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e o Natal
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Adriano Cézar de Oliveira
2022
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© Copyright 2022 by Adriano Cézar de Oliveira, OFMCap.
ISBN: 978-85-471-0703-1
CDU: 246.5
Ficha catalográfica elaborada por:
Bibliotecária Marilza Alves Silva. CRB-6ª/1257
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SUMÁRIO
PREFÁCIO ..........................................................................................................10
INTRODUÇÃO ...................................................................................................14
REFERÊNCIAS ...................................................................................................64
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PREFÁCIO
O
tempo litúrgico inicia-se com o Advento, preparação para o
Natal, a Natividade que há anos vem se secularizando e
perdendo o verdadeiro sentido, a vinda do Salvador, Jesus
Cristo, à humanidade pelo sim da Virgem Maria.
~ 10 ~
Na origem, a representação do presépio continha o Menino Jesus,
o boi e o asno, pois em Isaias 1, 2-3 lemos: “Ouvi, céus, e tu, ó terra, escuta, é
o Senhor quem fala: “Eu criei filhos e os eduquei; eles, porém, se revoltaram contra
mim. O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel
não conhece nada, meu povo não tem entendimento.” Com o passar do tempo
veio a Mãe de Deus e os outros elementos que compõem o presépio. Na
Encarnação, “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (Jo 1).
~ 11 ~
Francisco de Assis, a saber: o relato das narrativas do presépio de Greccio
das Fontes Franciscanas; a reflexão teológica do Papa Francisco e a arte de
Marko Ivan Rupnik, SJ., inspirada no ícone da Natividade e nos Santos
Padres Siríacos e Gregos.
~ 12 ~
Deus se fez homem, portanto, não acreditamos apenas em Deus,
mas também em Deus-Homem. Deus e o homem como revelados em Jesus
Cristo são parte de nossa crença. De fato, no Credo professamos: “Creio
em um só Deus... em um só Senhor Jesus Cristo... por nós, homens e para a
nossa salvação, desceu do céu e, pelo poder do Espírito Santo, encarnou-se
no seio da Virgem Maria e se fez Homem.”
~ 13 ~
INTRODUÇÃO
F
rei Francisco de Assis (1182-1226) nutriu, ao longo de sua vida três
grandes devoções em relação a Jesus Cristo. A primeira delas é a
Encarnação do Verbo, isto é, a Natividade do Menino-Deus
nascido da Virgem Maria. A segunda, a presença real de Jesus no
Sacramento da Eucaristia, ao exortar os irmãos e os fiéis à reta devoção.
Por fim, Jesus Crucificado, o servo humilde e sofredor, o qual ordenou aos
irmãos que pregassem até os confins da terra, tendo o Evangelho por Vida
e Regra.
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As três devoções de Frei Francisco estão interligadas e formam um
todo de fé. Tanto o encantava a figura-presença do Menino-Deus que quis
ver, com os próprios olhos do corpo, aquela realidade que já inebriava sua
alma. Para ele, o Natal do Senhor é a festa das festas, uma vez que o Verbo
de Deus quis habitar no meio de nós e revestir-se da carne humana e, por
conseguinte, da fragilidade inerente à humanidade. Para ele, a Encarnação
é um ato supremo do amor de Deus que quis ser um de nós para nossa
salvação.
~ 15 ~
FIGURA 2: BONDONI, GIOTTO DI. A Belém de Greccio. c. 1296-1304.
Afresco. Igreja Superior Basílica de São Francisco de Assis. Assis, Itália.
~ 16 ~
Frei Francisco desejou ver, com os próprios olhos do corpo, a cena
do Natal do Senhor. Nesse encontro celebrativo, apresenta-se o binômio
Belém-Eucaristia. A fragilidade de Jesus, acolhido no mundo em uma
gruta simples e na pobreza de uma manjedoura, tem íntima relação com a
simplicidade de sua presença na Eucaristia. O Poverello de Assis quer
ressaltar a pobreza e a humildade como singular intuição para acolher na
vida esse mistério e celebrá-lo em fraternidade universal. Belém e
Eucaristia, Manjedoura e Altar mostram o amor de Deus que nunca quer
se apartar do ser humano e acolhe suas fragilidades e misérias.
~ 17 ~
FIGURA 3: SANTUARIO DI GRECCIO. São Francisco diante da
Manjedoura. s/d. Greccio, Itália.
~ 18 ~
~ 19 ~
O NATAL PARA SÃO FRANCISCO DE
ASSIS E FRANCISCO DE ROMA
O
sinal admirável do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa
de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da
natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o
mistério da Encarnação do Filho de Deus (AS 1). Assim começa a Carta do
Papa Francisco sobre o significado e valor do Presépio, publicada no
primeiro Domingo do Advento do ano de 2019, sétimo ano de seu
pontificado, chamada Admirabile Signum (AS), a qual contém dez pontos
de reflexão. Além de trazer à mente e ao coração uma reflexão sobre o
Nascimento do Salvador e a importância de viver a proposta do
Evangelho, o Papa Francisco deseja:
~ 20 ~
Apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio,
nos dias que antecedem o Natal, e também, o costume de o armarem
nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos
estabelecimentos prisionais, nas praças… Trata-se,
verdadeiramente, dum exercício de imaginação criativa, que recorre
aos mais variados materiais para produzir, em miniatura, obras-
primas de beleza. Aprende-se em criança, quando o pai e a mãe,
juntamente com os avós, transmitem este gracioso costume, que
encerra uma rica espiritualidade popular. Almejo que esta prática
nunca desapareça; mais, espero que a mesma, onde porventura
tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar (AS 1).
~ 21 ~
A Carta Admirabile Signum do Papa Francisco
~ 22 ~
presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentido da nossa
existência: Quem sou eu? Donde venho? Por que nasci neste tempo? Por
que amo? Por que sofro? Por que hei de morrer? Foi para dar uma resposta
a estas questões que Deus Se fez homem. A sua proximidade traz luz onde
há escuridão, e ilumina a quantos atravessam as trevas do sofrimento
(Cf. Lucas 1, 79).” (AS 4).
~ 23 ~
se cansa de proteger a sua família (...) e homem justo que era, sempre se
entregou à vontade de Deus e pô-la em prática.” (AS 7).
~ 24 ~
humilde: o nosso «obrigado» a Deus, que tudo quis partilhar conosco para
nunca nos deixar sozinhos.” (AS 10).
~ 25 ~
flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao
chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista
da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram
uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois
o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura,
mostrando também deste modo a ligação que existe entre a
Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Greccio, naquela
ocasião, não havia figuras; o Presépio foi formado e vivido pelos
que estavam presentes. Assim nasce a nossa tradição: todos à volta
da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o
acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no
mistério. O primeiro biógrafo de São Francisco, Tomás de Celano,
lembra que, naquela noite, à simples e comovente representação, se
veio juntar o dom duma visão maravilhosa: um dos presentes viu
que jazia, na manjedoura, o próprio Menino Jesus. Daquele Presépio
do Natal de 1223, «todos voltaram para suas casas cheios de inefável
alegria». (AS 2).
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de Celano (1190-1260) temos relatos nas três hagiografias principais, são
elas, Vita Prima – Vida Primeira de São Francisco (1228-1229), Vita Brevior2
– Vida de nosso bem-aventurado Pai Francisco – (1232-1239) e o Memorial
do desejo da alma [antiga Vita Secunda] (1246-1247). Também há relato na
obra de Boaventura de Bagnoregio (1221-1274), em sua Legenda Maior
(1263-1266).3
~ 27 ~
todos os lados, para ver o novo mistério, e pegando tochas e velas,
fizeram a noite resplandecer. Os frades cantaram louvores
dedicados ao Senhor e as antigas notícias de Belém foram renovadas
em Greccio com um rito novo. O santo de Deus colocou-se diante do
presépio, com espírito dirigido ao céu, inundado de uma inefável
alegria. Os ritos da missa foram celebrados no presépio e o padre
gozou de uma nova satisfação.
Por fim, uma vez terminada a celebração e todos tendo voltado para
casa, o feno do presépio foi conservado, para que, ali os animais
doentes fossem curados, e para que, mesmo mulheres e homens,
através da ação da graça divina, fossem curados de seus males. Mais
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ainda, o lugar do presépio foi consagrado como templo do Senhor e
um altar foi dedicado, com uma Igreja, à honra do bem-aventurado
pai Francisco.
4 Tudo isto realizou perfeitamente o bem-aventurado Pai. Tendo tido a imagem e a forma de
um serafim e persistindo em viver crucificado, mereceu remontar-se à altura dos espíritos
celestes. Na verdade, jamais ele se desprendeu da cruz, pois nunca se subtraiu a fadigas e
sofrimentos, a fim de poder realizar em si por seu intermédio a vontade do Senhor. Os irmãos
que com ele viveram sabem muito bem como a toda a hora lhe aflorava aos lábios a
recordação de Jesus e com que enlevo e ternura sobre Ele discorria. Da abundância do
coração falava a boca, e a fonte de amor iluminado que por dentro o enchia transbordava fora
em fervente cachão. Que intimidades as suas com Jesus! Trazia Jesus no coração, Jesus nos
lábios, Jesus nos ouvidos, Jesus nos olhos, Jesus nas mãos, Jesus presente sempre em todos os
seus membros! Quantas vezes, estando à mesa, esquecia o alimento corporal quando ouvia o
nome de Jesus, ou o mencionava, ou pensava nele, e, tal como se lê de um santo, «olhando
não via e ouvindo não ouvia». Mais: indo ele pelo mundo, quantas vezes, meditando e
cantando a Jesus, interrompia e esquecia a caminhada para convidar as criaturas todas a
louvarem com ele o Criador! Este amor maravilhoso com que sempre soube albergar e
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não, comer carne, dado que o Natal, esse ano, caía à sexta-feira,
respondeu Francisco a frei Morico: «Irmão, é um pecado chamar dia
de Vénus5 ao dia em que nasceu por nós o Menino. Desejaria –
acrescentou – que em semelhante dia até as paredes comessem
carne; mas, como não é possível, sejam ao menos untadas com
gordura».
Queria que, nesse dia, os ricos dessem comida abundante aos pobres
e famintos, e que os bois e jumentos tivessem mais feno que o
habitual. «Se eu falasse com o Imperador – dizia –, pedir-lhe-ia que
promulgasse um édito geral para que todos os que pudessem
fossem obrigados a espalhar trigo e outros cereais pelos caminhos,
para que, em tão grande solenidade, as avezinhas, sobretudo as
irmãs cotovias, comessem com abundância». Não conseguia
reprimir as lágrimas, ao pensar na extrema pobreza que padeceu
naquele dia a Virgem Senhora pobrezinha 6. Uma vez, estando
sentado à mesa a comer, e tendo um irmão recordado a pobreza da
bem-aventurada Virgem e de seu Filho, imediatamente se levantou
a chorar e a soluçar e, com o rosto banhado em lágrimas, comeu o
quinto dia da semana segundo a etimologia pagã, em uso na maioria dos países ocidentais.
Morico deveria empregar o termo eclesiástico ou litúrgico de feria sexta (sexta-feira).
6 Literalmente: a querida Virgem pobrezinha. Para o Poverello, Nossa Senhora era a Poverella.
~ 30 ~
resto do pão sobre a terra nua. Por isso chamava à pobreza virtude
real, pois refulge com tanto esplendor no Rei como na Rainha. E,
como os irmãos lhe tivessem perguntado um dia, em Capítulo, qual
virtude tornaria alguém mais amigo de Cristo, respondeu, como
quem confia um segredo do coração: «Sabei, irmãos, que a pobreza é
um caminho privilegiado para a salvação. As suas vantagens são
inumeráveis, mas muito poucos as conhecem.
7 Os outros biógrafos não mencionam esta cautela de pedir autorização superior para a nova
liturgia. Uma decretal de Inocêncio III datada de 1207 proibia os «ludi theatrales».
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estava de pé diante do presépio, cheio de piedade, banhado em
lágrimas e irradiante de alegria. O altar dessa missa foi a
manjedoura. Francisco, que era diácono, fez a proclamação do
Evangelho. Em seguida dirigiu a palavra à assembleia, contando o
nascimento do pobre Rei, a quem chamou, com ternura e devoção, o
Menino de Belém. O Senhor João de Greccio, cavaleiro muito
virtuoso e digno de toda a confiança, que abandonara a carreira das
armas por amor de Cristo e dedicava uma profunda amizade ao
homem de Deus, afirmou que tinha visto um menino encantador, a
dormir na manjedoura, e que pareceu acordar quando S. Francisco
fez menção de pegar nele nos braços. É crível que se tenha dado esta
aparição: há o testemunho não só da santidade do piedoso militar,
como a veracidade do próprio acontecimento e a confirmação que
lhe deram outros milagres ocorridos depois: o exemplo de Francisco
correu mundo e, ainda hoje, consegue excitar à fé de Cristo muitos
corações adormecidos; a palha dessa manjedoura, conservada pelo
povo, serviu de remédio miraculoso para animais doentes e de
proteção para afastar muitas pestes. Assim glorificava Deus o seu
servo e mostrava, com milagres indesmentíveis, o poder da sua
oração e da sua santidade.
~ 32 ~
FIGURA 4: GOZZOLI, BENOZZO. Cenas da Vida de São Francisco de
Assis: representação do Presépio. c. 1452. Afresco. Capela Absidal,
São Francisco, Montefalco, Itália.
~ 33 ~
BREVE LEITURA TEOLÓGICA DO
NATAL DO SENHOR
A
Palavra se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,1-14). A passagem do
Evangelho de São João traz o núcleo central da fé Cristã, a
Encarnação. O fato da Encarnação, por motivo de amor do Pai,
revela a dignidade da natureza e da carne humana. Encarnação e
mandamento do amor são realidades inseparáveis para a Espiritualidade
Franciscana. O mesmo evangelista evoca essa realidade em sua Carta,
onde diz “quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor (1 Jo 4,8). Na
Carta Admirabile Signum, Papa Francisco, traz à lembrança que:
~ 34 ~
No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus Se faz
homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e
pedem a sua proximidade. Jesus, «manso e humilde de coração» (Mt
11, 29), nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a
identificar e a viver do essencial. Do Presépio surge, clara, a
mensagem de que não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por
tantas propostas efêmeras de felicidade. Como pano de fundo,
aparece o palácio de Herodes, fechado, surdo ao jubiloso anúncio.
Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira
revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos
marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. (AS
6).
~ 35 ~
fato, apenas saber que Deus se fez homem; importa também saber que tipo de
homem Ele se fez.”8 Na Sagrada Escritura, João e Paulo apresentam visões
diferentes acerca da Encarnação e, ainda assim, elas se complementam.
Para João, “o Verbo, que era Deus, se fez carne” (Cf. João 1,1-14). Para
Paulo, “Cristo, sendo de natureza divina, assumiu a forma de servo e
humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte” (Cf. Filipenses
2,5s).
~ 36 ~
Frei Francisco, com sua consciência e sensibilidade agudíssimas,
percebeu essa realidade, mesmo antes da representação do Natal em
Greccio, quando abraçou e beijou o leproso, do qual antes só tinha horror.
Assim, “não acolhe plenamente a Cristo quem não está disposto a acolher
o pobre com quem Cristo se identificou. (...) Os pobres são os pés descalços
que Cristo ainda mantém nessa terra.”11
11 Ibidem, p. 87.
~ 37 ~
Assim, buscar defender a dignidade e os direitos de cada ser
humano, imagem e semelhança de Deus, é compreender e viver o mistério
da Encarnação no cotidiano da vida. Assim, “os primeiros cristãos, com
seus costumes, ajudaram o Estado a mudar as leis; nós cristãos de hoje,
não podemos fazer o contrário e pensar ser o Estado, com suas leis, que
deve mudar o costume dos cristãos.”12
12 Ibidem, p. 93.
~ 38 ~
~ 39 ~
FIGURAÇÕES DA NATIVIDADE NA
OBRA DO CENTRO ALETTI
A
teóloga eslovena Natasha Govekar, em sua obra sobre o Natal,
afirma que: “para cada um de nós, o imaginário do Natal está
ligado aos cânticos, às tradições familiares, às imagens e às
sensações que, desde crianças, enriqueceram a celebração desta festa. O
estábulo, a neve, os pastores, os reis Magos, tudo contribuiu para criar um
ambiente de fábula. Mas o Natal não é uma fábula. É um fato histórico.
Conhecemo-lo a partir da narração dos evangelistas Lucas e Mateus, que
não falam dele no estilo de uma crónica histórica, mas procuram narrar o
sentido espiritual das coisas acontecidas na infância de Jesus. O seu
objetivo não é narrar a biografia terrena de Cristo, mas apresentar sua
~ 40 ~
origem divina e sua missão. Assim, encontramos logo, desde o início,
todas as coordenadas essenciais para conhecer Jesus Cristo como
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, na sua missão de Redentor
universal: o tema do Emmanuel – «Deus conosco» –, da teofania, da
rejeição por parte dos seus e da abertura aos pagãos, do sangue inocente,
da glória… Todo o mistério da salvação é visitado logo desde o início, de
tal modo que os capítulos da infância de Jesus são, também, chamados o
«Evangelho em miniatura». Muitos elementos da história do Natal,
conhecidos pelos primeiros cristãos, não se encontram, todavia, no
Evangelho de Mateus ou no de Lucas, mas são mantidos pela tradição que
encontra sua expressão na arte e na literatura cristãs.”13
~ 41 ~
informal e explosivo.”16 Posteriormente, foi ordenado presbítero, em 1985,
e doutorou-se em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de
Roma, no ano de 1991, onde é professor. Foi orientado em seu
doutoramento pelo Cardeal Tomáš Špidlík (1919-2010), o qual foi seu
diretor espiritual e grande amigo e com o qual fundou o Centro Aletti,
local, onde o cardeal Špidlík viveu até sua morte em 2010.
16 Ibidem.
~ 42 ~
FIGURA 5: CENTRO ALETTI. Natividade. Catedral Maronita de
São Jorge. Beirute, Líbano, 2022.
~ 43 ~
Hino para a Natividade - Santo Efrém, o Sírio
~ 44 ~
Eu não sabia que no seu seio
havia um grande tesouro
que, na minha pobreza, repentinamente,
Me tornava rico.
~ 45 ~
FIGURA 6: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Capela do Pontifício
Seminário Maior Romano. Roma, Itália, 2021.
~ 46 ~
Figura 7: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Igreja de São
Basílio. Roma, Itália, 2020.
~ 47 ~
II
~ 48 ~
Quem dá de beber a todos
sofreu a sede.
Saiu dela nu,
quem tudo reveste (de beleza).
~ 49 ~
FIGURA 8: CENTRO ALETTI. Natividade. Missal. Barcelona, Espanha. 2020.
~ 50 ~
FIGURA 9: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Colégio Montserrat.
Barcelona, Espanha, 2019.
~ 51 ~
“O início de tudo é a Encarnação de Deus. A Encarnação para nós,
depois do pecado, significa a revelação de Deus na obra da redenção. Deus
se revela como amante dos homens, amigo dos pecadores. Aquele que
salva. A Encarnação é o sinal que o amor de Deus não conhece abismos de
separação, que tudo a Ele pertence, inclusive aquele abismo criado pela
vontade do homem que pretende ser ele mesmo o epicentro de tudo, um
outro Deus, pois para Deus não existe algo exterior. A Encarnação
possibilita ver que o amor de Deus compreende também a liberdade
pervertida, obra do pecado humano. Nada permanece fora do amor. Mas,
internamente ao amor, o homem pode criar para si um império de
autoafirmação, justamente porque Deus o ama, isto é, lhe dá o espaço da
liberdade. A Encarnação manifesta que a distância entre Deus e a criação é
medida pelo amor e que algum pecado pode destruir Aquele que é o
amor. O amor une deixando-nos livres, abraça criando o espaço da
liberdade, ama sem coerção. Nesse sentido, o amor é fraco, frágil, humilde,
pobre, esconde-se e está presente como o ausente, para não causar
aborrecimento. Exatamente assim Deus veio ao mundo e se fez homem.
Inicia-se, dessa forma, a contemplação da humanidade de Deus
onipotente, da pobreza do Deus absoluto e rico e a paciência do Senhor e
Juiz de todo o universo.”17
17
RUPNIK, MARKO IVAN. O caminho da vocação cristã: de ressurreição em ressurreição.
Bauru/SP: EDUSC, 2008, p. 97-98.
~ 52 ~
FIGURA 10: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Capela do Colégio
Internacional de Gesù. Roma, Itália, 2019.
~ 53 ~
FIGURA 11: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Capela da Nunciatura
Apóstolica de Harissa. Beirute, Líbano, 2017.
~ 54 ~
“A Encarnação torna patente também que Deus, para se unir a
nós, penetra no nosso mundo. Para fazer-se entender, penetra
internamente às nossas categorias. O chamado de Deus nos atinge dentro
de nosso horizonte cultural, no meio dos valores que conhecemos e que os
consideramos como tai. Isso é possível graças a uma kenosis de Deus, a um
rebaixamento, uma misericórdia e uma humildade indescritíveis. Se Deus
chamasse revelando-se na sua onipotência e inacessibilidade,
provavelmente o homem seria destruído. Como também é provável que,
se Cristo com a cruz aos ombros, dirigindo-se para a sua morte, nos
chamasse, explicitando que a sua chamada é a participação na sua própria
sorte, ninguém o seguiria.”18
18
RUPNIK, MARKO IVAN. O caminho da vocação cristã: de ressurreição em ressurreição.
Bauru/SP: EDUSC, 2008, p. 99.
~ 55 ~
FIGURA 12: CENTRO ALETTI. Natividade. Vitral. Igreja de Nossa
Senhora da Cruz do Sul. Brisbane, Austrália, 2017.
~ 56 ~
FIGURA 13: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Capela de
Espiritualidade Maria Consoladora, Santa Severa. Roma, Itália, 2013-2020.
~ 57 ~
“O homem, tocado de maneira experiencial por esse amor que
reluz da face e Cristo Salvador no perdão dos pecados, concentra o seu
desejo, purifica a sua vontade: “Desejo e quero que Tu me leves contigo.
Desejaria viver ao teu lado, na tua presença. Embora indigno e
radicalmente incapaz, como já o tenho demonstrado tantas vezes na minha
vida, com o teu amor, com a tua força, com a tua graça que Tu mesmo me
concedes, com o Espírito que Tu mesmo me comunicas, desejaria seguir-te.
O meu compromisso, marcado de uma firme decisão, pela força desse teu
amor que vivenciei assim radicalmente até penetrar em minhas veias, no
meu âmago, é o de renunciar ao mal, isto é, a mim no epicentro de tudo,
para ser uma oferta perene e viva a Ti que vieste a procurar-me e a
segurar-me onde a minha vontade transviada me havia conduzido”. 19
19
RUPNIK, MARKO IVAN. O caminho da vocação cristã: de ressurreição em ressurreição.
Bauru/SP: EDUSC, 2008, p. 100.
~ 58 ~
FIGURA 14: CENTRO ALETTI. Natividade. Capela da Nunciatura de
Liubliana. Liubliana, Eslovênia, 2016.
~ 59 ~
CRÉDITO DAS IMAGENS
20As imagens 1; 5 a 14, que ilustram e embelezam esta obra, foram criadas pelo Atelier
d'Arte e Architettura del Centro Aletti (www.centroaletti.com), e tiveram direito de uso
cedido para esta publicação e, por isso, somos muito gratos.
~ 60 ~
FIGURA 5: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Catedral Maronita de São
Jorge. Beirute, Líbano, 2022. Disponível em:
<https://www.centroaletti.com/opere/cattedrale-di-san-giorgio-a-beirut-
2022/>. Acesso em 25 de outubro de 2022.
~ 61 ~
FIGURA 11: CENTRO ALETTI. Natividade. Pintura. Capela da Nunciatura
Apostólica de Harissa. Beirute, Líbano, 2017. Disponível em:
<https://www.centroaletti.com/opere/dipinti-nunziatura-apostolica-
2017/>. Acesso em 25 de outubro de 2022.
~ 62 ~
~ 63 ~
REFERÊNCIAS
~ 64 ~
FRANCISCO, PAPA. Carta Apostólica Admirabile Signum, 2019. Disponível
em: <
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents
/papa-francesco-lettera-ap_20191201_admirabile-signum.html>. Acesso
em 25 de outubro de 2022.
ROSA, JOÃO GUIMARÃES. O burro e o boi no presépio. In: Ave palavra. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1985, p. 198-210.
~ 65 ~
SOBRE O AUTOR
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ANOTAÇÕES
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~ 70 ~