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COMENTÁRIOS SOBRE

O PODER DO CONTATO NO OLHAR 

“Inspirado em tudo, desde Darwin até dicas para encontros, de


neuropsicologia ao mambo, O Poder do Contato no Olhar  pinta
 pinta
um quadro esclarecedor de como nossos olhos evoluíram para
tornarem-se os instrumentos de comunicação mais importantes
e como compreendê-los torna a vida melhor em praticamente
todos os campos. Este livro deveria ser lido por todos os que
planejam encontrar a verdadeira confiança, relacionamentos
saudáveis e uma carreira de sucesso.”
 – Jaimal Yogis, autor de Saltwater Buddha

“Algo mágico acontece quando duas pessoas fazem contato vi-


sual. O maravilhoso livro de Michael Ellsberg ajuda a recriar
essa magia todos os dias.”
 – Marci Shimoff, autora do bestseller
do New York
York Times,
T imes, Happy for No Reason

“Uma rede de relacionamentos comerciais eficiente depende


do contato visual. Se você quiser melhorar suas habilidades de
relacionamento, este livro será uma leitura importante.”
 – Dr. Ivan Misner,
Misner, autor do bestseller do
New York T imes, Masters of Networking  e
York Times,  e de Truth or Delusion?

“Ellsberg realiza uma cativante jornada através do mundo do con-


c on-
tato visual. Misterioso e compensador, o texto revela
revela os poderosos
segredos do uso dos olhos para nos comunicarmos
comunicar mos com os outros.”
outros.”
 – Rom Brafman, coautor do bestseller
do New York
York Times,
Time s, Sway

“Rumi fala com frequência do mistério da alma que se revela


através dos olhos, no olhar. Michael Ellsberg oferece um guia
bem claro de como podemos trazer essa prática, com toda sua
beleza e seu poder, para dentro de nossas vidas.”
 – Coleman Barks, autor de The Essencial Rumi ,
The Soul of Rumi  e
 e Rumi: The Book of
o f Love 
Lo ve 

“O Poder do Contato no Olhar  é  é leitura obrigatória para quem


deseja uma relação duradoura – ou que pretenda aprofundar a
relação em que está. Poucas habilidades têm tamanho potencial
no âmbito do coração como oferecer sua profunda presença
através do olhar. Michael Ellsber mostra-nos o caminho.”
 – Marie Forleo, autora de Make Every Man Want Want You
(or Make
or Make Yours You More )
Yours Want You

“Uso o contato visual em minhas lutas para deixar bem claro a


meu oponente que estou falando sério. O Poder do Contato no
Olhar  é
 é um ótimo guia de como usar essees se recurso para projetar
calma e confiança em situações hostis, competitivas e perigosas.
Recomendo este livro a todos os interessados em esportes de
competição, defesa pessoal e artes marciais.”
 – Urijah Faber, campeão mundial
de artes marciais mistas (MMA)
“Depois de nadar no Amazonas, a demanda por minhas pales-
tras disparou. Ninguém me ensinou mais sobre a conexão com
a plateia em nível visceral do que Michael Ellsberg.”
Ellsberg.”
 – Martin Strel, detentor de quatro
quatro recordes de natação
natação em
distância registrados no Guinness Book e coautor
de The Man Who Swam the Amazon
“Michael Ellsberg pesquisa incisivamente os muitos séculos de
literatura sobre as qualidades do contato visual, entrevista habil-
mente os autores contemporâneos que iluminaram essa com-
plexa dinâmica e, com olhar clínico e coração aberto, oferece
um guia bastante prático para aqueles que anseiam olhar com
mais profundidade para dentro dos outros e de si mesmos.”
 – Thomas Farber,
Farber, autor de The Beholder 
bem claro de como podemos trazer essa prática, com toda sua
beleza e seu poder, para dentro de nossas vidas.”
 – Coleman Barks, autor de The Essencial Rumi ,
The Soul of Rumi  e
 e Rumi: The Book of
o f Love 
Lo ve 

“O Poder do Contato no Olhar  é  é leitura obrigatória para quem


deseja uma relação duradoura – ou que pretenda aprofundar a
relação em que está. Poucas habilidades têm tamanho potencial
no âmbito do coração como oferecer sua profunda presença
através do olhar. Michael Ellsber mostra-nos o caminho.”
 – Marie Forleo, autora de Make Every Man Want Want You
(or Make
or Make Yours You More )
Yours Want You

“Uso o contato visual em minhas lutas para deixar bem claro a


meu oponente que estou falando sério. O Poder do Contato no
Olhar  é
 é um ótimo guia de como usar essees se recurso para projetar
calma e confiança em situações hostis, competitivas e perigosas.
Recomendo este livro a todos os interessados em esportes de
competição, defesa pessoal e artes marciais.”
 – Urijah Faber, campeão mundial
de artes marciais mistas (MMA)
“Depois de nadar no Amazonas, a demanda por minhas pales-
tras disparou. Ninguém me ensinou mais sobre a conexão com
a plateia em nível visceral do que Michael Ellsberg.”
Ellsberg.”
 – Martin Strel, detentor de quatro
quatro recordes de natação
natação em
distância registrados no Guinness Book e coautor
de The Man Who Swam the Amazon
“Michael Ellsberg pesquisa incisivamente os muitos séculos de
literatura sobre as qualidades do contato visual, entrevista habil-
mente os autores contemporâneos que iluminaram essa com-
plexa dinâmica e, com olhar clínico e coração aberto, oferece
um guia bastante prático para aqueles que anseiam olhar com
mais profundidade para dentro dos outros e de si mesmos.”
 – Thomas Farber,
Farber, autor de The Beholder 
Sobre o Autor

ichael Ellsberg é o criador das Eye Gazing Parties1 – 


M (www.eyegazingparties.com), o primeiro evento para soltei-
ros baseado no contato visual. As Eye Gazing Parties já ocorre-
ram em vários continentes e têm recebido cobertura do New
York Times, da CNN, do Good Morning America e de importantes
meios de comunicação do mundo todo. A revista Elle  (Reino  (Reino
Unido) classificou as Eye Gazing Parties como “a mais inovado-
in ovado-
ra tendência
ten dência de encontros
enc ontros de Nova York”.
Antes deste
de ste livro, ele colaborou
col aborou com o Dr. Marc Gerstein
Ger stein em
Flirting With Disaster: Why Accidentes Are Rarely Accidental,  que
foi publicado pela Union Square Press em junho de 2008 e co-
mentado no Wall Street Journal .
Michael nasc eu em San Francisco, em 1977, cresceu em
Berkeley e formou-se na Brown University em 1999, Phi Beta
Kappa e magna cum laude.2
Ele vive em Brooklyn com sua noiva, Jena la Flamme.
Visite Michael em www.ellsberg.com.

 Festas do Contato Visual.


1

 Com grande mérito.


2
O Poder
do Contato no Olhar 
O Poder
do Contato no Olhar 
Entendendo os Segredos para
o Sucesso nos Negócios,
no Amor e na Vida

Michael Ellsberg

Rio de Janeiro, 2012


Para Jena
Que eu possa olhar dentro de seus olhos para sempre
... los ojos ... mudas lenguas de amorios.

(... os olhos, linguagens silenciosas do amor.)

M IGUEL  DE  C ERVANTES , em Don Quijote 1


Sumário

Recado para os Leitores xv

Introdução xvii

UM O que Bill Clinton Sabe Sobre Contato Visual 


 A Evolução da Compatibilidade 1
  DOIS Como Tornar-se Mestre em Contato Visual
em Duas Semanas 34

  TRÊS Flerte Visual, Parte I:


Só para Mulheres 55

QUATRO Flerte Visual, Parte II:


Só para Homens 80
  CINCO Os Olhos São as Janelas para as Vendas:
Contato Visual para Vendas e Negócios 105 
  SEIS Como Cativar uma Multidão com Contato Visual
Falar em Público e Apresentações 131
SETE Se Olhar Matasse:
Contato Visual em Situações Hostis,
 Agressivas ou Competitivas 147 
OITO A Verdade e os Olhos:
Contato Visual e Detecção de Mentiras 157 
NOVE O Amor Não é Cego:
Contato Visual em Relacionamentos
e na Intimidade 169
DEZ Olhando para o Divino:
O Lado Espiritual do Contato Visual 180
  ONZE Aprimoramento:
Graduação em Contato Visual 205 

Epílogo 215

Agradecimentos 217
Ralph Waldo Emerson
Sobre Olhos e Contato Visual 221

Notas 225

Obras Citadas 231

Entrevistados 237
Recado para os Leitores

osto de receber comentários, perguntas, críticas, feedback,


G correções, histórias, experiências e relatos de casos. Por fa-
vor, escrevam para michael@powerofeyecontact.com. Não res-
ponderei a tudo pessoalmente, mas lerei tudo e responderei às
perguntas e aos questionamentos mais interessantes.
Posso também postar algumas de suas perguntas, histórias
ou casos no blog do livro www.powerofeyecontact.com/blog *.
(conteúdo em inglês) Assim, quando escrever, diga se autoriza
isso e, caso concorde, fale como gostaria que o identificasse e
oferecesse os créditos (nome, endereço, website etc.).

Coloquei muitos bônus na forma de downloads grátis para este


livro em www.powerofeyecontact.com/bonus *, inclusive uma
série de telesseminários que abordam os tópicos deste livro, áu-
dio de entrevistas com especialistas e meus livros eletrônicos
gratuitos How to host an eye gazing party e Beauty secrets for better
eye contact   (aquele tumulto de clicks que você ouve enquanto
faz o download é a enormidade de leitores do sexo masculi-
no tentando baixar esse último título), além da assinatura grátis
para o boletim informativo Power of eye contact   com histórias,
dicas, insights, atualizações e até convites.

Ao escrever este livro, sempre me faziam esta pergunta: “a im-


portância do contato visual direto é universal ou aplica-se ape-
nas a algumas culturas?”.
*
N.E. Conteúdo em inglês.
xvi Recado para os Leitores

Não tenho dúvidas de que as normas relativas ao contato vi-


sual diferem de cultura para cultura. Entretanto, decidi não mer-
gulhar no tópico cultura e contato visual neste livro; pareceu fácil
demais cair em generalizações e em estereótipos. Em vez disso,
escrevi o livro da perspectiva do mundo que conheço, das atitu-
des e normas prevalentes na área urbana do nordeste e da costa
oeste dos Estados Unidos. Para saber mais sobre esse tópico, veja
as notas finais¹.

Uma observação quanto às entrevistas: ao longo de oito meses


pesquisando e escrevendo este livro, realizei mais de três dúzias
de entrevistas com cientistas, psicólogos, pessoas que falavam
em público, homens de negócios, promotores de encontros,
profissionais de vendas, lutadores, atletas, mestres espirituais e
outros que, generosamente, partilharam seu tempo e sua per-
cepção sobre contato visual. Minha compreensão sobre esse tó-
pico foi imensamente aprofundada graças a essas contribuições.
Muitas vezes, senti que os pensamentos e as palavras dos en-
trevistados seriam mais interessantes vindas diretamente deles
mesmos – deixando brilhar suas personalidades e vozes singula-
res – em vez de minha própria paráfrase. Assim, por diversas ve-
zes, preferi apresentar as palavras deles diretamente no formato
de entrevista. Assinalo estas passagens claramente com os últimos
nomes dos entrevistados para que se saiba quem está falando.
Editei todas as entrevistas por conta do espaço, da clareza e
da fluidez, tentando preservar o conteúdo essencial e a voz do
entrevistado.

 
 , 
   2009
Introdução

amos imaginar um jogo.


V Você receberá uma série de perguntas sobre as áreas pessoal
e profissional de uma pessoa que jamais conheceu ou sequer viu.
Ela é feliz? Triste? Gosta de seu emprego? Como é sua relação fa-
miliar? Está apaixonada? Sente-se energizada pela vida? Abatida?
Para basear suas respostas em algo além da mais pura adivinha-
ção, você receberá uma pista: poderá observar uma parte (ou
um par de partes) do corpo dessa pessoa por cinco minutos.
Que parte do corpo você escolheria? Os pés? As mãos? O na-
riz? A boca?
Creio que a resposta é óbvia.A maioria de nós escolheria os olhos.
“O espelho da mente é o rosto, os olhos são seus indicadores”,
 já nos dizia Cícero, no primeiro século a.C.¹ Por milhares de anos,
desde a mais alta literatura até provérbios e sabedoria popular e
em tradições espirituais do mundo todo, os olhos sempre tiveram
importância significativa como a “janela da alma”.
“Os olhos são a lâmpada do corpo; assim, se seus olhos forem
bons, todo o seu corpo será luminoso. Mas, se seus olhos forem
maus, todo seu corpo estará em trevas. E, se, então, a luz que esti-
ver em você for treva, quão grande será a escuridão!”, diz a Bíblia.²
São Jerônimo, pressagiando a Maioria Moral em cerca de 1.500
anos, adverte homens e mulheres sobre a boa moral: “Evite a
companhia de homens jovens. Não deixe nunca que jovens pe-
xviii  Introdução

dantes e licenciosos de cabelos longos sejam vistos sob seu teto.


Recuse um cantor do mesmo modo que recusaria um veneno”.
Assim, para que possam evitar tais tentações, Jerônimo aconselha
as mulheres a manter suas cartas emocionais bem junto ao peito:
“O rosto é o espelho da mente, e os olhos de uma mulher, sem
uma palavra, traem os segredos de seu coração”.³

Se os olhos oferecem uma linha direta para seus segredos, suas


emoções e seus sentimentos, então, quando dois olhares se en-
contram, os fogos de artifício da conexão humana começam.
Shakespeare 4 escreve:“Os olhos de um amante veem mais longe
que os de uma águia.”. Mark Twain5 diz:“As palavras são apenas
fogo pintado; um olhar é o próprio fogo.”. Para Whitman 6:
“O que é que você expressa com seus olhos? A mim me parece
que mais do que todas as palavras que já li em minha vida.”.
Ralph Waldo Emerson7 ensina: “Os olhos dos homens conver-
sam tanto quanto suas línguas, com a vantagem de que o dialeto
ocular dispensa dicionários e é entendido no mundo todo.”.
Estas três últimas citações são marcantes. Três dos maiores
estilistas da história da língua – Twain, Whitman e Emerson –
estão nos dizendo essencialmente a mesma coisa: o meio que
escolheram para sua expressão artística, a palavra escrita, é im-
potente perto do poder de um olhar.
Alguma vez você já disse: “Quero poder olhar bem nos olhos
dele e dizer que...”? Implícita nesta frase está a ideia de que não
podemos dizer uma mentira se estivermos olhando nos olhos
de alguém; independentemente do que diz nossa boca, acredi-
tamos que nossos olhos dirão a verdade.
O que existe nos olhos e no olhar que exerce tanto poder
sobre nós? Por que eles revelam tamanha profundidade de nos-
so mundo interior? E o que há no contato visual direto que
achamos tão significativo – e potencialmente tão aterrorizante?
Neste livro, vamos empreender uma jornada por um assunto
rico, cativante e, às vezes, misterioso. Vamos conversar com uma
Introdução xix

diversidade de pessoas, alegres ou mal-humoradas, que pensaram


muito neste assunto, inclusive cientistas, poetas, mestres espiritu-
ais, profissionais de vendas, um conceituado treinador esportivo,
lutadores campeões, palestrantes profissionais, psicólogos, espe-
cialistas em aproximação de pessoas, um artista da sedução, e até
uma página de meio da Playboy, incluída para não faltar nada.
Eles nos ajudarão a desvendar os mistérios de nossos olhos e do
contato visual.

Mas não se engane: a finalidade deste livro não é nem teórica


nem poética. O principal objetivo é ajudar-nos a ter uma vida
melhor – a conseguir mais do que desejamos da vida – contro-
lando o poder do contato visual. Se puder imaginar uma área
de nosso viver que seja importante para você e que envolva
relacionar-se com outros seres humanos cara a cara, então o
contato visual será parte crucial dela.
Ainda assim, é possível destruir o contato visual. Ele pode
ser feito de maneira muito, muito pobre. Ou pode ser evitado.
Pode ser feito de modo a repelir e não a atrair. O contato visual
pode dar errado de diversas maneiras. Existe uma boa chance de
que você esteja cometendo um desses erros agora mesmo sem
saber. De fato, algumas de suas interações sociais podem não es-
tar tão bem quanto você esperava por esta razão.
Sei disso porque já fui péssimo em matéria de contato visual.
Não apenas péssimo, mas tinha medo e verdadeiro pavor disso.
Entretanto, isso foi antes de eu aprender os segredos que
apresento neste livro. A boa notícia é que não é difícil tornar-se
realmente muito bom em contato visual.
Agora as pessoas me dizem o tempo todo que se sentem se-
guras, confortáveis, apreciadas, respeitadas, compreendidas – e
até, às vezes, energizadas – quando olho para elas.
Não nasci assim. (Na verdade, talvez eu fosse – todos os bebês
são peritos em contato visual, como veremos em breve, mas per-
demos essa habilidade quando a autoconsciência se desenvolve).
xx  Introdução

 Aprendi  como desenvolver essa qualidade de contato visual, tudo


isso ao longo de anos. Assim, coloquei neste livro todo o apren-
dizado desses anos de experiência, de observação e de pesquisa.
Agora, você pode aprender em questão de semanas o que eu levei
anos para dominar. Sei disso porque já vi amigos, familiares e lei-
tores transformados pelas lições e pelos exemplos aqui contidos.

Enquanto há intenso comércio de livros sobre linguagem cor-


poral – e muitos deles, inclusive alguns citados aqui, são exce-
lentes –, nunca houve um livro que mergulhasse tão fundo e
exclusivamente nos aspectos sociais e comerciais do ramo mais
importante, mais intrigante, mais rico espiritualmente e mais
estudado cientificamente da linguagem visual: o contato visual.
Nunca, até agora.
Você tem nas mãos um livro com poder de mudar sua vida
dramaticamente em um período de tempo bastante curto.
Este livro é o seu guia conciso para direcionar a força potente
do contato visual para o sucesso em seu trabalho e nas relações pes-
soais. Ele ensina você a parar de ter um “olhar tímido” e começar
a ter um “olhar ousado”. Ele ensina você a construir e a manter
um poderoso contato visual em todas as suas relações e interações.
Domine essa arte com o auxílio deste livro e, instantaneamen-
te, começará a observar três coisas:
 Vai começar a conhecer mais pessoas imediatamente.
 Suas conexões com as pessoas que já conhece se aprofundarão.
 Você se sentirá, parecerá e agirá de forma mais confiante.
Não seria exagero dizer que dominar a arte do contato visual
eficiente poderá ser uma das coisas mais impactantes que você
 já fez em um período de tempo tão curto.
Introdução xxi

Quem Sou Eu e Como Fiquei Tão Interessado


em Contato Visual?

Nasci em San Francisco, em 1977. Em 2005, vivendo em Nova


 York, estava solteiro, como estive no decorrer dos meus vinte
e alguns anos. Assim como muitas pessoas solteiras na faixa dos
vinte e poucos anos, frequentemente ia a bares ou a clubes, na
esperança de que – no meio daquela música ensurdecedora e
de alguns olhares roubados por cima de furtivos goles de álcool
 – pudesse encontrar minha companheira.
Em vez disso, o que encontrei foi conversa sem significado.
Muita conversa desse tipo.
“De onde você é?”.
“O que você faz para viver?”.
“Em que bairro você mora?”.
“Gosta de morar em Nova York?”.
Blá-blá-blá.
Comecei a chamar isso de “conversa de currículo”. De fato,
mais parecia uma entrevista de emprego do que o prelúdio para
uma vida de paixão.
Ao fim de uma noite, percebia que havia participado de cin-
co conversas diferentes, que continham, todas, pequenas varia-
ções daquelas perguntas de currículo.
Ora, sou a favor de saber de onde uma pessoa é, e o que ela faz
para viver. Mas será que esse tipo de coisa é capaz de realmente
disparar intensa atração em alguém desde o início? É disso que os
contos de fada são feitos?
Deve haver um modo mais interessante de conhecer as pes-
soas, pensei.
Fui um ávido dançarino de mambo por mais de uma déca-
da, e, quase ao mesmo tempo de meu desapontamento com as
xxii  Introdução

experiências em bares, comecei a notar que as danças que eram


mais intensas para mim eram aquelas com mais – e melhor –
contato visual.
Uma parceira de dança pode ser a rainha da técnica, a es-
trela do rock de passos elaborados. Pode ter quadris com mais
balanço do que uma cadeira de escritório Aeron e curvas mais
traiçoeiras do que a Rodovia Pacific Coast. Mas, se seu contato
visual for morto – ou pior, e mais comum, não existente –, a
dança também será morta.
Ao contrário, uma mulher pode ser bastante simples no ex-
terior. Pode ter um repertório modesto de passos e um senso
musical não desenvolvido. Mas, se a qualidade de seu contato
visual for boa – convidativo, profundo, intenso, expressivo, fir-
me, centrado, alegre –, a dança, invariavelmente, será um pra-
zer. E, quando uma mulher realmente souber mexer também
com o seu contato visual, esqueça – o resultado será eletrizante,
criando um senso de excitação e de conexão tão forte, que eu
desejaria que a música durasse até a eternidade.
Percebi que não havia apenas uma dança acontecendo, mas
duas: a dança entre os corpos em movimento e a dança entre
os olhares. A primeira era a fundação, a outra, a ligação elétrica.
A experiência com contato visual na minha dança, o mambo
 – combinada com outra experiência surpreendente que tive, en-
volvendo contato visual e encontros, que reconto no Capítulo 4
 – inspirou uma visão em minha mente: reúna uma turma de sol-
teiros, faça-os parar com aquela conversa sem sentido e começar
a fazer contato visual. Imediatamente visualizei: trinta ou qua-
renta solteiros reunidos em uma sala, partilhando a mesma eletri-
cidade que experimentei com aquele olhar na pista de dança de
mambo, acessível a todos, não apenas para os dançarinos.
As palavras Festa do Contato Visual  me vieram à mente.
Introdução xxiii

Expliquei minha visão ao dono de um bar em East Village, e


ele gostou da ideia de ter vinte ou trinta solteiros com fome e
com sede em seu estabelecimento à noite.
Logo escrevi um texto e ansiosamente o enviei para meus
amigos em Nova York:

Os olhos são a janela da alma, assim, é muito mais fácil ter uma
conversa interessante com alguém depois de passar três minutos
olhando bem nos olhos dela. Essa é a ideia por trás das Eye Ga-
zing Parties. Conversas banais sobre seu tipo de emprego, a loca-
lização de seu apartamento, ou de onde você é, não representam
uma boa maneira de estabelecer uma cativante conexão com uma
 pessoa atraente. O contato visual sim.
Veja como funciona. Um número par de solteiros reúne-se em
um espaço alternativo. Depois de tomarem alguns drinks e de ou-
virem jazz, o grupo divide-se em pares, e cada par passa três minu-
tos olhando um nos olhos do outro, sem falar, com ritmos convidati-
vos ao fundo. Há troca de parceiro a cada três minutos, totalizando
quarenta e cinco minutos. Depois, há uma festa, com bastante bebi-
da e música voluptuosa vibrando. O contato visual tem efeito ele-
trizante na festa. Explicado simplesmente, três minutos de contato
visual representam um caminhão de quebra-gelo. Venha apreciar
essa nova e excitante maneira de conhecer almas solteiras!

Tanto quanto sei, o primeiro evento no mundo em que estra-


nhos se reuniram em um bar, com a expressa intenção de olhar
uns nos olhos dos outros, ocorreu no dia 7 de dezembro de 2005.
Apareceram 23 pessoas, a maioria de amigos e acompanhantes.
Por um feliz acaso, o New York Times soube do evento e en-
viou um repórter. Poucas semanas depois, uma pequena nota
sobre o evento saiu na seção “Cidade” da edição de domingo.
xxiv   Introdução

Depois disso, os telefonemas começaram a acontecer. CNN,


Good Morning  America, the Associated Press, a rádio nacional ale-
mã, a televisão brasileira, a BBC, a revista Elle  – todos cobriram
as subsequentes Eye Gazing Parties. Sem pretender, acabei me
tornando uma espécie de consultor sobre contato visual para a
mídia, quando a maioria dos repórteres começou a me pergun-
tar: “O que há no contato visual que o torna tão poderoso?”.
No início, eu tinha pouca autoridade para responder a essas
perguntas que iam além de minha limitada experiência e o fato
de outras pessoas da mídia pensarem que eu tinha autoridade.
Mas, quando as Eye Gazing Parties se desenvolveram, fiquei cada
vez mais interessado em contato visual para além das festas. Co-
mecei a ler tudo o que encontrava sobre o assunto. Comecei
a falar com especialistas: peritos profissionais, intelectuais das
universidades e os peritos das ruas – pessoas que usam a habili-
dade do contato visual com sucesso fantástico todos os dias em
seu trabalho (vendedores profissionais e palestrantes, membros
do Poder Judiciário e “gurus da sedução”, que cobram quantias
exorbitantes para ensinar homens a conquistarem mulheres em
bares). Por meio de minhas Eye Gazing Parties, também tive o
privilégio de observar e de participar dos contatos visuais mais
intensos e mais diretos que qualquer pessoa que conheço.
Neste livro, pretendo partilhar com você tudo o que aprendi
nesses anos, de modo que sua vida possa ser iluminada e energi-
zada pela mesma qualidade de contato visual e de conexão que
tive o privilégio de experimentar.
O Poder
do Contato no Olhar 
UM

O que Bill Clinton Sabe


Sobre Contato Visual
A Evolução da Compatibilidade

“ enho um amigo que sempre detestou Bill Clinton”, alguém me


T disse em um coquetel na época em que eu estava escreven-
do este livro. De fato, o ódio que ele sentia pelo homem atingia
proporções épicas. Era quase um ódio pessoal. Mesmo assim, de
alguma maneira, meu amigo participava de um evento em que Bill
Clinton também estava. E, no meio da multidão, ele foi apresenta-
do a Clinton.
“Naquele momento, cara a cara, toda a animosidade em rela-
ção a Clinton desapareceu”, continuou meu novo conhecido na
festa: “Enquanto apertavam-se as mãos, Clinton fez contato vi-
sual com esse meu amigo de forma tão poderosa e intensa, que
meu amigo sentiu como se eles dois fossem as únicas pessoas na sala.
Tudo e todos desapareceram e, por um segundo, só havia os dois
ali, apertando-se as mãos.”.
2 O PODER DO CONTATO NO OLHAR

Enquanto escrevia este livro, ouvi algumas versões desta histó-


ria sobre Clinton, não uma, mas três vezes. Ou esta é alguma len-
da urbana sobre sua aura de carisma, ou ele realmente tem algo
muito especial em seu olhar. Depois de ouvir uma história como
essa de três pessoas diferentes, decidi pesquisar no Google “Bill
Clinton” e “contato visual”. Apareceram várias referências ao po-
der visual de Clinton.
Um perfil apresentado na New York Times Magazine , logo no
início de seu governo, referia-se a sua habilidade de “fazer conta-
tos visuais tão profundos, que os interlocutores pareciam hipnoti-
zados. Boatos de tabloides à parte, Clinton incorpora os paralelos
entre as seduções políticas e sexuais. Como um dos observado-
res de Clinton disse recentemente: ‘Não é que Clinton seduza as
mulheres, ele seduz todo o mundo.’”.1
Uma das postagens do blog de notícias sobre celebridades
WENN dizia: “A atriz Gillian Anderson descobriu o segredo da
atração do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton – man-
ter contato visual.”.
Gillian, a agente Dana Scully de Arquivo X , falou no programa
Late Night with David Letterman de um encontro que teve com
Clinton alguns anos antes: “Nós todos, principalmente as mu-
lheres, fizemos fila. E, quando ele chega até você, pega sua mão
e faz contato visual. Depois que ele se movimenta e passa para a
pessoa seguinte, ele olha de novo para você e sela o pacto. Quan-
do cheguei em casa, esperava receber uma mensagem dele, mas
não recebi. Aposto que todas as mulheres da América esperaram
a mesma coisa.”.2
O motivo de contar essa história não é marcar um ponto
político. (Para aqueles que enxergaram aqui algum partidaris-
mo, devo dizer que Ronald Reagan era famoso por ter pessoal-
mente poderes semelhantes de charme, embora eu nunca tenha
encontrado nenhuma referência específica à qualidade de seu
contato visual). Ao contrário, gostaria de chamar a atenção para
uma frase que surge invariavelmente quando alguém demons-
O que Bill Clinton Sabe Sobre Contato Visual 3

tra habilidade em contato visual: Quando ele olhou para mim, senti
como se fôssemos as únicas pessoas na sala.
Assim, amigos, é o poder do contato visual: a habilidade de
estabelecer uma conexão tão forte entre seres humanos, num
período de tempo muito curto, de modo que duas pessoas sintam
que são, por um instante, uma só. Não conheço nenhuma força na
experiência humana que possa fazer tal mágica tão rapidamente.
Você consegue pensar em todos os diferentes contextos nos
quais fosse útil estabelecer com os outros fortes sentimentos de
conexão, de solidariedade e de confiança, de forma instantânea?
Encontros, vendas, conferências, apresentações comerciais, en-
trevistas de emprego, conversas cordiais com a família ou o amor,
uma noite romântica com o parceiro – são apenas algumas pou-
cas áreas que se beneficiariam com um contato visual bem pra-
ticado. Exploraremos, nos capítulos seguintes, como o contato
visual se relaciona com todos esses campos.
O contato visual eficiente pode fazer a diferença entre a excelên-
cia e o fracasso nas interações sociais, inclusive facilitando a conquis-
ta de um emprego, o sucesso de um encontro, o aprofundamento
da relação com as pessoas amadas e, por outro lado, pode ajudá-lo
também a conseguir ou destruir a cooperação e a coesão de um
grupo de trabalho. Dito sinteticamente, o contato visual é uma
das forças mais poderosas na interação direta entre seres humanos.
Mulheres, imaginem as palavras “Quer se casar comigo?”
saindo da boca do homem perfeito... em uma praia romântica...
com um enorme anel de diamantes estendido para você... en-
quanto os olhos do homem estão fixos nos seus... pés!

O Poder da Atenção em Um Mundo que Sofre de


DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção)

Por que o contato visual é tão crucial para sentimentos de cone-


xão e de confiança?
4 O PODER DO CONTATO NO OLHAR

Quando já estava terminando de escrever este livro, tive o pri-


vilégio de falar com Dr. Paul Ekman, professor emérito de Psico-
logia da Universidade da Califórnia, San Francisco.
Ekman é reconhecido mundialmente como a maior autoridade
na expressão de emoções através da face. É autor de dúzias de
livros e de artigos científicos sobre o assunto, e foi considerado
pela Associação Americana de Psicologia um dos psicólogos mais
influentes do século XX. Mais recentemente, ele foi coautor
com o Dalai Lama do livro: Emotional Awareness: Overcoming the
Obstacles to Psycological Balance and Compassion.
Ekman é famoso por ter derrubado o argumento – inten-
samente defendido por Margaret Mead – de que as expressões
faciais são culturalmente arbitrárias. No final de 1960 ele viajou
para Papua Nova Guiné. Ele mostrou a homens de tribos re-
motas, que jamais haviam convivido com ocidentais antes, foto-
grafias de ocidentais com várias expressões faciais, como alegria
ou tristeza. Por meio de um intérprete, contou diversas histórias
curtas que tinham temas como “O bebê desta mulher acabou de
ser morto” ou “Este homem está vendo um grande amigo” e pe-
dia aos homens da tribo que escolhessem qual expressão ilustrava
melhor a história. Os nativos, fácil e rapidamente, escolhiam as
mesmas expressões que você e eu escolheríamos.

ELLSBERG: Conversei com todo tipo de praticantes, desde


profissionais de vendas, especialistas em encontros a palestrantes
públicos, todos disseram que o contato visual é crucial para o que
fazem. Por que tantas pessoas sentem, de forma apaixonada, que o
contato visual é importante em interações cara a cara?
EKMAN: Se você não estiver olhando para mim, pelo menos
parte do tempo em que estou falando com você, acharei que você
não está me ouvindo. As pessoas não falam a menos que você dê
a elas algum sinal de que as está ouvindo. E pode-se fazer isso de
diversas maneiras, com “Sim, hum-hum”, ou acenos de cabeça, ou
olhando para elas no fim de uma cláusula fonêmica. Eu costumava
dizer a meus alunos: “Experimentem não dar sinais de que estão
O que Bill Clinton Sabe Sobre Contato Visual 5

ouvindo em uma conversa com amigos – nem vocais, nem faciais,


nem gestos com a cabeça – e veja o que acontece”. Dentro de dez
segundos, a pessoa dirá: “Algum problema? Você está ouvindo?”.
As pessoas simplesmente não falam sem essas deixas.

Acreditei que ia receber uma resposta evolucionária elaborada


para minha pergunta – particularmente vinda de um homem
bastante conhecido por suas teorias sobre as raízes evolucioná-
rias da linguagem corporal.
Mas, afinal, a resposta dele foi muito mais simples: contato visu-
al significa atenção. Se você está olhando nos meus olhos, signifi-
ca para mim que está prestando atenção. O sinal que chega é que
você não está prestando atenção quando não me olha nos olhos.
Twitter, Facebook, mensagens instantâneas, mensagens de
texto, celulares, BlackBerries – estamos vivendo em um mun-
do onde parece que ninguém tem mais que poucos momentos
para se dedicar a algo ou a alguém.
Como é formidável quando alguém presta atenção em nós.
Pense até mesmo na expressão prestar atenção. Nas nações indus-
trializadas, pelo menos, a atenção está se tornando algo tão es-
casso quanto o dinheiro. Não é de se estranhar que respondamos
tão bem quando alguém faz contato visual conosco. Sugere que
eles estão nos ouvindo, presentes, levando-nos em consideração.
Assim, percebemos que se importam conosco.
A atenção é importante, especialmente nessa era de DDA, e
eu não conheço nenhum sinal mais poderoso do que o conta-
to visual para mostrar que você está dando a alguém sua mais
completa atenção e sua presença.

Contato Visual na Savana: A Evolução do Olhar 


Vimos que o contato visual deve, pelo menos parte de seu poder,
ao fato de ser um bom barômetro do nível, do foco e da qualida-
de de nossa atenção. Nossos olhos revelam nosso foco.
6 O PODER DO CONTATO NO OLHAR

Sim, os olhos revelam um mundo de informações além do


simples foco de nossa atenção. Pense em todas as emoções – ale-
gria, raiva, tristeza, surpresa, medo – que podem ser detectadas de
imediato por meio dos olhos de alguém (ou, mais exatamente,
nos músculos faciais ao redor dos olhos, que criam diversas ex-
pressões). Quando fazemos contato visual com outra pessoa, de
alguma maneira, estamos dando a ela as chaves para nosso mun-
do emocional. Independente do que você esteja sentindo, a outra
pessoa vai ter, pelo menos, percepção em nível visceral de nosso
estado mental.
Pense por um momento em como isso é estranho e notável.
Geralmente, pensamos nas emoções como algo profundamente
particular e pessoal. Ainda assim, em nossa evolução, não ape-
nas desenvolvemos as emoções em si, como também desenvol-
vemos um mecanismo para divulgá-las para o mundo – um
“wifi neural”, como definiu o psicólogo Daniel Goleman 3 – de
modo que todos ao nosso redor possam conhecê-las.
 Já esteve em uma festa e observou a entrada de uma pessoa
e conseguiu fazer uma “leitura” dela? “Confiante”, “tímida”,
“nervosa”, “expansiva”, “feliz”. Aquela pessoa estava, de forma
inconsciente, não intencional e não linguística, comunicando
seu estado interior para você.
Por que razão esse constante wifi  neural teria evoluído? Seria de
se esperar que o contrário evoluísse. Pense em todas as situações
nas quais você gostaria de esconder seus verdadeiros sentimentos
sobre alguma coisa. Convidar aquela atraente colega de trabalho
para jantar quando, por dentro, você está todo ansioso. Pedir au-
mento de salário, um emprego ou tentar uma venda de forma
confiante quando você sabe que, se a resposta for “não”, você pode
não conseguir pagar a hipoteca ou o aluguel no mês seguinte.
Falar calmamente para uma multidão quando, por dentro, você
tem vontade de correr para um buraco e enfiar-se nele. Partici-
par de uma rodada de pôquer quando suas cartas estão um lixo.
O que Bill Clinton Sabe Sobre Contato Visual 7

Todos sabemos que, de fato, é difícil esconder nossos senti-


mentos em situações como essas (embora não impossível, como
veremos no Capítulo 8 – “A verdade e os olhos”).
Considerando os esforços que fazemos para esconder nossos
verdadeiros sentimentos, por que razão teríamos desenvolvido a
capacidade de comunicar nossos estados interiores para os outros,
automática e involuntariamente, através da linguagem corporal?
Fiz exatamente essa mesma pergunta a Frans de Waal. De Waal
é um dos mais conhecidos primatologistas do mundo, professor
de comportamento dos primatas na Universidade Emory e au-
tor de Our Inner Ape: A Leading Primatologist Explains Why We Are
Who We Are e Chimpanzee politics: Power and Sex Among Apes.

ELLSBERG: De uma perspectiva puramente voltada para


nós mesmos, pareceria uma vantagem ser capaz de esconder
nossas próprias emoções e de expressá-las apenas quando qui-
séssemos. Por que desenvolvemos tal sistema que torna nossas
emoções tão aparentes para os outros?
DE WAAL: O que você sugere seria verdade se nós fôssemos
puramente competitivos. Nas Ciências Sociais, no Direito e na
Economia, acredita-se que estamos neste mundo para competir
uns com os outros e, assim, obter o máximo de nossos negócios
 – um tipo manipulador de ser humano.
Mas, na verdade, evoluímos para viver em sociedades alta-
mente cooperativas, como muitos animais (superando a coope-
ratividade de muitos deles).
Digamos, por exemplo, que você possa escolher entre ir ca-
çar com seu amigo A ou com o amigo B. O amigo A é um tipo
emocional que exibe todas as suas emoções – de forma que você
sabe exatamente o que esperar daquela pessoa. Já o amigo B é
inescrutável, você nunca sabe o que ele pensa ou sente, tampouco
ele lhe dirá. Com qual dos dois você iria caçar? Com seus ami-
gos, você quer ver exibida toda a gama de emoções.
8 O PODER DO CONTATO NO OLHAR

Paul Ekman ofereceu-me uma explicação da evolução da lin-


guagem corporal semelhante à de Waal.
EKMAN: Existem dois ramos da teoria evolucionária con-
temporânea. Um deles é a seleção individual, enquanto o ou-
tro diz respeito à seleção grupal. A seleção grupal foi bastante
impopular nos últimos 30 anos. Porém, mesmo pessoas como
E. O. Wilson estão reconhecendo que foi um erro dizer que as
coisas eram selecionadas apenas se elas ajudassem meus genes e
não necessariamente a todo o grupo social.
O pressuposto tem de ser o de que, com mais frequência do
que se imagina, você saber como eu me sinto é útil para mim e
para o grupo social. Sabemos que a natureza do ambiente dos
nossos ancestrais, em 95% do tempo – que foi quando a nature-
za fez seu trabalho – era desenvolver a cooperação entre peque-
nos grupos. Você não conseguiria lidar com predadores e com
as presas sem esforço grupal.

Parece que, em nosso ambiente ancestral, houve enorme vanta-


gem em desenvolver comunicação instantânea e acurada sobre o
estado interior dos membros da tribo. Esse valor aplicava-se, tanto
ao emissor da informação, quanto ao receptor . Se um dos homens da
tribo fosse surpreendido por uma cobra no caminho, ficasse com
raiva de um invasor, com medo do rabo de um jacaré que acabou
de avistar, ou ansioso por ter se perdido, ajudaria vocês dois a so-
breviver se você fosse capaz de captar instantaneamente seu estado
interior para ajustar o seu plano de ação de acordo com o dele.
Ekman disse que não é surpreendente que as emoções mais rá-
pidas e que são facilmente detectadas no rosto e nos olhos, sejam
o medo, a raiva e a surpresa.

EKMAN: O medo tem a maior exposição de esclera, a parte


branca que circunda a íris. A surpresa também a expõe, mas não
tanto. Olhos arregalados são sinais de medo, de raiva e de surpresa.
O que Bill Clinton Sabe Sobre Contato Visual 9

A maior parte das informações obtidas dos olhos vem das al-
terações da abertura, sendo o que se vê da íris e da esclera – o
branco – resultado da ação muscular nas pálpebras inferior e su-
perior. Em cada lado da face, há quatro músculos, que alteram
essa abertura, onde estão as informações.
Na raiva, temos um “olhar” em que a pálpebra superior é er-
guida, e a testa, abaixada, fazendo pressão sobre a pálpebra supe-
rior, enquanto a inferior fica tensa. Você obtém um olhar feroz.
É um sinal de raiva muito poderoso. Não é necessário ver mais
nada no restante do rosto, embora o olhar seja acompanhado
por movimentos faciais congruentes.
A felicidade tem alguns sinais visuais, mas não tão poderosos.
Distingui o que chamo de “sorriso Duchenne” em homena-
gem ao neurologista francês que fez, pela primeira vez, essa ob-
servação, a qual comprovei cem anos depois. O verdadeiro sor-
riso de felicidade, que chamei de “sorriso Duchenne”, envolve
movimento de um músculo ao redor do olho – orbiculari oculi,
 pars lateralis – fazendo a pálpebra mover-se para baixo muito le-
vemente. Posso produzir pés de galinha ou movimentos faciais
com um enorme, amplo e verdadeiro sorriso. Porém, como di-
zia Duchenne, esse músculo “não obedece à vontade”. A maio-
ria das pessoas não consegue movê-lo voluntariamente. “E sua
ausência desmascara o falso amigo”.
Aqui está algo muito interessante. Não deve ter sido útil, no
curso de nossa evolução, os outros membros de nossa espécie sa-
berem se estávamos realmente nos divertindo ou apenas fingindo.
Podemos distinguir os dois casos por meio de medidas bas-
tante cuidadosas. Podemos ensinar as pessoas a acertarem 75%
das vezes. Então, não se trata de um sinal. As pessoas podem dis-
tinguir raiva, medo e surpresa com muito mais facilidade, mes-
mo a uma grande distância.
ELLSBERG: Medo, raiva e surpresa – são emoções cuja lei-
tura imediata deve ter sido muito útil em nosso passado. Você

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