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PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL*

* Ao redigir simplesmente “CPC”, estou a me referir ao CPC/2015.


* Ao redigir simplesmente “CF”, estou a me referir à CRFB/1988.

1. PRINCÍPIOS DE NATUREZA CONSTITUCIONAL

PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

CF, Art. 5º - (...)


LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
(...).
 O art. 5º, LIV, da CF prevê o chamado devido processo legal (due process of law). Ele se relaciona ao processo justo,
adequado, leal e efetivo. Trata-se de princípio cuja construção de conteúdo não para no tempo. Mais que isso: a sua
importância surge do fato de que ele serve para o nascimento de outros princípios – como o princípio da ampla defesa
(se não há ampla defesa, não há devido processo legal).

O devido processo legal pode ser analisado sob dois pontos:


1) Devido processo legal formal ou procedimental (também chamado de procedural due process of law) ->
Relaciona-se à existência das garantias processuais: contraditório, juiz natural, duração razoável etc;
2) Devido processo legal substancial (também chamado substantive due processo law) -> Vai além de
simplesmente prever garantias, trabalha com o critério da produção de decisões de fato devidas (não apenas
as judiciais, mas igualmente as leis e as administrativas). O STF interpreta a cláusula do devido processo legal
no sentido substancial como aquela apta a aplicar os princípios da PROPORCIONALIDADE e da
RAZOABILIDADE.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

CF, Art. 5º - (...)


II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
(...).

Por sua vez:

CPC, Art. 8º - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA e observando a PROPORCIONALIDADE, a
RAZOABILIDADE, a LEGALIDADE, a PUBLICIDADE e a EFICIÊNCIA.
 Fica evidente a constitucionalização do Direito Processual Civil – princípios extraídos dos arts. 1º e 37 da CF/88.
 Essa referência feita no início do dispositivo a “ordenamento jurídico” revela que o legislador abandonou a
simples menção à lei em sentido estrito, para dar uma maior amplitude ao Direito, que deve abranger princípios,
atos negociais e precedentes. Hoje, portanto, o princípio da legalidade tem um significado nitidamente mais amplo, de
modo que o juiz, ao decidir os casos que lhe são submetidos, deve atuar tendo em vista essas múltiplas fontes do direito.

PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
CF, Art. 5º - (...)
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
(...).

Por sua vez, reza o CPC:

CPC, Art. 9º NÃO se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput NÃO se aplica: [hipóteses em que haverá o contraditório diferido]
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ;
II -> As alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento
de casos repetitivos ou em súmula vinculante); e III -> pedido reipersecutório fundado em prova documental
adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa.
III - à decisão prevista no art. 701.
DECISÃO QUE EXPEDE O MANDADO MONITÓRIO (espécie de tutela de evidência). Sendo evidente o direito do autor,
o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou
de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de
cinco por cento do valor atribuído à causa.

O contraditório também possui duplo significado:


1) Dimensão formal -> Contraditório significa permitir que as partes sejam ouvidas;
2) Dimensão material (substancial) -> Contraditório significa o poder de influenciar a decisão judicial, de levantar
argumentos e fatos, que deverão ser levados em conta pelo juiz ao tomar uma decisão.

Mas não é só: essa nova forma de enxergar o princípio do contraditório justificou a redação de alguns dispositivos do
CPC/2015:

CPC, Art. 10 - O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não
se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.
O princípio do contraditório deve ser respeitado ainda que se a questão decidida seja matéria de ordem pública.

CPC, Art. 493 (...).


Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz ouvirá as partes sobre ele antes de decidir.

CPC, Art. 933 - Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão
apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes
para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias.
(...).

PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

CF, Art. 5º - (...)


LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...).

O ART. 4º, do CPC trouxe previsão aproximada:

CPC, Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade
satisfativa.
O dispositivo em tela compreende também os princípios da primazia da decisão/julgamento de mérito (exs.: arts.6º, 282,
§2º, 317, 932, p.u., CPC) e da efetividade do processo.
Esse princípio é dirigido desde logo ao legislador, a quem cabe editar normas que sirvam a acelerar o processo. Mas
ele se destina igualmente ao Poder Judiciário, que precisa, dentro do limite da lei, encontrar formas para tramitar os
feitos de modo mais eficiente.

Parte da doutrina (ex.: Fredie Didier) entende que não existe um princípio da celeridade. Com efeito, o processo não
tem que ser rápido/célere: o processo deve demorar o tempo necessário e adequado à solução do caso submetido ao
órgão jurisdicional.

PRINCÍPIO DA IGUALDADE / ISONOMIA

CF, Art. 5º - (...)


I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
(...).

Por sua vez, reza o CPC:

CPC, Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades
processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz
zelar pelo efetivo contraditório.

O processo deve gerar paridade de armas; aos litigantes, portanto, devem-se garantir os mesmos instrumentos de
atuação: a imparcialidade do juiz (que deve ser equidistante de todos os litigantes) e a igualdade no acesso à justiça.

Mas isso não significa que não possa haver diferenças no processo, pensadas – muitas vezes – para proteger
situações específicas e assim possibilitar uma igualdade real, e não meramente teórica: a nomeação de um curador
especial para incapazes é um exemplo dessa diferença que, a rigor, existe para propiciar a isonomia.

A esse respeito, jamais se entendeu que os prazos especiais e o direito à intimação pessoal de que dispõe a Fazenda
Pública (União, Estados, DF, Municípios, autarquias e fundações públicas) violam a igualdade processual – a
jurisprudência do STF reconhece a constitucionalidade dessa espécie de tratamento processual diferenciado (ex.: ADI
2418).

Calha registrar, porém, que, no Juizados Especiais, a Fazenda Pública não possui prazos especiais nem direito à
intimação pessoal (art. 9º, da Lei n. 10.259/2001 – cuja validade foi reconhecida pelo STF: ARE 648.629, DJe de
08/04/2014). É que, consoante o entendimento do STF, “(...) neste rito especial, ante a simplicidade das causas nele
julgadas, particular e Fazenda Pública apresentam semelhante, se não idêntica, dificuldade para o adequado exercício
do direito de informação dos atos do processo, de modo que não se revela razoável a incidência de norma que
restringe a paridade de armas, além de comprometer a informalidade e a celeridade do procedimento.”
PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL

CF, Art. 5º - (...)


XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
(...).
A menção a essas duas situações não se deu à toa: a lesão já é a própria violação do direito; a ameaça de lesão é
apenas a probabilidade de que essa violação venha a ocorrer.

CPC, Art. 3º - Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

É por isso que o ordenamento prevê, por exemplo, o mandado de segurança preventivo, quando há uma ameaça de
que ocorra violação a direito líquido e certo. Dessa forma, a doutrina processual convencionou chamar de tutela
inibitória as tutelas que visam a impedir a concretização de uma lesão ao direito ‒ a lesão ainda vai acontecer; o
raciocínio é futuro; mas a ação judicial já pode ser utilizada.

O acesso à Justiça, porém, NÃO é absoluto – no sentido de ser realizado como as partes bem entenderem. O
legislador pode estabelecer requisitos para que o ato de ingressa com uma ação se dê de modo idôneo. Foi o que se
fez com as chamadas condições da ação, que o CPC reduziu à legitimidade das partes e ao interesse processual.

De acordo com Marcus Vinícius Rio Gonçalves1: “Essas limitações não ofendem a garantia da ação, pois constituem
restrições de ordem técnico-profissional, necessárias para a própria preservação do sistema e o bom convívio das
normas processuais.”

A jurisprudência não impõe que haja o esgotamento da instância administrativa para que se abra a via judicial. Mas há
uma exceção: o art. 217, § 1º, da CF dispõe que "O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei".

Calha registrar as seguintes Súmulas alusivas ao acesso à justiça:

STF, Súmula Vinculante n. 28: “É INCONSTITUCIONAL a exigência de depósito prévio como requisito de
admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”.
A exigência do depósito prévio como requisito do ajuizamento de uma ação, algo reputado inconstitucional pelo STF, não
se confunde com a imposição do depósito de um valor para a concessão de uma liminar, tal qual o ordenamento jurídico
faz para a medida de urgência de deferimento da suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, II, do CTN). A
diferença é esta: uma coisa é exigir-se o depósito do valor para o ajuizamento em si da ação; outra coisa é exigir-se o
depósito para o deferimento de uma tutela de urgência (liminares, tutelas antecipadas etc.), quando essa tutela de
urgência não se vá fundar em outro motivo.

STF, Súmula n. 667: “VIOLA a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre
o valor da causa.”

No tocante à questão, o seguinte julgado é digno de nota: “(...) A concessão de benefícios previdenciários depende de
requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento
pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio
requerimento não se confunde com o exaurimento das vias administrativas. A exigência de prévio requerimento
administrativo não deve prevalecer quando o entendimento da administração for notória e reiteradamente contrário à
postulação do segurado. Na hipótese de pretensão de REVISÃO, RESTABELECIMENTO ou MANUTENÇÃO de
benefício anteriormente concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a prestação mais
vantajosa possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo – salvo se depender da análise de matéria de
fato ainda não levada ao conhecimento da administração –, uma vez que, nesses casos, a conduta do INSS já
configura o não acolhimento ao menos tácito da pretensão. (...).” (RE 631.240, rel. min. Roberto Barroso, j. 3-9-2014,
DJE de 10-11-2014, Tema 350).

1
[1] GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de processo civil. Volume 1. 15ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 62.
PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ

Embora a Constituição Federal não o mencione expressamente, é possível extraí-lo de uma série de dispositivos,
conforme o art. 5º, LIII, da CF (princípio do juiz natural; ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente) e o art. 5º, XXXVII, da CF, o qual proíbe a criação de tribunais ou juízos de exceção.

CF, Art. 5º - (...)


LIII - NINGUÉM será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
(...)
XXXVII - NÃO haverá juízo ou tribunal de exceção;
(...).

Imparcialidade significa equidistância; o juiz precisa, portanto, estar equidistante das partes. As regras dos arts. 144 e
145 do CPC preveem as hipóteses de impedimento e de suspeição do magistrado, precisamente para evitar
julgamentos fundados em bases que possam macular as decisões prolatadas.

Mas não se pode confundir a imparcialidade, dever de todos os membros do Poder Judiciário, com a neutralidade, que
seria a completa ausência de qualquer tipo de influência (e aí entra toda a vida do juiz, desde a educação que recebeu,
o colégio pelo qual passou, as relações familiares estabelecidas etc.), algo impossível de se impor quando se sabe que
o julgador é um ser humano.

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

Os seguintes dispositivos constitucionais elucidam o princípio em tela:

CF, Art. 5º - (...)


LX - a lei SÓ PODERÁ restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
social o exigirem;
(...).

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:
(...)
IX TODOS os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...).

ATENÇÃO: NÃO há na Constituição Federal qualquer regra que imponha expressamente o princípio do duplo grau
de jurisdição. Tanto isso é verdade que existem processos que não se submetem ao duplo grau, como os julgamentos
originários no Supremo Tribunal Federal.

2. PRINCÍPIOS DE NATUREZA INFRACONSTITUCIONAL

PRINCÍPIO DISPOSITIVO

PRINCÍPIO INQUISITO

CPC, Art. 2º O processo começa por INICIATIVA DA PARTE e se desenvolve por IMPULSO OFICIAL, salvo as
exceções previstas em lei.

Esse princípio pode ser analisado em duas situações:


a) uma relativa ao ajuizamento da ação e à fixação dos contornos da lide;
b) a outra quando em jogo a produção das provas.

De modo tradicional, o princípio dispositivo vigorava no processo civil em relação a ambas as situações (CPC/1973).
Mas esse quadro vem-se modificando desde algum tempo, e agora o princípio dispositivo se aplica ao AJUIZAMENTO
DA DEMANDA e à FIXAÇÃO DOS CONTORNOS DA LIDE, algo que é feito pelas partes; o juiz, nesse ponto, não age
de ofício.

Em relação à PRODUÇÃO DE PROVAS, porém, já é relativamente tranquilo (pelo menos é o que pensa a maior parte
da doutrina) que o magistrado pode determiná-las de ofício, de modo que, nesse ponto, não mais vigora o princípio
dispositivo, mas o princípio inquisitivo – já que o magistrado tem a possibilidade de investigar e determinar as provas
que entenda pertinentes.
“(...) A atividade probatória exercida pelo magistrado deve se operar em conjunto com os litigantes e não em
substituição a eles (...). (REsp 894.443/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 17/06/2010, DJe 16/08/2010)

PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL

CPC, Art. 371 - O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e
indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento.

O princípio da persuasão racional (ou do livre convencimento motivado) cuida-se de um dos mais importantes
princípios do processo civil, de acordo com o qual o juiz é livre para decidir, mas precisa expor as razões do seu
pensamento.

Classificação dos sistemas de apreciação e avaliação da prova:


a) Sistema da prova legal -> O legislador já estabelece o valor de cada prova, cabendo ao magistrado apenas
segui-lo. O CPC o adota excepcionalmente, tal como se percebe no art. 406, que dispõe: "Quando a lei exigir
instrumento público como da substância do ato, nenhuma outra prova, por mais especial que seja, pode suprir-
lhe a falta.";
Por vezes, o sistema de prova legal aparece em meio a redações proibitivas, como sucede com a famosa regra de direito
previdenciário segundo a qual a prova exclusivamente testemunhal não serve para a demonstração do tempo de serviço.
b) Sistema do julgamento de acordo com a consciência -> Permite ao juiz julgar livremente, sem a
necessidade de apresentar justificativas;
c) Sistema da persuasão racional -> Adotado no CPC.

PRINCÍPIO DA ORALIDADE

No Brasil, não se adota o princípio puro da oralidade. O procedimento segue um misto com atos escritos e atos orais.
Conforme esclarece Marcus Vinicius Rios Gonçalves2: "Hoje em dia, com a expressão princípio da oralidade, quer-se
significar a necessidade de o julgador aproximar-se o quanto possível da instrução e das provas realizadas ao longo do
processo”.

Segundo a doutrina, há 4 (quatro) subprincípios que decorrem do princípio da oralidade:


a) Imediação -> O juiz colhe diretamente a prova;
b) Identidade física do juiz -> O juiz de instrução é o mesmo juiz de julgamento – o juiz que colhe a prova oral
em audiência fica vinculado ao julgamento do pedido;
O princípio da identidade física do juiz tinha previsão no art. 132, do CPC/1973. No CPC (atual - NCPC), consoante
doutrina majoritária, não há dispositivo correlato. Logo, o juiz que concluir a audiência não precisará, necessariamente,
julgar a lide. Da mesma forma, ao menos em tese, não faz sentido “convocar” o magistrado que prolatou a decisão
embargada para examinar os embargos de declaração. Ainda assim, a doutrina entende que a identidade física do juiz
continua presente. Veja (Marcus Vinicius Rios Gonçalves): “É corolário do sistema, e dos demais subprincípios derivados
da oralidade, seja o da imediação, o da concentração, seja o da irrecorribilidade em separado das interlocutórias, que
seja mantido o princípio da identidade física do juiz, porque o juiz que colhe a prova está mais apto a julgar, pelo contato
direto que teve com as partes e as testemunhas."

2 Obra citada, p. 72.


c) Concentração -> A prova oral, se possível, há de ser colhida em uma única audiência, para dar ao magistrado
uma visão sistemática do caso;
d) Irrecorribilidade das interlocutórias -> As decisões que não estejam enumeradas no art. 1.015, do CPC – e
que não sejam a elas equiparadas pela jurisprudência, porquanto o aludido rol não é taxativo (STJ) -, NÃO
serão objeto do recurso de agravo de instrumento; a impugnação dessas decisões deverá ser feita em
preliminar de apelação (ou nas contrarrazões desse recurso).
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de
liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
A irrecorribilidade das interlocutórias evita a pulverização dos atos processuais, bem como a interrupção contínua da
relação jurídica processual, atendendo à celeridade e à duração razoável do processo.

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

CPC, Art. 5º - Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.

CPC, Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são DEVERES das partes, de seus procuradores e de todos
aqueles que de qualquer forma participem do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento;
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito;
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua
efetivação;
V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde
receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva;
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.
(...).

O Código de 1973 já previa sanções ao litigante de má-fé, mas ele não colocava a boa-fé como um princípio geral do
Código, algo que agora foi feito pelo CPC de 2015.
PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO

CPC, Art. 6º - Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva.
 A cooperação é uma consequência natural do princípio da boa-fé.

A cooperação pressupõe diálogo entre os sujeitos do processo (juiz e partes). O exemplo do art. 357, § 3º, do CPC é
bem forte: o juiz pode marcar uma audiência para discutir com as partes os pontos do saneamento do feito. É de se
notar, por isso, que o legislador não restringiu a cooperação ao autor e ao réu: todos os que possuem algum papel na
lide têm o dever de cumpri-la.
PRINCÍPIO DE UNIFORMIZAÇÃO JURISPRUDENCIAL

Para Mozart Borba, apesar de não estar localizada no Capítulo I, do Livro I, trata-se de uma norma fundamental.

De início, cumpre salientar que o CPC não abandonou a tradição jurídica da Civil Law, mas, de fato, incorporou alguns
aspectos da Common Law. É que o legislador se empenhou para que as decisões dos tribunais ganhassem eficácia
obrigatória.

CPC, Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
§1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados
de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que
motivaram sua criação.

CPC, Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:


I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;
II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência [IAC] ou de resolução de demandas repetitivas [IRDR] e em
julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de
Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

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