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GUERRA DOS MASCATES (1710-1711): HISTORIOGRAFIAS E NARRATIVAS NOS

LIVROS DIDÁTICOS

Autor: Thiago Souto Maior Ferraz de Oliveira


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
thiago.soutomaior@ufpe.br

Orientação: Prof. Dr. Arnaldo Martin Szlachta Júnior


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Prof. Dr. George Félix Cabral de Souza


Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

1. Introdução
O presente texto, derivado do Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso do autor,
almeja estabelecer o nível de relação entre a historiografia sobre a Guerra dos Mascates (1710-
11) e as narrativas sobre ela encontradas em dois livros didáticos atuais do Ensino Básico
brasileiro. Essa problemática se apresentou para nós a partir da observação de que diversos
livros didáticos subestimam a relevância do conflito civil pernambucano: a maior parte lhe
concedia cerca de meia página ou sequer o discutiam, citando-o apenas, preferindo pôr em
destaque os conflitos do Ciclo do Ouro e as revoltas com caráter independentista.
Em relação a nossa metodologia, primeiramente, procuramos consultar a historiografia
disponível acerca do fato histórico, discorrendo sobre e analisando criticamente diferentes
obras. Devido às limitações de espaço para esse artigo e nosso próprio recorte referencial,
elencamos para nossa análise historiográfica os seguintes autores: Robert Southey, Francisco
Adolfo de Varnhagen, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior e Evaldo Cabral de Mello.
Seguindo, nos utilizamos de dois conceitos para caracterizar o que o Ensino de História
(e os seus materiais didáticos) deveria objetivar em sua configuração escolar-formal:
Consciência Histórica e Literacia Histórica, respectivamente concebidos por Jorn Rüsen e Peter
Lee. Outrossim, pautamos nossa concepção de Livro Didático a partir de Kazumi Munakata e
Circe Bittencourt, que tecem críticas tanto para sua confecção, aspectos e usos como para uma
história da pesquisa sobre o mesmo.
Por fim, selecionamos duas obras didáticas aprovadas pelo último Programa Nacional
do Livro Didático (PNLD) para o Ensino Médio, válido para o triênio 2018-20. E, desse modo,
analisamos os trechos que tratavam da Guerra dos Mascates em cada uma delas, objetivando
enxergar justamente as linhas historiográficas que construíam as narrativas e como os discursos
estavam ou poderiam estar relacionados às nossas visões do Ensino de História e Livro
Didático.
Antes, contudo, pensamos ser prudente explanar brevemente sobre a Guerra dos
Mascates em si. Destarte, cabe dizer que sua ocorrência está em íntima relação com a Guerra
de Restauração dos luso-pernambucanos contra a Companhia das Índias Ocidentais e os
holandeses. Na segunda metade do século XVII, os senhores de engenho passaram a pleitear
muitos privilégios frente a Coroa, advogando que tinham reconquistado os domínios a El Rei
sem ajuda alguma da metrópole. Nesse contexto do post-bellum, Olinda, sede administrativa da
capitania de Pernambuco, estava sendo ofuscada pelo crescimento demográfico e econômico
do povoado do Recife, importante praça comercial e porto, mas que ainda era subordinado à
câmara olindense (MELLO, 2003, p. 141).
Recife havia atraído muitos migrantes da metrópole portuguesa, pessoas geralmente de
origem humilde e não-nobre (MELLO, 2003, p. 144) mas que encontraram no burgo
pernambucano uma forma de fazer riqueza (mascatear, comercializar) e reclamar para si certos
direitos. Os senhores de engenho, que monopolizavam a gestão municipal olindense, não viam
com bons olhos ceder tais direitos aos recifenses, com quem estavam em débito constante
devido à crise do açúcar, aos seus gastos ostentativos e suntuários e aos elevados juros cobrados.
Os mascates, na outra ponta, desejavam controlar os impostos municipais, arrematações e
cargos fiscalizantes. Os dois lados justificavam a briga política no esteio dos defeitos do Antigo
Regime: os nobres acusavam os mascates de possuírem defeito mecânico enquanto estes
acusavam aqueles de terem perdido a pureza de sangue na miscigenação com indígenas e negros
(MELLO, 2003, pp. 188-189).
Tendo isso em mente, uma das alternativas mascatais era separar-se do concelho
municipal de Olinda, erguendo câmara própria no Recife. Após muitas querelas, em 1709 a
Coroa portuguesa despachou ordem para se elevar o burgo portuário à condição de Vila com
termo próprio (MELLO, 2003, p. 244). Chegando a frota com o documento em 1710, o
governador Sebastião de Castro e Caldas fez levantar o pelourinho recifense, o qual gerou
insatisfação entre os nobres, que fizeram-no atentado falho e depois pegaram em armas e
puseram-no em debandada para a Bahia. Assim, discutiram quem deveria substituir o
funcionário fugido: alguns cogitaram formar uma república aristocrática, separada de Portugal;
a maioria dos pró-homens decidiu, entretanto, dar o poder ao bispo, Manuel Álvares da Costa,
como estava na lei e se fazia de costume.
Alguns meses se passaram e em 1711 os mascates organizaram o seu levante tomando
algumas posições importantes no Recife (MELLO, 2003, pp. 377-380), que foi posto sob cerco
dos olindenses. Algumas escaramuças aconteceram no litoral sul da capitania, mas o conflito
só se resolveu com a chegada do novo governador apontado pela Coroa, Félix José Machado,
que, a priori, se mostrou imparcial, mas logo impôs devassas para condenar os revoltosos de
Olinda e elevou permanentemente Recife à condição de Vila (MELLO, 2003, p. 411). Desse
modo, a cidade duartina continuou ofuscada pelo desenvolvimento do Recife, mas este alçou à
capital de Pernambuco somente no século XIX.

2. O conflito e sua Historiografia


Destarte, podemos passar à análise de como cada uma das historiografias e suas
respectivas obras trataram o conflito civil-colonial de Pernambuco no alvorecer do século
XVIII. Primeiramente, Robert Southey, inglês pertencente a uma época ainda de
amadurecimento das ciências especializadas, publica seus extensos volumes da History of
Brazil durante a década de 1810, sob uma visão pessimista da América portuguesa.
De acordo com Southey (1819, pp. 85-86), os descendentes daqueles que haviam
recuperado Pernambuco dos holandeses e recebido mercês queriam reter para si tais méritos,
de tal forma que exigiam gratitude da Coroa e afirmavam que a soberania portuguesa ali era
derivada primeiro deles mesmos. Interessante notar que o brasilianista inglês (SOUTHEY,
1819, p. 86) achou justa a causa mascatal, mas também argumenta que a concessão da Coroa
em 1710 foi uma forma de inibir quaisquer animosidades de autonomia “feudal” - assim
caracterizadas por ele - por parte dos mascates.
Por outro lado, pondera que os que aderiram à causa olindense, que chama
frequentemente de pernambucanos, temiam perder autoridade e receita quando da divisão dos
termos entre duas localidades tão próximas. A partir do momento que explicita a possibilidade
de ter sido cogitada uma república diante da ausência do governador e afirmar que a tendência
ao republicanismo é geral a todas as colônias, Southey começa a denominar os mascates e seus
partidários de legalistas (loyalists, no inglês), inferindo que os olindenses em sua maioria
estavam contra a autoridade da Coroa. O inglês brasilianista também destaca o costume de
violência e insubordinação que passou a existir em Pernambuco desde o domínio holandês,
análise porventura derivada do seu pessimismo.
Contudo, o historiador brasilianista mais consagrado do século XIX foi Francisco de
Adolfo de Varnhagen que, sob o paradigma historiográfico do positivismo, escreveu sua obra
História Geral do Brazil, publicada pela primeira vez na década de 1850. Em suas primeiras
páginas voltadas ao conflito colonial pernambucano, Varnhagen (1877, p. 822) comenta que o
crescimento demográfico do Recife, no post-bellum, servia como pretexto para que
governadores e autoridades reais escolhessem residir no bairro mascatal, ao contrário do que
mandava o costume, isto é, na freguesia sede do concelho, Olinda.
O autor também levanta o ressentimento olindense frente a vontade dos comerciantes
do Recife em alçar a cargos municipais para que pudessem melhor gerir os impostos que
recaíam sobre suas lojas. Nada comenta, porém, no que tange aos débitos que os senhores de
engenho - que geriam a coisa pública em Olinda – haviam angariado em grandes somas com os
mesmos comerciantes. Varnhagen argumenta que (1877, p. 823) a causa dos males que viriam
a acometer a Capitania derivou menos da elevação do Recife em si como vila que a questão
jurisdicional dos territórios de cada termo: os olindenses não aceitavam de jeito algum perder
as freguesias do Cabo, Ipojuca e Muribeca para o recém-instaurado município.
Varnhagen, ao contrário de Southey, omite em sua obra a tendência republicana cogitada
por alguns nobres da terra, em especial Bernardo Vieira de Melo. Verificamos ainda um
paradoxo em seus escritos, pois sendo ele um positivista preocupado com a verdade dos fatos
e a supressão das parcialidades, assume que preferiu omitir os nomes de alguns envolvidos no
conflito, nomes esses de avós e bisavós de alguns “cidadãos honestos” contemporâneos ao
autor. Ainda, relata que as fontes primárias disponíveis refletem bem as parcialidades latentes
de 1710 (é notória ainda a leve crítica feita a Southey):
Para a historia desta guerra civil quasi podemos dizer que nos sobram os documentos,
e as chronicas contemporâneas, onde ha que buscar a verdade, estreme das paixões de
partido. O P. Luiz Corrêa seguido por Southey, era parcial dos do Recife; Manuel do
Rego, por estes retido preso, não lhes podia ser favorável; e finalmente o P. Affonso
Broa da Fonceca quiz deixar aos vindouros um testemunho dos feitos do novo
Camarão. (VARNHAGEN, 1877, p. 826)
Partindo agora para uma historiografia mais recente, surge Sérgio Buarque de Holanda,
modernista que, sob o referencial da sociologia weberiana e seus tipos ideais, comenta
brevemente em Raízes do Brasil sobre a ocupação colonial do tipo holandês e como ela viria a
causar uma rivalidade precoce nas décadas seguintes entre as “elites locais”:
População cosmopolita, instável, de caráter predominantemente urbano, essa gente
[migrantes francogermânicos, luso-portugueses, indígenas e africanos] ia apinhar-se
no Recife ou na nascente Mauritsstad, que começava a crescer na ilha de Antônio Vaz.
Estimulando, assim, de modo prematuro, a divisão clássica entre o engenho e a cidade,
entre o senhor rural e o mascate, divisão que encheria, mais tarde, quase toda a história
pernambucana. (HOLANDA, 1995, p. 63)
Já no manual de História do Brasil que dirigiu e escreveu junto a diversos intelectuais
brasileiros, História Geral da Civilização Brasileira, Holanda (2003, p. 431) dedica mais
algumas páginas à sedição pernambucana e a coloca como “[…] indício certo de que as
sociedades nortistas estavam assumindo uma consciência cada dia mais firme de como resolver
os seus problemas pelas próprias mãos”. Em nota de rodapé, o autor constata que essa
“consciência” pôde ser notada ainda em 1666 com a deposição do governador da capitania,
Jerônimo de Mendonça Furtado, levada a cabo pelos oficiais de Olinda e acatada pela Coroa.
O autor tenta embasar seu argumento do espírito nativista e/ou consciência de
autogoverno, por exemplo, pela possibilidade de que Bernardo Vieira de Melo e outros senhores
de engenho teriam sugerido tornar a capitania independente numa espécie de república
aristocrática ou colocá-la sob a suserania do reino da França (HOLANDA, et al., 2003, p. 433).
Também é associado a esse nativismo uma série de demandas que a nobreza terratenente fez ao
Bispo “governador interino” Manuel Álvares da Costa, como: que aqueles que eram mercadores
ou filhos de Portugal fossem proibidos de votar nas câmaras; e que se estabelecesse um porto
franco no qual duas naus estrangeiras pudessem aportar.
Ainda no fim, ao explicitar as punições dadas aos revoltosos, Holanda (2003, p. 437)
ressalta que “seqüestraram-se [sic] os bens dos indiciados, cujas figuras principais foram
mandadas para Lisboa, depois de denunciadas no Recife como réus de lesa-majestade e de
inconfidência.” E conclui que o nativismo da nobreza da terra no Pernambuco de 1710 não foi
exclusivo desse tempo e espaço, afirmando que houvera movimentos semelhantes pela América
portuguesa durante o Setecentos (HOLANDA, et al., 1997, p. 437).
Outro autor clássico dessa historiografia interpretativa do Brasil colonial é Caio Prado
Júnior que, sob uma perspectiva mais materialista/marxista, discorre acerca do sentido da
colonização portuguesa, da sociedade colonial e do mecanismo ibérico de dominação ao longo
dos séculos. Em Evolução Política do Brasil, Prado Jr. constrói uma análise mais abrangente da
rivalidade “senhor de engenho versus comerciante”, colocando-a como presente em toda a
América portuguesa a partir da segunda metade do século XVII, quando, em sua visão, a
economia colonial começara a se complexificar e se desenvolver:
A relativa simplicidade da estrutura social brasileira no primeiro século e meio do
descobrimento se complica na segunda metade do século XVII, com o aumento da
riqueza e desenvolvimento econômico do país, pela intromissão de novas formas
econômicas e sociais. Ao lado da economia agrícola que até então dominara,
desenvolve-se a mobiliária: o comércio e o crédito. E com ela surge uma rica
burguesia de negociantes, que, por seus haveres rapidamente acumulados, começa a
pôr em cheque a nobreza dos proprietários rurais, até então a única classe abastada e,
portanto, de prestígio na colônia. (PRADO JR., 1994, pp. 38-39)
Em Formação do Brasil Contemporâneo, Prado Jr (2011, pp. 313-314) comenta que os
negociantes, apesar do preconceito de origem feudal, tiveram uma posição importante na
colônia, especialmente devido ao seu financiamento de outros grupos, disputando, assim, com
os senhores de engenho o poder político. Ainda, segundo ele:
Teremos aqui no Brasil uma réplica da tradicional rivalidade de nobres e burgueses
que enche a história da Europa. E se tornarão entre nós tanto mais vivas e acirradas
que trazem um cunho nacional, pois, como vimos, são nativos do reino aqueles
últimos, enquanto os outros vêm dos primeiros ocupantes e desbravadores da terra.
Com mais direitos, portanto, entenderão eles. (PRADO JR., 2011, p. 314)
Não obstante, a mais recente obra monográfica que tratou da sublevação pernambucana
com rigor científico foi Fronda dos Mazombos, Nobres contra mascates, Pernambuco 1666-
1715, de autoria de Evaldo Cabral de Mello. Nela, o autor procura concatenar os fatos da dita
Guerra dos Mascates, que, em sua visão, foi um episódio cujas narrativas foram tomadas pela
literatura (em referência ao livro de José de Alencar) antes mesmo de terem sido postas como
objetos de rigoroso estudo científico. Além disso, como o título sugere, Mello objetivou
perceber e estabelecer antecedentes, a partir do fim da ocupação holandesa, que expliquem ou
ao menos deem indícios dos problemas que viriam a explodir no ano de 1710.
Na primeira parte da obra, o autor põe em evidência os preâmbulos do conflito,
destacando alguns eventos desde a deposição do governador José de Mendonça Furtado da
capitania em 1666, perpassando os litígios entre as ordens religiosas que instigavam e refletiam
a rivalidade estamental, até o governo do Marquês de Montebelo, marcado por uma espécie de
ensaio do conflito de 1710-11, as Alterações de Itamaracá (1792). Além disso, Mello trabalha
em um capítulo específico a dicotomia “loja versus engenho”, esmiuçando as generalidades e
exceções, ódios e alianças que envolviam os partidários. Indica ele, por exemplo, que:
[...] compondo-se a mascataria de uma nata de “mercadores de sobrado”, grandes
negociantes por atacado que se dedicavam a outras atividades lucrativas, e de uma
maioria de “mercadores de loja”, negociantes a varejo, o defeito do trabalho manual
não podia ser argüido contra os primeiros, os quais, embora também possuíssem
“lojas”, isto é, o andar térreo das suas residências, [...] operavam através de caixeiros,
não medindo nem pesando os gêneros com suas próprias mãos [...]. (MELLO, 2003,
p. 209)
Já em sua segunda parte, Mello parte para a análise sincrônica da fronda, intitulando um
de seus capítulos como “O desgoverno de Castro e Caldas”, no qual discorre sobre as querelas
pessoais, políticas e religiosas nas quais o governador se imbricou desde 1707 até sua fuga em
1710. Destacamos a inimizade que o mesmo adquiriu tanto com os pró-homens “mazombos”
de Olinda, como os frades do mosteiro de São Bento de Olinda (originalmente partidários da
causa mascatal), o ouvidor José Inácio de Arouche e o juiz-de-fora Luís de Valençuela Ortiz -
funcionários régios. Por exemplo, Castro e Caldas (MELLO, 2003, p. 237) “[...] denunciou
irregularidades cometidas pelos vereadores com a conivência do ouvidor [Arouche], as quais
teriam redundado em aumento de despesas e na consequënte [sic] diminuição da receita da
Coroa.”
Quando em 1710 parte da nobreza revoltosa arquitetava retirar o governador do poder,
ainda tinham na memória a deposição de 1666. Porém, a relativa popularidade do governador
no povoado recifense e a consolidação das guarnições militares mascatais fizeram com que o
momento se radicalizasse. Segundo Mello (2003, pp. 284-285):
O assassinato do governador não carecia de aval jurídico. No Reino, a jurisprudência
e a Teologia haviam justificado a Restauração Portuguesa (1640) em termos da
doutrina medieval de que os povos tinham direito a destituir o monarca tirânico,
podendo, como derradeiro recurso, assassiná-lo [...].
Mais à frente, o autor exerce uma importante análise historiográfica e documental, numa
tentativa de verificar de que forma o republicanismo secessionista e aristocrático foi
considerado como alternativa viável por uma parte significativa dos senhores de engenho. Para
o historiador pernambucano, as
[...] alegações oscilam dentro de uma faixa que vai da aspiração de autogoverno à
intenção precisa de estabelecê-lo sob forma republicana. É certo que elas procedem
de fontes recifenses ou simpáticas ao Recife, o que as teria desqualificado caso a
crítica histórica ainda se pautasse pelos critérios formas da historiografia positivista.
A favor desses depoimentos, pode-se, contrário senso, argumentar com o estranho e
completo mutismo das narrativas olindenses acerca da semana de 7 a 14 de novembro,
e, em particular, da demora em empossar o bispo. (MELLO, 2003, p. 321))
Conclui então que (MELLO, 2003, p. 329) “as fontes coevas atestam as veleidades
republicanas de uma minoria de pró-homens envolvidos na insurreição da nobreza”. Por último,
gostaríamos de destacar que, segundo Mello, a repressão vai silenciar, por cerca de um século,
quaisquer contestações da nobreza local. Com essa apatia do Norte agrário no restante do século
XVIII, a historiografia se ocupou mais intensamente com as inconfidências do fim do século;
porém, segundo o autor, foi a crise de início dos Setecentos que fez a metrópole lusitana
enxergar o seu domínio sobre a América portuguesa de forma pessimista, com a constatação da
insatisfação crescente dos colonos.

3. Perspectivas para o Ensino de História e problematizações sobre o Livro Didático


Antes de partirmos para uma tentativa de definição do Livro Didático, gostaríamos de
expor, em nosso entendimento, quais são os objetivos do Ensino de História, cujas
caracterizações podem ser formuladas mediante os conceitos da consciência histórica e a
literacia histórica. Jorn Rüsen (2001, p. 57) foi um filósofo e teórico da história que concebeu
a consciência histórica, definida como "[…] a suma das operações mentais com as quais os
homens interpretam sua experiência da evolução temporal de seu mundo e de si mesmos, de
forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo."
É válido ressaltar que essa orientação a partir do passado para o presente e o futuro é
uma historicidade intrínseca à condição humana, ou seja, a consciência histórica seria universal
para e inerente aos seres humanos, enquanto seres sociais e coletivos. Parafraseando o filósofo
alemão, Cerri (2011, p. 30) afirma que “o que varia são as formas de apreensão dessa
historicidade, ou, nos termos de Rüsen, as perspectivas de atribuição de sentido à experiência
temporal.”
Por sua vez, literacia ou educação histórica (do inglês historical literacy) foi um
conceito desenvolvido por Peter Lee no intuito de pensar um processo de ensino-aprendizagem
de História fundamentado na própria epistemologia do conhecimento histórico. Nesse sentido,
para que a literacia da disciplina seja possível e desemboque em um ensino-aprendizagem
transformativo, Lee (2006, p. 145) aponta que “eles [os estudantes] devem estar equipados com
dois tipos de ferramentas: uma compreensão da disciplina de história e uma estrutura utilizável
do passado”. Compreender a disciplina significa desenvolver os conceitos de segunda ordem
(empatia, análise, evidência, mudança, etc.) com os quais se constroem e criticam as histórias;
enquanto que a estrutura utilizável consiste no conjunto dos conhecimentos substantivos, os
conteúdos históricos em si (como Revolução Industrial ou Escravidão Atlântica).
A relação que queremos destacar para esse breve trabalho é justamente aquela em que a
literacia histórica tem por finalidade fazer desenvolver a consciência histórica, isto é, permitir
que nos reorientemos criticamente no tempo e interliguemos passado, presente e futuro. Nas
palavras de Lee (2016, p. 139), que dialoga ativamente com Rüsen: “A história tem um lugar
na educação porque desenvolve a consciência histórica dos alunos, localizando-os no mundo,
de forma a incentivá-los a pensar sobre as relações temporais”. Outro detalhe importante é que,
para esses dois intelectuais, um entendimento íntegro da História enquanto ciência advém da
capacidade de colocar as múltiplas narrativas e historiografias em situação de dúvida; a crítica
recíproca e constante entre as parcialidades e referenciais, quando bem fundamentada, amplia,
supera e torna garantível o conhecimento histórico.
Tendo em mente essa perspectiva relacional entre consciência e literacia históricas,
podemos agora descrever e levantar apontamentos quanto ao Livro Didático e suas múltiplas
facetas. Apesar de ser facilmente identificável e diferenciá-lo de outros tipos de livro, para
Bittencourt (2008, p. 301), “[…] trata-se de um objeto cultural de difícil definição, por ser obra
bastante complexa”. Ainda, (BITTENCOURT, 2008, p. 302) “o processo de avaliação didática
promovido pelo MEC nos últimos anos exemplifica o alcance das polêmicas e do papel que a
literatura escolar desempenha na vida cultural e social brasileira […].”
Desse modo, os livros didáticos possuem muitas interferências na sua elaboração,
confecção, distribuição e utilização, já que sua estrutura é marcada por diferentes aspectos: o
mercadológico, o curricular, o pedagógico e o ideológico. Em relação ao primeiro, Kazumi
(1997, pp. 53-54) afirma:
[…] O crescimento do PNLD, desde a sua criação e apesar de recuos, foi superior ao
aumento do seu público-alvo. Em outras palavras, aumentou a quantidade de livros
recebidos por cada aluno matriculado na escola pública de 1º grau – pelo menos em
tese. Para as editoras, esse público – cujo consumo de livros é maior do que o consumo
médio no Brasil –, representava, certamente, uma fatia do mercado não desprezível e
o Estado, comprador, um cliente preferencial.
Ora, enquanto produto material passível de venda e retorno financeiro significante, o
livro didático esteve e está submetido aos interesses das editoras. Porém, o material também
precisa atender às demandas de seus clientes, ou seja, precisa satisfazer a maneira como o
Estado, professores, alunos – e a sociedade em geral – esperam que os conteúdos sejam ali
abordados. Assim, a partir dessa demanda é que o aspecto mercadológico encontra os outros
três, no sentido de qual(is) e como deve(m) ser escrita(s) a(s) História(s) em um livro didático.
Kazumi (2018, p. 274), em referência ao contexto histórico de redemocratização dos
anos 1980 e 1990 – mas que ainda tem forte presença em nossa democracia liberal atual -, diz
o seguinte:
Se a ventura sopra a favor das reivindicações democráticas, progressistas e até mesmo
esquerdistas; e se isso se traduz, na disciplina de História, na valorização de
abordagens que presumivelmente propiciem a ‘reflexão’, a ‘crítica’, a
‘conscientização’ e a ‘promoção da cidadania’, a empresa capitalista que produz livros
a esse respeito prefere atender a essa demanda do que permanecer fiel à sua suposta
‘ideologia’ [burguesa].
Nessa reflexão sobre os temas das pesquisas dos anos 1980 e 1990 sobre os livros
didáticos, Kazumi sugere que haja uma superação da crítica ideológica, dando-se melhor
atenção aos conteúdos e às didáticas. Ou seja, pouca atenção se deu ao aspecto que envolve o
processo de ensino-aprendizagem, a forma e linguagem como os conteúdos são apresentados e
abordados, os exercícios e atividades sugeridos e quais possibilidades o livro didático fecha ou
abre para o professor em sala de aula. Ainda, Bittencourt (2008, p. 316) complementa que “é
importante identificar se o autor da obra é o autor do conteúdo pedagógico, porque nem sempre
se trata da mesma pessoa ou grupo de pessoas.”
A deficiência de “métodos” de ensino modernos e centrados no aluno ou a ideologização
subjacente aparecem como críticas frequentes em pesquisas sobre os livros didáticos no Brasil.
Logo, o que se conclui é que o livro didático é considerado uma “mazela” significativa para a
educação básica brasileira, frequentemente adjetivada de “tradicional”. Porém, Bittencourt
(2008, p. 300) alerta que “o problema de tais análises reside na concepção de que seja possível
existir um livro didático ideal, uma obra capaz de solucionar todos os problemas do ensino, um
substituto do trabalho do professor”.
Por sua vez, os conteúdos propriamente históricos e suas narrativas em um livro didático
se baseiam nos currículos oficiais ou propostas curriculares, que são os vínculos entre a variada
produção acadêmica historiográfica e o que as sociedades democráticas e seus governos
esperam que os alunos aprendam como História. Segundo Bittencourt (2008, p. 313),
Um problema considerado como dos mais graves em relação ao livro didático é a
forma pela qual apresenta os conteúdos históricos. O conhecimento produzido por ele
é categórico, característica perceptível pelo discurso unitário e simplificado que
reproduz, sem possibilidade de ser contestado, como afirmam vários de seus críticos.
Trata-se de textos que dificilmente são passíveis de contestação ou confronto, pois
expressam ‘uma verdade’ de maneira bastante impositiva.
O Livro Didático é, à primeira vista, um depósito do conhecimento humano, o qual é
transpassado como universal e imutável, numa tentativa de facilitar o acesso ao conhecimento
para dois grupos tão numerosos e heterogêneos de “clientes”, professores e alunos. No esteio
dessa discussão das narrativas presentes nos livros didáticos, frequentemente traz-se à tona o
conceito de verdade dentro da própria ciência histórica. Numa perspectiva que tenha superado
certos paradigmas historiográficos, a História enquanto ciência não busca uma verdade
totalizante e definitiva, mas diversas tentativas de verdades, que dependem de múltiplas lentes
sociais e sistemas teóricos, não se esquecendo, contudo, do rigor científico.
Como que o Livro Didático poderia superar essa imposição de verdade única e
dogmática que ele mesmo geralmente expõe, pelo menos para o saber escolar da História? Uma
resposta possível, a nosso ver, seria, retomando Lee e Rüsen, demonstrar a multiplicidade de
perspectivas das quais as historiografias dependem, a partir de uma educação/literacia histórica
que permitisse angariar as competências estruturantes da disciplina. Em suma, o livro didático
deveria municiar os estudantes com mais de uma narrativa/historiografia, complementares e/ou
conflitantes, para que os ditos conceitos estruturantes da História pudessem ser bem utilizados,
resultando em uma relação significativa do passado para com o presente e, em última instância,
consolidando suas identidades numa perspectiva verdadeiramente transcultural e humana.

4. “História Global” e “Olhares da História: Brasil e mundo”


O primeiro volume sobre o qual se deteu foi “História Global 2” de autoria de Gilberto
Cotrim e publicado pela editora Saraiva (3ª edição) em 2016. Segundo o último PNLD trienal
para o Ensino Médio (2018-20), este é um dos livros aprovados pelo programa para ser
devidamente utilizado no Ensino Básico brasileiro, mais especificamente para o 2º ano. Antes,
é necessário localizar o texto que trata da Guerra dos Mascates dentro dos capítulos e unidades,
para que entenda-se como o acontecimento e sua abordagem são tratados nos contextos maiores
e até para compreender a divisão didática escolhida pelos agentes produtores do livro.
“Guerra dos Mascates (1710)” apresenta-se no capítulo 5, denominado “Holandeses no
Brasil”, e este, por sua vez, está na unidade número 1, “Trabalho e sociedade”. Nota-se, somente
por essa localização, que o autor incluiu, a priori, o conflito dentro de uma duração maior,
porventura talvez querendo lhe imputar uma relação diacrônica com os eventos anteriores que
haviam ocorrido na América Portuguesa. Sua narrativa começa:
Devido à queda do preço do açúcar no mercado europeu, os senhores de engenho de
Olinda, principal cidade de Pernambuco na época, viram-se em dificuldades
financeiras. Começaram, então, a pedir empréstimos aos comerciantes do povoado do
Recife, que cobravam juros bastante elevados. (COTRIM, 2016, p. 65)
Aqui percebe-se que o autor não comenta as outras consequências, sociais e políticas,
geradas pela ocupação e retirada holandesas em Pernambuco: a formação de um “orgulho”
nobiliárquico dos terratenentes de Olinda, que se viram, segundo eles, desamparados pela Coroa
na Guerra de Restauração; e a disparidade crescente entre o “pujante” povoado do Recife e a
sede municipal “decadente” de Olinda. Assim, prefere colocar somente a economia como objeto
de disputa entre as duas elites, não se atentando para outras causalidades e mudanças sociais
mais abrangentes que ocorriam pelos Novo e Velho Mundos.
Cotrim (2016, p. 65) segue em sua explicação: “Convencido de sua relevância social,
esse grupo [comerciantes do Recife] pediu ao rei de Portugal, D. João V, que seu povoado fosse
elevado à categoria de vila.” Mais à frente, no mesmo parágrafo, o autor põe os objetivos finais
dos comerciantes com esse pedido: impedir que os senhores de engenho fizessem ordens e
cobrassem impostos aqueles primeiros. Felizmente, não encontramos chavões clássicos como
nativismo ou consciência cívica, oriundos de historiografias mais clássicas.
Para além dos aspectos verbais do texto em “História Global 2”, é válido comentar a
presença de uma fotografia que, preliminarmente, aparenta servir apenas como ilustração das
duas cidades na contemporaneidade (talvez para mostrar os lugares a alunos de outras partes do
Brasil). Essa foto, localizada na página 65 e rente à narrativa, destaca as duas cidades a partir
de uma perspectiva do centro histórico de Olinda, constituído em suma por casebres
“coloniais”, com a cidade do Recife ao fundo, caracterizada por muitos arranha-céus e bem
mais densamente povoada.
A partir dessa descrição, afirmamos que a escolha da foto foi positiva, pois pode induzir
os usuários do livro a uma conclusão: a atual discrepância econômica e populacional entre os
dois centros urbanos talvez remonte historicamente ao período colonial. Ora, a imagem poderia
ter demonstrado melhor tal conclusão desde que no texto estivesse claro como os comerciantes
do desenvolvido burgo do Recife, almejavam quebrar a exclusividade política da nobreza,
exercida em Olinda, sede municipal, mas subdesenvolvida. Dessa forma, as marcas do passado,
suas continuidades e rupturas seriam melhor explanadas e os alunos poderiam reorientar-se no
tempo, isto é, formar sua(s) identidade(s) com uma significação considerável de seu(s)
presente(s) através do(s) passado(s) (RÜSEN, 2001).
A segunda obra didática que se analisou foi “Olhares da História: Brasil e mundo 2”, de
Cláudio Vicentino e José Bruno Vicentino, cuja publicação foi feita pela editora Scipione em
2016 (1ª edição). Também como o primeiro livro, esse foi aprovado pelo último PNLD (2018-
20) para o Ensino Médio brasileiro e deve ser utilizado com turmas do 2º ano. Do mesmo modo
como fizemos com a primeira obra, faz-se essencial situar o trecho que aborda o evento
histórico com o qual estamos lidando dentro das divisões internas do livro didático. Neste
segundo volume, o texto intitulado “Guerra dos Mascates” se encontra no capítulo 9 “Sistema
colonial em movimento” que, por sua vez, está localizado na primeira unidade, “Europa como
centro do mundo”.
Esse capítulo 9 é dividido, em suma, em três seções: o Ciclo do Ouro, sociedade
mineradora e seu declínio; a crise do sistema colonial e as contramedidas tomadas por Portugal
(reformas pombalinas); e rebeliões coloniais que ocorreram sem objetivo de independência.
Talvez essa escolha não tenha sido a mais didática e cronologicamente sensata, pois a maior
parte das contestações dos colonos se deu anteriormente à temporalidade discutida pelas três
primeiras seções (segunda metade do século XVIII). Nosso fato histórico, os levantes
pernambucanos de 1710 a 1711, se encontra na última seção, explicada da seguinte maneira:
Os movimentos coloniais de revolta contra medidas metropolitanas, surgidos a partir
do século XVII, não reivindicavam a independência política. Eram manifestações
contra medidas isoladas e contrárias aos interesses dos colonos de certas regiões.
Serviram, contudo, para evidenciar a diferença, e mesmo o antagonismo, entre os
interesses de setores da população colonial e os da metrópole. (VICENTINO;
VICENTINO, 2016, p. 130)
Corroborando essa caracterização, na subseção “Guerra dos Mascates”, os autores não
mencionam a cogitação que tiveram alguns dos revoltosos, nesse caso específico, em realizar
uma secessão da metrópole lusitana aos moldes de uma república aristocrática, logo seguindo
a historiografia de Varnhagen. No mais, a narrativa é bem curta e segue a mesma linha
consensual de uma historiografia clássica, ou seja, pondo em destaque a crise do preço do
açúcar e a ocupação holandesa como fatores que fizeram surgir as rivalidades entre os
estamentos e seus respectivos povoados, Recife e Olinda. Os autores destacam que o povoado
do Recife era submetido à Câmara de Olinda e que os nobres que a controlavam negavam aos
comerciantes reinóis direitos políticos. Afirmam:
Enquanto Olinda predominava politicamente, Recife tornava-se o principal centro
econômico de Pernambuco, com intenso comércio praticado pelos portugueses,
apelidados de mascates. Os comerciantes, que obtinham grandes lucros com sua
atividade, passaram também a emprestar dinheiro a juros altos aos olindenses
empobrecidos. (VICENTINO; VICENTINO, 2016, p. 130)
A tradição historiográfica materialista de explicar os fenômenos históricos a partir dos
fatores econômicos gera, por sua vez, uma ofuscação de outras possibilidades históricas de
conhecimento e argumentação. Em Fronda dos Mazombos, Evaldo, escrevendo numa
perspectiva mais recente e de acordo com os paradigmas e linhas de pesquisa da Nova História,
dá destaque a como cada estamento se utilizava de variados argumentos para justificar o
privilégio de poder concorrer aos cargos municipais e negar-lhes aos outros, como o defeito
mecânico, a origem étnico-racial e a origem religiosa familiar.
Caso houvesse uma melhor atualização historiográfica, o texto poderia elucidar ainda
mais para o aluno a forma de pensar, a mentalidade e o cotidiano presentes no período que se
convencionou chamar de Idade Moderna. Com elucidar queremos dizer auxiliar o professor em
sua literacia histórica, isto é, desenvolver a consciência histórica dos alunos a partir da
apreensão do conceito de empatia ou compreensão histórica, que é a tentativa de se colocar no
lugar do outro em seu respectivo tempo e espaço. Infelizmente, nem ilustrações nem seções de
exercícios nos ajudam nesse caso, só existindo aquelas voltadas para o Ciclo do Ouro,
escanteando outras temáticas do capítulo.

5. Considerações finais
Dessa maneira, verificamos que os dois livros didáticos analisados seguem um fio
explicativo comum: destacam os fatores econômicos e políticos que motivaram os dois
estamentos a se defrontarem mediante a sombra dos dois povoados, Recife e Olinda. Contudo,
não abordam fatores de cunho étnico-social, deixando de inserir os sujeitos históricos no seu
tempo e nas mentalidades desse tempo. Os autores também não comentam a tentativa de
secessão em forma republicana discutida por alguns senhores de engenho em 1710, cuja
ocorrência é ponto pacífico segundo a historiografia mais recente (MELLO, 2003).
Porém, pensamos ser positiva a ausência de caracterizações nativistas/nacionalistas e de
consciência cívica, já que podem ser consideradas termos de um paradigma historiográfico já
superado. Apesar disso, houve falhas nas consultas à bibliografia por parte dos autores dos dois
livros analisados, talvez por limitações editoriais e formativas, recortes historiográficos que
naturalmente acabam privilegiando outras obras, o simples desconhecimento ou a não-
importância dada deliberadamente ao conflito do Pernambuco Setecentista. Por fim,
ressaltamos que o Livro Didático é uma obra imperfeita, e é entendendo seus limites que todos
os sujeitos que o confeccionam, distribuem e utilizam podem utilizá-lo para um ensino histórico
significativo e transformativo.

6. Referências bibliográficas
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Cortez, 2008.
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HOLANDA, Sérgio Buarque de (dir.). et al. História Geral da Civilização brasileira. Tomo I: a
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MELLO, Evaldo Cabral de. A fronda dos mazombos: nobres contra mascates, Pernambuco,
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