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2022
1º BIMESTRE
- CONCEITOS: ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
- FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
2º BIMESTRE
- METODOLOGIAS
- MÉTODO SINTÉTICO
3º BIMESTRE
- MÉTODO NATURAL
- MÉTODOS ANALÍTICOS
4º BIMESTRE
- A LITERATURA INFANTIL NUM AMBIENTE ALFABETIZADOR
Ao abordar os temas Alfabetização e Letramento nos leva a reflexão a partir da ação, buscando
contribuir para a formação continuada dos educadores. Para isso é importante abordar os aspectos
teóricos e práticos fundamentais, que o professor deve tomar como ponto de partida para
aprofundamentos e discussões com seus pares associando à prática educacional, reflexões sobre as
etapas e processos de aprendizagem em sala de aula.
❖ Ler e escrever significa ser alfabetizado e letrado?
❖ Pode um indivíduo ser letrado e não ser alfabetizado?
❖ Ler e escrever X prática de leitura e escrita.
Alfabetizar letrando é ensinar a ler e escrever o mundo, ou seja, no contexto das práticas sociais
da leitura e da escrita, tendo em vista que a linguagem é um fenômeno social.
● Alfabetização não é condição para o letramento
● Letramento não é condição para a alfabetização
● O letramento inicia-se muito antes da alfabetização, ou seja, quando uma pessoa começa a
interagir socialmente com as práticas de letramento no seu mundo social.
➢ Uma criança que vive num contexto de letramento, que convive com livros, que ouve histórias
lidas por adultos, que veem adultos lendo e escrevendo, cultiva e exerce práticas de leitura e
de escrita: toma um livro e finge que está lendo (...), toma papel e lápis e “escreve” uma carta,
uma história.
Ler um livro para a escola; pegar o ônibus correto para casa ou para ir a um determinado lugar; orientar-se
pelas placas quando está dirigindo; ler a bula de um remédio; fazer de conta que lê uma história; compor uma
música com os amigos; ler o resumo das novelas na revista; fazer uma lista de compras ...
Lê e escreve, porém, não possui habilidades para práticas que envolvam a leitura e a escrita: não lê
revistas, jornais, receitas de médico, bulas de remédio etc., ou seja, apresenta grande dificuldade para
interpretar textos lidos, como também, pode não ser capaz de escrever uma carta ou bilhete.
ALFABETIZAÇÃO
MUNDO ATUAL
A partir da década de 1980, várias teorias mostram que o aprendizado da escrita não se
reduziria ao domínio de correspondência entre grafemas e fonemas (a decodificação e a codificação).
Mas se caracteriza como um processo ativo, por meio do qual, desde os primeiros contatos com a
escrita, a criança construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da língua
escrita como um sistema de representação da língua escrita como um sistema de representação.
Segundo Cagliari.
ALFABETIZAÇÃO
ALFABETIZAR ALFABETIZADO
ANALFABETISMO ANALFABETO
LETRAMENTO
LETRADO ILETRADO
ALFABETISMO
Não precisamos definir essas palavras, porque estamos familiarizados com elas, talvez com
exceção apenas da palavra letramento. Mas vou me deter nelas para conduzir nossa reflexão em
direção ao sentido de letramento. Vejamos as definições que aparece no dicionário Aurélio:
-izar:
sufixo,
indica: tornar, fazer com que.
Exemplos:
suavizar: tornar suave;
Industrializar: tornar industrial
Exemplos:
traição: ação de trair
nomeação: ação de nomear
É que dispomos da palavra analfabeto, mas não temos o contrário dela: temos a palavra
negativa, mas não temos a palavra positiva.
- Analfabetismo;
- Analfabeto;
- Alfabetização;
- Alfabetizar
- Que surge a palavra letramento.
LETRAMENTO?
➢ Uma pessoa letrada = uma pessoa erudita, versada em letras (letras significando literatura,
línguas).
➢ Uma pessoa iletrada = uma pessoa que não tem conhecimentos literários, que não é erudita;
analfabeta, ou quase analfabeta.
O sentido que temos atribuído aos adjetivos letrado e iletrado não está relacionado com o
sentido da palavra letramento.
A palavra letramento apareceu pela primeira vez no livro de Mary Kato: No mundo da escrita:
uma perspectiva psicolinguística, de 1986.
A palavra letramento não é, como se vê, definida pela autora e, depois dessa referência, é
usada várias vezes no livro; foi, provavelmente, essa a primeira vez que a palavra letramento
apareceu na língua portuguesa - 1986.
Depois da referência de Mary Kato, em 1986, a palavra letramento aparece em 1988, no livro
que, pode-se dizer, lançou a palavra no mundo da educação, dedica páginas à definição de
letramento e busca distinguir letramento de alfabetização: é o livro, Adultos não alfabetizados - o
avesso do avesso, de Leda Verdiani Tfouni (São Paulo, Pontes, 1988, Coleção
Linguagem/Perspectivas) um estudo sobre o modo de falar e de pensar de adultos analfabetos.
Na busca de esclarecer o que seja letramento, talvez seja interessante refletirmos sobre o
seguinte: vivemos séculos sem precisar da palavra letramento; a partir dos anos 80, começamos a
precisar dessa palavra, inventamos essa palavra - por quê, para quê?
Na verdade, a palavra letramento é uma tradução para o Português da palavra inglesa literacy;
os dicionários definem assim essa palavra:
littera + cy
“Traduzindo a definição acima, literacy é “a condição de ser letrado” - dando à palavra letrado”
sentido diferente daquele que vem tendo em português.
Em inglês, o sentido de literate é: literate: educated; especially able to read and write (educado;
especificamente, que tem a habilidade de ler e escrever)
Literate é, pois, o adjetivo que caracteriza a pessoa que domina a leitura e a escrita, e literacy designa
o estado ou condição daquele que é literate, daquele que não só sabe ler e escrever, mas também faz
uso competente e frequente da leitura e da escrita.
Trata-se, portanto, de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as
diferentes manifestações de escrita na sociedade (rótulos, placas, revistas, entre outros) e se
prolonga por toda a vida com crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que
envolvem a língua escrita (leitura e redação de cartas, de convites, de avisos, de obras literárias, por
exemplo).
Ainda segundo Magda Soares (1988), a entrada da criança no mundo da escrita, ocorre
simultaneamente por esses dois processos: “a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio
da aprendizagem das relações fonema/grafema, isto é, em dependência da alfabetização”.
Indispensáveis para se garantir, a inserção e a participação efetiva nas sociedades letradas, a
alfabetização e letramento são, portanto, processos diferentes, mas complementares e inseparáveis.
O professor mediador nessa prática de alfabetização, não pode ser visto apenas como sendo
um aplicador de pacotes educacionais ou um mero constatador do que o aluno faz ou deixa de fazer.
Ser mediador desse processo significa, antes de qualquer coisa, estar entre os conhecimentos e o
aprendiz e estabelecer um canal de comunicação entre esses dois pilares.
Ler e Escrever
Há, assim, uma diferença entre saber ler e escrever, ser alfabetizado, e viver na condição ou
estado de quem sabe ler e escrever, ser letrado (atribuindo a essa palavra o sentido que tem literate
em inglês). Ou seja: a pessoa que aprende a ler e a escrever - que se torna alfabetizada - e que passa
a fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas social de leitura e de escrita - que se
torna letrada - é diferente de uma pessoa que ou não sabe ler e escrever - é analfabeta - ou, sabendo
ler e escrever, não faz uso da leitura e da escrita - é alfabetizada, mas não é letrada, não vive no
estado ou condição de quem sabe ler e escrever e pratica a leitura e a escrita.
O adjetivo letrado, e seu feminino letrada serão usados no restante deste texto com um
significado que não é o que têm (por enquanto) nos dicionários: serão usados para caracterizar a
pessoa que, além de saber ler e escrever, faz uso frequente e competente da leitura e da escrita.
Serão usados também os adjetivos iletrado/iletrada como seus antônimos.
Socialmente e culturalmente, a pessoa letrada já não é a mesma que era quando analfabeta
ou iletrada, ela passa a ter outra condição social e cultural - não se trata propriamente de mudar de
nível ou de classe social, cultural, mas de mudar seu lugar social, seu modo de viver na sociedade,
sua inserção na cultura - sua relação com os outros, com o contexto, com os bens culturais torna-se
diferente.
Tornar-se letrado traz, também, consequências linguísticas: alguns estudos têm mostrado que
o letrado fala de forma diferente do iletrado e do analfabeto; por exemplo: pesquisas que
caracterizaram a língua oral de adultos antes de serem alfabetizados, e a compararam com a língua
oral que usavam depois de alfabetizados, concluíram que, após aprender a ler e a escrever, esses
adultos passaram a falar de forma diferente, evidenciando que o convívio com a língua escrita teve
como consequências mudanças no uso da língua oral, nas estruturas linguísticas e no vocabulário.
Enfim: a hipótese é que aprender a ler e a escrever e, além disso, fazer uso da leitura e da
escrita transformam o indivíduo, levam o indivíduo a outro estado ou condição sob vários aspectos:
social, cultural, cognitivo, linguístico, entre outros.
REFLETINDO:
A complexidade do conceito de alfabetização reside no fato de ela ser parte inevitável da vida
no mundo atual e condição indispensável para sua transformação. Como nos lembra, Freire:
A alfabetização, como uma força de transformação do mundo, só encontra sentido no uso que
dela fazem indivíduos e sociedades.
Se você, professor, está interessado em adotar ferramentas tecnológicas em suas aulas e na sua
rotina, fique atento às dicas a seguir e descubra quais tecnologias podem ser empregadas na escola e
como utilizá-las:
01 – Games – A gamificação é um conceito que está chegando com força total ao Brasil e que consiste
em adotar games educativos durante as aulas para estimular os estudantes e criar um
cenário de verdadeira imersão no conteúdo que está sendo ensinado. Os jogos podem
ser adotados em tablets, smartphones, pcs e laptops. A estratégia pode ser usada para
ensinar matérias consideradas difíceis pelos alunos, como física, química, matemática,
história e idiomas estrangeiros.
02 – Mídias Sociais – O uso das mídias sociais nas escolas também é bastante produtivo,
principalmente para discussões, expressão de opiniões, desenvolvimento
de=o senso critico e das habilidades comunicacionais e de escrita, Twitter,
Facebook e Instagram são as mídis com maior popularidade entre os
estudantes.
03 – Skype – O programa de mensagens instantâneas pela web pode ser uma ótima ferramenta para
manter um contato próximo entre os educadores e os pais dos alunos. Com o programa,
é possível agendar reuniões online.
04 – Pinterest - Essa mídia pode ser usada para o compartilhamento de todos os tipos de imagens,
como fotos de ecossistemas naturais, mapas, gráficos e imagens de personalidades
históricas. O ambiente pode ser usado tanto para ensinar e interagir com os aluno
quanto para coletar informações e materiais para o desenvolvimento de planos de
aulas.
05 – Aplicativos Móveis – Existem vários Apps Educativos para smartphones que são gratuitos e podem
ser usados em aulas de linguagens, ciências exatas, biológicas e ciências
humanas. Bons exemplos nesse segmento são os aplicativos móveis. Ligado
no ENEM, Física Interativa, Calculadora Gráfica, Google Classroom, Ditadura
na Memória, Read Me Stories, Palavra Certa, Boa noitinha!, Edmodo, entre
outros.
06 – QR Codes – Os códigos QR, conhecidos como códigos de resposta rápida, também podem ser
usados na educação. É possível adotar atividades em que os alunos tenham que
realizar a leitura dos códigos com smartphones para serem direcionados a
conteúdos especiais e multimídias.
07 – Google Docs – O Google Docs pode ser usado por professores para criar e compartilhar aulas,
materiais de apoio, documentos, planilhas e apresentações.
08 – Youtube – O canal de vídeos do Google é uma importante fonte de materiais para estudo, como
vídeo-aulas e outros materiais audiovisuais de aprendizagem.
09 – Twitter – O Serviço do microblog pode ser utilizado pelos professores para criar uma rede de
educadores, partilhar conhecimentos e ideias inovadoras, participar de chats e para
testar a habilidade dos alunos para sintetizar informações ou argumentar sobre temas
relevantes.
10 – Dropbox – A ferramenta deve ser usada para armazenar e compartilhar documentos e materiais
de estudo. O serviço é simples de usar e gratuito.
11 – Google Earth – Essa incrível ferramenta do Google é excelente para aulas e projetos de
geografia.
12 – SlideShare – O dispositivo pode ser usado para fazer upload de materiais, apresentações,
documentos e vídeos para compartilhamento com aluno e outros educadores.
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
A escola, enquanto instituição construída socialmente para realizar a formação humana nas
diferentes temporalidades de vida, se tornou, no movimento histórico, dever do Estado e direito do
cidadão. Sendo, portanto, inquestionável o reconhecimento da sua necessidade na (con)formação
social, emerge a questão: qual a sua função social essencial?
Com a fixação do homem à terra, surge a propriedade privada e a divisão em classes sociais.
Os proprietários da terra continuam a depender do trabalho para a sobrevivência, porém não do
próprio trabalho, mas do trabalho alheio. Como não mais necessitam trabalhar, passam a dispor de
tempo livre, o ócio. A palavra escola deriva-se do grego e significa, etimologicamente, lugar do ócio.
Deste modo, a escola foi organizada na intenção de atender aqueles que dispunham de tempo
através da formação clássica que valorizava a retórica.
Na Época Moderna, com a crescente utilização dos códigos formais, houve a exigência de que
a população tivesse domínio de cultura intelectual, cujo componente elementar era a leitura e a
escrita, o que provocou a pressão social pela escola e a necessidade de sua expansão. Neste ínterim o
Brasil é “descoberto”.
A organização das atividades escolares, no Brasil, tem início com os padres jesuítas os quais
exerceram amplo trabalho na catequese dos nativos e de educação intelectual dos brancos,
principalmente das classes mais abastadas. O Ratio Studiorum (1599) estabelecia a unidade do
método, da matéria e do professor.
Entre 1930 e 1937, o Brasil viveu um dos momentos políticos mais radicais, em que
conviveram diferentes pensamentos sobre a educação brasileira. Os liberais7 eram o grupo dos
intelectuais da Pedagogia Nova. Em oposição direta a estes, existiam, entre outros grupos, os
católicos defensores da Pedagogia Tradicional. No centro da disputa, situava-se o governo que
implementou políticas educacionais conciliadoras. Portanto, a Constituição de 1934 refletiu o clima
de debates da época tendo sido considerada progressista em matéria educacional.
Ao contrário da Carta Magna de 1934, a de 1937 é imposta pelo Estado Novo, em que o
Governo não considera a educação básica pública, voltando suas preocupações para a crescente
urbanização e a expansão do parque industrial que exigiam mão-de-obra técnica. Porém, constata-se
que a Carta de 1937 oficializa o dualismo educacional 8, ou seja, ensino secundário público destinado
às elites condutoras e ensino profissionalizante às classes populares.
Entre 1945 e 1947, o movimento popular no Brasil cresce e com ele a preocupação com a
escola pública. Com a Constituição Federal de 1946, a União fixa as diretrizes e bases da educação
nacional. Após 13 anos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº. 4024/61, frustra
as expectativas dos setores mais progressistas garantindo igualdade de tratamento às escolas públicas
e às particulares.
Com o golpe de 64, o Brasil passa a viver sob forte ditadura militar. As mudanças no ensino
básico acontecem com a Lei nº 5692/71 que centrada nos ideais tecnicistas da racionalidade,
eficiência e produtividade, determina a obrigatoriedade universal de profissionalização no ensino de
2º grau. A revogação desta norma se concretiza após árdua luta através da Lei Ordinária nº. 7.044/82.
Considerando esse breve histórico da educação escolar brasileira, passamos a refletir sobre as
diferentes funções da escola; pedagógica, política e do trabalho, buscando compreender qual a
especificidade e a relação entre elas.
Sendo responsável pela aprendizagem, cabe a escola propiciar a todos que a ela tiverem
acesso, os instrumentos necessários à aquisição do saber sistematizado, pois é a apropriação desse
saber, da ciência, o que justifica sua existência. É pela mediação da escola que o saber espontâneo
passa ao saber sistematizado.
A função pedagógica, traduzida aqui pelo saber sistematizado, permitirá que, ao selecionar as
informações, estas sejam selecionadas criticamente e contribuam para a formação do sujeito que
desejamos; conscientes de seus direitos e deveres, capaz de conviver socialmente e de intervir nos
processos históricos da sua comunidade e da sociedade como um todo.
Esta escola pensa, reflete, concebe, atua e avalia e deve ser organizada de modo a criar as
condições da reflexividade individual e coletiva para exercer a função de educar e instruir. Para tanto
é necessário reafirmar a centralidade do currículo, substituir os princípios da escola: homogeneidade,
segmentação, sequencialidade e conformidade pelos de diversificação, finalização, reflexividade e
eficácia e reorganizar o trabalho na escola.
Se o objetivo da educação escolar é a formação humana, então as necessidades humanas é
que determinam os objetivos da educação (SAVIANI, 2004) e o currículo escolar deve estar pautado
nessas necessidades. Mesmo não sendo suficiente, a educação básica é condição necessária para o
desenvolvimento crítico do indivíduo, que também diante da necessidade de formação profissional
específica, esta não se torne adestramento puro e simples, e a convivência humana não sejam
marcados por relações de subordinação.
Sabe-se que o movimento pela democratização nas esferas municipais, estaduais e federais
surgiu ainda no período da ditadura militar, marcado por muitas lutas de grupos sociais que travaram
acirrados embates quando do início das discussões sobre a democratização do país, até hoje é muito
comum deparar com algum tipo de movimento que busca mudanças e soluções em prol da educação,
em todas as instâncias educacionais. Movimentos que buscam a garantia do que foi proposto pelos
constituintes e que se tornou um dos princípios básicos da Constituição Brasileira de 1988, no Art. 1º,
onde se lê:
Percebe-se que a Constituição Brasileira assegura que todos os cidadãos tenham seus diretos
garantidos e preservados. Porém, o processo para usufruir desses direitos ainda é muito burocrático.
Os modelos de práticas que ainda persistem no interior das escolas hoje têm retardado o processo de
democratização das unidades de ensino. Provavelmente isso acontece devido ao tipo de trabalho que
ainda é desenvolvido pela gestão administrativa e pedagógica que é exercitada entre os ocupantes de
cargos dos trabalhadores das escolas.
A educação deveria servir como mecanismo de libertação do homem. Esse, por meio da
educação formal, deveria colaborar para o desenvolvimento do país e, acima de tudo, usufruir dos
resultados. Porém, tem-se uma educação que serve como veículo de transmissão das ideias da classe
dominante, cujo papel é muito importante na perpetuação das condições sociais já existentes.
A sociedade espera da escola que esta realize a função de preparação para o mercado de
trabalho, seja numa perspectiva imediata da profissionalização em nível médio ou mediata através da
formação de intelectuais e profissionais liberais em nível superior. Essa expectativa da sociedade,
apenas reforça o projeto educativo da classe burguesa que, atende aos seus interesses e tem
promovido a exclusão social da maioria, a desrealização humana dos trabalhadores, a inversão dos
valores sociais, éticos e morais.
OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO
Os métodos sintéticos vão das partes para o todo. Nos métodos sintéticos, temos a eleição de
princípios organizativos diferenciados, que privilegiam as correspondências fonográficas. Essa
tendência compreende o método alfabético, que toma como unidade a letra; o método fônico, que
toma como unidade o fonema; o método silábico, que toma como unidade um segmento fonológico
mais facilmente pronunciável, que é a sílaba. A disputa sobre qual unidade de análise a ser
considerada – a letra, o fonema ou a sílaba –, é que deu o tom das diferenciações em torno das
correspondências fonográficas. Para esse conjunto de métodos denominados sintéticos, propõe-se
um distanciamento da situação de uso e do significado, para a promoção de estratégias de análise do
sistema de escrita.
Os métodos analíticos partem do todo para as partes e procuram romper radicalmente com o
princípio da decifração. São mais conhecidos os métodos globais de contos, o de sentenciação e o de
palavração. Está presente nesse movimento metodológico a defesa do trabalho com sentido, na
alfabetização. Assim, esses métodos buscam atuar na compreensão, por entenderem que a
linguagem escrita deve ser ensinada à criança respeitando-se sua percepção global dos fenômenos e
da própria língua. São tomados como unidade de análise a palavra, a frase e o texto. Esses métodos
supõem que, baseando- se no reconhecimento global, como estratégia inicial, os aprendizes podem
realizar, posteriormente, um processo de análise de unidades menores da língua.
OS MÉTODOS SINTÉTICOS
Algumas pesquisas históricas permitem supor que os primeiros métodos utilizados no ensino
da escrita foram os sintéticos. Vários deles permanecem até os dias atuais. Os Métodos e didáticas de
alfabetização: história, características e modos de fazer de professores métodos sintéticos se baseiam
num mesmo pressuposto: o de que a compreensão do sistema de escrita se faz sintetizando/juntando
unidades menores, que são analisadas para estabelecer a relação entre a fala e sua representação
escrita, ou seja, a análise fonológica. Dependendo do método, essas unidades de análise podem ser
escolhidas entre letras, fonemas ou sílabas, que se juntam para formar um todo. A aprendizagem
pelos métodos sintéticos leva à decodificação ou decifração.
MÉTODO ALFABÉTICO
Dentre os métodos sintéticos, o mais antigo, que foi utilizado em massa até o início do século
XX, é o método alfabético. Consistia em apresentar partes mínimas da escrita, as letras do alfabeto,
que, ao se juntarem umas às outras, formavam as sílabas ou partes que dariam origem às palavras. Os
aprendizes, primeiro, deveriam decorar o alfabeto, letra por letra, para encontrar as partes que
formariam a sílaba ou outro segmento da palavra; somente depois viriam a entender que esses
elementos poderiam se transformar numa palavra. Mais tarde, criou-se o procedimento de
soletração, que gerou exaustivos exercícios de “cantilenas” (cantorias com os nomes das letras e suas
combinações) e também o treino com possíveis combinações de letras em silabários. Essas atividades
eram sem sentido, porque se demorava a chegar ao significado. Imaginem uma pessoa decorando e
cantando combinações (be-a-ba, be-e-be, etc.) e soletrando para tentar decifrar a palavra bola:
“be-o-bo, ele-a-la = bola”.
Pouco sabemos, sobre como eram realizadas essas aulas, se os alunos tinham apoio de
material escrito ou se apenas o professor possuía um livro de apoio, e são ainda recentes as pesquisas
sobre essas práticas no Brasil.
Sabemos, hoje, que, a partir do século XIX, quando a escola passa a utilizar o ensino
simultâneo, em que se formavam classes ou séries que estudavam o mesmo conteúdo ao mesmo
tempo e no mesmo lugar, houve a necessidade de produção de material didático para “padronizar” os
procedimentos. Tem-se notícia de alguns materiais antigos usados para auxiliar o processo de
aprendizagem. Um material que pode ser citado, que coincide com o uso do método alfabético, são
as Cartas de ABC e os silabários.
ABC da Infância primeira coleção de cartas para aprender a ler, 107 ed. Rio de Janeiro,
Livros Francisco Alves, 1956.
O método alfabético trazia uma vantagem: o próprio nome de cada letra do alfabeto (com
algumas exceções) remete pelo menos um dos fonemas que ela representa na escrita. Entretanto, no
momento de leitura das palavras, na junção das partes feita mediante a pronúncia do nome da letra,
ocorria um percurso tortuoso. Era preciso pronunciar primeiro o nome da letra, mas também tentar
abstrair os outros sons existentes em seu nome. Isso era necessário porque, ao se pronunciar o nome
da letra, entravam sons que não pertenciam à sílaba ou à palavra. Tente imaginar a abstração
necessária ao aprendiz, para retirar o excesso de sons na palavra que se soletra assim: “bê-a-ba,
ene-a-na, ene-a-na = banana”. Talvez por isso tenham sido criados outros alfabetos, como o alfabeto
popular de regiões do nordeste: a, bê, cê, dê, ê, fê... lê, mê, nê, etc., que ajudam a eliminar algumas
sobras de sons, na hora da junção de letras. Assim, se poderia soletrar, com menos sacrifício:
“bê-a-ba, nê-a-na, nê-a-na = banana”. Esse alfabeto é explorado, por exemplo, em letras de músicas:
ABC DO SERTÃO
MÉTODO FÔNICO
Outro método sintético é o fônico, cujo princípio é de que é preciso ensinar as relações entre
sons e letras, para que se relacione a palavra falada com a escrita. Dessa forma, a unidade mínima de
análise é o som.
Segundo Braslavsky (1988), no método fônico começa-se ensinando a forma e o som das
vogais. Depois ensinam-se as consoantes, estabelecendo entre consoantes e vogais relações cada vez
mais complexas. Cada letra é aprendida como um som que, junto a outro som, pode formar sílabas e
palavras. Para o ensino dos sons, há uma sequência que deve ser respeitada, indo-se de relações
diretas entre fonemas e grafemas para relações mais complexas. Na organização do ensino, a
aprendizagem da relação fonema/grafema é o principal objetivo.
O método fônico traz uma vantagem. Nos casos em que realmente há uma correspondência
direta entre um fonema e sua representação escrita, os aprendizes vão decifrar rapidamente, desde
que entendam essa relação e decorem as correspondências. Os casos de correspondência direta
entre fonemas e letras descritos por Lemle (1991) são: p e b, v e f, t e d. Cada uma dessas letras
sempre representa o mesmo fonema e só representa esse fonema (e mais nenhum outro). Por isso,
não oferece maior dificuldade para a decodificação e a codificação.
Outro problema identificado é que a consoante não é pronunciável sem o apoio de uma vogal.
É por isso que, ao se ensinar o fonema / f /, por exemplo, era preciso pronunciá- lo com o apoio de
uma vogal, que ficava meio escondida na emissão sonora, para que pudesse se materializar o “som”: [
fe ] (“fê”).
Para atenuar esses problemas e aproximar os alunos de algum significado é que foram criadas
variações do método fônico. O que difere uma modalidade da outra é a maneira de apresentar os
fonemas: a partir de uma palavra significativa, de uma palavra vinculada a uma imagem que buscava
representar a letra associando-a a um som (por exemplo, o desenho de uma mangueira jorrando
água, que tinha o formado da letra J), de um personagem associado a um som, de uma história para
dar sentido à apresentação dos fonemas.
Citando Gray, Berta Braslavsky (1988) apresenta algumas variantes propostas para despertar o
interesse nessa aprendizagem, tais como a onomatopéica, que parte de figuras de animais ou pessoas
produzindo determinados sons e as “palavras-chave”, nas quais se presta atenção ao som inicial.
Nessa perspectiva, parte-se da percepção visual para associá-la a um som. Mas há variantes que
partem de um caminho inverso, começando pela percepção auditiva para depois codificar cada som
mediante uma letra.
Aplicações mais recentes do método fônico continuam propondo como atividade inicial a
apresentação das vogais e, depois, a das consoantes, indicando blocos de atividades específicos a
serem seguidos após a apresentação de um e de outro grupo: identificação das letras e repetição de
seu nome e do seu som característico; identificação de fonemas em palavras ditas pelo professor ou
criação de palavra a partir de um som; ênfase nos sons correspondentes a figuras com letra inicial
destacada; identificação de som final e som inicial e também discriminação entre sons diferentes.
Assim, os alunos identificam o som, pensam na letra que o representa e acham a palavra que começa
com o mesmo som. De qualquer modo, permanece a preocupação primordial em trabalhar os sons e
as letras, numa ordem determinada pela complexidade da relação entre fonemas e grafemas no
sistema de escrita.
MÉTODO SILÁBICO
Um outro método de marcha sintética, que vai das partes para o todo, é o da silabação. No
método silábico, a principal unidade a ser analisada pelos alunos é a sílaba. No entanto, em várias
cartilhas, o trabalho inicial centra-se nas vogais e seus encontros, como uma das condições para a
sistematização posterior das sílabas.
LIMA, Branca Alves de. Caminho Suave. 76ªed., São Paulo: Editora Caminho Suave, 1974.
Veja o exemplo de uma lição da página 24 da cartilha Caminho Suave, de Branca Alves de
Lima, na qual a preocupação com a sílaba a ser ensinada é maior que a preocupação com o sentido
do texto.
Nem sempre os métodos são concretizados da mesma forma: há cartilhas mais antigas, como
a Cartilha Sodré, por exemplo, publicada na década de 40 do século passado, que apresenta mais de
uma sílaba em cada lição, escolhe sílabas com uma mesma vogal, e parece não se prender à mesma
ordem de sílabas apresentadas nos métodos silábicos de cartilhas na década de 70/80. A cartilha
Sodré tem, no entanto, em comum com as outras, a apresentação de textos cujo sentido é
dependente da composição de sílabas a serem ensinadas.
Exemplo de lição da Cartilha Sodré, de Stahl Sodré, página 9
SODRÉ, Benedita Stahl. Cartilha Sodré. 230ªed., São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1965.
O método silábico tem uma vantagem: ao se trabalhar com a unidade sílaba, atende–se a um
princípio importante e facilitador da aprendizagem: quando falamos, pronunciamos sílabas e não
sons separados. Assim, suprime-se a etapa tortuosa pela qual o aluno passa ao tentar transformar
letras ou fonemas em sílabas, como no método de soletração (alfabético) ou no fônico. Além disso, o
método silábico se presta bem a um trabalho com determinadas sílabas às quais não se aplica o
princípio de relação direta entre fonema e grafema. Existem várias sílabas que comportam mais letras
do que os sons que pronunciamos: na representação da nasalidade, em algumas palavras,
escrevemos as letras n ou m sem que elas correspondam a algum som (canto, campo); nos dígrafos,
usamos duas letras para representar um único som (chuva, carro, excelente, gueto, brinquedo).
Outro problema que geralmente aparece na organização dos métodos silábicos é que os textos
“fabricados” para treino das sílabas são artificiais, muitas vezes sem sentido e descolados de qualquer
uso social. Esses métodos, no entanto, em seu conjunto abordam uma dimensão importante e
necessária para o aprendizado da escrita: a análise das relações entre unidades sonoras e grafemas
(“letras” ou grupos de letras).
Em síntese, os métodos que seguem a marcha sintética (da s partes para o todo, da análise
para a síntese) e que demonstram rigidez no controle das aprendizagens tendem a priorizar apenas a
decodificação, ou seja, a análise fonológica, com pouca ênfase no sentido dos textos e no uso social
da escrita.
Devemos também compreender que são complexas as relações entre os métodos, com seus
princípios gerais, e as apropriações pedagógicas desses princípios. Assim, como já foi dito, há
variações em torno do método fônico, por exemplo, quando se criam gestos para auxiliar na
memorização dos fonemas (daí a expressão método fônico-gestual).
A respeito das classificações dos métodos, é bom ressaltar que o caráter político da
alfabetização, o contexto de aplicação, a escolha do universo vocabular, entre outros fatores, podem
dar a um método um significado muito mais amplo, que extrapola a simples escolha por um ou outro
princípio. Um exemplo é o chamado “método Paulo Freire”, de caráter silábico, mas que prioriza o
sentido e a compreensão crítica do mundo, por meio da escolha das palavras a serem trabalhadas,
eliminando, portanto, o controle artificial do vocabulário. A partir da chamada palavra geradora é
que são analisadas e sistematizadas as famílias silábicas. Dessa forma, podemos dizer que uma
pedagogia de alfabetização baseada nas ideias de Paulo Freire utiliza procedimentos dos métodos
sintéticos e analíticos. Ele mesmo afirmou que não inventou um novo método e classificou seu
trabalho como método eclético, conforme Soares (2003). Sua apropriação foge de princípios rígidos e
rompe com a mera decodificação porque, em sua base teórica, visa à discussão política, pelos
analfabetos oprimidos, de suas necessidades e projetos de transformação da sociedade.
“... A salinha escura. O projetor jorrando luz na parede caiada, na mão de Francisca que
mudava um slide, no cabelo de Francisca. A luz do projetor de volta para a parede acendendo a cara
dos camponeses. Repetindo por fora o trabalho de escultura que as palavras faziam por dentro”.
Francisca tirou um slide de fora da série. A palavra de duas letras mas grande na parede. Vários
camponeses leram juntos:
– Eu.
Outro slide e disseram:
– Re.
– Pensem em classe e clamor – disse Francisca enquanto colocava o slide com
o pronome e o verbo.
– Eu re – disse um camponês.
– Eu remo – disse um outro.
– Eu clamo – disse o outro.
– Eu sei professora, eu sei Dona Francisca. EU RECLAMO!
Mesmo agora, já habituado a assistir e a ensinar ele próprio, Nando sentia os olhos cheios d’água
quando diante de um camponês uma coisa ou ação virava palavra. A criança tantas vezes vai fazer a
coisa a comando da palavra. Para aqueles camponeses tudo já existia, menos a palavra.
– De – disse um camponês.
– Cla – disseram todos.
– Ra – disse um camponês.
– Declaração! Disse outro.
Como se visse entrar num alçapão um pássaro palpitante, pensou Nando. E lembrou dos possantes
dentes alvos e quadrados do padre Gonçalo quando riu da emoção de Nando ao assistir sua primeira
aula. “É o porre do verbo, Seu Nando”.
– Reclamar vocês todos sabem o que é – disse Francisca.
Os camponeses riram.”
CALLADO, A. Quarup. Rio de Janeiro/São Paulo. Editora Record. 1996 (1ª ed. 1967). p. 383-384.
OS MÉTODOS ANALÍTICOS
Seguindo nosso percurso na discussão, voltaremos o pêndulo para os métodos analíticos, que
partem da síntese para a análise, do todo para as partes. Os métodos globais trabalham com diversos
pressupostos, que podem ser verificados nas discussões sobre sua utilização, desde Comênio até a
atualidade.
A escolha de palavras também não obedece ao princípio do mais fácil ao mais difícil. São
apresentadas independentemente de suas regularidades ortográficas. O importante é que tenham
significado para os alunos.
Para Gilda Rizzo Soares (1986), Comênio é apontado como o introdutor do método da
palavração. Nesse método, as palavras são apresentadas em agrupamentos e os alunos aprendem a
reconhecê-las pela visualização e pela configuração gráfica. Os defensores dessa memorização pelo
perfil gráfico acreditavam ser essa estratégia cognitiva algo “natural” no ser humano. Em suas
aplicações, as figuras podem acompanhar as palavras, no início do processo, e a repetição garante a
memorização. Ao mesmo tempo em que são incentivadas estratégias de leitura inteligente, a atenção
do aluno pode ser dirigida a componente da palavra escrita ou falada, como letras, sílabas e sons.
Essas duas estratégias reunidas garantiriam o enfrentamento de textos novos.
Para o desenvolvimento de atividades, são utilizados cartões para fixação, com palavras de um
lado e gravuras de outro, exercícios sinestésicos para o ensino do movimento de escrita de cada
palavra, entre outros recursos e procedimentos.
Braslavsky (2004) descreve o método da frase, que parece ter um sentido similar ao método
de sentenciação, destacando que se faz nele o uso de um grupo de palavras com sentido desde o
começo da alfabetização. Segundo a autora, o ponto de partida são atividades de expressão oral das
crianças, cujos enunciados são transformados em orações simples e escritos em faixas de distintos
tamanhos, exibidas na sala de aula para que as crianças possam ilustrá-las, conservando-as numa
certa ordem. Essas frases podem depois ser consultadas para que as crianças encontrem nelas novas
palavras e combinações.
Há poucas informações sobre suas aplicações no Brasil e podemos dizer que a abordagem das
sentenças precisa ser mais bem investigada. Em linhas gerais, são elencadas duas vantagens: a de se
trabalhar com a frase, considerada, de acordo com as teorias gramaticais vigentes na época, como a
unidade mais completa da língua; e a de se enfatizar um tipo de leitura que pode utilizar pistas do
contexto para a compreensão. Como desvantagem, aparece a mesma citada quanto ao método de
palavração: o perigo de se gastar muito tempo com a memorização e de se dar pouca atenção à
análise de palavras.
MÉTODO GLOBAL DE CONTOS
Houve a divulgação dos métodos globais em vários estados brasileiros, como Rio Grande do
Sul, São Paulo e Minas Gerais. Em Minas Gerais, por exemplo, sabemos que houve, nas primeiras
décadas do século XX, a adesão oficial ao método global de contos ou de historietas.
Para o trabalho com os métodos globais, eram produzidos os chamados pré-livros. Neles,
tanto poderia ser utilizado um texto já conhecido de (como foi o caso do pré-livro As mais belas
histórias, de Lúcia Casasanta) ou um texto desconhecido, em que cada lição é um conto completo,
mesmo que os personagens do livro reaparecessem em diversos contos. O Livro de Lili, de Anita
Fonseca, utilizado em vários estados brasileiros, é exemplar dessa forma de organização. No mesmo
modelo, foi produzido, no Rio Grande do Sul, o livro Sarita e seus Amiguinhos, de Cecy Thofehrn e
Jandira Szechir, segundo Eliane Peres e Gilceane Porto (2004). Abaixo, capas de dois pré-livros.
FONSECA, Anita. O Livro de Lili. Cartilha. 87ªed., São Paul Ed. do Brasil, 1961.
THOFEHRN, Cecy Cordeiro; SZECHIR, Jandira Cardias. Sarita e seus Amiguinhos. Ed. São Paulo: Editora
do Brasil, 1953.
Na divulgação dos métodos globais em outros países, nem sempre se pensou em adotar o
procedimento de escolha anterior de textos ou de um livro, o que gerou muitas resistências dos
professores e a demanda para que se produzissem materiais de apoio, para uso em sala de aula. Isso
aconteceu na França, por exemplo, (CHARTIER E HÉBRARD, 2001) e também no Brasil. O caso de
Minas Gerais é emblemático: logo que o método global foi divulgado no Estado, houve a demanda
dos professores para um direcionamento maior do seu trabalho, o que gerou a produção de pré-livros
e cartazes como material de apoio.
No Brasil, os métodos globais que foram descritos até o momento apoiaram-se em materiais
impressos para serem usados como livros didáticos e não deixam de apresentar uma progressão em
termos de sua apresentação e análise. Os textos não apresentavam problemas de simplificação na
escolha das palavras, mas os autores procuravam contemplar os principais casos de regularidade e
irregularidade do sistema ortográfico do Português. No entanto, mesmo defendendo a concepção de
linguagem como um fenômeno global, os textos dos livros ainda não manifestam a mesma linguagem
presente em textos autênticos, como o das histórias infantis. Reproduzimos, como exemplo, uma
lição de O livro de Lili, de Anita Fonseca, que apresenta a personagem com um modelo de texto
pouco usual, em que se observa certa desarticulação entre as frases que o compõem.
FONSECA, Anita. O Livro de Lili. Cartilha. 87ª ed., São Paulo: Editora do Brasil, 1961
A seguir, trazemos um texto do livro As mais belas histórias, de Lúcia Casasanta, que se
aproxima da estrutura narrativa típica dos textos autênticos de histórias infantis, com os verbos
conjugados no pretérito e a presença do articulador mas. No entanto, no todo do livro, aparecem
também, como no Livro de Lili, textos que ficam no meio do caminho entre a narrativa e a descrição,
com os verbos no tempo presente.
CASASANTA, Lucia Monteiro. As mais belas historias – pré-livro. 209ª ed. Belo Horizonte: Editora do
Brasil em MG, s/d.
Os métodos globais têm uma vantagem. A linguagem é apresentada de uma maneira que se
aproxima mais do uso efetivo do que nos outros métodos, porque não se dissocia a forma do
significado. Apesar do tom artificial de alguns textos e mesmo quando se elege a organização por
palavra ou sentença, a criança tem acesso a uma significação, podendo “ler” palavras, sentenças ou
textos desde a primeira lição, por reconhecimento global. Supõe-se que, assim, mantém-se o
interesse desde o início do processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Esse tipo de leitura, com
foco na memorização global, possibilita que os alunos não se percam na tentativa de decodificação e
que leiam com rapidez palavras conhecidas. Contudo, há também desvantagens. Se os alunos não
aprenderem a decodificar, como lerão palavras novas? Como o professor pode saber se os alunos
estão realmente lendo ou recitando palavras e textos decorados?
Em síntese, poderíamos dizer que os métodos globais, tal como foram popularizados, seguem
a marcha analítica (do todo para as partes, da síntese para a análise), pretendem priorizar o sentido e
estabelecem algum tipo de progressão na fragmentação das unidades que serão analisadas. Essa
progressão também define a intervenção do professor.
MÉTODO NATURAL
Para alguns autores, segundo Gilda Rizzo Soares (1986), há relações entre o método global e o
método natural, apesar de algumas diferenças: no segundo, haveria uma produção “espontânea” de
textos escritos pelas crianças com base num repertório mínimo de palavras conhecidas pela classe. A
esse repertório que a classe dominava como alguns substantivos e verbos poderiam ser
acrescentados, no meio do texto, alguns desenhos para ajudar a complementar a escrita. A partir daí
seria desencadeado um método natural de aprendizagem da leitura.
Para Anne Marie Chartier e Jean Hébrard (2001), o método natural utilizado pelo pedagogo
francês Freinet e assumido por ele como uma adesão ao método global de leitura teria como foco a
produção escrita. Na tarefa de escrever, a criança teria necessidade de solicitar a um adulto um
modelo gráfico das palavras. Para ele, a vontade de escrever da criança seria mantida pelo incentivo
de que ela se comunicasse à distância. A leitura, assim, seria consequência da escrita. O papel do
adulto seria informar, quando necessário, as formas escritas que trouxessem dificuldade para as
crianças, impedindo-as de se ocupar do significado do texto. Acreditava-se que, à medida que elas
fossem escrevendo, gravariam a forma global das palavras e que estariam também atentas à
decodificação, em fase posterior. Por essa razão, a produção de uma imprensa pedagógica tem
centralidade no método natural de Freinet. Nessa pedagogia, as crianças escrevem porque é preciso
realizar um jornal escolar e trocar correspondências e não apenas para cumprir uma atividade escolar,
escrevendo para pessoas que estão presentes. Percebe-se, assim, que a produção de textos visava
cumprir uma função social.
Na França, esse método chega ao auge em 1960 e modifica-se quando o fracasso escolar
obriga a um movimento de volta aos métodos mistos. No Brasil, há poucas informações sobre sua
aplicação e destaca-se o trabalho de Gilda Rizzo Soares, já citado, que foi uma de suas divulgadoras.
Heloísa Marinho anunciava que o método natural desenvolvido por ela é um mix de “tudo de
melhor”, que era oferecido em relação à alfabetização, na época. Ela diz ter pinçado um pouco de
cada teoria de educação relacionada à pré-escola e a alfabetização para, então criar o seu método
revolucionário que vinha fazer frente aos modos tradicionais de ensino.
A ludicidade esta sempre presente nas etapas que compõem esse método. E os jogos lógicos
também são uma constante no Método Natural de Alfabetização, estes vão exercer a função de
estimular as crianças na construção de esquemas de raciocínio.
O CONSTRUTIVISMO:
UMA CONCEPÇÃO DE APRENDIZAGEM OU UMA PEDAGOGIA DE ALFABETIZAÇÃO?
✓ Tem acesso à escrita na sociedade antes de passar por um processo sistemático de ensino na
escola;
✓ Tem um processo lógico de pensamento, de modo que cada “erro” de escrita que produz
indica uma hipótese sobre o conteúdo do sistema alfabético de escrita;
✓ Constrói conhecimentos em situação espontânea, desde que conviva com o sistema de
escrita e obtenha algumas informações sobre seu funcionamento.
Um ponto que precisa ser ressaltado é que o construtivismo de Emília Ferreiro é uma teoria
psicolinguística (que explicita como os aprendizes organizam psicologicamente a aprendizagem de um
conteúdo de escrita) e não uma teoria pedagógica sobre como ensinar. No entanto, mesmo que as
práticas dos professores construtivistas ainda não estejam devidamente organizadas para configurar
um método pedagógico, o chamado construtivismo.
Em texto no qual discutem o que recuperam dos métodos diretos e dos métodos de imersão
(também chamados de “linguagem integral”), Ana Teberosky e Teresa Colomer (2003) afirmam que:
Paulo Freire, Educador brasileiro reconhecido por sua contribuição para a história das ideias
pedagógicas no Brasil e América Latina, especialmente no que diz respeito aos processos de
alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, Paulo Freire (1921-1997) defendia uma educação
preocupada com os problemas de nosso tempo e com o desenvolvimento da consciência crítica. Seu
método, desenvolvido na década de 1960 como estratégia para a alfabetização de adultos e
popularmente conhecido como “Método Paulo Freire”, possui fundamentação humanista ao
vislumbrar na educação um ato criador, na medida em que proporciona ao indivíduo autonomia,
consciência crítica e capacidade de decisão.
O próprio Paulo Freire considerava sua metodologia um método de aprender e não
propriamente de ensinar, portanto muito mais próxima a uma Teoria do Conhecimento do que uma
metodologia de ensino propriamente dita. Como tal, os princípios ético-metodológicos de sua teoria
eram constituídos com base no respeito pelo educando e na conquista da autonomia, tendo o
dialogicidade como fio condutor do processo de ensino-aprendizagem.
Em decorrência desses pressupostos, de acordo com o Método Paulo Freire o processo
educativo ocorre e está centrado na mediação educador-educando. Ao educador cabe mostrar ao
educando que ele traz consigo uma gama conhecimentos oriundos de suas experiências e ao
educador é incumbida a tarefa de auxiliar na organização desses conhecimentos, relacionando os
saberes trazidos pelo educando com os saberes escolares. Assim, o aluno/educando melhora
progressivamente sua autoestima, conseguindo participar mais ativamente do processo de
aprendizagem; consequentemente, maior será a autonomia e maior será também a perspectiva de
participação ativa na sociedade.
O trabalho pedagógico baseado nesse método parte de uma investigação temática para
verificação do universo vocabular do aluno e dos modos de vida e costumes da região, com o objetivo
de perceber como o aluno sente sua realidade. A partir deste levantamento é definido um tema
gerador geral e demais tematizações a serem trabalhadas através de ilustrações que representem
aspectos da realidade concreta dos alunos a fim de suscitar debates que levem a problematização das
situações vividas. Paralelamente a essas etapas são trabalhados pelo professor as dificuldades
fonéticas sendo que, desta forma, o processo de construção e significação de palavras, leitura e
escrita ocorrem simultaneamente.
Ao trabalhar a aprendizagem dessa maneira, o método inova ao promover a horizontalidade
na relação educador-educando, a valorização da sua cultura e da sua oralidade. Partindo dos
princípios de que o educando é sujeito da própria aprendizagem e de quando ele chega à escola já
possui um conhecimento de sua língua e de sua cultura, promove uma aprendizagem que ocorre
coletivamente e se dá no conflito entre o conhecimento antigo e o novo conhecimento.
Portanto, na visão de Paulo Freire a educação deve ser capaz de promover a autoconfiança e
toda ação educativa deve ser um ato contínuo de recriação e de ressignificação de significados
enquanto condição de possibilidade para uma educação conscientizadora e libertadora, dentro de
uma perspectiva contínua de diálogo e reflexão sobre a ação com o objetivo de ampliar a visão de
mundo e a participação ativa do indivíduo em todas as esferas da vida em sociedade.
O método de alfabetização de Paulo o Freire é resultado de muitos anos de trabalho e
reflexões no campo da Educação, sobretudo na de adultos em regiões proletárias e sub-proletárias,
urbanas e rurais, de Pernambuco.
O Patrono da Educação Brasileira desenvolveu naquela época, um método de alfabetização
baseado nas experiências de vida das pessoas. Em vez de buscar a alfabetização por meio de cartilhas
e ensinar, por exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele trabalhava as chamadas “palavras
geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo, um trabalhador de fábrica podia aprender
“tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”, “enxada”, “terra”, “colheita” etc. A partir da
decodificação fonética dessas palavras, ia se construindo novas palavras e ampliando o repertório.
O método Paulo Freire estimula a alfabetização dos adultos mediante a discussão de suas
experiências de vida entre si, através de palavras presentes na realidade dos alunos, que são
decodificadas para a aquisição da palavra escrita e da compreensão do mundo.
No processo de aprendizado, o alfabetizado ou a alfabetizada é estimulado (a) a articular
sílabas, formando palavras, extraídas da sua realidade, do seu cotidiano.
O método Paulo Freire não visa apenas tornar mais rápido e acessível o aprendizado, mas
pretende habilitar o aluno a "ler o mundo", na expressão famosa do educador. "Trata-se de aprender
a ler a realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)", dizia
Freire. A alfabetização é, para o educador, um modo de os desfavorecidos romperem o que chamou
de "cultura do silêncio" e transformar a realidade, "como sujeitos da própria história".
Etapas do método:
Etapa de Investigação: busca conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos
da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.
Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos
significados sociais dos temas e palavras.
Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão
mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.
O método
As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do
universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais
usados pelos alunos e a comunidade, e assim seleciona as palavras que servirão de base para as
lições. A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente.
Depois de composto o universo das palavras geradoras, apresenta-se elas em cartazes com imagens.
Então, nos círculos de cultura inicia-se uma discussão para significá-las na realidade daquela turma.
A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada através da
divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva
família silábica, com a mudança da vogal. (i.e., BA-BE-BI-BO-BU)
As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias
silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas.
A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os diversos temas
surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos
processos de codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é
promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o
conhecimento da realidade social.
“Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las”.
FREIRE P.. (1982) Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra (6ª
edição), pp. 09-12.
As fases de aplicação do método
Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco fases seguintes:
1ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase ocorrem as interações de
aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros
do grupo, respeitando seu linguajar típico.
2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonética, dificuldades
fonéticas - numa sequência gradativa das mais simples para as mais complexas, do comprometimento
pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.
3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações inseridas na
realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica
consciente de problemas locais, regionais e nacionais.
4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para os debates, as quais deverão
servir como subsídios, sem no entanto seguir uma prescrição rígida.
5ª fase: Criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às
palavras geradoras.
Baseado na experiência de Angicos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João
Goulart, presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de
Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20.000
círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no estado da Guanabara (Rio
de Janeiro) se inscreveram 6.000 pessoas. Mas com o Golpe de 64 toda essa mobilização social foi
reprimida, Paulo Freire foi considerado subversivo, foi preso e depois exilado. Assim, esse projeto foi
abortado. Em seu lugar surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a alfabetização, porém, distinta dos
ideais freirianos.
“É mais do que um método que alfabetiza, é uma ampla e profunda compreensão da educação que
tem como cerne de suas preocupações a natureza política”.
(in: A Voz da Esposa - A Trajetória de Paulo Freire)
A LITERATURA INFANTIL NO AMBIENTE ALFABETIZADOR
O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
No Brasil, o nível de leitura da população sempre foi baixo, a elevada taxa de analfabetismo, o
reduzido poder aquisitivo de uma política cultural contínua e a influência da mídia são alguns fatores
relacionados ao problema do alfabetizado funcional. Neste sentido, o livro deveria ter a importância
de uma televisão dentro do lar, pois de acordo com a UNESCO (2005) somente 14% da população tem
o hábito de ler, portanto, pode–se afirmar que a sociedade brasileira não é leitora.
Uma das atividades fundamentais desenvolvidas na escola para a formação dos alunos é a
leitura entendida como extensão da escola na vida e na sociedade. A criança que ingressar na escola
sem ter o conhecimento básico de literatura, certamente terá á oportunidade de se relacionar com as
novas possibilidades de crescimento, pois a escola é o espaço para estabelecer uma relação entre
literatura, livro, criança e professor. Kleiman (2005) aponta Paulo Freire como uns dos primeiros a
utilizar o termo alfabetização com um sentido mais próximo ao que atualmente se tem chamado de
letramento, referindo-se a uma prática sociocultural de uso da língua escrita que vai se
transformando ao longo do tempo.. O letramento abrange o processo de desenvolvimento e o uso
dos sistemas da escrita nas sociedades, ou seja, o desenvolvimento histórico da escrita refletindo
outras mudanças sociais e tecnológicas.
Observa Carvalho (1989, p. 19) que “tirar da criança o encanto da fantasia pela arte,
particularmente a arte do desenho, da forma das cores e da literatura (que representa todas), é
sufocar e suprimir todas as riquezas do seu mundo interior”.
O processo social da alfabetização acontece por meio da literatura infantil que além de
contribuir significativamente no processo de ensino aprendizagem acrescenta elementos necessários
para a criança compreender o mundo da fantasia e sua realidade cultural/ social através de bons
livros literários, onde a criança adquire conhecimento das histórias, da fala e das primeiras palavras. O
professor alfabetizador deve ter conhecimento que a literatura infantil é um recurso excelente em
prol ao ensino, e tem que ser aplicada na forma de ensinar, refletir e ao mesmo tempo divertir, pois,
dessa maneira facilitará a aquisição dos conhecimentos pelas crianças.
Freire (1993) pontua que as escolas deveriam estimular o gosto da leitura e da escrita durante
todo o tempo de sua escolarização. Que estudar não signifique um fardo e ler uma obrigação, mas
uma fonte de alegria e de prazer. Este esforço em buscar a significação dos estudos, deveria começar
na pré-escola, intensificando-se no período da alfabetização e continuar sem jamais parar.
De acordo com autores como Freire (2008), Soares (2008), Kleiman (2005), Tfouni (2006) e
Abromovich (1997), o processo de alfabetização e letramento compartilhado com a literatura infantil
são procedimentos que qualificam o conhecimento e o contextualizam.
O livro de literatura infantil é considerado uma ferramenta valiosa para o professor e para a
escola, sendo um meio significativo em prol a aquisição de um excelente ensino literário com
qualidade no desenvolvimento da aprendizagem. Isto significa uma formação crítica e ativa, em que a
criança explora a sua criatividade, imaginação e a significação em seu meio, sugere e conduz a criança
a diferenciar valores atualmente perdidos pela sociedade atual. Devem–se ampliar as experiências
com a literatura infantil, buscando igualar a criatividade dos textos com a atividade pedagógica,
desenvolvendo a compreensão e a interação das crianças por meio de atividades e temas lúdicos.
Com o objetivo de avaliar o nível de aprendizagem dos alunos, utilizamos Ferreiro (1986), que
classifica as etapas de alfabetização em três níveis, partindo do pré–silábico, passando pelo silábico e
silábico–alfabético, até alcançar o nível alfabético. No primeiro nível, o alfabetizando acredita que, ao
produzir os traços típicos da escrita, ele estará escrevendo de acordo com as convenções existentes
na sociedade. Nesta fase, verificamos também diversas hipóteses levantadas pelos alunos como: a
quantidade mínima de letras, da variedade de caracteres e a do realismo nominal. O nível silábico, o
aluno acredita que a escrita representa a fala, escrevendo apenas uma letra para cada som
pronunciado pelas sílabas. No terceiro nível alfabético, verificamos a transição do nível silábico para o
alfabético, sendo este o último nível, o momento em que o aluno descobre a relação entre os
fonemas e grafemas, além de codificar e decodificar as palavras. É importante destacar que as
alterações diante das convenções ortográficas não devem ser levadas em consideração nessa etapa. A
literatura e a alfabetização andam junto o tempo todo, as crianças gostam de ouvir história e se
encantam com esse mundo de magia que é de grande importância no processo de alfabetização, e
dessa forma o processo de ensino aprendizagem é desenvolvido com mais qualidade, porque o
professor deixa de desempenhar uma ação mais estática e torna o ensino mais ativo e motivador,
onde a criança é estimulada a interagir com o conhecimento posto em questão.
As crianças em fase de alfabetização ficam encantadas com histórias infantis, contos de fadas,
lendas e aventuras, esses recursos didáticos são excelentes para atrair nas crianças o hábito e o gosto
pela leitura, onde o trabalho em classes de alfabetização, realizado pelo professor, tem que ter o
objetivo de incentivar as crianças a ter um bom desenvolvimento social, tanto na leitura, como na
escrita, com o educador e colegas de classe, havendo facilidade em aprender os conteúdos
trabalhados de forma correta.
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA
Todo processo educacional inicia–se com a literatura, pois a mesma assume um papel
informativo e abre as portas para o saber, propicia o acesso ao conhecimento, traz informações para a
vida prática. Há muitas formas e diversos recursos para se trabalhar com literatura como (contos,
poemas, lendas, histórias, personagens, fábulas, teatros, imagens ilustrativas, lúdico, livros de
gravuras etc.).
Como se refere Coelho (2000), a literatura infantil possibilita que as crianças consigam redigir
melhor, desenvolvendo sua criatividade, pois o ato de ler e o ato de escrever estão intimamente
ligados. Nesse sentido, “a literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno
de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra”. Funde os sonhos e a
vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização.
É a fase de mentalidade mágica, em que a criança faz pouca diferença entre o mundo externo
e o interno. A literatura vai ajuda – lá a fazer a distinção entre o “eu” e o mundo através dos livros, de
gravuras de objetos de seu meio. Entre 4 a 6 anos a criança prefere a leitura do realismo mágico:
contos de fadas, lendas, mitos, fábulas, que podem oferecer mudança imaginativa, pois nessa fase do
seu desenvolvimento a criança é essencialmente suscetível à fantasia. (BAMBERGER 1977, P. 36)
Souza (1982) assinala a importância da literatura infantil como etapa criadora dentro do
problema geral da imaginação, uma vez que não se sabe bem em que idade, nem em que forma e
circunstâncias ela aparece na criança.
O processo literário é fascinante em todas as épocas, devemos ter em mente que o hábito da
literatura faz bem até mesmo para os adultos. Temos que quebrar as barreiras do preconceito que
ainda existe em alguns contextos da sociedade, que se acredita e interpretam o processo literário de
forma vazia e sem sentido com a vida humana em sociedade, pois essa análise decorre de questões
não observadas e estudadas profundamente sobre os gêneros literários e o desenvolvimento
cognitivo das pessoas. Bettelheim, em seu livro: A psicanálise dos contos de fadas diz:
As histórias, lendas, fábulas e os contos de fadas trazem a rotina escolar uma atividade
insubstituível repleta de conteúdos e dinâmicas no ensino–aprendizagem, que contribui de maneira
positiva no conhecimento da criança, tanto na linguagem oral quanto na linguagem escrita e visual.
Nesse instante a criança passa a se socializar na sociedade de forma mais concreta, pois, as histórias
são fonte de aprendizagem, inspiração e desenvolvimento. É óbvio que a literatura infantil reforça os
laços de desenvolvimento da criança através de seu envolvimento, de seu contato com os livros e com
a magia existente nos mesmos que certamente desperta a curiosidade das crianças em conhecer e
desvendar os mistérios existentes em cada página do livro. Desse modo, a criança cria seu mundo de
fantasia/ encantamento e seu mundo real através da sua imaginação/ interpretação sobre os fatos
observados e vivenciados na prática.
Os contos de fadas “No espaço sobrenatural não existe tempo real, tudo acontece de repente
e justamente, com total arbítrio do acaso, os personagens existem, mas não foram criados por leis
humanas, são fenômenos naturais. Por isso são seres encantados”. (MACHADO, 1994, P. 43).
A literatura é uma arte verbal na qual envolve uma representação e uma visão de mundo que
estão centralizadas no criador de literatura, onde este retira elementos do mundo para ajudar o leitor
a estruturar seu universo cultural. “Uma cultura constitui um corpo complexo de normas, símbolos,
mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade estruturam os instintos, orientam as
emoções” (MORIN apud FILHO 2007, p. 33).
A leitura como uma conquista que ocorreu gradativamente, observa-se que a mesma é um
elemento fundamental na formação e na construção do conhecimento da criança, e que está muito
além da decodificação mecânica das linhas escritas, mas na curiosidade e consequente descoberta
desvelada através dela, compreendemos que a vasta descrição em torno das potencialidades
extraídas da literatura infantil, como posto nesse trabalho, que possa, sobretudo, contribuir para a
formação de leitores ativos e competentes, consequentemente para uma aprendizagem significativa
da criança no processo educacional, pois como sabemos o primeiro contato com os livros deve
acontecer na infância da criança e preferencialmente com seus familiares.
A família é muito importante no processo educacional, sendo que a mesma deve buscar
desenvolver a imaginação, a criatividade, o gosto da criança pela leitura e pela escrita, abrindo
espaços na vida da mesma na aquisição de conhecimento e comunicação social em contextos formais
e não formais. Assim como a escola é responsável, a família também é responsável pelo
ensino-aprendizagem, pois quando a escola e a família decidem colaborar e atuar juntas na busca de
estratégias e projetos de conhecimentos, certamente esse processo de ensino aprendizagem é
modificável, benéfico, significativo e prazeroso para todos os membros da comunidade escolar.
Lembramos que quando as tarefas são compartilhadas em equipe, as conquistas são mais
abrangentes e significativas em todos os contextos sociais.
METODOLOGIA
Os personagens das histórias são fortes elementos na hora de identificar uma boa história,
sendo que é através dos personagens que as crianças criam uma ficção, pois as histórias assistidas em
filmes animados muitas vezes são retiradas dos livros de literatura infantil. Como diz Pinto, (2004, pg.
109). Uma criança é capaz de interpretar uma história é capaz de codificar símbolos e significados
ligados aos fatos do seu cotidiano, e a afetividade faz parte destes signos, uma vez que o cognitivo e o
afetivo estão interligados.
Observa-se que a literatura infantil deve estar presente diariamente no contexto formal
(escola), e também no contexto não formal, ou seja, no cotidiano da criança, em sua casa com seus
familiares, pois os benefícios obtidos no processo literário são os mais benéficos para todas as
crianças em processo de alfabetização, letramento, socialização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme Soares (2004), o ato de alfabetizar consiste em ensinar a ler e a escrever, ou seja,
“(…) alfabetizar significa adquirir habilidades de decodificar a língua oral em língua escrita (escrever)
e de decodificar a língua escrita em língua oral (ler)”. (SOARES, 2004, p. 15).
A leitura e a escrita é uma conquista pessoal de cada indivíduo, entretanto as mesmas podem
ser estimuladas por todos aqueles que convivemos diariamente, e certamente, deve-se utilizar de
uma literatura rica em conhecimento, em diálogo, em ética, em análise, cores, personagens, fantasia
e magia, aproveitando os objetivos e a metodologia de ensino contida nos livros de literatura. A
literatura infantil é uma aliada no processo de alfabetização e letramento, pois os livros são recursos
pedagógicos importantes em todas as etapas da vida.
Trabalhar com a literatura infantil deve ser um momento de entrosamento e de prazer para
aluno, à literatura não pode ser apresentada somente com objetivos específicos que fazem parte de
uma grade curricular a ser desenvolvida, ou, seja com finalidades pedagógicas. Não podemos
esquecer que as histórias despertam momentos únicos e mágicos em cada ouvinte ou leitor, é através
das histórias que a criança projeta seu próprio mundo, e ao representá-lo, ela encontra maneiras de
expressar o que sente o que cria o que inventa e assim por diante.
(COSTA, 2008, p. 131).
A criança que houve história desde cedo, que tem o contato direto com os livros e que é
estimulada por amigos, vizinhos e familiares, certamente essa criança terá um desenvolvimento
cognitivo favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a leitura por ser estimulada desde
pequenina com métodos significativos de ensino aprendizagem.
Analisa-se que o mundo tecnológico não pode ser a desculpa ou o “culpado” para o
empobrecimento do hábito da leitura, afinal de contas, existe o livro digital, que de acordo com o
MEC (2004), o processo de alfabetização se inicia muito antes do Ensino Fundamental, nesse sentido,
faz–se necessário salientar a importância do livro que transita pela residência dos educandos
contribui de forma positiva para o processo de alfabetização/ letramento e no desenvolvimento da
criança. Na pesquisa analisou-se, que ainda contemporaneamente á uma necessidade das crianças
ter um apoio familiar na hora de ouvir histórias contadas pelos pais, histórias essas que buscam
ressaltar conhecimentos, magia e, sobretudo educação.
A literatura entre muitos contextos proporciona não somente aprendizado ao educando, mas
para toda a família, um contato com letras, números, realidades diferentes, valores éticos, culturais,
religiosos, novas formas de perceber o mundo, e isso influencia a vida de todos de forma positiva.
Contudo, fica evidente que a alfabetização e o letramento são processos indissociáveis, por
isso é que se faz necessário alfabetizar letrando. Desse modo concordamos com Solé e Teberosky
apud Baptista, quando elas afirmam que: (…) a alfabetização não consiste unicamente em aprender a
ler e a escrever para reproduzir o conhecimento que outros elaboram, mas, sim, em capacitados
sujeitos a usar, de forma autônoma, essas habilidades como ferramentas capazes de construir
conhecimentos. Ou seja, adquirir as habilidades de leitura e escrita é adquirir um importante
instrumento de aprendizagem e de construção de novos conhecimentos. (2010, p. 100).
Observa-se que ao invés dos pais assistirem a uma novela talvez sem “cultura e sem
ensinamentos algum para a vida em sociedade”, vale a pena os pais refletirem e se apropriarem de
livros ricos em conhecimento e fazer destes livros leituras para seus filhos, leituras de contos, lendas,
fábulas, poemas, poesia e entre outros, pois, atitudes assim proporcionam momentos de sabedoria,
de reflexão, magia, descontração, imaginação, aprendizado, união em família e um sentimento de
alegria por parte de quem lê que descreve esse mundo encantador e por parte de quem escuta que
desenvolve esse mundo de magia em seu imaginário.
Diante disso, pode-se afirmar que as histórias despertam o interesse e a curiosidade das
crianças pelo aprendizado, pois a literatura é uma arte que vem ao encontro com o desenvolvimento
e a emoção das crianças, sendo narrada de uma maneira em que as mesmas inconscientemente
compreendam trazendo exemplos e oferecendo soluções temporárias para suas dificuldades
encontradas.
CONCLUSÃO
Decroly (citado por Lourenço Filho, s/d, p.178) expressou de forma definitiva o lugar que cabe ao
método na prática educacional. A longa citação abaixo, embora não seja uma resposta à pergunta que
método devo utilizar? ...fornece-nos um bom material para reflexão.
Ao utilizar esta palavra, método, será conveniente esclarecer que ela nada significa senão
tivermos em mente os objetivos da ação educacional. Em sua legítima acepção, o método não
é uma receita, mas uma relação, entre elementos e situações que tenhamos, e novas
situações para cuja proteção intentamos concorrer. Só quando bem reconhecida a situação
existente e bem formulada a que se deseja obter, é que podemos pensar em atividades
idôneas, isto é, seguras e eficientes. O conceito de método não se contém nos estreitos
domínios da técnica, pois que pressupõe uma opção entre fins a serem obtidos. Ao modo de
fazer as coisas ou de como fazê-las, antecede a intenção de fazê-la ou daquilo que se deva
fazer. Ainda assim os resultados da indagação experimental devem ser levados em conta, pois
não terá sentido pretender fazer aquilo que não se possa fazer [grifos no original].
REFERÊNCIAS
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