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O DIREITO AO ESQUECIMENTO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

O mundo vive uma expansão tecnológica nunca vista antes. A velocidade em


que as informações circulam é surpreende e com a pandemia da Covid-19, a
sociedade foi impulsionada a utilizar com rigor e frequência, as tecnologias da
informação disponíveis, tanto para se manter no trabalho e nos estudos, quanto
para garantir o contato com familiares e amigos mesmo à distância.

Diante desse fenômeno tecnológico, surgiram inúmeros questionamentos


acerca do uso e das disposições de dados e informações no mundo virtual, em
especial, a propagação de informações falsas ou “fake news”.

Ocorre que, da mesma forma que a tecnologia evoluiu para auxiliar o ser
humano em suas tarefas diárias contribuindo para o bem-estar da sociedade, a
mesma, ao ser empregada de forma enganosa, pode causar sérios e irreparáveis
danos ao ser humano e à sociedade. A propagação de “fake news” na internet é um
exemplo claro de como a sociedade pode ser alienada por informações falsas que
viole a imagem de uma pessoa.

Assim, diante do contexto tecnológico que adentrou a vida das pessoas nos
últimos anos, frisa-se o direito ao esquecimento na sociedade da informação.

O esquecimento, segundo Paula e Garcia (2022) é naturalmente uma


condição do ser humano. Recordar e remontar as lembranças do passado é normal
e saudável, porém, os avanços tecnológicos têm mudado o comportamento da
sociedade no que se refere a propagação de informações.

A sociedade está cada vez mais exposta à propagação de notícias falsas, de


dados pessoais ou divulgação de informações verídicas mas, que já tinham sido
esquecidas pela sociedade. Assim, muito se tem questionado o direito ao
esquecimento.

O direito ao esquecimento, em linhas gerais, é o direto da pessoa de não


permitir que um fato, mesmo que verídico, ocorrido em determinado momento de
sua vida, seja exposto ao público e na internet, causando-lhe sofrimentos e
transtornos, ou seja, é uma superexposição de um caso antigo, na maioria das
vezes, já esquecido pela sociedade.
Nesse sentido, é importante explanar sobre os direitos do cidadão ora
previstos na Constituição Federal de 1988 que é fundamento basilar do direito ao
esquecimento. O princípio da dignidade da pessoa humana e direito da
personalidade, por exemplo, são fatores primordiais para vida, integridade e
dignidade do cidadão independentemente da capacidade civil, protegendo, segundo
Zanin (2021) o direito à liberdade, privacidade, intimidade entre outros. São,
portanto, direitos originários, absolutos, vitalícios e imprescritíveis.

Nessa esteira, preconiza ainda a CRFB/88, dentre outros, a livre


manifestação do pensamento, a inviolabilidade da liberdade de consciência e de
crença, que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação e por fim, que é assegurado a todos o
direito a proteção dos dados pessoais, inclusive, nos meios digitais.

Ou seja, o artigo 5º elenca um rol de direitos que, em conjunto, protegem os


cidadãos. Há uma interação e junção dos direitos fundamentais com os direitos da
personalidade como forma de prevenção de danos à sociedade. A constituição bem
como o Código Civil tratam os direitos à intimidade e à privacidade com direito da
personalidade, garantindo maior proteção ao ser humano.

De igual forma, a Lei nº 12.965/2014 que estabelece princípios, garantias,


direitos e deveres para o uso da internet no Brasil, bem como a Lei 12.735/2012 que
tipifica condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares,
que sejam praticadas contra sistemas informatizados e similares, promove aos
cidadãos maiores garantias e proteções de suas informações pessoais, como meios
de prevenção aos danos ou crimes virtuais.

Ainda sobre o direito ao esquecimento, o referido possui fundamento na


Constituição Federal por se tratar de direito à privacidade, intimidade e honra,
elencados no art. 5º da CRFB/88 e pelo Código Civil em seu artigo 22. Alguns
autores têm afirmado a tese de que o direito ao esquecimento é também decorrente
do princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, III da
Constituição.

Nesse diapasão, o Superior Tribunal de Justiça, segundo Ortega (2016) tem


acolhido o direito ao esquecimento em seus julgados recentes, afirmando que o
sistema jurídico brasileiro protege o referido direito.

Destaca-se ainda o enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil da CJF/STJ,


realizada em março de 2013, que firmou a tese de que a tutela da dignidade da
pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento.

Kublickas (2021) ratifica que o direito ao esquecimento está envolvido em


várias áreas do direito bem como no direito digital. O tema tem sido elucidado com
maior frequência nos últimos anos, com a consequente utilização em massa das
tecnologias da informação.

O autor explana ainda que o direito ao esquecimento tem sido abordado em


defesa dos cidadãos diante de invasões de privacidade por meio de mídias sociais,
cada vez mais utilizadas na sociedade, que expõe boatos, notícias falsas a todo
tempo, mesmo que o fato tenha ocorrido muito tempo de sua ocorrência.

Verifica-se, diante do exposto, uma colisão de direitos, de um lado o direito


ao esquecimento e do outro, direito à informação. Assim, se faz necessária uma
ponderação de direitos, ao passo que um não interfira no outro, garantido sempre o
acesso à informação bem como a proteção à exposição da imagem pessoal de uma
pessoa.

No que se refere ao direito à informação, a própria Constituição Federal


prevê no art. 5º como direito fundamental ao brasileiro. Assim, todos os cidadãos
têm o direito de receber de órgão públicos informações particulares e de interesse
coletivo, sob pena de responsabilização, pois, poderá infringir direitos do cidadão e
ao princípio da publicidade que é basilar à administração pública.

Como maior garantia de direito, a lei 12.527/2022 que regula o acesso à


informação preconizado na Constituição Federal, se tornou um marco no Brasil,
pois, consolidou a garantia de direitos do cidadão. Assim, qualquer pessoa seja
natural ou jurídica, possui direitos a acessar suas informações junto aos órgãos
públicos.

Assim, os órgão públicos devem atender às solicitações de forma


transparente, respeitando sempre a proteção das informações e garantindo
autenticidade, disponibilidade e integridade das informações.
Por fim, a Constituição Federal confere aos cidadãos remédios
constitucionais a fim de impedir ou evitar ilegalidade ou abuso de poder. O Habeas
Data, por exemplo, é um remédio específico que visa garantir que a pessoa física
ou jurídica tenha acesso ou promova a retificação de suas informações, que
estejam registradas em banco de dados de órgão públicos ou instituições similares.
O referido direito decorre dos direitos fundamentais elencados na CRFB/88,
essenciais a proteção à vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade
privada, Brasil (2021).
REFERÊNCIAS
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Remédios
Constitucionais. 2021. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/campanhas-e-produtos/direito-facil/
edicao-semanal/remedios-constitucionais. Acesso em: 15 set. 2022.
KUBLICKAS, Robson Aparecido do Amaral. O direito ao esquecimento na
sociedade da informação. 2021. Disponível em:
http://publicadireito.com.br/artigos/?cod=71541653edfd81ee. Acesso em: 12 set.
2022.
PAULA, Priscila de Oliveira; GARCIA, Aline Monteiro. O direito ao esquecimento
na sociedade da informação: tensões entre o direito à intimidade e
privacidade e o direito à liberdade de expressão. Revista Direito das políticas
públicas. 2022. Disponível em: http://seer.unirio.br/rdpp/article/view/10536. Acesso
em: 12 set. 2022.
ORTEGA, Flávia Teixeira. O que consiste o direito ao esquecimento?. Jusbrasil,
2016. Disponível em: https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/319988819/o-
que-consiste-o-direito-ao-esquecimento. Acesso em: 15 set. 2022.
ZANIN, Ana Paula. Os direitos da personalidade, suas características e
classificações. 2021. Disponível em: https://www.aurum.com.br/blog/direitos-da-
personalidade/#:~:text=Os%20direitos%20da%20personalidade%20s%C3%A3o
%20direitos%20essenciais%20%C3%A0%20dignidade%20e,absolutos%2C
%20inerentes%20%C3%A0%20pr%C3%B3pria%20pessoa. Acesso em: 12 set.
2022.

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