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PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
CPC, Art. 8º - Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
resguardando e promovendo a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA e observando a PROPORCIONALIDADE, a
RAZOABILIDADE, a LEGALIDADE, a PUBLICIDADE e a EFICIÊNCIA.
Fica evidente a constitucionalização do Direito Processual Civil – princípios extraídos dos arts. 1º e 37 da CF/88.
Essa referência feita no início do dispositivo a “ordenamento jurídico” revela que o legislador abandonou a
simples menção à lei em sentido estrito, para dar uma maior amplitude ao Direito, que deve abranger princípios,
atos negociais e precedentes. Hoje, portanto, o princípio da legalidade tem um significado nitidamente mais amplo, de
modo que o juiz, ao decidir os casos que lhe são submetidos, deve atuar tendo em vista essas múltiplas fontes do direito.
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
CF, Art. 5º - (...)
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
(...).
CPC, Art. 9º NÃO se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput NÃO se aplica: [hipóteses em que haverá o contraditório diferido]
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ;
II -> As alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento
de casos repetitivos ou em súmula vinculante); e III -> pedido reipersecutório fundado em prova documental
adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa.
III - à decisão prevista no art. 701.
DECISÃO QUE EXPEDE O MANDADO MONITÓRIO (espécie de tutela de evidência). Sendo evidente o direito do autor,
o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou
de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 dias para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de
cinco por cento do valor atribuído à causa.
Mas não é só: essa nova forma de enxergar o princípio do contraditório justificou a redação de alguns dispositivos do
CPC/2015:
CPC, Art. 10 - O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não
se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de
ofício.
O princípio do contraditório deve ser respeitado ainda que se a questão decidida seja matéria de ordem pública.
CPC, Art. 933 - Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão
apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes
para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias.
(...).
CPC, Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade
satisfativa.
O dispositivo em tela compreende também os princípios da primazia da decisão/julgamento de mérito (exs.: arts.6º, 282,
§2º, 317, 932, p.u., CPC) e da efetividade do processo.
Esse princípio é dirigido desde logo ao legislador, a quem cabe editar normas que sirvam a acelerar o processo. Mas
ele se destina igualmente ao Poder Judiciário, que precisa, dentro do limite da lei, encontrar formas para tramitar os
feitos de modo mais eficiente.
Parte da doutrina (ex.: Fredie Didier) entende que não existe um princípio da celeridade. Com efeito, o processo não
tem que ser rápido/célere: o processo deve demorar o tempo necessário e adequado à solução do caso submetido ao
órgão jurisdicional.
CPC, Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades
processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz
zelar pelo efetivo contraditório.
O processo deve gerar paridade de armas; aos litigantes, portanto, devem-se garantir os mesmos instrumentos de
atuação: a imparcialidade do juiz (que deve ser equidistante de todos os litigantes) e a igualdade no acesso à justiça.
Mas isso não significa que não possa haver diferenças no processo, pensadas – muitas vezes – para proteger
situações específicas e assim possibilitar uma igualdade real, e não meramente teórica: a nomeação de um curador
especial para incapazes é um exemplo dessa diferença que, a rigor, existe para propiciar a isonomia.
A esse respeito, jamais se entendeu que os prazos especiais e o direito à intimação pessoal de que dispõe a Fazenda
Pública (União, Estados, DF, Municípios, autarquias e fundações públicas) violam a igualdade processual – a
jurisprudência do STF reconhece a constitucionalidade dessa espécie de tratamento processual diferenciado (ex.: ADI
2418).
Calha registrar, porém, que, no Juizados Especiais, a Fazenda Pública não possui prazos especiais nem direito à
intimação pessoal (art. 9º, da Lei n. 10.259/2001 – cuja validade foi reconhecida pelo STF: ARE 648.629, DJe de
08/04/2014). É que, consoante o entendimento do STF, “(...) neste rito especial, ante a simplicidade das causas nele
julgadas, particular e Fazenda Pública apresentam semelhante, se não idêntica, dificuldade para o adequado exercício
do direito de informação dos atos do processo, de modo que não se revela razoável a incidência de norma que
restringe a paridade de armas, além de comprometer a informalidade e a celeridade do procedimento.”
PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL
É por isso que o ordenamento prevê, por exemplo, o mandado de segurança preventivo, quando há uma ameaça de
que ocorra violação a direito líquido e certo. Dessa forma, a doutrina processual convencionou chamar de tutela
inibitória as tutelas que visam a impedir a concretização de uma lesão ao direito ‒ a lesão ainda vai acontecer; o
raciocínio é futuro; mas a ação judicial já pode ser utilizada.
O acesso à Justiça, porém, NÃO é absoluto – no sentido de ser realizado como as partes bem entenderem. O
legislador pode estabelecer requisitos para que o ato de ingressa com uma ação se dê de modo idôneo. Foi o que se
fez com as chamadas condições da ação, que o CPC reduziu à legitimidade das partes e ao interesse processual.
De acordo com Marcus Vinícius Rio Gonçalves1: “Essas limitações não ofendem a garantia da ação, pois constituem
restrições de ordem técnico-profissional, necessárias para a própria preservação do sistema e o bom convívio das
normas processuais.”
A jurisprudência não impõe que haja o esgotamento da instância administrativa para que se abra a via judicial. Mas há
uma exceção: o art. 217, § 1º, da CF dispõe que "O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às
competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei".
STF, Súmula Vinculante n. 28: “É INCONSTITUCIONAL a exigência de depósito prévio como requisito de
admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário”.
A exigência do depósito prévio como requisito do ajuizamento de uma ação, algo reputado inconstitucional pelo STF, não
se confunde com a imposição do depósito de um valor para a concessão de uma liminar, tal qual o ordenamento jurídico
faz para a medida de urgência de deferimento da suspensão da exigibilidade do crédito tributário (art. 151, II, do CTN). A
diferença é esta: uma coisa é exigir-se o depósito do valor para o ajuizamento em si da ação; outra coisa é exigir-se o
depósito para o deferimento de uma tutela de urgência (liminares, tutelas antecipadas etc.), quando essa tutela de
urgência não se vá fundar em outro motivo.
STF, Súmula n. 667: “VIOLA a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre
o valor da causa.”
No tocante à questão, o seguinte julgado é digno de nota: “(...) A concessão de benefícios previdenciários depende de
requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua apreciação e indeferimento
pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no entanto, que a exigência de prévio
requerimento não se confunde com o exaurimento das vias administrativas. A exigência de prévio requerimento
administrativo não deve prevalecer quando o entendimento da administração for notória e reiteradamente contrário à
postulação do segurado. Na hipótese de pretensão de REVISÃO, RESTABELECIMENTO ou MANUTENÇÃO de
benefício anteriormente concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a prestação mais
vantajosa possível, o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo – salvo se depender da análise de matéria de
fato ainda não levada ao conhecimento da administração –, uma vez que, nesses casos, a conduta do INSS já
configura o não acolhimento ao menos tácito da pretensão. (...).” (RE 631.240, rel. min. Roberto Barroso, j. 3-9-2014,
DJE de 10-11-2014, Tema 350).
1
[1] GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de processo civil. Volume 1. 15ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 62.
PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ
Embora a Constituição Federal não o mencione expressamente, é possível extraí-lo de uma série de dispositivos,
conforme o art. 5º, LIII, da CF (princípio do juiz natural; ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente) e o art. 5º, XXXVII, da CF, o qual proíbe a criação de tribunais ou juízos de exceção.
Imparcialidade significa equidistância; o juiz precisa, portanto, estar equidistante das partes. As regras dos arts. 144 e
145 do CPC preveem as hipóteses de impedimento e de suspeição do magistrado, precisamente para evitar
julgamentos fundados em bases que possam macular as decisões prolatadas.
Mas não se pode confundir a imparcialidade, dever de todos os membros do Poder Judiciário, com a neutralidade, que
seria a completa ausência de qualquer tipo de influência (e aí entra toda a vida do juiz, desde a educação que recebeu,
o colégio pelo qual passou, as relações familiares estabelecidas etc.), algo impossível de se impor quando se sabe que
o julgador é um ser humano.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:
(...)
IX TODOS os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
(...).
ATENÇÃO: NÃO há na Constituição Federal qualquer regra que imponha expressamente o princípio do duplo grau
de jurisdição. Tanto isso é verdade que existem processos que não se submetem ao duplo grau, como os julgamentos
originários no Supremo Tribunal Federal.
PRINCÍPIO DISPOSITIVO
PRINCÍPIO INQUISITO
CPC, Art. 2º O processo começa por INICIATIVA DA PARTE e se desenvolve por IMPULSO OFICIAL, salvo as
exceções previstas em lei.
De modo tradicional, o princípio dispositivo vigorava no processo civil em relação a ambas as situações (CPC/1973).
Mas esse quadro vem-se modificando desde algum tempo, e agora o princípio dispositivo se aplica ao AJUIZAMENTO
DA DEMANDA e à FIXAÇÃO DOS CONTORNOS DA LIDE, algo que é feito pelas partes; o juiz, nesse ponto, não age
de ofício.
Em relação à PRODUÇÃO DE PROVAS, porém, já é relativamente tranquilo (pelo menos é o que pensa a maior parte
da doutrina) que o magistrado pode determiná-las de ofício, de modo que, nesse ponto, não mais vigora o princípio
dispositivo, mas o princípio inquisitivo – já que o magistrado tem a possibilidade de investigar e determinar as provas
que entenda pertinentes.
“(...) A atividade probatória exercida pelo magistrado deve se operar em conjunto com os litigantes e não em
substituição a eles (...). (REsp 894.443/SC, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 17/06/2010, DJe 16/08/2010)
CPC, Art. 371 - O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e
indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento.
O princípio da persuasão racional (ou do livre convencimento motivado) cuida-se de um dos mais importantes
princípios do processo civil, de acordo com o qual o juiz é livre para decidir, mas precisa expor as razões do seu
pensamento.
PRINCÍPIO DA ORALIDADE
No Brasil, não se adota o princípio puro da oralidade. O procedimento segue um misto com atos escritos e atos orais.
Conforme esclarece Marcus Vinicius Rios Gonçalves2: "Hoje em dia, com a expressão princípio da oralidade, quer-se
significar a necessidade de o julgador aproximar-se o quanto possível da instrução e das provas realizadas ao longo do
processo”.
PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
CPC, Art. 5º - Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.
CPC, Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são DEVERES das partes, de seus procuradores e de todos
aqueles que de qualquer forma participem do processo:
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento;
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito;
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua
efetivação;
V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde
receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva;
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso.
(...).
O Código de 1973 já previa sanções ao litigante de má-fé, mas ele não colocava a boa-fé como um princípio geral do
Código, algo que agora foi feito pelo CPC de 2015.
PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO
CPC, Art. 6º - Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
decisão de mérito justa e efetiva.
A cooperação é uma consequência natural do princípio da boa-fé.
A cooperação pressupõe diálogo entre os sujeitos do processo (juiz e partes). O exemplo do art. 357, § 3º, do CPC é
bem forte: o juiz pode marcar uma audiência para discutir com as partes os pontos do saneamento do feito. É de se
notar, por isso, que o legislador não restringiu a cooperação ao autor e ao réu: todos os que possuem algum papel na
lide têm o dever de cumpri-la.
PRINCÍPIO DE UNIFORMIZAÇÃO JURISPRUDENCIAL
Para Mozart Borba, apesar de não estar localizada no Capítulo I, do Livro I, trata-se de uma norma fundamental.
De início, cumpre salientar que o CPC não abandonou a tradição jurídica da Civil Law, mas, de fato, incorporou alguns
aspectos da Common Law. É que o legislador se empenhou para que as decisões dos tribunais ganhassem eficácia
obrigatória.
CPC, Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.
§1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados
de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.
§2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que
motivaram sua criação.