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Elizabete Gomes

Sentimentos
ao Vento
Retalhos de mim
Elizabete Gomes

Sentimentos
ao Vento
Retalhos de mim

Salvador - Bahia
2021
Capa imagem de:
Michael Schwarzenberger por Pixabay
Imagem interna:
www.freepik.com
Revisão:

Dedico este livro


Capa, projeto gráfico e diagramação:
Bárbara Almeida
Impressão:
JM Gráfica e Editora Aos meus pais, que em seus braços me aco-
lheram e me moldaram para a vida; aos meus
irmãos, companheiros constantes de todos os
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) dias e as minhas filhas Caroline, Clara e Clau-
dia, que me completam como pessoa e me
imortalizaram em seus filhos.
Gratidão

Agradeço a todos os que me estimularam a con-


cluir esse projeto e em especial a minha prima
Andreia Nóbrega que despretensiosa e carinho-
samente, leu os meus rascunhos, fez uma revi-
são e opinou quando necessário.
Sumário

Retalhos de mim 1
Retalhos de mim 3
Dedico este livro 5
Gratidão 7
Introdução 13
O amor que me gerou 17
02 de janeiro de 1961 19
Reflexão anual 20
Sempre contigo 21
Vida profissional 22
Foi em 2011 23
Criança sabe 25
Ciclos da vida 26
Gratidão 27
Mala vazia 28
Conexão interior 29
Marcos – 50 anos 30
Cem anos de mãe do céu 31
Mensagem do coração I 33 Ombro amigo 71
Mensagem do coração II 34 Sem você não existiria 72
Mensagem do coração III 35 Gostos e preferências 73
Madu 37 Ponto de vista 75
Madu – dois anos 38 Idade da razão 77
Carência - colo de mãe 39 Sou perfeita 79
Meu pai – painho 40 Remexendo baús 81
Titio Luís 41 Expectadora da vida 83
Dezembro de 2013 43 Sentidos aguçados 84
Despertar 45 Quero alguém 85
Quero ser feliz 46 Essência 87
Copa de futebol 2014 47 Tenho pressa 89
Conto rápido 49 Vontade de criança 91
Saudades de mim 51 O dourado do céu azul 93
Cama 53 Majestosa lua 94
Agenda e compromissos 54 Dimensão da vida 95
Lua de sangue 55 Casa vazia 98
Meu amor 56 Confissão de vida 99
Ser feliz 57 Lição 101
Entendimento 59 Corda bamba 102
O homem - ser melhor 61 Quando eu não existir 103
Meus irmãos 64 Evolução 104
Oração matinal 65 Preciso pisar no freio 105
Doce amargo do adeus 66 Onde estou? 106
Mês de junho 67 Sobre as nuvens 107
Sete de setembro 69 Sou da terra 109
Testamento 110
Reflexões 111
Testemunho 113
Minha mãe em seus 72 anos 114
FALTA O TITULO 115 Introdução
Meu espelho é você 116
Você! 117
Solidão em São Paulo 119

S
Coração roendo 120
entimentos ao Vento, realmente são alguns momen-
Ser ou sentir 121 tos que tive o privilégio de vivenciar e que me fizeram
Se 123 repensar a vida de uma forma ponderada.
Querendo você 124 Quando um dia, há muito tempo, comecei a juntar alguns
Sentimentos 125 escritos na intenção de condensar e publicar, me bateu
Quem sou eu? 127 um medo de críticas. Falando com algumas pessoas pró-
Seca e chuva 128 ximas sobre isso, escutei algumas palavras de estímulo,
Soneto da dor 129 mas também alguns questionamentos sobre quem iria
comprar; no que acrescentaria na vida das pessoas ao ler
Desejo – 29/11/2013 130
o que escrevi; que isso não me daria lucros; que em nada
Habib 131 acrescentaria à minha vida e outros comentários que me
Voando sem você 133 deixaram amofinada.
Devaneios 134
Mesmo assim, continuei nesse pensamento. Aqui não exis-
Fogo ardente 135 tem conselhos, receitas de vida nem tampouco ensinamen-
De tanto amor 136 tos didáticos. Só falo de alma, sentimentos que foram tradu-
Minha mão na sua 137 zidos em palavras, segredos bobos de algum momento e que
Poema da estrada 139 depois se tornaram públicos já que não sei reter emoções.
Esperança de renovar 141 Falo também sobre minha estrada e sobre conquistas,
Velho Angico 142 sonhos, decepções bem como, palavras de carinho direcio-
Navegando em águas verdes 143 nadas a pessoas do meu cotidiano.

Elizabete Gomes | 13
Não anseio lucros, apenas que através de minhas palavras,
alguém me conheça melhor e possam reconsiderar algumas
opiniões.
Não sou sábia, apenas deixo meus pensamentos plainarem
sobre a minha razão e pousarem no seu coração.

“Orai sem cessar”


1 Tessalonicenses 5:17

14 | Sentimentos ao Vento
O amor que me gerou

O
s olhos chegaram primeiro e o amor surgiu. Em
pouco mais de seis meses, estavam casados em seu
lar ou seu ninho de amor. Era ali. Num cantinho
das terras de seu pai, meu avô, no torrão árido do sertão
paraibano, onde as chuvas eram escassas e só vinham num
certo período do ano para molhar o chão e fazer brotar a
esperança.
Como “joão-de-barro”, cada tijolo foi colocado com carinho
e cuidado visando conforto e segurança. Um a um, foi dan-
do forma àquela que seria sua casinha singela e harmoniosa.
Frente para o nascente, favorecia a ventilação e de onde no
“clarear da barra” ou nos fins de tarde, o sertanejo busca-
va no horizonte algum sinal de que as chuvas estavam para
chegar e trazer a esperança de um ano de fartura. Era esse o
serviço de meteorologia eficaz e acessível na época.
O castelo ficou pronto. Nada faltava. Nele havia o mais
importante: amor, respeito e esperança.
Foi no final de março ou início de abril, que naquela casa sim-
ples, de tijolos aparentes e chão de cimento queimado, com
cheiro de “nova”, sem luxo, porém, aconchegante, que eu fui
gerada ainda no auge de uma lua de mel sem o alarde que hoje

Elizabete Gomes | 17
se apregoa. Talvez, numa noite de luar e após juras de amor.
Quem sabe, num fim de tarde, sob o pôr do sol. Dois jovens
cheios de sonhos, num mundo onde o “ser” era mais impor-
tante que o “ter”. Duas almas unidas no amor de Deus, me
deram vida. Eu era a prova mais concreta de que um lar existia
e de que uma família se formava. Uma casa, dois jovens e uma 02 de janeiro de 1961
criança que trazia alegria e luz para suas vidas.
Hoje, essa casa perde o encanto e a materialização com a
queda de cada tijolo, de cada parede. Transformou-se em
ruína e até parece feia, mas aos meus olhos continua lin-

À
da e plena. É para mim um templo sagrado. Nada me traz s duas horas da manhã nasci e, de lá até hoje, 02 de
lembranças dos meus tenros anos, já que ali vivi somente
janeiro de 2012, passaram-se cinquenta e um anos e
durante a idade da irracionalidade. Acalento dentro de mim,
muitas coisas aconteceram. Vidas, sonhos, amores,
o que me foi contado e o que aprendi, como: os primeiros
passos, o balbuciar de palavras soltas e desconexas, o som dissabores... Nunca ódio, mas alguma mágoa tomou conta
perdido no tempo que mexe comigo ao escutar a canção de mim!
que diz: “Fiz uma casinha branca, lá no pé da serra pra nós Guardo episódios em minha vida que me fizeram vivenciar
dois morar...”. vários sentimentos. Desde a alegria de ter meu primeiro
Naquele lugarzinho perdido no imenso Brasil, eu surgi, nas- lápis de cor, até a tristeza de escutar que meu pai partira e
ci e comecei minha caminhada nessa vida tão bela e árdua. essa foi a minha maior dor durante esse tempo.
Mas única! E minha!
E se quiserem saber da minha maior alegria, foi saber que
Me confundo agora com aquela ruína, e dentro de mim eu
seria mãe. Mesmo naquelas circunstâncias de morar numa
junto alguns tijolos que caíram com o tempo.
cidade e trabalhar em outra; magricela como eu era, recebia
Mesmo às quedas, tento levantar novo alicerce e recons-
a dádiva de ser mãe e acho, ou tenho certeza, foi a minha
truir o que o tempo se encarregou de destruir. Estou intei-
mola propulsora para vivenciar um colapso de sonhos aos
ra. Serei assim sempre, pois sou o mais puro exemplo de
que amor é vida. Eu sou o amor dos meus pais personifica- vinte e poucos anos.
do. E a casinha que tanto guardou aquele amor, mesmo se
desvanecendo no tempo, continuará erguida no meu cora-
ção para todo o tempo.

18 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 19


Reflexão anual Sempre contigo

H S
oje, sabendo-me avó, vejo que o tempo passou e e por acaso, você olhar para o lado, tentar me ver e não
que deixei voar vários sonhos da minha infância me achar, poderei estar numa esquina esperando você
e adolescência. passar.
Olho de minha sala, neste instante, e vejo luzes brilhando Se quiser me abraçar, feche os olhos e procure me enxergar
no fim de uma noite de aniversário e cada uma delas pode- no seu pensamento.
ria ser símbolo de sonhos. À medida que a noite avança, Meu coração jamais esquecerá o amor que nos uniu e jamais
essas luzes se apagam assim como deixei que se apagassem deixará de querer te chamar.
também, muitos sonhos do meu coração.
Meus sentimentos sempre estarão antenados aos seus anseios.
E agora, recebo um beijo de Cláudia e os votos de parabéns, Irei te acompanhar sempre, mesmo que seja pela tela de um
acompanhados do convite para irmos dormir. computador ou por ligações telefônicas.
Que esta noite, a primeira de uma nova época, seja de des- Você está incrustada em mim, como pedra preciosa e rara.
canso, sonhos e esperanças de uma vida plena, abençoada
por Deus, guardada pelos anjos, protegida sob o manto de Entre nós, jamais existirá distância e separações porque o
tempo e os lugares não existem.
Nossa Senhora.
Estamos conectadas por algo que não se vê, e amparados
por mãos que não tocamos. Apenas somos e estamos! Sou
você e você é meu ser! Somos mãe e filha.
E quem mais vier só nos ligará ainda mais.
22/09/2016

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Vida profissional Foi em 2011

H O
á exatos 35 anos, ingressei no mercado de traba- ano de 2011 veio com muita energia. Neste ano,
lho. Foi um dia especial o que entrei no Cartório consegui: viajar, conhecer lugares e pessoas. Reali-
Dinamérico Wanderley, tendo como função o aten- zei grandes projetos. Devolvi a Deus, minha amiga
dimento aos clientes que buscavam o reconhecimento de
Eliane (sogra de minha filha Carol).
firma em seus documentos.
Eu era praticamente uma criança. Tinha quinze anos. Ali fui A saudade invade meu coração e fico a imaginar Eliane aqui
aprendendo como funcionava a engrenagem da vida adulta, do meu lado, conversando, brincando, sorrindo e compar-
ou seja, aprendi a acordar cedo, a cumprir horários, a ser tilhando a alegria de ser avó. Infelizmente, ela não terá essa
cortês e, sobretudo, a conhecer outras hierarquias. oportunidade. Os desígnios de Deus são diferentes dos nos-
sos, porém, lá do céu, sei que rogará a Jesus por todos nós
Comecei a crescer profissionalmente e esses ensinamen-
aqui na terra.
tos me são caros até hoje. Trabalhei, posteriormente, no
SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Estou muito feliz porque, em breve, Carol vai ser mãe. Com-
Empresas) que na época era denominado CEAG. pensarei a ausência da avó paterna (Eliane) junto ao meu
Depois ingressei como funcionária efetiva do Banco do netinho ou minha netinha.
Brasil. Dediquei vários anos de minha vida às atividades Como será o seu sorriso? Qual será a cor dos seus cabelos?
bancárias. Amava o que fazia, respeitava clientes, colegas e E a dos seus olhos? Que voz terá e que humor trará? Será
pautava minhas atribuições na transparência e na verdade. branco(a) como sua mãe ou moreno(a) como sua avó pater-
É mesmo verdade, o adágio popular: “O trabalho dignifica na? Nessa ânsia de saber do antes o que pode ser o depois,
o homem!” já te espero ansiosa.
07/12/2016

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Mudei meus planos! Alterei minha vida. Programei uma
coisa e reformulei meu caminhar.
Você está chegando e nem sei como vou te chamar, mas vou
te ninar.
Cantarei cantigas como cantei para tua mãe. É a roda da Criança sabe
vida que gira, nos deixando sempre a esperar no mesmo
lugar, por um giro que nunca se repete e sempre se renova.
Estou aqui, como estive em anos atrás, esperando por vidas

A
que vibraram em meu ventre. melhor forma de expulsar o estresse é conversando
Renasço a cada dia. Quero te abraçar e te beijar. Acolher em com uma criança.
meu colo e aquecer em meus braços. Semana passada eu conversava com Maria Eduarda
Quero ser a vó, mais avó que alguém possa ter. e lhe dizia:

Quero ser sua vozinha, meu amor! __ Madu, leva vovó ao médico, leva!

Vem! Te espero com qualquer sexo ou característica física, Ela respondeu:


pois os meus olhos serão pra ti e meu amor será sempre __ “Não!”
intenso.
Eu insisti:
Terei a felicidade de te chamar de primogênito(a) assim
__ Leva! Vovó tá dodói da garganta.
como fez meu avô no dia em que eu nasci.
Ela olhou sério para mim e justificou:
Tu vens no galope do tempo, sob o vento da vida, banha-
do(a) pela luz do Altíssimo. __” Vovó, eu num sabo diligir!”
Te amo!
Nesta noite de 28.12.2011, quando vi tua imagem pela pri-
meira vez num papel impresso de ultrassonografia fiquei
radiante de felicidade e gratidão a Deus.

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Ciclos da vida Gratidão

A S
vida é feita de ciclos. Conheci, convivi e partilhei ou grata a Deus por tudo que me propiciou na vida,
momentos bons com inúmeros colegas de trabalho. especialmente, por ter me colocado no ventre de
Nós nos separamos, mas sempre que nos encontra- minha mãe e me ter dado a oportunidade de fazer
mos é uma alegria e a conversa flui com risos, gargalhadas, parte de um núcleo familiar tão maravilhoso.
lembranças e muito carinho. Que Jesus abençoe os meus familiares e amigos!
Sempre encontro pessoas conhecidas ou colegas do Banco
Minha família é composta de três filhas, um genro e uma
do Brasil, na beira-mar.
bonequinha viva (minha neta) que me faz ser criança e
Hoje, caminhando no fim da tarde, encontrei Geraldão que boboca.
já estava proseando com Liberalino e, claro, numa alegria
só, já me aproximei. Nos abraçamos como velhos e bons Aguardo um dois mil e treze, melhor que todos os outros
companheiros de trabalho e conversamos bastante. anos juntos.

Acho que muitas orelhas queimaram. Direita, claro, pois só Que eu possa compartilhar alegrias com todos que me
falamos de bem! Acabou que, de tanto lembrarmos outros cercam.
colegas, fomos visitar Paulo Sá – grande amigo que estava Obrigada aos que me amam! Amo todos vocês!
perdido no tempo e longe do nosso convívio.
Feliz Ano Novo!
Não dei continuidade a minha caminhada, mas ganhei o pra-
zer de rever pessoas que fizeram parte da minha história.
Abraço nessa hora, os outros colegas BB que eu não vejo há
anos, mas que continuam em minhas melhores lembranças.

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Mala vazia Conexão interior

A N
o longo do tempo fui colecionando coisas com cui- o calar da noite, quando o corpo cansado busca
dado e precisão, para somente juntar, crescer e fazer descanso e quando o coração encontra alento, eis
crescer. que chegam respostas para questões que pareciam
Mais tarde, colecionei brinquedos meus e outros que ganhei. sem solução. Nessas horas, parece que o relógio para e o
Tudo que eu tinha, cabia numa caixa e numa mala. Até que tempo congela, enquanto num piscar de olhos, várias cenas
precisei de gavetas, armários e casa. Tudo somente pelo pra- passam em minha mente.
zer de ter. Vejo a vida como se ela estivesse suspensa no ar. Dali e ali,
Quando cheguei, tinha um público me esperando com travo diálogos que nunca sairão daquelas cenas. Brinco,
sorrisos nos lábios e alegria na alma. Felicidade a todos eu brigo, peço e dou. Dirijo o mundo como numa cena de tea-
trouxe, todavia, a expectativa quanto ao meu futuro era tro. Sou forte e inatingível. Planejo o dia seguinte que nunca
assunto e preocupação, mas o que eu tinha, cabia somente sairá perfeito. Nessa perfeição de vida, acordo e discordo de
numa pequena valise. que é fácil viver, mas difícil mesmo é saber viver.
Quando comecei a existir, tudo que eu tinha era um espa-
ço pequeno, quente, escuro, tranquilo e meu. Somente meu. Preparo-me para o desafio do dia que começa. Espero pelo
O som que eu ouvia, eram as batidas frequentes e ritma- momento de paz que a noite trará com o intuito de viver a
das que me acalmavam e me faziam dormir. Meu pequeno beleza de ser e de poder sonhar. Assim, a vida ficará menos
ninho, chamado útero, tinha tudo que eu precisava naquela rígida e mais leve. Quem nunca teceu conversações no calar
fase da vida. da noite e na quietude do seu quarto?!
E quando chegar a hora de ir levarei o sentimento de que
busquei a felicidade e sei, deixarei alguma saudade no cora-
ção de alguém e vou de mãos vazias.

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Marcos – 50 anos Cem anos de mãe do céu

H M
oje eu quero dar o meu melhor abraço, o meu mais ãe do Céu. Mãe Léu pros pequeninos. Mãe de
caloroso beijo, a minha melhor oração, o melhor tantas mães. Mãe de sangue e de coração. Mãe de
de mim para o meu irmão Marcos Aurélio. tantos outros que se agregavam a chamavam de
Hoje, cinquentenário e com cara de adolescente. Coração mãe e lhe tinham carinho de filhos.
humano com uma mudez que fala gritando no silêncio. Mãe do Céu! Mulher sertaneja de fibra. Fortaleza para
Olhar que brinca com brilho próprio. os que dela dependiam! Resignou a própria vida em prol
dos que amava: marido e filhos. Esqueceu que era huma-
Boca risonha quando diz maluquices, idealizador de pro-
na e se humanizou com os que sofriam, doando-se de
jetos que só serão concretizados nos próximos cem anos,
corpo e espírito.
mente criativa e utópica que, somente nós, seus familiares
próximos, conhecemos! O cansaço não a impedia de ficar de pé e dormir acorda-
da para estar de prontidão para cuidar dos seus três filhos
Trabalhe para viver e nunca viva para trabalhar meu irmão!
paraplégicos. Na verdade, somente após os setenta anos de
Este é o meu conselho para você, neste dia tão especial e
idade, é que ela pode viver pra si, fazendo-se presente em
festivo.
muitas vidas.
Beijos no seu coração!
Seu sorriso, ao ver pela primeira vez o mar, parecia ser de
uma criança deslumbrada. Seus conselhos, seu carinho, sua
maneira de rezar cochilando, de afagar a cabeça dos netos,
era única.
Quanta saudade!

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Queria que esses cem anos, fossem multiplicados para que
seus descendentes pudessem se espelhar e gozar de seus
ensinamentos! Com certeza, a senhora se perpetuará em
nossa família.
Felicidades eternas.
Mensagem do coração I
02/06/2013

H
oje – vinte e um de junho - é uma data especial,
na qual comemoro a graça de ter você em meus
braços e em minha vida pra todo o sempre. Para-
béns, princesinha de mamãe! Você continuará a ser eterna-
mente, meu primeiro amor, minha joia trabalhada e valiosa.
O maravilhoso presente de Deus em minha vida. Meu ver-
dadeiro amor.
Minha menina! Caroline linda!
Melhor missão? Ser mãe! Minhas três filhas são a razão do
meu viver. Acordo todos os dias, fortalecida para matar os
leões, tigres e todas as feras que aparecem e que tentam rou-
bar a minha paz.

32 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 33


Mensagem do coração II Mensagem do coração III

N C
este dia, vinte e oito de julho, Clara faz aniversá- laudinha era o dia treze de maio de mil novecentos
rio e quem está de parabéns sou eu, por tê-la em e oitenta e sete. O dia amanheceu e eu já me encon-
minha vida. Sou grata a Deus por minhas filhas, trava na Maternidade Santa Isabel, em João Pes-
afinal cada uma tem sua própria personalidade. soa, com um barrigão de dar inveja. Num misto de medo e
Luto para dar exemplos e ser o porto seguro de nossa famí- ansiedade, beijava Caroline e Clara, enquanto me dirigia ao
lia. É bem difícil viver agora longe de quem sempre pensei bloco cirúrgico para ali, mais uma vez, receber e vivenciar a
estar junto, mas a vida é como o mar que forma ondas ao maravilha de ser mãe e tê-la em meus braços.
vento. Cada dia, apesar de querermos que sejam iguais, tem Lembro-me até hoje da sua carinha inchada e seus olhinhos
seu mistério único. ainda fechados. O amor tomou conta de mim. Meu Deus!
Quanta alegria! Ali eu passei a ser a mulher mais feliz do
E num dia desses, você e suas irmãs voaram pra longe.
mundo.
A saudade é imensa. Eu gostaria de voar lá longe para abra-
çá-las. Aqui estou a fazer uma prece, no sentido de vê-las Você foi se desenvolvendo e a nossa casa foi ficando mais
sempre felizes. Que Deus as abençoe e as guarde de todo iluminada.
mal! Que Nossa Senhora, mãe de Jesus e também nossa
Nunca nos separamos. Precisei deixar você voar em busca
mãe, sempre esteja a interceder por vocês!
de seus sonhos. O destino te levou para longe, a milhares de
Clarinha, mamãe te ama mais que demais! Felicidades! quilômetros, em outro hemisfério. Todavia, continuamos
Beijos! unidas pelo amor e pela tecnologia.
Às vezes, tenho a impressão de que sei mais do seu
dia a dia que do meu! A nossa comunicação é quase

34 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 35


embrionária. Teu sonho profissional está completando a
primeira fase. Em breve, você será uma médica. Que você
siga meus conselhos! Seja uma profissional dedicada e
humana com os que mais sofrem.
Estou aqui louca para te abraçar, te beijar e te aninhar em
meu colo. Sei que estás cansada da luta diária. Sinta-se abra-
Madu
çada e beijada!
Amo você!

E
Parabéns! Saudades! Mamãe. stou me divertindo muito com as descobertas de
Maria Eduarda. Se fosse possível, ficaria horas
seguidas observando o seu desenvolvendo físico e
intelectual.
Meu Deus! Eu havia esquecido que, em menos de dois anos
de vida, uma criança evolui tanto!
Sou grata a Jesus por me permitir esse prazer de viver e de
renascer na presença das minhas filhas e da minha neta.
Em cada uma delas, existe um pedacinho de mim...
Sinto-me lisonjeada quando escuto suas primeiras pala-
vras: “papai, mamãe, bobó, queijo, mais, deita, senta, abi-
bi (para habib), nosso cãozinho, bobô, titia, é minha (pra
tudo)”. A sua carinha de birra e sua quietude quando fica
de castigo, contagiam o meu viver.
Ontem coloquei Madu (Maria Eduarda) de castigo e a es-
queci no cantinho da disciplina por uns quatro minutos. Ela
percebeu que o tempo tinha se esgotado e gritou por mim.
Autorizei a saída do castigo e ela veio me abraçar na cozinha.
Sem dúvida, o amor ágape nos une a cada instante!
19/05/2014

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Madu – dois anos Carência - colo de mãe

H M
oje minha princesa faz dois anos. Quando ela che- ainha, onde você está? Vem logo! Estou com sau-
gou, nossas vidas ganharam um colorido especial e dades! Quero colo!
a certeza do amor incondicional. Essa mulher, pequena em estatura, é uma forta-
É imensa a alegria de poder chegar em casa e escutar sua leza. Sábia por natureza, ensinou-me muito. Tem um gênio
voz dizendo-me: “vovóóóó!” É por demais agradável, sen- forte, mas é também uma mulher que esbanja doçura.
tir os seus bracinhos pequenos me abraçando com ternura
Nos momentos tenebrosos da vida, me lembro de suas fra-
e delicadeza. Alegria ainda maior, é receber o seu beijinho
ses, ditas no calor das emoções. Uma das mais lembradas,
molhado e babado.
e nem tanto vivenciadas por mim é a seguinte: "O silên-
Poder acompanhar seus primeiros passos, suas primeiras cio fala mais alto”, mas eu bem sei o quanto é difícil calar
palavras, seus primeiros ensaios fotográficos e suas birras, quando a vontade é gritar.”
é uma dádiva divina.
Obrigada mainha, por minha vida, por sua dedicação,
Sou grata pela vida, por minhas filhas e por minha Madu! pelos seus conselhos e até por sua omissão, quando alega
não ter o direito de opinar em minhas decisões pessoais!
Que Deus a abençoe e a faça crescer em estatura, humildade
Te amo!
e sabedoria!

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Meu pai – painho Titio Luís

P O
ainho um dia me acolheu, me ninou, me amou, me dia vinte e sete de agosto chegou! Acordei com uma
ensinou segredos da vida, para que eu me tornasse lembrança forte de titio Luís Gomes. Neste dia,
uma pessoa forte e segura dos meus atos. recordo o seu aniversário natalício e a sua Páscoa.
Num outro dia, me deixou como um barco à deriva, num Foi durante a madrugada do mesmo dia em que chegou, na
mar tenebroso e com ventos fortes. Partiu para não mais mesma casa onde escreveu sua história, que ele dormiu e
voltar e o seu amor me segurou e me fez suportar essa não acordou para ver o sol nascer.
ausência cruel, que sempre teima em Filho caçula de uma prole de sete filhos e o quinto
homem. Não nasceu para ser rei, mas reinou na vida de
fazer rolar lágrimas no meu rosto e na minha alma.
muitos que cativou. Viveu de maneira simples, procu-
Sinto saudades, choro e alegro-me pela grata satisfação rou acertar sempre, todavia, errou inúmeras vezes como
de saber que o nosso amor sempre foi incondicional e todo ser humano, mas nunca desistiu de sorrir e abraçar
verdadeiro. o mundo com alegria.
02/08/2014 Amou, mais que tudo na vida, seus cinco filhos. Por eles, seu
coração transbordava de alegria e orgulho. De suas mãos,
recebi o mais lindo poema que expressava o seu amor por
mim. Foi o meu poeta preferido!
Quando criança, sob seus cuidados, dormia com os balan-
ços de rede ao som de suas cantigas. Ao seu lado e segu-
rando firme sua mão, fui ao meu primeiro dia de aula no

40 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 41


Grupo Escolar Rio Branco em Patos. Nessa época, ele tinha
a satisfação de cumprimentar a minha saudosa professora -
Dona Céu.
Sob seus olhos, atravessei, pela primeira vez, a rua prin-
cipal da cidade com medo dos carros, para irmos ao Dezembro de 2013
comércio do meu tio Zé Cláudio (seu irmão) no Merca-
do Central. Na época, não tinha mais que uma dúzia de
veículos trafegando.

O
Durante o almoço, ficamos cuidando dos negócios e demos ano está chegando ao final. Hora de refletir sobre o
cabo a uma lata de goiabada com queijo de manteiga. Será que fiz, deixei de fazer e quis lutar para conseguir
que foi isso a causa do seu diabetes com o passar dos anos? realizar.
Com medo dele, desisti de algumas paqueras. Com ele, Penso e pergunto: será que valeu a pena tudo o que fiz?
podia conversar sobre qualquer assunto, zangar, rir, chorar O que vivi me fortaleceu? Amei, sofri, sorri, vibrei. Quis ir
e tudo era muito natural e seguro. e, na maioria das vezes, não fui. Quis ficar, e acabei voando.
Sorri por viver. Vivi para sorrir. Pensei. Decidi. Retrocedi.
Até nos primeiros tempos de casado, eu me infiltrava nas
Avancei em conhecimentos e descobri que existe algo que
férias em sua casa. Partilhei assim de sua lua de mel.
transcende a minha aparência.
Fui uma sobrinha muito levada e muito amada.
Preparo-me para a nova maratona da vida que começa-
Muitos foram os momentos lindos que tive na infância e na rá em breve. Não quero correr, pois se assim o fizer, não
idade adulta em sua companhia. Também tive o desprazer viverei muitas coisas. Também não quero sentar e assistir
de uma boa palmada na bunda depois de fazer malcriação. a vida passar.
Se eu pudesse escolher um presente pra Maria Eduarda, Quero caminhar em passos lentos e seguros, saboreando
daria um tio igual a ele ou um instante com ele. Eu daria tudo que me foi reservado.
uma vida inteira ao seu lado.
Almejo encontrar a certeza de que valho mais que penso valer.
Meu abraço titio! Fique com Deus!
Desejo o sabor de um beijo bom com o carinho das mãos de
Maria Eduarda, o alô de minhas filhas distantes. Aguardo o

42 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 43


brilho e o calor do sol em minha face e o vento refrescando
meus dias.
Que cheguem as conquistas, o sucesso, o prazer de ser feliz
e de amar novamente.
Quero viajar sem precisar ficar. Quero ir e voltar. Aqui é Despertar
meu lugar. Quero ter sem precisar pedir. Doar sem me fal-
tar. Viver e ser feliz. Quero fazer felizes aqueles que verda-
deiramente amo.

D
Feliz Ano Novo! ormi a tarde inteira e acordei com a sensação de
que perdi o dia.
Agora, acordada, vejo a tevê e tenho a sensação de
que a vida está passando mais rápido do que deveria e me
pergunto se estou andando lento demais.
Preciso retomar minhas caminhadas na praia, mas me fal-
ta coragem. Tenho a impressão de que o colchão tem uma
supercola.
Quero descer e fazer esteira, mas sempre encontro um
obstáculo.
Nunca mais fiz a leitura de um bom livro!
Sacode Elizabete! Avante! Trim! Trim! Trim! Amanhã é
segunda-feira!
Tudo começa bem numa segunda-feira. Até os planos de
uma noite de domingo.

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Quero ser feliz Copa de futebol 2014

H A
oje é o primeiro dia, de um novo caminhar, onde Copa do Mundo começou em nosso país. Os astros
meus passos seguirão por caminhos, algumas principais já estão reunidos no palco principal do
vezes, tortuosos, que me levarão à frente de gran- grande show. Aqui estou eu na torcida!
des desafios. Acredito que todos os brasileiros, mesmo aqueles que dis-
Quero olhar a vida através de um vidro. Com esperança e fé, cordam e criticam, torcem por esse evento que traz alegria
almejo vislumbrar o meu futuro da melhor forma possível. para toda a população.
Desejo ser feliz com a chuva que rega meus sonhos, com o O Brasil está mostrando ao mundo que sabe receber, aco-
sol que aquece minha alma, com o vento que sussurra ter- lher e prestar o melhor atendimento.
nura baixinho nos meus ouvidos e com a lua que guia o meu
Certamente, veremos os excessos das pessoas que lutarão
caminhar.
para mostrar somente os defeitos, porém, outras mostrarão
Se acaso outros passos me seguirem, estarei confiante de suas maiores virtudes, tais como: acolher bem os visitan-
que a vida pode ser linda. tes, prestar os serviços com qualidade, vibrar e torcer com
ponderação, respeitar todas as ocasiões que vierem a surgir,
Os momentos de felicidade que terei, servirão para mostrar
valorizando a dignidade de cada ser humano que prestigia
a pessoa que sou.
este momento ímpar que chama a atenção de todos por sua
beleza imensurável.
Não acho que o Brasil errou em aceitar sediar este evento.
Acredito que as verbas para os setores essenciais existem,
porém, os governantes desviam para seus bolsos.

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De fato, estou decepcionada com os desmandos e a falta de
pulso na condução do Brasil.
A imprensa mostra um caos que perdura. Nossas leis são
frágeis e minimizam as punições cabíveis aos que esvaziam
os cofres públicos com suas ações vilipendiosas.
Conto rápido
Tomara que tenhamos uma grande festa nos estádios!
Rumo ao Hexa Brasil! Se não for agora, um dia será.

E
la chegou e parou o carro em sua casa. Tudo parecia
quieto demais para ser a mesma casa em que vivera
e onde todos riam, corriam, brincavam e faziam festa
na hora do jantar.
Ainda parada com a porta do carro aberta, continuou sua
viagem entre lembranças e sonhos que iam e vinham pare-
cendo fumaça no ar. Aquela casa, fora o seu mundo. As
paisagens ao longe eram como um carrossel de sonhos,
repletas da vontade de voar para saber o que havia além
dos seus olhos.
Era criança e tinha um irmão dois anos mais velho. Um
menino que não podia acompanhá-la em suas brincadeiras,
quando estavam ali em férias com os primos. Uma princesi-
nha que os primos e irmão tinham a obrigação de protegê-la.
Numa tarde, início de férias, chegaram ao sítio e percebe-
ram que os animais procuravam abrigo e as aves passavam
rápido fugindo dos seus predadores.
Ventava muito. Era o vento da chuva que trazia a esperança
da colheita, mas para colher precisavam plantar, pois assim
era o sonho e meta do homem do campo.

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Começou a chover forte e todos se abrigaram também den-
tro de casa. Sentados à mesa da cozinha, esperavam ansiosos
pelo cafezinho da tarde com bolo de fubá feitos pela mãe/
vó postiça. Achavam lindo vê-la ao pé do fogão, com aquela
saia florida, larga e comprida.
O café chegou com cheiro forte e frescor, juntamente com Saudades de mim
o bolo que também acabara de ficar pronto. A algazarra era
grande, afinal, todos chegaram com muita fome e vontade
de brincar.

H
Pena que lá fora nada era convidativo. A chuva caia cada oje eu acordei com saudades de mim. Uma saudade
vez mais forte e a noite começava a chegar. As primeiras que me fez levantar cedo, olhar no espelho, acari-
lamparinas iam surgindo em cada cômodo e a criançada ria ciar minha face, dar um sorriso suave, abraçar meu
muito fazendo desenhos de sombras com as mãos na parede próprio corpo e sair, lentamente, do quarto.
da sala.
Disse bom dia pra habib (meu cachorro) que ainda dormia
Os adultos estavam felizes e comentavam a chegada da chu- no seu colchão, fui até a cozinha, tomei um bom gole de
va. A experiência deu certo. Já estavam desenganados, pois água e aquele remedinho para o estômago.
nos dois últimos anos houve estiagem e falta de colheita.
Quis ficar ali preparando meu desjejum, mas lembrei que
Este ano foi diferente. No dia treze de dezembro, a experi- o sol ainda estava acordando e o seu calor me ajudaria a ter
ência com as seis pedrinhas de sal colocadas na janela do um dia melhor.
quarto, à noite, deu certo. Três delas amanheceram úmidas e
se desmanchando. Justamente as que simbolizavam janeiro, Coloquei uma roupa e um par de tênis. Acordei meu com-
fevereiro e março, significando que era época de plantar. panheiro, coloquei sua coleira e fomos à praia.
Estava tranquila. Alonguei, caminhei e fiquei sem pressa.
Por um bom tempo, só olhei o sol beijar o mar e o vento
desalinhar a calmaria das águas, formando um vai e vem de
pequenas ondas.
Pessoas passavam rápido em suas caminhadas. A pressa,
sempre visível, indicava a existência de compromissos
futuros.

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Fechei os olhos e senti o vento. Inalei o cheiro do mar e me
deliciei coo o sabor do sal em meus lábios.
Meu dia começou lindo! Agora é tempo de voltar e escutar
Jessé cantando a música - Porto Solidão - que diz: “Se um
veleiro, repousasse, na palma da minha mão, sopraria com
sentimento e deixaria seguir sempre rumo ao meu coração.
Cama
Meu coração, a calma de um mar, que guarda tamanhos
segredos, diversos naufragados e sem tempo"

O
Tudo em sintonia. Tenho tempo. Bom dia!
melhor lugar da casa é a minha cama e eu até poco
tempo estava lá.
Todos os dias, acordo e fico imóvel. Fecho os olhos,
escuto minha respiração, recordo episódios vividos com
pessoas que amo, levanto e enfrento todos os seus minutos
porque são únicos.
Em alguns dias, produzo algo, noutros apenas aprecio a pas-
sagem desse tempo pequeno. Assim é a minha vida!
É por demais agradável saber que tenho família, amigos e
que não preciso me esconder para ocultar meus atos.
É bom demais está aqui!
Feliz domingo a todos!

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Agenda e compromissos Lua de sangue

A V
semana começa e revejo os compromissos anota- ejo do alto do prédio a lua. Espero o espetáculo que
dos na agenda. Tenho inúmeras tarefas importantes acende a esperança. Sua magia contagia, encanta!
para cumprir. Algumas delas, venho adiando por Deslizando no escuro da noite, ilumina os aman-
medo de enfrentar as consequências. tes mais ardentes, as águas mais rebeldes, as aves e todos os
Às vezes, faço isso e, quando percebo, o tempo tem se esgo- seres. Com sua veste de luz, prateia as águas dos mares, rios
tado. Daí perco oportunidades e até dinheiro. Questiono- e lagos. Faz sonhar os sonhadores.
-me se sou preguiçosa, medrosa, acomodada ou simples-
mente humana. Foste violada em tua pureza por desbravadores curiosos
de ti e, mesmo assim, continua misteriosa, deslumbrante e
Adoro a adrenalina no cumprimento dos prazos curtos e
maravilhosa.
sou cobrada para isso. Nesse contexto, sinto que produzo
com mais eficiência. Encoberta pela mãe Terra,
Certa vez, li em algum livro, que toda criança deve ter uma sumiste como o artista por trás das cortinas para reaparecer
rotina para executar no seu cotidiano, tendo em vista, que mais linda.
o simples ato de arrumar a cama ou cuidar dos livros, favo-
rece o seu rendimento no aspecto pessoal e intelectual. Fiz Escarlate cor do amor, brilhante feito joia rara. Assim se faz
isso com as minhas filhas e obtive excelentes resultados. a tua beleza e quando o ato acabar, aplausos em todo canto
haverá só para ti.
Bom. Tarefas domésticas não me faltam e farei o inverso.
Vou estudar para ver se consigo executar outras obrigações. Lua! Minha e sua! Lua! Luz da lua!
Avante! É tempo de vivenciar novos projetos e oportunidades.

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Meu amor Ser feliz

G N
uardado em meu peito, meu amor adormece espe- ão é preciso ter muito para ser feliz. Basta ter saúde,
rando o abraço, querendo o tilintar de um telefone, amigos e família que a alegria preenche os grandes
o beijo doce da saudade e o carinho dos amantes vazios do querer ter.
que se entremeiam de desejos. Eu prefiro ser, pois sendo, tenho o prazer de me preencher.
Deita-se no céu e voa no mar. Senta-se no vento, corre no Sou tantas em uma: filha, mãe, mulher, tia, amiga, sogra e avó.
pensamento e abraça o sol. Cabe no bolso, enche a vida e
Dormi e acordei com abraços, carinhos e beijos desse ser
escorre em poemas.
tão pequenino, mas que, de tão grande, me preenche. Não
De tanto procurar, escondo, camuflo nas flores, perfumo caibo de alegria e agradecimentos por tê-la comigo!
com mel, deliro e o chamo de meu bem.
Três anos hoje. Espero que muitos três venham, para que eu
Hei de encontrá-lo! Eu quero vê-lo. Eu preciso vê-lo. Se ele possa ser a melhor avó que ela merece ter.
se esconder em alguma estrela, serei noite para guardá-lo.
Ainda quero brincar de correr, dançar, rolar no chão, fazer
09/09/2015 piscinas na areia, construir castelos, contar histórias e estó-
rias, nadar; ajudar a crescer!
Quero sorrir e ficar feliz quando a vir ganhar, pirulito ou
brinquedo, e falar que vai entregar a minha parte.
Quero ainda em muitas noites, deitar-me em uma rede da
varanda e aninhá-la em meu seio, esperando a lua surgir e
vibrar com os seus primeiros raios.

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Quero também poder sentar-me no chão com telas e tintas,
e deixá-la com seus dedinhos, imaginar um mundo de ani-
mais que só ela vê e faz, colorindo assim, painéis que coloco
nas paredes como obra de arte do mais famoso artista.
Quero apenas ser feliz e vê-la feliz sempre!
Entendimento
Os parabéns de hoje não serão para ela, mas para todos nós
que, há três anos, a recebemos neste mundo.
Obrigada Jesus, por Maria Eduarda!

H
oje eu entendo que, nem sempre quem amamos
também nos ama;
Que nem sempre o que queremos é o que
merecemos;
Que a roupa que mais gostamos nem sempre é a que melhor
nos veste;
Que mesmo que digamos “sim”, às vezes, queremos dizer “não”;
Que o mar nem sempre está azul ou verde, mas sempre
será belo;
Que o céu, mesmo estando cinzento, expressa um dia de graça;
Que a luz não só ilumina o mundo, mas também a vida;
Que quando dizemos precisar de alguém, buscamos em vão;
Que quando acordamos cedo, estamos preparados para a
luta diária.
Hoje em entendo que mesmo sem entender nada, sei muito.

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O “muito” que é o suficiente e não enche as minhas mãos e
os olhos.
É preciso ter os olhos da alma e a sutileza da ternura.
Hoje eu entendo que estou aprendendo a viver, buscando
entender. O homem - ser melhor
Eu entendo que nada sei e tudo busco e amo.
Sou feliz!

M
E você?! Entende o quê? eu Deus! Quantos absurdos vemos e escutamos
11/02/2014 nos jornais de nosso país! Que bom que as infor-
mações são instantâneas! Como evoluímos nos
últimos anos!
Lembro-me que, em mil novecentos e noventa e oito, parti-
cipei do Encontro de Funcionários do Banco do Brasil e, na
ocasião, escutei do palestrante a seguinte frase: "Tudo que
foi inventado nos últimos cem anos, não correspondem a
10% do que será inventado nos próximos dez anos".
Uma pessoa de até vinte anos, pouco sabe do muito que já
vivi. Um exemplo claro, que me recordo neste momento, é a
inexistência de alguns produtos que utilizei, antigamente, e
que hoje não estão nas prateleiras das lojas e supermercados
porque foram substituídos por outros mais modernos.
Os inventores, criadores e idealizadores não consegui-
ram ainda criar um chip de bons costumes, solidarieda-
de, ética, respeito ao próximo, idoneidade, justiça, serie-
dade, compromisso com a verdade e vergonha na cara,
para muitos brasileiros que colocam no poder, políticos

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ou funcionários que administram ou gerenciam os bens mordomia de quem ganha muito. Não entendo por que
da população. muitos dormem nas ruas e outros dormem em lençóis de
algodão egípcio. Não entendo por que festas são bancadas
Esse chip deveria ser implantado no umbigo e ser acessível
com comidas refinadas e o que sobra das mesas é jogado
a todos os brasileiros com dispositivos para choques; acio-
ao lixo e não doado a quem passa fome, alegando que uma
nados quando pensassem em fazer ou fizessem algo contra
indigestão gerará desconforto. Não entendo a desigualdade,
o país. Uhu! Seria legal!
se todos nós somos brasileiros!
Todos os dias, nos deparamos com atrocidades a moral e aos
Precisamos rever nossa Constituição Federal, no que
bons costumes; violência contra nosso patrimônio público e
tange a aplicabilidade das leis com maior severidade.
nada é feito.
Alguns indiciados já foram presos, outros serão, mas depois
Nos últimos anos, nós brasileiros, aprendemos a gritar e sairão dos presídios para gozarem dos benefícios adquiri-
espalhar os “cacos dos desmandos”. Descobrimos falcatru- dos no passado.
as, onde nunca imaginávamos e vimos que está se genera-
O certo é ser correto e respeitar o outro. Tudo parte do prin-
lizando a roubalheira do dinheiro. São bilhões de reais que
cípio do respeito. Tudo se resume a amar o próximo como
se transformam em dólares e euros, levados para bancos
a si mesmo.
estrangeiros e escondidos nas cuecas e calcinhas, daque-
les que se dizem honestos e que fingem trabalhar em prol Fiquemos atentos e anunciemos as melhores práticas para
da nação. Roubam e usufruem daquilo que, uma pessoa os seres humanos conscientes viverem melhor.
comum, nunca imaginou possuir em seus mais mirabolan-
Bom dia!
tes sonhos.
O noticiário “BOM DIA BRASIL”, acaba de mostrar mais
roubos. Apresenta os salários dos(as) deputados (as) com
suas regalias que chegam a quase cem mil reais por mês.
Esses homens e mulheres, representantes do povo, deve-
riam viver como cidadãos/ cidadãs comuns e nunca como
reis e rainhas.
Não entendo por que o Brasil não tem dinheiro para pagar
um exame de um paciente em risco de morte e banca a

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Meus irmãos Oração matinal

I M
rmãos! eu Deus, dai-me a graça de acordar cantando,
Nós somos sete (Elizabete, Fátima, Edjane, Marcos, dormir sonhando e beijar até faltar o ar.
Eliane, Gilberto e Netto) assim como as sete maravilhas Que eu possa dançar, cantar, sorrir orando,
do mundo, como as notas musicais que compõem lindas can- ser desejos e sede de justiça em todas as minhas ações
ções, como cristais finamente lapidados; uma corrente for- cotidianas.
mada por sete elos, unidos num mundo mágico e real de ser.
Que eu possa ser feliz e irradiar a felicidade, sendo instru-
Podemos ser ondas do mar num eterno vai e vem, promo- mento do vosso amor e de vossa paz.
vidas pelo vento. Podemos ser como o oceano, que enfrenta
tempestades e que não se desfaz para ir sozinho acreditando Amém. Assim seja!
na chegada exitosa.
Torrentes de emoções onde as lágrimas, muitas vezes, se
misturam aos risos e as broncas se confundem com o abra-
ço. Assim somos nós!
O ontem constrói o hoje e alicerça o amanhã, as birras exis-
tem para facilitar os nossos beijos. Somos guiados como
pássaros, onde a frente está o nosso bem maior - mainha.
Quem nos conhece sabe do tamanho do amor imantado
que nos une. Tê-los em minha companhia é uma graça divi-
na. Agradeço a Deus por todos!
Feliz dia do irmão para vocês!

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Doce amargo do adeus Mês de junho

Q J
uando amanhã passares por mim, olhe- me nos unho é um mês de festas para nós nordestinos, mas
olhos e enxergue minha alma. para mim é um mês de dor, saudades e lembranças que
Terás certeza de que amor congelou e uma saudade ficaram marcadas em meu coração.
está para chegar. Hoje, quando todos comemoram o São João, eu acordo com
Não se esconda! Não fuja! Só olhe! o pensamento lá atrás, na minha infância, numa manhã
igual a essa quando acordei com a notícia que me trazia,
Em mim, ficarão lembranças de sonhos de felicidade que,
até então, a maior dor na minha alma, frágil e inocente.
de tanto tentar, machucaram o mais profundo do meu ser.
Meu avô paterno, aquele que me embalara, me fizera sonhar
Quando amanhã sentires minha ausência, lembre-se que sonho de gente grande com letras de poeta e música dos
fui, que passei e que deixei um gosto do prazer do amor, anjos, havia partido.
com saudade de lágrimas, risos e o sabor amargo de uma
dor que teima em doer e que me faz sofrer. Naquela hora fiquei atônita e no funeral, à noite, enquan-
to voltava para casa com meu pai fazia uma prece a Deus,
pedindo-lhe a graça de encontrá-lo vivo na manhã seguinte,
para ganhar seu abraço.
O tempo passou, a dor calou, a saudade bateu inúmeras
vezes, e mais tarde, já adulta e mãe, novamente, no bendi-
to mês dos santos juninos, me veio a dureza e a majestade
da morte me trazer uma dor maior: meu pai se despedia

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aos cinquenta e cinco anos, deixando-me triste, como uma
criança desamparada e sofrida.
A dor de perder alguém que se ama, dói na alma.
No entanto, mesmo que esse mês me traga saudades, gosto
muito das festividades e de ver a alegria estampada no sem- Sete de setembro
blante das pessoas que cantam, dançam forró e festejam
com alegria.

O
Viva São João! Viva São Pedro!
“Sete de Setembro” passou e não foi mais um dia
de glória como outrora. Lembro que eu o esperava
com ansiedade, talvez, por ser estudante e desfilar
pelas ruas calmas de Patos.
Sonhava em desfilar como aquelas “fadas encantadas” que
vinham à frente do desfile e atendiam pelo nome de “baliza”.
Era divino aos meus olhos e foi sempre um sonho que não
pude realizar. Sentia-me em suas peles, rolando pelo calça-
mento, dando cambalhotas e sorrindo. Coitada de mim que
nunca aprendi a brincar de bambolê ou dar cambalhotas!
Na adolescência, eu queria desfilar para ser notada pelos
meus familiares e amigos que iam as ruas assistirem ao des-
file da parada cívica e também por causa do paquerinha que
estava lá, mas, quase sempre, eu vinha na segunda metade
do pelotão e no fim do desfile, quando já não era mais o
auge da expectativa.
Depois, já na faculdade, ia como observadora para encon-
trar outros colegas e bater papo.

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Quando minhas filhas chegaram, acabou aquela magia da
Festa da Independência do Brasil - Sete de Setembro e, rara-
mente, eu ia observar o desfile. Quando acontecia, busca-
va as "bailarinas do asfalto" e elas não estavam mais lá para
maravilhar meus sonhos e o meus olhos, todavia, ainda des-
pertavam em mim o desejo de vê-las. Ombro amigo
Ontem, fiquei em casa e vi alguns flashes na tevê e aquela
figura sempre desejada, estava lá fazendo a beleza da con-
torção em plena avenida. Isso aguçou a minha vontade de

À
sonhar, mas agora meus sonhos tomaram outros rumos e s vezes, precisamos de um ombro amigo para deitar
outras dimensões. nossa cabeça e receber um cafuné. Nessas horas é
que nos enxergamos pequeninos e dependentes do
Que a vida me venha e me leve a devaneios sem me deixar
calor humano. Daí, olhamos ao nosso redor choramos.
cair. Que ela me conduza a um mundo melhor, feito de res-
peito, amor, justiça e solidariedade. Mesmo quando esse amigo não está do nosso lado, pode-
mos usar das tecnologias para falar, rezar, pedir, sorrir e gar-
galhar com ele.
Amigo que é amigo nunca está longe! Pode até estar fora do
alcance de nossos olhos, mas estará sempre dentro de nosso
coração.
Certa vez, escutei alguém banalizar uma conversa, utilizan-
do a frase: “Fulano é meu amigo!” Na verdade, esta pessoa
desconhecia a importância de uma amizade verdadeira e
mal conhecia a pessoa que afirmava ser seu amigo.
Dessa forma, creio que devemos considerar os verdadeiros
amigos para não sentirmos o peso da solidão.
Um dia, quis chorar, mas hoje quero sorrir!
Sorria comigo, ombro amigo!

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Sem você não existiria Gostos e preferências

S N
em você, eu não existiria. Não sou um todo. Sou ão tenho nada a ver com as opções e preferências
somente parte de um amor que esperou, gerou, acon- de quem quer que seja. Isso é fato.
chegou, doou, brotou, alegrou, contagiou, cresceu,
abençoou e acolheu. Se alguém gosta do amarelo, do time "x", de carne
Dádiva maior da vida é ser vida e fazer vidas. ou peixe, do dia ou da noite, e por aí afora; não tenho nada
contra. Inclusive, respeito as opções sexuais de qualquer ser
Abençoada seja a minha mãe – Vilani – que foi escolhida humano, tendo em vista, que, cada um sabe de si. Com isso,
por Deus para me dar vida e alegrar o meu viver! até aplaudo quem tem coragem de se assumir ao invés de se
Obrigada por seu amor, mãezinha! Obrigada por existir! fechar em uma concha.
12/05/2013 Tenho a ver sim, com pessoas que desrespeitam a fé do outro
e fazem desdém com os símbolos religiosos de qualquer
doutrina. Quando isso acontece, exijo o respeito, afinal, sou
cristã e vivencio o catolicismo com muita fé e esperança.

Observando as imagens da última Parada LGBT em São


Paulo, fiquei perplexa com as atitudes dos que debocham da
fé alheia. Se não creem em Cristo, se não são cristãos, pro-
blema deles. É inadmissível aceitar o desrespeito e a intole-
rância religiosa.

72 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 73


Fome, roubalheira, violência, corrupção, falta de saúde e
escolas, impunidade; tudo parte da premissa de que não
aprendemos a respeitar e, portanto, não somos respeitados.

Acorda meu Brasil! Ainda dá tempo!


Ponto de vista

É
vergonhosa a imagem de nosso país, frente a outros,
onde as leis são cumpridas e os deveres e direitos dos
cidadãos são respeitados.
Fiquei esses três dias vendo jornais na televisão e pensan-
do sobre as notícias veiculadas, tais como: “padrasto mata
criança; “Fiscais roubam patrão (Prefeitura de São Paulo)”;
”Motoristas tentam enganar policiais rodoviários para tra-
fegarem com cargas mais pesadas, colocando em risco
suas vidas e de todos que trafegam pelas estradas afora”;
“Jovens de outros estados veem para Paraíba com equipa-
mento para desmagnetizar tarjas de produtos de lojas de
departamento e roubar mercadorias”; “Motoristas dirigin-
do sob efeito de bebidas alcoólicas”; “Bandidos explodem
caixas eletrônicos”; ”Pessoas estão poluindo o planeta de
todas as maneiras e provocando mortes de animais.
Isso é genética? Mau caráter? Falta de oportunidade?
Não. Isso é falta de educação mesmo. Falta de vergonha!
As crianças veem isso e acabam pensando que aquilo é
normal, enquanto seus pais suprem suas ausências com

74 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 75


brinquedos, permitindo quase tudo e esquecendo limites
impostos pela palavra “não”.
Cabe a cada um de nós fazer um pouquinho, para que o
amanhã seja melhor que o hoje e com, pautado em princí-
pios de cidadania nos moldes de vida de nossos pais e avós,
Idade da razão
que priorizavam o bem-estar coletivo.
Novembro/2013

Q
ual a idade da razão? Eis a questão. Eis minha
opinião.
A criminalidade em nosso país cresce a cada dia e
o medo que toma conta de cada um de nós, quando saímos
às ruas, é notório. Não sabemos se esse ou aquele adoles-
cente ainda é somente um jovem normal ou um “bandido
treinado” por um adulto.
O resultado é que nos cercamos de cuidados. Trancamos
nossos carros, diminuímos a velocidade para não termos
que parar no próximo sinal fechado, seguramos nossas bol-
sas como se fossem nosso coração e tudo porque tememos
ser assaltados ou assassinados por pouco ou nada.
Falam que, para cada ação, existe uma reação, porém, quan-
do isso acontece, nada vemos em contrapartida porque ele,
o assaltante/bandido, é menor de idade.
Menor de idade para trabalhar? Para pagar pelos seus
erros? Como?! Se já fazem filhos e os jogam nas ruas.
Se sabem que roubar e matar são atitudes erradas as prati-

76 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 77


cam. Se dizem que são capazes de decidir sobre quem vai
governar o país e têm o direito ao voto facultativo.
Por que também não capazes de pagar pelos erros? Acabe-
mos com a impunidade, afinal, a idade mental de uma pes-
soa de doze anos hoje, se equipara a de um jovem de dezoito
Sou perfeita
ou vinte anos, do início do século passado. Século passado!
Tudo bem. Sabemos que colocar um jovem desses numa
prisão convencional é o mesmo que presenteá-lo com um

F
doutorado em malandragem e bandidagem.
eita a imagem e semelhança de Deus eu nasci, em
Então, que outras unidades sejam criadas. Não unidades perfeitas condições, numa família maravilhosa. Fui
somente para menores infratores como as que existem. acolhida com amor e carinho. Amei, sonhei, também
Realmente, unidades educativas onde eles tenham que me decepcionei. Feri muitos e, por muitos, fui ferida.
dormir e acordar cedo para fazerem a arrumação de suas
Conheci pessoas, vivi alegrias em momentos únicos,
camas, tomarem café, cuidarem da organização, manuten-
chorei e tive muitos amores, dentre eles, meus avós e
ção e limpeza do ambiente de convivência e estudarem com
meus pais.
afinco, disciplina e determinação.
Na verdade, tenho muitos amores! Minhas filhas, minha
Isso não é difícil. É questão de querer. Sei que isso não dá
neta e meu genro também fazem parte desse laço amoroso
votos e, consequentemente, vida boa a quem nada faz e
de afeto e carinho.
ganha com isso. Toda criança nasce inocente. Todo bandido
já foi criança um dia. Vamos punir, educando esses jovens Ah! Como sou feliz!
que amanhã conduzirão o Brasil. Com doze anos já se sabe
Tenho a felicidade de ser, de poder, de ir e vir. De dar e
discernir entre o certo e errado.
receber.
Mudemos nossa realidade!
De sorrir, amar e poder olhar no olho do outro e demons-
trar o meu amor.
Felicidade de ter amigos, parentes, irmãos, cunhados, sobri-
nhos e inimigos camuflados.

78 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 79


Sou perfeita aos olhos de Deus! Por ser humana, admito que
tenho algumas imperfeições, afinal acumulei defeitos e cos-
tumes na minha trajetória de vida. Nada que me tornem
menos humana e menos espiritualizada!
Sou única! Só eu sei de mim! Não importa como outras pes- Remexendo baús
soas me veem porque vivo a minha individualidade, bus-
cando a simplicidade de ser feliz.
Que sejamos felizes em 2013!

H
oje fui ao meu passado remoto. Remexi meu baú e
revivi emoções fortes que me remeteram à infân-
cia. Fui ao Paiva, recanto do meu tempo de criança.
Visitei a casa onde, para mim, foi meu palácio mais rico e
onde eu fui a princesinha do vovô e da vovó.
Andei por cada cômodo. Vi cada pedacinho do chão onde
pisei, e nas paredes ainda pendurados em minha memó-
ria, quadros que me falavam de saudade, amor, ternura e
carinho.
Senti o cheiro do mato, o sabor da cajarana e da manga
espada, o gosto da coalhada e do queijo de manteiga quente
e com açúcar. Saboreei a tapioca quente com manteiga de
garrafa e o bolinho de goma que vovó me preparava.
Vi correr no tempo o sorriso de todos juntos me paparican-
do. Senti o abraço forte e o calor do colo de vovô, nas noites
de escuro onde só víamos as estrelas no céu do sertão. Senti
o beijo de vovó que me falava de bem querer.
Por um momento, fechei os olhos e pude ouvir as vozes, os
risos; escutar a prece antes de dormir. Olhei para o leste e vi

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ao longe a esperança da chuva que vinha. Fiquei feliz como
uma criança crescida e presa as lembranças da infância,
e desejei um momento lá no passado.
Desejei acordar no meio da noite e sentir vovô me cobrindo
para me proteger do frio da madrugada; meu titio Luiz me
balançando na rede ao som de suas cantigas; meu titio Zé
Expectadora da vida
Cláudio me levando em sua moto a passear; o carinho de
titia Nilvanda; o ciúme e carinho de tia Neta; o dinheirinho
para comprar chiclete que vinha de titio Olivaldo; os pas-

D
seios no Rural de titio Flávio. epois de tudo, a sensação do dever cumprido. Três
Tudo estava ali, naquela casa branca, com cheiro de minha semanas, exclusivamente, para ela que largou todos
história. Naquele recanto do sertão da Paraíba, onde sim- aqui para correr em busca de seu sonho.
plicidade era sinônimo de felicidade, onde eu era amada e Vê-la apresentar seu trabalho de conclusão, tecer os últimos
acarinhada na ausência dos meus pais. pontos dessa colcha de retalhos, arrematar com chave de
ouro seis anos de muita dedicação, dançar a dança da vitória
Hoje sou uma mulher adulta e mãe feliz, porque aprendi
no baile de formatura, foi como beber as bolhas do melhor
que amor se multiplica. Fui uma criança amada e desse
champanhe e ficar tonta de felicidade com a luz brilhando
amor construo dia a dia a minha história.
sobre elas como um arco-íris.
Obrigada Senhor por me fazer assim! Dancei e rodopiei por ela, com ela e para ela que é a autora
exclusiva dessa história que começou com um sonho e que
se tornou realidade.
Agora, relaxo e me mantenho como a maior torcedora de
seu sucesso profissional. Rogo à Deus para abençoá-la.
Sigo meus passos trilhando minha estrada por caminhos
paralelos aos das três filhas que Deus me deu.
Estou pronta para segurar-lhes as mãos quando for
chamada.
Boa Vista, 12/2014

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Sentidos aguçados Quero alguém

A Q
gucei os ouvidos para te ouvir falar e o silêncio soou uero alguém pra mim, mesmo que não seja meu!
agudo. Sua garganta teimou em calar e eu quis te Alguém, que me acorde com um "bom dia" lam-
ouvir com outros sentidos. buzado de manteiga, pão e cheiro de café, que me
Olhei no fundo de seus olhos e mergulhei na escuri- aguarde na cama me ouvindo cantar desafinada, enquanto
dão ensurdecedora do soluço. Na poeira dos seus passos, espero a temperatura da água ficar ideal para o banho; que
me arrastei e me agarrei no cheiro do seu adeus. Chorei! me diga que comer é bom, mas engorda e que eu não tenho
Gritei ao vento e as nuvens choraram comigo! com o que me preocupar; que seja tolerante com o meu
mau humor, quando recebo contas no final do mês para
Adormeci na saudade do seu abraço. Sangrei de amor e
dor. Calei! pagar e que ria comigo das piadas mais bobas que eu contar.
Alguém que me compre um sorvete, mesmo que não seja o
Por fim, o sol chegou e a luz da esperança me tocou de leve sabor que eu prefira, e não se magoe se eu pedir para dividir
o rosto e aqueceu o meu coração.
comigo; que abotoe minha blusa, enquanto me beija o pes-
Me levantei, arrumei meus cabelos com laços coloridos de coço e que se emocione se eu lhe falar um poema.
futuro. Pintei meus lábios de carmim e sobre o salto quin-
ze, caminhei com a cabeça erguida, sozinha, na direção das Quero alguém que saiba pedir sem impor; decidir mesmo
mãos que me esperavam. que precise consultar; beijar a boca e andar de mãos dadas;
cantar uma música antiga; sentar-se num banco da praça
Hoje, a saudade se transformou em história. para comer pipoca, assoviar, piscar, correr e andar de bici-
Talvez, uma história de um livro de páginas amareladas e cleta. Que consiga me pegar no colo e se cansar, cair e rolar
nunca lidas, onde a autora aprendeu o verdadeiro sentido na grama. Que sinta vontade de deitar-se no chão, numa
do verbo amar. noite de estrelas, buscar constelações e voar comigo rumo à

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lua, numa nuvem feita de sonhos e depois adormecer para
acordar, mais uma vez, lambuzado de manteiga e pão, com
cheiro de café.
E que tudo se repita! Será que quero muito?!
08/10/2015 Essência

S
entada na sala, vejo a chuva na rua encoberta pelo
lençol dos pingos de água que caem, insistentemente,
como se brigassem com o vento e o mar.
O mar está encoberto e o vento corre em um vai e vem que,
por vezes, deixa-me tonta. Fecho os olhos, imagino estar
correndo com ele por entre lugares que nunca fui. O seu
frescor, leva-me ao passado e ao futuro.
Subo e desço, querendo beber toda essência dessa liberda-
de que vejo e sinto. Um som de um piano no apartamento
vizinho rouba o meu sorriso. É uma música conhecida e
agradável.
Gostaria de saber tocar e cantar, mas no momento isso não
me faz falta, pois música igual a que escuto agora da chuva,
com o acompanhamento da orquestra do vento, forma uma
grande sinfonia.
Contento-me com o prazer que sinto de poder escrever, ver,
sorrir e amar e sinto-me feliz por estar aqui contemplando
as maravilhas perfeitas que somente o nosso Deus criador,
sem quaisquer cobranças, oferece.

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Meus olhos se abrem e vejo ao longe as ondas do mar revol-
to, num balé assustador que não desejo dançar. O uivar do
vento agora se faz mais forte, pois entra pelas frestas que
deixei entre as portas da sala. Sinto tocar-me a face e sorrio.
Lembro os dias de minha infância, brincando sob a chu-
va no sítio do sertão árido paraibano, onde adorava tomar
Tenho pressa
banho de chuva nas águas que caiam do telhado e correr na
terra molhada.

T
A chuva sempre representou para mim alegria e esperan-
ça; assim como para todos os sertanejos. O restinho de sol enho pressa de viver em marcha lenta, aproveitando
desta tarde, luta para aparecer antes de dormir, pois aquele tudo que a vida tem a me oferecer.
lençol que a tudo encobria, já se transformou em apenas O tempo passa correndo. Quero segui-lo freando de
uma seda transparente que me permite ver o mar. vez em quando, só para ter certeza, de que a estrada per-
O vento já se aquietou e paro com os meus devaneios para corrida foi bem trilhada e que minhas pegadas continuam
cuidar de mim e de quem de mim precisa e dorme tranqui- sendo seguidas.
la, sem sonhar que sua avó ainda é uma criança cheinha de Preocupo-me em marcar cada passo com uma frase que
sonhos, desejos e que adora um dia chuvoso. guie a quem queira. Na minha imensa imperfeição, vou
02/07/2015 continuar a polir a prata do meu caráter e o ouro dos meus
dias pensando que, em algum momento, a luz reflita e ilu-
mine alguém.
Quero que me vejam como ser caminhante e errante nas
estradas tortuosas, mas que segue aprumando aqui e ali,
caindo e se levantando, olhando a frente e cumprimentando
os outros caminhantes sem esquecer de dar as mãos a quem
precisar se erguer.
Procuro subir ao ponto mais alto da montanha. Não para
ser a primeira do pódio, mas para sentar-me e, de lá, ter

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uma visão do que vivi e do que fiz! Contemplar o meu uni-
verso que se fez entre campinas e florestas, entre pássaros e
borboletas, entre feras e peçonhas.
Busquei àquele que me criou e quando vi, Ele estava em
mim e eu Nele. Vivi fé, crenças, orgulhos, preconceitos,
Vontade de criança
fomes e farturas. Saciei sedes com rios de conhecimentos.
Na ignorância do saber, continuo buscando saciar a sede
que de me guia.

U
Finquei meus pés no alicerce mais nobre de uma família e, a
m dia eu quis ser gente grande. Usei salto
seu exemplo, construí também a minha.
alto, pintei a face, usei batom; tudo sem saber
Como artesã, moldei os primeiros seres que de meu ven- e sem precisar. Apenas por querer aparentar.
tre brotaram. Permiti deixar que se fizessem sinfonias e que Era uma criança.
compusessem suas canções de vida. Como espectadora as Depois, cresci e precisei pensar e agir feito gente grande.
vejo no grande palco da vida, cantando uma melodia que Eram horários a seguir, compromissos a cumprir, presta-
me acalma o coração, enquanto, aguardo os aplausos. ções de contas de atos, ações, pensamentos e sentimentos.
Minha história começou, e permanece tecida e moldada Sufoquei-me!
pelo amor.
Quis ser criança, mas o máximo que consegui foi fazer
crianças, e ainda deixar a criança que brincava dentro de
mim querer explodir, brincar, correr e fugir do mundo de
gente grande.
O tempo passou, a vida correu, o pensamento mudou, os
amores chegaram e foram embora.
Fiquei só!
Sofri e fiz sofrer, mas também sorri e fiz feliz quem comigo
sorriu.

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Olhando da janela do coração, vi nuvens de saudades pas-
sando, esperanças do verde se esvaindo, amores de carmim
desbotando e, enquanto isso, aquela criança que vivia em
mim, pintava a vida com as cores do arco-íris.
Hoje sou eu! Quero plantar a vida e regar os dias querendo
chegar ao amanhã, apenas sendo eu.
O dourado do céu azul
E você? Você cresceu?!

D
o meu cantinho, olho o azul do céu que se torna
dourado, neste fim de tarde. A quietude parece
realmente existir neste universo sem fim. Aqui, do
meu ponto de observação, penso em tantas pessoas com as
quais convivi e que, de alguma forma, contribuíram para o
que hoje sou.
Lembro com saudades de pessoas queridas que já se foram
e, em especial, do meu pai que virava um dragão para me
defender e era um poço de carinho ao me acolher, de titio
Luiz que, do seu jeito agitado, não passava de um menino
cheio de carinho e dos momentos que já vivi e que estão
perdidos no tempo.
Por que num fim de tarde vendo o mar ao longe e o sol que
se vai, traz tantas lembranças saudosas?!
Agora começam a surgir luzes de faróis dos carros que pas-
sam, provavelmente, com pessoas que retornam ao acon-
chego do lar.
A noite chega e acalenta os sonhos de homens e mulheres
que amam e acreditam na vida.

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Majestosa lua Dimensão da vida

D O
a minha sacada, vejo a lua majestosa se instalan- tempo tem dimensão diferente, dependendo de
do no céu e clareando a noite escura, rodeada de quem o observa e da ótica dessa observação. Para
nuvens reluzentes e brilhantes. mim foi um tempo de espera onde cada dia era
Da minha janela vejo a lua sorrindo para mim, como a contado em vinte e quatro horas e a saudade era sentida em
dizer que a vida é bela e que há sempre uma luz irradiando cada minuto. Para Cláudia, a contagem era feita na expecta-
esperanças. tiva de abrir uma porta para uma nova fase.
No início de dois mil e nove, ficamos felizes com sua apro-
Da minha varanda, vejo vidas que buscam uma luz de luar. vação no sexto lugar do Vestibular de Medicina da Univer-
Vejo a lua se levantando e me convidando ao romantismo sidade Federal de Roraima
de uma balada que soa ao som de um piano.
Ao mesmo tempo em que a alegria nos contagiava, está-
Abraços, sorrisos, cantigas, beijos, amores... Tudo revivo em vamos também apreensivas por causa da distância. Mes-
meu pensamento! mo assim, com o apoio de toda a família, sua conquista foi
incentivada.
Munida de fé e esperança, fomos a Roraima para organi-
zar a sua nova residência. Minha caçulinha precisava ficar
e eu precisava voltar. Nos separaríamos em corpo, mas per-
maneceríamos unidas no laço mais forte que existe que é o
amor de mãe e filha.
Ao chegarmos na terra estranha, parecíamos aves de arri-
bação buscando um lugar para pousar. Outros tantos

94 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 95


sonhadores e desbravadores de novos rumos chegavam com na véspera de meu retorno, foi quando realmente a instalei e
as mesmas intenções. Todos como aves, voando, pousan- ela passou a morar com aquela colega de curso que aprendi
do, revoando, rindo, sonhando e se conhecendo. Cada um a amar e respeitar.
de um canto deste Brasil imenso com suas histórias, seus
Juntas compartilharam uma casa com o básico para viver,
costumes, suas crenças, mas todos com a mesma vontade de
mas uma casa que era um lar. Um lar onde reinava o cari-
seguir o sacerdócio da medicina.
nho, o respeito, a individualidade e a fraternidade. As irmã-
Naqueles primeiros quinze dias, conheci os colegas que zinhas Cláudia e Lívia, estudaram juntas durante todo o
compartilhariam com Claudinha essa luta de noites mal curso. Sou extremamente grata pela amizade de Lívia.
dormidas e até não dormidas, de provas, de tutorias, de
Há cerca de um ano, Cláudia conheceu Bruno. Apaixona-
seminários, de dissabores e alegrias, de fraternidade e
ram-se e começaram um namoro que está cada dia mais
desentendimentos, mas no geral, de muita disciplina.
sério e que certamente, esse, será meu genro a quem já o
Alguns desses colegas chegaram antes, já se formaram e já tenho em meu coração como um filho que chega.
estão médicos em suas terras. Outros chegaram depois, se
Hoje, na última atividade acadêmica, também estou aqui.
uniram, criaram laços e ainda vão trilhar o caminho longo
Cheguei com antecedência. Meu coração transborda de ale-
até a apresentação da monografia.
gria e orgulho. No início desta tarde, entrei no Auditório
Viajei várias vezes e, a cada semestre, ela retornava para de Medicina para assistir à apresentação da monografia da
recarregar a bateria na energia chamada família. minha Claudinha, que mesmo com “borboletas no estôma-
go”, subiu no palco e deu o seu recado. Falou sobre o Cân-
Assim como eu estava presente no início de sua vida escolar,
cer de Cabeça e Pescoço relacionado ao HPV, uma revisão
indo para as reuniões na escola, também vivenciei o seu pri-
bibliográfica que, ao final, recebeu elogios de seu orientador.
meiro dia de aula no ensino superior. Confesso que fiquei
angustiada e zangada por vê-la participar do bendito trote Ali sentada, inflei meu peito feito pomba alegre e cheinha
de caminhar pelo Campus com os pés no chão, meio-dia, de orgulho agradeci a Deus por essa jornada. Uma lágrima
em fila elefante, mas relevei meus sentimentos porque era discreta escorreu no canto do meu olho. Em silêncio, agra-
visível a sua felicidade. deci a Jesus por tudo e pedi para iluminar os seus caminhos
no exercício da profissão.
Era momento de deixá-la sozinha para enfrentar seus
medos, suas batalhas. Vivenciei alguns atropelos para real- Parabéns, minha filha! Essa glória é sua!
mente acomodá-la até que, por sorte e em terceira casa,

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Casa vazia Confissão de vida

A C
casa está limpa, as cortinas estão lavadas, as rou- onfesso que pequei!
pas de cama e banho trocadas e nenhum vestígio de Pequei quando quis ser dona da razão e estava sem
poeira nem nada fora do lugar. ela; quando disse não e queira dizer sim; quando,
Na verdade, prefiro tudo virado, brinquedos na varanda, por excesso de zelo, descuidei de mim.
mamadeira na pia, banheiro molhado, camas desforradas
e rede na varanda cheinha de lençóis. Sinto falta de Maria Pequei por me julgar sábia, mesmo tendo a consciência, que
Eduarda e aguardo ansiosa seus abraços apertados e beijos pouco sei daquilo que ainda não estudei.
molhados de ternura, amor e carinho. Pequei quando disse a você que não queria amar e meu pei-
Que me chamem de boba, que digam que estou carente, que to explodia de amor para te dar;
falem que estou envelhecendo, que riam de mim, que falem Pequei quando a paixão dominava minha razão e me fazia
e critiquem os que desconhecem esse amor que invade meu esquecer que pensar e ponderar, eram atitudes que me leva-
coração quando estou ao seu lado. riam aos bons momentos de racionalidade.
Hoje a minha casa está vazia porque Maria Eduarda (minha Pequei quando olhei ao lado e não dei a mão ao irmão que
neta) foi passear em Patos, todavia daqui a sete dias voltará me pedia.
a ficar repleta de alegria, paz e amor.
Pequei quando não rezei e quando me esqueci de agradecer
a vida.
Pequei comigo e pequei para o mundo quando me deixei
guiar pela volúpia do tesão sem paixão.

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Pequei por achar que os segredos poderiam ser partilhados.
Pequei quando gritei, e quis ser ouvida no silêncio da multi-
dão errante a quem eu seguia.
Pequei, mas quero perdão e prometo recomeçar do zero,
carregada de malas cheias de experiências. Lição

T
entei fazer a lição de vida direitinho, exceto pelas
horas a mais que trabalhei no Banco do Brasil e que
deveriam ter sido dedicadas ao convívio familiar.
Se eu fiquei em recuperação nessas lições, terei tempo de
passar nos exames de ser mãe, sendo avó. Se eu falhei, que
me perdoem minhas filhas: Caroline, Clara e Cláudia. Na
verdade, procurei e procuro ser a melhor de todas as mães.
Hoje eu acordei cedo e fiquei olhando a cidade que começa
a se agitar. Pensei nas surpresas, alegrias e tristezas que um
dia guarda em suas vinte e quatro horas de inteiro mistério.
Estou preparada para tirar a nota máxima nas lições que
este sábado me reserva em família. om dia!

100 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 101


Corda bamba Quando eu não existir

V Q
ivemos numa corda bamba. Nada é imutável e uando eu não mais existir, no coração de alguém
somente os bobos conjugam o verbo “ser” sem se ainda vou “restar” como os últimos raios de um pôr
dar conta que também existe o verbo "estar". do sol, numa tarde de verão que, misturados nas
Assim sendo, eles são jovens, belos, bem-sucedidos, magros, nuvens, deixam uma sensação de saudade, uma certeza de
chefes, ricos e quando se dão conta que, por algum motivo amor e uma vontade de viver.
deixaram de ser, adoecem da alma e do corpo. Vivem decep- Restarei na lembrança de um sorriso, na saudade de um bei-
ções e muitos sequer acordam. Continuam na ignorância e jo e na vontade de abraçar.
sofrem por causa de suas atitudes.
Quando eu não mais existir, você não restará para mim,
Somos seres humanos, embora existam alguns que não apre- mesmo assim, alguém lembrará com saudades da nossa
sentam ter as melhores características, por serem egoístas. existência e fará uma linda oração.
Não podemos esperar nada do outro, mesmo que este seja Lá no fim do pôr do sol, no lugar esquecido e almejado por
para nós uma pessoa querida. todos, estaremos e restaremos.
Se cairmos algumas vezes, seremos levantados, no entanto, Restaremos, nos últimos raios de um por de sol para
viveremos na corda bamba de princípios e ética, pautados sempre.
na ótica do existir.
Afinal, somos ou estamos?!

102 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 103


Evolução Preciso pisar no freio

N J
asci sem nada. Conquistei muito. á bebi muitos copos d’ água de um só gole, corri ao invés
Conquistei amigos, colegas e amores. de andar, deixei de olhar as estrelas por não ter tempo e
Ah! Amores! Como conquistei! escrevi bilhetes, podendo ter escrito cartas.
Quis ser grande e só me encontrei na minha pequenez. Deixei de andar devagar, de escutar as pessoas, de mastigar
melhor os alimentos e tomar bastante água, sabendo que
Quis correr o mundo e fui até onde ele me permitiu ir.
seus benefícios eram importantes para a minha saúde.
Sorri. Cantei. Chorei. Festejei. Bailei com amores vindos.
Esqueci de abraçar e de beijar porque não tive tempo de
Lamentei os amores idos. Tudo muito rápido. Tudo muito
parar. Não tive tempo de parar e observar tudo e todos
intenso. Tudo tão verdadeiro como verdadeiro é o senti-
que estavam ao meu redor, com paciência, resignação e
mento do amor.
sabedoria.
Tive muitas conquistas e algumas perdas! Hoje, tenho mui-
Hoje, com maturidade, vejo que eu corri demais e não
tos amigos, família e amores. Só não tenho o que não me faz
observei atentamente tudo que eu vivi. Tenho a sensação,
digna de ter, todavia, sou grata a Deus porque tenho uma
de que fiz a leitura de um livro sem entender o que estava
vida feliz.
lendo, porque meus pensamentos estavam fora de ordem,
Um dia, farei a última viagem e na minha bagagem nada de conexão e, sobretudo, fora do tempo.
levarei, a não ser os frutos das sementes que aqui plantei.
Preciso pisar no freio! Preciso olhar para os lados, mudar
a minha rotina para melhor viver e desfrutar dos benefí-
cios que conquistei ao longo da minha trajetória de vida.

104 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 105


Onde estou? Sobre as nuvens

E E
m que parte da estrada eu estou? star sobre as nuvens, não significa estar no lugar
Onde será minha próxima estação e em que curva mais alto. Apenas, me dá o direito de observar a
precisarei pisar mais leve no acelerador? dimensão da minha insignificância e me remete
ao desejo de poder voar e abraçar o vento, de cantar uma
Sigo em marcha lenta, reduzindo aqui e ali, avançando no
canção ao universo falando da minha pequenez diante
sinal vermelho quando me apraz.
do Criador.
Atenção! Perigo na próxima esquina! Eu parto, mas não sei Ver daqui o brilho do sol, não por entre nuvens, mas tocan-
onde vou chegar. Não sei quem me seguirá. do sobre, e vendo a sua luz resplandecente no branco mais
Com medo de atropelar sonhos, escolho com quem irei; branco que meus olhos já viram, iluminam minha alma e
acelero para chegar mais perto do pódio. aquecem meus sonhos.

Quanto mais quero, mais distante fico e mais longa se torna O que me parecem grandes e distantes, apenas se tornam
minha estrada. pequenos pontos ligados por riscas que sei serem estradas.
Esses pontos pequenos que cabem nos olhos são cidades
Quem cruzará meus caminhos? povoadas por homens alegres e sérios, honestos e corruptos,
Quem esperará por carona no meu destino? novos e velhos. Homens criados para serem semelhantes ao
criador e deturpados pela criatura.
Como um cavalo alado, voarei em direção aos céus, na velo-
cidade do amor sem tempo para frear. Tenho a impressão de que posso ser mais leve, apesar de
todo o peso que carrego nos ombros e de todos os dias que
Abastecendo a vida com o que a vida me dar; seguirei e, na
contam minha história.
próxima curva, vou te achar para me encontrar.

106 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 107


Deixo-me plainar em pensamento, enquanto sou carregada
ao meu destino na euforia de ter onde pousar, mas também
na saudade de ter que ir e deixar pedaços de mim que tei-
mam em acompanhar-me.
Sinto-me só, carregada de saudades, liberta de obrigações,
repleta de pedaços de sonhos e de preocupações para cuidar
Sou da terra
das minhas filhas.
Deslumbrada com a brancura que aqui vejo, fecho os

S
olhos e mergulho na imensidão do escuro que é o meu
futuro. ou da terra de ninguém onde o sol é majestade, a lua
é santidade, a floresta é moradia, a chuva encharca a
Luzes hão de se tornar e fagulhas hão de queimar meu cora- terra e a vida brota feliz.
ção, na ânsia de ser feliz e poder voar, mesmo que por asas
Sou da terra da poesia, onde o refrão faz cantiga nos bicos
de aço, levadas por motores que queimam o combustível do
dos passarinhos, nas pegadas deixadas nas florestas encan-
amor verdadeiro.
tadas, nos sonhos de liberdade.
O amor me conduz e assim vou voando, buscando chegar
Sou de onde o mar palpita, lambe a terra e acredita ser ber-
ao destino que me faz feliz e que instiga em mim a vontade
çário, ser só vida.
de retornar.
Sou da terra de ninguém, onde Deus cuida de todos, mata
Meu destino? a fome, a sede, a dor, acolhe os homens, os animais e pro-
Não sei! tege-os do frio e do calor.
Só vou!
Voando hei de me achar!

108 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 109


Testamento Reflexões

Q S
uando eu for embora, desejo que os meus sonhos ou jovem ou idoso?
sejam revividos por meus maiores amores. Quando preciso de assistência médica consigo com
Gostaria que várias árvores fossem plantadas, e que facilidade?
todos repousassem debaixo das sombras rezando, brincan- Há médicos e medicamentos disponíveis?
do e ouvindo o canto dos pássaros no entardecer.
Enfrento filas nos postos de saúde?
Sei que magoei corações, que traí alguns ensinamentos dos Melhoro com essa espera ou só agravo minha doença?
meus pais; que disse não, quando poderia dizer sim.
Meus filhos, realmente, estão aprendendo nas escolas?
Sei que concordei quando poderia ter discordado e que sor- Eles têm transportes adequados ou correm risco de morte
ri quando quis chorar.
em carros sem manutenção?
Sei que tentei construir um mundo melhor, todavia, caí na E a merenda escolar é boa?!
tentativa de acertar.
Eles ficam fortinhos ou voltam com fome?
Portanto, que enquanto estou indo, que na minha estrada Como sou tratada pelos políticos?
consiga plantar sementes de concórdia, esperança, amizade,
Eles se importam com os meus problemas e me oferecem
determinação e muito amor. Assim, quando eu me for, que
trabalho com salário digno ou me dão esmolas, tratando-
essas sementes possam ser regadas com tudo que a vida me
propiciou e que eu consiga deixar ao menos uma saudade -me como mercadoria?
estampada na alma de quem ficou. Respeitam meus direitos ou usam da minha boa vontade e
inocência para enriquecerem?

110 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 111


Depois da política eles sabem o meu nome?
Sabem onde moro?
Minha cidade é desenvolvida?
Cresceu nos últimos anos?
Fizeram melhoramentos nos prédios públicos? Testemunho
As praças oferecem lazer e são arborizadas?
As estradas são seguras?
O bem-estar da coletividade está em primeiro plano?

T
Os professores fazem cursos para atualizarem seus estemunho que sou apenas o que me foi feito. Teste-
conhecimentos? munho que rodopio no vendaval da esperança, que
O número de pessoas pobres tem diminuído? descanso quando a tempestade passa, que reconheço
o verdadeiro sentido do verbo amar.
Os idosos e os jovens têm atividades de lazer, esporte e
Confirmo que antes de “ter”, prefiro “ser” e me achar conexa
cultura?
ao universo que me abraça e me enleva a sensação maior de
As pessoas primam por permanecer no seu lugar de origem? pertencer.
A segurança pública é prioridade para os governantes?
Juro que me dou por inteira em amizade, carinho, respeito
O prefeito foi eleito por voto livre ou comprou eleitores? e amor, mas metade de mim grita quando o choro do irmão
Os eleitores se preocupam com o amanhã? não recebe consolo.
Precisamos pensar e refletir um pouco mais! Dou testemunho que minha vida é válida por cada instan-
Se hoje você se contenta com sua vida, pense em como será te vivido. Mesmo vivendo toda ela, ainda deixarei metades
daqui a dois, cinco, dez anos. por fazer e deveres hão de ser cancelados, adiados ou ain-
da transferidos para outros planos, mas mesmo que me vá
Se tudo permanecer igual ou pior do que já era, a culpa será
cedo, certa sou de que será na hora escolhida por Ele.
sua, tendo em vista, que, com seu voto, elegeu para governar
uma pessoa incompetente. E lá, diante do Onipotente, darei meu último testemunho de
que fui feliz como pude.

112 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 113


Minha mãe em seus 72 anos Esperança de renovar

H Q
oje é o dia do 72º aniversário de minha mãe. uero renovação
Que seja bem vivido em toda a sua plenitude. Em nome da multidão
Louvo e agradeço a Deus, por sua vida e por todas Quero governo aberto
as graças e bênçãos derramadas. Com aquele que está por perto
Feliz aniversário, mainha! Te amo! Por isso, meu voto será para Netto.
Vem comigo e com todos
Lutar por melhores dias
Governo se faz unidos
Na força, fé e harmonia.
Preciso que acredite
Que lute, você é forte.
Busque melhores rumos
Plante prosperidade
Você é que faz mudar
Na terra, de tudo dá.
Plante esperança hoje
E viva a se fartar.

114 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 115


Meu espelho é você Você!

Q H
uando eu crescer, quero ser igual a você. Quero oje conheci pela tela de computador, alguém bem
ter a candura de seus olhos, o sorriso puro de seus especial. Não me falou nada, mas nos comunica-
lábios, a vivacidade de sua alma, a inocência de mos na linguagem dos anjos.
seus atos, a esperteza de seu raciocínio e a flexibilidade de Queria saber muito dele, todavia, o que me bastava saber,
seu corpo. foi-me dito por outra pessoa. Mesmo assim, já senti que o
Quero abraçar forte e beijar devagar. Quero ser a criança amor nos ligava.
que existe em mim e que é você.
Como pode um amor tão grande existir entre duas pes-
Sonhar para que se eu tenho você? soas distantes na idade cronológica?! Na verdade, nele
Eterna criança que me faz viver, e me fez renascer. existe um pouco de mim e, em mim, existe um muito
dele.
Minha pequena estrela, minha primeira neta. Você!
Seu nome?! Ainda não sei. Seus olhos? Sua pele? Seu sorri-
Maria Eduarda, água mais pura que brotou da fonte da vida
para me alegrar. so? Sua voz? Seus cabelos? Qual será sua comida favorita?
A música que mais vai ouvir? O sabor de seu abraço? Não
sei, mas quero que seja como Deus deseja e que venha com
saúde, que tenha paz, que ame o semelhante, que respeite a
natureza e que me faça rir e brincar, e rolar no chão, e fazer
castelos de areia e de sonhos.
Que sejamos mais amigos que vó e neto. Que seja feliz!

116 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 117


Hoje chorei de alegria ao te conhecer e oposto ao seu
tamanho físico de cerca de seis centímetros, é o meu amor
por você.
Eu te aguardo para te ter em meus braços em janeiro
próximo.
Solidão em São Paulo
Seja bem-vindo meu pequeno grande amor!

É
PS: 2016, quando via o meu Gabriel na tela de uma
tv, quando de uma ultrassonografia. quase meia-noite. A tevê está ligada. Notícias divul-
gadas no último noticiário dão conta de: roubos,
política, aumento de preços e promoções. Escuto
tudo, enquanto a casa dorme. Apenas eu acordada e pen-
sando nos caminhos da vida e nas distâncias entre mim e
os que amo.
Do alto do vigésimo oitavo andar, contemplo a maior cidade
da América Latina e vejo a lua.
Hoje o céu está limpo, feito a alma dos que somente amam.
Luzes piscam lá embaixo, carros vão e vêm, de lá para cá,
trazendo e levando o cansaço do dia, sonhos e desilusões.
Amanhã o sol sairá e me encontrará sorrindo para cada raio
de luz.
Em cada réstia de vida, sonho, vivo e amo.

118 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 119


Coração roendo Ser ou sentir

R F
uim é ter que sentir o coração doer rio está meu coração
Não somente dor emocional; Gelado como as gotas da chuva que cai.
A dor física Quentes estão meus pensamentos
A dor que vem do rancor Que como fornalha, queima minha razão.
A dor que vem do desamor Custo a crer que o amor puro acabou,
A dor que vem da escravidão. Que o fogo ardente da paixão
A dor que vem de pessoas queridas Que outrora queimou nossos corpos
A dor que vem de laços quebrados Hoje, em banho-maria se encontra.
A dor que vem sem pudor e sem temor. Vejo as primeiras rugas em meu rosto.
E por isso mesmo rasga o coração e deixa o ardor Face clara e pele limpa de outrora
A dor que dói. A dor que cala. Hoje marcada pelo tempo.
A dor que petrifica a alma O tempo cruel que nada perdoa
A dor que ensina a gemer.... A chorar.... A esperar... E leva com ele todo o vigor da mocidade
A dor da sensibilidade de saber ser dor Deixa comigo a amargura do arrependimento
A dor que se mistura com pavor. De não ter feito o que poderia
Pavor de sofrer. Pavor de querer. E de você. E ter vivido uma vida de covardia.
07/08/2007 De renúncia em favor do bem-amado

120 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 121


Que hoje olha e desdenha do passado.
Quão criativos são os apaixonados....
Tudo é belo e transformador para o ser amado.
Hoje procuro o ardor do meu passado
E vejo o frio congelar o meu retrato Se
Na retina cruel do amor que se foi
Deixando a minha alma com a luz do futuro
Escuro e certo como as rugas que desbotam

S
O meu rosto triste que um dia amou. e hoje eu pudesse não estaria aqui
JULHO 2001 Se o sol viesse, mesmo assim a lua eu escolheria.
Se a chuva caísse, preferiria o céu azul.
Se pudesse sentir, viver por mim,
Saberias que não gosto de viver sem ti
Mas, por que tantos “SE”?
Se ainda assim quisesses,
Poderias sim, estar aqui.
Se a distância não fosse tanta
Se os sonhos não fossem sonhos
Se a esperança não fosse vã,
Se seu sorriso não fosse lembrança,
Se suas lágrimas não quisessem secar,
Se o adeus não fosse até logo,
Mesmo assim pensarias se valeria a pena chegar.
E ficar. E viver. E sonhar.
14/09/2006

122 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 123


Querendo você Sentimentos

S Q
into o calor tomar conta de meu corpo. uem não os tem?
Vejo o rubor na minha face. Vem a todo o momento
Comprando a nossa vida. É um grito de dor
Meu coração calejado de amar, pensa em parar, mas É um suspiro de amor
os sonhos ainda latejam em meu coração e meu sangue É um gemido de prazer um sorriso de alegria
corre com vontade de desaguar no rio do prazer.
Preciso encontrar você! Preciso encontrar motivos para ver Todos os sentidos. Todos os sentimentos!
você correndo nos vales ou subindo nas montanhas gela- Gostaria eu de poder te dar o palpitar do meu peito
das de sonhos que congelaram no tempo, por medo de O amor e o prazer
tentar viver. O sobressalto de acordar
E de ter ao meu lado.
Se eu paro, me encontro buscando você! Assim quando pensares em mim,
Aonde vou?! O que vejo?! Lembrar-se-á do meu amor calado
Do meu corpo suado
Ando em círculos e em meus passos, só consigo voar no céu Do sussurrar abafado
azul da certeza de ser mulher. Do meu amor calado.

E logo que a noite chegue, pois ela não tardará,


Sentirás a solidão do prazer
Da música dos amantes
Da eterna volúpia do querer.

124 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 125


A isso tudo chamará de saudade
Sentimento que consola os amantes
E agoniza para todo o sempre
Na ânsia incansável do voltar
Que no barco da vida não mais virá.
12.08.2001 Quem sou eu?

T
u me perguntas quem sou, e sem saber o que dizer
respondo: sou tudo, sou nada, sou forte e sou fraca.
Sou eu e sou tu, sou vento, sou sol, sou mar, sou noite
e sou dia.
Sou esperança, alegria, vida, grito e silêncio.
Do nada sou tudo. Sou da dor ao prazer, do mar ao fogo,
paixão ardente...
Sou eu!
2007

126 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 127


Seca e chuva Soneto da dor

P O
ovo forte e sereno, é o povo nordestino. ontem chegou de mansinho e me levou,
Vem a seca, entristece, só não perde a esperança. Caí em seus encantos e me inebriei,
Sofre em prece, de fé se enche. Sonhei em silêncio um conto de fada,
Pede chuva e que venha bonança Cantei melodias e sussurrei.
Cobrindo a cinza poeirenta da seca maldita.
No hoje acordei sedenta de ti,
Dança, rir, canta e acredita.
Busquei em meu leito e não te encontrei.
A vida aqui é bela, pois sim.
Chamei bem baixinho seu nome e calei
Em fé, confiança, alegria e esperança,
E não encontrei quem tanto busquei.
Que um dia o sertão virará oásis
E a vida renasça em cada planta, Calei e chorei meu pranto de amor,
Em cada olhar, de cada homem, em cada coração. E amaldiçoei suas decisões
E a seca se vá, de vez do sertão. Queria você, com alma e calor!
Povo alegre é o do Nordeste.
E no amanhã não sei se acharei,
Que com brilho no olhar, se perde a ver
Você que perdi e que tanto busquei,
O verde brotar com as primeiras chuvas
Saudades, me acolhe, consola e me guia.
Onde a vida renasce no tórrido sertão.
31/05/2013

128 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 129


Desejo – 29/11/2013 Habib

Q V
ueria você em meus braços quentes eio pra mim e eu nem quis tanto.
Cabeça em meu peito, seu corpo no meu Chegou com seu cheirinho de novidades
Queimando de afeto, ternura e paixão. Alegrou o lar e encheu de esperanças
Para onde que foi tamanha tesão? Deu risos as crianças.
Não queria! Depois amei.
Hoje, porém, tenho que pedir
Seu modo de andar faceiro,
Pra Deus e pra mim, enfim decidir
Seu dengo pedindo carinho,
Pois, preciso ir à vida que passa
Seus olhos que tudo viam,
Tentar em seguir a trilha que vem
Sua inquietude travessa de correr, brincar e rolar.
E não sei se me leva a outros que abrace O tempo foi passando e o amor solidificando
Meu corpo cansado, sofrido de amor, E contagiando.
Ou, se de repente, decida ficar A dor de ver você perder seu rumo,
Bater a cabeça em portas,
Esperando afago carinho e calor
Não poder mais ver o sol e o mar,
Vou seguir e olhar os rastros marcados
Apenas sentir que era amado e, muitas vezes,
Para ver se seus passos, os meus seguirão.
Em seu canto ficava a esperar
Que aquelas crianças, hoje crescidas,

130 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 131


Depois de meses retornassem para assim,
Sorrir com o rabo, gemer de prazer,
Rolar e desenrolar na alegria de sentir,
Que amor nunca faltou.
Que saudades também sente. Voando sem você
Que esperar vale a pena.
Que ir, também implica em voltar.
Que nosso amor é grande e capaz de te guiar.

D
E na guia, te levar e trazer eixei meu coração seguir o vento
Num oceano de carinhos E me ditar os seus mandamentos
A leveza de saber que foi, que é e que será Correndo estradas, com algum intento
Nosso mais amado cãozinho de estimação. Navegando em seus anseios, no tempo.

E meu coração despedaçado


Continuou a buscar na quietude
Pelo amor negado, desconsolado,
Do horizonte da juventude

Sob luz e alegrias amarelas


Para colorir de vermelho a paixão
Te dei meus sonhos de criança por amor

Tive alegrias juvenis, desilusão e dor


Quando você de junto a mim voou
E carregou o muito de mim deixando somente o amor.

132 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 133


Devaneios Fogo ardente

T S
e dispo em pensamento e com meus olhos, into o calor tomar conta de meu corpo,
te desenho na cortina translúcida da lembrança. Vejo o rubor em minhas faces,
Busco sua sombra sob meus lençóis, Meu coração calejado de amar pensa em parar
Tateio no escuro por tua pele quente. Mas os sonhos ainda latejam em meu ser
Acabo deslizando em teu suor. O meu sangue querendo ser um rio do prazer.
Deliro na paixão de teus encantos, E eu querendo encontrar motivos para te ver.
Navego por entre algumas partes Corro por vales e montanhas geladas,
Que já não são suas De sonhos congelados por medo de tentar viver.
Mas que estão entranhadas em mim.
Se eu paro, me encontro buscando você.
E voo por sonhos de prazeres e sedução.
Se eu corro, caio tentando me encontrar em vão.
Acabo descansando na brisa do vento Aonde vou? O que vejo?
Envolta em seus abraços
Acordo! Estou só! Foi somente um devaneio! Ando em círculos e em meus passos,
Só consigo voar no céu azul
Da certeza de ser mulher. Sou.

134 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 135


De tanto amor Minha mão na sua

E S
u muito amei egure a minha mão!
E de tanto amar, esqueci de mim. Me leve a caminhar por caminhos retos
E quando me procurei Sobre a relva verde e o cheiro de mar.
Quase me perdi. Eu tanto amei Segure a minha mão!
E amar assim não é de todo ruim E me diga que caminho tomar
Pelo menos, pra mim. E eu seguirei seus passos,
Mas o todo do amor se partiu em pedaços E eu cantarei seu canto,
E despedaçada por dentro, desisti, enfim E eu beijarei seu beijo.
Segure a minha mão!
Do maior amor!
Me fale de ti e pergunte de mim.
De soluço e de dor
Em lágrimas salgadas o amor dormiu. E, no conhecimento dos nossos conhecimentos,
Descobriremos que nada sabemos.
Na distância dos olhos, Apenas somos.
Na instância das horas,
E nos entregaremos a paixão do amor,
No calar da canção, da saudade no peito.
Ao calor da paixão,
Ao calor do afã do desejo e do prazer.

136 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 137


Fale de mim!
Diga somente o doce que existe em nós
Do amargo dos meus beijos, não fale,
Ninguém precisa saber.
Pois talvez todos queiram sentir esse sabor Poema da estrada
Ou será que só tu conheceste o sabor do meu amor?
Prove! Prove as delicia de ter minha mão na sua,

F
Prove a segurança de ter meus beijos pra ti,
Prove novamente o sabor do meu amor. oi comprida a estrada até aqui.
Andei por pedras e sobre pedras,
Por estradas tortuosas,
Por caminhos e veredas.
De repente, me perdi, mas rápido me achei.
Sempre caminhei e, em alguns pontos,
Levantei-me e continuei.
Encontrei pessoas, perdi pessoas;
Vivi momentos, vivi amores;
Fiz amores e dissabores e continuei.
Se me perguntares se cansei,
Algumas vezes sim, noutras caminhei mais rápido.
Tive pesadelos, sonhos,
Busquei, achei, perdi.
Enfim, vivi, continuo vivendo,
Amando, sonhando, querendo.

138 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 139


Passei por caminhos difíceis.
Andei sobre tapetes vermelhos,
Pisei em escorpiões, cobras;
Engoli sapos, cuspi venenos.
Amei. Cheguei. Continuarei a caminhar. Velho Angico
Talvez, por mares, oceanos diversos
Por pensamentos bruscos.

Q
Viverei tendo sempre e sempre
mais amor e muito fôlego uando eu senti,
para assim continuar andando. Que estavas pouco a pouco definhando
Eu fiquei triste...Fiquei oh! Velho angico
Silenciosamente a dor fui suportando
Mas quando chegou o novo ano
Eu vi teus secos galhos renovando
E hoje já estás bem diferente.
Oh! Velho angico, estavas me enganando?
Tu não podes morrer, oh! Velho angico
Porque abalas o meu coração
E fazes falta aos passarinhos
Quando em seus galhos pousam alegremente.
Fica oh! Velho angico, eu te peço.
Quero que fiques ai, eternamente.
Tia Kerma Gomes

140 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 141


Das janelas de minha alma
Me pego dizendo adeus
E na despedida, carrego a alegria de amar
E ser amada eternamente.
Navegando em águas verdes A certeza de caminhos que podem se cruzar
E seguir na direção da felicidade que pode durar
Agora ou amanhã, pra sempre e em qualquer lugar

V
Saudades hão de me acompanhar
agueio no oceano das emoções, E uma melodia ainda soará para mim
A bordo de canções que entoamos juntos No amanhã incerto da certeza de acordar.
E no balanço das ondas de dias e noites. Sonhei!
Sou mais mar que terra E sigo navegando nas correntezas da vida.
Sou doce e sal
Mais você que eu!
Sou Lua. Fui sua!
Revejo retratos amarelados
Aonde a luz de seus olhos
Encontravam os meus.
E nossos sonhos voavam
Em asas de borboletas coloridas
Na direção das estrelas.
Fecho os olhos e sinto seus lábios.
Seu cheiro ainda está em mim
E meu corpo te chama!

142 | Sentimentos ao Vento Elizabete Gomes | 143

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