Você está na página 1de 9

ARMANDO TRAVASSOS

Docente

Direito das Sociedades Comerciais

MATÉRIA DE AULA DSC

Aulas semana de 11 a 15 de maio

As sociedades comerciais são a estrutura jurídica, típica das empresas, nas economias de mercado.

Sendo a empresa a célula base da economia moderna.

A disposição fundamental para a determinação do conceito de empresa como já vimos assenta no art. 230º
CCom

Já vimos que nos termos do art. 1º CSC, as sociedades comerciais têm como objeto a prática de atos de
comércio.

Por sua vez as sociedades que tenham por objeto a prática de atos de comércio devem revestir um dos tipos
previstos no Código.

O nosso ordenamento positivo não nos fornece um conceito completo de sociedade comercial (art. 1º/2 CSC).

Apenas refere os requisitos para que uma sociedade se considere comercial (objeto comercial e tipo comercial),
mas não refere um conceito para sociedade.

Em face do art. 980º CC deparam-se quatro elementos no conceito geral de sociedade:

Elemento pessoal: pluralidade de sócios;


Elemento patrimonial: obrigação de contribuir com bens ou serviços;

Página 1 de 9
Elemento finalístico (fim imediato ou objeto): exercício em comum de certa atividade económica que não seja
de mera fruição;
Elemento teleológico: repartição dos lucros resultantes dessa atividade.

Neste contexto a empresa, é uma organização de pessoas e bens que tem por objeto o exercício de uma
atividade económica, em economia de mercado.

Elemento patrimonial consagra um dos elementos do conceito da sociedade que consistem na chamada
obrigação de entrada, através da qual os sócios efetuam contribuições que irão formar o património inicial
da sociedade.

As contribuições dos sócios podem revestir, a natureza de bens ou serviços.

As contribuições ou entradas dos sócios, desempenham três funções na sociedade.

Formam, o fundo comum ou património com o qual a sociedade vai iniciar a sua atividade.

Definem a proporção da participação de cada sócio na sociedade;

Fixam o capital social.

Para que uma sociedade seja comercial, terá de ter “por objeto a prática de atos de comércio” (art. 1º/2 CSC).

Sendo este objeto constituído pelas atividades a desenvolver pela em presa, que deverão ser atos de comércio
objetivos (art. 2º, 1ª parte CCom e de atividades qualificadas como comerciais pelo art. 230º CCom.

Cada tipo de sociedade tem os seus requisitos especiais de constituição.

Existindo regras gerais aplicáveis a todas as sociedades.

Página 2 de 9
Decidida a constituição da sociedade, o primeiro passo a dar é a obtenção de um certificado de admissibilidade
da firma ou denominação social a requerer ao Registo Nacional de Pessoas Coletivas (RNPC), como já vimos

Podendo também as empresas serem constituídas de forma imediata nos termos do Dec. Lei nº 111/2005 de
08 de julho.

A composição da firma ou denominação social obedece a várias regras que vêm enunciadas no Código das
Sociedades Comerciais e nos art (s). 32º a 35º e 37º do DL 129/98, nomeadamente o princípio da novidade,
que já vimos e a menção do objeto social e a forma da sociedade (art. 10º CSC).

O contrato de sociedade é um negócio formal.

Tem de ser celebrado por ato formal (art. 7º/1 CSC).

Os fundadores da sociedade que intervirem na constituição da sociedade ficam solidariamente responsáveis


para com a sociedade pela inexatidão ou falsidade das declarações quanto à realização das entradas (arts.
71º/1 e 73º CSC).

O ato seguinte, é o registo da sociedade na Conservatória do Registo Comercial.

A sociedade adquirirá personalidade jurídica com o registo definitivo da constituição (art. 5º CSC) e a sua firma
ou denominação gozará de proteção da exclusividade em todo o território nacional.

O contrato de sociedade está sujeito à disciplina geral dos contratos, com as particularidades decorrentes da
sua natureza de contrato com comum e institucional.

Esta sua natureza jurídica implica uma execução prolongada no tempo.

É um contrato de execução continuada.

Que se diferencia dos demais. na medida em que a sua execução não se traduz em simples fluxos de
prestações e contraprestações.

Este contrato cria uma organização que vai funcionar segundo um conjunto de regras traçadas no contrato.

Como qualquer contrato, também o de sociedade resulta de um conjunto de declarações de vontade, cuja
validade depende de quem as emita e possua capacidade de gozo (art. 67º CC) e de exercício de direitos (art.
123º CC).

O Objeto jurídico do contrato de sociedade é um complexo dos efeitos jurídicos que o contrato visa produzir, e
que constitui o seu o seu conteúdo.

Tais efeitos são os queridos pelos sócios ou determinados pela lei, em conformidade com a vontade daqueles,
e variam de caso para caso, manifestando-se através de regras.

Página 3 de 9
Normalmente as sociedades comerciais constituem-se por mera vontade dos sócios sem necessidade de
qualquer autorização externa.

Carece, contudo, de autorização administrativa.

Porem o processo de constituição de uma sociedade comercial encontra-se, em parte, subtraído à liberdade
contratual, porque o legislador predeterminou as etapas que devem ser cumpridas.

A sociedade comercial nasce por força da iniciativa privada e o ato constitutivo inicial através de um contrato
de sociedade que reúne duas ou mais pessoas. Artº 7 e 9 do CSC.

O propósito de constituir uma sociedade comercial, assenta num acordo, em que duas ou mais pessoas se
obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum, de certa atividade económica, que não
seja de mera fruição.

Tendo as partes decidido exercer em comum uma atividade comercial, devem adotar um dos tipos previstos
no Código das Sociedades Comerciais (art. 1º/3).

O registo comercial publicita certos factos respeitantes a determinados sujeitos, tendo em conta a segurança
do tráfico ou comércio jurídico.

Os terceiros ao contrato têm todo o interesse em conhecer os termos do contrato de sociedade e as suas
alterações.

O principal efeito associado ao registo definitivo do contrato de sociedade, reside na aquisição de personalidade
jurídica da sociedade comercial (art. 5º CSC).

Nos termos do art. 19º/1 CSC, o registo definitivo do contrato de sociedade, determina a assunção automática
dos negócios jurídicos aí referidos.

Já os negócios referenciados no art. 19º/2 CSC só serão assumidos pela sociedade se houver uma decisão da
administração, que deve ser comunicada à contraparte nos 90 dias posteriores ao registo

Página 4 de 9
Nos termos do art. 166º CSC, os atos relativos à sociedade estão sujeitos a registo e publicação nos termos da
lei respetiva.

Esta exigência legal, visa reforçar a possibilidade de conhecimento do contrato de sociedade, por parte de
todos os que entram em relação com a sociedade.

A falta de publicação determina a inoponibilidade da sociedade perante terceiros.

Na verdade e de acordo com o art. 168º/3 CSC, a sociedade não pode opor a terceiros atos cuja publicação
seja obrigatória sem que esta esteja efetuada, salvo se a sociedade provar que o ato está registado e que
terceiro tem conhecimento dele.

De acordo com o art. 41º CSC, no período anterior ao registo definitivo, a invalidade do contrato de sociedade,
seja qual for o tipo de sociedade em causa, a invalidade do contrato rege-se pelas disposições aplicáveis aos
negócios jurídicos nulos ou anuláveis.

Mas ressalvou duas exceções:

Em matéria de consequências jurídicas da declaração de nulidade e da anulação, remete para o art. 52º CSC
(art. 41º/1 CSC);
A invalidade resultante de vício da vontade ou de usura, só é oponível aos demais sócios (art. 41º/2 CSC)

Em sede de consequências da declaração de invalidade do contrato de sociedade, o legislador afastou-se


significativamente do regime do Direito Civil.

Segundo o art. 289º CC, tanto a declaração de nulidade como a anulação de um negócio, têm eficácia
retroativa, devendo ser restituído tudo o que tiver sido prestado.

Diferente é a solução do art. 52º/1 CSC, porquanto “a declaração de nulidade e a anulação do contrato de
sociedade determinam a entrada da sociedade em liquidação” (art. 165º CSC).

Portanto, a declaração de nulidade ou a anulação do contrato social leva à liquidação da sociedade,


praticamente como se se tratasse de uma sociedade efetivamente não constituída.

A eficácia dos negócios jurídicos concluídos anteriormente em nome da sociedade não é afetada pela
declaração de nulidade ou anulação do contrato social (art. 52º/2 CSC).

Nem a “invalidade do contrato de sociedade não exime os sócios do dever de realizar ou completar as suas
entradas nem tão pouco os exonera da responsabilidade pessoal e solidária perante terceiros quem, segundo
a lei, eventualmente lhe incumba” (art. 52º/4 CSC).

Página 5 de 9
O sócio entra para a sociedade com uma contribuição patrimonial em dinheiro ou em espécie assumindo, em
contrapartida o “status” de sócio.
A posição jurídica de sócio respeita, pois diretamente à sociedade e não se estabelece entre os sócios sendo
uma consequência da personalidade jurídica daquela.

A participação social é o conjunto de direitos e obrigações atuais e potenciais do sócio.

O sócio tem desde logo direito a quinhoar nos lucros, a participar nas deliberações de sócios, a obter
informações sobre a vida da sociedade e a ser designado para os órgãos de administração e de fiscalização a
sociedade (art. 21º CSC).

Os sócios são obrigados a realizar as suas entradas e a quinhoar nas perdas (art. 20º CSC).

O sócio adquire, face à sociedade uma situação jurídica complexa, composta por posições ativas e passivas,
direitos e obrigações.

A fonte desses direitos e obrigações é o ordenamento resultante da personalidade jurídica da sociedade, a que
o sócio aderiu, mediante a subscrição ou aquisição da sua participação através de princípios:

Princípio do interesse social: que corresponde ao interesse da empresa como entidade coletiva, que constitui
o substrato da sociedade comercial;

Princípio da finalidade lucrativa: a sociedade tem por definição, uma finalidade lucrativa –pelo qual os sócios,
ao entrarem para a sociedade fazem-no interessadamente; transmitindo a sua entrada de bens para a
sociedade, esperando obter uma vantagem patrimonial que pode consistir na distribuição de indivíduos, na
valorização da sua participação ou no direito ao “bónus” da liquidação.

Princípio da igualdade de tratamento: encontra-se expressamente consignado no art. 13º CRP, mas em direito
privado, o princípio da igualdade de tratamento colide com o princípio da liberdade contratual – art. 405º/1 CC.

No direito societário, o princípio da igualdade de tratamento não está expressamente consagrado, como tal;

Mas resulta indiretamente de vários artigos do Código das Sociedades Comerciais – art s. 22º/1 e 2; 24º/1;
58º/1-b; 203º/2; 210º/4; 250º/1; 21º; 384º/1; etc. – e da vontade negocial tácita dos sócios, na ausência de
qualquer estipulação no pacto social em sentido contrário.

Uma vez constituída a sociedade, o princípio da igualdade de tratamento poderá intervir em várias situações,
normalmente para proteção de minorias, nomeadamente:

Página 6 de 9
Na exigência do pagamento das entradas de capital;
No chamamento de prestações suplementares;
Na participação dos lucros e nas perdas;
Na atribuição do direito do voto;
Nas deliberações dos sócios;
Nos aumentos de capital social.

O capital social é o elemento do pacto social que se consubstancia numa cifra tendencialmente estável,
“representativa da soma dos valores nominais das participações sociais fundadas em entradas em dinheiro e/ou
em espécie.

No plano interno, nas relações que se estabelecem– dentro da sociedade – o capital deve desempenhar:

Uma função de determinação da posição jurídica do sócio (de determinação dos seus direitos e obrigações);
Uma função de “arrumação” do poder entre sócios;
Uma função de produção.
No plano externo, no âmbito das relações para fora da sociedade – onde o capital social realiza igualmente
funções de maior relevância, nomeadamente:
A função de avaliação económica da sociedade; e
A função de garantia.

O capital social diz-se intangível, querendo com isso significar, que os sócios “não podem tocar” no capital
social. Aos sócios não poderão ser atribuídos bens nem valores que sejam necessários à cobertura do capital
social.

No contrato de sociedade os sócios subscrevem, desde logo obrigações de entrada, uma participação social –
constituída por partes sociais, quotas ou ações – e obrigam-se a realizar ou liberar o respetivo valor (art. 980º
CC).

Com a subscrição da participação social constitui-se a obrigação de entrada;

A realização ou liberação do capital social é o ato de cumprimento dessa obrigação.

As entradas dos sócios podem ser

Em dinheiro

A entrada inicial tem de ser depositada numa instituição de crédito antes da constituição da sociedade, como
forma de controle, mas pode ser levantada após o registo da sociedade e, mesmo, antes, quando os sócios
autorizem o seu levantamento pelos administradores para fins determinados, nomeadamente os encargos com
a constituição, instalação e funcionamento da sociedade (arts. 202º/3 e 4; 277º/3 e 4 CSC).

Se o sócio não efetuar a entrada no prazo estipulado entra em mora depois de interpelado para efetuar o
pagamento e fica sujeito às sanções legais e estatutárias (arts. 27º/3; 203º/3; 285º/2 CSC)

Entradas em espécie

Têm de ser claramente descritas no ato constitutivo da sociedade e podem consistir na transmissão de
propriedade de coisas móveis ou imóveis, inclusive de um estabelecimento comercial, na transmissão de
direitos da propriedade industrial, ou na transmissão de créditos, incluindo os próprios suprimentos à sociedade.

Página 7 de 9
Em trabalho

Correspondem aos chamados sócios de indústria, que só são admitidos nas sociedades em nome coletivo (art.
178º CSC) .

O Código das Sociedades Comerciais prevê a possibilidade de os estatutos estipularem, para além das
obrigações de entrada, obrigações de prestações acessórias (arts. 209º e 287º CSC).

Estas prestações acessórias podem consistir, para além da obrigação de prestação de um serviço ou trabalho,
na obrigação de ceder o gozo à sociedade de determinada coisa, móvel e/ou imóvel, ou de mutuar certa
importância a título gratuito ou oneroso (art. 244/1 CSC).

O sócio está adstrito a um dever de lealdade e colaboração, que constitui um dever acessório de conduta em
matéria contratual e um dever geral de respeito e de boa fé.

Este dever é tanto mais alargado quanto maior for a “affectio societatis” do tipo societário e abrange a proibição
do sócio exercer atividades concorrentes (art. 900º CC) e nas sociedades em nome coletivo (art. 180º CSC).

É direito do sócio não ser excluído pela maioria.

Princípio da conservação da empresa, é uma aplicação do princípio do interesse social.

O sócio, se praticar atos lesivos dos interesses sociais da empresa que possam fazer perigar a subsistência da
empresa, poderá ser afastado da sociedade, para salvaguarda da própria empresa.

Na verdade, nesse caso, o sócio não estaria ao exercer o direito à qualidade de sócio de acordo com a sua
função social, mas sim numa situação de abuso de direito.

De igual modo, o aproveitamento da qualidade de sócio para praticar atos lesivos do interesse social é uma
manifesta violação do princípio da boa fé.

Casos legais de exclusão de sócios;


Falta de realização das entradas;
Falta de realização das prestações suplementares nas sociedades por quotas;
Exclusão por justos motivos.
Aquisições tendentes ao domínio total.
Todavia, nenhum destes casos funciona automaticamente, isto é, verificado o facto cabe aos sócios a
faculdade de deliberarem, ou não, a exclusão do sócio faltoso (arts. 246º/1-c; 373º/2 CSC).

Para além da exclusão judicial por justos motivos, o Código das Sociedades Comerciais prevê ainda a
possibilidade de exclusão do sócio através da amortização forçada das quotas ou ações, verificados os casos
expressamente previstos nos estatutos da sociedade mediante simples deliberações (arts. 232º e segs.; 241º/1
e 2; 374º CSC).

Página 8 de 9
Página 9 de 9

Você também pode gostar