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8.

Profissionalização e organizações em saúde


8.1. Os saberes, poderes e estratégias
dos intervenientes no sistema de saúde
Cada vez é maior a diversidade de profissões e funções que
podem ser encontradas, e em particular na área da saúde.
Tomemos como exemplo o que se passa num hospital, hoje em
dia; lá encontramos:

Especialistas (médicos, enfermeiros (com as cada vez mais


diversas especializações), mas também…
➔ Quadros superiores - ex: administrador hospitalar
➔ Quadros médios - ex: gestor de unidade, departamento,
equipa
➔ Técnicos (de análises clínicas, de audiometria, de
fisioterapia…)
➔ Pessoal administrativo – ex: secretária
➔ Pessoal dos serviços – ex: ajudante de farmácia
➔ Trabalhadores não qualificados – ex: assistente operacional

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8.1. Os saberes, poderes e estratégias
dos intervenientes no sistema de saúde

Além das diferentes funções e profissões, existem hoje:

➔ diferentes tipos de trabalho em contexto hospitalar: o


burocrático e administrativo, o técnico, o biológico
(sobre o corpo), o de conforto (sobre o bem-estar dos
doentes), o emocional (que medeia a relação entre o
trabalhador hospitalar e os doentes), e o de limpeza.
➔ existindo espaços diferentes, há ainda “zonas
cinzentas”, em que o mesmo tipo de tarefa pode ser
realizada por diferentes atores sociais, todos
qualificados para o exercício dessa função (havendo
uma reivindicação ou rejeição de certas tarefas).

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8.1. Os saberes, poderes e estratégias
dos intervenientes no sistema de saúde

Como é fácil de entender, para além de a cada


atividade profissional corresponderem diferentes
tarefas, poderes e responsabilidades,
correspondem também diferentes estatutos e
reconhecimentos sociais.

Se a sociedade atribui importância diferenciada às


diversas profissões, também os profissionais
procuram construir e solidificar a sua identidade
enquanto corpo próprio, com tarefas e
responsabilidades próprias, distintas dos outros.
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8.1. Os saberes, poderes e estratégias
dos intervenientes no sistema de saúde
Cada categoria profissional recebe tipos de formação
diferentes e ocupa uma posição hierárquica diferenciada –
tem um papel social diferente:

➔ médicos: são, geralmente, considerados profissionais


com autonomia, autoridade e prestígio;
➔ enfermeiros: têm saberes técnicos e teóricos
diferenciados, com autoridade e autonomia moderadas;
➔ técnicos: têm uma posição complementar e com pouca
autonomia;
➔ auxiliares: são trabalhadores não-qualificados, sem
autonomia.

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8.1. Os saberes, poderes e estratégias
dos intervenientes no sistema de saúde

No caso do Enfermeiro, existem 2 papéis potencialmente


conflituosos:
- a posição objetiva na produção de cuidados (conceção
tecnicista da profissão) vs.
- o papel psicossocial (relação terapêutica com os doentes)
O enfermeiro vive permanentemente numa dicotomia entre
«servir a ciência» e «servir o doente».

Eu sou apenas um Enfermeiro – Legendas originais em Português


https://www.youtube.com/watch?v=A3SzGb0R6RM

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8.2. Processos de profissionalização na saúde

Todas as profissões, antes de serem o que são e como são, atravessam


processos mais ou menos longos de afirmação enquanto conjunto de
funções, com legitimidade e saber reconhecidos pela sociedade. Esse
processo de profissionalização progressiva baseia-se em:
⚫ Conhecimento científico e técnico
⚫ Autonomia e autoregulação (Definição de um código de ética)
⚫ Credencialismo / Certificação (Controlo sobre a formação)
⚫ Restrição no acesso (Criação de uma associação profissional)
O Estado desempenha um papel importante nesse processo, quando
confere:
⚫ Reconhecimento legal; Proteção para as atividades dos profissionais;
Privilégios acrescidos em termos materiais e simbólicos.

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8.2. Processos de profissionalização na saúde

Em Portugal, vigora o princípio da liberdade de escolha de profissão,


constante no n.º 1 do artigo 47.º da Constituição da República Portuguesa
(CRP), que estabelece que “todos têm o direito de escolher livremente
a profissão ou o género de trabalho, salvas as restrições legais
impostas pelo interesse coletivo ou inerentes à sua própria capacidade.”
Para limitar o acesso e o exercício de uma profissão, tornando-a
regulamentada, é necessário que existam razões objetivas que
fundamentem a restrição de direitos, liberdades e garantias, devendo
ser observado o princípio da proporcionalidade. Assim, deve proceder-se
a uma avaliação prévia relativa à necessidade de regulamentar uma
profissão, a qual deve ser justa e adequada, de modo a não colidir com
outro direito fundamental, o da liberdade de escolha de profissão.

FONTE: https://www.dgert.gov.pt/regime-de-acesso-e-exercicio-de-profissoes-e-de-
atividades-profissionais
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8.2. Processos de profissionalização na saúde

Essa função tem sido desempenhada, maioritariamente, pelas


Ordens Profissionais.
As Ordens Profissionais são associações profissionais de direito
público e de reconhecida autonomia pela Constituição da República
Portuguesa, criadas com o objetivo de promover a autorregulação e
a descentralização administrativa, com respeito pelos princípios da
harmonização e da transparência.
As Ordens Profissionais são criadas prioritariamente com vista à
defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos e à salvaguarda do
interesse público, o que é atingido pela autorregulação de
profissões cujo exercício exige autonomia técnico funcional e
independência, bem como capacidade técnica.
Quantas Ordens profissionais existem em Portugal? Quais?

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8.2. Processos de profissionalização na saúde

Ordens profissionais existentes em Portugal (17):


- Advogados - Médicos
- Arquitetos - Médicos Dentistas
- Biólogos - Médicos Veterinários
- Contabilistas Certificados - Notários
- Despachantes Oficiais - Nutricionistas
- Economistas - Psicólogos
- Enfermeiros - Revisores Oficiais de Contas
- Engenheiros - Solicitadores e Agentes de Execução
- Farmacêuticos

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8.2. Processos de profissionalização na saúde

https://www.ordemenfermeiros.pt/

A Ordem dos Enfermeiros (OE) é a associação pública profissional que


congrega todos os profissionais de Enfermagem que trabalham em Portugal -
cerca de 78.000, segundo a Pordata (2020).
Tem como atribuições a definição de regras relativas à atividade
profissional e respetivo controlo da sua observância. Na prática, a
preocupação da OE é para com a regulamentação e disciplina da profissão de
Enfermagem, enquanto outras organizações, como os sindicatos, se
preocupam com os assuntos laborais, decorrentes do contrato de trabalho.
A OE tem como principal desígnio "a defesa dos interesses gerais dos
destinatários dos serviços de enfermagem e a representação e defesa dos
interesses da profissão", como refere o seu Estatuto.

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8.2. Processos de profissionalização na saúde

A Ordem atribui dois títulos profissionais, e por conseguinte, emite dois


tipos de cédulas diferentes:
• Enfermeiro;
• Enfermeiro Especialista.
Esta instituição tem poderes delegados pelo Estado e foi formalmente
criada em 1998 – a 21 de abril é publicado o Decreto-Lei n.º 104/98, que
cria a Ordem dos Enfermeiros como Associação de Direito Público na qual
o Estado delega os poderes de regulamentação e fiscalização do
exercício profissional da Enfermagem em Portugal.

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8.2. Processos de profissionalização na saúde
O enfermeiro possui curso superior legalmente reconhecido e título profissional atribuído
pela Ordem dos Enfermeiros que o habilita para:
⚫ desenvolver prática profissional com responsabilidade;
⚫ exercer segundo os quadros ético, deontológico e jurídico e com os fundamentos da
prestação e gestão de cuidados;
⚫ contribuir para a promoção da saúde;
⚫ utilizar o Processo de Enfermagem;
⚫ estabelecer comunicação terapêutica e relações interpessoais;
⚫ promover ambiente seguro;
⚫ delegar e supervisionar tarefas;
⚫ contribuir para valorização profissional e melhoria contínua da qualidade dos
cuidados;
⚫ desenvolver processos de formação contínua.
Os enfermeiros regem-se por um código deontológico inserido no Estatuto da OE.

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8.2. Processos de profissionalização na saúde
Os enfermeiros:
⚫ concebem, organizam, coordenam, implementam, supervisionam e avaliam as intervenções de
enfermagem;
⚫ decidem sobre técnicas, recursos e meios de diagnóstico a utilizar;
⚫ utilizam técnicas próprias da profissão para a promoção, manutenção e recuperação das
funções vitais;
⚫ participam e coordenam na dinamização das atividades inerentes à situação de saúde/doença;
⚫ validam, efetuam e asseguram a administração de terapêutica, prevendo e detetando os seus
efeitos e atuando em conformidades;
⚫ colhem, validam e processam amostras biológicas;
⚫ incorporam os múltiplos determinantes da saúde;
⚫ participam na elaboração e concretização de protocolos, normas de orientação clínica e
terapêutica;
⚫ capacitam o beneficiário dos cuidados sobre gestão e adesão ao regime terapêutico;
⚫ concebem, planeiam, executam e avaliam programas e atividades de promoção e educação
em saúde.

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8.2. Processos de profissionalização na saúde
Os enfermeiros são uma das apenas 5 profissões abrangidas pela Carteira Profissional
Europeia (EPC), um certificado eletrónico comprovativo de que o profissional cumpre todas as
condições necessárias para prestar serviços num Estado membro, a título temporário e ocasional,
ou que reúne todas as condições para efeitos de estabelecimento.
É um procedimento mais simples e mais rápido do que os procedimentos tradicionais de
reconhecimento de qualificações e é também mais transparente, permitindo ao profissional
acompanhar o seu pedido em linha e voltar a usar os documentos para iniciar novos pedidos em
diferentes Estados membros.
Este procedimento apenas está disponível para as seguintes profissões:
⚫ Enfermeiro responsável por cuidados gerais
⚫ Farmacêutico
⚫ Fisioterapeuta
⚫ Guia de montanha
⚫ Mediador imobiliário.

Mais informação em: https://europa.eu/youreurope/citizens/work/professional-qualifications/european-


professional-card/index_pt.htm

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8.2. Processos de profissionalização na saúde

FONTE: «Poderes profissionais e processos de profissionalização no campo da


saúde» - David Tavares (2014)

O estudo de um grupo profissional deve considerar


sempre a relação entre os diferentes grupos
profissionais inseridos no mesmo contexto da
divisão social do trabalho.
A principal característica da divisão social do
trabalho no contexto da saúde é a dominância
médica.
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8.2. Processos de profissionalização na saúde

Essa dominância assegura-lhe a autoridade de controlar, dirigir


e avaliar o trabalho dos grupos profissionais articulados com o
seu campo de atividade.
Isso é feito através do uso de poder centralizado na noção de
ato médico que estabelece como princípio de divisão de tarefas
que os atos médicos só podem ser executados por outros
profissionais por delegação, sob o controlo e a
responsabilidade de uma autoridade médica.»
A posição dos grupos profissionais não médicos é marcada por
uma situação de subordinação e dependência em relação à
profissão médica.

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8.2. Processos de profissionalização na saúde

Ao longo dos processos de profissionalização, aumenta


o grau de autonomia dos grupos profissionais envolvidos.
No caso da saúde, importa avaliar a compatibilidade entre a
dominância médica e o aumento do grau de autonomia
de outros grupos profissionais.
O conceito de autonomia é aqui entendido como «a
aptidão que os indivíduos dispõem numa situação de
trabalho para determinar a natureza dos problemas com
que se confrontam e para saberem resolvê-los».

Enfermagem: Profissão do Cuidado! (Falado em Português)


https://www.youtube.com/watch?v=JBbczTfzeeg

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8.3. A seleção, a formação e a socialização para o
exercício das profissões de saúde
FONTE: Rego, S. O processo de socialização profissional na medicina. In: MACHADO, M.H.,
org. (1995), Profissões de saúde: uma abordagem sociológica [online]. Rio de Janeiro: Editora
Fiocruz.

⚫ A formação dos profissionais de saúde não se limita aos


aspetos técnicos.
⚫ Ser médico ou enfermeiro implica estabelecer relações com
doentes / utentes / clientes que necessitam de confiar não
apenas no conhecimento técnico do profissional, mas
também ter a certeza de que serão respeitados certos valores.
⚫ Orientando a conduta dos profissionais de saúde existe um
conjunto de ideias, valores e padrões que são partilhados e
transmitidos, ao longo do processo de formação e na prática
profissional.

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8.3. A seleção, a formação e a socialização para o
exercício das profissões de saúde
⚫ Esses valores definem as atitudes e condutas técnicas e
morais, o que é desejável, permitido ou proibido, no exercício
da profissão.
⚫ A socialização profissional é muito mais do que educação e
treino: há as aprendizagens diretas e as indiretas, sob a forma
de atitudes, valores, padrões de comportamento adquiridos na
relação com os superiores, os pares, os outros membros da
equipa de saúde, os pacientes e até os familiares dos
pacientes.
⚫ Nem tudo o que é ensinado nos cursos é aprendido pelos
estudantes, assim como nem tudo o que eles aprendem é
ensinado lá. A socialização inclui a observação e
assimilação dos padrões de comportamento, os exemplos a
que se está exposto.
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8.3. A seleção, a formação e a socialização para o
exercício das profissões de saúde
⚫ A Faculdade de Medicina ou a Escola de Enfermagem são os
elementos cruciais na aprendizagem profissional, porque
representam o contexto institucional no qual se inicia a
socialização.
⚫ Esta importância é-lhe atribuída por constituir não somente o
ambiente onde se transmitem os conhecimentos, experiências,
hábitos, atitudes e valores, mas também o meio pelo qual os
membros da profissão controlam o que os seus colegas serão e o
nível de aprendizagem que recebem.
⚫ Nas atividades práticas do estudante, ele desenvolve o seu «eu
profissional», com os seus valores característicos, atitudes,
conhecimento, e aptidões, fundindo-os em disposições mais ou
menos consistentes que orientam o seu comportamento numa
ampla variedade de situações profissionais ou não.

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8.3. A seleção, a formação e a socialização para o
exercício das profissões de saúde
⚫ Esta é uma componente essencial da transformação do
estudante em médico ou em enfermeiro.
⚫ A procura por adquirir experiência clínica diversificada
é uma das principais forças que mobilizam os alunos no
seu período de formação.
⚫ Uma característica da estrutura clássica dos cursos de
saúde é a separação entre o ciclo básico e o ciclo clínico,
com a introdução tardia da prática clínica.

Um aspeto interessante e que tem sido objeto de vários estudos –


o que leva um estudante a escolher o curso de Enfermagem para
prosseguir os seus estudos? Como foi, no vosso caso pessoal?

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Motivações para estudar Enfermagem
(2 exemplos)
⚫ relação que se estabelece entre enfermeiros e utentes, 92.5%
⚫ possibilidade de obtenção do primeiro emprego, 80%
⚫ experiências anteriores, 60% Palma, Telma; Amaro, Hugo (2009), As
Motivações dos Alunos no Ingresso ao
⚫ estatuto social do enfermeiro, 60% Curso Superior de Enfermagem, Revista
Nursing nº 241:
⚫ facto do curso de enfermagem ser licenciatura, 55% Inquérito a estudantes de Enfermagem
⚫ nota obtida no ensino secundário, 50% da Universidade do Algarve

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Motivações para estudar Enfermagem
(2 exemplos)

Sigaud Cecília H.S. e outros


(2016), Motivos de
estudantes de enfermagem
para a escolha da carreira.
Revista Iberoamericana de
Educação e Investigação em
Enfermagem nº 6
Inquérito a estudantes de
Enfermagem no Brasil

DO NOT go to MEDICAL SCHOOL (If This is You) – Ativar legendas em Português


https://www.youtube.com/watch?v=PD-ucQ7EAl4&ab_channel=MedSchoolInsiders

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

FONTE: Lima, Teresa M. (2015), A história das políticas de saúde em Portugal: um olhar sobre
as tendências recentes. Research And Networks In Health.

Os sistemas de saúde na Europa, criados após a Segunda Guerra


Mundial, assentaram no direito de acesso de todos os cidadãos aos
cuidados de saúde, sem estabelecerem diferenças em termos de classe
social, rendimento, sexo, raça, etnia ou orientação sexual.
O seu financiamento foi garantido pela redistribuição dos recursos
públicos recolhidos através dos impostos, promovendo o acesso gratuito
universal dos cidadãos.
Por sistema de saúde entende-se “um conjunto de diversos tipos de
recursos que o Estado, a sociedade, as comunidades ou simples grupos
de população reúnem para organizar a proteção generalizada de cuidados
na doença e na promoção da saúde”.

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

Antes do 25 de abril de 1974, a saúde em Portugal era constituída por várias


instituições prestadoras de cuidados de saúde, sem conseguirem garantir quer um
acesso universal quer a qualidade exigível.
De entre as instituições prestadoras encontravam-se:
1) as misericórdias, instituições históricas de relevo na saúde, que geriam grande
parte das instituições hospitalares;
2) os serviços médico-sociais que prestavam cuidados médicos aos
beneficiários da Caixa de Previdência;
3) os serviços de Saúde Pública, vocacionados para a proteção da saúde;
4) os hospitais estatais, localizados principalmente nos grandes centros urbanos;
5) os serviços privados dirigidos a classes socioeconómicas mais elevadas.
Era um sistema bastante fragmentado e onde o Estado tinha uma intervenção
reduzida, reflexo de uma conceção assistencialista dos serviços médico-sanitários.

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

A partir de 1974, é possível identificar seis períodos de evolução


e desenvolvimento das políticas de saúde.
O primeiro período acontece imediatamente após a revolução de
25 de abril de 1974 e estende-se até 1985, onde se assiste à
criação e expansão do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O segundo período, entre 1985 e 1995, corresponde a uma
época marcada pela mudança da fronteira entre o público e o
privado, onde do ponto de vista ideológico e da sustentabilidade
financeira se colocou a possibilidade de desenvolver um sistema
alternativo ao SNS.

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

O terceiro período, entre 1995 e 2002, apesar de caracterizado por uma


aproximação à lógica de funcionamento do mercado, com uma política
centrada na introdução de uma nova gestão pública dos hospitais e
centros de saúde, é marcado por um aumento da oferta dos serviços de
saúde, com a introdução de novos atores na gestão e prestação de
cuidados contratualizados com o Estado.
Entre 2002 e 2005, é possível identificar de forma notória a ideia de
complementaridade entre as lógicas públicas e privadas na saúde. Este
quarto período comporta uma forte combinação de estratégias centradas
na eficiência e um discurso assente na promoção de um modelo misto,
entre o público e o privado.

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

O quinto período de evolução, que se estende entre 2005 e 2009, volta a


registar uma fase de alargamento e modernização do SNS, que coincide
com a introdução do conceito de eficiência, que passa a modelar e definir
as políticas públicas, tanto na saúde como nas restantes áreas.
O sexto período instalou-se com o agudizar do cenário de crise
económica e financeira, entre 2010 e 2014. Portugal necessitou de uma
intervenção financeira externa, que veio moldar a definição e
implementação das políticas públicas desde então.
Nesse período, os imperativos de ordem financeira marcaram de forma
mais premente o ideal de eficiência, inserindo a lógica da maximização
dos recursos e de um menor peso do Estado, em nome da redução da
despesa pública, iniciando-se, assim, o que se pode definir como a
reforma mais profunda do sistema de saúde português.

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

Enquadramento Legal da Política de Saúde em Portugal


A atividade do Ministério da Saúde é enquadrada e estruturada de acordo com diplomas legais. Antes de mais, pela
Constituição da República Portuguesa, que garante o direito à proteção da saúde. A Lei de Bases da Saúde
(aprovada pela Lei n.º 95/2019, de 4 de setembro de 2019) define, por sua vez, os princípios da política da saúde.
Artigo 64.º da Constituição da República Portuguesa - Saúde.
1. Todos têm direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover.
2. O direito à proteção da saúde é realizado: a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo
em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito; b) Pela criação de condições
económicas, sociais, culturais e ambientais que garantam, designadamente, a proteção da infância, da juventude e
da velhice, e pela melhoria sistemática das condições de vida e de trabalho, bem como pela promoção da cultura
física e desportiva, escolar e popular, e ainda pelo desenvolvimento da educação sanitária do povo e de práticas de
vida saudável.
3. Para assegurar o direito à proteção da saúde, incumbe prioritariamente ao Estado: a) Garantir o acesso de todos
os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de
reabilitação; b) Garantir uma racional e eficiente cobertura de todo o país em recursos humanos e unidades de
saúde; c) Orientar a sua ação para a socialização dos custos dos cuidados médicos e medicamentosos; d)
Disciplinar e fiscalizar as formas empresariais e privadas da medicina, articulando-as com o serviço nacional de
saúde, por forma a assegurar, nas instituições de saúde públicas e privadas, adequados padrões de eficiência e de
qualidade; e) Disciplinar e controlar a produção, a distribuição, a comercialização e o uso dos produtos químicos,
biológicos e farmacêuticos e outros meios de tratamento e diagnóstico; f) Estabelecer políticas de prevenção e
tratamento da toxicodependência (FONTE: https://www.sns.gov.pt/institucional/politica-de-saúde)

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

Programa do XXI Governo Constitucional para a Saúde (2015-2019)


Defender o Serviço Nacional de Saúde (SNS), promover a saúde
Promover a saúde através de uma nova ambição para a saúde pública
Reduzir as desigualdades entre cidadãos no acesso à saúde
Reforçar o poder do cidadão no SNS, promovendo disponibilidade, acessibilidade, comodidade,
celeridade e humanização dos serviços
Expansão e melhoria da capacidade da rede de cuidados de saúde primários
Melhoria da gestão dos hospitais, da circulação de informação clínica e da articulação com outros
níveis de cuidados e outros agentes do setor
Expansão e melhoria da integração da Rede de Cuidados Continuados e de outros serviços de apoio
às pessoas em situação de dependência
Aperfeiçoar a gestão dos recursos humanos e a motivação dos profissionais de saúde
Melhorar a governação do SNS
Melhorar a qualidade dos cuidados de saúde

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8.4. Políticas de saúde em Portugal

Programa do XXII Governo Constitucional para a Saúde (2019-2022):


Um SNS mais justo e inclusivo que responda melhor às necessidades da população
Cuidados de saúde primários com mais respostas
Assegurar tempos adequados de resposta
Melhorar as condições de trabalho no SNS SNS - 35 Anos (1979 – 2014)
https://www.youtube.com/watch?v=
Garantir a participação dos cidadãos no SNS O6Bfxb9YYbg&ab_channel=Dire%C3
%A7%C3%A3o-
GeraldaSa%C3%BAde
37 ANOS SNS – PT (1979 – 2016)
Grandes Opções do Plano: https://www.youtube.com/watch?v=
OUZnvAYo5mI&ab_channel=SNS%7C
Garantir cuidados de saúde primários com mais respostas PortaldoSNS
Assegurar tempos adequados de resposta
Apostar nos cuidados com a saúde desde os primeiros anos de vida
Melhorar as condições de trabalho no SNS
Garantir a participação dos cidadãos no SNS
Promover a modernização do SNS

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