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É por essa perspectiva que surge a linha de pensamento sobre o evolucionismo cultural,
que, a partir de uma interpretação das ideias darwinianas, acredita que a humanidade
“teria se desenvolvido em estágios sucessivos e obrigatórios, numa trajetória basicamente
unilinear e ascendente” (CASTRO, 2005), de forma necessária e natural segundo Lewis
Henry Morgan (1818-1881), que a partir de suas pesquisas conclui que as civilizações
avançam de forma uniforme em todos os continentes e de forma semelhante entre tribos
e nações que se encontram em um mesmo estágio de desenvolvimento.
Para a maior parte dos evolucionistas vitorianos, “a humanidade consistia em grupos que
eram aculturados em vários graus e distribuídos nos degraus de uma escada de evolução
cultural” (ERIKSEN & NIELSEN, 2007). Essa visão, por acreditar em um único caminho
evolutivo humano, via os povos “não ocidentais” como um exemplo atual de povos
primitivos, um “museu vivo” da humanidade, “representantes de etapas anteriores da
trajetória universal do homem rumo à condição dos povos mais ‘avançados’” (CASTRO,
2005), e que, por isso, não teriam se desenvolvido e avançado como civilização. Logo,
tento como perspectiva se tratar de um período ainda muito coberto de preconceitos, com
contínuos conflitos culturais que continuariam existindo e causando diversos debates
sobre cultura, humanidade e direitos, a antropologia, mesmo com o avanço de pesquisas
e aumento de estudos, ainda reflete e produz pensamentos que colocam o outro em um
nível inferior. Para Frazer, o último grande evolucionista vitoriano, um selvagem estaria
para um homem civilizado assim como uma criança estaria para um adulto, definindo a
selvageria como a condição primitiva da humanidade.
Em 1859, Darwin publica “A origem das espécies”, revolucionando a ciência que até
então estava firmada em uma compreensão criacionista sobre as espécies. Nesta obra, fica
claro que todas “as espécies existentes haviam se desenvolvido lentamente a partir de
formas de vida anteriores” (CASTRO, 2005), através da teoria de seleção natural, que
define que a partir de qualquer tipo de mudanças nas condições de vida em um
determinado lugar, aqueles que de alguma forma se adaptaram teriam perpetuado a
espécie, enquanto aqueles que não conseguissem se adaptar, acabariam por se extinguir.
Apesar de ser uma descoberta muito proveitosa para o avanço da ciência, sua
compreensão foi por vezes muito vaga e superficial quando foi utilizada para reforçar
discursos preconceituosos, fortalecidos após a teoria de darwinismo social que tinha
Herbert Spencer como seu principal mentor. Segundo Castro (2005), as ideias filosóficas
de Spencer definiam a escala evolutiva da humanidade de forma ascendente e linear
através de vários estágios, e se constituiu como o fundamento do período clássico do
evolucionismo na antropologia como já foi dito, mesmo não sendo este o teor da teoria
darwiniana.
Desta mesma interpretação deturpada, surgiram movimentos racistas de eugenia que
acabariam por aumentar ainda mais o extermínio sobretudo do povo negro, que mesmo
após a abolição da escravatura ainda eram vistos como inferiores, comparados aos
animais. Sobre isso, a psicanálise freudiana vai dizer que essa tendência de enquadrar
grupos de homens no campo da animalidade provém da visão de que o animal serviria
como um objeto de tentação para satisfazer tendência agressiva do indivíduo, uma vez
que o animal também é definido como inferior diante de uma visão antropocêntrica em
que o homem é o ápice do processo evolutivo. Logo, assim como o animal, certos povos
colocados no campo da animalidade, tendo seus processos de dominação e extermínio
justificados.
Além disso, outro autor interessante de ser tratado é Clifford Geertz, que em sua obra “O
impacto do conceito de cultura sobre o conceito de homem” (1989) conclui que a cultura
é “melhor vista não como complexos padrões concretos de comportamento [...], mas
como um conjunto de mecanismos de controle – planos, receitas, regras, instruções – para
governar o comportamento” (p. 32). Segundo Geertz, o indivíduo precisa de fontes
simbólicas que criem apoios na sua visão de mundo e norteiem sua vivência, onde sem
elas seu comportamento seria ingovernável e sem forma. Nesta perspectiva, esse
antropólogo irá dizer que no desenvolvimento da humanidade, o corpo e o cérebro foram
criados em “um sistema de realimentação (feedback) positiva, no qual cada uma
modelava o progresso do outro, um sistema no qual a interação entre o uso crescente das
ferramentas, a mudança da anatomia da mão e a representação expandida do polegar no
córtex é apenas um dos exemplos mais gráficos.” (p. 35). Este apoio nos sistemas de
símbolos significantes (linguagem, arte etc.), oferece ao sujeito um ambiente em que ele
é obrigado a se adaptar, utilizando-os como forma de orientação e comunicação.
Por fim, Durkheim e Geertz me parecem ter vários pontos em comum de acordo com o
que foi exposto no texto, e trazem uma perspectiva mais próxima do que estudamos
atualmente sobre esta temática. Todavia, é necessário continuarmos refletindo sobre essas
definições, pois elas acabam por se constituir como símbolos significantes que nos guiam
em outros temas. Precisamos saber refletir sobre quem somos, e como nos tornamos, para
que não perpetuemos, sem perceber, uma opressão que apaga nossa existência, e para
que, além de nosso grito não ser calado, que nossos ouvidos estejam prontos para nos
ouvir.
REFERÊNCIAS