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Artigo de revisão

Abordagem da cetoacidose diabética


na infância e adolescência
Diabetes ketoacidosis approach in
childhood and adolescence

Karina de Ferran
RESUMO Médica-Pediatra no Instituto de Puericultura
e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade
Introdução: a cetoacidose diabética é a urgência endócrino-metabólica mais comum Federal do Rio de Janeiro. Especialista em
na infância e adolescência e a principal causa de hospitalização e óbito de pacientes diabé- Endocrinologia Pediátrica pelo Instituto de
Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira
ticos nessa faixa etária. Objetivo: revisar a fisiopatologia da doença e propor uma abor- da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
dagem diagnóstica e terapêutica para crianças e adolescentes, além de discutir medidas Mestre em Endocrinologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
de prevenção. Fonte de dados: revisão não sistemática da literatura médica nacional Isla Aguiar Paiva
e internacional de trabalhos originais, protocolos terapêuticos locais e consensos sobre o Médica-Pediatra no Instituto de Puericultura
e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade
tema disponíveis até 2017, nas línguas portuguesa e inglesa, a partir de busca pelo PubMed. Federal do Rio de Janeiro. Especialista em
Síntese de dados: a cetoacidose diabética pode ser a primeira manifestação clínica Endocrinologia Pediátrica pelo Instituto de
Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira
percebida na abertura de quadro de diabetes mellitus do tipo 1 ou ocorrer em paciente da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
previamente diabético, por descontrole da doença. Os pilares do tratamento da cetoaci- Mestre em Endocrinologia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
dose diabética são a reposição de fluidos e insulina, objetivando a correção da acidose e
dos distúrbios hidroeletrolíticos. A mortalidade relacionada à doença varia de 0,15 a 0,3%,
sendo o edema cerebral a principal causa. Conclusão: o diagnóstico precoce do diabetes Instituição:
mellitus do tipo 1 e o reconhecimento e manejo adequado da cetoacidose diabética são Universidade Federal do Rio de
fundamentais para a redução da morbimortalidade do diabetes na infância. Janeiro

Descritores: Diabetes mellitus ; Cetoacidose diabética; Edema encefálico. Correspondência:


karina.ferran@gmail.com

Recebido em: 13/9/2017


Aprovado em: 20/9/2017

Rev. Ped. SOPERJ, v. 17, supl. 1, p. 45-55, dez. 2017. 45


ABSTRACT
Introduction: diabetic ketoacidosis is the most common endocrine-metabolic urgency
in childhood and adolescence and the main cause of hospitalization and death of diabetic
patients in this age group. Objective: to review the pathophysiology of diabetic ketoa-
cidosis and propose a diagnostic and therapeutic approach for children and adolescents,
in addition to discuss prevention measures. Data source: non-systematic review of the
national and international medical literature, original papers, Brazilian therapeutic proto-
cols and consensus on the theme available until 2017, in the Portuguese and English langua-
ges, from PubMed search. Data synthesis: diabetic ketoacidosis may be the first clinical
manifestation in newly diagnosed cases of type 1 diabetes mellitus or occurs in established
type 1 diabetes, usually due to poor glycemic control or insulin omission. The pillars of the
treatment of diabetic ketoacidosis are the replacement of fluids and insulin, aiming at the
correction of acidosis and hydroelectrolytic disorders. Diabetic ketoacidosis related mor-
tality ranges from 0.15 to 0.3%, with cerebral edema being the main cause. Conclusion:
the early diagnosis of type 1 diabetes mellitus and the adequate recognition and manage-
ment of diabetic ketoacidosis are fundamental for reducing the morbidity and mortality of
diabetes in childhood.

Keywords: Diabetes mellitus; Diabetic ketoacidosis; Brain edema.

INTRODUÇÃO utilizados para basear as recomenda- instalação da CAD. Além disso, a pre-
O diabetes mellitus do tipo 1 (DM1) ções apresentadas foram os consensos valência de CAD reduz significativa-
é a doença endócrina mais comum da da American Diabetes Association e da mente o aumento da idade, como ob-
infância, acometendo mundialmente International Society for Pediatric and servado em estudo feito nos Estados
cerca de 65.000 crianças menores de Adolescent Diabetes. Unidos,4 que mostrou 36% de preva-
15 anos por ano.1 O quadro de cetoaci- lência de CAD em menores de 5 anos e
dose diabética (CAD) é a urgência en- RESULTADOS 16% em maiores de 14 anos. Em crian-
dócrino-metabólica mais comum nessa A incidência de CAD na abertura ças menores é difícil a percepção dos
faixa etária e a principal causa de hos- do quadro de diabetes (como primei- sintomas clássicos de poliúria, poli-
pitalização e óbito de pacientes diabé- ra manifestação da doença) varia mui- dipsia e perda de peso, ocorrendo com
ticos na infância. to geograficamente, com frequência de maior frequência atraso no diagnósti-
11 a 67% em diferentes países euro- co de DM1. A confusão do quadro de
MÉTODO peus1,2 e até 80% em outras partes do CAD com pneumonia ou asma, devi-
Revisão não sistemática da literatu- mundo3 e é inversamente relacionada do à taquipneia, ou com gastroenteri-
ra médica nacional e internacional de à incidência local de DM1.2 Acredita- te aguda e/ou abdome agudo, devido à
trabalhos originais, protocolos terapêu- se que quanto maior a incidência da presença de vômitos e dor abdominal,5
ticos locais e consensos sobre o tema doença, maior o conhecimento dos posterga o diagnóstico e leva ao agra-
disponíveis até 2017, nas línguas por- seus sinais e sintomas pela popula- vamento dos sintomas, sendo frequen-
tuguesa e inglesa, a partir de busca pelo ção e assim mais precoce a suspei- te o diagnóstico de DM1 já num está-
PubMed. Os principais documentos ção e o diagnóstico de DM1,3 antes da gio avançado, com CAD grave.

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A CAD ocorre também nos pacientes hormônios contrarreguladores, que, menor que 7,3 ou bicarbonato menor
sabidamente diabéticos, com risco de 1 não contrapostos pela insulina, pro- que 15 mmol/l; moderada, se pH me-
a 10% por paciente-ano.3 Esse risco é movem proteólise com gliconeogêne- nor que 7,2, bicarbonato menor que 10
aumentado nos pacientes com omissão se, glicogenólise, redução da utilização mmol/l; ou grave, se pH menor que 7,1,
de doses de insulina, infecções, trans- periférica de glicose e lipólise. Os três bicarbonato menor que 5 mmol/l.
gressão alimentar, controle metabóli- primeiros contribuem para o aumento
co ruim, história prévia de CAD, gas- da glicemia, enquanto o último viabi- ABORDAGEM AO PACIENTE COM
troenterite aguda com desidratação, liza a produção de ácidos graxos livres CAD SUSPEITA
doenças psiquiátricas, incluindo dis- e de corpos cetônicos (cetogênese) – Uma boa anamnese e um exame fí-
túrbios alimentares, problemas sociais acetoacetato e β-hidroxibutirato. Esses sico completo devem ser realizados nos
ou familiares, meninas adolescentes, cetoácidos consomem o sistema tam- pacientes com suspeita de CAD, sendo
acesso limitado aos serviços médicos e pão de bases do organismo e causam estes sabidamente diabéticos ou não. Os
uso de bomba de insulina.6-8 acidose metabólica. A acidemia lática exames laboratoriais são então colhidos
A mortalidade das crianças com CAD proporcionada pela desidratação e hi- para confirmação da suspeita diagnós-
varia de 0,15 a 0,3%, sendo o edema ce- poperfusão tissular agrava a acidose tica e posterior acompanhamento do
rebral a principal causa, com incidência metabólica. tratamento da CAD e dos possíveis fa-
de 0,5 a 1,0% dos casos de CAD e mor- Desidratação progressiva (por diure- tores desencadeantes.
talidade global de 60 a 90% de todas as se osmótica e vômitos), acidose meta-
mortes relacionadas à CAD na infância. bólica, distúrbios eletrolíticos e hipe- Anamnese e Exame Físico
A mortalidade é maior em locais onde rosmolaridade estimulam ainda mais No paciente sem diagnóstico prévio
os serviços de saúde têm menos estru- a liberação dos hormônios contrarre- de DM1, buscar história de pólis (po-
tura.5 A fisiopatologia da doença é pou- guladores do estresse, que atuam per- liúria, polidipsia, polifagia) e emagre-
co conhecida. Em algumas coortes, foi petuando o quadro e criando um ciclo cimento recente, história pessoal ou
associada à menor pressão parcial san- vicioso, só quebrado quando o trata- familiar de autoimunidade, presença
guínea de CO2 (pCO2), níveis mais ele- mento adequado é instaurado.5 de acantose nigricans, obesidade e si-
vados de ureia e ao uso de bicarbonato nais e sintomas de intercorrência in-
durante o tratamento da CAD.9,10 DEFINIÇÃO DE CAD fecciosa. Já se o paciente é previamen-
O paciente pode apresentar hiper- te diabético, investigar infecções inter-
FISIOPATOGENIA glicemia por diversos motivos e não correntes, omissão de doses de insu-
A CAD se deve ao estado de insuli- preencher os critérios de CAD11 (Tabela lina, falha no ajuste de doses duran-
nopenia grave. Este pode decorrer da 1). De forma oposta, o quadro de CAD te intercorrência infecciosa, controle
falência das células pancreáticas ou da pode estar instalado na ausência de hi- glicêmico anterior e eventos prévios
falha na administração exógena da in- perglicemia, situação que deve ser sus- de CAD.
sulina, ou ainda da ineficácia de ação peitada em pacientes previamente dia- Ao exame físico, sempre que possí-
da insulina circulante devido ao anta- béticos, que podem ter usado insulina vel, o paciente deve ser pesado. Além
gonismo exercido por hormônios con- pouco antes da chegada ao atendimen- disso, deve ser avaliado quanto ao nível
trarreguladores, que promovem glico- to médico, numa tentativa de correção de consciência, à frequência e ao ritmo
neogênese e glicogenólise, além de li- aguda da glicemia, mas insuficiente da respiração, ao grau de desidratação,
mitar a utilização de glicose pelos te- para a correção da acidose. à presença de sinais de infecção e deve
cidos periféricos, em situações de es- ser realizada a palpação cuidadosa do
tresse metabólico, como na sepse, por Tabela 1 – Critérios abdome se houver queixa de dor abdo-
diagnósticos de CAD
exemplo.5 minal. A avaliação periódica do nível
A hiperglicemia gerada promove Hiperglicemia > 200 mg/dl de consciência pela escala de Glasgow12
diurese osmótica e subsequente de- pH venoso < 7,3 e/ou bicarbonato < 15 mmol/l é uma ferramenta útil durante todo o
sidratação e perda de eletrólitos pela Cetonemia e cetonúria tratamento, possibilitando a detecção
urina, com hipoperfusão tissular e re- precoce de edema cerebral. A tabela 2
dução da taxa de filtração glomeru- A gravidade da CAD é classificada lista os principais sinais e sintomas de
lar. Paralelamente, há elevação dos pelo grau de acidose como leve, se pH CAD.

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Tabela 2 – Manifestações Tabela 3 – Diagnóstico diferencial de CAD
clínicas de CAD
Diagnóstico diferencial Observação
Poliúria, polidipsia, polifagia
Doença pulmonar A ausência de ruídos adventícios em paciente com taquipneia deve levar
Astenia, fraqueza, emagrecimento à suspeita de acidose metabólica. O ritmo de Kussmaul é característico da
Desidratação CAD.

Taquicardia Abdome agudo A dor abdominal acompanha a acidose e tende a melhorar com o trata-
mento. Se os sintomas persistem após compensação hidroeletrolítica e
Taquipneia
metabólica, uma causa abdominal intrínseca deve ser investigada.
Náuseas, vômitos
Sepse Pode cursar com glicemias bastante elevadas e acidose, mas geralmente não
Dor abdominal há cetonemia e cetonúria.
Respiração profunda e suspirosa ou acidótica Intoxicação por salicilato Glicosúria, hiperglicemia leve e acidose metabólica. Não costuma haver
(ritmo de Kussmaul) cetonúria ou cetonemia.
Hálito cetônico
Confusão mental e redução progressiva do nível de
consciência – da sonolência ao coma a laboratório que forneça resultados dos (lactentes e pacientes gravemente en-
exames pertinentes rapidamente. fermos). A monitorização eletrocardio-
Polidipsia e poliúria podem ser de di- Sempre que possível, um especialista gráfica contínua é útil para avaliar si-
fícil detecção em lactentes, consideran- no tratamento da CAD deve conduzir nais de hipo ou hipercalemia, a partir
do a falta de livre acesso à água (não o tratamento do paciente, mesmo que das alterações da onda T.15
verbaliza a sede) e o uso de fraldas. remotamente. Isso se torna ainda mais Amostras de sangue periférico devem
A hiperventilação, provocada pela importante se o paciente é atendido em ser colhidas periodicamente para dosa-
tentativa de correção da acidose meta- um local com menos recursos e maior gem de glicemia, eletrólitos (sódio, po-
bólica pela alcalose respiratória, pode distância dos centros de referência. tássio, cálcio, fósforo, magnésio), gaso-
levar à impressão de que a taquipneia As crianças que têm CAD mais grave metria, ureia, creatinina, hemograma
se deve a uma doença do aparelho res- (duração prolongada dos sintomas, cho- e corpos cetônicos (não disponíveis fa-
piratório, como pneumonia ou asma. que e depressão do sensório) ou aquelas cilmente no país). A análise da urina
A ausência de ruídos adventícios respi- com risco aumentado de edema cerebral deve ser feita para pesquisa de corpos
ratórios deve alertar para o diagnóstico (idade < 5 anos, acidose grave, pCO2 bai- cetônicos.
diferencial de CAD. xo e ureia elevada) devem ser admitidas O paciente deve ser monitorizado de-
Vômitos e dor abdominal consequen- o mais rapidamente possível em unida- talhadamente em relação à sua respos-
tes à acidose podem levar à confusão de de terapia intensiva (UTI), preferen- ta clínica e laboratorial. Deve-se regis-
com gastroenterite aguda (atentar para cialmente pediátrica, ou em uma unida- trar em uma folha de controle, de hora
a ausência de diarreia) e abdome agudo de que tenha recursos equivalentes e ex- em hora, o estado clínico do paciente,
(Tabela 3). O hálito cetônico, descrito periência no cuidado com diabéticos.11,13 as medicações venosas e orais, os líqui-
como de “maçã apodrecendo”, pode es- Dois acessos venosos periféricos são dos administrados e os resultados dos
tar presente. necessários, pois idealmente a insuli- exames laboratoriais realizados. Na ta-
na deve ser infundida em via exclusi- bela 4 estão descritos os intervalos de
Monitorização Clínica e va, sendo a segunda via utilizada para monitorização recomendados nos dife-
Laboratorial no Tratamento hidratação venosa e coleta de exames. rentes parâmetros analisados.16
de CAD A via arterial é dispensável, exceto nos Algumas considerações sobre os dis-
Uma vez confirmada a suspeita de pacientes gravemente enfermos. Deve- túrbios hidroeletrolíticos e acidobási-
CAD pela identificação dos critérios se ainda evitar usar acesso venoso pro- cos na CAD:
diagnósticos (Tabela 1), uma rotina de fundo pelo risco aumentado de trom- a) anion gap (AG) – tipicamente é
monitorização deve ser instituída du- bose venosa, especialmente nas crian- aumentado na CAD devido à
rante o tratamento (Tabela 4). ças menores. Se necessário seu uso, presença dos cetoácidos (entre
O paciente deve ser tratado em uni- ele deve ser removido o mais precoce- 20 a 30 nmol/l). Valores de AG
dade que tenha pessoal treinado no mente possível.14 O cateterismo vesi- maiores que 35 nmol/l suge-
monitoramento e condução de crian- cal não costuma ser necessário, salvo rem acidemia lática concomi-
ças e adolescentes com CAD, com guias em pacientes inconscientes e com im- tante. O cálculo do AG é feito
terapêuticos bem-estabelecidos e acesso possibilidade de urinar sob demanda pela fórmula: AG = Na+ - (Cl- +

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Tabela 4 – Monitorização clinicolaboratorial no tratamento de CAD

Exame Frequência
Glicemia capilar A cada 60 min
Glicemia sérica e gasometria
A cada 2-4 h
(pode ser venosa, se paciente sem doença pulmonar)
Eletrólitos (sódio, potássio, cloro), cálcio, fósforo e magnésio, ureia e hematócrito A cada 2-4 h
Cetonemia (β-hidroxibutirato) A cada 2 h, se disponível
Cetonúria, se disponível A cada diurese, até normalização
Rastreio de infecção (hemograma, sumário de urina/EAS, radiografia de tórax, hemocultura, urinocultura) A admissão e conforme sintomatologia
Sinais vitais (FC, FR, PA) A cada 1 h
Diurese e balanço hídrico com fluidos e insulina administrados A cada 1 h
Avaliação do estado neurológico para pesquisa de sinais de edema cerebral (cefaleia, vômitos recorrentes,
queda inapropriada da FC, alteração do estado neurológico ou sinais focais, elevação da PA, queda da Satura- A cada 1 h
ção de O2, elevação repentina de sódio com diurese excessiva (sugerindo diabetes insipidus).

FC: frequência cardíaca; FR: frequência respiratória; PA: pressão arterial.

HCO3). É considerado normal o TRATAMENTO DA CAD suplementação de oxigênio.


AG = 12 ± 2 mmol/l; Os pilares do tratamento da CAD são O uso de antibióticos é indicado para
b) osmolaridade plasmática (Osm) a reposição de fluidos e de insulina, ob- os pacientes com história de febre e
efetiva – é calculada pela jetivando a correção da acidose e dos deve ser iniciado após a coleta de cultu-
fórmula Osm = 2 × Na + glico- distúrbios hidroeletrolíticos. A restau- ras. O aumento dos leucócitos (leucoci-
se/18. Normalmente ela está ração da perfusão tissular melhora a tose com desvio à esquerda) em respos-
aumentada na CAD, entre 300 captação de glicose na periferia e a fil- ta ao estresse é característico da CAD e
a 350 mOsm/l;17 tração glomerular; a insulinização re- não indica infecção.
c) sódio – na CAD ocorre hipo- verte a proteólise, a lipólise e a cetogê-
natremia dilucional: a cada nese e estimula a captação e metaboli- Reposição de Líquidos
100 mg/dl de aumento da gli- zação da glicose pelos tecidos, restau- O deficit de fluidos extracelulares
cemia acima de 100 mg/dl, há rando o metabolismo celular e norma- é de difícil estimativa e geralmen-
uma queda de 1,6 mEq/l do lizando a glicemia sérica.18 Todos esses te se encontra entre 5 a 10% do peso
sódio (Na+). O nível real de só- efeitos contribuem para a correção da corporal.20,21
dio plasmático é estimado pelo acidose. Geralmente estima-se que a CAD
cálculo do Na+ corrigido pela Primeiramente, caso seja necessá- moderada tem deficit de líquidos de 5
fórmula: Na+ medido + 1,6 × ria a reanimação do paciente, devem a 7% e que a CAD grave tem deficit de
(glicemia - 100)/100. Pode ain- ser seguidas as diretrizes do Pediatric 8 a 10% do peso corporal. O aumento
da ocorrer a pseudo-hipona- Advanced Life Support (PALS), da da ureia e do hematócrito são indica-
tremia, em que a hiperlipide- American Heart Association (AHA), dores do grau de depleção do líquido
mia diminui a mensuração do endossadas pela Sociedade Brasileira extracelular.22,23
sódio, mas as técnicas moder- de Pediatria (SBP). No paciente in- Não existe consenso sobre qual es-
nas de aferição do sódio mi- consciente ou obnubilado, uma via aé- quema de reposição hidroeletrolíti-
nimizam este fenômeno. À rea segura deve ser obtida e o estômago ca é o mais seguro para evitar ede-
medida que o paciente melhora deve ser esvaziado por sonda nasogás- ma cerebral, portanto as recomenda-
e a glicemia cai, o sódio tende trica (SNG) para evitar broncoaspira- ções a seguir se baseiam na decisão en-
a subir, o que não indica piora ção. A intubação traqueal deve ser evi- tre painel de especialistas da Lawson
da osmolaridade real. A queda tada, pois a subida rápida do pCO2 pode Wilkins Pediatric Endocrine Society
do sódio ou seu aumento muito resultar em queda do pH do líquor e (LWPES), da European Society for
rápido (por diabetes insipidus) piorar o edema cerebral.19 Pacientes em Paediatric Endocrinology (ESPE) e da
podem indicar edema cerebral.9 choque hipovolêmico devem receber (ISPAD), publicado em 2014,16 e ainda

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no protocolo utilizado pelo serviço de perfusão tissular. o volume máximo de 4 litros/m 2/dia.
Diabetes Infantojuvenil no Instituto Além de fornecer a necessidade hídri- Inicialmente, deve-se usar soluções
de Pediatria e Puericultura Martagão ca diária (NHD), as perdas devem ser isotônicas (SF 0,9% ou ringer lactato)
Gesteira da Universidade Federal do estimadas e repostas em 48 horas.11,23,27 por quatro a seis horas.23,28,29 A glicose
Rio de Janeiro (IPPMG/UFRJ) há mais Normalmente, entretanto, os pacientes deverá ser adicionada à solução quan-
de 20 anos.25,26 já estão melhores da CAD e em condi- do a glicemia atingir valores entre 250
Os líquidos oferecidos desde o pri- ções de ingerir por via oral já nas pri- e 300 mg/dl, na proporção de 1:1 (vo-
meiro atendimento do paciente devem meiras 24 horas de tratamento,27 sen- lumes iguais de SF 0,9% e de soro gli-
ser contabilizados no cálculo dos defi- do o tempo médio de saída da CAD de cosado a 5%), também chamada de so-
cit e perdas. 11,6 ± 6,2 horas, segundo estudo que lução glicofisiológica.
analisou 635 episódios de CAD. Assim, Quando a glicemia for menor que 120
Primeira fase: expansão volêmica o restante da hidratação planejada para mg/dl, deve-se trocar a hidratação para
Para os pacientes com depleção de vo- reposição de perdas em 48 horas, pode SG a 5% ou até com maiores concentra-
lume acentuada, mas sem choque, a ex- ser oferecida pela via oral, juntamen- ções de glicose, aumentando a taxa de
pansão volêmica (ressuscitação) deve te com a insulina subcutânea (SC).27 infusão de glicose (TIG), visando man-
começar imediatamente com soro fi- O cálculo da necessidade hídrica diá- ter a glicemia maior que 120 mg/dl. O
siológico (SF) a 0,9% intravenoso, vi- ria pode ser feito de várias formas, mas sódio deverá ser adicionado a esta so-
sando restaurar a circulação periférica. utilizamos o método de Holiday Segar lução, visando manter a osmolaridade
O volume habitualmente administrado e optamos por subestimar as perdas e mais elevada, em torno de 150 mOsm/l
é de 10 a 20 ml/kg em uma a duas ho- repô-las em 24 horas.25,26 (equivalente a do SF 0,45%). As per-
ras e pode ser repetido até melhora da Cálculo da necessidade hídrica diária das urinárias não devem ser repostas
perfusão tissular. (NHD) pelo método de Holiday Segar: rotineiramente.
Nos raros casos com choque, deve ser a) até 10 kg de peso – 100 ml/kg/ O uso de grandes quantidades de flui-
realizada rápida expansão com SF 0,9% dia; dos ricos em cloreto pode estar asso-
20 ml/kg em bólus, visando restaurar o b) 11 a 20 kg de peso – 1.000 ml + ciado ao desenvolvimento de hiperclo-
volume circulatório. Após cada etapa, (50 ml/kg do peso que exceder remia (relação Cl/Na > 0,7930,31 e aci-
o paciente deve ser reavaliado quanto 10 kg) no dia; dose metabólica hiperclorêmica con-
a seu status circulatório e novas etapas c) 21 a 45 kg de peso – 1.500 ml + comitante).32,33 Isso pode mascarar a
de SF devem ser prescritas, conforme (20 ml/kg do peso que exceder resolução da CAD,30 mantendo um de-
necessidade. 20 kg) no dia; ficit de bases ou um bicarbonato per-
É recomendado que a expansão d) acima de 45 kg de peso – 2.000 sistentemente baixo. A dosagem sé-
volêmica seja feita com soluções cris- ml/dia. rica de corpos cetônicos pode ser útil
taloides. Não há dados que corroborem Cálculo das perdas de acordo com o na diferenciação dos dois quadros.
o uso de coloides em detrimento dos grau de desidratação, tendendo a su- A acidose hiperclorêmica se resolve
cristaloides na CAD. bestimá-las para repor em 24 horas: 25,26 espontaneamente. O excesso de cloretos
a) leve (3 a 5% do peso)– 30 a 50 pode ser evitado usando soluções isotô-
Segunda fase: reposição de perdas ml/kg; nicas, como ringer lactato.
hídricas e hidratação de manutenção b) moderada (5 a 7% do peso)– 50
Nos pacientes com CAD leve, a fase a 70 ml/kg; Insulinização
de expansão pode não ser necessária, c) grave (não ultrapassar 10% do Apesar da hidratação venosa promo-
passando-se diretamente para a fase de peso)– 80 a 100 ml/kg. ver queda da glicemia, a insulinização é
reposição das perdas e manutenção. O volume total calculado para 24 ho- essencial para restaurar o metabolismo
Durante o tratamento, à medida que ras (NHD + perdas) é dividido em três celular normal, suprimir lipólise, pro-
a glicemia cai, há queda da osmolari- partes, sendo ⅓ infundido nas primei- teólise e cetogênese e, assim, normali-
dade plasmática e consequentemen- ras seis horas, ⅓ infundido nas seis ho- zar a glicemia e contribuir na reversão
te da volemia. É essencial que o pa- ras seguintes e o último terço infundi- da acidose.34
ciente esteja recebendo líquidos e só- do nas últimas 12 horas do dia. Deve- A insulina deve ser iniciada após tér-
dio suficientes para manter a adequada se ter o cuidado para não ultrapassar mino da expansão volêmica, ao final da

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primeira hora de tratamento.52 sua reposição venosa. Assim, o tempo auxiliar na determinação de hiper ou
Não se utiliza mais a dose de ataque e a dose de insulina infundidos devem hipocalemia.15
de insulina antes do início da infusão ser minimizados para evitar hipocale- A reposição de potássio deve ser
contínua, pois pode levar a uma rápida mia severa.39 iniciada assim que a diurese for
queda da glicemia e da osmolaridade Durante a infusão contínua de insuli- reestabelecida:26
sérica, o que aumenta o risco de ede- na, espera-se que a glicose caia cerca de a) se K+ maior que 6 mEq/l –
ma cerebral,35,36 além de poder agravar 40 a 90 mg/dl por hora. Caso haja uma aguardar queda para iniciar
a hipocalemia. queda da glicemia maior que 90 mg/ reposição;
A insulinização deve ser feita com in- dl/h,40,41 a glicose pode ser acrescenta- b) se K+ maior ou igual a 4,5 mE-
fusão contínua venosa de insulina re- da na hidratação venosa, mesmo antes q/l – repor 20 mEq de potássio
gular, na dose de 0,1 unidade/kg/hora. da glicemia estar menor que 300 mg/dl. por litro de solução;
Deve-se saturar o equipo com 50 ml Caso os parâmetros laboratoriais não c) se K+ menor que 4,5 mEq/l –
da solução, desprezando esse volume e melhorem, o paciente deve ser reava- repor 40 mEq de potássio por
repetindo o procedimento a cada troca liado, as doses e soluções de insulina e litro de solução.
de solução, o que deve ocorrer a cada soro devem ser recalculadas e checadas, O fosfato intracelular também está
seis horas. avaliando se o preparo está adequado depletado na CAD e é perdido pela
Visando facilitar cálculos, sugerimos e potenciais infecções não diagnostica- diurese osmótica.20,21 Os níveis séricos
a solução preparada com 30 unidades das/tratadas devem ser consideradas. caem após início do tratamento, com
de insulina regular mais 300 ml de SF entrada do fosfato para dentro das célu-
0,9% (0,1 unidade de insulina por ml Reposição de Eletrólitos las.45 Hipofosfatemia clinicamente sig-
de solução). Com essa solução, a dose O paciente com CAD tem redução do nificativa pode ocorrer se houver jejum
de 0,1 unidade/kg/h de insulina corres- conteúdo total de potássio (K+) corpo- prolongado (> 24 h).20,21 Estudos com
ponde a 1 ml/kg/h de solução, ou seja, ral, na ordem de 3 a 6 mmol/kg.20,21 O amostras reduzidas não mostraram be-
basta colocar o peso da criança na ve- aumento da osmolaridade plasmática, nefício na reposição de fósforo.46
locidade da bomba infusora (por exem- a glicogenólise, a proteólise e a acido- Hipofosfatemia grave combinada com
plo, um paciente de 20 kg receberá essa se metabólica causam saída do potássio depleção de fosfato pode ter consequên-
solução em infusão a 20 ml/h). intracelular para o extracelular. Os vô- cias significativas, porém é bastante
A infusão contínua deve ser manti- mitos e a diurese osmótica promovem a rara. As manifestações clínicas depen-
da até resolução da CAD (pH > 7,3 e perda do potássio corporal. A desidra- dem da gravidade e cronicidade da de-
bicarbonato > 15 nmol/l), o que sem- tação resulta em hiperaldosteronismo pleção de fosfato, não havendo sinto-
pre vai ocorrer após a normalização da secundário com aumento da excreção mas até serem atingidos níveis plasmá-
glicemia.37 renal de potássio. Assim, diversos me- ticos menores que 1 mg/dl.
Alguns centros utilizam rotineira- canismos atuam para reduzir o conteú- No tratamento da CAD, hipofosfate-
mente doses menores de insulina para do total de potássio corporal, apesar de mia grave pode ocorrer, mas o apareci-
prevenir a hipoglicemia (0,05 unida- poder haver hipercalemia no início do mento de sintomas é incomum porque
de/kg/h),38 baseados em estudos obser- tratamento, especialmente nos casos geralmente o quadro é agudo e não há
vacionais retrospectivos que relataram de disfunção renal, decorrente da hi- passado de depleção crônica de fosfato.
eficácia semelhante entre as duas do- poperfusão tissular, que reduz excre- Só recomendamos a reposição de fos-
ses. Não existem estudos randomizados ção de potássio e agrava a acidose.42 A fato para os pacientes com hipofosfa-
controlados comparativos e não existe insulinização e a correção da acidose temia grave que apresentem patologia
evidência de que a dose de 0,1 unida- promovem retorno do potássio para o pulmonar concomitante que possa cur-
de/kg/h seja danosa. meio intracelular, com rápida queda sar com hipoxemia e nos casos de jejum
A insulina tem efeito semelhante ao dos seus níveis séricos,43 predispondo prolongado de mais de 48 horas após o
da aldosterona, levando a aumento da o paciente a arritmias cardíacas. A re- tratamento. A reposição de fosfato pode
excreção renal de potássio. Altas doses posição do potássio é necessária inde- levar à hipocalcemia.
de insulina administradas prolongada- pendentemente dos níveis séricos, sal- O uso de bicarbonato não está mais
mente podem contribuir para redução vo na presença de insuficiência renal.44 indicado na CAD, independentemente
dos níveis séricos de potássio, apesar da O eletrocardiograma (ECG) pode dos níveis de pH. Estudos controlados

Rev. Ped. SOPERJ, v. 17, supl. 1, p. 45-55, dez. 2017. 51


mostraram não haver benefício.47 A Tabela 5 – Abordagem diagnóstica do edema cerebral na CAD
terapia com bicarbonato pode causar
Critérios diagnósticos
acidose paradoxal no sistema nervoso
Resposta motora ou verbal à dor alterada
central48 e hipocalemia grave,48 além de
Postura de decorticação ou descerebração
estar associada, em alguns estudos, ao
Paralisia de nervo craniano (especialmente III, IV e VI)
aumento do risco de edema cerebral.9
Padrão respiratório neurogênico anormal (gemência, Cheyne-Stokes, taquipneia, apneia)
Atualmente, seu uso só está indicado
Critérios maiores
na parada cardíaca.
Alteração/flutuação do nível de consciência
Bradicardia sustentada (queda maior que 20 bpm), não atribuível à reposição do volume intravascular ou a
COMPLICAÇÕES DURANTE O estado de sono
TRATAMENTO DA CAD Incontinência inapropriada para a idade
As complicações observadas duran- Critérios menores
te o tratamento da CAD são bastante Vômitos
graves e devem ser monitorizadas e Cefaleia
tratadas prontamente. Letargia ou não facilmente despertável
Pressão diastólica > 90 mmHg
Hipoglicemia Idade menor de 5 anos

Hipoglicemia é definida como glice- A presença de um critério diagnóstico ou dois critérios maiores ou um critério maior e dois critérios menores após o início
do tratamento tem sensibilidade de 92% para o diagnóstico de edema cerebral, com apenas 4% de falso-positivo.
mia abaixo de 60 mg/dl em crianças
maiores de 1 ano de idade. Em caso
de hipoglicemia durante a correção evidência de edema cerebral na neu- associados ao edema cerebral sintomá-
de CAD, fazer flush de 200 mg/kg de roimagem.49 Outros, de forma seme- tico são: idade menor de 5 anos ;53 aber-
glicose usando, por exemplo, 2 ml/kg lhante, evidenciaram que o edema ce- tura de quadro de DM1;53 maior dura-
de soro glicosado a 10%. Em seguida, rebral na neuroimagem é fenômeno ção dos sintomas e, à admissão, pCO2
aumentar concentração do soro glico- relativamente frequente,49 com graus proporcionalmente mais baixa do que o
sado (ou a TIG) da hidratação venosa variados, sendo o edema cerebral cli- esperado para a acidose;9 ureia aumen-
em uso. nicamente evidente uma manifestação tada; 9 acidose muito grave35 e duran-
grave de um fenômeno comum.50 te tratamento, o uso de bicarbonato; 9
Edema Cerebral A etiologia do edema cerebral perma- grandes volumes infundidos nas pri-
O edema cerebral é a complicação nece não esclarecida completamente e meiras quatro horas;35 queda rápida da
mais temida do tratamento da CAD. as hipóteses atribuindo sua fisiopato- osmolaridade sérica;36 administração de
Tipicamente ocorre 4 a 12 horas após genia à infusão rápida de fluidos com insulina na primeira hora de reposição
início do tratamento, mas pode ocorrer variação brusca da osmolaridade ain- de fluidos;35 e uma elevação atenuada
mesmo antes dele ter sido instituído ou da são controversas. Este dado é corro- do sódio ou uma queda do sódio corri-
mais tardiamente, como após 24 horas borado por investigações mais recentes gido durante o tratamento.9
de iniciado.16 que atribuíram a desidratação e a hi- Uma abordagem baseada na avalia-
O edema cerebral franco é uma com- poperfusão cerebral geradas pela CAD ção periódica do exame neurológico à
plicação rara, ocorrendo em 0,5 a 0,9% à injúria cerebral,9,51 sugerindo que fa- beira do leito permite a identificação
dos episódios de CAD, mas de alta mor- tores intrínsecos à CAD podem levar à de sinais que podem ser usados como
talidade (21-24%), sendo a principal lesão cerebral e esta pode ser agravada critérios diagnósticos, critérios maiores
causa de óbito em crianças com CAD, durante o tratamento.52 De fato, o grau e critérios menores para edema cere-
além de responsável por grande taxa de de edema que se desenvolve durante a bral.54 A presença de um critério diag-
sobreviventes com sequela neurológica CAD se correlaciona ao grau de desi- nóstico ou dois critérios maiores ou um
permanente (15-26%).9,10 dratação e hiperventilação à admissão, critério maior e dois critérios menores
Estudos observaram que aproxima- mas não com a osmolaridade inicial ou (Tabela 5), após o início do tratamento,
damente 15% dos pacientes tratados mudanças de osmolaridade ao longo do tem sensibilidade de 92% para o diag-
para CAD tinham alteração do nível tratamento. nóstico de edema cerebral, com apenas
de consciência (Glasgow < 14) com Os fatores de risco que já foram 4% de falso-positivo, e é sugerida pelo

52 Rev. Ped. SOPERJ, v. 17, supl. 1, p. 45-55, dez. 2017.


guideline mais recente.16 Tabela 6 – Esquema de insulinização subcutânea com insulina regular ou ultrarrápida
Na suspeita clínica de edema cere-
Glicemia capilar antes das refeições Dose de insulina rápida/ultrarrápida
bral, o tratamento deve ser iniciado
≥ 160 mg/dl 0,1 UI/kg (até 4 UI)
prontamente, antes mesmo da realiza-
≥ 200 mg/dl 0,2 UI/kg
ção de exames de imagem. As medidas
≥ 300 mg/dl 0,3 UI/kg
preconizadas são: reduzir a velocida-
≥ 500 mg/dl 0,4 UI/kg
de de infusão de fluidos a ⅓ da vigen-
te; elevar a cabeceira a 30° e adminis-
trar manitol na dose de 0,5 a 1,0 g/kg, a insulina ultrarrápida (asparte, lispro oferecer uma colher de sopa ou três sa-
intravenoso, em 10 a 15 minutos, re- ou glulisina) 15 minutos antes da sus- chês de açúcar (15 g de carboidrato sim-
petindo a dose se não houver respos- pensão da infusão venosa de insulina. ples), além de pequeno lanche ou da
ta inicial em 30 minutos a 2 horas.55 A dose é de 0,1 UI/kg. 26 Em seguida, refeição do horário. Já se o paciente es-
A salina hipertônica (3%), na dose de oferecer alimentos conforme horário. tiver sonolento ou inconsciente, admi-
2,5 a 5 ml/kg, em infusão por 10 a 15 Neste momento também deve ser inter- nistrar flush de glicose (como descrito
minutos, pode ser usada como alterna- rompida a infusão de hidratação venosa acima) e oferecer lanche, caso o pacien-
tiva ao manitol, especialmente se não que contenha soro glicosado e a hidra- te tolere a via oral, ou aumentar/iniciar
houver resposta inicial ao manitol, po- tação pode ser oferecida por via oral e/ hidratação com soro glicosado, caso a
rém estudos sugerem que ela pode não ou venosa (com SF 0,9% e potássio), via oral não seja possível. Nova glicemia
ser tão eficaz quanto o manitol e estar mantendo-se os volumes previamente capilar deve ser verificada após 30 a 60
associada a maior mortalidade quan- calculados. O tratamento com insuli- minutos, repetindo-se os procedimen-
do usada como primeira escolha.56 A na regular ou ultrarrápida por via sub- tos acima caso não haja normalização
intubação traqueal pode ser necessá- cutânea é mantido e as doses escolhi- da glicemia.
ria para proteção de vias aéreas, mas das de acordo com as glicemias capi-
deve ser evitada a hiperventilação, pois lares (hemoglucoteste) antes das refei- PREVENÇÃO
piora o desfecho neurológico. O exame ções. Na tabela 6 segue uma sugestão A abordagem à CAD só é completa
de imagem do SNC deve ser realizado de posologia. quando é identificado o seu fator pre-
após iniciado o tratamento do edema Recomenda-se que sejam usadas do- cipitante, possibilitando a orientação
cerebral, visando descartar diagnósti- ses menores de insulina regular/ultrar- do paciente e de sua família quanto às
cos diferenciais que requeiram outras rápida antes da ceia (somente se glice- medidas de prevenção de recorrência.
abordagens, como neurocirurgia (he- mia acima de 200 mg/dl). Idealmente, No paciente em abertura de quadro
morragia intracraniana, por exemplo) concomitantemente à suspensão da de DM1, o reconhecimento dos sinais
ou anticoagulação (trombose cerebro- infusão contínua de insulina, deve ser e sintomas da doença, especialmente
vascular, por exemplo). iniciada a insulinização subcutânea em lactentes e crianças pequenas, pode
basal, com insulina lenta ou ultralen- evitar a evolução para CAD. O paciente
FASE DE TRANSIÇÃO ta (NPH ou glargina), tentando-se ajus- recém-diagnosticado com DM1 e seus
Uma vez obtida a correção da cetoa- tar o horário de aplicação para antes do cuidadores devem receber educação em
cidose, confirmada pelos níveis de pH café da manhã ou da ceia. A dose ini- diabetes antes da alta hospitalar, com
maiores que 7,3 e bicarbonato maior cial da insulina NPH é 0,3 a 0,5 UI/kg/ treinamento para aferição de glicemia,
que 15 mEq/l, associados à glicemia dia, fracionado em ⅔ pela manhã e ⅓ aplicação de insulina, manejo de doses,
menor que 250 mg/dl, deve ser iniciada na ceia, e a de insulina glargina é 0,2 a orientação nutricional, além do reco-
a insulinização subcutânea, para sub- 0,4 UI/kg/dia, em tomada única.26 nhecimento dos sinais de hipoglicemia
sequente interrupção da infusão veno- Em caso de hipoglicemia nessa fase, e de CAD.57
sa de insulina.26 no paciente assintomático, recomenda- Já em pacientes previamente diabéti-
O ideal é que essa transição da insu- -se oferecer pequeno lanche (200 ml de cos, a principal causa de CAD é a omis-
linização venosa para subcutânea seja leite com pão) ou antecipar a refeição são de dose de insulina, seja inadver-
feita com o paciente acordado e dispos- prevista para o horário. Caso o pacien- tida ou deliberadamente. A supervisão
to a receber uma refeição. Pode-se usar te esteja sintomático, mas lúcido, ou se por um adulto do uso de insulina, espe-
a insulina regular 30 minutos antes ou for o horário da ceia ou de madrugada, cialmente em adolescentes e em casos

Rev. Ped. SOPERJ, v. 17, supl. 1, p. 45-55, dez. 2017. 53


de estresse físico, infeccioso ou emocio- COMENTÁRIOS AGRADECIMENTO
nal, é medida importante na preven- O diagnóstico precoce do DM1 e o re- Agradecemos ao Dr. Jorge Luiz
ção de CAD, capaz de reduzir em até conhecimento e manejo adequado da Luescher, chefe do Ambulatório de
dez vezes sua recorrência.58 Naqueles CAD são fundamentais para a redução Diabetes Infantojuvenil do IPPMG/
usuários de bomba de insulina, é co- da morbimortalidade do diabetes na UFRJ, pelo apoio à publicação e pelos
mum CAD associada a falha no equi- infância. anos de ensinamentos e dedicação aos
pamento, que deve ser rotineiramente seus alunos e pacientes.
checado. O uso de fitas de monitoriza-
ção de cetonemia pode auxiliar na de-
tecção precoce da CAD.59

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