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Textos da Série
Educação Ambiental
do Programa
Salto para o Futuro
Apresentação 5
Proposta pedagógica
A Educação Ambiental na Escola
Jaime Tadeu Oliva --- .......... ------------ ...... 9
Boletim
Biodiversidade
Maria Cecília Wey de Brito -- ................... ......................... .......................................... ....................21
Consumo Sustentável
Rachel Biderman Furriela ......... ....................... --------------------------------- 27
Anexos 91
Apresentação
6
PROGRAMA 5 - INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A importância da produção, sistematização, seleção e disseminação da
informação é ressaltada pela Política Nacional de Educação Ambiental.
APRESENTAÇÃO
Este texto contou com a colaboração de Lucila Pinsard Vianna, Coordenadora Geral de Educação Ambiental do MEC. **
Geógrafo, doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo.
(projetos de Educação Ambiental). Outro conjunto de temas aborda os conteúdos
fundamentais para compreensão da temática ambiental (natureza e sociedade,
biodiversidade e consumo sustentável). Finalmente, discutimos também um panorama da
Lei que institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
O ensino/aprendizagem da Educação Ambiental tornou-se obrigatório com a
promulgação da Política Nacional da EA, para todos os níveis e modalidades de ensino. Mas
iniciativas de Educação Ambiental no ensino formal datam da década de 50, ainda que muito
isoladas. De lá para cá, pipocaram projetos de educação ambiental originados ou tendo o
apoio do sistema de ensino formal. A Rio 92 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento-foi um estopim para o aumento de iniciativas deste tipo, que
se multiplicaram. Estas iniciativas têm ocorrido, tradicionalmente, por meio da execução de
projetos de EA que trabalham com temas relacionados às questões ambientais mais significativas
para a comunidade da qual a escola faz parte. Muitas destas iniciativas demonstram a mobilização
de alguns professores para o tema (que muitas vezes agem isoladamente), outras demonstram
interesse de ONGs, das Secretarias de Educação e/ou da escola como um todo, o que em si
é louvável. Entretanto, raramente os projetos de EA estão inseridos no projeto educativo da
escola: caracterizam-se por serem projetos extracurriculares, nos quais a transversalidade
nas disciplinas, quando acontece, é centrada em um tema específico. Com atuação pontual,
muitas dessas iniciativas tomam-se transitórias e esporádicas.
O Ministério da Educação (MEC), antes mesmo da promulgação da Lei PNEA,
definiu Meio Ambiente como Tema Transversal nos PCN. Mas é fato que nem o
reconhecimento da necessidade nem a obrigatoriedade da lei são suficientes para
garantir a existência da EA na escola, muito menos sua qualidade. A prática de EA na
escola busca assegurar um ensino-aprendizagem que torne os estudantes aptos a
compreenderem o conceito de meio ambiente e seus processos e dinâmicas. E
necessário, também, que eles compreendam o seu lugar, seu papel e sua
responsabilidade com os processos e as dinâmicas característicos do meio ambiente.
A proposta do MEC para a prática da EA na escola, implementada pela
Coordenação Geral de Educação Ambiental, é a inserção da temática ambiental nos currículos,
aliada à adoção de uma nova postura - de práticas e atitudes - de toda comunidade escolar,
que pode ser exercitada em projetos de EA articulados com o projeto educativo da escola. E
os professores são os principais agentes de implantação da EA na escola. Por isso mesmo, é
necessário oferecer-lhes formação para desenvolvera capacidade de compreender, refletir
e ensinar os temas relacionados ao meio ambiente.
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
1
A idéia de tema-gerador tem pelo menos dois significados. O primeiro, caro aos educadores ambientais, refere-se ao
tratamento que deve ser dado às práticas pedagógicas que utilizam como forma de Educação Ambiental a discussão e
solução de problemas ambientais localizados. E aí a idéia tem o seguinte significado: a solução do problema ambiental
não deve ser a finalidade, e sim a partir dela gerar uma outra e superior compreensão da questão ambiental. De outro
lado, convencionou-se designar como tema gerador aquela situação em que, em ambiente escolar, a partir de um único
tema, as áreas/disciplinas atuam sincronizadamente no tempo e no espaço, de certo modo dando um caráter de
excepcionalidade que interrompe a rotina escolar, o que contraria a idéia de transversalidade orgânica que buscamos
alcançar. No caso do texto, estamos usando a expressão tema-gerador nesse segundo significado.
de um jeito de olhar a realidade que vem carregado de valores assumidos, de atitudes
propostas e de atitudes já tomadas. Ora, deixar a escola ser penetrada por algo assim
cria condições para que sua comunidade se insira num outro e mais elevado patamar de
aproximação da realidade. Cria-se um campo de discussão e confrontação de valores, o
que segundo o texto dos PCN sobre Temas Transversais deve ser encarado como o
momento crucial de formação da autonomia do aluno, ingrediente obviamente
imprescindível na formação de um cidadão.2
O destaque e o cuidado que estamos dando para a importância da formação
autônoma de valores deve-se ao fato de que as grandes elaborações críticas,
engendradas por autores e pelos movimentos organizados do ambientalismo, criaram um
vasto quadro cultural que tomou certas idéias indiscutíveis, a partir de opiniões rígidas envoltas
por convicção apaixonada. Nada disso é mau em si, contudo, não se pode desejar que no
universo escolar idéias com essas características sejam exclusivas e sirvam de mote e pretexto
para sensibilizar e formar o aluno crítico quanto ao quadro ambiental em que estamos inseridos.
Os alunos estão se formando, é preciso discussão e contraposição. O aluno crítico não é
aquele que assume as nossas convicções e que faz uma crítica por nós planejada. O potencial
crítico do ser humano é criador e não repetidor, pois o horizonte da crítica é sempre aberto
e infinito, e não termina num projeto dado.
3
Nos seus objetos e ângulos de abordagem próprios.
um exame seletivo e crítico, confrontando-o com outros materiais e outras possibilidades
de leitura do tema ambiental. Essa proposição de diálogo é evidentemente mais
vantajosa, tanto para a informação dos professores e formação dos estudantes, quanto para a
sedução daqueles que até então se mantêm afastados do tema Meio Ambiente. Mas não se
deve ficar somente nos materiais oficiais, pois se os livros didáticos, por exemplo, ainda não
incorporaram adequadamente os conteúdos fundamentais para a Educação Ambiental, o
que não faltam são materiais de outras origens. Afinal, a questão ambiental surge
pioneira no interior da sociedade e aí foi o local de maior produção de materiais.
4
MEDINA, Naná Mininni, 2000.
BIBLIOGRAFIA CITADA
Diário Oficial da República Federativa do Brasil; Atos do Poder Legislativo (Lei n.° 9.795, de 27 de abril
de 1999).
FERRY, Luc. A nova ordem ecológica. São Paulo, Editora Ensaio, 1994.
HIRSCHMAN, Albert O. Auto Subversão. São Paulo, Cia das Letras, 1996.
MEDINA, Naná Mininni. A Formação dos Professores em Educação Ambiental. In: Oficina Panorama de
Educação Ambiental no Brasil (28 e 29 de março de 2000) MEC/SEF; Coordenação-Geral de
Educação Ambiental (no prelo).
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Agenda 21 - Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Série Documentos Ambientais, 1997.
Biodiversidade
Maria Cecília Wey de Brito*
Todos sabemos do incontável número de tal para que se possa enfrentar as modifica-
astros que com a Terra povoam o universo. Te- ções ambientais. Quanto maior a diversidade,
mos noção da grandeza deste número, mas não maior a opção de respostas da natureza.
sabemos precisá-lo ao certo, apesar dos esfor-
Mas, é bom lembrarmos que a distribuição
ços dos estudiosos deste campo da ciência.
dos seres vivos no planeta não é homogênea
Em semelhante dimensão sabemos que nem estática. Segundo Ross "Ao longo do
existem inúmeros seres vivos na Terra além de tempo, os organismos se movimentaram na
nós, seres humanos. E também aqui só temos superfície da Terra expandindo ou contraindo
noção da grandeza deste número, apesar dos sua área de distribuição, substituindo ou sendo
esforços dos cientistas em nominar as diferen- substituídos por novas formas" (1998:110).
tes espécies que aqui habitam. Alguns falam Também não são homogêneas nem está-
que na Terra existem aproximadamente 10 mi- ticas a composição e forma da Terra. Nosso
lhões de espécies diferentes, já outros arriscam planeta sofre constante e permanentemente a
50 milhões, mas conhecidas até hoje só são ação de dois tipos de forças: as endógenas e
1,5 milhão. as exógenas. E essas forças atuam sobre ele
A variedade/pluralidade dos seres vivos do de forma antagônica.
nosso planeta é expressa pelo termo diversida- As forças endógenas, ou seja, aquelas
de biológica ou biodiversidade. Esta variedade que provêm da própria Terra, são exercidas
se manifesta em todos os níveis de orga- pelo núcleo sobre a crosta terrestre e criam as
nização dos seres vivos - das células aos diferentes formas de relevo. Contrariamente,
ecossistemas - e diz respeito a todas as espéci- as forças exógenas - que vêm de fora da Terra
es - as vegetais, as animais e os microrganis- -atuam sobre a mesma, modificando seu
mos. A variedade dos seres vivos é fundamen-
* Agronôma, mestre em Ciência Ambiental pela USP e Coordenadora da Aliança SOS Mata Atlântica - Conservation
International.
relevo. Neste caso, é a energia solar que, agin- senho dos continentes que hoje conhecemos.
do por meio da atmosfera, desgasta e esculpe O movimento das placas tectónicas continua
novas formas de relevo na Terra. Ross lembra até hoje deslocando os continentes, alargando
que "A complexidade desse jogo de forças opos- alguns oceanos e estreitando outros.
tas permitiu e continua permitindo que os di-
De acordo com Ross " A película viva que
versos componentes do estrato geográfico ter-
envolve todo o planeta navegou com os
restre, (...), representados pela superfície ter-
continentes desde sua origem e foi sendo sub-
restre (subsolo, relevo e solo), pela hidrosfera
metida às mudanças climáticas que em muitas
(oceanos, rios e lagos) e pela atmosfera, ao
épocas levaram ao desaparecimento de
interagirem nos mecanismos de troca de ener-
comunidades inteiras" (1998:73).
gia e matéria, dessem suporte ao aparecimento
e à evolução da vida vegetal e animal na O clima também não foi sempre constante
Terra." (1998:18). São os terrenos, climas e no planeta Terra. Há cerca de 4,5 bilhões de
águas que condicionam fortemente a vida na anos ocorreram várias alterações no clima da
Terra, segundo o mesmo autor. Terra, passíveis de reconhecimento e estudo
graças aos registros deixados pelos fósseis,
A distribuição dos organismos na superfí-
pelas geleiras, pelas rochas, pelos pólens e
cie da Terra não depende apenas das carac-
troncos das árvores.
terísticas do ambiente físico, depende também
da história evolutiva da região e, consequen- Mais recentemente, há cerca de 2 milhões
temente, de eventos passados, às vezes, há de anos, teriam ocorrido períodos glaciários e
milhões de anos. interglaciários. Quando da ocorrência dos pri-
meiros, a temperatura média da Terra caía e as
Entende-se que um dos condicionantes da
geleiras polares e as das montanhas podiam
distribuição dos seres vivos na Terra foi a sepa-
expandir-se por importantes espaços do globo.
ração dos continentes - ou deriva continental.
Quando a temperatura média voltava a subir,
Esta teoria diz que os continentes atuais não
estas geleiras se retraiam novamente, voltando
tinham a configuração e a distribuição que hoje
aos seus limites anteriores.
observamos. Havia um único continente -
Pangea, que se separou em dois blocos - Essas circunstâncias provocaram a expan-
Gondwana e Laurasia. O primeiro incluía o que são e retração de florestas1 a pequenos núcleos
hoje denominamos Austrália, América do Sul, mais ou menos isolados. Os organismos que
Africa e Antártida. Já o segundo reuniria a dependiam destas florestas tinham que se refu-
América do Norte, a Europa e a Ásia. Mais giar nestas ilhas, por exemplo. Aquelas regiões
tarde estes dois blocos (ou placas tectônicas) da Terra, mais distantes do Equador (zonas tem-
também sofreram alterações, resultando no de- peradas e frias) foram as que sofreram mais
As florestas pluviais tropicais são as que apresentam maior biodiversidade no planeta. Para E. O Wilson a teoria que
explica este fato é a da Energia-Estabilidade-Áreo. Para Wilson "Maior energia, maior produção de biomassa, diminuição
da distribuição geográfica num ambiente com menos variações - todas essas propriedades aumentam o nível de
biodiversidade nos trópicos em longos períodos de tempo geológico. (...) Climas estáveis com estações pouco definidas
permitem que mais tipos de organismos se especializem em trechos menores do ambiente, que superem os generalistas
ao seu redor e que, portanto, persistam por períodos de tempo mais longo (1 994:216).
com este avanço e recuo das geleiras. Já as repetição deste processo vem gerando um enor-
zonas tropicais guardaram condições climáticas me número de seres vivos.
tais que permitiram a existência destes núcleos
A mudança nas características de
ou "refúgios"
subpopulações isoladas (ou a divergência
Além do ambiente físico e da história ecológica) é explicada por dois fatos. O pri-
evolutiva da região, a distribuição dos seres meiro diz respeito à diferença de hábitats que
vivos no planeta também é condicionada por pressionam as espécies de forma desigual2. O
seus limites de tolerância. Os limites de tole- segundo fato diz respeito às relações dentro de
rância, por sua vez, estão afetos à bagagem um mesmo hábitat como a adaptação, por
genética de uma população. Esta bagagem exemplo, que ao exercer pressão provoca
define a capacidade de sobrevivência e su- mudança evolutiva em outras espécies3.
cesso de uma determinada espécie ou de uma Neste ponto, é importante lembrar que a
população em função da inexistência, escassez história do planeta Terra não foi feita apenas do
ou abundância de um determinado recurso (a surgimento de novas espécies. A diversidade
água, por exemplo). Também as relações entre de espécies tem mantido uma certa estabilidade
os indivíduos como a competição, predação, ou no máximo tem registrado um crescimento
simbiose, por exemplo, podem definir o lento. Mas o desaparecimento de espécies
território ocupado por uma determinada também tem ocorrido naturalmente. O planeta
população. Terra já teria sofrido cinco grandes eventos de
extinção em massa, além de, em menor grau,
A evolução das espécies também vem de-
incontáveis outros episódios locais e regionais
finindo a variedade e pluralidade de seres vivos
de extinção. Mas, depois de cada declínio de
que encontramos hoje. Sabemos que, por meio
espécies, o planeta voltou a recuperar seu nível
desse processo, os atributos dos seres vivos
original de diversidade, num período estimado
mudam ao longo do tempo. Para Ricklefs, todos
de dezenas de milhões de anos (Wilson, 1
os seres vivos da Terra "descendem de um
994). Alguns cientistas consideram que a
número muito menor (talvez um único) [de
humanidade equivale ao sexto grande evento
espécies] que existiu em algum tempo remoto
de extinção da diversidade biológica do
no passado. O processo pelo qual as espécies
planeta.
proliferam, a especiação, envolve o isolamento
de 'subpopulações' a partir de uma única e a Sabe-se que hoje, diferentemente dos cin-
sua mudança evolutiva independente" co eventos naturais registrados no passado, a
(1993:11). Segundo este autor, as diferenças ação da espécie humana sobre os seres vivos
geradas pela separação das subpopulações do planeta acelerou o ritmo e intensidade do
evoluem a tal ponto que os indivíduos sejam processo de perda de espécies. Para alguns
impedidos de procriar-se com sucesso com a pesquisadores, durante os últimos 600 milhões
espécie original se estas se reencontrarem. A de anos, esta perda tem sido da ordem de 1
2
Neste caso estaria ocorrendo a especiação alopátrica, ou seja, a nova espécie se origina num lugar diferente estando
isolada da população original por uma barreira física.
3
Neste outro caso estaria ocorrendo a especiação simpótrico, ou a origem de uma nova espécie no mesmo local que a
espécie "original".
espécie por ano (Raup & Sepkoski, 1984 apud A Convenção sobre Diversidade Biológica
Brito et al. 1999). Então, podemos nos per- (CDB) surgiu do resultado das preocupações
guntar: Com que rapidez as espécies estão dos meios científico-técnico e político com a
sumindo hoje em dia? Embora se saiba que alta taxa de perda de diversidade biológica em
este é um dos maiores problemas científicos da todo o mundo5. Buscando introduzir um
humanidade, estima-se que esta taxa seja pelo enfoque amplo, que cobrisse todos os aspectos
menos cem vezes maior que a dos cinco relacionados à conservação da diversidade
eventos anteriores (Ehrlich e Ehrlich, 1981; biológica e que permitisse ações convergentes
Myers, 1986; Raven, 1987; Souli, 1986; por parte dos vários países, foi engendrada a
Wilson, 1987 apud Brito et al.). CDB, por meio da coordenação do Programa
das Nações Unidas para Meio Ambiente
Autores como Pimm e Gilpin (opud Varela,
(PNUMA). A Convenção foi adotada por 150
Fontes e Rocha, 1999) apontam quatro
países em 1992, incluindo o Brasil6.
principais causas da perda de espécies e
empobrecimento da biodiversidade: Não é segredo que uma Convenção,
abrangente como a de Diversidade Biológica,
1. Destruição e fragmentação de alguns
contém vários desafios intelectuais para aque-
hábitats, poluição e degradação;
les que pretendem implementá-la.
2. Eliminação exagerada de plantas e
São cinco os pontos considerados os mais
animais pelo homem;
importantes da Convenção:
3. Efeitos secundários de extinções;
1. Soberania Nacional e a preocupação
4. Introdução de animais e plantas comum da humanidade -Aqui reside a
alienígenas (ou exóticos). grande inovação da CDB, ou seja, o
Além destas causas, McNeely4 aponta que reconhecimento de que estando a
"A perda da biodiversidade é devida sobretudo diversidade biológica situada em
a fatores econômicos, especialmente aos bai- áreas sob jurisdição de países, estes
xos valores económicos dados à biodiversidade têm a soberania sobre ela. A
e às suas funções ecológicas - como a prote- diversidade biológica deixou então de
ção de bacias hidrográficas, ciclagem de nu- ser tratada como herança da
trientes, controle da poluição, formação dos humanidade, à qual todos tinham livre
solos, fotossíntese e evolução - do que depen- acesso. No que se refere à "pre-
de o bem-estar da humanidade. Portanto, vir- ocupação comum" o que se busca é a
tualmente todos os setores da sociedade hu- responsabilidade compartilhada de
mana têm interesse na conservação da diversi- todos os países na conservação da
dade biológica e no uso sustentável de seus diversidade biológica.
recursos biológicos" (1994:8) (tradução livre).
4
McNeely cita Peter Vitousek que estimou que quase 40% da produção fotossintética primária líquida é hoje diretamente
consumida, convertida ou desperdiçada como resultado das atividades humanas.
5
Segundo Swanson (1997), a idéia de uma Convenção internacional sobre diversidade biológica foi lançada no III
Congresso sobre Parques Nacionais e outras Áreas Protegidas em Bali, em 1982.
6
Atualmente são 1 74 os países que ratificaram a CDB, além da União Européia.
2. A conservação e o uso sustentável - nacional. São os países que deverão,
Este ponto expressa a convergência a seu critério, definir as medidas, as
que se vê possível entre o de- estratégias, as instituições e os
senvolvimento de atividades econô- cronogramas de execução para im-
micas e a conservação, mas a CDB plantara CDB.
deixa clara a distinção que faz entre os O que não podemos perder de vista é que
conceitos de conservação e de uso a diversidade biológica é especialmente
sustentável. Também fica clara a ne- importante para prover resiliência7 aos
cessidade do uso de diferentes estra- ecossistemas8, além de oferecer vários outros
tégias para a conservação e uso, serviços ambientais9 para nós seres humanos.
quando se trata de ecossistemas, ou Em 1997, Costanza et al estimaram em US$ 33
espécies, ou recursos genéticos. milhões os serviços prestados pelos
3. Os aspectos relativos ao acesso a ecossistemas ecológicos e o estoque de capital
recursos genéticos - Este ponto é a natural que os gera. Conforme os autores "o
causa dos maiores embates entre os valor dos serviços que puderam ser identi-
países, signatários e não, da CDB. E ficados não é considerado no sistema de mer-
aqui que se expressa a prática do cado e esse valor corresponde ao que seria
ponto 1 desta lista. necessário prover com ações humanas para
substituí-los, se for possível" (Brasil, 1999:19).
4. Financiamento - Durante o processo
Mas, mesmo que a valoração da diversi-
de negociação da CDB, nunca se
dade biológica possa ser vista como necessá-
questionou a necessidade de trans-
ria, nem todos os organismos podem, a curto
ferência de recursos financeiros do
ou médio prazos, serem encarados desta forma
Norte para o Sul. Criou-se o GEF
e receber um valor monetário. Mesmo que não
(Global Environmental Facility), que
considerássemos o valor intrínseco de cada
recebe contribuições de países desen-
espécie devemos concordar com Eckholm
volvidos e que só pode ser acessado
(1978) e, utilizando-nos de prudência, dar aos
por países em desenvolvimento.
organismos existentes tanto quanto possível o
5. A implementação - A execução dos "benefício da dúvida", ou seja, no mínimo res-
preceitos da CDB se dará em nível peitar seu direito à vida.
Capacidade de um ecossistema de retornar ao seu estado de equilíbrio, depois de sofrer algum impacto (natural ou
antrópico).
8
"Cada ecossistema tem seu valor intrínseco. Assim como cada nação preza seus episódios históricos finitos, seus livros
clássicos, suas obras de arte e outras medidas da grandeza nacional, também deveria aprender a prezar seus ecossistemas
peculiares e finitos, ressoantes de um senso de tempo e lugar" (Wilson, 1994:1 72).
São considerados serviços ambientais: regulação da composição química da biosfera, regulação do clima, absorção e
reciclagem de resíduos gerados pela ação humana, regulação dos fluxos hidrológicos, suprimento de água, processos de
formação de solos, ciclo de nutrientes, polinização, controle biológico, recursos genéticos, recreação e cultura (Brasil,
1999).
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRASIL (1998). Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica. Brasília, Ministério do
Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, Coordenação Geral de Diversidade Biológica,
244 pp.
BRITO, M.C.W.; JOLY, CA (ed) (1999) "Infra-estrutura para Conservação da Biodiversidade" In: Joly CA.; Bicudo,
C.E.M. (orgs.) Biodiversidade no Estado de São Paulo, Brasil - síntese do conhecimento no final do século
XX. São Paulo, FAPESP, vol. 7.
GLOWCA, F.B-G; SYNGE, H.; MCNEELY, JA; GUNDLING, L. (1994) A Guide to the Convention on Biológica
Diversity. Gland: The World Conservation Union, 161 pp.
KRATTIGER, A.F.; MCNEELY, J.; LESSER, W.H.; MILLER, K.R.; HILL, Y; SENANAYAKE, R. (ed.) (1994) Widening
Perspectives on Biodiversity. Gland: The World Conservation union and International Academy of
Environment, 473 pp.
MCNEELY, J.A (1994) "Criticai Issues in the Implementation of the Convention on Biological Diversity". In:
KRATTIGER, A.R; MCNEELY, 1; LESSER, W.H.; MILLER, K.R.; HILL, Y; SENANAYAKE, R. (ed.) (1994)
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RICKLEFS, R.E. (1996) A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan SA, 470 pp.
ROSS J.L.S. (org.) (1998) Geografia do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 549 pp.
SWANSON, T. (1997) Global Action for Biodiversity. Gland: International Union for Conservation of Nature and
Natural Resources e Earthscan Publications Ltd.
VARELLA, M.D.; FONTES, E.; ROCHA, RG. (1999) Biossegurança e Biodiversidade. Belo Horizonte: Livraria Del
Rey Editora Ltda., 301 pp.
WILSON, E. O (org.) (1997) Biodiversidade. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 657 pp.
WILSON, E. O (1994) Diversidade da Vida. São Paulo: Companhia das Letras, 447 pp.
Consumo Sustentável
Rachel Biderman Furriela1
1
Advogada Ambientalista; Mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (1999); Mestre em Direito
Internacional, com concentração em Direito Internacional do Meio Ambiente, pela Faculdade de Direito "Washington
College of Law" da American University, Washington, D.C. (1992).
2
Há divergência teórica sobre o conceito de consumo sustentável e consumo responsável. Uns dizem que o segundo
engloba o primeiro, outros o contrário. Neste texto serão utilizados como sinónimos, significando o consumo de bens e
serviços que tenham sido elaborados e produzidos levando-se em conta o respeito ao meio ambiente, à dignidade e à
saúde humana. O consumo e produção social ambientalmente corretos impõem uma preocupação com a proteção dos
recursos ambientais e a defesa dos direitos humanos, incluídos nestes os sociais.
conscientização dos indivíduos a respeito da grande desigualdade no poder de consumo ao
importância de tomarem-se consumidores res- se comparar diferentes segmentos de uma
ponsáveis. Propõe-se que se estabeleça um sociedade, e, ainda, diferentes sociedades.
trabalho de formação de um "consumidor- Muitas sociedades não atingiram padrões de
cidadão". Esse trabalho educativo é essenci- consumo condizentes com a manutenção das
almente político, pois implica a tomada de condições mínimas de dignidade humana,
consciência do consumidor como importante como ocorre em muitas regiões da Africa, da
ator de transformação do modelo econômico Ásia, da América Latina, e do próprio Brasil,
em vigor, já que tem em suas mãos o poder de onde sequer a alimentação básica está ga-
exigir um padrão de desenvolvimento rantida para milhões de famílias. De acordo
socialmente justo e ambientalmente equilibra- com dados da Organização das Nações Unidas
do. Esse ator, consciente das implicações dos ("ONU"), 20% daqueles com maior renda no
seus atos de consumo, passa a compreender mundo são responsáveis por 86% dos gastos
que o seu papel é o de exigir que as dimensões totais com consumo de bens, enquanto os 20%
sociais, culturais e ecológicas sejam con- mais pobres têm acesso a apenas 1,3% dos
sideradas pelos setores produtivo, financeiro e bens de consumo. E preciso que se encontre
comercial, em seus modelos de produção, um equilíbrio na distribuição dos frutos do
gestão, financiamento e comercialização. Essa progresso material, científico e tecnológico
não é uma tarefa simples, pois requer uma entre os povos do mundo.
mudança de posturas e atitudes individuais e Ao se tratar do consumo sustentável, cabe
coletivos no cotidiano. O desafio que se coloca a ressalva de que se propugna uma alteração
é o abandono da sociedade do descarte e do do padrão de consumo insustentável dos mais
consumo excessivos, a recusa do sonho ricos, e a adequação dos padrões de consumo
americano ("american dream3") como sinônimo dos mais pobres a patamares mínimos de digni-
de bem-estar, de felicidade. Maior dificuldade dade social. Ou seja, busca-se a implantação
reside ainda na tomada de consciência de que dos conceitos de equidade e justiça social.
a sociedade do consumismo gera enorme
As desigualdades de padrões de consumo
pressões sobre o meio ambiente, já que não
foram objeto de análise de uma organização
existe produto que não contenha material
norte-americana favorável à adoção do
oriundo da natureza, portanto a produção
depende da exploração dos recursos paradigma do consumo sustentável, o "Center
ambientais, e não há descarte de rejeitos que for a New American Dream" 4 (Centro para o
não volte à Terra. Enfim, o que se propõe é Novo Sonho Americano). Eis alguns exemplos
uma mudança de paradigma, de retorno ao de dados que colheram em suas pesquisas so-
modo de vida simples do passado, o abandono bre as desigualdades citadas anteriormente:
do consumo em exagero. • Os norte-americanos consomem 40% da
Fica evidente, quando se estuda a ques- gasolina do mundo;
tão do consumo sustentável, que existe uma • Os norte-americanos consomem mais
Sonho de propriedade de uma casa grande, carros suntuosos, produtos de alta tecnologia, constantemente sujeitos à
obsolescência e troca, escravidão da moda, do status, da imagem vendida pela mídia.
Site: www.newdream.org
papel, aço, alumínio, energia, água e ação humana sobre a natureza e os decor-
carne per capita do que qualquer outra rentes riscos para o bem-estar e para a própria
sociedade do Planeta; sobrevivência da humanidade. Foi marcada por
uma visão antropocêntrica de mundo, em que o
• O norte-americano médio produz duas
homem era tido como o centro de toda a
vezes mais lixo do que o europeu médio;
atividade realizada no planeta,
• Seriam necessários pelo menos quatro desconsiderando o fato de a espécie humana
planetas adicionais ao existente, se to- ser parte da grande cadeia ecológica que rege
dos os 6 bilhões de indivíduos da Terra a vida na Terra. Essa conferência foi marcada
tivessem um padrão de consumo equi- pelo confronto entre as perspectivas dos países
valente ao do norte-americano médio. desenvolvidos e dos países em
desenvolvimento. Os países desenvolvidos
estavam preocupados com os efeitos da de-
1. VISÃO CRÍTICA SOBRE OS ATUAIS vastação ambiental sobre a Terra, propondo
PADRÕES DE CONSUMO um programa internacional voltado para a
conservação dos recursos naturais e genéticos
1.1. EVOLUÇÃO DAS DISCUSSÕES NOS NÍVEIS do planeta, pregando que medidas preventivas
NACIONAL E INTERNACIONAL teriam que ser encontradas imediatamente,
A formação de um consumidor-cidadão para que se evitasse um grande desastre. Por
implica necessariamente uma nova postura di- outro lado, os países em desenvolvimento
ante do ato de consumir e depende da produ- argumentavam que se encontravam assolados
ção de mais conhecimento sobre o tema do pela miséria, com graves problemas de
consumo sustentável, relativamente pouco sis- moradia, saneamento básico, atacados por
tematizado. Esse é um tema que acompanha doenças infecciosas e que necessitavam
as discussões relativas ao meio ambiente eco- desenvolver-se economicamente, e rapi-
logicamente equilibrado e nasceu principal- damente. Questionavam a legitimidade das
mente como uma demanda do movimento recomendações dos países ricos que já haviam
ambientalista, que passou a questionar o mo- atingido o poderio industrial com o uso
delo de desenvolvimento econômico atual, al- predatório de recursos naturais e que queriam
tamente baseado na exploração irracional dos impor a eles complexas exigências de controle
recursos naturais. O questionamento sobre esse ambiental, que poderiam encarecer e retardar a
modelo deu-se principalmente a partir da dé- industrialização dos países em de-
cada de 70 e foi bastante intensificado na dé- senvolvimento. A Conferência produziu a De-
cada de 90, principalmente em dois momentos claração sobre o Meio Ambiente Humano, uma
em que as Nações Unidas se reuniram para declaração de princípios de comportamento e
discutir os impactos da ação humana sobre o responsabilidade que deveriam governar as
meio ambiente planetário. Esses dois momen- decisões concernentes às questões ambientais
tos foram a Conferência de Estocolmo sobre (Feldmann, 1997).
Meio Ambiente Humano, realizada em 1972, e A maior conferência internacional reali-
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio zada até os dias de hoje sobre matéria
Ambiente e Desenvolvimento, realizada em ambiental foi a Conferência das Nações Unidas
1992, no Rio de Janeiro. sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
A Conferência sobre Meio Ambiente Hu- realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Nessa
mano, realizada em Estocolmo em 1972, foi conferência, e no Fórum paralelo das orga-
centrada na discussão sobre os impactos da nizações não-governamentais, discutiu-se
amplamente o tema do consumo sustentável. A vimento de políticas e estratégias nacionais de
Conferência da ONU propiciou um debate e estímulo a mudanças nos padrões insus-
mobilização da comunidade internacional em tentáveis de consumo (este capítulo pode ser
torno da necessidade de uma urgente mudança conhecido nos Anexos).
de comportamento visando à preservação da
A discussão sobre o tema do consumo sus-
vida na Terra. A Conferência ficou conhecida
tentável no nível internacional avançou após a
como "Cúpula da Terra" (Earth Summit) e adoção da Agenda 21. Em 1995, a Comissão
contou com a presença de 1 72 países (apenas de Desenvolvimento Sustentável da ONU
seis membros das Nações Unidas não recomendou que as diretrizes de proteção do
estiveram presentes), representados por consumidor, já consolidadas em norma da or-
aproximadamente 10.000 participantes, ganização, fossem expandidas e passassem a
incluindo 116 chefes de Estado (SMA, 1997). incluir diretrizes sobre padrões de consumo sus-
Um dos resultados dessa conferência foi a tentável. Outro órgão da ONU, o Conselho
aprovação da Agenda 21, um abrangente plano Econômico e Social (ECOSOC), aprovou re-
de ação a ser imple-mentado pelos governos, solução no mesmo ano (n. 1995/53), solicitando
agências de desenvolvimento, organizações que o Secretário Geral elaborasse diretrizes na
das Nações Unidas e grupos setoriais área de padrões de consumo sustentável.
independentes em cada área em que a Posteriormente, as Nações Unidas pa-
atividade humana possa afetar o meio am- trocinaram uma série de reuniões de experts
biente. Esse plano visa primordialmente ao para a formulação de norma sobre esse teor,
estabelecimento de um modelo de desenvol- tendo sido realizada uma no Brasil, em 1998,
vimento econômico que seja sustentável sob o sob o co-patrocínio da Secretaria de Estado do
ponto de vista ambiental. Dentre as propostas Meio Ambiente (Feldmann, 1998).
de ação, constam aspectos específicos sobre o
consumo sustentável, condição inequívoca
para a consecução do objetivo maior da No BRASIL
Agenda 21, que é o desenvolvimento sus-
tentável. A Agenda 21 procura compatibilizar o O conceito de sustentabilidade tem sido
direito ao desenvolvimento, principalmente para objeto de ampla discussão e produção científi-
os países que não atingiram níveis adequados ca e literária. Neste ano de 2000, o Governo
de renda e de riqueza, e o direito ao meio Federal publicou um Estudo - objeto de
ambiente saudável e equilibrado, que deve ser contratação de consórcios de cientistas, estu-
garantido para as gerações futuras. diosos e técnicos do tema da sustentabilidade -
que foi intitulado "Subsídios à Elaboração da
As recomendações da Agenda 21 para a
Agenda 21 Brasileira". O estudo foi dividido em
implantação de um modelo de consumo sus-
vários capítulos e as questões do consumo
tentável constam de 3 de seus 40 capítulos,
sustentável e da sustentabilidade foram am-
que são relativos a: mudança dos padrões de
plamente discutidas no Capítulo intitulado "Ci-
consumo (capítulo 4); manejo ambientalmente
dades Sustentáveis" (MMA, 2000).
saudável dos resíduos sólidos e questões
relacionadas com os esgotos (capítulo 21); Destacamos, a seguir, as recomendações
fortalecimento do papel do comércio e da in- relativas à mudança de padrões de consumo e
dústria. O capítulo específico de maior inte- de produção nas cidades. O Estudo propôs
resse é o de número 4, que propõe programas quatro estratégias de sustentabilidade urbana,
voltados ao exame dos padrões insustentáveis identificadas como prioritárias para o
de produção e consumo e o desenvol- desenvolvimento sustentável das cidades brasi-
leiras. A Estratégia 3 sobre padrões de pro- dança da matriz energética e para o
dução e de consumo foi formulada visando à combate ao 'efeito estufa'.
redução de custos e desperdícios e fomento de • Promover maior integração entre o meio
práticas sociais e tecnologias urbanas sus- rural e o urbano, desenvolvendo
tentáveis (MMA, 2000). As 15 propostas estão atividades agrícolas e não-agríco-las
elencados a seguir, conforme constam desse voltadas para este fim.
estudo:
• Gerar empregos e renda, contribuindo
• Combater o desperdício e promover o para diminuir as desigualdades
consumo sustentável com os agentes existentes, aproveitando, sempre que
econômicos, o setor público e a possível, os programas decorrentes das
população em geral. quase noventa ações recomendadas
• Arbitrar padrões e indicadores capazes para operacionalizá-los, utilizando me-
de orientar o planejamento urbano e o canismos que combinem sustentabili-
monitoramento das práticas de produção dade econômica e social."
e de consumo sustentáveis, tanto por
parte do setor público como do privado. 1.2. PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS
RELACIONADOS A PADRÕES DE
• Estabelecer rotinas de auditorias
CONSUMO INSUSTENTÁVEIS
ambientais no setor público e usar o
poder de compra do Estado para induzir Um grupo de cientistas norte-americanos
o mercado de bens e serviços a adotar baseou-se em estudos realizados pela Agência
padrões de qualidade ambiental. de Proteção Ambiental norte-americana ("EPA")
• Promover mudanças nos procedimentos e pelo "California Comparative Risk Project"
utilizados para lidar com para avaliar os principais impactos sobre a saú-
assentamentos e com projetos de e o meio ambiente decorrentes de ativida-
habitacionais, passando a levar em des humanas (Browere Leon, 1999). Esse gru-
consideração o conforto, a qualidade po de cientistas concluiu que uma série de gra-
ambiental e a ecoeficiência, com o má- ves problemas ambientais são decorrentes de
ximo aproveitamento de materiais padrões de consumo insustentáveis. Os princi-
reciclados e apropriados. pais problemas identificados pelos cientistas são:
poluição do ar, aquecimento global do planeta,
• Reduzir as perdas crônicas no sistema alteração de hábitats e poluição das águas.
de saneamento e modernizar a política
tarifária, garantindo água mais barata e
de melhor qualidade, melhorando, dessa POLUIÇÃO DO AR
forma, os indicadores de saúde.
•
• Evitar e reduzir a geração de resíduos,
Dois poluentes relacionados à queima de
de despejos e a emissão de poluentes,
combustíveis fósseis, o ozônio e o material
nas áreas urbanas e do entorno, por
particulado, causam grandes riscos à saúde
parte das indústrias.
humana. Há estimativas da Califórnia de que
• Reduzir a queima de combustíveis 3.000 mortes no Estado são causadas anu-
fósseis e promover a efic iênci a almente por inalação de material particulado e
energética, contribuindo para a mu- cerca de 60.000 a 200.000 casos de infecções
respiratórias são causadas por inalação de
material particulado e ozônio. Os
poluentes atmosféricos não afetam apenas as ram leis obrigando que uma porcentagem dos
pessoas das grandes cidades. São levados carros que saem das montadores de veículos
pela ação do clima a outras regiões, e se de- sejam não-poluentes.
positam sobre o solo e a água, causando aci-
Um consumidor consciente pode promover
dez dos mesmos. Esse problema só pode ser
algumas medidas para minimizar a poluição do
contornado mediante a imposição de medidas
ar, optando por hábitos como:
drásticas pelos governos, que devem ser
planejadas com a sociedade, visando à dimi- • Escolher um local de moradia que
nuição da emissão de poluentes atmosféricos. minimize sua necessidade de transporte
Na Região Metropolitana de São Paulo, entre para consecução de atividades diárias;
os anos de 1995 e 1998 foi realizada a Ope- • Pensar duas vezes antes de comprar o
ração Rodízio5, que visava diminuir os níveis de primeiro e o segundo carro;
emissão de poluentes originários da queima de
combustíveis dos automóveis. Essa operação • Optar por um veículo que seja menos
de iniciativa governamental permitiu a redução poluente (ou até gere emissões zero ou
da emissão dos poluentes e obteve sucesso próximas de zero, como algumas op-
graças à adesão dos cidadãos motorizados, ções que estão surgindo nos Estados
que podemos apelidar também de Unidos ou Europa, movidos a hidrogênio
"consumidores cidadãos". Apesar do sucesso ou eletricidade);
em termos de redução de poluentes e opinião • Estabelecer metas concretas de redu-
pública, o governo do Estado, por motivos ção de viagens;
políticos, engavetou a inicia-tiva, que não ge-
• Sempre que possível, optar por cami-
rava votos nas urnas.
nhar, andar de bicicleta ou utilizar trans-
Foi noticiado recentemente na imprensa porte público ou táxi;
que a Ford vai construir caminhões ecologi-
camente corretos . A montadora Ford ganhou
um contrato do Serviço Postal dos Estados MUDANÇA DO CLIMA NO PLANETA
Unidos para construir pelo menos 500
caminhões de entrega movidos a energia elé-
Há evidência e consenso científico de que
trica, num esforço de desenvolver uma frota
o planeta teve sua temperatura elevada nos
ecologicamente correta. A expectativa anun-
últimos cem anos. Esse fenômeno foi batizado
ciada pela imprensa é de que o Serviço Postal
de "efeito estufa". A temperatura mais elevada
compre pelo menos 4,5 mil caminhões,
causa uma série de impactos ambientais, como
podendo este número chegar a 6 mil. O custo
o degelo de calotas polares, que causam o
estimado de cada veículo é de aproxima-
aumento do nível dos oceanos (que podem
damente US$ 39.000. [Financial Times, 1999).
impactar zonas costeiras). O aumento da
A tendência de produção de veículos movidos a
temperatura pode ainda alterar os hábitats
energia elétrica vem se firmando nos Estados
naturais, causando impactos sobre os
Unidos (Califórnia), Europa e Japão. Alguns
ecossistemas e a cadeia da vida nesses lo-
países (EUA e Japão) já aprova-
5
O programa obrigava a não-circulação de 20% da frota de veículos em alguns municípios da Região Metropolitana de São
Paulo.
cais. Outros impactos são o aumento dos ní- Algumas ações têm sido implementadas
veis de pluviosidade em alguns pontos do pla- principalmente por governos e organizações
neta, e a incidência de maior seca em outros. não-governamentais para reverter, ou ao me-
O papel do consumidor-cidadão preocupado nos minimizar, os danos causados pela ação
em conter esse problema pode ser variado. antrópica sobre a natureza. Essas ações visam
Algumas dicas para o consumidor cons- conservar hábitats naturais ou recuperar áreas
degradadas. Isso beneficia não só a fauna e a
ciente :
flora, mas os seres humanos, também, que
• Evitar o consumo de combustíveis fós- dependem do equilíbrio da vida no Planeta para
seis em demasia, ou seja, utilizar o sua própria sobrevivência.
transporte individual apenas para o es-
Dentre as ações que podem ser
tritamente necessário, buscando-se al-
implementadas pelo cidadão, empresas ou
ternativas de transporte como carona,
governos, para reverter esse quadro, sugeri-
transporte público, andar a pé;
mos algumas:
• Procurar alternativas energéticas que
não causem a emissão de gases efeito • Procurar envolver-se como voluntário ou
estufa, como a instalação de painéis profissionalmente com programas de
solares para geração de energia; governo ou de organizações não-go-
vernamentais de proteção e conserva-
• Minimizar o consumo de energia elétrica ção da biodiversidade;
(principalmente nos países em que a
• Promover técnicas de agricultura, mi-
matriz de geração de energia é baseada
neração e utilização de recursos natu-
na queima de combustíveis fósseis,
rais que sejam menos impactantes so-
como petróleo ou carvão);
bre o meio ambiente;
• Promover campanhas de coleta seletivo
• Estabelecer nas propriedades rurais
no local de trabalho, recreio e em casa.
grandes áreas de refloresta mento e con-
A redução do volume dos lixões pode
servação da natureza, o que pode be-
implicar a redução da formação do
neficiar a propriedade, pela melhoria da
metano, gás de efeito estufa.
qualidade do solo, geração de água, um
microclima agradável, e beneficiar a
ALTERAÇÃO DE HÁBITATS sociedade como um todo pelo aumento
da área vegetada e preservada, o que
Os seres humanos historicamente têm exer- repercute sobre vários aspectos da vida;
cido enorme pressão sobre a natureza, explo-
• Criação por parte dos governos de uni-
rando os bens ambientais de forma avassaladora
dades de conservação públicas (áreas
e irracional para a produção de seu bens de
de proteção ambiental);
consumo. A consequência disso tem sido a des-
truição e a alteração de hábitats naturais. Den- • Transformar propriedades privadas em
tre as principais atividades destruidoras de áreas de preservação permanente (ex.:
hábitats, destacam-se a exploração de madei- através da criação de um parque parti-
ra, mineração, agricultura, pesca marinha, al- cular, que no Brasil recebe o nome de
teração e canalização de cursos hídricos, ex- "Reserva Particular do Patrimônio Na-
pansão de malhas urbanas. Isso tem acarreta- tural" e pode ser criada mediante con-
do o declínio de populações de fauna e flora e sulta ao IBAMA - Instituto Brasileiro do
o desequilíbrio de inúmeros ecossistemas.
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais a metade dos 12.500 quilômetros cúbicos de água
Renováveis); doce disponíveis no planeta já estão sendo utiliza-
dos, considerando-se que a população mundial
• Evitar consumir bens que resultaram de
deverá dobrar nos próximos 50 anos e que na
exploração inadequada da natureza, o
década de 90 o nível de consumo da água cres-
que pode ser verificado pelos diferentes
ceu duas vezes mais que o nível de crescimento da
métodos de certificação ambiental (ex.:
própria população. Segundo estudo recente da
evitar objetos provenientes de animais
ONU, intitulado "Comprehensive Assessment of
ameaçados de extinção, do corte de
the Freshwater Resources of the World" (Análise
madeira ilegal ou sem manejo florestal
dos Recursos de Água Doce do Mundo), de 1997,
adequado, alimentos gerados através de
cerca de 460 milhões de pessoas, mais de 8% da
produção com uso intensivo de
população mundial, vivem em países com séria
agrotóxicos, etc).
falta de água. Outra quarta parte da população
mundial vive em regiões que deverão sofrerfutura-
mente séria falta desse recurso (Hunter; 1998).
POLUIÇÃO DAS AGUAS
Atualmente, cerca de um quinto da po-
pulação mundial não tem acesso à água em
Diversas são as fontes de poluição que condições de potabilidade e um terço da po-
contaminam os recursos hídricos. Os efluentes pulação mundial não tem acesso ao sanea-
resultantes de atividades agrícolas, industriais mento básico. A Organização Mundial de
e comerciais, bem como os dejetos gerados Saúde estima que mais de 5 milhões de pes-
pelos seres humanos, têm sido lançados soas morrem por ano por doenças relacionadas
historicamente na vala comum dos rios. Apesar ao consumo de água não potável e falta de
de as leis ambientais de controle da poluição acesso a saneamento básico e condições de
das águas terem evoluído ao longo dos higiene adequadas. Esses números incluem 3
tempos, isso não impediu o lançamento cons- milhões de crianças que morrem de doenças
tante de enormes volumes de rejeitos industri- diarréicas, transmissíveis pela água (Watson,
ais, agrícolas e domiciliares nos cursos 1998).
hídricos, que tiveram sua qualidade de água
O acesso à água doce é um dos proble-
comprometida, e usos limitados.
mas ambientais, económicos e de saúde mais
A água é um recurso fundamental para a graves que afetam os países em desenvolvi-
subsistência de todas as formas de vida no mento. A falta de água e sua poluição causam
planeta. Esse recurso indispensável vem so- problemas graves de saúde pública, limitam o
frendo grande pressão em várias partes do desenvolvimento econômico e agrícola e
mundo, que deverá aumentar em função do prejudicam os ecossistemas. A manutenção de
crescimento da população e do aumento da estoques de água potável para consumo
produção agrícola e industrial. São grandes os humano (na agricultura, nas casas e na
desafios para o gerenciamento do recurso indústria) e para o equilíbrio dos
"água", que envolve a solução de problemas ecossistemas é um desafio crescente para mui-
como a escassez, degradação da sua quali- tas sociedades. A alocação dos recursos
dade e alocação adequada do seu uso. hídricos para esses diferentes usos também tem
se tornado bastante complexa. Algumas esti-
Os recursos hídricos estão distribuídos de for-
mativas demonstram que no ano 2025, quando
ma desigual pelo planeta, alguns países os têm
a população mundial provavelmente terá
em abundância, outros são sujeitos à escassez. E
atingido a cifra de 8 bilhões de pessoas, toda
assustador imaginar, segundo dados da ONU, que
a água acessível no mundo para consumo será • Desenvolver novas técnicas de econo
necessária para atender ás necessidades de mia de água para utilização na produ
produção agrícola, uso doméstico e industrial, ção agrícola.
e para o atendimento das necessidades dos Outras medidas pertinentes, principalmen-
ecossistemas (Watson, 1998). te no caso do Brasil, onde prevalece o equi-
O primeiro grande desafio que se coloca vocado conceito de que temos água em abun-
para a humanidade é a tomada de consciência dância, são:
de que não existe um suprimento inesgotável
• Evitar hábitos de lavagem de calçadas,
de água potável no Planeta. Algumas medidas
quintais, carros, em demasia;
devem ser promovidas para garantir o
suprimento de água em quantidade e padrões • Buscar deixar a torneira fechada ao
aceitáveis. O grande desafio da atualidade re- escovar os dentes, tomar banho, lavar
side em reduzir o nível de degradação da água, louça, fazer faxina, lavar roupa, quando
através de medidas como conservação, não tiver necessidade de deixar água
melhoria do saneamento básico, redução da correndo.
utilização de pesticidas, produção industrial
mais limpa e gerenciamento do consumo. 1.3. QUESTIONAMENTOS PRÁTICOS PARA O
Algumas medidas citadas pela organiza- ESTABELECIMENTO DE UMA POSTURA
tional" 6 sobre esse tema que podem ser pro- Na prática, as questões que se colocam
movidas pelos consumidores de água são: para aqueles que pretendem refletir sobre o
• Instalação de válvulas hídricas ampla- tema do consumo sustentável e promover
mente comercializadas no mercado nas ações no seu cotidiano são inúmeras. Algumas
casas e locais de trabalho que permitem questões básicas que propomos para reflexão
a economia de água nas torneiras, são:
chuveiros e descargas; • Quais são as necessidades básicas dos
• Promoção de campanhas para a indivíduos para que tenham uma vida
conscientização sobre o valor econômi- saudável e equilibrada?
co e social da água, estímulo ao seu uso
• Quais são os produtos e serviços es-
racional e proteção de sua qualidade;
senciais para garantir essa vida saudá-
• Fazer campanhas para aprovação de vel e equilibrada ?
leis de proteção dos recursos hídricos,
• Que tipo de consumo se promove da
visando à garantia de sua qualidade e
hora em que se levanta até a hora de
quantidade, inclusive através do esta-
deitar? (Pensar o ciclo de vida de cada
belecimento de valor econômico para o
produto utilizado, como o sabonete, a
bem "água" e de sua cobrança;
pasta de dente, o fio dental, as roupas,
• Buscar fontes alternativas de água (ex.:
os itens do café da manhã, fonte de
dessalinização de água do mar);
energia que permite a utilização de
Site: http://www.consumersinternational.org
aparelhos elétricas, quantidade e qua- educativa que promova a nova ética do
lidade da água, volume de material des- consumo?
cartado, etc.) • Como identificar um produto ou serviço
• Por que tipo de transporte se deve optar ambientalmente sustentável?
para se cobrir as distâncias percorridas
• Quais são os atuais fornecedores de
na execução de atividades cotidianas,
produtos ou serviços ambientalmente
de forma a causar menos agressão à
sustentáveis em cada região?
qualidade do ar? Que tipo de transporte
sustentável está disponível em sua Essas são questões complexas, cujas res-
cidade ou região? postas serão encontradas neste texto apenas
em parte, dado o aspecto introdutório do
• Que tipo de produção agropecuária mesmo. Uma boa parte das respostas depende
pode garantir uma alimentação saudável de pesquisa, principalmente sobre a realidade
com o menor nível possível de agressão de cada local. No entanto, essas questões são
ao meio ambiente? propostas como um desafio de reflexão para os
• Que tipo de produção de artigos de educadores que terão acesso a este
vestuário pode garantir a menor agres- documento.
são possível ao meio ambiente ?
• Que tipo de fonte energética garante o
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA PARA A
menor impacto possível sobre o meio
REALIZAÇÃO DESTE TRABALHO
ambiente?
(TEXTOS 2 E 3)
• Como é possível reformular o atual
modelo de consumo, cujo padrão ideal
1. Brower, Michael & Leon, Warren. The
está baseado nos valores norte-ame-
Consumer's Guide to Effective
ricanos e europeus propagados pela
Environmentol Choices - Practical
grande mídia, e adequá-lo às reais ne-
Advice from the Union of Concerned
cessidades de sobrevivência e bem-es-
Scientists. New York,Three Rivers
tar do brasileiro?
Press, 1999.
• Quais são as dimensões sociais, cultu- 2. Catling, Linda & Hollender, Jeffrey.
rais e ecológicas que devem ser consi- How to make the world a better place -
deradas pelos setores produtivo, finan- 116 ways you con make a difference.
ceiro e comercial, em seus modelos de London e New York, W. W. Norton and
produção, gestão, financiamento e Company, 1995.
comercialização?
3. Christensen, Karen. Home Ecology -
• Como podemos agir enquanto consu- Simple ond Practical Ways to Green
midores para induzir as empresas a le- Your Home. Colorado, Fulcrum
varem em conta as dimensões sociais, Publishing, 1989.
culturais e ecológicas no seu modo de
produção e gestão? 4. Feldmann, Fabio (org.). Série Enten-
dendo o Meio Ambiente. Volume I -
■ Como reduzir o consumo de bens supér- Tratados e Organizações Ambientais
fluos e, consequentemente, o acúmulo e em Matéria de Meio Ambiente. Se-
descartes excessivos de materiais? cretaria de Estado do Meio Ambiente
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Os consumidores e o consumo
sustentável
Rachel Biderman Furriela*
Advogada Ambientalista; Mestre em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (1999); Mestre em Direito
Internacional, com concentração em Direito Internacional do Meio Ambiente, pela Faculdade de Direito "Washington
College of Law" da American University, Washington, D.C. (1992).
Fundação PROCON de São Paulo a res- meio ambiente indicada na pesquisa do
peito do consumo sustentável. A pesquisa PROCON, nas suas estratégias de publicidade
atingiu 415 pessoas da capital paulista que e marketing. Como a liberdade de escolha do
afirmaram a necessidade de se fomentar o consumidor não está isenta da potente pressão
consumo sustentável. Reconheceu-se também da publicidade e do marketing veiculados nos
a dificuldade da implementação prática desse diferentes meios de comunicação, percebe-se,
conceito, prejudicada pela falta de co- na realidade, que o padrão de consumo
nhecimento e canais de participação e infor- estimulado pela grande mídia é altamente
mação. Nessa pesquisa a maior parte dos en- insustentável sob o ponto de vista ambiental. A
trevistados (85%) soube de alguma forma de- publicidade preconiza a necessidade de se ter
finir um produto reciclável, enquanto 39% dos sempre "mais e mais" e estimula os
entrevistados baseia-se nos símbolos de "ma- consumidores a assumirem posturas de
terial reciclável", presentes nos rótulos, no tipo lealdade para com marcas e "estilos de vida".
de material ou na presença de separação do O poderio da propaganda não pode ser
lixo para inferir que o produto esteja efetiva- menosprezado e sua capacidade de criação de
mente sendo reciclado. necessidades artificiais deve ser objeto
constante de crítica e de análise pessoal (será
E importante destacar, no entanto, que a que eu realmente preciso comprar isso??).
mera indicação de "reciclável" não é garantia
que o material esteja sendo reciclado de fato, o
que implica a necessidade de alteração da 2. ESCOLHAS AMBIENTALMENTE
rotulagem ambiental, para que não seja usada SAUDÁVEIS: O PAPEL DE DIFERENTES
como mero recurso de marketing, induzindo o ATORES
consumidor em erro. E importante destacar que
a pesquisa constatou que para a maioria dos A responsabilidade pela promoção do
entrevistados o produto ecológico é aquele que consumo sustentável deve ser partilhada entre
vem diretamente da natureza (que é natural ou todos os atores sociais, sejam eles órgãos de
biodegradável) além de reciclável e não governo, empresas, organizações da soci-
prejudicial à saúde. E interessante notar que a edade civil, indivíduos, famílias, dentre outros.
conduta consumista é condenada e que dois O papel de alguns desses segmentos é
em cada três paulistanos são da opinião que comentado a seguir.
sua forma de consumir não contribui para a
degradação ambiental. Aproximadamente 91 % 2.1. CIDADÃOS
dos entrevistados indica que deve existir uma
Os cidadãos constituem os principais ato-
preocupação com o futuro do planeta, seja pelo
res, capazes de revolucionar o atual padrão de
dever ético com futuras gerações (apontada por
produção e consumo, altamente insustentáveis,
dois em cada três entrevistados), pelos próprios
e indesejáveis. Essa atuação pode se dar no
descendentes (um em cada três). Essas
momento do ato de consumo, em si, ao se
respostas indicam uma predisposição favorável efetuar a escolha do bem ou serviço. Pode se
à questão ambiental, que exige um sentido de dar também pela promoção de ações de
responsabilidade para com o futuro do planeta cidadania, que são de variada natureza, e,
e das futuras gerações. (Site uol/ambi-ente essencialmente políticas. E preciso que o
global; 2000) cidadão tenha consciência de seus direitos
A grande mídia, no entanto, não parece como consumidor a ter acesso aos bens de sua
considerar essa predisposição favorável ao necessidade, que devem ser produzidos de
forma a respeitar os direitos socioam-
bientais. O cidadão deve ser atuante, exi- sumidores. As dicas aqui elencados incluem
gir pela imprensa, através de cartas, telefone- idéias sobre ações possíveis em alguns setores1.
mas, emails, manifestações públicas, um com-
portamento respeitável dos governos e empre-
2.1.1 ALIMENTOS SUSTENTÁVEIS E
sas, e de outros cidadãos. O cidadão deve
SAUDÁVEIS
eleger políticos com propostas claras e história
de vida compatíveis com a promoção do Um estudo elaborado recentemente sob o
equilíbrio social e ambiental, e cobrar ações patrocínio do Ministério do Meio Ambiente no
consequentes dos mesmos. Enfim, deve utilizar Brasil revelou que a idéia de uma 'agricultura
de todos os meios e canais à sua disposição sustentável' indica uma crescente busca da
para fazer valer seus interesses e direitos de sociedade por sistemas produtivos que per-
acesso aos bens e serviços para o atendimento mitam a conservação dos recursos naturais e
de suas necessidades, em preços , quantidade forneçam produtos mais saudáveis, sem com-
e qualidade adequados, produzidos e prometer os níveis tecnológicos já alcançados
descartados de forma responsável, sempre de segurança alimentar. O que se busca é a
com respeito ao meio ambiente. implementação de novos métodos de produção
O impacto positivo da ação individual pode que venham a reduzir os impactos ambientais
ser facilmente ignorado ou esquecido. Muitas adversos, e assegurar altos níveis de pureza e
pessoas propensas a se engajarem em não-toxicidade dos alimentos. O estudo
programas de proteção ao meio ambiente se anuncia que é esse o desafio social embutido
vêm desencorajadas por considerarem que sua na expressão 'agricultura sustentável' (MMA,
ação isolada não terá impacto algum. Esse é 2000b).
um grande contra-senso. Se não houvesse pes- Saliente-se que, na atualidade, existe um
soas determinadas, engajadas, seria impossí- forte questionamento sobre a manipulação
vel empreender ações de cidadania, que exis- genética dos alimentos e a produção de se-
tem aos milhares no nosso país. Um exemplo mentes "transgênicas". Apesar de sua impor-
de ação individual que pode surtir um efeito tância, esse tema não será tratado aqui. Fica
muito positivo para o meio ambiente e a socie- registrada, no entanto, a necessidade de uma
dade é a adoção de medidas pelas pessoas em melhor avaliação científica sobre a natureza
seus lares e no trabalho. Essas ações indi- desses produtos e seus impactos sobre o meio
viduais podem incluir a promoção da coleta ambiente e a saúde humana, bem como sobre
seletivo e destinação dos materiais passíveis de a relevância de campanhas de conscientização
reciclagem aos centros de triagem e reciclagem, da cidadania sobre essa nova forma de
minimização do uso de recursos energéticos, produção agrícola.
adoção de hábitos salutares de alimentação,
A produção de alimentos pode se consti-
minimização da utilização da água nas ativi-
tuir num grave fator de degradação do meio
dades domésticas, dentre outros.
ambiente. A produção de alimentos nos moldes
Inúmeras são as ações que os cidadãos atuais implica o uso de grandes quantidades de
podem promover no seu dia-a-dia como con- água e aplicação de pesticidas, ge
Dado o caráter introdutório deste texto, muitas ações possíveis estão sendo omitidas.
radores de impactos ambientais negativos em feiras de produtos orgânicos, lojas naturais
sobre o solo e a água, se não houver manejo ou ecológicas (já abundantes em grandes
adequado. A produção de alimentos sempre centros urbanos), e nos espaços nos su-
dependerá de recursos ambientais, mas pode se permercados destinados a produtos naturais.
dar de forma a prevenir danos ao ambiente e Na maioria das vezes os produtos gerados em
em respeito às leis da natureza. Uma corrente consonância com as regras de proteção ao
de pensadores da área agronômica meio ambiente têm custo final elevado para o
desenvolveu o conceito de agricultura consumidor médio. Daí constituírem-se, ainda,
sustentável. Em grande parte, esse tipo de em opções restritas às camadas de alto nível
produção de gêneros alimentícios se dá a partir de renda, ou aos consumidores conscientes de
de um manejo das pragas e adubação naturais, que a compra que estimula a produção
sem a utilização de agrotóxicos (pesticidas e sustentável é uma compra que gera efeitos
fertilizantes), o que evita a contaminação da positivos para o futuro.
natureza e dos consumidores com altos Nos Estados Unidos um movimento cha-
volumes de produtos químicos indesejáveis. A mado "Community-Supported Agriculture"
agricultura moderna é altamente dependente (Agricultura apoiada pela comunidade), está
de subsídios químicos, tendo gerado enormes ganhando grande popularidade, pela simpli-
impactos sobre os ecossistemas terrestres e cidade e grande apelo para a proteção da
aquáticos. A opção mais comum aberta aos saúde e do meio ambiente. Esse movimento
consumidores conscientes é a aquisição de promove a assinatura por domicílio de pacotes
produtos orgânicos, assim chamados por de alimentos orgânicos a serem entregues
serem produzidos com respeito à natureza. semanalmente nas residências, oriundos de
Inúmeras associações existem operando com fazendas que produzem de forma ambien-
base em diferentes códigos de ética de talmente sustentável. Dessa forma, tanto os
proteção à saúde humana e à natureza que já agricultures (principalmente os pequenos),
produzem em escala compatível com a como os consumidores saem ganhando. Os
demanda de mercado e servem, muitas agricultores ganham sócios dispostos a finan-
vezes, como entidades certificadoras de ciarem suas safras, e as famílias têm a garantia
alimentos orgânicos.2 de que estarão servindo à mesa alimentos
O consumidor pode identificar produtos saudáveis.
fabricados com respeito ao meio ambiente, A Usina São Francisco de produção de
quando esses estão devidamente identificados açúcar instalada em Sertãozinho, a 330 km de
(ou certificados ambientalmente). Costu-ma-se São Paulo, é um exemplo de sucesso no setor
chamar esse tipo de certificação de "selo da agricultura sustentável. Essa Usina
verde". E importante que o consumidor conquistou mais de 50% do mercado mundial
consciente se informe sobre a qualidade desse do açúcar sem agrotóxico. A Usina procura
selo verde, e procure fazer suas compras conciliar uma produção de alta qualidade e
valor agregado com a preservação de
No Brasil existe a AAO - Associação de Agricultura Orgânica, que promove todos os sábados uma feira de produtos
orgânicos, no Parque da Água Branca, na Capital do Estado de São Paulo. Alguns de seus fornecedores mantêm lojas com
seus produtos na Capital do Estado, e oferecem serviços de entrega de produtos em casa. Há produção orgânica na maioria
dos estados do país, uma forma de se obter essa informação é através das faculdades de agronomia de cada estado.
recursos naturais. As fazendas ligadas à normalmente queimam seu lixo ou depositam
usina produzem açúcar sem o uso de os rejeitos em locais próximos às suas habita-
agrotóxicos ou adubos químicos. Cerca de ções ou em terrenos baldios, encostas e cursos
1.250 ha dessas fazendas são destinados à d'água, ou, ainda, em terrenos públicos, cau-
vegetação nativa, em áreas preservadas ou de sando, dessa forma, danos ao meio ambiente e
reflorestamento, e pode-se ver cenas incomuns impactos nocivos sobre a saúde humana. Uma
como bosques de árvores brasileiras que parcela muito pequena do lixo gerado é
ladeiam os canaviais. Por exigência da recuperada em centrais de triagem e
certificadora, a Farm Verified Organic (FVO), o beneficiamento para reciclagem.3
manejo ecológico estende-se a todas as etapas
A gestão sustentável dos resíduos sólidos
de produção (FSP, janeiro 2000).
deve ser baseada no tripé dos "3 Rs", a saber:
Alguns países adotam normas para regular redução (do uso de matérias-primas e energia e
o sistema de produção orgânica de alimentos. do desperdício nas fontes geradoras), reutilização
Em 1990, o Congresso norte-ameri-cano direta dos produtos, e reciclagem de materiais.
incorporou a Lei de Proteção da Alimentação
Orgânica a um projeto de lei regulamentador da Os programas de coleta seletiva de maior
agroindústria determinando que o sucesso são aqueles que incorporam parcerias
departamento de agricultura norte-americano entre a comunidade e as empresas de
criasse um programa nacional de agricultura reciclagem, o que contribui para a redução dos
orgânica, que deveria estabelecer padrões custos dos programas. Dentre as experiência
nacionais para produção e transporte de interessantes, constam parcerias entre
produtos orgânicos. prefeituras e grupos de idosos, escoteiros,
sociedades de bairro, catadores de lixo, pre-
2.1.2. COLETA SELETIVA E RECICLAGEM sidiários, etc.
3
Fonte: BNDES
• Fazer composteiras em sítios, fazendas, gia elétrica; decoração com móveis e
condomínios, clubes, com material objetos desenvolvidos a partir de maté-
orgânico (restos de comida), para pro- rias-primas naturais, recicladas ou
dução de adubo para plantação e jar- reutilizadas, etc);
dins; • Capacitação de profissionais para atu-
• Utilizar o papel frente e verso, antes de ação na área de habitação ecológica.
enviá-lo para a reciclagem;
4
Consultar site do IDHEA - Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica - http://www.ecosnet.com.br/
muitas medidas podem e devem ser estimula- e os comerciantes e vendedores estão des-
das, demonstrando o verdadeiro compromisso cansando (à noite). Se não houver um equilí-
ético das empresas, como por exemplo: gerar brio por parte do consumidor, o @business
empregos e cursos de capacitação para os pode se tornar mais uma fonte de pressão so-
excluídos do mercado de trabalho, como os bre os já degradados recursos ambientais, por
portadores de deficiências, idosos, mulheres, potencializar o consumo.
etc. O respeito pelos direitos do trabalhador
também deve ser considerado, e o consumidor 2.3. GOVERNOS
deve estar alerta para deixar de consumir bens
Os governos devem auxiliar nas campa-
de empresas que não respeitam os direitos
nhas de consumo sustentável, estimulando o
mínimos já assegurados por leis e tratados
aumento das opções para o consumidor poder
internacionais.
agir com respeito ao meio ambiente. O cidadão
Com o advento do @business (comércio consciente do importante papel do governo na
eletrônico), ainda é difícil constatar o impacto promoção do desenvolvimento sustentável
dessas atividades sobre o meio ambiente. Mas deve desempenhar seu direito de escolha
é preciso que fiquemos atentos. O @business, diante das urnas buscando eleger candidatos
ou comércio eletrônico, possibilita a aquisição comprometidos com o desenvolvimento
de bens via Internet, sem deslocamento até sustentável, para os cargos legislativos e
algum local de comércio. Dessa forma torna-se executivos. Candidatos que não tenham pro-
possível a diminuição da utilização de veículo posta nas áreas ambiental e social, hoje, estão
individual, o que pode implicar a redução das em desacordo com a evolução dos tempos.
emissões de poluentes atmosféricos. Isso tem
Diversas são as formas pelas quais um
impacto positivo sobre o meio ambiente. Não se
governo pode estimular padrões sustentáveis
pode deixar de considerar, no entanto, que a
de produção e consumo. Um estudo norte-
empresa que disponibiliza o bem contará com
americano5 aponta 4 áreas principais em que
meio de transporte para entrega do bem na
isso pode se dar:
casa do consumidor, o que implica
deslocamento. Porém, isso implica um número • Obrigar o mercado a agir em prol do
menor de veículos nas vias públicas, na medida meio ambiente;
em que esse meio de transporte atende a • Estabelecer padrões ambientais exigen-
vários consumidores, o que pode gerar tes;
benefícios para a qualidade do ar.
• Investir no meio ambiente;
Essa nova forma de comércio pode esti-
mular maior consumo - e é nisso que os em- • Tornar o zoneamento (normas de uso e
preendedores apostam. O @business possi- ocupação do solo) compatível com a
bilita ao consumidor a aquisição de bens du- proteção do meio ambiente;
rante as 24 horas do dia, portanto, inclusive no »
horário em que o comércio está fechado, Para cada uma das áreas acima, uma
grande quantidade de ações pode ser esti-
mulada. Destacamos algumas.
5
Brower e Leon; 1999.
Com relação ao mercado, o governo pode Na regulamentação desses setores, o governo
estabelecer políticas que garantam a pode exigir o atendimento de exigências
internalização dos custos ambientais no custo ambientais, como a comercialização, no caso
final dos produtos. Ou seja, o preço final de um das energéticas, de parte da energia fornecida
produto terá que incluir os gastos com a como oriunda de fontes energéticas renováveis,
correção dos danos ao meio ambiente perpe- como sol, vento, água, por exemplo. O go-
tradas durante sua fabricação e de prevenção verno, pode ainda, estabelecer patamares de
desses mesmos danos. Hoje, esses preços não exigências ambientais, que, ao serem atendi-
são contabilizados. O governo deve deixar de dos pelas empresas, são reconhecidas pelo
subsidiar atividades econômicas que causem governo como empresas que respeitam o meio
danos significativos ao meio ambiente. Histori- ambiente, uma espécie de certificação
camente, os governos têm concedido subsídios ambiental governamental.
a áreas de interesse para a economia dos seus
Estados (ex. setor petroleiro). Isso porém, pode Muitos são os investimentos que os go-
implicar enormes danos ao meio ambiente. O vernos podem estimular ou realizar para pro-
governo pode também estabelecer impostos mover a proteção do meio ambiente, princi-
sobre produtos e atividades danosos ao meio palmente no campo da pesquisa e do desen-
ambiente. Esse tipo de iniciativa, no entanto, é volvimento tecnológico. Podem, também, fo-
extremamente impopular, dado o excessivo mentar o ensino e a pesquisa nessa área. Em
volume de impostos pagos por produtores em seu papel regulamentador, devem fomentar o
muitas economias, que recaem sobre o preço investimento em práticas de consumo susten-
final ao consumidor. Outra forma de agir é tável. Além disso, têm responsabilidade pela
prevendo a isenção de impostos, medida promoção do consumo sustentável na medida
menos controvertida. em que consomem em larga escala. Alguns
exemplos de iniciativas governamentais
Os governos devem estabelecer padrões
promovidas no exterior e no Brasil são citados
rígidos de respeito ao meio ambiente a serem
a seguir.
atingidos pelas empresas. Muitas vezes, me-
canismos de mercado, exclusivamente, não Durante seu primeiro mandato, o Presi-
bastam para garantir respeito aos direitos dos dente norte-americano Bill Clinton editou uma
cidadãos. Alguns produtos que têm custo e norma executiva (Executive Order Number
interesse marginal muitas vezes dependem da 12873) que obrigava os órgãos do governo
intervenção regulatório do Estado, que pode federal a promoverem seus processos de com-
estabelecer maior rigidez de padrões de pro- pras por meio de licitações baseadas em regras
dução. Um exemplo tem se dado no setor de de respeito ao meio ambiente e à cidadania.
refrigeração que foi obrigado, em muitos pa- Dentre as regras previstas nessa norma,
íses, a atender padrões de emissão compatí- incluiu-se a obrigatoriedade da aquisição de
veis com a proteção do meio ambiente, e a materiais reciclados, como o papel, óleos
substituir os gases que escapavam desses uten- lubrificantes re-refinados; pneus
sílios por outros que não causassem danos à reaproveitados. A exemplo do governo federal,
camada de ozônio. O poder do governo ainda alguns estados norte-americanos também
reside na competência de exigir maior efi- estabeleceram normas obrigando os órgãos de
ciência ambiental das empresas prestadoras de governo estaduais e adquirirem produtos
serviços básicos, sejam elas estatais ou não, "amigos do ambiente", como papel reciclado.
como empresas de abastecimento e esgota- Dentre esses estados, pode-se citar Nova York,
mento sanitário ou de energia, por exemplo. Califórnia e Oregon.
No Estado de S. Paulo, durante a gestão escolas, inclusive, autorizam que as portas de
do Secretário de Estado do Meio Ambiente seus estabelecimentos se transformem em
(1995-1998), Fábio Feldmann, foi aprovada outdoors volantes, ao permitirem que empresas
norma que obrigava os órgãos do governo façam campanhas de seus produtos por
estadual do meio ambiente a adquirem ocasião de festividades como a Páscoa e o
produtos (principalmente de refrigeração e ar- Natal, por exemplo, distribuindo folhetos e
condicionado) que não emitissem substâncias amostras grátis. Os outdoors fixos também são
destruidoras da camada de ozônio. fonte constante de pressão em prol do consu-
As futuras gerações : Bebês, Crianças e mir "mais e mais" e constituem importante fonte
Adolescentes : consumidores de hoje e cida- de poluição visual nos centros urbanos. É
dãos de amanhã preciso que a sociedade "acorde" para esse
abuso. Exija que se estabeleça um controle
Os adolescentes, crianças e até bebés são sobre os meios de comunicação e sobre as
alvos prioritários de campanhas publicitárias e práticas abusivas de propaganda, para evitar
de marketing. Diversos são os meios pelos quais danos à formação das futuras gerações. 6
são bombardeados de mensagens publicitárias,
que em nada estimulam o consumo sus- Na família muito se pode fazer para esti-
tentável. Este deve ser considerado um públi- mular um padrão de consumo adequado, res-
co-alvo prioritário para campanhas de educa- ponsável, que considere fatores ambientais e
ção em prol do consumo sustentável, pois são sociais. Os pais e familiares devem se per-
os consumidores de hoje, mas serão também guntar e se policiar quanto aos seus atos dia-
os cidadãos de amanhã. Esses cidadãos po- riamente, sobre aspectos como:
derão exigir as mudanças de padrões de pro- - Qual é a medida certa de exposição de
dução e consumo propugnadas neste estudo. uma criança ou jovem às mensagens da
Vivemos uma situação de abuso da mídia televisão, do rádio e da Internet?
tão absurda, que podemos assistir a mensa- - Evitar a exposição excessiva à televisão.7
gens de publicidade dirigidas aos bebés, in-
- Que visão crítica estamos passando
capazes de compreender a dinâmica de uma
para nossos filhos sobre a grande
sociedade materialista e consumista. Os veí-
mídia?
culos que procuram atingir esses seres ino-
centes prestam um enorme desserviço à for- - Evitar estimular que bebés e crianças se
mação de uma sociedade digna. Violam prin- tornem conhecedores de marcas.
cípios morais e éticos fundamentais. Muitas
6
Um pacto interessante a ser estimulado pelos cidadãos com empresas e municípios seria o do estabelecimento de "zonas
livres da poluição propagandística".
7
Alguns grupos de cidadãos conscientes sobre o impacto nocivo da mídia sobre o comportamento de crianças, jovens e
adultos realizam campanhas de boicote a certos meios de comunicação. Recentemente circulou amplamente pela
Internet a campanha: DESLIGUE SUA TELEVISÃO POR UMA SEMANA, cuja meta era "Criar espaço para o pensamen-
to". A campanha propunha como objetivo imediato desse ritual social encorajar mais pessoas a criarem seu próprio tipo
de diversão, o que consideraram como um forte gesto de soberania do consumidor. O site desse grupo é : http:/
/www.adbusters.org/home/
- Evitar o estímulo ao consumo de rótulos ca, econômico, científica, artística, institucional,
e imagens. dentre outras, devem ser amplamente promovi-
das e divulgadas a fim de que se consolide no
- Evitar dar produtos de plástico para be-
Brasil a cons-ciência e a prática da produção e
bês e crianças, pois contêm substâncias
do consumo sustentáveis.
nocivas se levados à boca (ex.: bonecos
de plástico, brinquedos de plástico). Endereços, Links na Internet e Fontes de
Consulta para Aprofundamento no Tema
- Estimular o consumo de bens de primeira
necessidade que sejam produzidos de
forma a respeitar o meio ambiente e os ENDEREÇOS:
direitos humanos (por exemplo, evitando
a compra de produtos fabricados medi- EM PORTUGUÊS
ante escravidão infantil), sempre explican-
a) Instituto Brasileiro de Defesa do
do as razões porque se opta por esse ou
Consumidor (IDEC)
aquele produto.
Site: http://www.idec.org.br/
b) Associação de Agricultura Orgânica
CONCLUSÕES (MO)
Endereço:Av. Fonseca Matarazzo, 455
As ações para se alcançar o consumo sus-
- CEP: 05001 -900 - Cidade: São Paulo
tentável devem ser promovidas no nível micro
- Estado: SP Telefone: (011)263-8013
e macro, ou seja desde o lar ou local de traba-
Fax: (011)263-8013 Correio
lho ou estudo, até as empresas e instâncias
eletrônico: organica@uol.com.br
públicas, nacionais e internacionais, de tomada
de decisão. Os bens e serviços disponíveis no c) CEMPRE - Compromisso Empresarial
mercado devem se tornar "mais limpos" e para a Reciclagem
eficientes, mas o padrão de consumo deve ser http://www.brahma.com.br/reciclag/
monitorado e controlado constantemente, para recicl96/cempre.htm
se evitar um aquecimento do consumo, mesmo d) Ministério do Meio Ambiente, dos
que de bens ecologicamente adequados. Recursos Hídricos e da Amazônia Legal
O grande desafio que se coloca para os http://www.mma.gov.br
cidadãos, empresas e governos é buscar e) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
implementar um conjunto de medidas, diretri- dos Recursos Naturais Renováveis
zes, propostas, projetos, enfim, ações no sentido http://www.ibama.gov.br
de promover o consumo e a produção sustentá-
Em inglês
veis. Isso só vai se tomar possível pelo incremen-
to das iniciativas educacionais no campo do a) Movimento "Altematives for Simple
desenvolvimento sustentável, hoje concentrado Living" (Alternativas para viver com
nas iniciativas de educação ambiental. Além des- simplicidade)
sas iniciativas educativas, condições inequívo- Endereço: 5312 Morningside Ave, PO
cas para a implantação de programas de estí- BOX 2857, SiouxCity, IA, 51106-0857,
mulo à produção e ao consumo sustentáveis, Estados Unidos Site:
deve-se buscar integrar uma série de instrumen- www.SimpleLivinq.org
tos, de diferente natureza, para alcançar os fins email: Alternatives@SimpleLiving.org
últimos do consumo sustentável. Medidas com-
plementares de ordem cultural, política, jurídi-
b) The Center for a New American mento Sustentável / Padrões de
Dream produção e consumo
Endereço: 6930 Carroll Ave, Suite http://www.un.org/esa/sustdev/
900, Takoma Park; Maryland, EUA, conprod.htm
20912
g) Food First
Fone: 1 -301 - 891 3683 - Fax: 1
http: //www.foodfirst.org
-301 -8913684
http://www.newdream.org/ h) Consumers International
Programa de Meio Ambiente: http:/
c) Food First
/www.consumersinternational.org/
http://www.foodfirst.org
campaigns/
d) Consumers International Programa index. html#environment
de Meio Ambiente: http:/
i) Greenpeace Internacional
/www.consumersinternational.org/
http://www.greenpeace.org/
campaigns/
index. html#environment j) Organização das Nações Unidas
(ONU) - Programa de Desenvolvi-
e) Greenpeace Internacional
mento Sustentável / Padrões de
http://www.areenpeace.org/
produção e consumo
f) Organização das Nações Unidas http://www.un.org/esa/sustdev/
(ONU) - Programa de Desenvolvi- conprod.htm
Política Nacional de Educação Ambiental
COORDENAÇÃO GERAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (COEA)1
Lucila Pinsard Vianna (coordenadora); Patrícia Ramos Mendonça, José Leitão de Albuquerque Filho, Júlia Cleto Bueno,
Regina Oliveira, Paulo Costa e Sonia Marina Murhinger.
2. BREVE HISTÓRICO E DEFINIÇÃO DA os recursos naturais podem ser finitos e, ainda,
EDUCAÇÃO AMBIENTAL que há uma dinâmica biológica e geográfica de
renovação destes recursos, percebeu a
importância de conservá-los. Num segundo
No processo histórico de percepção das
momento, já na década de 80, passou a avaliar
consequências da ação humana sobre a na-
a importância de considerar esta dinâmica da
tureza foram sendo utilizados conceitos que
natureza nos processos econômicos e sociais.
expressam diferentes graus e recortes na per-
Desta segunda constatação nasce a idéia de
cepção da mesma. Por exemplo, os conceitos
sustentabilidade - que expressa a
de ecossistema e biodiversidade. Esses con-
compatibilidade e equilíbrio entre o
ceitos, apropriados pelos movimentos em de-
desenvolvimento social com qualidade e as
fesa do meio ambiente, foram moldando outros
condições naturais de manutenção da vida no
como o de preservação e conservação. E o de
planeta. Os desafios que se impõem neste final
meio ambiente. Esse, inicialmente, foi
de século são o de reinterpretarmos o lugar do
concebido como modo de apreender dimen-
homem no mundo e reavaliarmos os
sões da natureza. Todavia, o conceito de meio
referenciais que têm orientado as ações das
ambiente, reduzido exclusivamente aos seus
diferentes sociedades e culturas diante da na-
aspectos naturais, não contempla as
tureza e na construção de ambientes. A edu-
interdependências e interações com a socie-
cação torna-se fator fundamental para a pro-
dade, nem a contribuição das ciências sociais à
moção do desenvolvimento sustentável e de
compreensão e melhoria do ambiente humano.
uma efetiva participação na tomada de deci-
Hoje, compreendemos meio ambiente "(.••)
sões. A idéia de Educação Ambiental é con-
considerando a interdependência entre o meio
cebida no interior do movimento ambientalista
natural, o sócio-econômico e o cultural, sob
como um instrumento para envolver os cida-
enfoque da sustentabilidade.'' (art. 4, inciso II,
dãos em ações ambientalmente corretas em
da Política Nacional de Educação Ambiental).
busca de uma sociedade sustentável. Mas foi
Isto demonstra como uma lei retrata o
no universo da educação que o termo Edu-
momento histórico em que foi elaborada e
cação Ambiental foi criado, com a recomen-
porque as leis devem ser reavaliadas de
dação de que deveria tomar-se parte essencial
tempos em tempos.
da educação de todos os cidadãos (Con-
Os movimentos e ações da sociedade em ferência de Educação da Universidade de
busca da conservação da natureza são, desde Keele, Inglaterra, 1965).
os seus primórdios, reação à destruição de,
A Educação Ambiental pretende aproximar
num primeiro momento, espécies, e a partir da
a realidade ambiental das pessoas, para que
concepção dos conceitos de ecossistemas e
elas percebam que a dimensão ambiental
posteriormente de biodiversidade, esta pre-
impregna suas vidas, e que cada um tem um
ocupação e reação vai se ampliando. O modelo
papel e responsabilidade sobre o que ocorre no
de desenvolvimento gerado a partir da
ambiente. Nesta perspectiva a Educação
Revolução Industrial (final do séc. XVIII) pro-
Ambiental é uma proposta de educação para
voca aumento qualitativo e quantitativo no
refletir sobre as formas de relações entre as
processo de destruição da natureza. Em pa-
sociedades e a natureza, entre os diferentes
ralelo, provoca a organização da sociedade em
grupos sociais, sobre a ética e o direito à vida
torno da conservação da natureza, moldando o
em todos os aspectos. A Educação Ambiental
movimento ambientalista.
se propõe, ainda, a dar condições aos
Desde que a humanidade constatou que educandos de se posicionarem e agirem em
busca de caminhos mais justos e solidários holístico, democrático e participativo - afinal o
para os desafios do processo de construção, uso, ocupação e transformação do meio
ocupação e transformação do mundo natural, ambiente é um processo que gera conflitos de
social, cultural e ético. interesses entre diferentes atores sociais. Estes
conflitos determinam não só o modo como os
Mas o conceito de Educação Ambiental
atores intervêm no meio ambiente, mas também
também foi mudando ao longo do tempo e
o modo de distribuição na sociedade dos
ainda está em construção. Originalmente, a
custos e benefícios consequentes desta inter-
dimensão da Educação Ambiental, tal qual a de
venção; o pluralismo de idéias e concepções
meio ambiente, estava vinculada ao conceito
pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e
de natureza e ao modo como esta era
transdisciplinaridade, respeitando assim a au-
percebida. Hoje se acentua a necessidade de
tonomia do aluno; a vinculação entre a ética, a
considerar os diversos aspectos de uma dada educação, o trabalho e as práticas sociais; a
situação ambiental e também o conceito de garantia de continuidade e permanência do
Educação Ambiental incorpora as dimensões processo educativo; a permanente avaliação
socioeconômica, política, cultural e histórica. A crítica do processo educativo; a abordagem
Primeira Conferência Intergovernamental em articulada das questões ambientais locais,
Educação Ambiental - Tbilisi/77 - define regionais, nacionais e globais; o
educação ambiental como "uma dimensão reconhecimento e o respeito à pluralidade e à
dada ao conteúdo e à prática da educação, diversidade individual e cultural, considerando
orientada para a resolução dos problemas que cada cultura delineia diferentes modos de
concretos do meio ambiente através de relações sociais e de relações com a natureza,
enfoques interdisciplinares e de uma partici- inclusive de entendimento, percepção, valores
pação ativa e responsável de cada indivíduo e e atitudes em relação a esta natureza.
da coletividade". A Política Nacional de Edu- O art. 5o da PNEA define como objetivos
cação Ambiental, em seu artigo 1o, define fundamentais da Educação Ambiental:
Educação Ambiental da seguinte maneira:
"I - o desenvolvimento de uma compre-
"entendem-se por educação ambiental os pro-
ensão integrada do meio ambiente em suas
cessos por meio dos quais o indivíduo e a
múltiplas e complexas relações, envolvendo
coletividade constroem valores sociais, conhe-
aspectos ecológicos, psicológicos, legais, po-
cimentos, habilidades, atitudes e competências
líticos, sociais, económicos, científicos, cultu-
voltadas para a conservação do meio am-
rais e éticos;
biente, bem de uso comum do povo, essenci-al
à sadia qual idade de vida e sua II - a garantia de democratização das in-
sustentabilidade." E complementa: "A educa- formações ambientais;
ção ambiental é um componente essencial e III - o estímulo e o fortalecimento de uma
permanente da educação nacional, devendo consciência crítica sobre a problemática
estar presente, de forma articulada, em todos ambiental e social;
os níveis e modalidades do processo educativo, IV - o incentivo à participação individual
em caráter formal e não-formal" (art.2o). e coletiva, permanente e responsável, na pre
Os conceitos expressos na definição de servação do equilíbrio do meio ambiente, en-
Tbilisi foram incorporados pela PNEA como tendendo-se a defesa da qualidade ambiental
objetivos e princípios da EA. Diz a PNEA no como um valor inseparável do exercício da
artigo 4o que são princípios básicos da Edu- cidadania;
cação Ambiental: o enfoque humanista,
V - o estímulo à cooperação entre as di o Poder Público em geral e a sociedade como
versas regiões do País, em níveis micro e um todo têm a responsabilidade de promover a
macrorregionais, com vistas à construção de EA, permeando suas ações, seus projetos e
uma sociedade ambientalmente equilibrada, programas; sustentabilidade - a EA deve ser
fundada nos princípios da liberdade, igualda trabalhada dentro de um enfoque holístico, por
de, solidariedade, democracia, justiça social, meio de uma prática democrática, participativa
responsabilidade e sustentabilidade; e inclusiva, abordando a concepção de meio
ambiente em sua totalidade, ressaltando a
VI - o fomento e o fortalecimento da
interdependência entre o meio natural e os
integração com a ciência e a tecnologia;
processos socioeconômicos, políticos e
VII - o fortalecimento da cidadania, auto- culturais. Estes enfoques visam à construção de
determinação dos povos e solidariedade como uma prática sustentável; e, por fim, a
fundamentos para o futuro da humanidade." capacitação como estratégia fundamental
de implementação da EA, tanto no ensino
formal como no não- formal. Assim, a formação
3. A POLÍTICA NACIONAL DE não deve restringir-se ao âmbito da educação
EDUCAÇÃO AMBIENTAL formal mas deve abranger também os
tomadores de decisão, gestores, agentes dos
De fato o papel da EA já estava reconhe- meios de comunicação da mídia, líderes co-
cido, internacional e nacionalmente, muito munitários; e informação, produção e di-
antes da promulgação da Política Nacional de vulgação de material educativo para
Educação Ambiental, basta ver a profusão de instrumentalizar a sociedade para a prática de
documentos, tratados, cartas de recomen- Educação Ambiental. São ainda destaques da
dação, portarias, etc. existentes (ver em anexo PNEA: o estímulo à democratização das
os documentos importantes relacionados à EA). questões ambientais, o incentivo à par-
Com base nessas recomendações, acordadas ticipação individual e coletiva, permanente e
em âmbito internacional, o Congresso Nacional responsável para a defesa ambiental e a
instituiu a Política Nacional de Educação definição de qualidade ambiental como valor
Ambiental por meio da Lei n.° 9.795 de 27 de inseparável da cidadania.
abril de 1999. Essa lei, por sua vez, está sendo No que diz respeito ao ensino formal, a
regulamentada visando ao seu detalhamento e grande novidade da Política Nacional de Edu-
operacionalização eficaz. cação Ambiental é que ela, atendendo às re-
Assim, a Lei reproduz as concepções bási- comendações da pesquisa educacional da
cas da Educação Ambiental, as mesmas que UNESCO e de todos os tratados internacionais
têm sido discutidas pelos educadores e que cons- sobre EA, propõe a integração da EA às
tam nos documentos internacionais e que já disciplinas. Segundo a lei, a presença no
estavam expressas no Programa Nacional de ensino formal da Educação Ambiental deve
Educação Ambiental. Retomando: abranger, de modo integrado, os currículos das
interdisciplinaridade - a EA deve ser exercida instituições de ensino públicas e privadas,
como uma prática integrada em todos os níveis englobando: Educação Infantil; Ensino
e modalidades de ensino; direito coletivo - Fundamental; Ensino Médio, Educação
todos têm direito à educação ambiental; Superior; Educação Especial; Educação
responsabilidade coletiva - o Sistema Na- Profissional; Educação de Jovens e Adultos.
cional do Meio Ambiente (Sisnama), o Sistema Ou seja, torna obrigatório tratar a dimensão
Educacional, os meios de comunicação, ambiental em todos os níveis e modalidades
de ensino, mas ela não deverá ser implantada absorção da dimensão ambiental nos con-
como disciplina específica no currículo de teúdos específicos de suas disciplinas. Ao Po-
ensino. Aliás, é vetado por esta lei tratar a EA der Público e às instituições de ensino compete
como uma disciplina. Esta é também a reco- definir e desenvolver estratégias de
mendação dos PCN do Ensino Fundamental. implementação da lei. É, portanto, um
parâmetro para definição de políticas públicas
Mas por que a Lei, se ela reproduz o que
nas diferentes esferas de governo. Os PCN, por
já estava definido de alguma forma? O que de
exemplo, fazem parte da política de formação
fato uma Lei muda na vida de cada um?
da Secretaria de Ensino Fundamental. E
Em primeiro lugar, porque a Política Na- propõem a imple-mentação da EA na escola de
cional de EA institucionaliza e legaliza a Edu- forma transversalizada, cumprindo assim os
cação Ambiental. Em segundo, a PNEAé um preceitos da PNEA. "A ausência de políticas
avanço importante que consolida um enten- abrangentes e explícitas pode corresponder á
dimento amplo da Educação Ambiental re- dispersão das ações e, muitas vezes, à
tratado nos seus princípios básicos. submissão da gestão pública ao livre jogo das
Uma lei tem muitas funções e a principal pressões promovidas por interesses
delas é garantir direitos e deveres dos cida- individuais. O que significa que a ausência de
dãos, da sociedade, do Poder Público. Mas ela políticas explícitas pode corresponder ao
só garante de fato se houver participação exercício de políticas inconfessáveis". (...) "Elas
efetiva dos cidadãos para que seja cumprida. constituem o arcabouço legal que, associado
Saber que a lei existe já nos permite recorrer a ao institucional, serve de referência para as
ela quando estivermos envolvidos com o as- lutas pela promoção e garantia dos direitos
sunto tratado por ela. sociais, pela efetividade das ações públicas."
(Moisés, in WWF/Ecopress-2000)
A Política Nacional de Educação
Ambiental é uma proposta programática de DUAS ÚLTIMAS OBSERVAÇÕES:
promoção da Educação Ambiental em todos os
• Não queríamos passar a idéia de que a
setores da sociedade. Diferente de outras leis,
Educação Ambiental deve penetrar o uni-
não estabelece regras ou sanções, apesar de
verso escolar pela força da lei, nem que é
estabelecer responsabilidades e obrigações,
dando às questões ambientais tratamento a por essa razão que o tema Meio Ambiente foi
longo prazo envolvendo as instituições de incluído nos Parâmetros Curriculares. E por
ensino e todas as organizações go- seu valor enquanto dado de grande im-
vernamentais e não-governamentais. Quando a portância da realidade social que a presença
PNEA inclui a EA na escola, de forma oficial, da temática ambiental se impôs (e já estava
significa tratarmos as questões ambientais de se impondo sem lei e sem parâmetros) nas
modo duradouro, abrangente e profundo. salas de aula. A lei é apenas uma
Assim, as gerações que hoje participam do consequência da pertinência, da urgência e
processo educacional formal têm, com a Lei n. do prestígio que o tema Meio Ambiente, de
9.795/99, o argumento e o amparo legal para fato, conquistou no interior da vida social.
exigir de professores, orientadores • E ainda: a lei não garante que a EA aconteça
pedagógicos e direção escolar a inclusão da na escola, muito menos garante sua
Educação Ambiental em seu processo qualidade. E aí que entra o papel do Poder
educativo. Por outro lado, os educadores terão Público - MEC, Secretarias de Educação (no
a possibilidade de fundamentar e enriquecer caso da EA formal) - e do cidadão. Do
sua prática pedagógica, com a
cidadão, porque ele pode utilizar-se da lei sam trabalhar com a temática ambiental e
para legitimar, regular e parametrar suas praticar a EA na Escola, envolvendo toda co-
ações e, ainda, cobrar seus direitos. Do munidade escolar, associada ao projeto
Poder Público porque é sua responsabilidade educativo e garantindo sua prática. Afinal, um
implantar a lei, garantindo opções para que a projeto que envolva a questão ambiental não
prática da EA se realize nas escolas, termina nunca. A EA na escola proposta pela
informando, estabelecendo diretrizes, agindo COEA é a inserção da temática ambiental no
de forma integrada, produzindo e divulgando currículo, mas também é a adoção de uma
materiais, proporcionando participação, nova postura de toda escola, de prática e
formando professores, ga-ran tind o ações atitudes, que podem ser exercitadas em
descentralizadas, disponibilizando recursos projetos, considerando que a EA trata de
humanos e materiais, de forma participativa conteúdos que devem ser vivenciados.
e inclusiva.
Considerando os pressupostos da Política
No que diz respeito ao MEC, podemos Nacional de Educação Ambiental, aliados à sua
elencar algumas ações da Coordenação Geral missão institucional, como órgão público
de Educação Ambiental, cujo universo de federal, de indutor e formulador de políticas que
trabalho é o Ensino Fundamental. garantam a qualidade de ensino, a Coor-
denação Geral de Educação Ambiental tem a
seguintes estratégias de trabalho:
4. SOBRE A COORDENAÇÃO GERAL DE Articulação - garante a participação e o
EDUCAÇÃO AMBIENTAL trabalho integrado dos parceiros, estimulando a
cooperação entre as diversas regiões e
A estruturação da Coordenação Geral de instituições do país. Pretende-se, com isso,
Educação Ambiental (COEA) na Secretaria da formar uma Rede de Professores de Educação
Educação Fundamental (SEF) ocorreu efetivamente Ambiental, fortalecendo os Centros de EA, os
no segundo semestre de 1999. Uma das mis- conselhos interinstitucionais; promover encon-
sões institucionais dessa coordenação é estimu- tros e oficinas para debater as tendências da
lar ações que propiciem a melhoria da formação Educação Ambiental no Brasil e realizar par-
de professores e uma aprendizagem diversificada cerias para implementação de projetos.
dos alunos, de modo que possam ter instrumen- Institucionalização - busca
tos para se posicionar diante das questões universalizar a Educação Ambiental no ensino
ambientais brasileiras e globais. Consonante com formal e garantir sua permanência e con-
as políticas da SEF, a COEA definiu duas di- tinuidade. Nesse sentido, pretende-se inserir a
mensões de ação para implementar a Educação EA nos programas do Ministério da Educação
Ambiental no ensino formal: trabalhar com pro- para promover linhas de financiamentos para
jetos de Educação Ambiental no Convívio Esco- projetos de EA; adaptar e divulgar a Agenda 21
lar e inserir o tema Meio Ambiente nas disciplinas institucional dentro do Ministério; orientar a
do Ensino Fundamental, segundo referenciais dos elaboração de projetos de EA de modo que
PCN em Ação. sejam inseridos no contexto escolar e,
A preocupação da Coordenação Geral de finalmente, elencar indicadores que possibilitem
Educação Ambiental é de produzir uma política a inserção da EA no censo escolar.
de EA que oriente os professores em suas Formação continuada para professores
práticas. A COEA está empenhada em - é a principal política da Secretaria da
propiciar meios para que os professores pos-
Educação Fundamental do MEC, prevista na Uma regulamentação não muda o texto da
LDB, e é uma das estratégias fundamentais para lei, ela tem a função de explicitar, detalhar e
implantação de EA nas escolas, segundo orien- complementar alguns artigos. Nesta regula-
tação da PNEA. Pretende-se disponibilizar cursos mentação, o que é imprescindível é a definição
de Educação Ambiental a distância; implantar da composição e a atuação do Órgão Gestor,
os PCN em Ação de Meio Ambiente e elaborar responsável pela implementação da Política
projetos de gestão ambiental em escolas isola- Nacional de Educação Ambiental. As diretrizes
das. de implantação serão definidas posteriormente
por meio de uma portaria interministerial. As
Produção e disseminação de infor-
diretrizes definem detalhadamente quem faz "o
mações - garante a democratização das in-
que" e "como". E importante que sejam
formações de EA e contribui para capacitação
amplamente discutidas e que aqueles que
dos profissionais de EA. Pretende-se elaborar
efetivamente trabalhem ou têm
um banco de dados sobre projetos e iniciativas
responsabilidade de promover a Educação
de EA no ensino formal, home page, lista de
Ambiental se envolvam e participem na
discussões, publicações para subsidiar a for-
definição destas diretrizes, expressando suas
mação continuada de professores e, ainda, par-
dificuldades, experiências, êxitos, etc. O fato de
ticipar dos programas de divulgação do MEC
serem definidas por meio de portaria confere a
através da TV Escola e da TV Executiva.
flexibilidade às diretrizes para modificá-las e
Acreditamos que a nossa missão adequá-las, se assim for avaliado, conforme as
institucional associada às estratégias para experiências de implantação.
implementá-la abarcam parte do universo da
O processo de discussão da regulamenta-
EA no Ensino Fundamental. Não é um trabalho
ção da Política Nacional de Educação
fácil, pois a proposta da Educação Ambiental é
Ambiental no CONAMA iniciou-se em junho/
incentivar mudanças no comportamento, valo-
99, na Câmara Técnica de Educação
res e atitudes os quais ocorrem de forma
Ambiental, na qual o MEC tem a presidência, e
gradativa. Mas a perspectiva de inserir a escola
finalizou em março de 2000. Foi um processo
na participação do processo de melhoria da
longo para garantir a participação efetiva da
qualidade de vida significa um avanço para a
sociedade por meio dos conselheiros membros
sustentabilidade da vida no planeta.
da Câmara Técnica e se responsabilizou por
ampliar as discussões e envolver seus pares
para que a regulamentação fosse discutida da
5. ULTIMAS NOTÍCIAS: forma mais democrática possível. A ANAMMA -
A REGULAMENTAÇÃO DA PNEA Associação Nacional de Municípios e Meio
Ambiente, o GAMBÁ(ONG da Bahia), o MEC,
Considerando a natureza da matéria, o entre outros, promoveram discussões e
artigo 20 da Lei exige que sejam ouvidos o trouxeram sugestões importantes para a regula-
Conselho Nacional do Meio Ambiente mentação desta lei. Mas apenas em fevereiro,
(CONAMA) e o Conselho Nacional da Edu- após 6 reuniões da CT de EA, numa reunião
cação (CNE) para sua regulamentação. A conjunta da Câmara Técnica de Educação
Ambiental e da Câmara de Assuntos Jurídicos,
regulamentação da Lei foi discutida no
foi aprovada a versão final. Em seguida, du-
CONAMA e ainda está no início do processo de
rante a 57a Reunião Ordinária do CONAMA foi
discussão da CNE, o que começou a partir da
aprovada em plenário, com apenas um pe-
abertura dos trabalhos deste ano.
dido de destaque, acolhido em parte. cluindo os já representados no Comitê Assessor;
Como a COEA está na Secretaria de En- um representante do CNE - Conselho Nacional
sino Fundamental, e portanto não tem legiti- de Educação, indicado pelo mesmo; um
midade a priori para representar todas as ins- representante da UNDIME - União dos Diri-
tâncias do MEC, propusemos a criação de um gentes Municipais de Educação, indicado pela
Grupo de Trabalho para Assuntos de Meio mesma; um representante do IBAMA- Instituto
Ambiente, com a finalidade de estudar medidas Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
que visem implantar a Política Nacional de Renováveis, indicado pelo mesmo; um repre-
Educação Ambiental (Portaria n° 1.648, de 25 sentante da Associação Brasileira de Imprensa
de novembro de 1999). Este Grupo tem -ABI, indicado pela mesma; um representante
representantes de todas as Secretarias e foi o da Associação Brasileira de Entidades de Meio
fórum de discussão da proposta de re- Ambiente-ABEMA, indicado pela mesma.
gulamentação dentro do MEC e muito con- Após a discussão e aprovação pela plenária
tribuiu no sentido de adequar a lei a ser re- final no CNE, ambas versões de regulamenta-
gulamentada às legislações educacionais. ções serão transformadas em um único decreto
Um dos pontos mais importantes a desta- do presidente da República para que, finalmen-
car da versão da regulamentação aprovada no te, a Política Nacional de Educação Ambiental
CONAMA é a composição do Órgão Gestor. A seja regulamentada.
composição é a seguinte: Órgão Gestor com-
posto por membros dirigentes e por um Comitê
Assessor. Os membros dirigentes são o Ministé- ANEXOS
rio do Meio Ambiente e o Ministério da Educa-
1. PRINCIPAIS DOCUMENTOS
ção. O Comitê Assessor é composto de: um
INTERNACIONAIS DE REFERÊNCIAS PARA
representante indicado pelas Comissões Esta-
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
duais Interinstitucionais de Educação Ambiental;
um representante do setor produtivo patronal, Carta de Belgrado - em resposta às
indicado pelas Confederações Nacionais da recomendações da Conferência de Estocolmo
Indústria, do Comércio e da Agricultura, garan- (1972), A UNESCO promoveu em Belgrado
tida a alternância; um representante do setor (lugoslávia) um Encontro Internacional em
produtivo laboral, indicado pelas Centrais Sin- Educação Ambiental em 1975, que produziu
dicais, garantida a alternância; um represen- este documento. Nele define-se que a EA deve
tante das ONG - Organizações Não-Gover- ser: continuada, multidisciplinar, integrada às
namentais que desenvolvam ação em Educa- diferenças regionais e voltada para os
ção Ambiental, indicado pela ABONG- Asso- interesses nacionais. A Carta de Belgrado é um
ciação Brasileira de Organizações Não-Gover- dos documentos mais lúcidos e importantes
namentais; um representante indicado pelo Con- gerados nesta década. Fala sobre a satisfação
selho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil das necessidades e desejos de todos os
- OAB; um representante dos municípios, indi- cidadãos da Terra: temas como erradicação
cado pela ANAMMA - Associação Nacional dos das causas básicas da pobreza, da fome do
Municípios e Meio Ambiente; um representante analfabetismo, da poluição, da exploração e
da comunidade científica, indicado pela SBPC - dominação devem ser tratados em conjunto.
Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência; Nenhuma nação deve se desenvolver às cus-
um representante do CONAMA- Conselho tas de outra nação (ética global). A reforma dos
Nacional do Meio Ambiente, indicado pela processos e sistemas educacionais é central
Câmara Técnica de Educação Ambiental, ex- para a constatação dessa nova ética de
desenvolvimento. A juventude deve receber um cia da formação de recursos humanos nas áreas
novo tipo de educação e isto vai requerer um formais e não formais da EA e na inclusão da
novo e produtivo relacionamento entre estu- dimensão ambiental nos currículos de todos os
dantes e professores, entre escolas e a comu- níveis.
nidade, entre o sistema educacional e socie- A Declaração Mundial sobre Educação
dade. Finaliza com a proposta para um pro- para Todos: Satisfação das Necessidades
grama mundial de Educação Ambiental . A Básicas de Aprendizagem, aprovada na
carta de Belgrado aponta, entre outros, alguns Conferência Mundial sobre Educação para To-
princípios básicos da EA como o de contribuir dos, realizada em Jontien, Tailândia, de 5 a 9
para descobrir os sintomas e as causas dos de março de 1990, reitera: "confere aos mem-
problemas ambientais e para desenvolver bros de uma sociedade a possibilidade e, ao
senso crítico e habilidades necessárias para mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar
resolução de problemas. Recomenda, ainda, o e desenvolvera sua herança cultural, linguística
uso de ambientes educativos diversificados, e espiritual, de promover a educação de outros,
utilização de diferentes métodos pedagógicos, de defender a causa da justiça social, de prote-
realização de atividades práticas e de experi- ger o meio ambiente (...)."
ências pessoais, respeito ao conhecimento
Conferência das Nações Unidas sobre
prévio dos alunos
Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio/92,
Programa Internacional de Educação cujo principal documento assinado pelas partes
Ambiental - PIEA, 1975. Na ocasião, a foi a Agenda 21, que define ações
UNESCO empreendeu uma pesquisa para fundamentais nas quais os governos deverão
conhecer as necessidades e prioridades basear-se para elaboração de suas políticas
internacionais em EA com a participação de nacionais. Em seu capítulo 36 - Promoção do
80% dos países membros da ONU. Ensino, da Conscientização e do Treinamento -
A Conferência de Tbilisi - primeira propõe a reorientação do ensino no sentido do
conferência intergovernamental em Educação desenvolvimento sustentável e enfatiza a im-
Ambiental, organizada pela UNESCO em co- portância da educação permanente sobre o
laboração com o PNUMA, em outubro de 1977, meio ambiente, centrado em problemas locais.
constitui-se em um marco referencial. Neste
evento define-se a natureza da Educação
2. PRINCIPAIS DOCUMENTOS DE
Ambiental, seus objetivos, suas características
e estratégias pertinentes nos planos nacional e
REFERÊNCIA NACIONAIS PARA A
internacional, referendando o Programa EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Internacional de Educação Ambiental. Foi o
Ecologia - uma proposta para o Ensino de
ponto culminante da primeira fase do Programa o
e 2o graus", de 1979, publicado pelo
Internacional de Educação Ambiental, iniciado
Departamento do Ensino Médio - MEC e a
em 1975 pela UNESCO/PNUMA.
CETESB-SR
Estratégia Internacional de ação em
Política Nacional do Meio Ambiente -
matéria de educação e formação ambiental
Lei n° 6.938/81, que dispõe sobre fins,
para o decênio de 90 - documento final do
mecanismos de formulação e aplicação da Po-
Congresso Internacional sobre Educação e
lítica Nacional do Meio Ambiente, consagra a
Formação Relativas ao Meio Ambiente,
Educação Ambiental e estende, no seu Artigo
realizado em 1987 em Moscou, Rússia,
2o, inciso X, a "Educação Ambiental a todos os
promovido pela UNESCO. Ressalta a importân-
níveis de ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para par- cação, as metas e estratégias para a implanta-
ticipação ativa na defesa do meio ambiente." ção do EA no país, elaborar proposta de atua-
0 Decreto n. 88.351/83, que regulamenta ção do MEC na área de educação formal e
esta lei, estabelece que compete às diferentes não-formal para a Conferência da ONU sobre o
esferas do Poder Público "orientar a educa Meio Ambiente e Desenvolvimento.
ção, em todos os níveis, para a participação
Carta Brasileira para EA - Na Con-
efetiva do cidadão e da comunidade na defe
ferência da ONU sobre Meio Ambiente e De-
sa do meio ambiente, cuidando para que os
senvolvimento - RIO/92 - o MEC promoveu um
currículos escolares das diversas matérias obri
Workshop sobre EA com objetivo de socializar
gatórias complementem o estudo de ecologia.
os resultados das experiências em EA, integrar
Parecer n. 819/85 do MEC, de a cooperação do desenvolvimento em EA
1985 - reforça a necessidade da inclusão de nacional e internacionalmente, e discutir
conteúdos ecológicos, ao longo do processo de metodologia e currículo para a EA. Deste en-
formação que se desenvolve no ensino de contro resultou a carta brasileira.
1 ° e 2o graus, integrados a todas as áreas do
Tratado de Educação Ambiental para
conhecimento, de forma sistematizada e pro
Sociedades Sustentáveis e Res-
gressiva, possibilitando a formação da consci
ponsabilidade Global - de caráter não-oficial,
ência ecológica do futuro cidadão.
foi celebrado por diversas organizações da
Parecer n. 226/87, de 1987, do Conselho sociedade civil, por ocasião da Conferência
Federal de Educação - MEC, Rio/92. Reconhece a "educação como um pro-
aprovado por unanimidade, considera a ne- cesso dinâmico em permanente construção" que
cessidade da inclusão da EA dentre os conteú- deve propiciar a reflexão, o debate e a
dos a serem explorados nas propostas autotransformação das pessoas. Reconhece, ain-
curriculares das escolas de 1 ° e 2o graus. Re- da, que a "educação ambiental para uma
comenda, ainda, a incorporação de temas sustentabilidade equitativa é um processo de
ambientais da realidade local compatíveis com aprendizagem permanente baseado no respeito
o desenvolvimento social e cognitivo dos alu- a todas as formas de vida."
nos e a integração escola-comunidade como
Plano Decenal de Educação Para
estratégia de aprendizagem.
Todos- 1993-2003, do Ministério da Educação
Constituição da República Federativa - seus objetivos são referentes à satisfação das
do Brasil de 1988 - dedicou o Capítulo VI ao necessidades básicas das crianças, jovens e
meio Ambiente e no art. 225, Inciso VI, adultos e à ampliação dos meios e do alcance
determina ao "(...) Poder Público, promover a da sua educação básica, tendo a dimensão
EA em todos os níveis de ensino(...)" ambiental como um de seus componentes.
BIBLIOGRAFIA CITADA
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Sustentado. São Paulo - CESP 1984.
Moisés, H. N. - "Políticas Públicas municipais e meio ambiente". In: WWF/Ecopress - Educador Ambiental - 6 anos de
experiências e debates. Maio de 2000.
MEC/SEF. Parâmetros Curriculares Nacionais - Temas Transversais. Brasília. 1996.
Vianna, LP - Considerações Críticos sobre a Construção da idéia de "População Tradicional" no contexto das
Unidades de Conservação. - Dissertação de mestrado em antropologia social: FFLCH/USP - São Paulo, 1996.
Brito, M. C. W. - Cerrado: Bases para Conservação e Usos Sustentável das Áreas do Cerrado do Estado de São
Paulo. São Paulo - Secretaria do Meio Ambiente, Documentos Ambientais, Série PROBIO-SP. 1997.
Senado Federal - Secretaria Especial de Editoração e Publicações. Agenda 21 - Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. 2a edição. Brasília, 1 997.
Senado Federal - Secretaria Especial de Editoração e Publicações - Constituição da Repúblico Federativa do Brasil -
Capítulo VI. 1988.
MEC/COEA - Implantação da Educação Ambiental no Brasil. Brasília. 1998. (Para referência documentos nacionais e
internacionais sobre Educação Ambiental citados no texto)
Diário Oficial da República Federativa do Brasil; Atos do Poder Legislativo - Lei n° 9795 - Política Nacional de
Educação Ambiental. Brasília. 1999
Formação de Professores:
NEM TREINAMENTO, NEM RECICLAGEM, MAS UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
PERMANENTE
Neide Nogueira1
O texto que se segue tem como objetivo para a participação do país na economia
informar os leitores sobre a visão do Ministério mundializada.
a respeito de questões nucleares da formação
Essa valorização da educação traz consigo
de professores. Está baseado nas idéias
a necessidade de promover mudanças na Edu-
contidas no documento Referenciais para
cação Básica (Educação Infantil, Ensino Fun-
Formação de Professores, publicado pelo Mi-
damental e Ensino Médio) para sintonizá-la com
nistério da Educação, o qual expressa a ori-
as formas contemporâneas de conviver, relacio-
entação de sua política de formação de pro-
nar-se com a natureza, construir e reconstruir
fessores, prioridade da atual gestão.
as instituições sociais, produzir e distribuir bens,
serviços, informações e conhecimentos.
* Consultora da Secretaria de Ensino Fundamental do MEC. Coordenadora dos Temas Transversais dos Parâmetros
Curriculares Nacionais.
tica educativa planejada e sistemática durante MUDAR PARA QUE E EM QUE DIREÇÃO
um período contínuo e extenso de tempo na
vida das pessoas. E também porque é re- Uma formação de professores que atenda
conhecida pela sociedade como a instituição da às perspectivas acima apontadas precisa
aprendizagem. conceber o professor como um profissional:
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - não mais apenas aquele que "gosta de
Nacional é o marco político-institucional que criança" - mas o que, além disso,
orienta esse processo, a qual se seguem Dire- promove aprendizagens e favorece o de-
trizes Curriculares definidas pelo Conselho senvolvimento;
Nacional de Educação, Parâmetros e
- não mais o que se satisfaz com a for-
Referenciais Curriculares elaborados pelo Mi-
mação inicial: é necessário atualizar-se
nistério da Educação que orientam mudanças
e aprender sempre para ser capaz de
nas várias etapas da Educação Básica.
criar situações desafiadoras para os
Apesar de serem instrumentos de natureza alunos;
diferente, esses documentos têm princípios
comuns: no que se refere ao posicionamento - não mais apenas técnico - é preciso ter
político-filosófico apontam a formação da ci- uma compreensão ampla e profunda do
dadania como a principal função da educação seu trabalho para poder atuar com
escolar. Do ponto de vista metodológico, eficácia nas situações singulares e
colocam o foco do trabalho educativo escolar imprevistas do dia-a-dia;
nas capacidades e competências a serem - não apenas teórico - é preciso "saber
constituídas pelos alunos na educação básica. fazer", tomar decisões, resolver proble-
Com isso recolocam a importância dos mas da situação em que trabalha.
conteúdos e disciplinas como meios para que
Não mais uma "meia" profissão na qual se
os alunos da educação básica possam de-
trabalhava "pouco" e era um trabalho se-
senvolver as capacidades e constituir as com-
cundário, de "meio período"; nem mais a si-
petências consideradas essenciais para o exer-
tuação atual em que se é mal remunerado e,
cício pleno da cidadania.
por isso, se tem vários empregos. Valorizar o
A abrangência dessas propostas e diretri- trabalho de professor, implica, além da garantia
zes (da Educação Infantil ao Ensino Médio), de um salário digno e compatível com a
bem como sua convergência para princípios atuação que se espera dele, rever a organi-
comuns sinalizam uma reforma da Educação zação da carreira e investir na formação, inicial
Básica. Essa reforma é uma resposta às mu- e continuada, que configuram o processo de
danças sociais econômicas e políticas que te- seu desenvolvimento profissional.
mos vivido e que cada vez mais se aceleram.
Diferentes elementos determinam o perfil
Há, por outro lado, um consenso nacional profissional de uma categoria: as relações de
de que a implementação das idéias contidas trabalho, a estrutura da carreira, o valor do
nas novas propostas para a educação salário, as condições reais de trabalho. Assim,
dependem de um investimento na reorientação o que os professores são e poderão ser como
da formação dos professores que atuam nos profissionais não depende, nem se explica,
diferentes níveis da educação básica, pois se apenas pela formação, mas ela é um elemento
sabe que a concepção de escola, de educação chave, uma vez que através dela (inicial e
e de ensino que efetivamente se concretiza continuada) eles se preparam para atuar,
depende da atuação dos professores. constroem cultura profissional, desen-
volvem concepções que orientam sua prática e, fessores, a sua atuação não se restringe a
através do processo permanente, podem ir ela. Além de educar, cuidar e ensinar os alu-
reconstruindo seu papel social. A garantia de nos, os professores precisam aprender a parti-
que o país terá professores para efetivar as cipar da elaboração, desenvolvimento e gestão
propostas de renovação da educação básica do projeto educativo da escola; a produzir
depende - em muito - do trabalho que se fizer conhecimento pedagógico e a participar na sua
tanto no âmbito da formação inicial comunidade profissional, das associações de
(reorientação de currículos e reorganização caráter científico, cultural ou trabalhista.
institucional), quanto da formação continuada A complexidade do trabalho de professor e
(constituição de processos permanentes de os desafios que enfrenta - Não se pode nunca
formação na estrutura dos sistemas). esquecer de que o trabalho de professor é
Portanto, é preciso mudar o atual modelo marcado por extrema complexidade, uma vez
de formação de professores para pôr em que envolve tanto o domínio de conhecimentos
prática os princípios, realizar as propostas e de processos de ensino quanto relações
curriculares, reconstruir a escola como espaço interpessoais e afetivas; questões de poder e
de vivência de cidadania. São estas as metas autoridade.
que devem orientar a formação. A idéia de competência como concepção
A formação deve ter como referência a orientadora da formação de professores - Para
atuação de professor e orientar-se pela con- atuar bem, os professores necessitam de ser
cepção de competência profissional. capazes de mobilizar tanto os seus co-
nhecimentos teóricos como também aqueles
Uma formação que vise a tais metas pre-
construídos nas experiências de vida profissio-
cisa pautar-se por aquilo que o professor faz (e
nal e pessoal, de modo a responder ás diferen-
o que ele deve fazer) no exercício da profissão
tes demandas das situações de trabalho. Em
para que possa ajudá-lo a desenvolver as
outras palavras, eles põem em jogo suas "com-
competências necessárias para o exercício de
petências".
seu trabalho.
A atuação de professor demanda com-
É a partir da análise dessa atuação que petências diversas - como organizar os mate-
devem ser definidos os objetivos, conteúdos,
riais no espaço da sala de aula, fazer plane-
metodologia e inclusive formas de organização
jamento, construir instrumentos de avaliação,
curricular e institucional, tanto da formação
corrigir trabalhos de alunos, dialogar com os
inicial quanto da continuada. Isso é condição
familiares dos alunos, trabalhar coletivamente
para que os cursos e programas de formação
com seus pares - e que envolvem diferentes
respondam efetivamente às demandas da
tipos de saberes.
prática dos professores e promovam uma
melhoria na qualidade do ensino e da apren- Como as competências tratam sempre de
dizagem escolar. alguma forma de atuação, só existem "em
situação" e não podem ser aprendidas apenas
Ao tomar a atuação profissional como
pela comunicação de idéias. Assim, por
referência da formação, alguns pontos mere-
exemplo, para aprender a analisar a produção
cem destaque:
de alunos na resolução de um problema
As dimensões da atuação profissional - E matemático é preciso que o professor em for-
importante que se parta de uma visão ampla do mação vivencie situações didáticas, orientadas,
campo de atuação dos professores. Embora a nas quais tenha acesso a produções de "alunos
docência seja a principal tarefa dos pro reais", escolha as mais significativas
para a análise que pretende, interprete e le- ção e gestão do projeto educativo da escola,
vante hipóteses sobre o pensamento ali ex- produção de conhecimento pedagógico, par-
presso, o porquê de seus possíveis erros e acer- ticipação na comunidade profissional.
tos, e, a partir daí planeje a necessária inter-
venção didática. Nessa tarefa, além de conhe-
cimentos teóricos (conceitos matemáticos, co- A AÇÃO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
nhecimentos sobre como as crianças constro- EM RELAÇÃO À FORMAÇÃO DE
em esses conceitos matemáticos) entram em
PROFESSORES
jogo outros tantos, de natureza prática; afetos
e, inclusive, valores e atitudes, tais como con-
siderar o empenho do aluno em resolver o pro- O Ministério vem atuando na área da
blema, o uso de estratégias pessoais, a clareza educação, exercendo seu papel de indutor de
e organização do trabalho, etc. Atarefa implica, políticas públicas e propositor de linhas de ação
portanto, apoiar-se no domínio de saberes - para as mudanças necessárias, através de
mas não apenas dos saberes teóricos. ações em diferentes âmbitos, como o FUNDEF,
a Política Nacional do Livro Didático, a
E importante deixar claro que a definição
elaboração dos Parâmetros e Referenciais
de competências profissionais de um professor
Curriculares Nacionais, etc. No que se refere à
serve em primeiro lugar para orientar a
formação de professores, as ações se voltam
formação naquilo que ela deve promover - e
tanto para a formação inicial quanto para a
não para estigmatizar negativa ou positiva-
formação continuada.
mente os professores.
Em relação à formação inicial, a questão
Na formação profissional, o desenvolvi-
que se coloca é a da reorganização curricular e
mento das competências se dá pela aprendi-
institucional para garantir a melhoria de sua
zagem de conteúdos significativos, segundo
qualidade e atender ao desafio de elevar a
uma metodologia que crie situações nas quais
formação de professores da Educação Infantil e
o sujeito que aprende coloca em uso seus
das séries iniciais do Ensino Fundamental ao
diversos conhecimentos, realizando efetiva-
nível superior. Para isso, o Ministério está
mente as práticas que compõem seu exercício
encaminhando sugestões ao Conselho
profissional; e pela reflexão sistemática e
Nacional de Educação para a elaboração de
compartilhada, de preferência com parceiros
Diretrizes que orientarão a formação de
mais experientes.
professores de toda a Educação Básica em
Pautar a formação pelo desenvolvimento nível superior.
de competências não dispensa um trabalho de
Em relação à formação continuada, o
fundamentação a respeito das questões
Ministério vem desenvolvendo um grande pro-
educacionais, do papel social de professor ou
grama em parceria com secretarias de edu-
do significado das diferentes disciplinas na
cação estaduais e municipais - "Parâmetros em
formação dos alunos, nem o domínio de con-
Ação". Este programa, baseado nas con-
teúdos teóricos.
cepções aqui expostas, promove a leitura e a
O que se propõe é que os cursos e pro- reflexão dos Parâmetros e Referenciais
gramas de formação sejam organizados de tal Curriculares Nacionais e, além disso, visa sub-
forma que aquilo que é ensinado reverta para o sidiar os sistemas para instaurar um processo
desenvolvimento das diferentes competências de formação permanente em suas redes de
envolvidas no exercício da profissão nas suas ensino. Ao mesmo tempo que envolve todos os
diferentes dimensões: docência, elabora- professores, o Programa cria, no interior de
cada rede, um grupo de formadores, consti- professores a ser promovido pelos gestores do
tuindo uma estrutura local que possa perma- sistema de ensino. Os professores podem e
necer e atuar com autonomia. devem demandar uma formação que atenda às
necessidades de seu exercício profissional.
Entretanto, se é um direito é também uma res-
FINALIZANDO O TEXTO MAS ponsabilidade, pois a efetivação da melhoria da
NÃO A QUESTÃO... qualidade do trabalho dos professores, o
avanço no desenvolvimento profissional depen-
A formação é um processo de desenvolvi- de de uma atitude favorável também da parte
mento profissional permanente no qual entram dos professores. Nenhuma ação de formação
em jogo os mais diferentes fatores. Por isso di- se efetiva sem a disponibilidade dos que parti-
ferentes são os responsáveis pela sua efetivação: cipam dela; a formação não avançará sem que
sabe-se que, sendo parte intrínseca do exercí- os professores a tomem para si como res-
cio profissional, essa formação é um direito dos ponsabilidade pessoal e coletiva.
O PCN em Ação do Tema Transversal
Meio Ambiente
Jaime Oliva*
Trabalhar atividades do Tema Transversal Meio Ambiente os 3 eixos propostos, e com uma abordagem em três
níveis distintos de interlocução e intertextualidade.
considerar, necessariamente, a perspectiva dos las mais diversas configurações de grupos e de
Temas Transversais, tais como, criar um cam- áreas a serem examinadas. A seguir, apre-
po de formação de valores e atitudes e, terão sentamos passo a passo os aspectos que com-
também necessariamente que dialogar com o põem o projeto proposto.
texto básico do PCN do Tema Transversal, 1. O projeto terá vários níveis de aplica-
estabelecendo relações, problematizando-o,
ção com versatilidade suficiente para
enfim expondo as relações entre os PCN em
ser desenvolvido pelos alunos das di-
Ação com o PCN do Tema.
ferentes faixas etárias. A complexidade
Mas, como já havíamos destacado anteri- e o número de variáveis envolvidas
ormente, o PCN em Ação trará uma proposta deverão ser sempre adequadas ao ano
de aplicação desse conhecimento na realidade e ao ciclo a que o projeto se destina;
imediata em que a escola está inserida. Isso se
2. O projeto consiste num exercício de
dará por intermédio de um projeto de avaliação
avaliação e diagnóstico de um recorte
do quadro ambiental do território da co-
do quadro ambiental, a ser escolhido
munidade escolar. Destacando: não se trata da
pelo grupo que vai desenvolvê-lo;
avaliação de um aspecto do quadro global, e
sim uma proposta que contribua para o exercí- 3. Toda avaliação e diagnóstico se realiza
cio aplicado dos conhecimentos obtidos no Tema a partir de critérios escolhidos, que
Transversal, respeitando suas características serão a referência do juízo dado. No
globalizantes. Afinal, o tema Meio Ambiente é caso, estamos sugerindo critérios que,
um recorte mais abrangente que um recorte dis- acreditamos, melhor expressam a na-
ciplinar e não faria sentido no momento de sua tureza do tema ambiental, quer dizer,
aplicação reduzi-lo a apenas um aspecto, tal melhor expressam sua natureza de re-
como uma questão ligada ao saneamento, por corte da realidade transdisciplinar e
exemplo. alimentado por elaborações vindas de
diversas direções, não exclusivamente
acadêmicas. Esses critérios se consti-
UM PROJETO DE AVALIAÇÃO E tuem a partir dos tópicos da legislação
DIAGNÓSTICO DE UM CONTEXTO ambiental brasileira e dos tópicos da
Agenda 21, que devem ser escolhidos
AMBIENTAL
adequadamente para cada situação. A
idéia é a de que seja feita uma
O objetivo desse projeto é o de criar uma
avaliação e diagnóstico de um recorte
oportunidade para que os estudantes exercitem
do quadro ambiental da comunidade
um conhecimento sistêmico cujo tema é a ques-
onde a escola está inserida, tendo em
tão ambiental, o que certamente, se bem sucedi-
conta sua situação em relação à
do, os aproximará mais da realidade. Nesse pro-
legislação ambiental e as orientações
jeto, o mesmo espírito que percorre cada ativida-
da Agenda 21.
de pode ser plenamente explicitado. Como já
assinalamos, essa atividade terá a forma de um 4. Essa avaliação e esse diagnóstico co-
projeto de avaliação e diagnóstico de um meçam pela escolha do recorte do
recorte do quadro ambiental, escolhido pelos quadro ambiental. A escolha pode
envolvidos. Os envolvidos podem será comuni- recair sobre o entorno imediato da
dade escolar no seu conjunto, ou segmentos des- escola (é importante saber avaliar a
ta. A idéia é de que o modelo de projeto tenha condição ambiental de qualquer es-
flexibilidade suficiente para ser executado pe-
paço, independentemente do fato de plo: se for uma região costeira, deve-se
ele conter algo especial), ou então ir em busca da legislação que se refira
alguma outra área conhecida nas a regiões costeiras, aos planos de
proximidades (acessível para estudos gestão costeira e as recomendações
de campo) que apresenta alguma ca- da Agenda 21 para essas áreas. As
racterística especial que os professores atividades realizadas anteriormente
desejem realçar. O recorte espacial serão um importante guia para o
pode ir na direção de destacar uma entendimento da legislação e das re-
área especializada (por exemplo, só ferências outras existentes de política
camponesa de produção pecuária; só ambiental.
urbana; só de extrativismo; só área
6. Cumpridas essas etapas, pode-se partir
florestada, etc.) ou então um recorte
para uma avaliação global do recorte,
que inclua uma diversidade de espaços
(por exemplo um segmento de espaço ou destacar-se na legislação e nas
urbano com seu entorno rural; ou um orientações apenas alguns aspectos que
circuito que articule uma atividade forem considerados essenciais para
extrativa a um centro urbano, etc). O uma avaliação da área. Digamos que
que importa é que se faça o recorte seja uma área fortemente influenciada
com consciência daquilo que o por uma indústria química. Talvez seja
caracteriza em termos de ocupação. o caso de se concentrar esforços na
Também é conveniente que o recorte questão dos "impactos ambientais" tra-
seja de pequena dimensão, para se ter zidos por essa indústria (destino dos re-
sob maior controle o número de síduos tóxicos; impacto sobre a atmos-
variáveis envolvidas e para que o fera, sobre a rede hidrográfica, etc.) e
exercício não se perca em função da verificar se eles se enquadram ou es-
enorme quantidade de dados a ser capam da legislação e das orientações
examinada. da Agenda 21. Caso eles se enqua-
drem razoavelmente e, mesmo assim,
5. Um outro momento chave para o de-
avalia-se que área está sobrecarregada
senvolvimento da avaliação e diag-
("ambiente degradado"), pode-se con-
nóstico do recorte é um estudo prévio
da legislação ambiental e quais são as cluir que a legislação e as orientações
orientações da Agenda 21 que incidem são insuficientes ou inadequadas, ou
sobre a área escolhida. Por exemplo, então que a origem da degradação é
se a área escolhida for urbana, nela outra. Se não se enquadram, é bom
não incidem as regras do Código com todo cuidado chegar-se a um pa-
Florestal, e sim do plano diretor do recer que detalhadamente assinale
município. E esse plano deverá então onde se encontram as violações. Como
ser conseguido, analisado e nele deve se pode ver, chegar a um termo é um
ser destacado o que se refere à excelente exercício cognitivo, no que
ordenação ambiental do espaço. O se refere a um modo de se envolver
mesmo deve ser feito em relação às nas questões da vida real.
inúmeras recomendações da Agenda 7. Por fim, os resultados obtidos devem ser
21. Deve-se localizar aquelas que divulgados. Essa parte do projeto de
referem ao tipo de recorte escolhido, avaliação e diagnóstico de um recorte
caso existam. Outro exem- do quadro ambiental é fundamental.
Podem ser publicados pequenos jornais borações e informações chaves da questão
informativos no interior da escolas e, ambiental, colaborando para que os profes-
depois, divulgá-los para a comunidade sores das diversas disciplinas transitem com
(aí entra o exercício de saber expor re- familiaridade no campo da chamada Educação
sultados), por exemplo. Muitas outras Ambiental; e ele pretende servir como base para
formas certamente podem existir. a construção de um instrumento de aplicação
Um comentário final que procura sintetizar de conhecimento diretamente no contexto de
qual o espírito desse PCN: ele pretende ser um cada escola, de cada professor e de cada
documento que colabore para criar-se um aluno, contribuindo para aquilo que, achamos,
campo comunicativo entre as disciplinas e o que todos devem desejar: a inserção da escola
Tema Transversal, para que ambos se revelem e dos conhecimentos que ela propicia na vida
mutuamente e estabeleçam uma relação real, para que ao mesmo tempo esses
orgânica; ele pretende, dentro dos limites conhecimentos se revitalizem e se transformem
existentes, subsidiar o professor com as ela- em um valor social efetivo.
O Projeto Educativo da Escola e a
Questão Ambiental
Célia Regina Pereira do Nascimento*
Já faz muito tempo que a escola deixou de xerga a realidade a sua volta, preocupa-se com
ser tão-somente o lugar onde crianças ela e trabalha no sentido de transformá-la.
aprendiam a ler e a escrever. Já faz tempo que Novos desafios são colocados diariamente
a escola deixou de ser tão-somente o lugar para a escola. O mundo transforma-se a cada
onde as crianças aprendiam a compreender o dia e é preciso não perder o trem da história.
mundo que as cerca. Vive-se um novo tempo,
Formar cidadãos é complexo e trabalhoso.
em que as crianças lêem e escrevem o mundo,
o compreendem cada vez mais e melhor e O movimento ambiental já foi considerado
aprendem a tomar atitudes para mudá-lo. romântico, preocupado com bichinhos e
florzinhas, radical por não querer que o mundo
A escola realmente está interessada em
progredisse mais nenhum centímetro. Mas o
formar cidadãos.
tempo passou, todos aprenderam muito e
Cidadão: aquele "tipo humano" que en- agora, feliz e finalmente, ele está tomando seu
lugar acertado, que é justamente de
Formada em Letras - USP Coordenadora do Projeto Ambiental da Cooperativa Educacional de São Paulo de 1993 a
1998. Participante do Projeto Muda o Mundo Raimundo. Participante do Projeto Mãos a Obra da Fundação SOS Mata
Atlântica. Co-autora do Caderno de Leitura da TV Escola. Atualmente educadora da Escola da Vila.
deixar de ser um movimento de poucas pes- trabalhara questão ambiental. Porque ela esta
soas interessadas em salvar todo o planeta e aí, veio para ficar e torna-se, a cada dia, mais
ser um movimento de toda a sociedade para urgente.
salvar todo o mundo. A questão ambiental
Não estamos nos reportando apenas ao
tomou as ruas.
currículo ou à carga horária. Falamos de pos-
A escola não pode ficar de fora de algo tura escolar. A maneira como a escola pensa
que mobiliza o planeta. as questões ambientais e a maneira como ela
Os bichinhos e florzinhas cederam lugar trabalhará estas questões com os alunos.
aos rios poluídos, a falta (crônica) de água no Esperamos que o conceito de postura es-
planeta, ao desmatamento irracional, aos inú- colar não seja novidade. Muito se fala em
meros poluidores, ao lixo, à questão nuclear, à postura do aluno para com a escola, para com
organização e à ocupação das cidades e a os professores e para com seus amigos.
temas bastante políticos como a divisão da Ter- Porém, talvez seja importante reforçar que a
ra, a organização e divisão geográfica, a divi- escola necessita de uma postura própria e
são de riqueza do mundo, a quantidade de adequada quando concebe seu projeto
ricos e pobres do planeta, a questão de plane- educativo. Como ensinar e porque ensinar tais
jamento familiar, a questão do consumo cada e tais conceitos são temas que devem ser dis-
vez mais importante de ser discutida. cutidos com toda a equipe pedagógica.
Quanto mais nos aprofundamos na ques- A exemplo da ÉTICA, a questão ambiental
tão ambiental, percebemos como ela está re- não se discute simplesmente. Vive-se. Exercita-
lacionada com quase todos os temas que a se. Esta noção de um conteúdo escolar que
escola trabalha. E isso tem uma explicação está mais para ser vivido e exercitado do que
muito simples: ela trata da sobrevivência e da discutido, muda o referencial de educadores e
manutenção do homem em seu planeta, por- indica um desafio a mais a ser vencido.
tanto relaciona-se com a Geografia, com a
Seria muito fácil levar para sala de aula um
História, com as Ciências Naturais. Além disso,
texto sobre o problema da poluição dos rios, ler
a escola é local privilegiado para se estudar e
com os alunos, discutir as questões químicas
discutir o relacionamento do homem com
da poluição e nos lamentar por uma situa-ção
valores que estão na essência do pensamento
tão triste como a de um rio quase morto, que
ecológico: solidariedade, saúde, ética, com-
não tem mais peixes em suas águas,
promisso com o bem-estar do outro, preocu-
envenenado e morrendo aos poucos. Dados
pação com o destino da humanidade. Destino
técnicos são imprescindíveis para a compre-
da humanidade é a preocupação que nos tor-
ensão dos porquês todos que envolvem o pro-
na, verdadeiramente, cidadãos do planeta.
blema. Mas não se pode parar por aí. E preciso
Portanto, quando pensamos em projeto mostrar aos alunos o que é possível fazer para
educativo da escola, ou seja, quando colo- mudara realidade. Por isso dizemos que
camos em discussão o conjunto de conceitos e ecologia é para ser vivida.
conhecimentos que a escola necessita "dar
conta" durante o ano letivo para seus alunos,
que são considerados imprescindíveis, de COISAS PARA PENSAR, PARA DISCUTIR,
modo que o aluno não deve sair da escola sem PARA FAZER
conhecê-los, estamos também dizendo que a
escola necessita encontrar caminhos próprios, A exemplo de todas as outras questões
de acordo com sua realidade, para que envolvem o projeto educativo, a questão
ambiental precisa ser discutida com toda a Poderíamos citar inúmeros exemplos, mas
equipe pedagógica da escola. Todos precisam o que desejamos fixar é que problematizamos
opinar a respeito de um tema que afeta a as questões ambientais em diferentes áreas e
todos. É verdade que algumas áreas do co- isto é muito importante para que alunos com-
nhecimento são mais "afins" dos dados cien- preendam a universalidade do problema. Uti-
tíficos da questão ambiental. Mas não existe lizamos dessas áreas todas para formar um
nenhuma área que deva ser responsabilizada conjunto de conhecimentos que sejam úteis
diretamente por levar a discussão para os alu- para o processo de ação que desejamos cons-
nos, não existem áreas do conhecimento truir com os alunos.
"afins" das questões sociais, culturais e histó-
ricas que envolvem o meio ambiente. Todas
são responsáveis. Voltamos para a questão de COISAS PARA FAZER
postura.
Muitos já devem conhecer a famosa frase
Quem se responsabiliza pelo projeto
"pensar globalmente e agir localmente". É
ambiental dentro de sala de aula? antiga e sábia.
Logicamente que cada escola possui uma
Pensamos que um projeto ambiental al-
realidade diferente e isto pode se dar também
cança sucesso e a escola consegue ter uma
de maneiras distintas. O importante é não
postura escolar ambientalmente responsável à
perder de vista que ele envolve a todos edu-
medida que realiza projetos envolvendo a
cadores sem exceção.
comunidade e procura soluções para proble-
Novas maneiras de aprender conceitos mas muito próximos e consegue discutir pro-
das diversas áreas podem abrir espaço para os blemas muito distantes.
problemas ambientais e alargar o horizonte de
Inicialmente, acreditamos ser importante
trabalho.
discutir com os alunos as questões que estão
O processo de colonização do Brasil es- "batendo às portas " da escola.
tudado na área de História, por exemplo, com
Como se dá a utilização dos recursos na-
seus consequentes ciclos econômicos é a pró-
turais na escola: a água é tratada? É
pria história da devastação ambiental do Brasil,
desperdiçada? De onde vem? Para