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Há várias teorias que tendem a explicar a personalidade através da complexidade humana, que envolve as

diferenças individuais e o património genético, cultural e social.


O ser humano não pode ser reduzido às suas componentes fundamentais nem pode ser compreendido
através de padrões e esquemas pré-concebidos. Uma abordagem teórica desafia a olhar a complexidade e
procura respostas que não sejam básicas e pré-concebidas. As próprias teorias de personalidade tentam
uma mediação entre a complexidade humana e uma generalização que permita uma teoria sobre o
processo de construção da personalidade.

Uma teoria é útil quando dá conta da complexidade do ser humano e é suficientemente generalizada.
Por isso, na Psicologia não nos devemos agarrar a instrumentos parciais e mais básicos como os testes
vocacionais.

Muitas das teorias da personalidade foram deduzidas do acompanhamento que vários psicólogos
fizeram a pessoas com problemas/ patologias específicas, mas foram alvo de críticas visto que se tratava
de sujeitos com um funcionamento alterado.
A mera observação do comportamento do outro não é suficiente, assim como é necessário ler o manual de
instruções para perceber o funcionamento de uma máquina. Portanto, é preciso compreender a estrutura
do ser humano no seu todo para fazer sentido.

Principal objectivo das teorias da personalidade: propor um mapa de orientação para nos movimentar na
tentativa de compreender e explicar a forma como o ser humano existe, vive, se relaciona, se expressa em
três dimensões:
1. Em relação a si mesmo;
2. Na relação com os outros;
3. Na relação com o ambiente.

Uma teoria mais complexa ajuda a pessoa a ter autoconhecimento realista para chegar à sua tomada de
decisão.
As teorias da personalidade também são uma ajuda à investigação científica em Psicologia, um suporte
para:
1. Promover o bem-estar das pessoas;
2. Prevenir o surgimento de um mal-estar;
3. Preparar o desenvolvimento adequado.

Personalidade
 O que é a personalidade?
Há dificuldade em encontrar a palavra certa para definir. Podemos colocar em dois níveis:

Comum Específico
 Relacionado com a nossa estrutura, o nosso ser e o  Tentativa de uma visão estruturada da
nosso ter. complexidade do ser humano.
 Maneira de estar perante o outro, o nosso feitio.  As várias teorias têm como último objectivo ser uma
 Não pode ser atribuído a uma perspectiva teoria organizadora dos vários domínios da
psicológica. Psicologia que funcionam de forma autónoma.
 Função integrante das teorias da personalidade.

A personalidade diz respeito à dimensão aparente do ser, isto é, o que posso expressar e os outros
reconhecem.

As origens da Psicologia da personalidade:


 Na cultura clássica
Utilizavam-se máscaras para caracterizar as personagens de uma ação teatral, tinham a função de
delimitar características éticas, traços da alma (virtudes e vícios). O teatro era determinante na integração
de valores.
O termo personalidade nasceu com este hábito que levava a refletir sobre a vida e as relações humanas.
Esta ideia de personalidade é assumida, em falta de uma disciplina autónoma da Psicologia grega, por
alguns filósofos como Aristóteles.
Aristóteles considerou que a ânima é um atributo (qualidade) da vida, dando a possibilidade de analisar o
indivíduo nas suas componentes humanas. A reflexão psicológica mais profunda tem sempre uma
inspiração ética: fomentar o bem e afastar o que é negativo. O objetivo da reflexão psicológica seria formar
boas pessoas e uma boa comunidade.
Alguns séculos mais tarde surge Hipócrates (séc. IV a.C) que se concentrou na análise das diferenças
individuais. As pessoas não são todas iguais, portanto, para compreender a alma, há que perceber como
cada um segue o desejo do bem, logo a rejeição do mal.
Hipócrates foi um dos primeiros a retomar o dualismo entre dimensão orgânica e dimensão “ânima” da
vida humana. O ser humano é único, mas multiforme na expressão da mente e do corpo.

 Na cultura romana
Mais pragmatista e funcionalista, em comparação com a cultura grega clássica.
Por influência do estoicismo, o importante era a dimensão moral/ética. A reflexão sobre os afetos do ser
humano tem como objectivo moderar as paixões, os excessos.
Nesta perspectiva, a vida feliz é aquela em que o ser humano se encontra em paz de espírito, identificada
na ausência de afetos: ataraxia.

 Na época medieval
Inversão da perspectiva em relação às premissas naturalistas do pensamento greco-romano.
Solução para o dualismo alma – comportamento:
1ª Tentativa: S. Agostinho – atenção sobre a dimensão da interioridade, sem descurar a dimensão externa
do comportamento. É na profundidade de si mesmo que o ser humano se invoca e procura a sua própria
identidade (Quem sou eu? Qual é a verdade? Para que serve a minha vida? O que fazer da minha vida?).
O autoconhecimento é uma forma de reconhecimento, da verdade e como a própria identidade se foi
construindo.
O ser humano tem um “sentimento de identidade” ao longo do seu desenvolvimento mesmo que não se
mantenha igual. A convicção de identidade é fundamentada nas memórias, o ser humano constrói-se
através da sua narrativa.
2ª Tentativa: Tomás de Aquino – outro filósofo da Idade Medieval que se debruça sobre a questão do eu,
da identidade, da pessoa. Encontra o ponto de união da construção da pessoa numa síntese entre a
dimensão espiritual e a dimensão racional. Tomás defende que não há separação entre a alma e o corpo,
são aspectos diferentes da mesma realidade. A alma é como uma forma (o utensílio de cozinha) do corpo
material.
O ser humano é impulsionado pelo desejo » Dimensão dinâmica da própria pessoa e que se transforma
numa aspiração à perfeição (plenitude da vida).
Perfeição é a complementaridade entre a vontade (o que torna operacional o desejo) e a razão (orienta a
vontade para o que é razoável). O irracional pode ser uma fonte de sofrimento que vem constatar o desejo
de perfeição, plenitude, felicidade.
Perspectiva de autoconhecimento e autorrealização nas dimensões mais positivas de mim mesmo.
Quanto mais conheço o bem mais o desejo. O que eu for depende do que eu desejar. Para Tomás, o bem
tem uma conotação religiosa e ética.

 Na Idade Moderna
Há uma afirmação de uma das duas dimensões em detrimento da outra, começando um confronto com o
dualismo que nos leva até os dias de hoje.
A ideia de identidade seria “aquilo”, um eu pontiforme e completamente desprendido. A tendência é
descontextualizar o eu e reduzi-lo a um pensamento abstrato.
O Iluminismo (séc. XVIII): extrema confiança na razão, nas capacidades críticas, na clareza das
argumentações, na superioridade absoluta do espírito científico em respeito a qualquer forma de
obscurantismo, juntamento a um grande entusiasmo para o progresso e a difusão da cultura.
Leva a uma visão positiva e pragmática no que respeita o futuro.
Legitimação da morte e do sofrimento.
Separação entre as ciências da razão (matemática, física, etc. » pensar racional) e as outras (literatura,
religião, filosofia, etc.)
Neste momento histórico opõe-se o sentimento/afeto à razão. Existe uma tendência a querer submeter o
ser humano à investigação científica, como qualquer outro objecto. Hoje em dia, o objectivo da Psicologia
é estudar o comportamento observável do ser humano. A solução será equilibrar a estatística com a
perspectiva fenomenológica.

Conclusão: a visão da estrutura da identidade da pessoa muda a partir da perspectiva teórica.

O contributo da Psicologia enquanto ciência


 Psicologia experimental
Procura um fundamento do funcionamento dos processos psicológicos básicos.
Mas como é que passamos de uma Psicologia de laboratório para a vida dos seres humanos? É preciso
equilibrar, uma ponte entre a experimentação/observação e a teoria. Num método experimental controla-
se muito menos variáveis do que aquelas que estão realmente relacionadas com o comportamento
humano. Por exemplo, a motivação engloba múltiplos factores.
Os estudos sobre a personalidade mantêm-se numa linha complementar daqueles que fazem parte da
Psicologia experimental clássica. Na história das teorias da personalidade esta diferenciação foi
fundamental!
Desde muito cedo, as teorias da personalidade surgem do contexto da investigação clínica juntamente com
questões levantadas pela necessidade de avaliação. Surgem com a ideia de uma visão global e conjunta
do psiquismo humano e da compreensão da complexidade da pessoa.
A personalidade vem desta visão de um psiquismo humano que não pode ser reduzido aos seus processos
básicos. A Psicologia Social também dá o seu contributo para estas “teorias ponte” que nos ajudam a
perceber os contextos da sociedade humana.

 Aspectos psicométricos
Ideia de construir perfis de personalidade e instrumentos para este tipo de investigação.
É nesta perspectiva que permanece uma certa sobreposição entre a psicologia experimental e as teorias da
personalidade.
Crítica: as grandes teorias da personalidade são pouco submetidas a avaliação experimental ou têm uma
excessiva preponderância da observação clínica.
Uma das orientações fundamentais das teorias da personalidade é compreender o processo das
motivações humanas, como elas orientam as escolhas concretas da vida.

Fundamentos da perspectiva psicodinâmica ou psicanalítica


A Psicologia experimental clássica centrava-se na consciência, mas Freud veio comparar a psique humana a
um icebergue, desafiando a mentalidade do seu tempo que considerava o ser humano como produto da
consciência.

Icebergue: tudo que é visível da experiência psíquica humana não é o todo do psiquismo humano.
Ao contrário dos seus contemporâneos, Freud concentrou-se no que está “abaixo do limite da agua” – o
inconsciente – e como é constituído, como conecta a outras dimensões do psiquismo humano.

 1ª Estrutura – modelo hidráulico


A personalidade é considerada como 3 grandes contentores parcialmente intercomunicados: Es, Ego e
Superego.
1. O Es
É a instância que se diferencia e ao mesmo tempo é a matriz da qual depois se vão originar as outras
instâncias.
Reservatório de energia psíquica fundamental para que o ser humano possa viver.
Os seus conteúdos são parcialmente conscientes.
Esta energia psíquica, contida na líbido, é constituída por impulsos.
Estas pulsões são reguladas pelo mecanismo primário ou do prazer. Estão orientadas para que as
necessidades essenciais (respirar, comer, etc.) para sobreviver sejam satisfeitas.
Tem funções inatas, estruturas fundamentais para a existência e para colocar o ser humano no mundo.
Para Freud, toda a estrutura da personalidade tem origem no Es: única componente inata. Todo o ser
humano nasce com aptidões inatas (e.g., sucção).
Pra Freud, o Es seria a verdadeira realidade psíquica porque esta representa o mundo interior da
experiência subjetiva sem nenhuma consciência da realidade objetiva.
O Es não tolera nenhuma variação de energias. Tudo o que interrompe a quietude absoluta se
transformará em tensão » princípio do prazer: tendência das estruturas fundamentais da personalidade
humana em busca do equilíbrio; capacidade de reconhecer a satisfação do desejo como forma de alcançar
o bem-estar.
O Es impele as outras instâncias a realizar o objetivo principal – evitar a dor e manter o equilíbrio.
O organismo possui uma série de reflexos, formas de excitação, que lhe permitem viver. Implica a reação
psicológica mais complexa que vai para além do mecanismo “E » R” dos reflexos primários.
O Es não tem a capacidade de guardar memórias e imagens dos objetos que poderão vir a reduzir/eliminar
a tensão.
O Es conhece a realidade intrapsíquica, o interior. É o “olho interno”.
Principal objectivo: garantir a sobrevivência do ser humano e manter a homeostasia do organismo.
2. O Ego
Retira a energia do seu funcionamento pelo Es mas não os seus conteúdos.
Está atento e ajuda a direcionar e a tornar mais eficaz a finalidade do Es.
Funciona segundo o princípio da realidade, concentra determinada energia do Es tendo em conta a
realidade.
Estrutura a motivação e os desejos. O Ego permite ao Es resistir a situações de stress e desenvolver uma
privação à satisfação momentânea.
Ajuda a estruturar motivações e percursos de vida mais complexos e exequíveis.
À medida que o bebé cresce podemos observar que ele se acalma observando gestos preparatórios
daquele que poderá ser o ritual da refeição, do sono, etc. Aqui o Ego começa a desenvolver-se e, portanto,
já é possível criar imagens antecipatórias.
O Ego é o símbolo da satisfação própria. Permite esperar por uma satisfação plena e real que só se poderá
alcançar mais longe. É desta forma que funciona (ou devia funcionar) o ser humano adulto. Tanto mais
quanto mais complexo for o seu psiquismo.
O ser humano é capaz de subordinar necessidades imediatas/primárias a outras mais complexas, mas que
permitem maior satisfação (conhecimento útil e fundamental).
Conseguimos adquirir hábitos sociais que não se baseiam em necessidades básicas » amadurecimento.
Também o Ego se desenvolve nas necessidades do organismo e também precisa de manter contacto com a
realidade.
O Ego encarrega-se de estabelecer ligações e de aprender a diferenciar as imagens da memória daquelas
que são disponibilizadas, concretas, que ajudam a planificar a forma de chegar à satisfação do desejo.
“O Ego é que tem olhos” – vê, percebe e interage com a realidade.
O Ego consegue distinguir entre os conteúdos da consciência e a realidade envolvente, o mundo exterior.
Função: interligação (entre o mundo interno e o externo) e mediação (permite ao Es entrar em contacto
com o mundo exterior).
O Ego funciona segundo o princípio secundário, princípio da realidade. Introduz o fator tempo e permite
ao ser humano saber esperar e investir as energias num plano a longo prazo.
O Ego permite o desenvolvimento adaptativo, baseia-se também na interiorização das experiências e delas
constrói expectativas para o futuro.
O processo secundário está na base da capacidade do pensamento abstrato, antecipar soluções - todas as
atividades que o Es não alcança.
Para que o sofrimento físico se torne psíquico é necessário o Ego. É o Ego que interioriza, “sente” a dor.
O processo secundário torna o ser humano mais aberto à realidade e mais tolerante à frustração.
O processo simbólico permite desenvolver a componente simbólica (e.g., poupar para investir numa
viagem). Para isso, satisfações primárias tiveram que ser abortadas » o ser humano entra na compreensão
dos seus próprios desejos.
A função do Ego é fundamental porque permite organizar o Es e impor limites. Quando isto não acontece o
ser humano entra em várias formas de desequilíbrio.
3. O Superego
Desenvolve-se a partir das outras instâncias, mas não é extrínseco ao sujeito. É uma dimensão da
personalidade individual. Estrutura-se no contacto significativo com a realidade interiorizando valores,
ideais, símbolos e normas.
Não é apenas um sensor moral é a instância que absorve conteúdos simbólicos, sobretudo de caractér
ético, e não apenas de conteúdo normativo.
Proporciona uma série de valores que mostram as coisas que não são um bem para o indivíduo e permite
construir o próprio desejo, segundo as linhas orientadoras.
A pessoa pode absorver ideais ou valores por oposição, isto é, querer mais a nível de conteúdos simbólicos,
ir mais além daquilo que a realidade mostra (e.g., crianças que vivem num mundo anti-valores, mas
decidem opor-se às regras e assim orientam a sua vida numa perspectiva diferente).
O Superego é fruto de um trabalho mais profundo de encontro entre os desejos do próprio sujeito e o
contexto no qual este se insere.
Funções: 1) orientar a atividade do Ego no seu princípio de realidade - dá razoes morais ao Ego para
realizar as suas escolhas; 2) opor-se às necessidades de satisfação cega das pulsões primárias do Es.
É uma luta entre sermos nós mesmos e nos adaptarmos às normas.
O Superego estrutura-se através de um mecanismo psicológico como a introjeção (≠ imitação).
O processo de introjeção é muito mais complexo do que uma simples imitação. Contribui para a
construção do superego que vem substituir a função educativa dos pais, na fase da latência. Cria-se um
processo de autonomia e autorrealização. A superproteção por parte dos pais retarda este fenómeno.

O Es, o Ego e o Superego não devem ser imaginados como elementos fixos que orientam a
personalidade. São, sobretudo, processos psíquicos que dependem dos princípios orientadores das
várias instâncias.

 O próprio Freud parte de uma perspetiva positivista, própria do sistema científico do seculo XIX, o
que leva a considerar o organismo humano como um complexo de energias. Une o sistema
fisiológico e o psíquico. Existe uma unitariedade complexa da dimensão corpo – mente.
 A energia deve ser definida em função do trabalho que produz, tendo em conta que a fonte é
sempre a mesma, o Es. O Es é o reservatório energético, quer para o desenvolvimento fisiológico
quer a nível psíquico.
 As pulsões do Es permanecem as mesmas do início ao fim da vida, o que muda são os objetos de
desejo e a sua complexidade para satisfazer.

Pulsão
Cria profundo entrelaço entre as dimensões primárias e a dimensão psíquica.
Tem uma raiz semelhante a um impulso. Impulso para alcançar uma satisfação - percursor da atividade
humana.
Processo que desencadeia quando aparece um ciclo de acontecimentos que partem de uma excitação e
volta num impulso (e.g., ansiedade » recorremos a alimentos – significa uma regressão ao tempo de
berço).

Cada pulsão define-se por 4 características:


 Fonte
 Meta
 Objeto
 Impulso
Freud localiza as fontes nas zonas corpóreas:
 Fome: boca
 Sexual: zonas íntimas
 Vida em geral: órgãos internos
A estas zonas conectam-se alguns dos sintomas quando o próprio objeto não é alcançado ou há algum
desvio do ciclo que leva uma pulsão ao seu sucesso. (e.g., ataque de pânico » 1º pulsão: falta de ar).

Objeto
Uma realidade que possa vir a satisfazer a falta.
 Num primeiro momento: o objeto é concreto e satisfaz as necessidades primárias.
 Com o tempo, o próprio objeto torna-se um objeto simbólico ou associado a quem o fornece (e.g.,
leite » mãe).
 Pode ser substituído, de concreto passa a simbólico.

O comportamento de qualquer pessoa seria determinado por impulsos internos que teriam como função
reduzir a tensão, a sensação de desconforto.
Os comportamentos aditivos seriam uma expressão de um bloqueio de satisfação primária, uma espécie
de investimento pulsionais compensatórios à falta de relacionamento.

A capacidade da energia psíquica se transferir de um objeto para outro é uma característica importante na
dinâmica da personalidade. É um testemunho da plasticidade da personalidade humana e que nos dá
esperança para que a intervenção psicológica tenha sucesso.
Esta característica dinâmica da energia psíquica sustenta a motivação humana. Segundo a teoria freudiana,
as pulsões representam as únicas fontes de energia do comportamento humano.
Contudo, o comportamento humano procura objetos muito complexos, referentes a uma motivação
altruísta.

Freud chega à conclusão que toda a pulsão humana se fundamenta numa tensão entre a vida (Eros) e a
morte (Tanatos).
Dois níveis do ser humano:
 Realidade fisiológica
 Realidade psíquica

O desejo é um “work in progress”, no momento em que está satisfeito abre novos horizontes, isto é, deixa
abertura para desejar mais. O desejo fica sempre inacabado caso contrário o ser humano entraria num
estado apático que coincide com a morte.
O desejo mais complexo é o conhecimento: implica a dimensão simbólica do ser humano.

Os dois grandes motores do desenvolvimento da personalidade são o desejo de viver, meta fundamental
do indivíduo e da conservação da espécie, e o desejo de morte, reconhecido nos impulsos agressivos.
Na perspetiva de Freud, a agressividade contra outrem é uma autodestruição que, de alguma forma, os
sensores detetores do Ego desviaram para o exterior.
O primeiro momento de agressividade dá-se quando a criança é separada das figuras de proteção.
A personalidade agressiva não é apenas uma personalidade forte. Quem ataca está, normalmente, a
defender-se. Quanto mais irracional é o ataque mais profunda é a ferida. É uma pessoa com um
autoconceito muito baixo que tende a projetar tudo sobre o outro.

Nesta perspetiva poderiam entrar em jogo os fatores protetores, características do processo primário – o
Es. Esta energia é redirecionada pelo Ego e Superego, em conjunto.
É um trabalho de tornar consciente as motivações da agressividade e reorganizar o sistema de valores que
possam vir a selecionar objetos novos para os quais os impulsos agressivos se dirigem e ser até alterados.

De que forma se distribui e utiliza a energia psíquica?


De forma diferente relativa às três instâncias: Es, Ego e Superego.
O investimento de energia numa pulsão primária é denominado de escolha objetal.
A energia será reinvestida e redirecionada. Este mecanismo é denominado de identificação – conceito
chave da Psicologia e o mais complexo de se entender.
O Es precisa do Ego para encontrar uma imagem objetiva e concreta da realidade, como se estivesse a
alcançar o objeto em si.
A identificação consiste em:
1. Representação mental de uma realidade;
2. Algo que existe na realidade.
O Ego tem a função de escolher o objeto adequado à imagem mental que o Es tem vindo a construir, isto é,
permite a eficácia da substituição do processo primário pelo processo secundário.

Concluindo…
Na perspetiva freudiana a dinâmica da personalidade consiste na relação das cargas pulsionais funcionais e
da sua resposta.
As cargas pulsionais vêm do Es, são geridas pelo Ego e contrastadas pelo Superego.

Dentro desta perspetiva, a ansiedade tem um papel importante. Antes de ser um sintoma clínico é um
elemento do psiquismo humano.
Ativação (arousal): consiste em estar atento, responsivo, desperto para recolher novos estímulos.
A ansiedade é uma ativação de todo o mecanismo para o que precisa ser para viver. É uma reação
habitual de autoproteção (e.g., reconhecimento de sinais de trânsito).
A ansiedade não é um elemento patógeno é uma condição que precisa ser orientada para uma meta e,
portanto, temos que distinguir entre esta condição e outro tipo de angústia que é a ansiedade neurótica
desconstrutiva: um estado constante de alerta que escapa a qualquer controlo da consciência e coloca a
pessoa num estado constante de medo.
Este medo refere-se à punição moral e não ao ato em si (e.g., no teste avalia-se a aprendizagem, mas para
muitos avalia o valor da própria pessoa).
Quando a angústia é motivada pelo medo da punição ou quando tem origem numa experiência traumática
resulta numa ansiedade neurótica desconstrutiva.

O desenvolvimento da personalidade começa numa série de mecanismos de defesa que protegem a


pessoa da ansiedade neurótica e ajudam a encontrar soluções (e.g., uma criança vítima de abandono
precoce tende a esquecer esses tempos).

Como é que a personalidade se desenvolve?


A partir das estruturas fundamentais;
Na perspetiva psicodinâmica, a personalidade está subordinada a um encontro de dificuldade:
1. Tensões que surgem dos desejos primários, pulsões;
2. Confronto com duas realidades
a. Realidade concreta
b. Moral

As tensões são processos fisiológicos de crescimento. O desenvolvimento ajustado surge da proteção


perante qualquer frustração.
O Es acaba por ter a ideia que tudo é possível, mas, no entanto, fora das suas necessidades há uma
realidade concreta e um espaço relacional que o limita.
É uma limitação extrínseca que se pode tornar intrínseca – função do Ego. É nesta limitação que o ser
humano desenvolve a sua liberdade.
Neste processo de encontro com o limite e ameaças o Ego é protagonista. Para fazer face a esta realidade,
o Ego desenvolve uma série de respostas adaptativas – formas de enfrentar a situação para nos
desenvolvermos.

Principais mecanismos de defesa


1. Processo de identificação
Consiste num processo de adaptação por imitação. O Ego torna suas as propostas do Superego e identifica-
se com o meio envolvente.
Construção do nosso sentido de presença que dá origem ao processo de identificação.
Este processo torna-nos parecidos e originais ao mesmo tempo. É um processo ativo que implica a
interiorização e a elaboração dos elementos.
As figuras parentais são fundamentais neste processo, nomeadamente contribuem para o
desenvolvimento psicossexual.
A estrutura definitiva da personalidade é o fruto do complexo de inúmeras identificações que acontecem
ao longo da vida.

2. Processo de deslocamento
Age sobre o Es e as suas cargas pulsionais, mas age também sobre o processo secundário desenvolvido
pelo Ego, relacionado com a escolha do objeto e a relação que irá satisfazer as próprias necessidades
fundamentais do Ego.
É uma possibilidade de escolha de um novo objeto relacionado quando o 1º não for atingível. Estas podem
ser barreiras internas ou externas.
Exemplo: o casal x descobre ser infértil, o seu desejo de fecundidade está bloqueado por razões internas. O
deslocamento acontece quando o casal compreende que esta carga afetiva, e o próprio desejo, pode ser
redirecionada para outras atividades – um tipo de trabalho que venha realizar este desejo (forma de
parentalidade social).
O deslocamento não se reduz a uma escolha compensatória, é um mecanismo de substituição – uma
solução verdadeira ou real.
O ponto de partida é sempre a frustração.

3. Processo de sublimação
Aplica-se quando se refere a necessidades fisiológicas fundamentais (pulsão sexual e alimentar)
relacionadas com a sobrevivência física e biológica da espécie.
Exemplo: renúncia voluntária a desenvolver família. Passa das tendências inatas do ser humano para se
dedicar a alguma atividade de cariz social ou filantrópico. Uma escolha para uma realização maior de si
mesmo.
É uma derivação do deslocamento que leva a dedicar-se a conquistas culturais ou sociais de utilidade mais
complexa. Parte de uma escolha livre e ativa.

4. Processo de recalcamento
Fonte de patologias; utilizado com frequência ao longo do desenvolvimento.
Não é só um mecanismo de defesa, é uma forma de poder avançar no desenvolvimento da própria
personalidade.
Possibilidade de manter intacto o Ego pelas pulsões agressivas, sobretudo, e pelas consequências das
pulsões sexuais.
5. Processo de projeção
Outra face da identificação; o Ego constrói-se a partir deste processo e introjeta as características do
objeto.
As pulsões indesejadas são atribuídas ao objeto que está fora do Ego, sobretudo a partir dos pensamentos
do Superego – para manter a integridade do Ego utiliza-se o mecanismo do espelho: é o próprio objeto
que tem forças/qualidades que são consideradas potencialmente destruidoras.
 Funções do mecanismo de projeção
o Tornar mais controláveis as tensões interiores;
o Garantir a separação entre o Ego e as suas afeições.

Os mecanismos de defesa são todos utilizados, mas não ao mesmo tempo!

O que é o inconsciente?
Na 1º ideologia de Freud, o inconsciente é apenas um locus geográfico psíquico.
A ideia proposta por Freud não corresponde à dimensão fisiológica (algo que não está ativado).
O inconsciente é a dimensão do psiquismo que foge ao acesso da consciência, do eu. Implica que o ser
humano seja movido por atos de vontade.

A passagem do inconsciente para a consciência de conteúdos recalcados acontece principalmente através


da linguagem.
Os conteúdos do inconsciente são emocionais/afetivos que não estão na consciência pois não foi possível
traduzir ou verbalizar.
O inconsciente é uma força afetiva muito forte, por isso orienta alguns ideais do Ego.

Outras vias do inconsciente para a consciência:


 sintomas
 ato falhado
 sonho
 humor

A importância do inconsciente é incontornável. Ele continua a ter influência na nossa vida consciente.
O inconsciente é constituído por uma série de processos afetivos que, ao longo do tempo, são excluídos
pela própria consciência, portanto não pode ser considerado um reservatório de conteúdos negativos.

Quanto mais forte o desejo de aproximação de um certo objeto maior a tentativa de o evitar. Requer um
investimento energético que depois não pode ser utilizada noutros fins.
Exemplo: medo de ambientes fechados – resulta do controlo do afeto para uma experiência menos
dolorosa.
Na perspectiva de Freud, só se resolve uma fobia trazendo para a consciência a causa/experiência
recalcada.
A proteção e repetição do processo de deslocamento demonstra-se fracassado porque a fobia é frequente,
bloqueando cada vez mais a ação do sujeito.

Contestação à teoria freudiana


 É difícil verificar a avaliação de um ponto de vista formal e cientificamente imparcial.
 A forma bastante desinibida como Freud apresenta conteúdos como a estrutura fundamental do
desenvolvimento do ser humano leva a sociedade a rejeitar estas dimensões.
 Outras teorias apontam limites intrínsecos.

Qualidades da teoria freudiana


 É complexa e diz-nos que os fenómenos não são imediatamente compreensíveis.
 Diz-nos que a história psíquica humana é muito complexa.
 Permite compreender a pessoa (características positivas e limitações).
 Não é reducionista nem mecanicista.
 Mantém intacta a reflexão da própria pessoa na perspectiva do autoconhecimento. Opõe-se à
ciência clássica e à ideia da neutralidade e observação.

Psicologia analítica de Jung


A certa altura, o percurso de Jung cruza com o de Freud. Convergiram no interesse por um tema até a
posição de Jung tomar outras características.
Ambos partilham de conhecimentos profundos que vêm de outras disciplinas (e.g., antropologia),
refletindo-se nas teorias da personalidade.

Diferenças das perspectivas de Jung e Freud


∞ A ideia que Freud tinha do ser humano como uma tábua rasa, uma série de estruturas que
precisavam de ser impressas pela experiência, contrapõe-se à visão de Jung de um ser humano já
estruturado, mas com uma bagagem filogenética e racional muito significativa.
∞ Jung cultiva a existência de um inconsciente coletivo, uma matriz que é fruto da herança
filogenética. O impacto da hereditariedade está a par das estruturas fundamentais.
∞ A ideia de que o comportamento humano não é condicionado apenas pela consciência individual é
discutida por parte de Jung, considerando que o desenvolvimento da pessoa não é fruto de um
certo determinismo ambiental, temos ainda possibilidade de escolha.
∞ Na posição de Jung, as experiências do próprio devem se confrontar com as capacidades de
escolha. Os fins e as aspirações do ser humano têm um impacto também no desenvolvimento da
personalidade humana.

Para Jung a personalidade tem o mesmo valor de psique.


E o que é a personalidade? Resultado/estrutura complexa de várias instâncias e sistemas separados e
interligados.

1ª estrutura: eu (mente consciente)


 Conteúdos do Eu
o Perceções
o Recordações
o Pensamentos
o Sentimentos
Temos plena consciência, um sentimento de identidade ao longo do tempo.
O Eu é o centro da construção da personalidade humana. É o reconhecer a mim mesmo olhando objetos,
fotografias, filmes, etc.

2ª estrutura: inconsciente pessoal


Região mais próxima e com maior comunicação com o Eu. Contém todas as experiências que já foram
conscientes, mas foram afastadas, reprimidas ou ignoradas e também todas as experiências que, no início,
foram demasiado fracas para deixar qualquer rastro na nossa consciência. Ou seja, os conteúdos podem
voltar à consciência, podem ser levemente recuperados.

3ª estrutura: complexos ou constelações


Estruturas complexas constituídas por elementos complexos (sentimentos, pensamentos, recordações)
que se unem no inconsciente pessoal.
Exemplo: complexo maternal – todas as experiências, sentimentos, afetos que se associam a figuras
maternais que cada um de nós guarda no seu inconsciente e na consciência.
Constituem um núcleo que funciona como um campo magnético de sentimentos, perceções, relacionadas
com o tema (que dá o nome ao complexo), que levam a imaginar (e.g., como deve ser uma mãe).

4ª estrutura: inconsciente coletivo


Dimensão que transcende a própria pessoa.
Depósitos de memórias latentes que vêm de um passado ancestral do ser humano (passado da
humanidade, de uma raça). Podemos considerar Jung um dos primeiros psicólogos a colocar o problema a
propósito das culturas.
Residual psíquico, resultado do desenvolvimento evolutivo do ser humano que se foi acumulando como
efeito das várias experiências repetidas pelas várias gerações.
Este “acumulado” vai afirmar a nossa mente. Por ser inato localiza-se na mente, facilitando o diálogo entre
as duas dimensões.
O inconsciente coletivo está desligado das experiências concretas do indivíduo e é, aparentemente,
universal (podemos partilhá-lo enquanto seres humanos).
Jung diz que herdamos apenas a possibilidade de reviver as experiências das gerações passadas. Significa
que o inconsciente coletivo está disponível em termos de potencialidades para repetir experiências –
predisposição que nos leva a determinada resposta em relação ao mundo.
O inconsciente coletivo é a base hereditária de toda a estrutura da personalidade, um código psíquico
(equivalente ao código genético). Esta posição do Jung valoriza a dimensão da hereditariedade em forma
de potencialidade das estruturas fundamentais.
Função do inconsciente coletivo: alargamento da consciência pessoal através do uso e da apropriação dos
conteúdos simbólicos.

Relação entre inconsciente coletivo e inconsciente pessoal


 Trabalham em conjunto;
 Podem permitir uma ampliação quase sem limites da consciência;
 Para Jung, o conceito de personalidade vai do exterior para o aprofundamento simbólico interior.
 O inconsciente pessoal é constituído por complexos, já o conteúdo do inconsciente coletivo é os
arquétipos.

Arquétipos
Imagens primordiais mitológicas e modelos universais de comportamentos.
Estruturas simbólicas (e.g., arquétipo da grande mãe – figura ancestral da mãe ideal).
O arquétipo é uma categoria “vestida” de um conteúdo afetivo.
O arquétipo funciona com porta de passagem entre o inconsciente coletivo e o inconsciente pessoal.
O núcleo fundamental dos complexos pode identificar-se com um arquétipo que atrai para si todas as
experiências. Não confundir arquétipo com complexos.
Concluindo, a nossa experiência é o resultado de uma predisposição interna (arquétipo) com a nossa
experiência concreta.
Dimensão positiva: guardamos uma matriz originária que nos leva a completar a nossa própria
experiência.

Principais arquétipos
1. Persona
Termo latino que significa máscara.
Enquanto arquétipo é um símbolo.
Máscara corresponde às exigências da sociedade. A Persona está carregada de todas as expetativas sociais.
Uma criança pode ter uma Persona porque há uma série de expectativas que a criança deve realizar e até
as dela própria.
É muito importante para compreender o que Jung entende por personalidade (estrutura em construção já
presente em todas as etapas da vida).
Então, Persona é a dimensão extrínseca, externa do Eu, cuja função é atribuída pela sociedade, mas
também contém tudo aquilo que nós queremos mostrar aos outros – o Eu público.
Pode corresponder ao Eu ideal de Freud. Os nossos desejos, forças que nos movem perante um
desenvolvimento positivo de nós próprios.
Constrói-se ao longo da 1º metade da vida. Nesta fase, o ser humano está mais orientado para o exterior,
para a exploração do mundo. O ser humano tem pouca perceção da dimensão interior, está menos
preocupado em perceber.

2. Sombra
Constituída por tudo o que é mais animalesco, instintivo que o ser humano traz da sua herança
psicofisiológica. Podemos verificar aqui a influência do Darwinismo.
A Sombra engloba até os desejos autodestrutivos. É como um reflexo perante a luz, um reflexo muitas
vezes distorcido.
Todos os corpos têm sombra, tudo o que se opõe à luz produz uma sombra – lei física.
A Sombra é a componente que mais dificilmente aceitamos de nós próprios. A solução é esconder ou viver
a um nível pré-reflexivo, centrado nas componentes básicas da vida (comer, respirar, dormir, etc.) ou até
no trabalho.
Algumas dependências vêm silenciar o desconforto do encontro com a nossa própria Sombra.
É a Sombra, enquanto arquétipo, que deixa aparecer na consciência sentimentos, ações desconfortáveis e
socialmente reprováveis – equivalente ao Es de Freud.
3. Self
Seria o elemento que complementa a Persona. Numa 1ª teoria, Jung considera o Self como equivalente à
própria psique.
O Self seria a personalidade autêntica, não só como contraponto da Persona, mas como uma dimensão
mais desenvolvida/completa que engloba a Persona.
O Self seria a dimensão central dos arquétipos. Com a revisão da sua teoria, Jung identificou que o Self é
algo inacabado e representa uma luta, a tensão do ser humano para a unidade/unificação.
Este arquétipo é representado por um círculo como o Mandala que encontramos no contexto do budismo.
O ser humano conhece-se a si mesmo e unifica-se na interioridade (≠ isolamento). Esta atitude mais
favorável para a introspeção Jung só considera possível a partir de uma certa idade.
A dimensão do Self abre a procura da unificação entre a Persona e a Sombra, é um fruto inacabado do
trabalho de integração das próprias experiências; procura da totalidade que pode surgir de um trabalho
doloroso de “descida” à interioridade. A própria Psicologia contemporânea tem uma atitude fóbica
perante qualquer atitude de introspeção.
A totalidade surge da integração da Persona e da Sombra.
Esta proposta de Jung visa a integração da experiência e a individualização (sair da dispersão) que ocorre
com o Self.
4. Anima e Animus
Arquétipo duplo: Anima – substantivo feminino; Animus – substantivo masculino.
Representa a dimensão relacional do ser humano na diferença dos dois géneros.
Indica a capacidade de cada um dos géneros entrar profundamente nas dimensões próprias do psiquismo
do sexo oposto.
Há alguns elementos biológicos que sustentam este arquétipo:
A. Partindo do ponto de vista fisiológico, do desenvolvimento pré-natal e na forma como se
estruturam as características sexuais sabemos que a diferenciação acontece a partir de uma
estrutura única e comum que se vai diferenciar ao longo do desenvolvimento do feto.
B. Do ponto de vista cromossómico, a diferenciação consiste no cromossoma Y que representa
metade do património genético.
C. A partir da nossa estrutura hormonal: o ser humano produz hormonas masculinas e femininas que
se vão desenvolvendo ao longo de todo o processo. As hormonas têm impacto na nossa estrutura
psicoafectiva.
A diferenciação sexual confirma a dimensão mais simbólica. Cada um de nós é portador de um núcleo
fundamental (arquétipo) – uma estrutura que permite o encontro.
A partir de uma matriz comum que é constituída por este elemento relacional, permite à mulher ter um
código interno do homem e vice-versa. Poderíamos dizer que a mulher alberga o lado masculino da sua
personalidade (Animus) bem como cada homem alberga o lado feminino (Anima).
É uma perspetiva mais biológica, mas sem prescindir de todas as experiências étnicas, culturais, que
trazemos connosco através dos arquétipos.
Esta teoria terá impacto sobre a forma como homens e mulheres estruturam as suas relações na sua vida
concreta, nos vários contextos.

Método utilizado por Jung e o significado que Jung atribui aos sintomas neuróticos
Para a Psicanálise, os sintomas neuróticos são efeito de traumas e recalcamentos.
Na perspectiva de Jung, o que domina em muitos pacientes é a necessidade de compreender o sentido da
vida.
Considerada central esta necessidade, a modalidade de trabalho de Jung é a análise dos sonhos –
proximidade e, ao mesmo tempo, diferença com a perspetiva de Freud.
Para Freud, os sonhos são uma realização substituta de um desejo recalcado. Para Jung, os sonhos têm
uma dimensão compensatória e de perspectiva.
Esta característica compensatória não significa satisfação, mas sim uma substituição do objeto principal.
Aqui o objetivo é amplificar as próprias imagens, trabalhando os símbolos que o sonho utiliza e propõe.
Nesta perspetiva, o contributo da analista é determinante, não está numa posição neutra.
A Psicologia Analítica serve-se então deste método para promover a extensão do conteúdo dos sonhos
para que seja reapropriado, de forma consciente, pelo autor do sonho. O importante é não perder o
núcleo significativo do sonho.
O processo de acompanhamento terapêutico vai modificar o sujeito que se submete e quem o acompanha
(o profissional). Este é um elemento de novidade que se contrapõe à ideia de Freud de uma relação de
neutralidade. Jung dá um passo em direção a uma perspetiva fenomenológica.
Objetivo: refletir sobre a experiência subjetiva, a maneira como cada um de nós se relaciona com as coisas
e o mundo. O que leva à capacidade de cada um para refletir sobre a sua aperceção – experiência imediata
de encontro com o mundo.
Neste sentido, o centro de interesse é a pessoa na sua complexidade e a especificidade da experiência
subjetiva e interna.
Por isso, o fundamento é a análise do discurso, sendo a técnica preferida a entrevista.

 Dentro desta perspetiva, juntam-se alguns autores como Rogers, Maslow, que se opõem ao
reducionismo da posição pragmática. Mesmo tentando objetivar ao máximo a observação da
realidade, existe uma falha de controlo na descrição dos próprios investigadores.
 A fenomenologia vem clarificar que a ideia de que podemos reconduzir as ciências humanas ao
mesmo tempo que as ciências físicas é uma utopia » esta diferença não pode ser ultrapassada.

Na perspectiva de Jung, quando surgem os sintomas é mais fácil trabalhar a personalidade. A própria
personalidade pode crescer nos momentos de rutura.

Para além da biológico e do psiquismo, Viktor Frankl (fundador da logoterapia, que explora o sentido
existencial do individuo e a dimensão espiritual da existência) vem acrescentar uma outra dimensão –
espiritual (pode coincidir com uma experiência religiosa ou não).

Premissas filosóficas
1) Intencionalidade
Significa estar dentro da ação;
Na perspectiva fenomenológica, o fenómeno especifica-se a respeito de todos os outros por esta ação;
Poderá ser sinónimo de consciência;
Para a perspectiva fenomenológica, o fenómeno psíquico seria tal quando engloba o fenómeno da
consciência, portanto existe intencionalidade.
Distingue o mundo natural do mundo psíquico;
Para a perspetiva fenomenológica, mais de que a descrição o que importa é o significado que os
fenómenos psíquicos adquirem.
“O que existe não é o objeto, mas a intenção”. As nossas crenças, pensamentos, desejos, são sempre
acerca de alguma coisa.

O modelo fenomenológico
Visa a intencionalidade da ação humana que se manifesta do ponto de vista intrapsíquico e também das
dinâmicas da intrasubjetividade.
Um aspeto específico da perspectiva fenomenológica é olhar para a finalidade (e.g. que sentido tem?) com
vista a compreender.
Atitude teleológica = intencionalidade: parte do pressuposto que nada é por acaso.
A própria psiquiatria é questionada pelo método fenomenológico (e.g., Karl Jaspers). Muitos questionam
como compreender a experiência subjetiva da doença mental.
O objetivo da psiquiatria fenomenológica é dar atenção a tudo aquilo que a pessoa comunica.
A perspectiva fenomenológica rejeita qualquer forma de objetivação da doença mental e a não atribuição
de sentido.
A perspectiva fenomenológica procura uma coerência interna e considera a psicopatologia como algo para
além da simples alteração biológica e que afeta depois o comportamento.

Modelo da antropoanálise (Binswanger)


Ludwig Binswanger foi um psiquiatra suíço pioneiro na área da psicologia da existência (Allport, Rogers,
From e Maslow alinham nesta corrente, que surge como reacção ao racionalismo de uma psicologia de
certo modo positivista).
O autor pretende aproximar a pessoa da sua totalidade. Portanto, afirma-se a necessidade de tomar
consciência da globalidade do ser humano (opondo-se ao reducionismo) e traçar as linhas de uma
psicologia orientada fenomenologicamente.
É necessário descrever, reconhecer o fenómeno psíquico enquanto expressão da estrutura global da
pessoa.
Binswanger entende a globalidade como presença, o “estar aí” (Dasein) que significa estar enraizado no
mundo, sendo o mundo entendido como uma característica extrínseca da nossa existência.
A presença é condição essencial no ser humano. O estar no mundo significa estar no mundo com os outros
seres, ou seja, sempre em relação.
Portanto, não podemos considerar a pessoa em termos de indivíduo. O meu estar no mundo é
influenciado também pelos outros. O “estar com” pode se tornar em “estar para”, isto é, viver de forma
proactiva com os outros.
A doença mental é reconhecida como um modo limitativo de estar no mundo, que corta a liberdade do ser
humano. As patologias seriam reveladoras do fracasso da presença, uma existência falhada.

Intervenções estruturantes
Concentram-se sobre os factores inatos, contrapondo a perspectiva de que a personalidade é uma
construção da experiência.

Gordon Allport
Tenta aprofundar uma visão global da personalidade.
Considera a personalidade como uma unidade dinâmica de fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Esta visão dinâmica caracteriza-se pela maneira como o indivíduo se relaciona com o futuro, qual a sua
perspetiva de vida. Esta visão da personalidade enfatiza o consciente e não o inconsciente, presente e
futuro e não o passado.
Há um enfase na perspectiva desenvolvimental do indivíduo e como isso estrutura a própria personalidade.
O autor conclui que para se estudar a personalidade tem que se trabalhar com o indivíduo, não com
resultados médios de grupos.
Perspectiva humanístico-religiosa/espiritual: capacidade de recuperar a dimensão dos valores, ideais.
No debate sobre a classificação, Allport debruça-se sobre esta teoria mais complexa. A personalidade
normal só poderá ser percebida nesta perspetiva mais abrangente.
O estudo da personalidade é o estudo das forças que vão orientar o crescimento, o desenvolvimento e
ação.

E que forças modelam o desenvolvimento da personalidade?


Allport define como traços.
Os traços são “um sistema neuropsíquico generalizado e focalizado, que tem a capacidade de tornar vários
estímulos funcionalmente equivalentes e de iniciar e guiar formas coerentes de comportamentos
adaptativos e expressivos”.
Função dos traços: reconhecer e responder aos estímulos; orientar a forma como interpretamos e a forma
como respondemos.
O traço é algo mais generalizado do que o que definimos como hábitos. O traço é o produto da integração
de hábitos. Por exemplo: a introversão e a extroversão são traços que se tornam esquemas de resposta
(hábitos).
Traço » Atitude » Hábito

Outra dimensão e característica de Allport, que pode ser considerado um autor que se insere nas teorias
do “ego” ou mesmo do “self”, é o conceito de proprium.
O proprium funciona como integração de todos os aspectos da personalidade que contribuem para a
construção da unidade do interior e também reflete as diversas funções da própria personalidade.
O proprium é o produto do desenvolvimento/crescimento.
O proprium poderia ser definido como a identidade pessoal, o que marca/distingue cada um, e é
construído por todas as características como o auto-conceito, auto-estima e estilo cognitivo. Ou seja, nesta
dimensão confluem todas estas dimensões relacionadas com a dimensão cognitiva e com a dimensão
afetiva/emocional.
O proprium engloba as funções e os traços de personalidade.

Freud entende a desenvolvimento como parcial e tem como medida o adulto.


Allport é o 1º que reconhece uma especificidade: a própria personalidade em desenvolvimento. O autor
considera que em cada etapa existe uma maturidade específica, o que em Psicologia se define como
tarefas do desenvolvimento. Allport considera que existe um nível de desenvolvimento em cada fase
etária.

Teorias factoriais da personalidade


Tentativa de estruturar um modelo da personalidade derivado da análise factorial. Ou seja, são modelos
estatísticos de descrição da personalidade.

Objectivo: factores estruturantes pelos quais se constrói a personalidade.

As primeiras tentativas de construção destas teorias surgem há mais de 50 anos atrás, um período em que
se investe muito na construção dos instrumentos para a avaliação psicológica.

O que seriam os factores?


 Estruturas hipotéticas ou dimensões latentes (que não correspondem ao comportamento ideal)
que estariam a sustentar as variáveis observadas.

Vantagens: estas teorias são sintéticas – retiram as estruturas fundamentais, simples – e descritivas –
descrevem os pressupostos de tal comportamento.
Quando começa este movimento da procura dos traços básicos fundamentais de personalidade, a análise
factorial permite reconhecer os traços, disposições e tipologias de personalidade a indicadores objetivos e
representar as relações entre eles de forma quantitativa.

Nas teorias factoriais parte-se de uma análise estatística para depois estruturar um sistema teórico capaz
de formular hipóteses acerca do funcionamento da personalidade.

 Estas teorias são importantes, mas precisam de ser contrastadas com outros elementos ou
perspectivas.

Conclusões:
Os anos de experiência sugerem que foi sobrestimada a importância destas teorias enquanto instrumento
de descoberta. Por outro lado, foi subestimada a sua importância enquanto instrumento de avaliação e
confirmação.

Primeiros modelos factoriais


1. Teoria dos traços proposta por Catell:
Traços não são mais do que a forma constante de comportamento que o individuo adota sob estimulação
do meio ambiente.

2. Teoria do traço biológico de Eysenck


Os traços de personalidade desenvolvem-se a partir de influências genéticas inatas que são biológicas e
herdadas.
O principal foco de Eysenck estava no temperamento que ele viu como padrões de longo prazo do
comportamento.
Objectivo: formulação de leis gerais que regulam o desenvolvimento e o comportamento para chegar a
uma explicação exaustiva da personalidade global.
Através do desenvolvimento de uma série de instrumentos adaptados, Eysenck chega a dois factores da
personalidade: extroversão / introversão; neuroticismo.
Mais tarde acrescentou outro factor: psicoticismo.

3. Teoria dos Big Five


Ponto de congruência entre a Psicologia Social e as Teorias Factoriais.
Objectivo: encontrar aqueles factores estruturantes e universais.
Os cinco fatores foram descobertos e definidos por diversos pesquisadores independentes.
 Extroversão/Introversão – factor universal
 Hostilidade/Agradabilidade
 Estabilidade/Instabilidade emocional (em substituição de neuroticismo)
 Abertura para a experiência - outros autores chama de intelecto, cultura.

Destes factores derivariam vários traços da personalidade e dos traços as várias tipologias.

Extroversão

sociabilidade impulsividade vivacidade


excitatibilidade

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