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Teoria do conhecimento de David Hume

A teoria do conhecimento desse filósofo é baseada em


sua interpretação das operações da mente. Ele propõe que todo o
conteúdo da mente (o que John Locke havia nomeado de modo
semelhante como “ideias”) seja considerado como percepção. Esse
termo é usado em um sentido mais amplo do que o do cotidiano e
abrange as diversas operações e capacidades da mente.

As percepções só são distinguidas pelo grau de vivacidade com o


qual nos afetam, assim, qualquer desejo, reflexão ou sentimento será
sempre mais intenso  do que uma recordação ou uma imaginação
dessas situações. A lembrança do nascimento de um filho ou uma
filha, por exemplo, não poderia comparar-se com o momento do
nascimento em si. Sendo assim, teríamos as impressões, que são
as percepções mais intensas, e os pensamentos  (ou ideias), que são
as percepções mais fracas. David Hume afirmou, por isso, que
mesmo o pensamento mais intenso não se compara à impressão mais
fraca.

Esse filósofo defendeu que os pensamentos  representam o que


originalmente apreendemos pelas impressões. Isso explicaria não
apenas por que algumas percepções são fracas mas por que alguns
pensamentos ocorrem apenas na mente e não na realidade.
Podemos, por exemplo, imaginar  uma montanha de ouro, mas
nenhuma existe concretamente. Decompondo esse conteúdo em
elementos mais simples (montanha e ouro), descobriríamos que esses
conteúdos resultaram de experiências anteriores. É por meio dessa
identificação que concluiríamos que todos os conteúdos da mente
originam-se de alguma impressão.

Tendo explicado as operações da mente e identificado que os


pensamentos  têm origem empírica, seria esperada uma explicação
sobre a origem do que percebemos pelos sentidos ou das sensações,
que advêm de uma realidade extra mental, mas isso não
ocorre! David Hume limita o entendimento humano às próprias
percepções, de modo que essas percepções originárias simplesmente
surgiriam na mente. Isso significa que não se pode experimentar o
que está além dessas percepções mais simples.

Tendo indicado a origem dos pensamentos (ou das ideias), resta


ainda indicar como se pode alcançar conhecimento ou certeza. Sobre
isso há três principais relações: semelhança, contiguidade no tempo e
no espaço, e causa e efeito. Embora as ideias possam ser associadas
livremente, como ao imaginar-se  uma montanha de ouro, apenas as
duas primeiras relações são válidas para estabelecer-se verdades
conceituais.

O que será mais inovador em seu pensamento é a investigação das


questões de fato, na qual encontramos as causalidades. Todos os
fatos seriam explicados por essa relação, no entanto, a causalidade
em si não seria um fator objetivo, mas subjetivo, uma vez que não
podemos ter uma impressão da força que põe as coisas em relação
causal, mas apenas dos eventos observados subsequentemente.

O que se supõe ser uma questão de causa, afirma David Hume, é antes
fruto do hábito. É por meio de muitas experiências e com o auxílio da
memória que entendemos haver uma conjunção constante entre
certos eventos, quando não haveria nenhuma necessidade lógica
nessas relações de causa e efeito.

Em seu famoso exemplo, afirma que é pelo hábito que acreditamos


que o Sol nascerá todos os dias, e com isso quer dizer que esse evento
é apenas uma probabilidade, não uma verdade estabelecida pela
razão. Todas as questões de fato seriam contingentes, ou seja,
poderiam deixar de ser, mas as propriedades do triângulo, por outro
lado, que são conceituais, permanecem por necessidade lógica.

Veja também: Mito da caverna: alegoria platônica que explica a


hierarquia dos conhecimentos

Empirismo de David Hume

David Hume é mundialmente conhecido por suas observações sobre o


conhecimento. Elencado como integrante do chamado empirismo
britânico, é o mais radical de todos. Esse pensador questionou-se por
que as ciências naturais avançavam em prover novos conhecimentos
enquanto os estudos filosóficos estagnavam-se. Considerou que o
problema estava em teorizar sem considerar os fatos e a experiência,
o que o faz ser extremamente crítico de propostas metafísicas ou
com viés teológico.

Já em sua primeira obra, propôs-se a adotar o método experimental


para investigar a natureza humana, o que o faz aproximar-se das
ciências naturais e ser considerado um dos precursores dos estudos
cognitivos contemporâneos.

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