Você está na página 1de 130
Os Segredos d Paddington — Ilustrado por Peggy Fortnum Digitalizado com CamScanner MICHAEL BOND OS SEGREDOS DE PADDINGTON Tustragdes PEGGY FORTNUM Tradugao MONICA STAHEL 4 wmfmartinsfontes SAO PAULO 2015 Digitalizado com CamScanner =. obra foi publicada originalmente em inglés como titulo PORE ABOUT PADDINGTON Collins, um selo da HarperCollinsPublishers Ltd. 7 Copaight © Tete: ©1933, Michel Bond Istragbes: © 1959, Peggy Fortnum e William Collins Sons and Co. Ltd. i ser reprodizido, no todo ou em parte, Todos os direitos reseroados. Este loro nao pode ser reprods a armacenado em sistemas eltroncosrecupertoes nem transite por nenbure forma ou ‘meio eletrinico, mecinico ou outros, sem a prévia autorizagio por escrito do editor, Copyright © 2015, Editora WMF Martins Fontes Lida., ‘Sto Paulo, paraa presente edigdo Wedigéo 2015 Tradugio MONICA STAHEL Fabiana Werneck Barcisnki Revises gréficas Marisa Rosa Teixcira Leticia Braun Edigio di Katia Harumi Tevasahs Producio grifica Geraldo Alves Paginacio Studio 3 Desenvolvimento Editors! Nustragio de capa ‘Mark Burgess a partir da ilustrapo ori I de Peegy F Dados Intemnacionais de Catalogacio na Publicasio (CIP) (Cimara Brasileira do Liv Bond, Michael Os segredos de Paddingtom / Michael Bond ; ustracies Peggy Fortnum ; traducio Monica Stahel. -SSo Paulo - Ea. tora WMF Martins Fontes, 2015, Titulo original: More about Paddington. ISBN 978-85-7827.939.3 1 isto - Literatura infantojuvenil | Fortnum, Peggy I Titulo, 15-0258 CODA 5 1. FiegSo: Literatura infantil ss 2. Ficgio Literatura infantojuvenil as Tados os direitos desta edicio reservados 4 Editora WMF Martins Fontes Ltda. Rua Prof. Laerte amos a fe Carvalho, 133 01325-030 Sao Paulo SP Brasil . el. (11) 3293.8150 Fax (11) 3101.1022 mail: infocomfinartinsfontes com. br hitp:/hewresomfmartinsfontes.com.br Digitalizado com CamScanner SUMARIO 1. Um grupo familiar ......sssssssessssssesssssse 2. A decoracdo do qUuart0.ccseesssssssssssssssssssssseessessses 3, Paddington vira detetive...ssssesssesssessssessseee 4, Paddington e a fogueira 5. Problemas no ntimero trinta € COIS... 6. Paddington e as compras de Natal... To Natal cesssssssssssssssssesecscscssssssssssvssssssssssseesssssunsssssseeseeseene 114 Digitalizado com CamScanner UM GRUPO FAMILIAR : A casa dos Brown, Jardins de Windsor numero 32, esta- va estranhamente tranquila. Era um dia quente de verdo e toda a familia estava sentada na varanda, desfru- tando o sol da tarde, com excecao de Paddington, que ti- nha desaparecido misteriosamente logo depois do almogo. Além do leve rufdo de papel quando o sr. Brown vira- va as paginas de um livro enorme e do clique-clique das agulhas de tricé da sra. Brown, o unico som que se ouvia era o da sra. Bird, a governanta, preparando as coisas para o cha. Jonathan e Judy estavam montando um quebra-cabeca, ocupados demais para pronunciar uma so palavra. Digitalizado com CamScanner O sr. Brown foi o primeiro a quebrar o siléncio, — Sabem - ele comegou, dando um longo trago no cachimbo -, é engragado, percorri essa enciclopédia umas doze vezes e nao ha meng4o a nenhum urso como Paddington. — E nem vai haver! — exclamou a sra. Bird. - Ursos como Paddington sdo muito raros. E é bom, se quer sa- ber minha opiniao, caso contrario isso nos custaria uma fortuna em geleia de laranja. Asra. Bird nao parava de reclamar de Paddington por ele gostar de geleia de laranja, mas todos sabiam que ela nunca deixava de ter um pote de reserva na despensa para algum caso de emergéncia. — Afinal, Henry — disse a sra. Brown, baixando o tric6é —, por que esta procurando Paddington na enci- clopédia? O sr. Brown torceu o bigode, pensativo. — Ah, por ne- nhuma razio especial — ele respondeu, vagamente. — Fiquei interessado, sd isso. Ter um urso na familia era uma grande responsabili- dade, principalmente um urso como Paddington, e o sr. Brown levava o assunto muito a sério. — A questao é que — ele disse, fechando 0 livro brus- camente -, se ele ficar conosco para sempre... — Se? — Levantou-se um coro alarmado do resto da fa- milia, com excegao da sra. Bird. & Digitalizado com CamScanner — O que esta querendo dizer, Henry? — exclamou a sra. Brown. — Se o Paddington ficar conosco para sem- pre? E claro que ele vai ficar. — Ja que ele vai ficar conosco — apressou-se em dizer o sr. Brown —, ha uma ou duas coisas que pretendo fazer. Em primeiro lugar, andei pensando em decorar o quarto de despejo para ele. Todos concordaram. Desde que tinha entrado em cena, Paddington vinha ocupando o quarto de héspedes. Como era um urso educado, nunca tinha dito nada, mes- mo quando teve de ser desalojado para dar lugar a umas visitas, mas havia muito tempo andavam pensando que ele deveria ter um quarto préprio. — A segunda coisa — continuou o sr. Brown — é uma fotografia. Seria 6timo se pudéssemos tirar uma foto do nosso grupo familiar. — Uma fotografia? — exclamou a sra. Bird. - Engracado o senhor dizer isso. — Ora = disse o sr. Brown -, por qué? A sra. Bird voltou a se ocupar do bule de cha. — O se- nhor vai ver, quando chegar a hora — ela disse. E, por mais que todos tentassem, foi a tinica coisa que conseguiram fazé-la falar. Felizmente, ela se livrou de mais perguntas, pois na- quele momento o barulho de uma batida forte veio da sala de jantar e o proprio Paddington apareceu na porta envi- Digitalizado com CamScanner dragada. Estava as voltas com uma grande caixa de pape- lao, que tinha no topo um objeto de metal de forma mis- teriosa, com pregos compridos numa das extremidades, Mas 0 que provocou uma exclamagao de espanto dos outros ndo foi tanto o que Paddington carregava. Foi a sua aparéncia. Seu pelo tinha um aspecto diferente, macio e dourado, e suas orelhas, ou pelo menos o que dava para ver delas despontando por baixo da aba larga do seu velho chapéu, estavam pretas e brilhantes como a ponta do seu foci- nho. Até as patas e os bigodes dele estavam de um jeito ~ que sé vendo para acreditar. Todos se levantaram aténitos e a sra. Brown deixou escapar varios pontos do tricé. — Minha nossa! — exclamou o sr. Brown. — O que foi que vocé aprontou? — Tomei um banho — disse Paddington, com cara de ofendido. — Um banho? — repetiu Judy, pausadamente. — Sem nin- guém mandar? — Caramba! — disse Jonathan. — Vamos aplaudir! — Vocé esté bem? — perguntou a sra. Brown. — Quer dizer, estd se sentindo doente ou algo assim? Paddington ficou mais injuriado ainda com 0 alvoro- ¢o que tinha causado. Nao era que ele nunca tivesse se lavado. Na verdade, fazia isso todas as manhas. Simples- mente tinha resolvido enfrentar um banho de fato. To- lo Digitalizado com CamScanner mar banho significava molhar o pelo todo, e levava mui- to tempo para secar. — Eu sé queria ficar bonito para a fotografia — ele disse, com firmeza. — A fotografia? — Todos ecoaram. Era realmente es- quisito 0 jeito como Paddington via as coisas. — Sim — disse Paddington. Com uma expressao grave no rosto, ele se curvou e comecou a desamarrar o bar- bante da caixa de papelao. - Comprei uma camera foto- grafica para mim. Houve um momento de siléncio, enquanto os Brown observavam, por tras, Paddington debrucado sobre a caixa. — Uma camera — falou o sr. Brown, finalmente. — Mas nao é uma coisa muito cara? — Esta nao foi — disse Paddington, respirando fundo. Ele se ergueu, mostrando a maior camera que os Brown ja tinham visto. - Comprei numa liquidagéo no merca- do. Custou sé trés libras! — Trés libras! — exclamou o sr. Brown, parecendo mui- to impressionado. Voltou-se para os outros. — Devo dizer que nunca conheci tim urso com tanto olho para pechin- chas como o Paddington. — Puxa! — disse Jonathan. — Tem capa para por na ca- bega e tudo. — O que é essa coisa comprida? — perguntou Judy. ~Eum tripé — Paddington explicou, orgulhoso. Ele se sentou no chao e comecou a desdobrar os trés pés. — E para fixar a camera para ela no tremer. Digitalizado com CamScanner i, O sr. Brown pegou a camera € a examinou. Ao viré-la, cafram alguns parafusos enferrujados e varios pregos ve- lhos. — Nao é meio velha? ~ ele perguntou, sem pensar. — Parece que alguém a usou como caixa de ferramentas, Paddington ergueu a aba do chapéu e olhou feio para o sr. Brown. — E de um tipo muito raro — respondeu. - O homem da loja de coisas usadas falou. — Bom, eu acho sensacional! — exclamou Jonathan, entusiasmado. — Estou na frente, tire a minha foto primei- ro, Paddington. — S6 tenho uma chapa — disse Paddington, resoluto. - As chapas extras custam caro e nao me sobrou nenhum dinheiro, por isso acho que vao ter de tirar uma foto em grupo. — Com certeza, parece complicado e meio grande para um urso — observou o sr. Brown, enquanto Paddington parafusava a camera em cima do tripé e ajustava os pés para que ficassem na altura certa. — Esta seguro de que vai conseguir lidar com isso? — Acho que sim — disse Paddington. Sua voz ficou aba- fada quando ele sumiu debaixo da capa preta atras da camera. — O sr. Gruber me emprestou um livro com tudo sobre fotografia e eu treinei debaixo das cobertas. O sr. Gruber, que tinha uma loja de antiguidades no mercado Portobello, era amigo intimo de Paddington eo ajudava a resolver todos os seus problemas. IQ Digitalizado com CamScanner — Bom, se é assim — 0 sr. Brown assumiu a situa¢ao —, sugiro irmos todos até o gramado para que Paddington possa tirar nossa foto enquanto o sol esta brilhando — e foi para fora enquanto Paddington se apressava em ins- talar a camera e 0 tripé. Logo Paddington anunciou que estava tudo pronto e comecou a dispor o grupo como ele queria, correndo de volta até a camera de vez em quando para olha-los atra- vés das lentes. Como a camera estava muito perto do chio, ele teve de colocar o sr. Brown agachado, numa posi¢ao meio des- confortdvel, atras de Jonathan e Judy, e a sra. Brown e a sra. Bird sentadas uma de cada lado. 13 Digitalizado com CamScanner Embora nio dissesse nada, Paddington estava um pou- co decepcionado com o que via através da camera, S6 reconhecia o st. Brown por causa do bigode, mas os oy. tros era muito mais dificil. Pareciam todos borrados, quase como se estivessem no meio da neblina. Era estra- nho, pois quando tirava a cabega de baixo daquele Pano o tempo estava bem ensolarado. Os Brown esperaram pacientes enquanto Paddington, sentado na grama, consultava seu manual de instrucées. De repente ele descobriu um capitulo muito interessante, intitulado Foco. Explicava que, para tirar fotos nitidas, era importante verificar se a camera estava a uma dis- Digitalizado com CamScanner tancia certa e corretamente ajustada. Até havia uma ilus- tragéo mostrando um homem medindo a distancia com um barbante. Muitos minutos se passaram, pois Paddington lia meio devagar e havia muitos diagramas para serem consultados. — Espero que ele nao demore muito — disse o sr. Brown. — Acho que vai me dar caibra. - Ele vai ficar desapontado se vocé se mexer — disse a sra. Brown. — Deu muito trabalho posicionar todos nés, e parece que ficou muito bom, mesmo. — Para vocés esta dtimo, pois estéo sentadas — recla- mou 0 sr. Brown. — Pss! — replicou a sra. Brown. — Agora parece que ele esta quase pronto. Esta fazendo alguma coisa com um barbante. — Para que serve isso, afinal? — perguntou o sr. Brown. —E para medir vocés — disse Paddington, dando um nd na ponta. — Bem, se me permite — protestou o sr. Brown quan- do viu o que Paddington ia fazer —, acho que seria melhor vocé amarrar a outra ponta na camera do que amar- rar esta na minha orelha! — O resto da sua frase desa- pareceu num grunhido quando o urso puxou o barbante com forga. Paddington pareceu surpreso ao examinar com inte- tesse 0 laco em torno da orelha do sr. Brown. — Acho que 5 Digitalizado com CamScanner ee fiz um né corredico por engano — ele anunciou finalmen. te. Paddington nao era muito bom para dar nés, princi. palmente porque o fato de ter patas dificultava as Coisas, — Francamente, Henry — disse a sra. Brown =, Nao faga tanto escandalo. Quem ouve pode até pensar que vocé se machucou. O sr. Brown esfregou a orelha, que tinha ficado de uma Cor roxa engracada. — A orelha é minha — ele disse — e esta doendo mesmo. Paddington saiu correndo na diregao da casa. — Aonde ele vai agora? — exclamou a sra. Bird. — Deve ter ido medir o barbante — disse Jonathan. — Uuh! — gemeu o sr. Brown. — Bem, vou me levantar. — Henry! — disse a sra. Brown. — Se vocé fizer isso, vou ficar muito brava. — Seja como for, é tarde demais = falou o sr. Brown. — Minha perna adormeceu. Para sorte do sr. Brown, Paddington voltou naquele ins- tante. Olhou bem para o sol e depois para o grupo que esperava. — Acho que vocés vao ter de vir para cd — ele disse, depois de consultar o manual de instrucdes. - O sol mudou de lugar. — Nao me surpreende — rosnou o sr. Brown, que esta- va sentado na grama esfregando a perna. — No ritmo em que as coisas vao, ele vai se pér antes de terminarmos. i) Digitalizado com CamScanner — Nunca imaginei que tirar uma fotografia fosse tao complicado — disse a sra. Bird. — S6 nao entendi bem — sussurrou Judy — por que o Paddington se deu ao trabalho de tomar banho se é ele que vai tirar a foto. — Essa € a questao — disse o sr. Brown. — Como vocé vai fazer para sair na foto, Paddington? Paddington olhou para o sr. Brown de um jeito estra- nho. Era uma coisa na qual ele também nao tinha pen- sado, mas resolveu enfrentar a dificuldade quando ela se apresentasse. Antes tinha um monte de outras coisas importantes para fazer. Depois de pensar um pouco, ele disse: — Vou apertar o disparador, e entao saio correndo pelo outro lado. — Acontece que nem os ursos sao capazes de correr tao rapido — insistiu o sr. Brown. — Tenho certeza de que o Paddington sabe melhor, Henry — sussurrou a sra. Brown. — E, mesmo que nao saiba, pelo amor de Deus, nao diga nada. Se ele perceber que tomou banho inutilmente, ninguém sabe como isso vai acabar. — Parece que a capa é muito comprida — disse a sra. Bird, olhando para a camera. — Nao consigo ver o Paddington. —E porque ele é baixinho — explicou Jonathan. — Teve que abaixar 0 tripé. Digitalizado com CamScanner A Os Brown estavam sentados muito quietos, com um sorriso fixo nos rostos, quando Paddington saiu de baixo da capa. Fez alguns ajustes complicados na parte da frente da camera e, depois de anunciar que estava prestes a ins- talar a chapa fotografica, desapareceu de novo. De repente, para surpresa de todos, a camera e 0 tripé comegaram a balangar perigosamente para tras e para a frente. — Minha nossa! — exclamou a sra. Bird. - O que esta acontecendo agora? ~ Cuidado! ~ gritou o sr. Brown. — Esta vindo na nos- sa direcao, Todos se levantaram, se afastaram e, com os olhos arregalados, ficaram vendo a cAmera que os seguia. Mas, 3 Digitalizado com CamScanner depois de se aproximar alguns metros, de repente ela pa- rou, virou para a esquerda e foi ao encontro de uma moita de roseiras. — Espero de verdade que ele esteja bem — disse o sr. Brown, ansioso. — Sera que nao deviamos fazer alguma coisa? — disse asta. Bird, ao ouvirem o choro abafado de Paddington. Porém, antes que alguém tivesse tempo de responder, acamera saltou fora da moita de roseiras e voltou a atra- vessar 0 gramado. Deu duas voltas em torno do tanqui- nho que havia no centro, pulou varias vezes no ar e caiu, aterrissando com um ruido surdo no meio do mais belo canteiro de flores do sr. Brown. Digitalizado com CamScanner — Deus do céu! — gritou o sr. Brown, , que avancay, correndo. — Minhas pettinias! — Pouco importam suas pettinias, Henry! ~ XClamoy asra. Brown. — E 0 Paddington? — Bem, era de esperar — di: 7 — disse o sr. Brow: N, a0 se cup. var para levantar a . — Esté arpa capa. — Esta com a cabeca enfiada i — Cuidado, papai — disse Jonathan, quando o sr. Brow, come¢ou a puxar as pernas de Paddington. - Os bigodes dele podem ter ficado presos no disparador. O sr. Brown parou de puxar e, rastejando, deu a volta para espiar através da lente. Depois de uma pausa, ele dis- se: — Nao estou vendo nada. La dentro esta tudo escuro, - Ele bateu na caixa e 14 de dentro veio mais um choro fraco, — Manteiga! Nao ha nada melhor do que manteiga para desentalar alguém — disse a sra. Bird, correndo para acozinha. A sra. Bird era uma grande adepta da mantei- que ela jé tinha usado muitas vezes antes, quando ga, Paddington ficara entalado. Mesmo assim, Jonathan segurando de um lado e ost. Brown puxando pelo outro, demorou um pouco para a cabeca de Paddington finalmente sair de dentro da ca- mera. Ele se sentou na grama, esfregando as orelhas, com ar muito abatido. As coisas definitivamente nao tinham acontecido conforme ele planejara. Quando finalmente a ordem foi restaurada, 0 sr. Brown como es- disse: — Sugiro que se arranje tudo exatamente 20 Digitalizado com CamScanner — tava antes e se amarre um barbante ao disparador. Entao Paddington pode se sentar no grupo, junto conosco, e tirar a foto a distancia. Desse jeito vai ser muito mais seguro. Todos concordaram que a ideia era boa, e, enquanto o sr. Brown voltava a arrumar o grupo, Paddington tratou de instalar a camera e colocar a chapa fotografica dentro dela, dessa vez ficando mais afastado, Houve um ligeiro contratempo porque ele puxou o barbante com muita forca e o tripé caiu, mas finalmente chegou o grande mo- mento. A camera fez um clique e todos se descontrairam. Um pouco depois, o homem da loja de fotografias pa- receu surpreso ao ver entrar pela porta a sra. Bird, todos os Brown e Paddington. —E mesmo um modelo muito raro — ele disse, exami- nando com interesse a camera de Paddington. - Muito raro. Jali sobre ele, é claro, mas nunca tinha visto um apa- relho desses. Decerto estava guardado em alguma despen- sa, ou algo assim. Parece que dentro dele tem manteiga. — E que houve um pequeno acidente quando tentei colocar a chapa — disse Paddington. — Estamos todos muito ansiosos para ver o resultado da foto — acrescentou o sr. Brown, apressado. — Sera que 0 senhor poderia revela-la para nés enquanto esperamos? Ohomem disse que teria muito prazer em lhes prestar esse servico. Por tudo o que tinha visto e ouvido, esta- va curioso para ver a fotografia. Correu para sua camara ai Digitalizado com CamScanner escura, deixando os Brown sozinhos. Nao se \ de jé ter atendido um urso fotégrafo na loja, Ele voltou com uma expressao intrigada no rosto, cés disseram que esta foto foi tirada hoje? »~ Ve tou, olhando pela janela o dia ensolarado, — Isso mesmo — disse Paddington, observando-o des SMbray, ~ele Pergun. confiado. = , cavalheiro — o homem levani Bem, tou a chapa con. tra a luz para que Paddington visse —, est bonita e nit. da, certamente consigo ver todos vocés, mas é como se , tempo estivesse nublado. E essas manchas de luz, Pare. cendo raios de luar, sao muito estranhas. Paddington tomou a chapa do homem e a examinoy minuciosamente. - Acho que foi quando acendi minha lanterna debaixo das cobertas — ele disse, por fim. — Bem, acho que é uma foto muito boa para uma pri- meira tentativa — disse a sra. Bird. — E eu queria seis cé- pias em cartao-postal, por favor. Tenho certeza de que a tia Lucy do Paddington, que mora no Peru, vai adorar re- ceber um. Ela mora num lar de ursos aposentados, em Lima - ela acrescentou, dirigindo-se ao dono da loja. — E mesmo? — disse o homem, impressionado. — Bem, é a primeira vez que fago uma foto para ser enviada ao outro lado do mundo, ainda mais a um lar para ursos apo- sentados no Peru. Ele pensou por um momento, — Vou dizer uma coisa, se me emprestarem essa cdmera para que eu a coloque 22 Digitalizado com CamScanner rine da minha loja por uma semana, além de fazer todas as cépias que vocés quiserem vou tirar uma fotogra- fia de cada um de vocés em troca — ele disse. — Que tal? Enquanto caminhavam de volta para casa, o sr. Brown disse: — Eu devia ter adivinhado que, se Paddington tirasse nossa foto, alguma coisa excepcional aconteceria. Imagi- ne s6 todas essas fotos por nada! — Os ursos sempre acabam se saindo bem — disse a sra. Brown, olhando para Paddington. Mas ele no estava escutando. Ainda pensava em sua na vitl camera. Na manhi seguinte, bem cedinho, ele correu até a loja e ficou feliz ao ver que ela j4 ocupava uma posi¢ao de destaque no meio da vitrine. Embaixo, estava escrito: TIPO MUITO RARO DE CAME- RA ANTIGA — AGORA PROPRIEDADE DO SR. PADDINGTON BROWN — JOVEM CAVALHEIRO URSO DA REGIAO. Paddington ficou mais satisfeito ainda com outra pla- quinha ao lado, que dizia: UM EXEMPLO DE SEU TRABA- LHO. E embaixo estava sua fotografia. Estava um pouco borrada e havia varias marcas de pa- tas na margem, mas uma ou duas pessoas da vizinhanca vieram Ihe dar os parabéns e muitas disseram que tinham conseguido reconhecer nitidamente todos eles na foto. No fim das contas, Paddington achou que as trés libras tinham sido muito bem gastas. 23 Digitalizado com CamScanner A DECORACAO DO QUARTO addington suspirou fundo e puxou o chapéu para baixo, por cima das orelhas, para nao ouvir o barulho. Havia um tumulto tao grande que estava dificil fazer as anotac6es no seu album. Todo 0 alvoroco tinha comegado quando o sr. Brown, asra. Brown ea sra. Bird receberam um convite de casa- mento inesperado. Ainda bem que Jonathan e Judy nao es- tavam em casa, senao seria muito pior. Paddington nao tinha sido incluido no convite, mas ele nao se importou mesmo. Nao gostava muito de casamentos, a nao ser pelo bolo gratis, e, mesmo que ndo fosse, tinham prometido trazer um pedago para ele. au Digitalizado com CamScanner Ele comegava a desejar que todos fossem embora logo. Tinha uma razao especial para querer ficar sozinho aque- le dia. Suspirou de novo, limpou a pena com cuidado nas cos- tas da pata e enxugou uns pingos de tinta que, de um jeito ou de outro, tinham caido na mesa. Foi bem na hora que a porta se escancarou e a sra. Brown entrou. — Ah, aqui est vocé, Paddington! — ela parou no meio do quarto, olhando para ele. — Afinal por que esta de chapéu dentro de casa? — ela perguntou. — E por que sua lingua esta toda azul? Paddington pés a lingua para fora o mais que conse- guiu. — E uma cor engracada — ele admitiu, olhando-a interessado. — Talvez eu esteja meio doente por alguma razao! — Vocé vai ficar doente por alguma razao agorinha mes- mo se nao arrumar essa desordem — esbravejou a sra. Bird, que vinha entrando. — Veja isso. Frascos de tinta. Cola. Pedacos de papel. Minha melhor tesoura de costura. Ge- leia de laranja espalhada por toda a toalha da mesa e Deus sabe o que mais. Paddington olhou ao redor. Estava mesmo uma bagun¢a. — Estou quase terminando — ele anunciou. — Tenho s6 que ajeitar mais algumas linhas e umas coisas. Estou escrevendo minhas memérias. 25 Digitalizado com CamScanner ton levava seu album de recordacdes ava longas horas colando fotos e esq, : Padding! grio e pass: on — Desde que chegara aos Brow, vend suas avel nN, tanta Cois, tinha acontecido que mais da metade do Album if tink sido preenchida. : — Bem, mas dé um jeito de limpar tudo mesyno — dis. se a sra. Brown —, senao nao vamos trazer bolo nenhum para vocé. Agora, cuide-se. E nao esqueca: quando o pa. deiro vier, queremos dois paes de forma — ela acenou um até-logo e saiu do quarto, atras da sra. Bird. — Sabem — disse a sra. Bird ao entrar no carro -, tenho a impressao de que esse urso esta tramando alguma coj- sa. Ele parecia muito ansioso para que fossemos embora, — Ah, nio sei — disse a sra. Brown. — Nao imagino 0 que ele possa fazer. Nao vamos ficar fora tanto tempo assim. — Ah! - replicou a sra. Bird, em tom sombrio. - Pode até ser. Mas ele passou metade da manha zarizando no andar de cima. Tenho certeza de que est aprontando al- Muito a guma coisa. O sr. Brown, que também nao gostava muito de casa- mentos, e no fundo estava querendo poder ficar em casa com Paddington, olhou por cima do ombro, pisando na embreagem. ~ Talvez seja bom eu também ficar — ele disse. — Assim eu poderia continuar decorando o quarto dele. 26 Digitalizado com CamScanner — Ora, Henry — disse a sra. Brown, com firmeza —, vocé vai ao casamento e pronto. Paddington vai ficar muito bem sozinho. E um urso muito capaz. E, quanto a sua vontade de continuar decorando o quarto dele... vocé nao fez nada nesse sentido por mais de quinze dias, por- tanto tenho certeza de que dé para esperar mais um dia. O quarto novo de Paddington havia se tornado um ponto delicado da vida doméstica dos Brown. Fazia mais de duas semanas que, pela primeira vez, o sr. Brown pensara em fazer isso. Nessa altura ele tinha raspado todo o papel antigo das paredes, tirado os frisos, as mol- duras de madeira das portas, as macanetas e tudo 0 mais que estava solto, ou que ele tinha retirado, e comprado um monte de papel de parede novo, cal e tinta. E parou por ai. No carro, sentada atrds, a sra. Bird fingiu nao-ter ou- - vido nada. De repente lhe veio uma ideia que ela espera- va nao passar também pela cabeca de Paddington. Mas a sra. Bird sabia muito bem como funcionava a cabeca da- quele urso e temeu pelo pior. Mal sabia ela que seus receios se tornavam realidade exatamente naquele momento. Paddington estava apagando do seu Album as palavras “SEM FASER NADA’ e acrescentando, em maitisculas bem grandes: “DECORANDO MEU CUARTO NOVO!” Foi naquele dia, um pouco mais cedo, enquanto escre- via “SEM FASER NADA” no seu album, que ele teve essa 27 Digitalizado com CamScanner ideia. Paddington ja havia notado que muitas vezes tinha as melhores ideias quando estava “sem fazer nada’. Por muito tempo todas as suas coisas ficaram emba- ladas, prontas para a grande mudanga para o quarto novo, e ele estava comecando a ficar impaciente. Cada vez que queria algo especial, tinha de desamarrar metros e me- tros de barbante e desfazer embrulhos de papel pardo. Apés sublinhar as palavras em vermelho, Paddington arrumou tudo, trancou seu album cuidadosamente na mala e correu para o andar de cima. Muitas vezes tinha se oferecido para dar uma patinha na decoracao, mas por uma razao ou por outra o sr. Brown recusava a ideia, nao permitindo nem que ele entrasse no quarto enquan- to as obras estavam em andamento. Paddington nao en- tendia muito bem por qué. Tinha certeza de que se sairia muito bem. 28 Digitalizado com CamScanner — Era um velho quarto de despejo que estava havia mui- to tempo fora de uso. Ao entrar nele, Paddington 0 achou até mais interessante do que esperava. Fechou a porta, com cuidado, atras de sie farejou. Sen- tiu um cheiro intrigante de tinta e cal. Nao era sé isso, havia uma escadinha, um cavalete, muitos pincéis, varios rolos de papel de parede e um balde grande de cal. No quarto havia também um timo eco, e Paddington ficou um tempo sentado no meio do assoalho enquanto mexia a tinta, s6 ouvindo sua nova voz. Havia tanta coisa diferente e interessante A sua volta que era dificil saber o que fazer primeiro. Finalmente Pad- dington resolveu pintar. Escolheu um dos melhores pin- Digitalizado com CamScanner rarer errr eee ee, céis do sr. Brown, mergulhou-o na lata de tinta e olhou em torno do quarto procurando onde pintar. Depois de trabalhar na moldura da janela por algum tempo, comecou a achar que deveria ter comegado por outro lugar. Segurar o pincel lhe dava dor no brago e, quando tentou mergulhar a pata na lata de tinta e pin- tar com ela, parecia que ia mais tinta para o vidro do que para a parte de madeira, de modo que o quarto fi- cou meio escuro. Balangando o pincel no ar, apontando para o quarto em geral, Paddington disse: — Se antes eu passar cal no teto, talvez depois possa cobrir todos os respingos com o papel de parede. Mas, quando comegou a trabalhar com a cal, percebeu que era quase tao dificil quanto pintar. Mesmo ficando Digitalizado com CamScanner eer na ponta dos pés, no alto da escadinha, dava um traba- Ihao alcancar o teto. Como 0 balde de cal era muito pesa- do, ele tinha de descer toda hora da escada para molhar o pincel. Quando subia de novo, a cal lhe escorria pela pata e colava em seu pelo. Paddington olhou ao seu redor, desejando que ainda estivesse “sem fazer nada”. Estava tudo comegando a vi- rar uma bagunga de novo. Tinha certeza de que a sra. Bird ia ter o que falar quando visse aquilo. Foi entao que ele teve uma ideia brilhante. Paddington era um urso engenhoso e nao gostava de se deixar vencer. Recentemente tinha se interessado por uma casa que es- tava sendo construida perto dali. Primeiro a tinha visto pela janela de seu quarto e, desde entdo, passava horas conversando com os homens e vendo-os icar as ferra- mentas e o cimento para o andar superior por meio de uma corda e uma roldana. Certa vez, 0 sr. Briggs, o mestre de obras, chegou a leva-lo até em cima dentro do balde e o deixou assentar varios tijolos. A casa dos Brown era velha e no meio do teto havia um gancho enorme em que em outros tempos pendia um lustre gigantesco. E nao era sé isso. Num canto do quar- to havia um pequeno rolo de corda também... Paddington pés “patas” a obra rapidamente. Primeiro amarrou uma ponta da corda no cabo do balde. Depois subiu na escada e passou a outra ponta pelo gancho do 31 Digitalizado com CamScanner teto. Mesmo assim, quando desceu, ainda levou um tem. pao para conseguir puxar 0 balde para mais perto do alto da escada. Estava cheio de cal até a borda e muito Pesado, assim ele tinha de parar a cada momento e amarrar a outra ponta da corda na escada, por medida de seguranca, Foi quando Paddington desamarrou a corda pela ulti- ma vez que as coisas comecaram a dar errado. Quando fechou os olhos e se inclinou para tras para dar o ultimo puxao, o ursinho teve a impressao, para sua surpresa, de estar flutuando no ar. Era uma sensa¢ao muito estranha. Ele estendeu uma pata para sentir o seu redor. Nao havia absolutamente nada a sua volta. O urso abriu um olho e quase soltou a corda de tao espantado que ficou ao ver o balde de cal passar por ele descendo para o chao. De repente tudo pareceu acontecer ao mesmo tempo. Antes que ele pudesse estender a pata ou gritar por so- corro, sua cabega bateu no teto e ele ouviu o estrondo do balde batendo no chao. Por alguns segundos, Paddington ficou ali grudado, dando chutes no ar e sem saber 0 que fazer. Entao veio la de baixo um rufdo de gorgolejo. Ele olhou para o chao e viu, horrorizado, que toda a cal estava escorrendo para fora do balde. Sentiu a corda comegar a se mover de novo, uma vez que o balde estava mais leve. Entao a corda pas- sou de novo com rapidez, enquanto ele descia para pousar num mar de cal. 32 Digitalizado com CamScanner No entanto, seus problemas ainda nao tinham termi- nado. Quando tentou se equilibrar no piso escorrega- dio, ele soltou a corda, e, chispando, o balde disparou de novo para baixo e caiu no topo da cabeca dele, cobrin- do-o completamente. Paddington ficou deitado de costas no meio da cal por varios minutos, tentando tomar félego e adivinhar o que tinha batido nele. Quando conseguiu se sentar e tirar 0 balde da cabega, rapidamente voltou a coloca-lo. Havia cal espalhada por todo o piso, a tinta tinha derramado das latas formando pequenos rios de marrom e verde, e 0 boné do sr. Brown flutuava num canto do quarto. Quan- do Paddington viu aquilo, ficou muito contente por ter deixado 0 chapéu dele no andar de baixo. 33 Digitalizado com CamScanner Uma coisa era certa: ele teria de dar muitas explica- oes. E dessa vez seria mais dificil do que nunca, pois nao estava conseguindo explicar nem a si mesmo 0 que tinha dado errado. Um pouco mais tarde, sentado no balde emborcado e pensando no que aconteceu, teve a ideia ge empapelar as paredes. Paddington era de natureza otimista e acreditava que as coisas deveriam ser vistas pelo lado bom. Se ele colocasse o papel de parede direitinho, talvez ninguém notasse a bagunca que ele tinha feito. Paddington estava muito confiante na colocacao do papel de parede. Sem o sr. Brown saber, muitas vezes ele o tinha observado por uma fresta da porta e a coisa pa- recia bem simples. Era sé passar uma substancia pegajo- sa nas costas do papel e depois coloca-lo na parede. As partes mais altas nao eram muito dificeis, nem para um urso, pois podia-se dobrar o papel em dois e colocar uma vassoura no meio, bem na dobra. Depois era s6 empur- rar a vassoura para cima e para baixo na parede, para o Papel nao ficar enrugado. Paddington sentia-se muito mais animado agora que tinha pensado em colocar o Papel de parede, Encontrou “le, Pouco de cola ja preparada em um outro balde, que mapa nan ira éo ears saan desenrolava o tentava desentol Pe uco dificil, Pois sempre que ‘ar 0 papel tinha de Tastejar pelo cavalete, 3y Digitalizado com CamScanner em] yrrando-o com as patas, e a outra extremidade ia se enrolando de novo atras dele. Mas finalmente ele conse- guiu passar cola num pedago inteiro. Desceu do cavalete, desviando cuidadosamente da cal, que agora estava comecando a secar formando grandes blocos. Entao ele ergueu o pedaco de papel de parede com a vassoura. Era uma tira comprida de papel, muito mais comprida do que parecia enquanto ele passava cola nela, e, de um jeito ou de outro, quando Paddington co- mecou a agitar a vassoura sobre a sua cabeca, 0 papel foi se enrolando nele. Depois de muito se debater, ele conse- guiu avancar na direcao de uma parede. Recuou e verifi- cou o. resultado. O papel estava rasgado em varios luga- tes e parecia estar cheio de cola por fora, mas Paddington 35 Digitalizado com CamScanner > ficou muito satisfeito consigo mesmo. Resolvey tent mais um pedago, depois com mais um, correndo Pata e paraa frente entre o cavalete e as paredes, 0 Mais ad do que suas pernas conseguiam, num esforco Pata ée minar tudo antes que os Brown voltassem. tS Alguns pedacos nao ficaram muito bem Colado: tros ficaram encavalados e a maioria ficou com manchas esquisitas de cola e cal. Nenhum pedaco exatamente como ele queria, mas, inclinando a cab semicerrando os olhos para ver o efeito geral, Paddi achou que estava bem bom e ficou satisfeito, Foi ao examinar seu trabalho dando uma olhada fina] em torno do quarto que ele notou uma coisa muito es. tranha. Lé estava a janela e também a lareira. Mas jé nag havia nem sinal da porta. Paddington foi arregalando os olhos. Lembrava-se nitidamente de que havia uma por- ta, pois tinha passado por ela. Olhou para as quatro pa- redes. Era dificil enxergar bem, pois a tinta dos vidros da janela estava secando e entrava pouca claridade, mas de- cididamente nao havia porta nenhuma! — N§o estou entendendo — disse o sr. Brown, ao entrar na sala de jantar. — Procurei por todo lado e nao vi sinal de Paddington. Eu disse a vocés que deveria ter ficado em casa com ele. A ra. Brown estava preocupada. — Minha nossa, espe- ro que nao tenha acontecido nada. Ele nao costuma sair de casa sem deixar um bilhete! tar ¢ S, OU Umas ficoy ecae Ngton 36 Digitalizado com CamScanner Parece mes) que. é meio irregu® s batidas.-- 2 fossem bal — gritou Jonathan. — Ougam.-- Alguem esta enviando um 5.0.5. Todos se entreolharam © entao, numa sO VOZ, excla- maram: — Paddington! _ Misericérdia ~ disse 4 sra. Bird quando irromperam pela porta empapelada. — Deve ter havido um terremoto é 0 Paddington ou o fantasma ou coisa parecida. E esse dele? — ela apontava para uma figurin! levantava de um balde entornado para = Nao consegui achar a porta — amingando. — Acho que a cobri de pal ha branca, que se cumprimenté-los. disse Paddington, pel quando fiz 37 Digitalizado com CamScanner a decoracao. Ela estava af quando entrei. Lembro que vi. Entao comecei a bater no chao com o cabo da vassoura. — Puxa! — disse Jonathan, admirado. — Que bagunga. ~ Vocé... a... cobriu... de papel... quando... fez... a... de- coracao — repetiu o sr. Brown. As vezes ele era meio lento para entender as coisas. ~— Isso mesmo ~ disse Paddington. — Fiz uma surpresa ~ ele apontou com a pata toda a volta do quarto. — Acho que est meio baguncado, mas ainda nao secou. Enquanto as ideias iam entrando devagar na mente do sr. Brown, a sra. Bird veio em socorro de Paddington. ~ Agora nao vale a Pena brigar ~ ela disse. ~O que esta Digitalizado com CamScanner P _ E voce, ursinho, vai direto tomar um banho quente antes Ue essa cola e todo o resto endurecam! O sr. Brown olhava para a sra. Bird e Paddington eo Jongo rastro de pegadas e marcas de patas brancas en- quanto se retiravam. — Ursos! — ele disse, amargamente. Depois do banho, Paddington ficou um tempio fe- chado no quarto, esperando até o ultimo minuto*poss() vel para descer para o jantar. Tinha a péssima sensacao de que estava desacreditado. Mas, surpreendentemente, a palavra “decoracéo” nao foi pronunciada nenhuma vez aquela noite. Mais surpreendente ainda foi que, enquanto estava sentado na cama tomando seu chocolate, varias pessoas vieram vé-lo e cada uma lhe deu dez centavos de libra. Era tudo muito misterioso, mas Paddington nao quis perguntar nada, para que nao mudassem de ideia. Foi Judy quem resolveu o problema quando veio lhe dar boa-noite. — Acho que a mame e a sra. Bird lhe deram dez centa- Vos porque nao querem que o papai faga mais nenhuma decoragao — ela explicou. — Ele sempre comega as coisas enunca termina. E acho que o papai também lhe deu uma moeda porque nao queria mesmo terminar. Agora vao chamar um decorador e todo mundo vai ficar feliz! Pensativo, Paddington foi bebericando seu chocolate. ~ Talvez se fizesse outro quarto eu pudesse ganhar mais trinta centavos — ele disse. 39 Digitalizado com CamScanner > — Ah, nao, nada disso — disse Judy, séria, — | demais por um dia. Se eu fosse vocé, ndo pro, palavra “decoracao” por um bom tempo. ~— Talvez vocé tenha razao — disse Paddington . nolento, esticando as patas. - Mas eu estava sem lane nada. Voce ia fey TUnciati Digitalizado com CamScanner 7 3 { yeas), PADDINGTON Ky VIRA DETETLVE =e O velho quarto de despejo finalmente ficou pronto, e todos, inclusive Paddington, concordaram que ele era um urso de sorte por mudar para um quarto tao bo- nito. A pintura era de um branco tao brilhante que ele quase podia se ver refletido nela, e, além disso, as paredes eram forradas de um papel muito alegre e ele também ganhou mobilia nova, s6 para ele. — Quem gasta tostdes gasta milhoes! — u uma cama novinha em folha, special, um colchao de gton guardar suas bu- disse 0 sr. Brown. E ele compro baixa, com pernas de tamanho e: molas e um armério para Paddin gigangas. ul Digitalizado com CamScanner Havia muitos outros méveis, e o sr. Brown tinha feito a extravagancia de comprar um tapete grosso e felpudo. Paddington estava muito orgulhoso do tapete e estendeu folhas de jornais velhos nas partes em que ele andava para nao suja-lo com as patas. Acontribuicao da sra. Brown foram as cortinas novas, que Paddington adorava. Na verdade, na primeira noite que passou no quarto novo ele nao conseguiu decidir se as fechava para admird-las ou se as abria para apreciar a vista pela janela. Saiu da cama varias vezes € finalmente resolveu deixar uma cortina aberta e a outra fechada para que pudesse desfrutar a melhor parte dos dois mundos. Entdo uma coisa estranha chamou sua atengao. Padding- ton fez questao de ter um abajur ao lado da cama para 0 caso de haver alguma emergéncia a noite, e foi enquanto o acendia e apagava para admirar a cortina fechada que ele a notou. Cada vez que acendia o abajur, uma luz lam- pejava em algum lugar l4 fora. Sentou-se na cama, esfre- gou os olhos e ficou olhando fixo para a janela. Resolveu tentar um sinal mais complicado: duas acen- didas curtas e trés longas. Quase caiu da cama de tao espantado, pois cada vez que dava um sinal este se repe- tia exatamente do mesmo modo no vidro. Paddington pulou da cama e correu para a janela. Fi- cou ali um tempio, olhando para o jardim, mas nao viu nada. Depois de ter certeza de que a janela estava bem U2 Digitalizado com CamScanner ‘i ul travada, fechou as duas cortinas e voltou correndo para acama, puxando as cobertas por cima da cabeca, mais do que de costume. Era tudo muito misterioso e Padding- ton nao queria se arriscar. No dia seguinte, no café da manhi, o sr. Brown lhe deu a primeira pista. — Alguém roubou a minha abébora premiada! — ele anunciou, zangado. — Devem ter assaltado a horta du- rante a noite! Ora, fazia algumas semanas que o sr. Brown vinha cui- dando zelosamente de uma abébora enorme que ele pre- tendia apresentar num concurso de legumes. Regava-a u3 Digitalizado com CamScanner ) de manhi ea tarde, e todas as noites, antes de deitar, ia até a horta para medir sua abdbora. ; A sra. Brown trocou um olhar com a sra. Bird, — Nao tem importancia, querido — ela disse. — Vocé tem varias outras quase tao boas quanto aquela. — Pois para mim tem importancia — rosnouo sr, Brown, ~ Eas outras nunca ficardo tao boas, pelo menos nao a tempo para 0 concurso. — Talvez tenha sido algum. dos outros concorrentes, Papai — disse Jonathan. — Talvez eles nao queiram que vocé venga. Era uma abébora magnifica. ~ E bem possfvel — disse o sr. Brown, parecendo um Pouco mais alegre. - Estou pensando em oferecer uma pequena recompensa a quem a encontrar. Asra. Bird apressou-se em servir mais cha. Ela e asra. Brown pareciam ansiosas para mudar de assunto, Mas Paddington agucou os ouvidos ao ouvir a mengao a uma Tecompensa. Assim que terminou a torrada com geleia de laranja, pediu licenga e foi para o andar de cima sem nem tomar uma terceira xicara de cha. Enquanto ajudava a sra. Bird a lavar a louga, a sra. Brown notou que alguma coisa estranha estava aconte- cendo na horta atrds do jardim, ~ Veja! — ela disse, quase deixando cair um prato do café da manha, de tao espantada. — Atr4g do canteiro de tepolhos. O que é aquilo? uu Digitalizado com CamScanner ee Asra. Bird acompanhou seu olhar através da janela e yiu alguma coisa marrom se movendo num sobe e desce. seu rosto se iluminou. — Eo Paddington ~ ela disse. — Eu reconheceria o chapéu dele em qualquer lugar. — Paddington? — ecoou a sra. Brown. — Mas afinal o que ele esta fazendo, rastejando de joelhos e patas no chao pelo canteiro de repolhos? — Parece que ele perdeu alguma coisa — disse a sra. Bird. — Ele esta com a lente de aumento do sr. Brown. Asra. Brown suspirou. — Pois bem, acho que logo va- mos ficar sabendo. Sem saber do interesse que estava despertando, Pad- dington sentou-se atras de um talo de framboesa e tirou um caderninho, abrindo-o numa p4gina em que estava anotado LisTA DE PIZTAS. us Digitalizado com CamScanner =» Havia pouco tempo Paddington tinha lido uma his. téria de mistério que o sr. Gruber lhe emprestara, e co- megou a imaginar que era detetive. Com os lampejos misteriosos da noite anterior e o sumigo da abdbora do sr. Brown, convenceu-se de que finalmente sua Oportu- nidade havia chegado. Até entao tudo tinha sido meio decepcionante. Tinha encontrado varias pegadas, mas todas iam dar na casa. No grande espaco vazio deixado pela abdbora premiada do sr. Brown havia dois besouros mortos e um pacote de sementes vazio, mas s6 isso. Mesmo assim, Paddington escreveu os detalhes cui- dadosamente no caderninho e desenhou um mapa do jar- dim e da horta, marcando com um grande X o lugar onde a abdbora tinha estado. Entao voltou Para seu quarto para refletir sobre todas as coisas. Ao chegar 4, acrescentou outra coisa ao mapa: um desenho da casa nova que estava sendo construfda do outro lado da cerca. Paddington con- cluiu que certamente era de 14 que tinham vindo os lampe- jos misteriosos da noite anterior. Ficou um bom tempo observando com seu binéculo de teatro, mas as tinicas pessoas que viu foram os trabalhadores da construgao. Pouco depois, quem observasse a casa dos Brown te- Tia visto a figurinha de um urso surgir na porta da frente e caminhar para o mercado. Felizmente para os planos de Paddington, ninguém o viu sair e ninguém o viu voltar U6 Digitalizado com CamScanner ao rl um pouco mais tarde carregando um pacote enorme. Com um brilho animado nos olhos, ele se arrastou esca- da acima e entrou no quarto, trancando a porta cuida- dosamente. Paddington gostava de pacotes, e aquele era particularmente interessante. Ele levou um tempio para desamarrar o barbante, pois suas patas tremiam de entusiasmo. Quando abriu o papel, apareceu uma caixa comprida de papelao, muito colorida, que tinha na frente as palavras EQUIPAMENTO DE DISFARCE PARA DETETIVES. Paddington brigou muito consigo mesmo desde que viu aquilo, varios dias antes, na vitrine de uma loja. Em- bora sete libras parecessem uma quantia enorme de di- nheiro, sobretudo para quem ganha mesada de apenas uma libra por semana, Paddington ficou muito feliz quando espalhou o contetido da caixa no chao. Havia uma barba preta e comprida, éculos escuros, um apito Digitalizado com CamScanner ce aA de policial, varias garrafas de produtos quimicos com a adverténcia “Manipule com cuidado’, que Paddington ge apressou em pdr de volta na caixa, uma almofada Para tirar impresses digitais, um pequeno frasco de tinta in. visivel e um manual de instrugées. Parecia um étimo equipamento de disfarce. Padding- ton tentou escrever seu nome com a tinta invisfvel e nao conseguiu ver nada. Depois tirou as impressdes de sua pata e, debaixo das cobertas, soprou varias vezes o apito de policial. Assim que teve a ideia de soprar pelo outro lado, um monte de tinta caiu nos lencéis, 0 que seria di- ficil de explicar. Mas foi da barba que ele mais gostou. Tinha dois pe- dacos de arame para prender atrés da orelha, Quando se virou e de repente se viu no espelho, Paddington quase deu um pulo. De chapéu e com uma velha capa de chuva us Digitalizado com CamScanner Se de Jonathan que o st. Brown tinha separado para o bazar de roupas usadas, ele mal conseguia se reconhecer. Depois de examinar 0 resultado no espelho, de todos os angulos possiveis, Paddington resolveu tentar no andar de baixo. Era dificil andar direito; a capa velha de Jonathan era comprida demais e ele pisava na barra toda hora. Além disso, suas orelhas nado seguravam a barba téo bem quan- to ele esperava, de modo que teve de segura-la com uma pata, enquanto descia a escada de costas e segurava no corrimao com a outra. Estava tao concentrado no que fazia que s6 ouviu a sra. Bird subir quando ela ja estava em cima dele. Astra. Bird levou o maior susto quando trombou com oursinho. — Oh, Paddington — ela comegou. — Eu ia jus- tamente falar com vocé. Ia perguntar se vocé podia ir até o mercado comprar meio quilo de manteiga para mim. — Eu nao sou Paddington — disse uma voz rouca, por tras da barba. — Sou o famoso detetive Sherlock Holmes! — Sim, querido — disse a sra. Bird. - Mas nao esqueca a manteiga. Precisamos dela para o almogo. — Entao ela se virou, desceu a escada e foi para a cozinha. A porta se fechou atrds dela e Paddington ouviu vozes murmurando. Tirou a barba, desapontado. - O prego de trinta e cinco Paes doces! — ele disse, amuado, sem dirigir-se a ninguém em especial. Seu primeiro impulso foi voltar 4 loja e pe- dir seu dinheiro de volta. Trinta e cinco paes doces eram uq Digitalizado com CamScanner reer ee ee ee . Sa) trinta e cinco pies doces, e ele tinha levado um tempio para economizar tanto dinheiro. Mas, ao sair pela porta da frente, Paddington hesitou, Era muita pena renunciar ao seu disfarce, e, apesar de aq sra. Bird 0 ter reconhecido, talvez nao acontecesse o mes- mo com o sr. Briggs, chefe de obras da constru¢ao ao lado, Paddington resolveu tentar de novo. Ia até melhorar seu desempenho. Ao chegar & casa nova, estava se sentindo mais Satis- feito consigo mesmo. Com 0 rabo do olho, tinha notado que varias pessoas olhavam para ele quando passava. E, quando as olhava por cima dos éculos escuros, muitas delas atravessavam a rua na mesma hora. Digitalizado com CamScanner ME \ Foi andando em torno da casa sorrateiramente, até ju vozes. Vinham de uma janela aberta no andar de cima e, entre elas, reconheceu nitidamente a voz do sr. Briggs- Havia uma escada apoiada na parede e Padding- ton subiu por ela até sua cabega chegar ao nivel do peito- ril da janela. Entao, com cuidado, ele espiou para dentro. O sr. Briggs e seus homens estavam reunidos em tor- no de um pequeno fogareiro, fazendo cha. Paddington olhou fixo para o sr. Briggs, que despejava agua na chaleira, eentao, depois de ajeitar a barba, soprou forte o seu api- ye Ouv! to de policial. Ouviu-se um barulhdo de louga se quebrando e o sr. Briggs deu um pulo. Ele apontou com a mao trémula para a janela. — Minha nossa! — ele gritou. — Vejam! Uma aparicao! Os outros acompanharam seu olhar, boquiabertos. Paddington teve tempo de ver quatro rostos pilidos olhan- do admirados para ele, e depois deslizou pela escada e foi se esconder atras de uma pilha de tijolos. — No estou vendo mais nada — disse uma voz. — Deve ter evaporado. ~ Minha nossa! — repetiu o sr. Briggs, esfregando a tes- tacom um lengo sujo. — Seja o que for, nunca mais quero ver aquilo de novo. Minha aorta ficou congelada! Dizendo isso, ajanela com forca e as vozes se calaram. ele fechou 51 Digitalizado com CamScanner Bend opSeeon: | Por tras da pilha de tijolos, Paddington nao acredita- va no que ouvira. Nunca tinha nem imaginado que o st. Briggs e seus homens pudessem estar envolvidos na- quilo. Além do mais, tinha ouvido muito bem o sr. Briggs falar em horta. Depois de tirar a barba e os éculos, Paddington sen- tou-se atrds dos tijolos e fez varias anotagées no seu ca- derninho, com a tinta invisivel. Depois foi caminhando lentamente e pensativo rumo a mercearia. Tinha sido um dia de boas descobertas, e Paddington resolveu que teria de voltar ao local da construgao quan- do tudo estivesse tranquilo. Era meia-noite. Fazia tempo que todos da casa tinham ido para a cama. — Sabe — disse a sra. Brown, justo quando o relégio batia as doze horas —, é engracado, mas tenho certeza de que o Paddington esta aprontando alguma. — Nao tem nada de engracado — respondeu o sr. Brown, sonolento. — Ele esté sempre aprontando. O que sera des- sa vez? ~Eesse o problema — disse a sra. Brown. — Na verdade eu nao sei. Mas hoje de manha ele estava andando por ai com uma barba postica. Deixou a sra. Bird quase louca. Também ficou a tarde toda escrevendo coisas no cader- ninho, e, sabe de uma coisa? $2 Digitalizado com CamScanner eres _ Nao — disse o sr. Brown, reprimindo um bocejo. — O qué? — Quando olhei por cima do ombro dele, nao havia nada escrito! — Ora, ursos sio sempre ursos — disse o sr. Brown. Ele fez uma pausa, virando-se e esticando o brago para al- cancar a luz de cabeceira. — Estranho — ele falou. — Sou capaz de jurar que acabei de ouvir um apito de policial. — Absurdo, Henry — disse a sra. Brown. — Vocé deve estar sonhando. Ossr. Brown encolheu os ombros enquanto apagava a luz. Estava com muito sono para discutir. Mesmo assim, sabia que tinha ouvido um apito. Mas, ao fechar os olhos e preparar-se para dormir, nem lhe passou pela cabeca que aquilo tinha que ver com Paddington. Digitalizado com CamScanner ay Muita coisa aconteceu com Paddington depoi ele saiu sorrateiramente da casa dos Brown, is que pela escuriddo, e rumou para a construcio, Tete sas tinham acontecido, uma depois da outra, que al cio ele quase desejou nunca ter decidido ser dete Ficou contente quando, depois de ter apitado com fore varias vezes, um carro preto parou na lateral da ruaedele safram dois homens de uniforme. — Ora, ora — disse 0 primeiro homem, olhando feio ra Paddington —, 0 que esté acontecendo por aqui? Paddington estendeu a pata dramaticamente na dire- cdo da casa nova. — Capturei um ladrao! — ele anunciou. — Um o qué? — perguntou 0 segundo policial, olhando para Paddington. Ele ja tinha enfrentado coisas muito mas nunca fora surpreendido estranhas em seu Oficio, por um ursinho no meio da noite. E aquele ainda tinha uma longa barba preta e vestia um paleté de la. Era com pletamente excepcional. . — Um ladrao — Paddington repetiu. — ‘Acho que foi ele que assaltou a horta do sr. Brown. ~ A horta do sr. Brown? — repet meio estupefato enquanto entrava na casa com ton, por sua entrada secreta. ~ Isso mesmo — disse Paddingto meus sanduiches de geleia de laranja. Trouxé um ess? comigo para o caso de sentir fome end’ oe esperando. pa 0 policial ju o primeito PO padding: Je peg! n. — Agora & ovate Su Digitalizado com CamScanner oe _ Claro — disse 0 segundo policial, tentando zombar de Paddington. — Sanduiches de geleia de laranja — olhou para 0 colega, batendo na testa. — E onde esta o ladrao agora? Comendo seus sandufches? _ Imagino que sim — disse Paddington. — Fechei-o na sala e enfiei um pedaco de madeira embaixo da porta para ele nao poder sair. Minha barba ficou presa num dos sanduiches, entao acendi a lanterna para tirar alguns fios da geleia e foi ai que aconteceu! — Aconteceu 0 qué? — Os policiais perguntaram em coro. Estavam achando meio dificil acompanhar a des- criggo que Paddington fazia do desenrolar dos aconte- cimentos. —Vialguém piscando uma luz fora da janela — Padding- ton explicou, com a maior paciéncia possivel. — Entéo ouvi passos subindo a escada, e fiquei 4 espera — ele apontou para uma porta no alto da escada. — Ele esta 14 dentro! Antes que os dois policiais conseguissem fazer mais perguntas, soou uma batida e uma voz gritou: — Tirem- -me daqui! . . —Céus! — exclamou o primeiro policial. — Tem alguém af dentro — e ele olhou para Paddington com mais respei- to. — Pode descrevé-lo, cavalheiro? ~ Ele tinha cerca de dois metros e meio de altura — disse Paddington, com indiferenga — e pareceu muito zangado quando percebeu que nao podia sair. 55 Digitalizado com CamScanner oe. s — Hmm! - disse 0 segundo policial, — Bem, logo i | vamos ver isso. Afastem-se! — Ele puxouo pedaco de nt deira que estava enfiado embaixo da Portaeg eScan, la rou, dirigindo a luz da lanterna para dentro do mode Todos recuaram, esperando que acontecesse o ior, Pay sua surpresa, quando o homem saiu, viram que era oy, tro policial. — Fiquei trancado! — ele exclamou, aspero, — Vejo umas luzes lampejando numa casa vazia e vou investigar... eo que acontece? Um urso me deixa trancado! — ele apon- tou para Paddington. — E se nao me engano é ele! De repente Paddington comecoua se sentir muito pe- quenino. Os trés policiais olhavam para ele, e, com toda a agitacao, sua barba se desprendeu de uma orelha. — Hmm - disse o primeiro policial. - E 0 que vocé es- tava fazendo numa casa vazia depois da meia-noite, ami- go urso? E, ainda por cima, disfargado! Estou vendo que vamos ter que leva-lo para a delegacia para ser interrogado. —Eum pouco dificil de explicar — disse Paddington, com ar triste. - Acho que vai levar bastante tempo. Ve- jam... tem tudo a ver com a abdbora do sr. Brown, aquela que ele ia apresentar num concurso de legumes... Os policiais nao eram os tinicos que estavam achando tudo aquilo meio dificil de entender. O sr. Brown cont nuou fazendo perguntas muito depois que Paddington foi levado da delegacia de volta A seguranca da fam! ie 56 Digitalizado com CamScanner \ AO _ Ainda nio compreendi 0 que o fato de eu ter perdi- gouma abébora tem a ver com a prisio do Paddington _ ele disse, pela centésima vez. _ Mas Paddington nao foi preso, Henry ~ disse a sra. Brown - 80 foi detido para investigagdes. De todo modo, ele so estava tentando recuperar a abdbora. Vocé devia ser muito grato, isso sim. Ela suspirou. Cedo ou tarde teria que contar a verda- de ao marido. Ja tinha contado a Paddington. — Acho que foi tudo culpa minha — ela disse. — Sabe... Eu cortei sua abdbora por engano! — Vocé fez isso? — exclamou o sr. Brown. — Vocé cor- © tou minha abdbora premiada? — E que nao percebi que era a premiada — disse a sra. Brown. — E vocé adora abdbora recheada. Foi nosso jan- tar de ontem! De volta a seu quarto, Paddington foi para a cama bem satisfeito consigo mesmo. Na manha seguinte teria muita coisa para contar ao sr. Gruber, seu amigo. Depois de ouvir toda a sua histdria na delegacia, o inspetor tinha cumprimentado Paddington por sua coragem, mandan- do solta-lo imediatamente. — Espero que haja outros ursos como o senhor, sr. Brown ~ ele disse, e deu de lembranca a Paddington um autén- tico apito de policial. Até o policial que ele trancara disse que entendeu tudo o que tinha acontecido. 57 Digitalizado com CamScanner a a Além disso, por fim ele tinha descoberto das luzes que piscavam. Ninguém tinha entrado p; ta, eram simplesmente os reflexos da lanterna as janela. Em pé na cama, ele se enxergava bem nitida 4 te no vidro. men. De certo modo, Paddington lamentava Pela abdbor: Principalmente porque nfo ia ganhar a recompensa, its estava muito contente por nao ter sido roubada pelo sr, Briggs, que, depois de tudo, tinha prometido carregé-lo de novo no balde. Isso Paddington nao queria perder, © mistérig 58 Digitalizado com CamScanner u PADDINGTON CE FA FOGUELRA fe ee “) é L ogo depois da aventura da abdbora, o tempo mudou. Comecou a esfriar. As folhas cairam das arvores e aescurecer muito cedo. Jonathan e Judy tinham passou gton ficava sozinho em voltado para a escola e Paddin; casa a maior parte do dia. Certa manha, no final de outubro, chegou uma carta com seu nome no envelope. Estava escrito “Urgente” € “Estritamente pessoal’, e era a letra de Jonathan. Padding- ton nao recebia muitas cartas, sé um cartao-postal de vez em quando, da tia Lucy do Peru, por isso ficou muito alvorogado. De certo modo, era dington nao a entendeu muito bem. uma carta muito misteriosa € Pad- Jonathan Ihe pedia 59 Digitalizado com CamScanner 3 para varrer todas as folhas secas que co i tdé-las numa pilha, deixando-a pronta vere eit. voltasse para casa dentro de alguns di: ie duando ele cou confuso e, depois de um tempo, a Paddington a. sr. Gruber sobre 0 assunto. O seu aa seb pas sa e, quando nao era capaz de — mitacoi de imediato, sabia exatamente onde procurar ies grande biblioteca que ele tinha na loja de anti a Muitas vezes ele e Paddington, enquanto tomavamocke colate da manhi, conversavam longamente sobre — em geral, e nada agradava mais ao st. Gruber do que aju- dar Paddington a resolver seus problemas. — Problema compartilhado é problema pela metade, Brown — ele costumava dizer. — E devo declarar que, sr. no bairro, nunca me faltou desde que vocé veio morar assunto para pesquisar. Assim que terminou 0 vestiu o casaco € 0 cachecol, pegou 2 li sra. Bird e rumou com sua cesta de rot Portobello. café da manha, Paddington sta de compras da dinhas para a rua er compras. Era um wrs0 muito popul rciantes do mercado, Gi ificil negociar com ele. Antes mparava 0S pre: ird dizia Asra. Bit comprar da cas gos minuciosamente na: que Paddington fazia o dinheiro render duas vezes mais. s varias bancas- das compras 60 Digitalizado com CamScanner LE Fora estava mais frio do que Paddington esperava, e, quando ele parou no caminho para olhar uma revistaria, sua respiracao embacou a parte de baixo da vitrine. Pad- dington era um urso bem-educado, por isso, quando viu o dono da loja encaré-lo pela porta, esfregou a parte em- bacada coma pata para o caso de mais alguém querer olhar. Entio de repente notou que o interior da vitrine tinha mudado desde a ultima vez que havia passado por la. Antes, era cheia de chocolates e doces. Agora tinham sumido e, no lugar, estava um boneco meio esfarrapado sentado no topo de uma pilha de lenha. Tinha na mao um cartaz que dizia: LEMBREM-SE, LEMBREM-SE, DIA 5 DE NOVEMBRO POLVORA, TRAIGAO E CONSPIRAGAO E, embaixo, havia um cartaz maior ainda, dizendo: COMPRE AQUI SEUS FOGOS DE ARTIF{CIO! Paddington examinou aquilo minuciosamente e cor- Teu até a loja do sr. Gruber, sé parando para pegar sua Tacéo matinal de paezinhos doces na padaria, onde ele tinha conta. Agora que o tempo frio tinha se instalado, de manha © sr. Gruber jé nao sentava na calcada em frente & loja. él Digitalizado com CamScanner Em vez disso, tinha colocado um sofé ao lado do aquee | dor, no fundo da loja. Era um canto aconchegante, cites, do de livros, mas Paddington preferia ficar 14 fora. sof era velho e alguns fios de crina ficavam saindo Pelo teci. do. No entanto, ele logo se esqueceu disso quando diy;. diu a porgao de paezinhos doces com o sr. Gruber e ¢9. mecou a falar dos acontecimentos da manha, — Pélvora, traigao e conspiracio? — disse o sr. Gruber, entregando a Paddington uma enorme caneca de choco- late fumegante. — O que isso tem a ver com o dia de Guy Fawkes? Ele sorriu como se pedisse desculpas e limpou o va- por dos dculos ao ver que Paddington continuava confuso, Digitalizado com CamScanner

Você também pode gostar