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Capítulo 1.

Elementos de história

Um exame abrangente do desenvolvimento da teoria da personalidade deve


certamente começar com as conceções do homem propostas por grandes estudiosos
clássicos, como Hipócrates, Platão e Aristóteles. Uma tradição de observação clínica,
começando com Charcot e Janet, mas incluindo especialmente Freud, Jung e
McDougall, fez mais para determinar a natureza da teoria da personalidade do que
qualquer outro fator isolado.

Uma segunda linha de influência vem da tradição Gestáltica e de William Stern.


Esses teóricos estavam muito impressionados com a unidade de comportamento e,
consequentemente, convencidos de que um estudo fragmentado de pequenos elementos
do comportamento jamais poderia ser esclarecedor. Esse ponto de vista está
profundamente inserido na atual teoria da personalidade. Também temos o impacto
mais recente da psicologia experimental em geral e da teoria da aprendizagem em
particular. Finalmente, a genética e a fisiologia desempenharam um papel crucial nas
tentativas de identificar e de descrever as características de personalidade. Tal influência
tem sido particularmente forte em modelos recentes, como os propostos por Eysenck e
os Cinco Grandes teóricos, mas também está clara no trabalho inicial de Freud e em
declarações como a de Henry Murray: “Nenhum cérebro, nenhuma personalidade.”

2. Que entendemos por ‘personalidade’?

A diversidade no uso comum da palavra personalidade pode parecer


considerável, no entanto ela é superada pela variedade de significados atribuídos ao
termo pelos psicólogos. É a reação dos outros indivíduos ao sujeito o que define a sua
personalidade. Podemos inclusive afirmar que o indivíduo não possui nenhuma
personalidade a não ser aquela proporcionada pela resposta dos outros. Allport contesta
vigorosamente a implicação de que a personalidade reside apenas no “outro-que-
responde”, e sugere ser preferível uma definição biofísica que baseie firmemente a
personalidade em características ou qualidades do sujeito. De acordo com essa última
definição, a personalidade tem um lado orgânico, assim como um lado aparente, e pode
ser vinculada a qualidades específicas do indivíduo suscetíveis à descrição e à
mensuração objetivas.

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Um outro tipo importante de definição é a globalizante ou do tipo coletânea.
Essa definição abrange a personalidade por enumeração. O termo personalidade é usado
aqui para incluir tudo sobre o indivíduo. O teórico comumente lista os conceitos
considerados de maior importância para descrever o indivíduo e sugere que a
personalidade consiste nisso. Outras definições sugerem que a personalidade é a
organização ou o padrão dado às várias respostas distintas do indivíduo.
Alternativamente, elas sugerem que a organização resulta da personalidade que é uma
força ativa dentro do indivíduo. A personalidade é aquilo que dá ordem e congruência a
todos os comportamentos diferentes apresentados pelo indivíduo.

Murray, na procura para a sua definição de personalidade, queria englobar a


história do organismo, a função organizadora da personalidade, os aspetos recorrentes e
novos do comportamento do individuo, a natureza abstrata ou conceitual da
personalidade e os processos fisiológicos subjacentes aos psicológicos. Daí ter surgido a
definição de personalidade, como a integração da variedade de tendências motivacionais
que resultam da interação de fatores biológicos e sociais.

Noutras definições, a personalidade é igualada aos aspectos únicos ou


individuais do comportamento. Nesse caso, o termo designa aquilo que é distintivo no
indivíduo e o diferencia de todas as outras pessoas. Finalmente, alguns teóricos
consideram que a personalidade representa a essência da condição humana. Essas
definições sugerem que a personalidade se refere àquela parte do indivíduo que é mais
representativa da pessoa, não apenas porque a diferencia dos outros, mas principalmente
porque é aquilo que a pessoa realmente é. A sugestão de Allport de que “a
personalidade é o que um homem realmente é” ilustra esse tipo de definição. A
implicação aqui é que a personalidade consiste naquilo que é, na análise final, mais
típico e característico da pessoa.

3. O Que é uma teoria e porque é útil?

Em primeiro lugar, uma teoria é um conjunto de convenções criado pelo teórico.


Compreender uma teoria como um “conjunto de convenções” enfatiza o fato de que as
teorias não são “dadas” ou predeterminadas pela natureza, pelos dados, ou por qualquer
outro processo determinante. Já que uma teoria é uma escolha convencional, e não algo
inevitável ou prescrito por relações empíricas conhecidas, a veracidade ou a falsidade
não são qualidades a serem atribuídas a uma teoria. Uma teoria só é útil ou inútil. Uma

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teoria, em sua forma ideal, deve conter duas partes: uma série de suposições relevantes
sistematicamente relacionadas uma à outra e um conjunto de definições empíricas.

O mais importante numa teoria é que ela leva à coleção ou à observação de


relações empíricas relevantes ainda não-observadas. Geralmente, o âmago de qualquer
ciência está na descoberta de relacionamentos empíricos estáveis entre eventos ou
variáveis. A função de uma teoria é promover esse processo de uma maneira
sistemática. A teoria pode ser vista como uma espécie de moinho de proposições,
moendo declarações empíricas relacionadas que podem então ser confirmadas ou
rejeitadas, à luz de dados empíricos adequadamente controlados. No entanto, uma teoria
têm mais funções, como por exemplo, permitir a “incomparação” de achados empíricos
conhecidos a uma estrutura logicamente consistente e razoavelmente simples; evitar que
o observador fique ofuscado pela complexidade total de eventos naturais e concretos.
Uma teoria é um meio de organizar e integrar tudo o que é conhecido sobre um conjunto
de eventos relacionados. A produtividade da teoria é testada antes-do-fato, não depois.

4. Relação entre as teorias da Personalidade e outras teorias psicológicas

Uma Teoria da personalidade deve consistir em um conjunto de suposições


referentes ao comportamento humano, juntamente com regras para relacionar essas
suposições e definições para permitir a sua interação com eventos empíricos ou
observáveis.

As teorias da personalidade encaixam-se claramente na primeira categoria: elas


são teorias gerais do comportamento. Essa simples observação serve para separar a
teoria da personalidade da maioria das outras teorias psicológicas. As teorias da
perceção, audição, memória, aprendizagem motora, discriminação e as muitas outras
teorias especiais dentro da psicologia são teorias de domínio único e podem ser
distinguidas da teoria da personalidade em termos de alcance ou abrangência. Elas não
têm a pretensão de ser uma teoria geral do comportamento e contentam-se em
desenvolver conceitos apropriados para a descrição e predição de uma série limitada de
eventos comportamentais.

Resta a pergunta sobre se existem teorias gerais do comportamento que


normalmente não seriam chamadas de teorias da personalidade. Uma possibilidade é a
teoria da aprendizagem ser em alguns casos suficientemente generalizada para constituir

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uma teoria geral do comportamento. Nesses casos, a teoria de aprendizagem deixa de
ser meramente uma teoria da aprendizagem e torna-se uma teoria da personalidade ou
uma teoria geral do comportamento. É verdade que tais modelos generalizados possuem
certas características distintivas que lembram sua origem, mas, em intenção e
propriedades lógicas, elas não são diferentes de qualquer outra teoria da personalidade.

A clareza e explicitação são uma questão de quão claramente e precisamente as


suposições e os conceitos inseridos que constituem a teoria são apresentados. Uma
distinção fundamental entre as teorias da personalidade tem relação com a extensão em
que o processo de aprendizagem, ou a modificação do comportamento. Outra diferença
entre teorias está na extensão em que elas adotam princípios holísticos, isto é, elas
consideram legítimo abstrair e analisar de modo que, em um dado momento, ou em um
estudo específico, seja examinada apenas uma pequena parte do individuo. Existe uma
distinção relacionada entre as teorias que lidam extensivamente com o conteúdo do
comportamento e a sua descrição e as que lidam principalmente com princípios gerais.

II. Análise e discussão das principais teorias da Personalidade

Capítulo 2. Freud e a teoria dinâmica da Personalidade

Segundo Sigmund Freud (1856-1936), as pulsões são responsáveis pelas


ações. Defende um modelo conflitual de motivação, que o comportamento é provocado
por impulsos inconscientes, com base biológica, que exigem gratificação. Quando essa
expressão é bloqueada, negociamos compromissos comportamentais centrados nas
substituições ou nas representações do objeto inicialmente desejado. À medida que
amadurecemos, ficamos mais capazes de adiar a gratificação até ao momento e lugar
apropriado. Tensões pulsionais surgem quando se acumula uma determinada quantidade
de energia. A psique está, segundo ele, empenhada em desfazer essa tensão, tendendo a
dissipá-la. A mais importante das pulsões é a sexual. Segundo Freud, imediatamente
após o nascimento, os seres humanos possuem apenas as pulsões ou instintos inatos.

A instância em que estas pulsões estão localizadas é denominada por ele de ID.
Por meio do contato com o mundo ambiente se constitui outra instância, o EGO em
alemão, que faz a mediação entre os desejos do ID e as exigências do mundo
circundante. Ademais postula ele como instância moral o superego, o qual constitui a
assim chamada consciência ou certeza moral. O superego surge da internalização das

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normas e dos valores sociais e paternos. É uma instância de controle, que vigia e
supervisiona o EGO e, por conseguinte, também o ID. Exerce uma influência decisiva
sobre a repressão ou o recalque, no subconsciente, das pulsões e dos desejos do ID.

A dinâmica da personalidade consiste na maneira como a energia psíquica é


utilizada pelo id, ego e superego. Uma vez que a quantidade de energia é uma
quantidade limitada, existe uma competição entre os três sistemas. À medida que um
sistema se torna mais forte, necessariamente os outros se tornam mais fracos a menos
que uma nova energia seja acrescentada ao sistema total. Posto isto, a dinâmica da
personalidade consiste na interação das forças pulsionais (ego) e das forças restritivas
(superego). Todos os conflitos da personalidade podem ser reduzidos à oposição entre
estes dois conjuntos de forças. Toda a tensão prolongada deve-se à oposição entre uma
força pulsional e uma força restritiva.

Segundo a teoria de Freud, a personalidade é condicionada pela ação conjunta e


pela expressão diferenciada das três instâncias. As satisfações das pulsões infantis
também desempenham um papel no desenvolvimento da personalidade. Se, numa
dessas fases, for concedido demais ao ID ou se, ao contrário, ele for reprimido, dá-se
então uma fixação na respetiva fase, o que leva à determinação do comportamento.
Freud afirma que a criança passa por diversos estágios de desenvolvimento,
descrevendo as fases Oral (época em que o bebe é totalmente dependente da mãe,
surgindo sentimentos de dependência; principal fonte de prazer é derivado da boca, por
exemplo, comer), Anal (a expulsão de fezes remove o desconforto e produz um
sentimento de alívio; a criança necessita de aprender a adiar o prazer que vem de aliviar
tensões anais), Fálica (sentimentos sexuais e agressivos associados ao funcionamento
dos órgãos genitais, prazer da masturbação e a vida de fantasia; filha aproxima-se do pai
e o filho aproxima-se mais da mãe) e Genital (o adolescente começa a amar os outros
por motivos altruístas; atração sexual, socialização, atividades grupais, relacionamentos,
etc.).

 ID – Sistema original da personalidade, matriz da qual se originaram o EGO e o


SUPEREGO. O id consiste em tudo o que é psicológico, que é herdado e que se
acha presente no nascimento, incluindo os instintos. Freud titulou o id como “a
verdadeira realidade psíquica” porque representa o mundo interno da
experiência subjetiva e não tem nenhum conhecimento da realidade objetiva.

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Opera pelo principio do prazer, ou seja, na redução da tensão. Parcialmente
inconsciente uma vez que os conteúdos tendem a subir à consciência, ou seja,
podem tornar-se conscientes.
 EGO – O Ego passa a existir porque as necessidades do organismo requerem
transações apropriadas com o mundo objetivo da realidade. Difere-se do id por
este só conhecer a realidade subjetiva da mente, ao passo que o ego distingue as
coisas na mente das coisas no mundo externo. Obedece ao principio da
realidade, tendo como objetivo evitar a descarga de tensão até ser descoberto um
objeto apropriado para a satisfação da necessidade, suspendendo,
temporariamente, o principio do prazer. O Ego é executivo da personalidade
porque ele controla o acesso à ação, seleciona as características do ambiente às
quais irá responder e decide que instintos serão satisfeitos e de que maneira.
Todo o seu poder deriva do id, quer atingir os objetivos do id, não os frustrar.
 SUPEREGO – Representante interno dos valores tradicionais e das ideias da
sociedade conforme interpretadas para a criança pelos pais impostos por um
sistema de recompensas e de punções; é a força moral da personalidade.
Representa o ideal mais do que o real e procura a perfeição mais do que o
prazer. A sua principal função é decidir se alguma atitude é certa ou errada, para
poder agir de acordo com os padrões morais autorizados pela sociedade,
desenvolvendo-se em resposta às recompensas e punições impostas pelos pais.
Com a formação do superego, o autocontrolo substitui o controlo parental. As
principais funções são: (1) inibir os impulsos do id, (2) persuadir o ego a
substituir objetivos realistas por objetivos moralistas e (3) procurar a perfeição.
O superego não se contenta apenas em adiar a gratificação instintiva, ele tenta
bloqueá-la permanentemente.

O ponto de contacto entre a energia do corpo e a da personalidade é o id e os


seus instintos.

Um instinto é definido como uma representação psicológica inata de uma fonte


somática interna de excitação. A representação psicológica é chamada de desejo, e a
excitação corporal da qual se origina é chamada de necessidade. Um instinto tem quatro
aspetos característicos: uma fonte, uma meta, um objeto e um impulso.

2. A Psicanálise do Eu

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O Eu tem a função de síntese do aparelho psíquico, faz a intermediação entre o
Isso, o Super eu e as exigências do mundo externo. O Eu foi, desde sempre, uma
organização para Freud, inclusive o Eu pré–metapsicológico de “Um projeto para uma
psicologia científica. Este é um Eu neurológico, pertencente ao sistema de neurônios
psi. Embora não tenha acesso direto ao mundo externo, sem ele não é possível dar-se o
teste de realidade, ou seja, não há a passagem do processo psíquico primário para o
secundário. Para que isso aconteça, faz-se necessária uma função de inibição por parte
do Eu. Ele inibe a realização do desejo, impedindo a regressão até o surgimento da
alucinação, propiciando assim o desenvolvimento do pensamento. Então, é desde lá que
o Eu tem a função de inibir.

Para Freud o Eu não é apenas essa consciência segura, firme que nos permite
discernir nossa interioridade, nossos sentimentos e pensamentos da realidade que nos
cerca, o mundo exterior.  Há algo de profundo, subterrâneo e irracional na noção de
Eu. Este sempre foi contra a ideia de um eu lógico, fixo e estável. O Eu não é algo
unitário, firme, seguro e autônomo, diferente de tudo mais.

O que chamamos de nossa consciência é continuado para dentro, sem qualquer


delimitação nítida, por uma entidade mental inconsciente denominado “Id”, região dos
impulsos, afetos e desejos. Essa nova instância descoberta pela psicanálise tornou
questionável a própria noção do que entendemos por Eu. Para Freud, é como se o
indivíduo existisse em duas dimensões: um lado consciente e outro inconsciente.

Toda a psicanálise se esforça como a tentativa de compreender o


desenvolvimento do Eu na sua luta pela existência.  O recém-nascido é incapaz de
distinguir o seu Eu do mundo externo, não há o sentimento da realidade como a fonte
das sensações. O primeiro momento em que o Eu percebe o mundo externo é através do
desprazer, quando uma fonte de prazer lhe é subtraída. No recém-nascido é retirado o
seio da mãe. Assim, a criança chora até que o tenha novamente. O seio é o primeiro
objeto que separa o Eu do mundo externo.

3. As teorias das relações objetais

As teorias das relações objetais se caracterizam pela sua forma de integrar


questões que dizem respeito à formação da personalidade buscando seus princípios na
infância, desta forma, apresentam seu enfoque crucial na compreensão de que no

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desenvolvimento e formação da personalidade pode-se incluir a capacidade e a
necessidade da criança perder o vínculo com a mãe, ou seja, o seu objeto primário,
objetivando desta forma, obter uma compreensão de si própria e articular vínculos com
outros objetos, que são as outras pessoas (SCHULTZ, 2009, p. 390).

Afirmam que o termo “teoria das relações objetais”, em seu sentido amplo,
refere-se a tentativas de responder a situação onde as pessoas interagem e reagem com
objetos externos e internos, e em que medida suas relações influenciam o
funcionamento psíquico. Importante relatar que os objetos internos são entendidos como
representações psíquicas de outras pessoas que influenciam as reações, perceções, os
estados afetivos do indivíduo (aspetos internos), bem como suas reações
comportamentais externas.

III. O inconsciente, as suas tradições e os âmbitos de estudo

Capítulo 3. Carl Gustav Jung e a Psicologia Analítica

É um conjunto de conhecimentos (teoria) que procura investigar e explicar a


estrutura e o funcionamento da psique e uma categoria de psicoterapia (prática)
formulada inicialmente pelo psiquiatra e psicólogo suíço Carl Gustav Jung. Após sua
morte, a Psicologia Analítica passa a receber reformulações pelos neojunguianos.
Introduz uma nova dimensão, o inconsciente. Tal dimensão vista como inatingível,
logo posta um pouco de parte.
Jung faz a distinção entre inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. O
inconsciente pessoal surge a posteriori ao nascimento como resultado das experiências
de vida do indivíduo (assemelha-se às noções de pré-consciente e inconsciente da
Psicanálise), experiências que foram conscientes mas que agora foram reprimidas,
suprimidas, esquecidas ou ignoradas e em experiências que foram a principio fracas
demais para deixar uma impressão consciente na pessoa.
Segundo Jung é fundamental a existência de complexos. Complexo é um grupo
organizado de sentimentos, pensamentos, perceções e memórias que existem no
inconsciente pessoal. Um complexo pode comportar-se como uma personalidade
autónoma com uma vida mental e um motor próprios.
O inconsciente coletivo surge a priori ao nascimento. É herdado de forma
psicológica e biológica, nasce com a criança. Reservatório de traços de memória latente
herdada do nosso passado ancestral, um passado que inclui não apenas a história racial

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dos seres humanos como uma espécie separada, mas também os seus ancestrais pré-
humanos ou animais. Herdamos a possibilidade de reviver experiências de gerações
passadas. É, portanto, um material inato da psique. É formado pelos arquétipos, núcleos
instintivos, passados de geração a geração (psíquica e biologicamente). São formas de
universais de pensamento (ideias) que contêm um grande elemento de emoção; cria
imagens ou visões que correspondem na vida normal, algum aspeto da situação
consciente. Funcionam como centros de energia autónomos que tendem a produzir, em
cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências.
O arquétipo da persona é uma máscara adotada pela pessoa em resposta às
demandas das convenções e das tradições sociais e às suas próprias necessidades
arquetípicas internas. É o papel atribuído a alguém pela sociedade, papel esse que a
sociedade espera ser cumprido. O propósito é causar uma impressão definida aos outros
e muitas vezes, embora não necessariamente, oculta a natureza dessa pessoa.
Quanto ao arquétipo anima e animus, o arquétipo feminino no homem é
chamado de anima e o arquétipo masculino na mulher é chamado de animus. Sendo que
o homem apreende a natureza da mulher por meio de sua anima, e a mulher apreende a
natureza do homem por meio do seu animus. Por outras palavras, ao viver com a
mulher, o homem feminilizou-se; ao viver com o homem, a mulher masculinizou-se.
A sombra, outro arquétipo, consiste nos instintos animais que os humanos
herdaram com a sua evolução a partir de formas inferiores de vida. Representa o lado
animal da natureza humana. É responsável pelo aparecimento, na consciência, de
pensamentos, sentimentos e ações desagradáveis e, socialmente, repreensíveis. A
sombra é o anti-persona.
O arquétipo self representava o anseio humano de unidade. Jung considerava-o
como equivalente à psique ou à personalidade total. O self é o ponto central da
personalidade do qual todos os outros sistemas estão constelados, permitindo uma
síntese entre consciente e inconsciente. O Self é a meta da vida que as pessoas
procuram, mas que muitas vezes não a encontram. Como todos os arquétipos, motiva o
comportamento humano e provoca uma procura pela integralidade.
O arquétipo de Deus mostra que todas as religiões são fundamentais para o
desenvolvimento psíquico do ser humano. Jung põe Deus dentro dos arquétipos para
mostrar que faz parte da experiência humana, pondo Deus na mesma linha que o resto
dos outros. Por fim, o arquétipo da relação. Esta engloba 3 agentes, o Eu, o Tu e o Nós.

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O Tu faz parte da identificação e na construção do Eu, mesmo que haja ausência dos
mesmos.
Duas grandes atitudes, a extroversão (orienta a pessoa para o mundo externo,
objetivo) e a introversão (orienta a pessoa para o mundo interior, subjetivo), traços da
atitude – hábito (repetir uma dada experiência e consolidá-la, podendo ser adaptativos
ou não).
Existem 4 funções psicológicas fundamentais: pensamento (ideacional e
intelectual; ao pensar, os seres humanos tentam compreender a natureza do mundo e de
si mesmos), sentimento (avaliar as coisas; dá ao humano as experiências subjetivas, do
prazer, da dor, de medo, raiva, etc.), sensação (função percetual ou da realidade,
transmitindo os fatos ou as representações concretas do mundo) e intuição (perceção por
meio de processos inconscientes e de conteúdos sbliminares).
Conceitua a libido como energia psíquica (energia vital) que inclui não apenas a
sexualidade, mas, também, outros elementos: instintos de sobrevivência (sede, fome,
agressividade, necessidade de proteção física, etc.), a busca de relações afetivas e
sociais, do desenvolvimento pessoal, do conhecimento de si mesmo e da experiência
numinosa. Jung aponta que para muitas pessoas a vivência da sexualidade e a busca
espiritual são consideradas como algo antagônico (contraditório) uma vez que tais
pessoas associam a sexualidade ao pecado (algo, então, contrário à espiritualidade).
Nesse ponto, Jung indica que uma vida saudável (não neurótica) permite a integração
entre a sexualidade e a espiritualidade. Tanto a vivência de uma sexualidade satisfatória
como da experiência espiritual é necessária ao equilíbrio (homeostase) psicofisiológico.
A psicoterapia de Jung sustenta-se no processo de interiorização, em que o
processo de individuação é um processo para toda a vida.
Jung considera os sonhos como sendo prospetivos assim como retrospetivos em
conteúdo e compensatórios para aspetos da personalidade do sonhador negligenciados
pela vida.

6. Fenomenologia e Psicologia humanística: introdução histórica

Edmund Husserl é o fundador da Fenomenologia, método de investigação


filosófica, e foi ele quem estabeleceu os principais conceitos e métodos que seriam
amplamente usados pelos filósofos desta tradição.

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Ao propor o seu conceito de fenomenologia, Edmund Husserl apresenta-o como
um contraponto à crise das ciências modernas, a saber, o naturalismo e o psicologismo
puramente empirista emergente na época, que desejava ser a base de todas as ciências
humanas.
A Fenomenologia centra-se na pessoa, na experiência e na autoexpressão. Possui
uma perspetiva de compreender os fenómenos observados. A fenomenologia engloba
quatro componentes: 1. Fenómenos assim como acontecem evitando qualquer tipo de
reducionismo; 2. Consciência; 3. Intersubjetividade (possibilidade de conhecimento e
compreensão de nós mesmos; possibilidade de relacionamento) e 4. Intencionalidade do
comportamento.
A Psicologia Humanista apareceu nos EUA no final dos anos 50 e início dos
anos 60, com as primeiras publicações de Abraham Maslow sobre a motivação no
estudo da personalidade e a consequente formulação do conceito de autorrealização.
Reunidos por uma Associação e com uma publicação própria, o movimento
humanista em psicologia “concede prioridade à validez da experiência humana, aos
valores, intenções e significados da vida”.
Do ponto de vista histórico, todavia, concorda-se que Maslow foi, com toda
propriedade, o principal nome de referência na fundação da Psicologia Humanista.
Assim, a Psicologia Humanista, dentro do momento dos EUA nas décadas de 60
e 70, nada mais foi do que uma das respostas aos apelos daqueles anos turbulentos. Ela
tinha como fios condutores básicos uma crítica ao modelo científico que vigorava até
então em psicologia (de inspiração positivista e tendo as ciências naturais como
modelos de como se fazer ciência) e uma perspetiva acerca do humano como livre e
responsável.
7. A psiquiatria fenomenológica: Binswanger

Ludwig Binswanger (1881-1966), médico suíço com formação psiquiátrica junto


a Bleuer e a Jung, no Hospital Burghölzli. Iniciou a sua carreira aderindo à proposta
clínica psicanalítica, mas foi gradualmente afastando-se das proposições
metapsicológicas de Freud, à medida que os seus estudos da fenomenologia de Husserl
e da ontologia fundamental de Heidegger iam se aprofundando. No seu texto “Analyse
Existentielle et Psychothérapie”, Binswanger retoma uma comunicação feita no
Congresso Internacional de Psicoterapia em Barcelona em 1958, em que deixa clara a
sua divergência em relação à psicanálise: Apesar de toda a nossa admiração pela obra de

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Freud e toda a estima pela importância gigantesca da psicanálise no plano da
psicoterapia, a nossa formação filosófica não nos permitiu reconhecer as suas hipóteses
filosóficas, particularmente no que concerne à relação entre corpo e alma, entre o
instinto e o espírito.

Ao contrário da psicanálise, que havia sido criada por Freud a partir de uma
preocupação terapêutica, a análise existencial de Binswanger teria sido inicialmente um
novo método de pesquisa, que pretendia contrapor-se ao da psiquiatria tradicional: “A
direção de pesquisa analítico existencial em psiquiatria surgiu da insatisfação quanto
aos projetos de compreensão científica da psiquiatria da época” . Isto explica o caráter
mais completo e elaborado da psicopatologia decorrente da análise existencial
binswangeriana do que suas teorizações sobre a psicoterapia propriamente dita, tendo
em vista que só secundariamente ela se teria organizado como proposta de tratamento.
A Daseinsanalyse de Binswanger instituiu um corte na tradição médica e psiquiátrica da
psicopatologia. A Psicopatologia como um campo diferenciado do saber na perspetiva
de sua Daseinanalyse e de sua antropologia fenomenológica Binswanger defendeu a
ideia – já defendida anteriormente por Jaspers, embora sobre outras bases – de se
especificar a psicopatologia em um campo diferente do das ciências naturais, que
entendiam o homem como um sistema de funções de ordem orgânica ligadas a
processos naturais no tempo. A sua proposta da antropologia fenomenológica deveria
ser a disciplina para fundar a psicopatologia e a psiquiatria tendo em vista que “vê nele
[o homem] um ser pessoal que vive sua vida e cuja continuidade – não somente vivida,
mas se vivendo, ela mesma – se desdobra em história”. No seu famoso texto Fonction
vitale et histoire inté- rieure, publicado em Introduction a l’Analyse Existentiele,
Binswanger reconhece a contribuição metodológica de Jaspers em relação à distinção
entre relações de causalidade e de compreensão no campo do acontecer psíquico.

As relações causais referem-se aos factos concretos que estabelecem conjunções


constantes com o surgimento de certos quadros mentais. As relações de compreensão
visam a dar conta do encadeamento psíquico de uma forma compreensível para nós.
Procurando a superação desta discussão que remete à dualidade físico x psíquico:
Binswanger propõe que se examine, em seu lugar, a questão mais fundamental: aquela
do Ser e das relações do fenómeno psicopatológico com a existência do que padece.
Dessa forma a análise existencial abriria a possibilidade de um olhar sobre a totalidade
da existência do homem. A dimensão histórica, anteriormente evocada, é decisiva no

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pensamento binswangeriano, na medida em que se apoia na Daseinsalytik de Heidegger
para construir suas próprias bases teóricas e metodológicas de abordagem da
psicopatologia. Dessa forma, o projeto de Binswanger consistia, antes de tudo, em
prover a psiquiatra e a psicopatologia de um fundamento epistemológico e
metodológico que pudesse dar conta da dimensão propriamente existencial do homem, o
que o levou a uma singular aproximação de Freud com Heidegger, da psicanálise com a
fenomenologia. Surgiria, assim, a proposta de uma análise existencial e sua conceção da
clínica e da psicoterapia iria, aos poucos, portando as marcas dessa exigência ético-
intelectual.

8. As teorias clínicas da Psicologia humanística: Rogers e Rollo May

A teoria de Carl Rogers clarifica que a ênfase deve estar no organismo e não no
self. Rogers identificou-se com a orientação humanista da psicologia contemporânea. A
psicologia humanista é mais esperançosa e otimista em relação ao ser humano.
O organismo é o foco de toda a experiência. A experiência inclui tudo o que está a
acontecer dentro do organismo em qualquer momento dado e que está potencialmente
disponível para a consciência. Esta totalidade constitui o campo fenomenal, que só pode
ser conhecido pelo próprio individuo.
Segundo Rogers aquilo que uma pessoa experiencia ou pensa, na verdade, não é
realidade para a pessoa: é meramente uma hipótese provisória sobre a realidade, uma
hipótese que pode ou não ser verdade. A pessoa suspende o julgamento até testar a
hipótese. O teste consiste em verificar informações menos certas com conhecimentos
mais diretos. “A pessoa total” para Rogers “é aquela que está completamente aberta aos
dados da experiência interna e aos dados da experiência do mundo externo”.
Para Rogers, o conceito de empatia diz respeito à capacidade relacional do ser
humano e só é possível quando há uma possibilidade concreta de poder fazer uma
distinção entre as nossas experiências e as experiências profundas do outro, o que
implica um nível de autoconhecimento avançado.
Quanto a Rollo May, este era defensor da valorização do humano como detentor
de potencialidades de crescimento e como uma totalidade existencial responsável por si
mesma. May possuía um modo diferente de perceber o humano nas suas dimensões
trágicas, além de vê-lo como, simultaneamente, padecendo de um dilema, ao mesmo
tempo, entre ser sujeito e ser objeto. Dilema em que não se escolhe apenas um dos

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termos da questão, mas vivenciando-os enquanto polos numa situação irresolvível de
perene tensão.
May alerta-nos que se nos livrarmos da hipótese do inconsciente “ficaremos
mais empobrecidos, ao perdermos grande parte e significação da experiência humana”.
No entender de May, o humano, ainda que pese a possibilidade de possuir dimensões
“mais profundas”, ele pode ascender a uma “conscientização”, isto é, à perceção clara
de que existe uma distância (não uma cisão) entre nós e o mundo que nos rodeia.
Capitulo 4. Teorias Psicológicas Sociais
Alfred Adler (1870-1937) foi o grande impulsionador do Self Criativo. É algo
que intervém entre os estímulos que agem sobre a pessoa e as respostas dadas pela
pessoa a esses estímulos. A doutrina de um self criativo afirma que os humanos fazem a
sua própria personalidade, construindo a partir do material bruto da hereditariedade e da
experiência. O self criativo dá significado à vida, cria metas, assim como meios para as
metas; é o principio ativo da vida humana.
O tema essencial de toda a obra de Erich Fromm (1900-1980) é que a pessoa
sente-se solitária e isolada porque se separou da natureza e das outras pessoas. A
condição de isolamento não é encontrada em outras espécies animais, é distintiva da
situação humana.
Segundo Karen Horney (1885-1952), as crianças experienciam naturalmente
ansiedade, desamparo e vulnerabilidade – Adler, de maneira muito semelhante,
descreveu a inferioridade como uma experiência infantil. Horney afirma existir 10
necessidades neuróticas: (1) necessidade neurótica de afeição e aprovação; (2) de um
“parceiro” que assuma a vida da pessoa; (3) de restringir a vida a limites estreitos; (4)
do poder; (5) de explorar os outros; (6) de prestígio; (7) de admiração pessoal; (8)
realização pessoal; (9) de autossuficiência e de independência; (10) de perfeição e não
vulnerabilidade. Enfatizou, também, uma estratégia alternativa de manejo por parte do
neurótico: ele pode, defensivamente, afastar-se do self real e procurar alguma
alternativa idealizada; a alineação como a consequência da tentativa da criança lidar
com a ansiedade básica.
Harry Stack Sullivan (1892-1949) insistia que a personalidade é uma entidade
puramente hipotética, “uma ilusão”, que não pode ser observada ou estudada à parte de
situações interpessoais. A unidade de estudo é a situação interpessoal, e não a pessoa; é
o centro dinâmico de vários processos que ocorrem numa série de campos interpessoais.
Um dinamismo é a menor unidade que pode ser empregada no estudo do individuo. É

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definido como “o padrão relativamente duradouro de transformações de energia, que
recorrentemente caracteriza o organismo na sua duração como um organismo vivo”
(Sullivan, 1953); pode ser manifesto em publico (falar) ou oculto e privado
(pensamentos, fantasias). O auto sistema, como guardião da segurança, tende a isolar-se
do resto da personalidade; exclui informações que são incongruentes com a sua presente
organização e deixa, portanto, de beneficiar-se da experiência. Uma personificação é a
imagem que o individuo tem de si mesmo ou de outra pessoa. É um complexo de
sentimentos, atitudes e conceções que decorrem de experiencias de satisfação de
necessidades e de ansiedade. Sullivan proponha também processos cognitivos. Concebia
a personalidade como um sistema de energia cujo principal trabalho consiste em
atividades que irão reduzir a tensão. Considerava a personalidade de uma perspetiva de
estágios de desenvolvimento, antes do estágio final da maturidade: (1) infância, (2)
meninice, (3) idade juvenil, (4) pré-adolescência, (5) adolescência inicial e (6)
adolescência final.

Capítulo 5. Erik Erikson


Erik Erikson enfatizou a influências sociais na personalidade, mais do que as
biológicas ao desenvolvimento humano, propondo a teoria Psicossocial. Considera a
natureza que orienta o desenvolvimento ser de origem psicossocial e não libidinal.
Perspetiva do nascimento até à morte através de 8 estádios ao longo da vida,
defendendo que este é influenciado por fatores biológicos, individuais e sociais. Cada
fase envolve a resolução de uma crise psicossocial. O modo como cada crise é resolvida
é influenciada pela experiência de resolução de crises anteriores e irá influenciar a
resolução dos conflitos posteriores.

Estádios de Erikson + crises psicossociais:

 1º idade: 0-18 meses; confiança vs desconfiança

A criança adquire ou não uma segurança e confiança em relação a si próprio e


em relação ao mundo que a rodeia, através da relação que tem com a mãe.

 2º idade: 18-3 anos; autonomia vs dúvida/vergonha

É caracterizado por uma contradição entre a vontade própria (os impulsos) e as


normas e regras sociais que a criança tem que começar a integrar. É altura de explorar o

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mundo e o seu corpo e o meio deve estimular a criança a fazer as coisas de forma
autônoma, não sendo alvo de extrema rigidez, que deixará a criança com sentimentos de
vergonha.

 3º idade: 3-6 anos; iniciativa vs culpa

É o prolongamento da fase anterior, mas de forma mais amadurecida: a criança


já deve ter capacidade de distinguir entre o que pode fazer e o que não pode fazer. Este
estágio marca a possibilidade de tomar iniciativas sem que se adquire o sentimento de
culpa

 4º idade: 6-12 anos; produtividade vs inferioridade

A criança percebe-se como pessoa trabalhadora, capaz de produzir, sente-se


competente.

 5º idade: 12-18/20 anos; identidade vs difusão/confusão

É neste estágio que se adquire uma identidade psicossocial: o adolescente


precisa de entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua singularidade. Há
uma recapitulação e redefinição dos elementos de identidade já adquiridos – esta é a
chamada crise da adolescência.

 6º idade: 18/20-30/35 anos; intimidade vs isolamento

A tarefa essencial deste estágio é o estabelecimento de relações íntimas


(amorosas, e de amizade) duráveis com outras pessoas.

 7º idade: 30/35-60/65 anos; generatividade vs estagnação

É caracterizado pela necessidade em orientar a geração seguinte, em investir na


sociedade em que se está inserido. É uma fase de afirmação pessoal no mundo do
trabalho e da família.

 8º idade: >65 anos; integridade vs desespero

É favorável uma integração e compreensão do passado vivido. É a hora do


balanço, da avaliação do que se fez na vida e sobretudo do que se fez da vida.

Capitulo 6. A personologia de Murray

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As ideias de Murray foram influenciadas pela teoria psicanalítica. Este
reconhecia que a personalidade, normalmente, está em um estado de fluxo. (estrutura da
personalidade) Os principais componentes desta definição podem ser resumidos assim:
a personalidade de un indivíduo é uma abstração formulada pelos teóricos e não
simplesmente uma descrição do comportamento do indivíduo; refere-se a uma série de
eventos que idealmente abrangem toda a sua vida "a história da personalidade é a
personalidade"; uma definição da personalidade deve refletir os elementos duradouros e
recorrentes do comportamento, bem como os elementos novos e únicos; a personalidade
é o agente organizador ou governador do indivíduo; As funções são integrar os conflitos
e as limitações aos quais o indivíduo está exposto; a personalidade está localizada no
cérebro "nenhum cérebro, nenhuma personalidade". Murray estava fortemente orientado
para uma visão que desse um peso adequado à história do organismo, à função
organizadora da personalidade, aos aspetos recorrentes e novos do comportamento do
indivíduo, à natureza abstrata ou conceitual da personalidade e aos processos
fisiológicos subjacentes aos psicológicos. (definição de personalidade)

Se aceitarmos a personalidade como um fenómeno em constante mudança,


existem certas estabilidades ou estruturas que aparecem ao longo do tempo e são
cruciais para entendermos o comportamento. Desta forma Murray, utilizou os termos
ego, id e superego. Concorda com Freud na conceção do id (é o repositório de impulsos
primitivos e aceitáveis). É a origem da energia, a fonte de todos os motivos inatos, o self
cego e não- socializado. Também inclui impulsos que são aceitáveis para o self e para a
sociedade. "parece melhor pensar no id como consistindo em todas as energias,
emoções e necessidades básicas da personalidade, algumas das quais são aceitáveis e
outras inaceitáveis. A maioria é aceitável quando expressa em uma forma culturalmente
aprovado, em um lugar culturalmente aprovado e em um momento culturalmente
aprovado. Assim a função do ego não é tanto a de suprimir as necessidades instintuais
quanto a de adequá-las, moderando a sua intensidade e determinando os modos e os
momentos de sua realização". O superego é considerado um implante cultural.
(elementos estáveis da personalidade)

A sua posição relativamente à teoria psicológica é primeiramente uma psicologia


motivacional. No estudo das tendências direcionais da pessoa, está a chave para a
compreensão do comportamento humano. A coisa mais importante que temos que
descobrir sobre uma pessoa é a direccionalidade, supra- ordenada das suas atividades,

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sejam elas mentais, verbais ou físicas. Relativamente à importância da análise
motivacional, ele insistia que uma compreensão adequada da motivação humana deveria
basear-se num sistema que empregasse um nº de variáveis suficientemente grande para
refletir, pelo menos parcialmente, a imensa complexidade dos motivos humanos em
estado natural. Resumindo, existe motivação consciente e inconsciente. A falta de
motivação leva a uma estagnação. (dinâmica da personalidade)

A necessidade pode ser fraca ou intensa, momentânea ou duradoura. O conceito


de necessidade, recebe um status abstrato ou hipotético, estando vinculado a processos
fisiológicos subjacentes no cérebro. (necessidade)

Necessidades primárias estão ligadas a eventos orgânicos característicos e


referem-se tipicamente a satisfações físicas. As necessidades secundárias caracterizam-
se pela ausência de uma conexão focal com qualquer processo orgânico ou satisfação
física específica. Existem também necessidades aparentes e necessidades ocultas e estas
podem ser expressas de forma mais ou menos direta e imediata e aquelas que
geralmente são contidas, inibidas ou reprimidas. Necessidades focais e as difusas.
Necessidades pró-ativas (determinada a partir do interior) e as necessidades reativas
(ativadas em resultado de/ ou em resposta a algum evento ambiental. (tipos de
necessidade)

Capítulo 7. A psicologia do indivíduo de Allport

A estrutura da personalidade é primariamente representada em termos de traços


e, ao mesmo tempo, o comportamento é motivado ou impulsionado pelos traços. Ele
considerava conceitos tão segmentais como reflexos específicos e tão amplos como
traços cardinais ou o self como importantes para se entender o comportamento, e via os
processos referidos por esses conceitos como operando dentro do organismo de uma
maneira hierárquica, de modo que os mais gerais normalmente têm precedência sobre os
mais específicos. Cada conceito tem alguma utilidade: reflexo condicionado, hábito,
traço, self e personalidade. A teoria deste é muitas vezes referida como uma psicologia
do traço. (estrutura e dinâmica da personalidade- perspetiva fenomenológica).

Para este "a personalidade é a organização dinâmica, dentro do indivíduo,


daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente"
(personalidade)

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Carácter tinha relação com um código de comportamento em termos do qual os
indivíduos ou os seus atos são avaliados. Allport sugeriu que carácter é um conceito
ético e que é preferivel definir o carácter como a personalidade avaliada, e a
personalidade como o carácter sem valorização. (carácter)

Temperamento refere-se àquelas disposições ligadas a determinantes biológicos


ou fisiológicos, que mudam relativamente pouco com o desenvolvimento. O
temperamento é a matéria prima. (temperamento)

O traço é definido como uma estrutura neuropsíquica capaz de tornar muitos


estímulos funcionalmente equivalentes, e de iniciar e orientar formas equivalentes de
comportamento adaptativo e expressivo. A disposição pessoal é definido como uma
estrutura neuropsíquica generalizada capaz de tornar muitos estímulos funcionalmente
equivalentes, e de iniciar e orientar formas consistentes de comportamento adaptativo e
estilístico. Um traço pode ser compartilhado por vários indivíduos. (traço)

Uma atitude também é uma predisposição, ela também pode ser única, pode
iniciar ou orientar o comportamento, e é produto de fatores genéticos e de
aprendizagem. A atitude está ligada a um determinado objeto ou à classe de objetos,
enquanto o traço ou a disposição não. É mais semelhante de um traço; predisposição
para a resposta; fatores genéticos mais fatores adquirídos.

Os hábitos são estruturas mais básicas e daqui pode originar-se um traço de


personalidade.

Mais importante do que a busca do passado ou da história do indivíduo é a


simples pergunta sobre o que o indivíduo pretende ou busca no futuro. A teoria afirma
que aquilo que o indivíduo está a tentar fazer é a chave mais importante sobre como a
pessoa vai comportar-seno presente. (intenções)

Allport propôs que todas as funções do self ou do ego que foram descritas
fossem chamadas de funções próprias da personalidade. Juntas pode-se dizer que
constituem "o proprium". Este não é inato, mas desenvolve-se ao longo do tempo.
Durante os primeiros 3 anos aparecem os 3 desses aspetos: um senso do self corporal,
senso de auto- identidade contínua, e auto- estima ou orgulho. Entre os 4 e 6 anos
aparecem 2: extensão do self e a auto- imagem. Entre os 6 e 12 a criança percebe que é
capaz de lidar com os problemas por meio da razão e do pensamento. Durante a

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adolescência surgem as intenções, os propósitos a longo prazo e as metas distantes, ou
seja, anseios próprios e constituem o proprium. A maturidade implica uma crescente
confiança em padrões pessoais ou em termos de comportamento. (o proprium)

III. Teoria dos 5 fatores

Capitulo 8. Teoria de Traço Fatorial-Analítica

Partimos de um estudo estatístico para estruturar um sistema teórico, para


formular hipóteses acerca do funcionamento compreensivo da personalidade. Uma
teoria seria apenas uma orientação para a formação de hipóteses, não considera a análise
estatística como um instrumento estatístico absoluto.

Teoria de Eysenck:

Objetivo de formular leis gerais que regulam o desenvolvimento e o


comportamento para chegar a uma explicação exaustiva da personalidade global. Assim
chega dois fatores: extroversão/introversão e neuroticíssimo. Mais tarde, um 3º fator
Dado em
psicoticíssimo. Nestes fatores podem depender várias tipologias e traços de aula
personalidade. Os traços de personalidade são tendências internas; reconhecemos os
fatores através das reações ou respostas. Reações e respostas semelhantes, os tipos estão
ao nível intermédio entre os fatores e os traços; são o agregado de vários traços.

Teorias factoriais/Big Five:

Encontrar aqueles fatores estruturantes e universais: (1) extroversão/introversão,


(2) hostilidade/amabilidade, (3) pessoa extremamente conscienciosa/responsável, (4)
instabilidade/estabilidade emocional, (5) o mais problemático, inteligência de ler as
situações/cultura/abertura para a experiência/criatividade.

Em 1995, alguns defensores do FFM propõem um modelo geral de teorias da


personalidade (definição dum quadro de referência para a construção de qualquer teoria
da personalidade). Assim, uma teoria dos Big Five teria, obrigatoriamente, de ser
estruturada, a partir dos elementos definidos, nesse referencial teórico.

No que a este diz respeito, o esforço dos autores orienta-se, no sentido de


identificar «as categorias de variáveis, que uma teoria da personalidade completa deve
abarcar». Tais variáveis estruturantes representariam os «constituintes básicos e

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universais» de grande parte das teorias da personalidade conhecidas, podendo reduzir-se
às seguintes: tendências básicas, adaptações características, autoconceito, biografia
objectiva e influências externas. Estas tendências básicas são o equivalente ao que
Rogers entende por ‘organismo’ e muitos autores referem como o núcleo da
personalidade. As manifestações concretas das tendências básicas são as adaptações
características – as competências, hábitos e atitudes, que resultam da interação do
indivíduo com o seu ambiente e que explicam como as dimensões universais da
personalidade podem existir numa grande diversidade de culturas.

Autoconceito: Trata-se de conhecimentos, perspetivas e avaliações relativas ao


próprio eu, cuja influência na dinâmica da personalidade foi fortemente sublinhada por
vários autores, entre os quais Rogers se destaca.

Biografia objetiva: é composta pela totalidade de sentimentos, pensamentos e


ações de um indivíduo, desde o início, até ao fim da sua vida: os seus comportamentos
manifestos, e bem assim os seus sonhos, os seus sentimentos de medo ou de alegria
mais íntimos.

Influências externas: incluem as influências desenvolvimentistas e as


circunstâncias atuais, tanto ao nível geral como específico.

A partir do quadro de referência composto pelos cinco elementos ou categorias,


acabados de apresentar, podem construir-se diferentes teorias. No artigo de 1995 e nos
subsequentes (e.g., 1996), os autores em consideração, dando corpo ao referido modelo
adiantam «a teoria dos cinco fatores da personalidade»

Assim, no grande agrupamento das tendências básicas, encontraríamos, por


exemplo, as características genéticas e físicas e os traços da personalidade; nas
adaptações características, variáveis como as competências adquiridas (linguagem,
competências técnicas e sociais), as atitudes e as crenças; no autoconceito, os pontos de
vista implícitos e explícitos sobre o eu, a identidade e a autoestima; na biografia
objetiva, o curso de vida (os percursos de carreira profissional, os acidentes históricos) e
o comportamento manifesto; nas influências externas, variáveis desenvolvimentistas
(relações pais/filhos, educação, socialização, mediante os colegas) e macro (cultura e
subcultura) e micro ambientais (reforços e punições). Subjacentes às categorias, haveria
um certo número de postulados específicos:

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Tendências Básicas: os autores enunciam postulado de que todos os adultos
podem ser caracterizados pela sua posição diferencial num conjunto de traços de
personalidade, que influenciam os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos.
Apresentando um índice considerável de heritabilidade, os traços desenvolver-se-iam, a
partir da infância, para atingirem a maturidade, na idade adulta: depois dos trinta anos,
sensivelmente, manter-se-iam estáveis.

Adaptações Características: um postulado é o de que, ao longo do tempo, os


indivíduos reagem em relação ao seu ambiente, desenvolvendo sentimentos e
comportamentos, condizentes com os seus traços de personalidade (os extrovertidos, por
exemplo, entram para clubes sociais e aprendem a dançar). Todavia, em qualquer
momento, podem surgir incompatibilidades/desadaptações entre as tendências do
indivíduo e o seu próprio ambiente, conduzindo, em casos extremos, a desordens da
personalidade.

Auto-Conceito: postula-se que as pessoas mantêm uma visão cognitivo-afetiva


delas mesmas (um esquema do eu) e que a informação é por ele selecionada, tendo em
conta a sua consistência com os traços de personalidade e o sentido íntimo de coerência
do indivíduo.

Biografia Objetiva: parte-se do princípio de que ela é multideterminada, no


sentido de que um dado comportamento é função de todas as adaptações características
evocadas pela situação. Por outro lado, ele está também dependente dos planos e metas
pessoais, que organizam a ação, a longo termo e de forma condizente com os traços de
personalidade.

Influências Externas: concebem-se elas em interação com os dinamismos


próprios dos outros níveis da personalidade. Porém, cada indivíduo tem também parte
ativa na construção do seu próprio ambiente, de maneira condizente com os seus traços
de personalidade, ao passo que, coletivamente, as pessoas criam sociedades e culturas,
que permitam a expressão desses mesmos traços de personalidade.

Finalmente, estas diferentes categorias, como já foi referido, inter-relacionam-se,


através dos Processos Dinâmicos. Quanto a estes, postula-se que o indivíduo
continuamente cria e recria ‘adaptações’, que expressa, através de pensamentos,
sentimentos, e comportamentos, regulados, em parte, por mecanismos cognitivos,

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afetivos e volitivos universais. Porém, esta dinâmica é diferencial, no sentido de que
alguns processos dinâmicos são afetados, diferentemente, pelas tendências básicas do
indivíduo, incluindo os traços de personalidade. Eis, descrita a traços largos, a teoria da
personalidade proposta por McCrae e Costa. Ela não se centra nos aspetos universais da
personalidade, ao nível das tendências básicas. Pelo contrário, são as diferenças
individuais na adaptação relacionadas com a personalidade o objeto do seu enfoque.

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