem em
linguagem comum, mas o com a ajuda de Pompaduor nossa interação é possível. De os olhos
cansados me recebeu com alegria, como se aguardasse minha visita. Disse que via que eu estava
cansado e quando fui justificar explicando que o deserto era um desafio para alguém como eu
fui interrompido. Me disse que meu cansaço é o da dúvida. Não sei se foi adivinhação ou
palpite, mas ele acertou. Embora eu deva admitir que toda a peregrinação pelas areias e nossa
chegada a Gald’Anur me trouxe esperanças. Sinto que estou mais perto do que nunca de
descobrir algo sobre o segredo dos Sansarakis. Babar disse que conversávamos após
descansarmos da viagem. A muito tempo não me sinto tão bem em um lugar.

Gald’Anur- 83, Sovrum, 1329

É madrugada. Algo nesse lugar mexe com meus pensamentos e sonhos. No sonho era eu nos
salões inferiores de LostHope. A sombra que invadiu os salões estava a minha frente. Era
disforme. Ou de muitas formas. Falava algo que eu não entendia. O martelo perdido de meu pai
estava em minha mão. Meus lábios pronunciaram palavras que desconheço. Um clarão se fez. A
sombra retrocedeu e se transmutou. Mudou de forma, de raça e de rosto e por fim meu velho pai
caído no chão e ferido. Eu avancei para cima dele, já não havia martelo em minhas mãos. Eu era
a sombra, crescendo diante dos olhos de meu pai. Vi o medo, pude senti-lo em cada partícula
dispersa do meu corpo amorfo. Ele tentou se defender com o martelo mas a sombra caiu sobre
ele. Lutaram os dois. Eu agora assistia. Tinha ciência de que era um sonho e que nessa época eu
era uma criança dormindo em segurança em Silvertrone. Quando a luta acabou tudo ficou
escuro. Agora me via nas portas de Gald’Anur, do lado de fora um velho de capuz me
aguardava. Ao sair ouvi a voz de Babar me alertar: Aqui ele não entra, mas você é livre para ir
até ele. Cuidado, ele está perdido no deserto, desesperado. Fará de tudo para se salvar. Ele é má
companhia. Olhei de novo para o homem, ele tinha vestes puídas e se apoiava em um velho
cajado. no cordão em sua cintura uma ampulheta e duas chaves de prata. A areia vazava da
ampulheta e se misturava com a areia do deserto. O velho não tinha rosto, via ali um céu
noturno de muitas estrelas e após ela escuridão. Foi então que acordei. Não sei se volto a dormir
esta noite.

Gald’Anur- 84, Sovrum, 1329

Hoje tive a oportunidade de discutir com Babar sobre a queda Sansaraki. Ele me apresentou um
texto ritualístico de seu povo que contém uma espécie de profecia. Os trechos parecem bater
com as gravuras que encontrei em Darpoden anos atrás. Me explicou que os Sansarakis, ou
“povo cego” como são chamados no costume local, ​encontraram uma maneira de controlar as
“faces de Deus”6. O que atribuo se tratar das energias primordiais ou titânicas. Seu povo
6
A energia primordial titânica parece necessitar de uma fonte viva para se estabilizar plenamente, como
descobriu empiricamente o jovem Romanoff, ainda bem que não progredimos no campo do
experimento G0T. esse seria um caminho perigoso. Porém é um conhecimento importante para os
desafios que estão por vir.
considera essa prática um sacrilégio, pois defendem o ​Shaair. U ​ ma doutrina baseada em
comungar com essas energias, mas cujo os princípios preciso estudar. No processo de controlar
essas energias é dito que os Sansarakis “se perderam”. Cortando relações com os povos e
reduzindo o acesso de estrangeiros a seus tempos. Os Loxodons dizem que “uma sombra
sussurrante” tomou conta da cidade. Sendo categóricos em dizer que se tratava de uma criatura e
não de uma mera influência. Como se no processo de “dominação” da energia primordial os
Sansarakis tivessem criado um ser e que este mesmo ser passou a exercer influência sobre eles.
O que a princípio me fez retomar a tese de que um corruptor poderoso pode ser a causa da ruína
Sansaraki. Porém o ponto mais importante do relato de babar se trata da “caixa do coração”. No
relato dele a “sombra” passou a ser um perigo e os Sansaraki a traíram. Tirando dela seu
coração e selando de forma que ela foi banida. Relatam que a caixa ao mesmo tempo que
confinada o “coração” da Sombra repelia a mesma. E esta, enfraquecida, passou a vagar e
sussurrar para os mortais. Porém entre os Sansarakis haviam aqueles cuja influência da Sombra
já havia corrompido e que tentaram abrir o selo da caixa. E uma porção da força da “sombra”
vazou da caixa. Essa fração teria sido responsável por destruir a cidade e corromper seus
residentes, além de causar todo cataclisma meteorológico que os registros relatam. alguns
povos, como os próprios Loxodons se abrigaram nos confins do mundo enquanto outros
permaneceram e lutaram por suas terras. Eu busquei mais informação sobre a caixa mas Babar
disse que jamais um Loxodon viu a caixa e portanto ele também não saberia me dizer nada
sobre ela. Aparentemente os Loxodons possuem um ritual que permite que um xamã ao morrer
passe seu conhecimento para um novo membro da tribo e assim cada xamã é portador de todo
conhecimento da espécie. Algo que realemnte parece ser o caso, já que babar parece narrar
como se estivesse vivenciando os fatos. Ainda que eu não entenda bem o dialeto e dependa da
tradução de Pompaduor, vejo as expressões do ancião e reconheço nele veracidade. Babar me
disse ainda, em tom agourento, que a “sombra” ainda está livre e “sussurando” para os mortais.
Quando expliquei a ele sobre os efeitos das partículas titânicas nas estruturas fisicas, ou tentei
explicar, ele argumentou que perante “a face de Deus” o corpo padece e a terra sofre, mas que a
mente dos mortais nada sofria pois ela é feita de ​Níerrf 7. ​E esse elemento não seria afetado. E
ao que parece a caixa Sansaki emite uma força que afeta o ​Nieerf , pois a “sombra” seria feita
desse elemento e isso a afastaria da caixa. Então o Coração de Sansarako não seria uma bateria
titânica primordial como muitos acreditam. Assim como eu suspeitava ele é um regulador dessa
energia, contendo seus excessos. Mas admito que não consegui entender o papel desta “sombra”
​ as Babar e Pompaduor se propuseram a me ensinar sobre os
e o que viria a ser o ​Nieerf. M
princípios do ​Shaair. E acredito que este possa ser o conhecimento que me falta para estabilizar
a energia titanica.

Gald’Anur - 02, Forst, 1330

O ​Shaair p​ arece consistir em uma série de exercícios de respiração e posturais que, segundo a
crença Loxodon, faz com que o corpo entre em “harmonia” com os elementos naturais e
primordiais. Os passos do Shaair ​seguem algumas práticas e exercicios que mimetizam a
postura e comportamento de elementais e tem sempre a presença marcante de um elemento
associado. A base do ​Shaair é o ​Teeran,​ exercicios que buscam fortalecer a musculatura e que
tem consistem em permanecer numa mesma posição por um longo período enquanto se medita.
Mas ao contrário da meditação que já vi nos templos e monastérios que visitei essa é feita sobre
rochas e em posições desconfortáveis. Onde os braços ficam paralelos ao chão e as pernas

7
Nem um elemento e nem uma energia, algo entre essas definições. Como se o pensamento fosse, para
além de expressão, algo que possuísse uma “partícula elementar imaterial” como constituinte
primordial.
levemente arqueadas não devem se mover. Foi dito que apenas após dominar o ​Teeran é que se
parte para o ​Aquaan , relacionado a àgua. Depois o ​Aurian​, do ar, e ​Ignaan do fogo. Para chegar
ao ​Shaair Menie ​ou Shaair Pleno. U​ m estudo de anos, mas que me propus a vivenciar a critério
de experimentação, mas sem a possibilidade de seguir todos os passos. Solicitação que Babar
aceitou, embora contrariado.

Gald’Anur - 38, Forst, 1330

Meu velho pai estaria orgulhoso. Consegui dominar os rudimentos básicos do ​Teeran. ​Sinto,
para além das dores musculares, ganhos no equilíbrio e geolocalização. Os detalhes do espaço
me são claros e meus movimentos muito seguros. mesmo para um anão nunca me senti tão
firme ao solo. A doutrina ​Teeran teria uma ótima aplicabilidade para os soldados Rovenos. Hoje
iniciamos os ensinamentos de base ​Aquaan. ​Fui levado por escavas rudimentares escavadas na
rocha para salões naturais abaixo de Gald’Anur. Dessa vez os exercícios parecem estar
relacionados a resistir a correnteza se um riacho subterrâneo enquanto tento me movimentar.
Certamente o local está muito mais preparado para os Loxodons do que para anões e a água do
riacho é funda e traiçoeira a mim. Mesmo com a base e equilibrio do ​Teeran e​ ncontrei
dificuldade nessa etapa e por vezes fui retirado da água por Pompaduor.

Gald’Anur - 70, Forst, 1330

Mesmo após todo esse tempo o ​Aquaan a​ inda é um desafio. Babar diz que eu sou duro demais e
me apelidou de “filho de rocha”. Não consegui dominar a tecnica para me adaptar ao fluxo de
água de forma a me mover sempre pelo ponto de menor resistência. Pompaduor atravessa a
correnteza como quem atravessa um espelho d'água. Mas eu poucas vezes escapo de acabar
submerso. O que reflete a base do princípio ​Aquaan, ​que tem seu foco em adaptabilidade. Na
capacidade de entender o seu entorno e seguir pelo caminho de menor resistência. Mas algo que
talvez o povo anão não tenha sido feito para conseguir executar. Pelo menos este anão com
certeza não. O processo está se mostrando muito mais árduo e demorado do que podia prever ao
início, embora para os Loxodons isso parece ser “muito rapido”. Ainda estou na metade e
mesmo que insista com Babar para apressar o processo o ancião se mostra inflexível. amanhã
partiremos, parece que a estadia dos Loxodons em Gald’Anur se estendeu por tempo demais.
Iremos para outro refúgio no deserto e lá terei contato com os rudimentos do ​Aurian​ .

Retã - Norte de Gald’Anur - 86, Forst, 1330

Estamos caminhando a dias pelas areias, mas vejo que os aprendizados ​Shaair ​me ajudaram a
estar melhor adaptado a essa travessia. Não tanta quanto os Loxodons, mas o suficiente para
privar Solomon de se divertir às custas de meu sofrimento. Aliás o velho diabo parece ter
facilidade para línguas novas, pois já se arrisca muito mais que eu no dialeto Loxodon. Me
preocupo com o que pode estar ocorrendo no Oeste. Estou longe a muitos dias e aqui as notícias
das cortes não me encontram. Temo estar perdendo alguma descoberta significativa enquanto
persigo uma pista cada vez mais vaga nas histórias de Babar. Admito que os conceitos de babar
sobre os experimentos de Sansarako, ainda que vagos em essência, são o relato mais vivido que
encontrei em todas minhas andanças. Porém não vejo nele nenhum senso de urgência, o que
muito me incomoda. ​Em outro cenário apreciaria muito explorar o conhecimento histórico dos
Loxodons8. Inclusive penso em enviar algum representante dos colégios Rovenos para registrar
parte desse acervo histórico vivo. Mas agora o que busco é o elemento estabilizador. E não

8
Mais um dos muitos erros que cometi. Todo conhecimento é útil e agora muitos elementos me faltam
e muitas perguntas seguem sem resposta.
contos sobre feitos heróicos de eras esquecidas ou sobre a organização de povos já extintos.
Embora admita que são relatos fascinantes.

Xatih’Amir- 22, Andra, 1330

Estamos em uma ravina calcária de rochas pontiagudas esculpidas pelo vento. Xatih’Amir, ou
“Ossos da Terra”. Aqui encontramos outro pequeno Grupo de Loxodons. São 17 no total agora
e vi pela primeira vez vejo uma criança entre eles. Sinais de que realmente é um povo em
declínio. Fato do qual eles parecem estar cientes e ao mesmo tempo resignados a não evitar. A
filosofia deste povo é fascinante enquanto estrutura, mas estranha demais para que haja total
aceitação. Fui apresentado aos fundamentos do ​Aurian ,​ que parece se basear em seguir um
instinto natural dos seres. Fui levado a uma sala escura e deixado lá vendado. Após um tempo
objetos foram colocados a meu redor. E depois de mais um periodo de silencio foi me pedido
que saísse da sala sem tocar nos objetos. A cada toque eu ouvia um sino tocar e deveria
aguardar o tilintar parar para que voltasse a me mover. Foi um processo lento e demorado. E
depois de muito tentar me vi preso em um espaço muito difícil de sair. Pompadour me buscou e
sai da sala sem a venda nos olhos. Amanhã volto a sala e os obstáculos serão outros. Não sei
quanto tempo demorarei para receber a permissão de prosseguir para o último elemento. Sinto
que já estou a tempo demais aqui.

Xatih’Amir- 61, Andra, 1330

Saí hoje da sala pela terceira vez sem tocar em um único sino. Os sons, os cheiros, a luz. Tudo
tem outro significado quando estamos de fato atentos. Babar disse que um mestre em ​Aurian é​
capaz de sentir a “pulsação” da terra e a “intenção” das coisas. Estou longe dessa habilidade
mas senti que a privação de um sentido e estimulação de outros acaba por trazer um ganho
global a autopercepção. Assim como um ganho qualitativo na maneira que interajo com o
mundo. Hoje Babar se sentou para me perguntar como todo esse processo se aplica a minha
busca e meus anseios. Não soube responder.9 O velho se limitou a dizer que que eu era cego,
mas que para minha sorte eu não era surdo. Não irei iniciar o ​Ignaan d​ e imediato. Foi me dito
que antes eu preciso de Xuatar , que segundo Pompaduor seria algo como “lenha”. A próxima
etapa do ​Shaair e​ nvolve entrega e para poder entregar é preciso ter. Assim me foi explicado,
mas não sei o que eles pretendem com isso. Fui apresentado a Pom e Flora, um casal jovem de
Lexodons. Pom é versado em uma dança que mescla movimentos das etapas anteriores do
Shaair c​ om outros relacionados ao processo de ​Xuatar. ​Enquanto Flora é hábil tocando um
tambor ritualistico e sinetes amarrados a um bastão vertical apoiado a seu lado. A dança segue
uma ordem específica de movimentos que devem ser executados com precisão. Mas admito que
as primeiras tentativas estiveram muito aquém da habilidade de meu professor, que mesmo com
todo o peso do corpulento corpo se mostrou gracioso e leve na execução da dança. Prefiso me
esforçar, agora falta pouco.

Xatih’Amir- 72, Andra, 1330

Estou longe de dominar o ​Xuatar, mas me foi permitido me aproximar do ​Ignaan​. O princípio
do fogo Tem relação com se relacionar com os demais elementos de forma a potencializar
aquilo que for bom e combater o que for ruim, um certo equilibrio. Talvez seja aqui que
encontre a resposta que busco para o “equilíbrio dinâmico” das forças primordiais em
Sansarako. Hoje eu apenas assisti Pom demonstrar o ​Ignaan. ​Em brasas vivas Pom dançou ao

9
E ainda hoje essa pergunta me é inquietante. O que o velho Babar esperava que eu compreendesse?
som da melodia de Flora. Os passos precisos pareciam prever quando um movimento levantaria
das brasas uma forte chama e escolher o caminho correto para ficar ileso. Ao memso tempo que
os próprios movimentos de Pom avivavam a brasa que e partia sobre seus pés. Culminando em
serpentes de fogo que surgiam das chamas e dançavam em torno de Pom que com um único e
fluido movimento encerrou o ritual, desfazendo as serpentes e apagando as brasas. Babar me
disse que o ​Ignaan poderia ser demais para mim e perigoso. Por isso não me permitirá dançar
sobre a brasa. Farei meu treinamento dançando para uma vela rústica de cera. E segundo Babar
dependerá de minha entrega o quanto poderei aprender com ela. Já não o questiono. Seguirei
esta última etapa. E espero encontrar o que procuro.

Xatih’Amir- 88, Andra, 1330

A chama reage a dança como se obedecendo a comandos. Não se trata de repetir os movimentos
na mesma ordem e sim de descobrir qual é o próximo movimento necessário. Por vezes altero
os passos para ver as reações da chama, mas é sempre catastrófica. Hora a chama se esvai, hora
a chama se aviva, distorce a vela ou interrompe o pavio. Consegui identificar a série de
comandos e atribui vi que alguns têm maior eficácia que outros, mas que é necessário
alternância entre eles para manter a chama sob controle. Pompaduor disse que meu ​Ignaan n​ ão
é fluido como deveria e que é curioso que eu obtenha algum resultado. Já Babar se limitou a
dizer que não me cabe ditar o ritmo da dança. E foi nessa frase que consegui compreender. Nâo
preciso encontrar um elemento estabilizador único, já que o equilíbrio é dinâmico. Trata-se de
encontrar uma série de elementos que juntos consigam equacionar a variação e que sejam
acionados conforme a demanda do sistema, tendo como norteador uma faixa normal de
equalização e não um padrão constante. Os elementos testados no experimento 357 podem
muito bem ser suficientes para a neutralização do campo de “distorção de ​Nieerf”, ​ao mesmo
tempo que absorve as partículas titânicas. O fluxo dessas, por sua vez determina qual a
combinatória arcana deve ser ativada no mecanismo. De forma que não se gere um campo de
proteção e sim um caminho para que a “distorção de ​Nieerf” passe pelo usuário sem causar
dano ao mesmo. Assim gerando um dispositivo que ao mesmo tempo neutraliza a influência das
partículas titânicas e os efeitos danosos do campo de ​“distorção de Nieerf”. ​Me parece uma
teoria válida, mas não tenho o ferramental necessário para testá-la aqui. acredito que minha
estadia com os Loxodons tenha chegado ao fim. Informei minha decisão de Partida a
Pompaduor e Babar. Solomon já está preparando nossa partida. Mas Babar me pediu mais
alguns dias. Na próxima lua ele quer que participe de um ritual. Irei aguardar.

Xatih’Amir- 04, Tredje, 1330

O ritual, segundo explicou Pompaduor se trata de uma espécie de rito de passagem. Uma
cerimônia que apresenta o jovem Loxodon ao caminho do ​Shaair. ​Mas que a mim seria uma
prova de amizade e confiança dos Loxodons. Além de me garantir proteção e inspiração
enquanto eu mantivesse meu ​Shaair ​vivo. Durante o ritual todos os Loxodons e até mesmo
Solomon (de maneira inadequada) seguiram os passos do ​Xuatar enquanto dançavam em um
círculo. No meio estava Babar com vestes cerimoniais. Fui convidado a adentrar o círculo,
passando pelos demais membros através dos ensinamentos do ​Shaair. B ​ abar me recebeu,entoou
um cântico e passou a desenhar runas e símbolos em meu corpo. A tinta ardia ao mesmo tempo
que sentia uma estranha sensação de acolhimento. Minha consciência foi ficando vaga e lembro
de ter dançado até o amanhecer. Escrevo esse relato na manhã do dia seguinte ao ritual. As
marcas não saem, mas me sinto bem com elas e determinado a chegar ao coração de
Sansarako.Sei que posso levar mais algum tempo para aprimorar o artefato 357 com a teoria que
estabeleci nesta viagem. Babar me disse ainda a pouco que sigo cego, mas aprendi a ouvir e que
ele espera que abra os olhos antes do fim. Acredito que seja sua forma de me desejar boa sorte
na busca pelo Coração. Está claro a mim que o coração é um artefato regulador de uma fonte
energética poderosa e que precisa ser reparado e preservado. Ponto ao qual Babar parece
concordar, embora siga enigmático e depender da tradução, ainda que prestativa, de Pompaduor
possa gerar algum ruído nessa comunicação. Me despeço dos Loxodons mudado e revigorado.

Burden, 72, Tredje, 1330

Longa foi a travessia de Retã, mas muito melhor do que qualquer viagem anterior por essas
terras. Voltou outro Turantar dos confins de Terra Além. Tive muito tempo para pensar no
trabalho que está por vir e já tenho planos bem elaborados. Enviei instruções para Silvertrone
sobre como retomar os experimentos 357, agora 358. Acredito que com isso teremos artefatos
que possibilitem uma exploração do território Sansaraki. Depois de mapeado o território, o
desafio será encontrar o Coração, descobrir a avaria e buscar uma forma de preservá-lo. As
nações certamente será um choque descobrir que não poderão fazer uso do artefato e seu poder,
mas não preciso contar a eles. O que preciso fazer é me apressar em encontrar a disposição
correta e mais assertiva para os artefatos de proteção. Possibilitando uma exploração.

D-XXIV

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