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A teologia litúrgica de Santo Tomás na Suma Teológica

1. O Vocabulário Litúrgico de Santo Tomás

Quando falamos de Santo Tomás de Aquino, imediatamente pensamos na sua grande


obra que é a Suma Teológica, por isso eu gostaria de fazer-lhes uma breve exposição
sobre a teologia litúrgica que nesta obra contém. E buscaremos, sobretudo responder às
seguintes perguntas: que relações existem entre a Liturgia e a Teologia na Suma
Teológica? Que concepção teológica da Liturgia oferece Santo Tomás na Suma? A
resposta a estas perguntas encontraremos na II-II, qq. 81-100 e sobre os sacramentos na
III, qq. 60-90 e no Suplemento 1-68. Também será interessante ver o tratado teológico
dos Preceitos Cerimoniais da Lei Antiga que se encontra na I-II, qq. 101-103. Mas isso
não significa que a Liturgia também não esteja presente em outras formas diversas ao
interno de toda a Suma Teológica. Vejamos alguns aspectos:
Para melhor conhecer o pensamento litúrgico do Doutor Angélico, aconselho
buscarem os seguintes vocábulos: Coeremonia, Cultus, Devotio, Minister, Ministerium,
Munus, Mysterium, Obsequium, Officium, Offerre, Religio, Ritus, Sacramentum, entre
outros. Ou também se pode encontrar as seguintes frases: Cultus veteris et novae legis
(cf. I-II, q.101, a.2); Cultus Dei (cf. I-II, q.101, a.1); Cultus Divinus (cf. I-II, q.102, a.5
ad 7); Ritus Christianae religionis (cf. III, q.62, a.5; q.63, a. 2 et 3); Ritus Ecclesiae (cf.
III, q.75, a.2; q78, a.6).
a. A perspectiva trinitária da Liturgia:
Este aspecto aparece de forma muito diáfana (clara) em alguns textos de Santo Tomás
referidos a determinadas ações cultuais, principalmente sobre o batismo e diz: “Mas esta
causa é dupla: uma principal, em que o batismo recebe o seu poder que é a Santíssima
Trindade; e outra instrumental, ou seja, o ministro que realiza externamente o
sacramento” (cf. III, q.66, a.5). E diz também: “A Trindade atua no batismo como agente
principal” (cf. III, q.66, 5).
b. A perspectiva pneumatológica:
Para ele, é no batismo onde se manifesta claramente a ação do Espírito Santo como
primeira causa (cf. III q.66). E falando sobre a fé da Igreja e a sua eficácia no batismo das
crianças escreve: “A fé de uma pessoa, inclusive de toda a Igreja, beneficia à criança por
obra do Espírito Santo, que dá unidade à Igreja e comunica os bens de um a outro” (cf.
III, q.68 a. 9 ad 2).
c. O sentido cristológico:
É também evidente que muitos textos da Suma referidos às ações litúrgicas mostrem
a Cristo como autor e ator dos sacramentos: “Por todos os sacramentos da Igreja o
homem se configura a Cristo, autor de todos os sacramentos” (III, q.72 a.1 obi.4). E diz
em outra parte: “Sacramenta ex mandato Christi efficaciam habent” (III, q.66, a.8 obi.2).
E quando Santo Tomás fala de ator, se refere a Cristo como agente principal nos
sacramentos: “Principale autem agens in baptismo est Christus” (III, q.66, a.5 obi.1).
Fala que a eficácia litúrgica dos sacramentos provém também da humanidade de
Cristo e nos lembra que o Batismo é operado em virtude da Sua Paixão. Esta perspectiva
cristológica de todas as celebrações litúrgicas se explica, desde outra manifestação, na
intenção de fazer o que Cristo faz. Para isso se requer ter a intenção de fazer o que Cristo
instituiu e segundo a tradição da Igreja (cf. III, q.68, a.8 ad 3).
d. A dimensão eclesial da liturgia:
Santo Tomás inclui também o sentido eclesiológico, a Liturgia é a oração da Igreja, a
oração oficial e comunitária dos que creem em Cristo e aqui aparecem os seguintes
termos: “ministri novae Legis”, “ministri Ecclesiae, Novi testamenti”, “ministri divini
cultus” “ministri Dei altaris”, etc.
Também distingue nas expressões: “pessoa pública – pessoa privada” quando fala
“In persona totius Ecclesiae” querendo assim expressar perfeitamente a missão eclesial
do ministro. Mas também viu a necessidade de advertir que a realidade eclesial da Liturgia
não só tem uma perspectiva subjetiva, mas fundamentalmente objetiva, sobretudo quando
usa as expressões: “fides Ecclesiae”, “actus Ecclesae”, “intentio Ecclesiae” ou “ritus
Ecclesiae”, dando a estas expressões um valor objetivo, eclesial e sacramental, em certo
sentido.

2. A virtude da religião como culto cristão na Suma


No tratado de religião de Santo Tomás, onde ele entende a religião como ato de justiça
e por isso do culto devido a Deus, o Doutor Angélico ressalta não só o aspecto particular,
mas também comunitário ou eclesial do culto como objeto da Liturgia. Ele começa
considerando a religião secundum se, depois passa aos atos interiores e exteriores. Os
interiores são as devoções e as orações, são os principais e os exteriores têm um triplo
objetivo: o de venerar a Deus mediante o corpo (adoração); oferecer a Deus alguma
realidade exterior (sacrifícios, oblações, votos) e assumir alguma realidade divina
(sacramentos, a Liturgia das Horas, os sacramentais). Então vemos que para Santo Tomás,
a religião tem como objetivo final o serviço, a reverência e o culto a Deus (cf. II-II, q.81,
a.3 ad 2). Neste culto de latria reservado e devido a Deus, o fazemos também na qualidade
de filhos para com um Pai (cf. II-II, q. 103, a. 3 ad 1).

3. O sentido semiológico dos sacramentos


O sinal sacramental é uma realidade complexa, porque é sensível, visível e sonora. É
um sinal institucional, comum e social. E diz Santo Tomás: “[...] como estas coisas
sensíveis não se ordenam ao seu significado pela sua própria virtude, mas só pela
instituição divina, foi necessário que Deus determinasse as coisas sensíveis que se
deveriam utilizar nos sacramentos” (III, q. 60, a.5).
4. A liturgia sacramental em Santo Tomás
A sua doutrina é um equilíbrio entre o “ex opere operato” e o “ex opere operantis”,
entre os sacramentos e sacramentais, entre a salvação e o culto, e entre a fé e o sacramento.
Santo Tomás define sacramento dizendo: “Est signum rei sacrae inquantum est
sanctificans homines” (III, q. 60, a.2). Para ele são meios de santificação e celebrações
cultuais (cf. III, q.60, a.5). Estão ordenados para a edificação da Igreja (cf. III, q. 64, a. 2
ad 3), instruem e fomentam a devoção (cf. III, q. 66, a. 10). Produzem uma configuração
mística com os mistérios da vida de Cristo: “Per omnia sacramenta Ecclesiae homo
Christo conformatur, qui est sacramentum auctor” (III, q. 72, a. 1 obi.4). Cristo está
presente na Eucaristia substancial e eficientemente e de modo instrumental e
eficientemente nas outras celebrações sacramentais ou litúrgicas (cf. III, q. 62, a. 5 et ad
1).

5. Os sacramentais e a solenidade litúrgica


Para Santo Tomás os sacramentais são constituídos de três modos:
• Res sensibilis (símbolos, imagens, paramentos, objetos, sal, água etc.);
• Verbum (as orações vocais, a catequese, a leitura da Bíblia, a homilia...);
• Res et verbum (bençãos, exorcismos etc.).
Sobre as solenidades, diz que fomentam a devoção e que os sacramentos devem ser
celebrados nelas, sobretudo na Páscoa e em Pentecoste (cf. III, q. 68, q.3).

6. Alguns aspectos da teologia litúrgica na Suma

• Sobre o caráter eclesial e institucional dos ritos litúrgicos, aos quais nunca se
opõe à verdade, não é lícito omiti-los ou afastar-se de sua observância (cf. II-
II, q. 93, a.1 ad 3).
• Não nos esqueçamos que na liturgia o culto e a santificação são realidades
institucionais (cf. III, q.60, a.5 et ad 1-2-3).
• A desobediência nas celebrações litúrgicas às indicações eclesiásticas, pode
ter consequências ontológicas e morais. E diz:
“Por tanto, se com esta adição ou subtração se pretendesse realizar um rito não
conhecido pela igreja, não parece que se realiza o sacramento, porque não
parece que pretenda fazer-se o que faz a Igreja” (III, q.60, a.8).

7. O caráter, consagração para a ação Litúrgica


Como dissemos anteriormente, Santo Tomás descreve o caráter como “res et
sacramentum”. Em consequência, o caráter é um efeito do sacramento visível e é sinal da
graça. Com outras palavras, o caráter se ordena à graça e à glória através da graça (cf. III,
q.63). E explicando sobre este tema da glória, Santo Tomás diz que como no céu
permanece o fim do culto litúrgico, ou seja, a glória e a honra de Deus, o caráter
permanece no céu, como glória para os bons e confusão para os maus (cf. III, q.63, a.5 ad
3).
Pelo Reino de Cristo à Glória de Deus

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