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Globalização e Estado Nação

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Globalização e Estado Nação

MATERIAL TEÓRICO

Responsável pelo Conteúdo:

Profa Dra Vilma Silva Lima

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Globalização e Estado Nação

"A notícia do assassinato do presidente norte-americano

Abraham Lincoln, em 1865, levou 13 dias para cruzar o
Atlântico e chegar à Europa. A queda da Bolsa de Valores de
Hong Kong (outubro-novembro/97), levou 13 segundos para
cair como um raio sobre São Paulo e Tóquio, Nova York e Tel
Aviv, Buenos Aires e Frankfurt. Eis ao vivo e em cores, a
globalização"
(Clóvis Rossi - do Conselho Editorial - Folha de São Paulo)

Você seria capaz de definir o termo globalização?

Ouvimos esse termo tantas vezes e em tantas situações que dificilmente

pensamos, efetivamente, sobre sua definição. Segundo Anthony Giddens, a
propósito da expressão globalização, trata-se de (...) palavra que não estava
em parte alguma [mas que] passou a estar em toda parte1. Esse “fenômeno”
que nomeamos de globalização e que na atualidade toma o centro das
discussões, ao contrário do que possamos imaginar, não é algo tão recente
assim. Seus efeitos, que hoje sentimos mais do que nunca, tampouco são obra
do acaso. Para que possamos compreender melhor esse fenômeno é
indispensável resgatarmos o contexto histórico a partir do qual se desenvolveu.

A necessidade de se criar um sistema que possibilitasse as trocas

comerciais num nível global vem desde as grandes navegações e descoberta
das Américas.

Períodos da Globalização
Data Período Caracterização
1450-1850 Primeira fase Expansionismo mercantilista
1850-1950 Segunda fase Industrial-imperialista-colonialista
pós-1989 Globalização recente Cibernética-tecnológica-associativa
Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/atualidade/globalizacao3.htm

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GIDDENS, Anthony. A Terceira Via, p.38.

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Se considerarmos a periodização acima, podemos concluir que o

processo de globalização ou de economia-mundo capitalista como preferiu
Immanuel Wallerstein, nunca se interrompeu e se caracteriza por três fases: a
primeira dominada pela expansão mercantilista (de 1450 a 1850); a segunda
caracterizada pelo expansionismo industrial-imperialista e colonialista (de 1850
a 1950) e, por último, a globalização propriamente dita, ou globalização
recente, acelerada a partir do colapso da URSS e a queda do muro de Berlim,
de 1989 até o presente.

De fato durante séculos avanços foram empreendidos visando a

consolidação desse sistema, no entanto, somente a partir do século XX2 o
processo de globalização foi efetivado. O termo globalização como ele é visto
atualmente, ou seja, não apenas para designar a mundialização da economia,
mas também o intercâmbio cultural e a interdependência social e política ao
nível mundial começou a ser utilizado massivamente a partir da década de
1980.

Mas, o que é essa globalização e como é que ela se manifesta ?

Não há uma definição que seja aceita por todos. Ela está
definitivamente na moda e designa muitas coisas ao mesmo tempo.
Há a interligação acelerada dos mercados nacionais, há a
possibilidade de movimentar bilhões de dólares por computador em
alguns segundos, como ocorreu nas Bolsas de todo o mundo, há a
chamada "terceira revolução tecnológica"( processamento, difusão
e transmissão de informações). Os mais entusiastas acham que a
globalização define uma nova era da história humana.

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Muitos historiadores afirmam que este processo teve início nos séculos XV e XVI com as
Grandes Navegações e Descobertas Marítimas. Neste contexto histórico, o homem europeu
entrou em contato com povos de outros continentes, estabelecendo relações comerciais e
culturais. Porém, a globalização efetivou-se no final do século XX, logo após a queda do
socialismo no leste europeu e na União Soviética. O neoliberalismo, que ganhou força na
década de 1970, impulsionou o processo de globalização econômica.
http://www.suapesquisa.com/globalizacao/

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Na atualidade identificamos a globalização a partir da formação dos

blocos econômicos (União Européia, Nafta, Mercosul, ALCA, entre outros), da
volatilidade do capital internacional, da fragmentação do mercado de trabalho e
produção, do aumento no setor de serviços, do desemprego e da influência
cultural das sociedades dominantes. No âmbito econômico, a adoção de uma
moeda única européia, o Euro, foi uma prova de que os Estados, hoje, adotam
políticas que buscam, cada vez mais, a integração entre os países.

Algumas características da globalização:

o Internacionalização da produção;
o Internacionalização ou globalização das finanças;
o Alterações na divisão do trabalho no qual a função produtiva não se
encontra mais concentrada num único país, mas espalhadas por
vários países e continentes;
o Movimento migratório do hemisfério sul para o norte;
o Importância das questões ambientais nas discussões internacionais;
o O Estado passa de protetor das economias nacionais e provedor do
bem-estar social, a adaptar-se à economia mundial.

Para Ianni (2007) o processo de globalização que se encontra em curso

atualmente apresenta algumas características especiais.

1. a energia nuclear a mais poderosa técnica de guerra, inicialmente,

nas mãos das nações mais poderosas (EUA e União Soviética)
agora, disponível a dirigentes de países do chamado “segundo e
terceiro escalão”.
2. a revolução das tecnologias da Informação e da Comunicação,
baseada nas conquistas da eletrônica, que coloca nas mãos dos
“donos do poder” a capacidade de formar, informar, induzir e
seduzir.
3. a formação do Sistema Financeiro Internacional, em conformidade
com as exigências da economia capitalista mundial e de acordo com
as determinações dos países dominantes.
4. as relações econômicas mundiais, compreendendo a dinâmica dos
meios de produção, das forças produtivas, da tecnologia, da divisão
internacional do trabalho e do mercado mundial, amplamente
influenciadas pelas exigências das empresas, corporações ou
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conglomerados multinacionais, transnacionais, mundiais, globais e

planetários.
5. a reprodução ampliada do capital universaliza-se em nova escala,
com novo ímpeto, recriando relações em todas as partes do mundo,
[...] influenciando, bloqueando ou rompendo os seus sistemas
econômicos.
6. o inglês se transforma na língua universal, por meio do qual se
articulam e expressam indivíduos, grupos e classes, em países
dominantes e dependentes.
7. o ideário do neoliberalismo adquire predomínio mundial, como
ideologia e prática, modo de compreender e agir, forma de gestão
do mercado e poder político, concepção do público e do privado,
ordenação da sociedade e visão do mundo.

Para aqueles que acreditam que a globalização tem relação restrita

somente com a economia é importante ressaltar, de acordo com o que Wolton
(2004) faz constar, que a globalização é caracterizada por três pilares:

1. o primeiro deles sendo o político3, com a ONU e as Declarações dos

Direitos do Homem após a Segunda Guerra Mundial;

2. o segundo pilar caracterizado pela globalização econômica que “foi

apresentada sobretudo no Norte, como um ideal ao mesmo nível da
ONU” (Wolton, 2004, 74), mas que carece de uma regulação;

3. o terceiro e último pilar tem relação com a cultura e a comunicação

como questão política mundial.

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Atualmente, os blocos mais importantes nesta área são: a EU (União Européia), a NAFTA
(North American Free Trade Agreement – Tratado norte-americano de livre comércio), o
MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), a APEC (Asia- Pacific Economic Cooperation -
Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) e a ALCA (Área de Livre Comércio das
Américas). No plano mundial, as relações comerciais são reguladas pela Organização
Mundial do Comércio – OMC, que substituiu o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio).

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Globalização e Estado-nação – Política / Economia

“A globalização tem, pois, que ser governada”

(Henriques, 1998, 8)

Na medida em que crescem os efeitos da globalização na sociedade

também cresce a necessidade do Estado encontrar formas de solucionar os
novos desafios colocados pela crescente interdependência entre os países. No
sistema globalizado os países são dependentes uns dos outros, pois os
governos nacionais não conseguem resolver individualmente seus principais
problemas econômicos, sociais ou ambientais. As novas demandas
relacionadas à economia, à política e à cultura são globalizadas e fazem parte
de um contexto mundial, refletem os grandes problemas internacionais e as
soluções dependem de medidas que devem ser tomadas por um conjunto de
países.

As clássicas noções de soberania e hegemonia associadas ao Estado-

Nação como centro e poder, começam a sofrer reformulações. Segundo
VIEIRA (1997), as modernas forças que agem na atual ordem mundial,
dominada pela economia capitalista de caráter neoliberal, reduzem os espaços
do Estado-Nação, obrigando à reformulação dos projetos nacionais. Em função
disso os vários países/nações buscam proteger-se formando blocos
geopolíticos e celebram acordos sob o controle de organizações internacionais,
como Fundo Monetário internacional (FMI), Organização Mundial do Comércio
(OMC), Banco Mundial (BM) e Organização das Nações Unidas (ONU).

A globalização, como já dito, tem como característica principal um

mercado no qual a cada dia é visível a facilidade de comunicação, transmissão
e processamento de informações, além da mobilidade internacional de capital e
desnacionalização financeira. O mercado globalizado é um mercado
desregulamentado, sobre o qual os Estados possuem cada vez menos
controle. Para KAUFMANN (1999), trata-se de um mercado que transfere
decisões, mesmo aquelas relacionadas aos setores de primeira necessidade;
que se caracteriza por uma competitividade exacerbada, invocada para

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proceder às fusões, às reconfigurações de empresas; no qual o sucesso na

bolsa de valores é julgado mais importante do que o investimento na "riqueza
das nações", ou seja, na educação, na saúde ou na segurança. Trata-se de um
mercado do qual podem fazer parte somente as empresas de alta
competitividade tecnológica.

Como reflexo do fenômeno denominado de globalização outros termos

foram incorporados às culturas e à mídia, entre eles destacam-se
desterritorialização e transnacionalização (termos bastante comuns
principalmente nos noticiários de tevê e na vida dos homens de negócios –
afinal - vive-se, atualmente, a era da organização sem fronteiras –
transnacionais / desterritorializadas).

A transnacionalização pode ser vista como um sub-fenômeno da

globalização, ratificada pela desterritorialização dos relacionamentos político-
sociais e pelo sistema econômico capitalista ultra-valorizado. Isso posto,
podemos concluir que a transnacionalidade insere-se no contexto da
globalização e liga-se à concepção do transpasse estatal, ou seja, um estado
permeável no qual não há fronteiras. A ideia central de transnacionalidade é
“aquilo que atravessa o nacional que perpassa o Estado”4

As empresas transnacionais5 situam-se na fronteira transpassada dos

Estados. Elas estão ao mesmo tempo lá e cá e ocupam um espaço imaginário,
um limite virtual.

As organizações transnacionais estão ligadas à globalização da

produção uma vez que um único produto pode ter diversas origens: seus
componentes, por exemplo, podem ter sido fabricados em determinados países
e sua montagem ocorrer em qualquer parte do planeta. Esse modo de produzir
é denominado de desterritorização. A influência que essas organizações
desterritorializadas exercem ultrapassa a economia, pois interferem também
nas relações com os governos e entre países, alem de participar da cultura e
do cotidiano.

4
http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/Anais/sao_paulo/1915.pdf -
5
Até bem pouco tempo atrás as empresas que recebem a denominação de transnacional
recebiam o nome de multinacional. Isso foi alterado uma vez que o prefixo multi dá a idéia de
múltiplas nacionalidades. O que não é o caso. As empresas transnacionais ainda que ocupem
vários espaços, ou seja, estejam em diversos países têm uma sede de origem.

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Outro reflexo bastante importante oriundo da globalização, como já dito

anteriormente, refere-se à cultura. Se a desterritorização da produção
ocasionou diversas mudanças dentro das empresas, na economia e na política,
não é de se espantar que isso tenha ocorrido também no que se refere à área
social e da cultura, levando à modificação de hábitos e costumes dos
indivíduos, agora globalizados.

O modo de pensar e de agir foi modificado sobremaneira em função do

consumo global, que acabou influenciando a cultura de diversos povos. Assim
como nas organizações hoje se fala em uma cultura global e até transnacional.
Para Featherstone (1994, p. 71) "pode ser possível destacar processos
culturais transociais (...) que sustentam a permuta e o fluxo de mercadorias, de
pessoas, de informações, conhecimentos e imagens que dão origem aos
processos de comunicação e que adquirem uma certa autonomia a nível
global". Ainda segundo o autor, o processo de aculturamento global não
concorre necessariamente para o enfraquecimento dos países, e, também, as
terceiras culturas não concorrerão obrigatoriamente para a homogeneização.

No campo da cultura o termo “glocal” foi criado para indicar a

permanência de uma cultura desenvolvida pelas comunidades conectada à
cultura global da qual a humanidade participa cotidianamente.

Nesse mundo “glocalizado” empresas e, Estados Nacionais e indivíduos

buscam criar identidades, seja pela construção de valores comuns a pequenos
grupos, por vezes denominados “tribos urbanas”, seja pela construção de
símbolos nacionais capazes de gerar processos identitários para grupos
humanos que vivem em territórios determinados pela geopolítica
contemporânea.

Nas muitas megalópoles do mundo globalizados milhões de indivíduos

buscam construir suas identidades e gerar sentimentos de pertencimento a
partir dos quais se reconhecem nas semelhanças e se distanciam do outro
pelas diferenças. Nesse aspecto o slogan de propaganda “eixo do mal” é
exemplo que esclarece esse processo: de um lado a cultura ocidental cristã, o
bem; de outro a cultura islâmica, o mal. Slogans como esse favorecem a
criação de identidades a partir de estereótipos que a própria mídia dissemina
ao atribuir importância a estratégias de propaganda de dirigentes políticos.

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Vivendo na sociedade de consumo contemporânea cidadãos de todo o mundo

buscam identidades também no consumo e as marcas globais oferecem
símbolos que qualificam o consumo e geram novas identidades. Você é o que
você consome.

A globalização vive uma etapa crucial na qual a expansão das trocas de

mercadorias não encontra paralelo no que tange à mobilidade dos seres
humanos: destroem-se muros alfandegários ao mesmo tempo em que muros
de aço separam cidadãos de um lado e outro das fronteiras nacionais. A
xenofobia está em alta enquanto a mobilidade do capital financeiro só faz
ampliar a importância dos poucos acionistas que manipulam o processo
produtivo mundial -enquanto o capital financeira e produtivo circula livre pelo
mundo a mão-de-obra mantém-se presa aos locais de produção, sem a
possibilidade de acompanhar as mudanças realizadas pelas empresas
transnacionais. Exemplos desse procedimento podem ser observados em
produções audiovisuais como “Ou tudo ou nada” ou, ainda, “A Corporação”.
Cidades florescem com a presença de empresas e são arruinadas quando
estas se deslocam para outros lugares quando conseguem maiores vantagens
para instalar-se.

Estados-Nação e organizações mundializadas interferem diretamente no

campo cultural ao criar novos símbolos de pertencimento e associar o consumo
de produtos e serviços a modos de ser e estar no mundo. A diversidade cultural
que caracterizou a humanidade até a contemporaneidade vê-se hoje reduzida
e umas poucas expressões e ícones de modernidade e sintonia com os valores
do presente. O mundo do trabalho é fortemente impactado pelas novas
condições de produção e circulação de mercadorias e serviços, tendendo a
adaptar-se à língua inglesa como dominante e aos procedimentos de produção
definidos a partir pela cultura organizacional das corporações globalizadas.

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Anotações

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Referências

FEATHERSTONE, Mike Et Alii, Cultura Global: Nacionalismo, Globalização

E Modernidade. Trad. De Attilio Brunetta Petrópolis: Vozes, 1994.

GIDDENS, Anthony. A terceira via: reflexões sobre o impasse político atual

e o futuro da social-democracia. Rio de Janeiro: Record, 2000.

IANNI, Octavio. A era do Globalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

2007.

KAUFMANN, J.N. Mundialização e globalização: desafios ético-políticos. In:

Ser Social- Revista semestral do Programa de Pós-Graduação em Política
Social. Brasília: Ser/UNB, v.1, n.4, jun/1999.

VIEIRA, L. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 1997.

Wolton, Dominique . A Outra Globalização. Edições Difel, 2004.

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