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Visão integrada das

demonstrações contábeis
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a integração do balanço patrimonial, da demonstração do


resultado do exercício e da demonstração do fluxo de caixa.
 Especificar os efeitos das principais decisões nas demonstrações
contábeis.
 Aplicar as análises horizontal e vertical para a interpretação da situação
econômica e financeira das empresas.

Introdução
As demonstrações contábeis apresentam informações úteis e fidedignas
que refletem as operações realizadas pelas entidades em determinado
período. Cada uma delas apresenta suas finalidades próprias e permite
compreender a situação econômica e financeira das entidades. Os usuários
das informações contábeis precisam conhecer cada uma das demonstra-
ções, bem como compreender como a análise conjunta pode fornecer
informações úteis para o alcance de seus diferentes objetivos. Portanto,
as demonstrações contábeis são ferramentas imprescindíveis para a
avaliação e o planejamento futuro, uma vez que permitem a identificação
de riscos e potencialidades de retorno da entidade.
Neste capítulo, você estudará a integração do balanço patrimonial,
da demonstração do resultado do exercício (DRE) e da demonstração
do fluxo de caixa (DFC), conhecerá os efeitos das principais decisões
nas demonstrações contábeis e aprenderá como aplicar as análises
horizontal e vertical para a interpretação da situação econômica e
financeira das empresas.
2 Visão integrada das demonstrações contábeis

Integração das demonstrações contábeis


As demonstrações contábeis representam os efeitos patrimoniais e financei-
ros, o desempenho e o fluxo de caixa da entidade de maneira estruturada e
simplificada aos usuários das informações (acionistas, sócios, administradores,
funcionários, consumidores, fornecedores e instituições financeiras). Elas
fornecem informações fidedignas e relevantes para a análise e a avaliação
na tomada de decisão, visando ao atendimento das necessidades de todos os
interessados. A administração da entidade é responsável pela elaboração das
demonstrações contábeis, que devem estar em conformidade com as normas
contábeis vigentes e a estrutura conceitual.
De acordo com o item 10 da NBC TG 26 (Resolução CFC nº. 1.185, de
28 de agosto de 2009), o conjunto completo das demonstrações contábeis
consiste em (CFC, 2009):

 balanço patrimonial ao final do período;


 demonstração do resultado do período;
 demonstração do resultado abrangente do período;
 demonstração das mutações do patrimônio líquido do período;
 demonstração dos fluxos de caixa do período;
 demonstração do valor adicionado do período, se exigido legalmente
ou apresentado de forma voluntária;
 notas explicativas, compreendendo um resumo das políticas contábeis
significativas e outras informações explanatórias;
 balanço patrimonial no início do período mais antigo, comparativa-
mente apresentado, quando a entidade aplica uma política contábil
retroativamente ou procede à reapresentação de itens das demonstrações
contábeis, ou, ainda, quando procede à reclassificação de itens de suas
demonstrações contábeis.

Além disso, as empresas publicam as notas explicativas, as quais compre-


endem o resumo das políticas contábeis significativas e outras informações
relevantes.
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De acordo com Borinelli e Pimentel (2017), as demonstrações contábeis são resultantes


do processo contábil, que consiste em:
 colher dados referentes às transações realizadas pela entidade por meio de docu-
mentação comprobatória;
 analisar, mensurar e registrar as transações em conformidade com a estrutura
conceitual e as normas contábeis;
 gerar relatórios que contenham informações contábeis decorrentes dos processos
anteriores;
 divulgar as demonstrações contábeis aos diferentes usuários, atendendo às exi-
gências legais.

Apesar de as demonstrações contábeis apresentarem finalidades diferentes,


elas se complementam e são consistentes entre si; ou seja, é possível associar os
dados de uma demonstração contábil com as outras. O balanço patrimonial é a
demonstração que serve como base para a elaboração das demais. De acordo
com Borinelli e Pimentel (2017), a partir dele, cada uma das demonstrações
contábeis acrescenta outros aspectos na evidenciação, permitindo aos usuários
uma visão detalhada e completa sobre a entidade.
De acordo com o art. 178 da Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, o balanço
patrimonial tem como função evidenciar, de forma qualitativa e quantitativa, a
situação patrimonial e financeira da entidade (BRASIL, 1976). Sua posição é
estática, pois apresenta o patrimônio da companhia em um determinado período.
O balanço patrimonial é composto por ativo, passivo e patrimônio líquido.
No grupo do ativo, tem-se os bens e direitos da entidade, e as aplicações de
recurso estão à disposição da entidade. O grupo do balanço passivo representa
as obrigações e as origens de recursos da entidade, e o patrimônio líquido
constitui o capital próprio da entidade.
Dentro do balanço patrimonial ativo, tem-se o ativo circulante, que corres-
ponde às disponibilidades financeiras, aos bens e aos direitos realizáveis até
o fim do exercício seguinte, dos quais, de acordo com o CPC 26 (COMITÊ
DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, 2011), espera-se que:

 sejam realizados, vendidos ou consumidos durante o ciclo operacional


da entidade;
 estejam mantidos com a finalidade de negociação;
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 que sejam realizados até 12 meses após a data de encerramento do


balanço patrimonial;
 estejam em caixa e equivalente de caixa.

Entende-se por caixa o dinheiro em papel-moeda (numerário em espécie)


e os depósitos bancários de livre movimentação. Os equivalentes de caixa
constituem os valores financeiros de disponibilidade imediata (no máximo,
3 meses de resgate) e de alta liquidez, que estão sujeitos a um insignificante
risco de mudança de valor, como aplicações financeiras e aplicações ban-
cárias, por exemplo.
Como o balanço patrimonial é um relatório estático, não é possível
compreender a evolução do caixa e equivalente de caixa entre os períodos.
Assim, a DFC, que pertence à dinâmica patrimonial, complementa o balanço
patrimonial, apresentando e explicando as variações ocorridas no caixa e
equivalente de caixa. A DFC permite que os usuários das demonstrações
contábeis avaliem a capacidade de geração de caixa e equivalente de caixa,
o tempo e o grau de segurança de geração dos recursos financeiros e a
necessidade de liquidez da companhia.
O balanço patrimonial passivo constitui os recursos consumidos pela
entidade para a geração de fluxo de caixa futuros. Ou seja, compreende as
origens de recursos representadas pelas obrigações da entidade (SANTOS et
al., 2015). De acordo com o CPC 26 (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS
CONTÁBEIS, 2011), o patrimônio líquido constitui o interesse residual nos
ativos da entidade após a dedução de todos os passivos. Por esse motivo, ele
deve evidenciar os valores resultantes de ajuste de avaliação patrimonial
decorrentes da avaliação de ativos e passivos a valores de mercado.
Vale ressaltar também que o patrimônio líquido corresponde ao valor de
mercado das ações da entidade ou ao montante decorrente de possível venda
dos seus ativos líquidos ou da entidade como um todo, considerando-se o
princípio de continuidade (BORINELLI; PIMENTEL, 2017). Assim, pode-se
dizer que o patrimônio líquido pode ser considerado o montante de recursos
que pode ser reivindicado pelos acionistas ou quotistas.
De maneira geral, o patrimônio líquido é composto por:

 recursos próprios dos acionistas ou quotistas decorrentes de investimen-


tos realizados para a obtenção de ações, quotas ou outras participações
(capital social);
 evolução natural da entidade que acarreta a geração de lucros ou pre-
juízos no exercício.
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A Lei nº. 11.638, de 28 de dezembro de 2007, determinou que não mais existirá a conta
“lucros ou prejuízos acumulados”, que compunha anteriormente o patrimônio líquido
das entidades (BRASIL, 2007). A partir dessa lei, a conta “prejuízos acumulados” está
prevista nesse grupo do balanço patrimonial. O lucro do período deverá ser destinado
como reserva, aumento de capital social ou distribuição de dividendos.

A geração de lucros ou prejuízos no exercício apresentada no patrimônio


líquido advém da DRE, a qual confronta as receitas, os custos e as despesas
apurados, segundo o regime de competência, evidenciando o resultado
líquido (lucro ou prejuízo) da entidade. Portanto, a DRE é uma demonstra-
ção completa que tem por finalidade mostrar o desempenho (resultado) da
entidade em determinado período.
De acordo com a legislação, a maioria das entidades deve elaborar e di-
vulgar seus resultados, no mínimo, uma vez ao ano. Para as companhias de
capital aberto, é obrigatória a apresentação a cada trimestre. Entretanto, sob
o ponto de vista gerencial, as entidades costumam apurar e acompanhar seus
resultados mensalmente. Para os gestores, é vital o conhecimento da natureza
dos seus gastos e das suas receitas para a melhor tomada de decisão, a fim de
maximizar o desempenho organizacional.

Se a entidade apurar lucro líquido, ela poderá distribuí-lo por meio de dividendos aos
acionistas no exercício social. Assim, nessa transação, a conta “dividendos a pagar” terá
efeito no passivo circulante da entidade (balanço patrimonial).

Efeitos das principais decisões nas


demonstrações contábeis
Conhecer a estrutura das demonstrações contábeis é tão importante quanto
compreender as principais decisões que os usuários das informações poderão
obter por meio delas. Sabe-se que essas demonstrações apresentam diferentes
6 Visão integrada das demonstrações contábeis

finalidades e que, ao mesmo tempo, elas se complementam, pois os dados


informados no balanço patrimonial estão também presentes na DRE e na DFC.
Por esse motivo, recomenda-se a análise dessas demonstrações de maneira
conjunta, e não de forma isolada.

Antes de analisar as demonstrações contábeis, os usuários devem conhecer


detalhadamente o negócio e o mercado de atuação da entidade. Esses fatores
contribuem para uma melhor avaliação nas decisões tomadas de investimento e
de financiamento.

O balanço patrimonial mostra a situação patrimonial e financeira da enti-


dade. Por meio dessa demonstração, o usuário conhece todos os bens, direitos
e obrigações, conhecendo a posição patrimonial da entidade em determinado
período. Ou seja, pode-se visualizar como a entidade distribui seus recursos
entre os ativos (circulante ou não circulante). Dependendo do setor, a entidade
pode ter alto valor em imobilizado, no entanto, outras setores podem apresentar
alto valor no ativo realizável a longo prazo.
Por meio do balanço patrimonial, o usuário pode avaliar a estrutura de
capital da entidade: terceiros (passivo) e capital próprio (patrimônio líquido).
Com base na sua distribuição, é possível avaliar o endividamento da companhia.
Ou seja, consegue-se identificar a dependência de recursos de terceiros ou
de capital próprio para a aquisição de recursos. Se a entidade utilizar capital
de terceiros, os usuários podem conhecer a composição dos vencimentos dos
recursos de terceiros (curto ou longo prazo).
Decisões inadequadas de estrutura de capital podem acarretar um alto
custo de capital, o que tornaria difícil a escolha de investimentos aceitáveis.
Uma boa gestão tem por objetivo a diminuição do custo de capital da entidade,
visando a encontrar facilmente investimentos aceitáveis que maximizem a
riqueza dos proprietários (sócios e acionistas).
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A análise do balanço patrimonial permite conhecer a capacidade de pa-


gamento da entidade, isto é, se há condições financeiras de cumprir os com-
promissos assumidos, bem como se há equilíbrio financeiro e necessidade de
investimento em capital de giro.

O capital de giro consiste nos recursos que serão utilizados para suprir as necessidades
financeiras da entidade ao longo do tempo. Esses recursos se encontram no caixa, nas
contas a receber, no estoque, etc. Pode-se dizer que são os montantes necessários
para que as atividades da empresa ocorram.

A DRE mensura o desempenho da entidade em um determinado período.


Assim, os usuários podem verificar se a geração de resultados (positivos ou
negativos) são consistentes ao longo do tempo. A partir da DRE, é possível
verificar as contas (receitas, custos e despesas) que impactaram no resultado
líquido do período. Os percentuais de custos e despesas em relação às receitas
são mensurados, a fim de identificar os maiores gastos ocorridos no exercício e
buscar maneiras de minimizá-los. Dessa forma, a entidade consegue otimizar
o desempenho da entidade.
As empresas que possuem diferentes unidades de negócio podem, por
meio da DRE, compreender a origem da receita (natureza do produto ou do
serviço). Ademais, se estão localizadas em diferentes localidades, conseguem
identificar as áreas com maiores ou menores receitas. É importante ressaltar
que determinados setores são impactados pela sazonalidade. Assim, por meio
da DRE, consegue-se visualizar as oscilações do resultado ao longo do tempo.
A DRE permite, portanto, avaliar se a maior parte do resultado da entidade
é originária das atividades fins (venda de produtos ou prestação de serviços) ou
de outras atividades, como, por exemplo, venda de ativo imobilizado e receita
de equivalência patrimonial. Outra informação que a entidade e os usuários
conseguem analisar por meio da DRE é o montante de impostos que incidiram
sobre a receita e o resultado. A carga tributária ainda é um valor considerado
alto pelas entidades, sendo responsável pela redução de margem destas.
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A estrutura da DRE permite a análise de diferentes níveis de resultados


(bruto, operacional e líquido). A margem bruta representa o resultado
imediato da entidade com suas atividades. Nesse nível, o usuário pode
identificar a representatividade dos custos das mercadorias ou dos ser-
viços prestados. A margem operacional mede o resultado operacional da
entidade. Aqui, é possível avaliar o montante das despesas realizadas no
período, ou seja, como elas impactaram sobre a receita líquida. Por último,
a margem líquida compreende o resultado líquido da entidade após a
dedução dos impostos e dos tributos. Em geral, os investidores analisam
essa margem, pois entidades que apresentam excelentes resultados podem
gerar altos retornos. O usuário pode combinar os dados apresentados no
balanço patrimonial com a DRE, e, por meio dessas demonstrações, os
acionistas e sócios analisam a relação entre a rentabilidade e os recursos
(ativo e patrimônio líquido) da entidade. Isso permite que eles mensurem
o grau, de modo a saber se receberão alguma remuneração em relação aos
recursos aplicados.
A administração das entidades precisa controlar e otimizar o seu ciclo
empresarial (desde o processo de gestão de estoques até a concessão de crédito
aos clientes decorrente das vendas dos produtos ou serviços). Assim, eles
utilizam tanto a DRE como o balanço patrimonial para mensurar indicadores
de atividade. Com isso, eles conseguem gerenciar as oscilações ocorridas
no capital de giro da entidade.
A DFC permite que os usuários avaliem se a capacidade de geração de
recursos financeiros da entidade é consistente ao longo do tempo e se a entidade
está consumindo mais caixa, em vez de gerar. Além disso, por meio dela é
possível compreender as atividades (operacional, financeira e de investimento)
que estão gerando ou consumindo caixa e equivalentes de caixa da entidade.
Ou seja, por meio da DFC, é possível ver o potencial de geração de caixa
futuro para saldar compromissos com terceiros, pagar dividendos e sanar
empréstimos obtidos.
Desse modo, a DFC permite que os usuários avaliem o valor presente
dos fluxos futuros de caixa. Além disso, em conjunto com as demonstra-
ções contábeis, ajuda a analisar as mudanças nos ativos líquidos de uma
entidade e a calcular a taxa de conversão de lucro em caixa, bem como sua
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estrutura financeira (liquidez e solvência) e sua capacidade para modificar


valores e prazos dos fluxos de caixa, permitindo adaptação às mudanças e
oportunidades (SANTOS; SCHMIDT, 2011).

A DRE mostra a eficiência operacional de uma entidade sob o regime de competência,


independentemente das entradas e saídas de caixa. A DFC mostra a eficácia operacional
de uma entidade sob o regime de caixa. Dessa forma, ao analisar as duas demonstrações,
o usuário verifica o estado financeiro da entidade sob os dois regimes.

Aplicação das análises horizontal e vertical para


a interpretação da situação econômica
e financeira da empresa
Para auxiliar os usuários na análise das demonstrações contábeis, podem
ser aplicadas técnicas para compreender as tendências de uma conta ou
grupo de contas de maneira rápida e simples, a fi m de compará-las entre
si e entre diferentes exercícios. Essas técnicas são as chamadas análises
horizontal e vertical.
A análise horizontal é uma técnica para examinar a evolução histórica dos
valores que compõem o patrimônio da entidade e evidenciar a relação de cada
conta das demonstrações contábeis em períodos consecutivos. A comparação
é feita por meio da visão horizontal dos percentuais ao longo dos períodos
nas demonstrações.
Para a análise horizontal, estabelece-se uma base de referência (período
inicial em relação ao final), considerando o exercício das contas consideradas
na análise. Para o cálculo do percentual, utiliza-se a seguinte fórmula:

Análise horizontal % = [(Valor da conta final (ano 2)/Valor da


conta inicial (ano 1)) – 1] × 100
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Exemplo 1
Uma companhia industrial apresentou o seguinte balanço patrimonial no ano 2,
em reais (Quadro 1):

Quadro 1. Balanço patrimonial referente ao Exemplo 1

Análise
Ano 1 Ano 2
horizontal

Ativo 31.200 35.500 13,78%

Circulante 21.900 24.490 11,83%

Disponível 5.350 6.400 19,63%

Duplicatas a receber 6.950 7.200 3,60%

Estoque 9.600 10.890 13,44%

Não circulante 9.300 11.010 18,39%

Realizável em longo prazo 1.260 1.480 17,46%

Investimento 2.380 3.570 50,00%

Imobilizado 3.720 4.460 19,89%

Intangível 1.940 1.500 −22,68%

Passivo + patrimônio líquido 31.200 35.500 13,78%

Circulante 5.660 6.320 11,66%

Fornecedores 2.630 2.720 3,42%

Impostos a recolher 1.420 1.740 22,54%

Salários a pagar 1.610 1.860 15,53%

Não circulante 5.800 4.200 –27,59%

Empréstimos e financiamentos 5.800 4.200 –27,59%

Patrimônio líquido 19.740 24.980 26,55%

Capital social 14.800 14.800 0,00%

Reservas de lucros 4.940 10.180 106,07%


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Com base no balanço patrimonial acima, pode-se exemplificar o cálculo


das seguintes contas (Quadro 2):

Quadro 2. Cálculo das contas referentes ao Exemplo 1

Ativo Ano 1 Ano 2 Análise horizontal

Disponível 5.350 6.400 [(6.400/5.350) – 1] × 100 = 19,63%


Duplicatas a receber 6.950 7.200 [(7.200/6.950) – 1] × 100 = 3,60%
Estoque 9.600 10.890 [(10.890/9.600) – 1] × 100 = 13,44%

A análise horizontal permite ver as maiores oscilações nas contas e nos


grupos de contas. Diante das informações fornecidas pelo balanço patrimonial,
o usuário pode perceber que houve aumento no ativo circulante, em virtude do
crescimento do disponível (19,63%) e dos estoques (13,44%). Houve também
crescimento no ativo não circulante, em consequência do aumento de 50% em
investimentos e 19,89% no ativo imobilizado. Vale ressaltar que, apesar do
crescimento do ativo não circulante, o intangível diminuiu 22,68%, que pode
ter sido amortizado ou vendido. Sobre o passivo, observa-se aumento de 11,66%
no passivo circulante e redução de 27,59% no passivo não circulante. No passivo
circulante, há aumento de impostos a recolher de 22,54% e 15,53% em salários a
pagar. Pode-se inferir que a redução do passivo não circulante ocorreu devido à
amortização do empréstimo de longo prazo. O aumento de 26,55% no patrimônio
líquido deve-se ao aumento das reservas de lucros de 106,07%.
A empresa também apurou a seguinte DRE no ano 2, em reais (Quadro 3):

Quadro 3. DRE referente ao Exemplo 1

Análise
Demonstração do resultado do exercício Ano 1 Ano 2
horizontal

Receita operacional líquida 75.000 106.000 41,33%


(–) Custo das mercadorias vendidas (36.000) (55.120) 53,11%
(=) Resultado bruto 39.000 50.880 30,46%
(–) Despesas comerciais (12.000) (18.160) 51,33%

(Continua)
12 Visão integrada das demonstrações contábeis

(Continuação)

Quadro 3. DRE referente ao Exemplo 1

Análise
Demonstração do resultado do exercício Ano 1 Ano 2
horizontal

(–) Despesas gerais e administrativas (14.000) (19.980) 42,71%


(–/+) Outras receitas e despesas (7.640) (6.760) –11,52%
(=) Resultado antes das receitas e despesas 5.360 5.980 11,57%
financeiras
(–) Despesa financeira (4.000) (5.000) 25,00%
(+) Receita financeira 5.000 6.000 20,00%
= Resultado antes do Imposto de Renda 6.360 6.980 9,75%
e da Contribuição Social
(–) Despesa com IR e CSLL (1.420) (1.740) 22,54%
(=) Lucro líquido do exercício 4.940 5.240 6,07%

Com base na DRE acima, pode-se exemplificar o cálculo das seguintes


contas (Quadro 4):

Quadro 4. Cálculo das contas referentes ao Exemplo 1

Demonstração do
Ano 1 Ano 2 Análise horizontal
resultado do exercício

Receita operacional 75.000 106.000 [(106.000/75.000) – 1] × 100 = 41,33%


líquida

(–) Custo das mercadorias (36.000) (55.120) [(55.120/36.000) – 1] × 100 = 53,11%


vendidas

(=) Resultado bruto 39.000 50.880 [(50.880/39.000) – 1] × 100 = 30,46%

Pode-se verificar, por meio da da análise horizontal da DRE do ano 2,


que houve aumento de 41,33% na receita operacional líquida e de 53,11% no
custo das mercadorias vendidas. As despesas comerciais tiveram um aumento
(51,33%), assim como as despesas gerais e administrativas (42,71%). Houve
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uma redução de 11,52% em outras receitas e despesas e um aumento de 22,54%


na despesa com IRRJ e CSLL, em virtude do aumento do resultado antes dos
impostos. Portanto, a empresa aumentou seu resultado líquido em 6,07%.
A análise vertical tem por objetivo determinar o percentual de cada conta em
relação ao todo que ela faz parte. No balanço patrimonial, a base é o ativo total e
o total do passivo e do patrimônio líquido, e, na DRE, receita operacional líquida.
Essa análise envolve uma visão de cima para baixo nas colunas das demonstrações,
indicando resultados em efeito cascata. Observe que a análise vertical apresenta
o quanto cada conta é importante em relação à demonstração financeira à qual
pertence. Ao comparar percentuais da própria entidade em períodos anteriores,
o usuário consegue inferir se há contas com proporções anormais.
A análise vertical pode ser calculada da seguinte forma:

Análise vertical = (Conta desejada/conta base) × 100

Exemplo 2
Uma companhia industrial apresentou o seguinte balanço patrimonial no ano 2,
em reais (Quadro 5):

Quadro 5. Balanço patrimonial referente ao Exemplo 2

Análise Análise
Ano 1 Ano 2
vertical vertical

Ativo 31.200 100,00% 35.500 100,00%

Circulante 21.900 70,19% 24.490 68,99%


Disponível 5.350 17,15% 6.400 18,03%
Duplicatas a receber 6.950 22,28% 7.200 20,28%
Estoque 9.600 30,77% 10.890 30,68%
Não circulante 9.300 29,81% 11.010 31,01%
Realizável em longo prazo 1.260 4,04% 1.480 4,17%
Investimento 2.380 7,63% 3.570 10,06%
Imobilizado 3.720 11,92% 4.460 12,56%
Intangível 1.940 6,22% 1.500 4,23%

(Continua)
14 Visão integrada das demonstrações contábeis

(Continuação)

Quadro 5. Balanço patrimonial referente ao Exemplo 2

Análise Análise
Ano 1 Ano 2
vertical vertical

Passivo + patrimônio líquido 31.200 100,00% 35.500 100,00%

Circulante 5.660 18,14% 6.320 17,80%


Fornecedores 2.630 8,43% 2.720 7,66%
Impostos a recolher 1.420 4,55% 1.740 4,90%
Salários a pagar 1.610 5,16% 1.860 5,24%
Não circulante 5.800 18,59% 4.200 11,83%

Empréstimos e financiamentos 5.800 18,59% 4.200 11,83%

Patrimônio líquido 19.740 63,27% 24.980 70,37%

Capital social 14.800 47,44% 14.800 41,69%


Reservas de lucros 4.940 15,83% 10.180 28,68%

Com base no balanço patrimonial acima, pode-se exemplificar o cálculo


das seguintes contas (Quadro 6):

Quadro 6. Cálculo das contas referentes ao Exemplo 2

Ano 1 Análise vertical Ano 2 Análise vertical

Ativo 31.200 100,00% 35.500 100,00%

Circulante 21.900 (21.900/31.200) × 24.490 (24.490/35.500) ×


100 = 70,19% 100 = 68,99%
Disponível 5.350 (5.350/31.200) × 100 = 6.400 (6.400/35.500) × 100 =
17,15% 18,03%
Duplicatas a 6.950 (6.950/31.200) × 100 = 7.200 (7.200/35.500) × 100 =
receber 22,28% 20,28%
Estoque 9.600 (9.600/31.200) × 100 = 10.890 (10.890/35.500) × 100 =
30,77% 30,68%
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Por meio da análise vertical da empresa, pode-se perceber que, no ano 1, o


ativo circulante representa 70,19% sobre o ativo total, composto por 30,77% do
estoque, 22,28% das duplicatas a receber e 17,15% de disponível. No ano 2, o
ativo circulante ainda apresenta uma participação (68,99%) representativa em
relação ao ativo total, e suas contas praticamente mantiveram a distribuição
apresentada no ano 1. O ativo não circulante é responsável por 28,91% sobre
o ativo total, e pode-se dizer que o imobilizado possui o maior percentual
(11,92%). No ano 2, esse grupo não apresenta aumento considerável, entretanto,
observa-se o aumento dos investimentos e pode-se afirmar que o imobilizado
mantém a sua distribuição.
No ano 1, o passivo circulante representa 18,14% em relação ao total do
passivo e do patrimônio líquido, e o ativo não circulante, 18,59%. Em relação
ao ano 2, esses grupos tiveram pequena redução (17,80% e 11,83%, respectiva-
mente), em virtude da redução na conta de fornecedores e da amortização de
empréstimos financeiros em longo prazo. O patrimônio líquido é responsável
por 63,27% sobre o total no ano 1, composto por 47,44% do capital social
e 15,83% da reserva de lucros. No ano 2, houve aumento desse grupo, em
consequência do aumento da reserva de lucros.
A empresa também apurou a seguinte DRE no ano 2, em reais (Quadro 7):

Quadro 7. DRE referente ao Exemplo 2

Demonstração do Análise Análise


Ano 1 Ano 2
resultado do exercício vertical vertical

Receita operacional líquida 75.000 100,00% 106.000 100,00%

(–) Custo das mercadorias vendidas (36.000) –48,00% (55.120) –52,00%

(=) Resultado bruto 39.000 52,00% 50.880 48,00%

(–) Despesas comerciais (12.000) –16,00% (18.160) –17,13%

(–) Despesas gerais e administrativas (14.000) –18,67% (19.980) –18,85%

(–/+) Outras receitas e despesas (7.640) –10,19% (6.760) –6,38%

(=) Resultado antes das receitas e 5.360 7,15% 5.980 5,64%


despesas financeiras

(–) Despesa financeira (4.000) –5,33% (5.000) –4,72%

(+) Receita financeira 5.000 6,67% 6.000 5,66%

(Continua)
16 Visão integrada das demonstrações contábeis

(Continuação)

Quadro 7. DRE referente ao Exemplo 2

Demonstração do Análise Análise


Ano 1 Ano 2
resultado do exercício vertical vertical

= Resultado antes do Imposto de 6.360 8,48% 6.980 6,58%


Renda e da Contribuição Social

(–) Despesa com IR e CSLL (1.420) –1,89% (1.740) –1,64%

(=) Lucro líquido do exercício 4.940 6,59% 5.240 4,94%

Com base na DRE acima, pode-se exemplificar o cálculo das seguintes


contas (Quadro 8):

Quadro 8. Cálculo das contas referentes ao Exemplo 2

Demonstração
do resultado Ano 1 Análise vertical Ano 2 Análise vertical
do exercício

Receita opera- 75.000 100,00% 106.000 100,00%


cional líquida

(–) Custo das (36.000) (–36.000/75.000)/100 (55.120) (–55.120/106.000)/100


mercadorias = –48,00% = –52,00%
vendidas

(=) Resultado 39.000 (–39.000/75.000)/100 50.880 (50.880/106.000)/100


bruto = 52,00% = 48,00%

Na análise vertical da DRE do ano 1, pode-se observar que o custo da


mercadoria vendida é responsável por 48,00% da receita operacional líquida,
acarretando margem bruta de 52,00%. No ano 2, o custo da mercadoria vendida
teve um leve aumento, representando 52,00% da receita operacional líquida,
o que diminuiu a margem bruta (48,00%). No ano 1, as despesas representam
44,85% (16% das despesas com vendas, 18,67% de despesas gerais e admi-
Visão integrada das demonstrações contábeis 17

nistrativas e 10,19% de outras receitas e despesas). No ano seguinte, há uma


pequena redução nessas contas, em virtude da queda percentual das outras
receitas e despesas. Diante desses dados, a empresa apurou uma margem
líquida de 6,59% no ano 1 e de 4,94% no ano 2.

BORINELLI, M. L.; PIMENTEL, R. C. Contabilidade para gestores, analistas e outros pro-


fissionais: de acordo com os pronunciamentos do CPC e IFRS. São Paulo: Atlas, 2017.
BRASIL. Lei no. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por
Ações. Diário Oficial da União, 17 dez. 1976. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm. Acesso em: 14 ago. 2019.
BRASIL. Lei no. 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei
no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976,
e estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divul-
gação de demonstrações financeiras. Diário Oficial da União, 28 dez. 2007. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm. Acesso
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CFC. Resolução no. 1.185/09. Diário Oficial da União, 15 set. 2009. Disponível em: http://
www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1185.doc. Acesso em: 14 ago. 2019.
COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. CPC 26 (R1): apresentação das Demonstra-
ções Contábeis. 2011. Disponível em: http://static.cpc.aatb.com.br/Documentos/312_
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SANTOS, J. L. et al. Manual de práticas contábeis: aspectos societários e tributários. 3.
ed. São Paulo: Atlas, 2015.
SANTOS, J. L.; SCHMIDT, P. Contabilidade societária. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

Leituras recomendadas
PADOVEZE, C. L. Introdução à contabilidade: com abordagem para não contadores. 2.
ed. São Paulo: Cengage Learning, 2015.
SOUZA, A. F. Análise financeira das demonstrações contábeis na prática. São Paulo: Tre-
visan Editora, 2015.

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