Você está na página 1de 128

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

REATOR BIOLÓGICO COM MEMBRANA (MBR)


APLICADO AO TRATAMENTO DE ESGOTOS GERADOS
POR UNIDADES RESIDENCIAIS UNIFAMILIARES

ANNE RELVAS PEREIRA

ORIENTADOR: MARCO ANTONIO ALMEIDA DE SOUZA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E


RECURSOS HÍDRICOS

PUBLICAÇÃO: PTARH.DM – 190/16


BRASÍLIA/DF: SETEMBRO – 2016
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

REATOR BIOLÓGICO COM MEMBRANA (MBR) APLICADO AO


TRATAMENTO DE ESGOTOS GERADOS POR UNIDADES
RESIDENCIAIS UNIFAMILIARES

ANNE RELVAS PEREIRA

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO DEPARTAMENTO DE


ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DA FACULDADE DE
TECNOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU
DE MESTRE EM TECNOLOGIA AMBIENTAL E RECURSOS
HÍDRICOS.

APROVADA POR:

______________________________________________________________
Prof. Marco Antonio Almeida de Souza, Ph.D (ENC-UnB)
(Orientador)

______________________________________________________________
Profª. Conceição de Maria Alves, Ph.D (ENC-UnB)
(Examinador Interno)

______________________________________________________________
Prof. Welitom Ttatom Pereira da Silva, Dr (DESA-UFMT)
(Examinador Externo)

BRASÍLIA/DF, 29 DE SETEMBRO DE 2016

ii
FICHA CATALOGRÁFICA
PEREIRA, ANNE RELVAS
Reator biológico com membrana (MBR) aplicado ao tratamento de esgotos gerados por
unidades residenciais unifamiliares. [Distrito Federal] 2016. xvi, 113p., 210x297
mm (ENC/FT/UnB, Mestre, Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, 2016).
Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia.
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.

1.Reator biológico com membrana 2.Tratamento de esgoto unifamiliar

3.Análise de decisão multicritério e multiobjetivo 4. Avaliação tecnológica

I. ENC/FT/UnB II. Título (série)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PEREIRA, A. R. (2016). Reator biológico com membrana (MBR) aplicado ao tratamento
de esgotos gerados por unidades residenciais unifamiliares. Dissertação de Mestrado em
Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, Publicação PTARH.DM - 190/2016,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
164p.

CESSÃO DE DIREITOS
AUTOR: Anne Relvas Pereira.
TÍTULO: Reator biológico com membrana (MBR) aplicado ao tratamento de esgotos
gerados por unidades residenciais unifamiliares.
GRAU: Mestre ANO: 2016

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação


de mestrado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e
científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação
de mestrado pode ser reproduzida sem autorização por escrito do autor.

____________________________
Anne Relvas Pereira
Campus Universitário Darcy Ribeiro Universidade de Brasília – UnB, SG-12 - Térreo
CEP: 70.910-900, Brasília – DF, Brasil

iii
Dedico este trabalho a toda minha
família, principalmente aos meus pais,
Álvaro Pereira e Maria José S. Relvas
Pereira, maiores exemplos de vida,
pelo amor e dedicação. Minha
profunda admiração. Por trilhar os
caminhos ensinados por vocês,
cheguei até aqui.

iv
“Todos podemos colaborar, como
instrumentos de Deus, no cuidado da criação,
cada um a partir da sua cultura, experiência,
iniciativas e capacidades”
(Papa Francisco, Laudato si, 2015:14)

v
AGRADECIMENTOS

Em todo percurso desta jornada sempre nos deparamos com pessoas que nos fortificam
com auxílio, incentivo e amizade. Não poderia deixar de expressar minha gratidão.

Agradeço primeiramente a Deus, por sempre me amparar e estar presente em todos os


momentos de desafios, conquistas e alegrias.

Aos meus pais, Álvaro Pereira e Maria José, simplesmente por tudo. Pelo apoio e pela
certeza de que este dia chegaria, seus ensinamentos e valores transmitidos são a minha maior
força.

Aos meus irmãos Antonieta, Aline, Álvaro, Alexandro e Adilson por completarem minha
vida e por dedicarem apoio, confiança e amizade mesmo longe.

À família que me acolheu em minha chegada à Brasília com toda atenção, carinho e
cuidado, Conceição, Airton, Arthur, Gabriel e Gilson.

Ao meu orientador, Professor Marco Antonio Almeida de Souza, pela acolhida, orientação
no trabalho, paciência, apoio e incentivo. Seus ensinamentos foram fundamentais e serão
guardados com muita estima. Por ser uma pessoa admirável e se mostrar um excelente
profissional e por auxiliar nas decisões.

Aos professores Yovanka, Oscar, Lenora, Ricardo, Ariuska, Conceição, Dirceu e Sérgio
Koide pelos ensinamentos no decorrer desta caminhada. Aos funcionários Adelias, Érica e
Daniela.

Aos amigos que sempre estavam por perto dando forças e que levarei para a vida, Adriane
Dias, Andreia de Almeida, Thallyta Manuela, Nielde Prado, Daniel Valencia, Gilliard
Nunes, Patrícia Bonolo, Renei Rocha, Norma Mendes e Marília Almeida. Obrigada por
todos os momentos compartilhados e por estarem presente nos momentos mais difíceis.

vi
Aos amigos que mesmo com a distância sempre me apoiaram e tiveram presentes, Laura
Júlia, Tallyne Peres, Joseney Malta, Klenna Lívia, Heloíse Medeiros e Marcelo Dayron.

Á todos que contribuíram no delinear desse caminho com sua amizade e companheirismo,
em especial aos meus amigos do Emaús, pelas orações e incentivos, Manu, Priscila,
Amanda, Samantha, Luma, Malu, Eduardo, Dani, Pedro, Vânia, Marcelo e Vavá.

Aos colegas do PTARH e da UnB pelos momentos compartilhados.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento científico e Tecnológico – CNPq e a Fundação


de Amparo à Pesquisa do Amazonas - FAPEAM pela ajuda financeira por meio de bolsa
de estudos, indispensável para que eu pudesse me dedicar ao projeto.

A todos que ajudaram, de qualquer forma, mas não foram citados aqui. Muito Obrigada!

vii
RESUMO

A escolha da tecnologia apropriada para o tratamento de esgoto doméstico tem sido uma
preocupação crescente devido ao interesse em proporcionar um efluente de melhor
qualidade, tanto para manutenção da qualidade ambiental como para produzir água para
reúso. O objetivo desta pesquisa foi o de avaliar a aplicabilidade do processo de Reator
Biológico com Membrana (MBR) a sistemas provenientes de unidades residenciais
unifamiliares de esgotos no Brasil e as condições em que esse processo seria recomendado.
Por isso, propôs-se um sistema MBR adaptado às condições existentes nos sistemas de
esgotos sanitários provenientes de unidades residenciais unifamiliares. Em seguida, para
avaliar o sistema MBR proposto, foi desenvolvida uma metodologia simplificada de
avaliação tecnológica de processos de tratamento de esgotos unifamiliares com uma
abordagem de análise de decisão multiobjetivo e multicritério, por meio da utilização dos
métodos ELECTRE III e TOPSIS. Essa metodologia foi utilizada para realizar a avaliação
tecnológica dos seguintes processos e operações unitárias: (A1) Tanque séptico; (A2)
Tanque séptico seguido de filtro anaeróbio; (A3) Tanque séptico seguido de Wetlands;
(A4) UASB seguido por biofiltro aerado submerso; (A5) Reator UASB acompanhado por
lodo ativado convencional; e (A6) Tanque séptico acompanhado por reator biológico com
membrana. Esses processos foram avaliados em três cenários brasileiros: (1) Nível do
lençol freático baixo e com alta permeabilidade e com risco epidemiológico e ambiental
pequeno; (2) Nível do lençol freático alto e/ou com capacidade de infiltração baixa com
risco epidemiológico e ambiental grande; e (3) Realização de reúso direto não potável da
água em área urbana e rural. Foram estabelecidos dez critérios, subdividindo-os em quatro
dimensões da Tecnologia: técnica, econômica, ambiental e social. Uma das conclusões do
emprego da metodologia de análise tecnológica foi que, embora a tecnologia MBR ainda
seja muito cara devido a sua complexidade e por ainda estar em fase de desenvolvimento
no Brasil, ela se mostrou adequada para ser instalada em locais que sofrem com a escassez
hídrica e necessitam de utilizar o efluente tratado de esgoto sanitário. Evidenciou-se que os
altos custos de implantação e manutenção da tecnologia MBR influenciaram na análise
tecnológica realizada. Porém, quando se tratou da possibilidade de se realizar o reúso de
água, a análise demonstrou que somente o sistema MBR tem condições de atender aos
critérios exigidos pelas normas e legislação vigentes.

viii
ABSTRACT

The choice of appropriate technology for the treatment of sewage has been a growing
concern due to the interest in providing a better quality effluent, both for environmental
quality maintenance as to produce water for reuse. The objective of this research was to
evaluate the applicability of the membrane biological reactor (MBR) process for treating
sewage from single-family households in Brazil and the conditions under which this
process would be recommended. Therefore, an MBR system adapted to these conditions
prevailing in sewage systems from single-family households was proposed. Then, to
evaluate the MBR system proposed, a simplified method for technology assessment of
decentralized sewage treatment processes was developed, having a multiobjective and
multi-criteria decision analysis approach by using ELECTRE III and TOPSIS methods.
This methodology was used to evaluate the following technological processes and unit
operations: (A1) septic tank; (A2) septic tank followed by anaerobic filter; (A3) septic tank
followed by Wetlands; (A4) UASB reactor followed by submerged aerated biofilter; (A5)
UASB reactor accompanied by conventional activated sludge; and (A6) septic tank
accompanied by membrane bioreactor MBR. These processes were evaluated in three
Brazilian scenarios: (1) Low water table level and soil with high permeability and small
epidemiological and environmental risk; (2) The level of the water table high and/or low
soil infiltration capacity with great epidemiological and environmental risk; and (3) non-
potable direct water reuse in urban and rural areas. Ten criteria were established,
subdividing them into four technological dimensions: technical, economic, environmental
and social. One of the conclusions of the use of technology analysis methodology was that
although the MBR technology is still very expensive, due to its complexity, and to be still
under development in Brazil, it was adequate to be installed in places that suffer from
water scarcity and that need to use effluent from sewage treatment. It was evident that the
high implementation and maintenance costs of the MBR technology influenced the
technological analysis. However, when considering the possibility of performing water
reuse, the analysis showed that the MBR is the only alternative able to meet the criteria
required by actual standards and law.

ix
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
2 - OBJETIVOS ........................................................................................................................ 4
2.1 - GERAL ......................................................................................................................... 4
2.2 - ESPECÍFICOS ............................................................................................................ 4
3 - FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................. 5
3.1 - SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESGOTO ...................................................... 5
3.1.1 - Sistema descentralizado de tratamento de esgoto .......................................... 7
3.1.2 - Tecnologias de tratamento de esgoto no Brasil............................................. 10
3.1.3 - Reúso de água e legislação vigente ................................................................. 11
3.2 - REATOR BIOLÓGICO COM MEMBRANA (MBR) .......................................... 14
3.2.1 - Exemplos de aplicação de MBR ..................................................................... 21
3.2.2 - Configurações das aplicações de sistemas MBR descentralizados ............. 24
3.3 - MÉTODOS MULTIOBJETIVO E MULTICRITÉRIO DE APOIO À
DECISÃO ........................................................................................................................... 29
3.3.1 - Emprego dos métodos multiobjetivo e multicritério .................................... 30
3.3.2 - Aplicação e desenvolvimento do TOPSIS ..................................................... 33
3.3.3 - Aplicação e desenvolvimento do ELECTRE-III........................................... 34
3.4 - AVALIAÇÃO TECNOLÓGICA ............................................................................. 37
4 - METODOLOGIA ............................................................................................................. 41
4.1 - FASE 1 – CONCEPÇÃO DO SISTEMA MBR PARA RESIDÊNCIAS
UNIFAMILIARES............................................................................................................. 41
4.2 - FASE 2 – ANÁLISE TECNOLÓGICA DO SISTEMA MBR
DESENVOLVIDO ............................................................................................................. 42
4.2.1 - Levantamento de informações ....................................................................... 45
4.2.2 - Definição dos objetivos, critérios e pesos ....................................................... 45
4.2.3 - Criação de cenários ......................................................................................... 48
4.2.4 - Definição do método de avaliação de alternativas segundo cada critério .. 48
4.2.5 - Análise tecnológica e postulação da pay-off matrix para “n” cenário ........ 49
4.2.6 - Aplicação do método multiobjetivo e avaliação da solução ......................... 49
5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 51
5.1 - FASE 1 - CONCEPÇÃO DO SISTEMA MBR PARA RESIDÊNCIAS
UNIFAMILIARES............................................................................................................. 51

x
5.1.1 - Análise dos sistemas existentes ....................................................................... 51
5.1.2 - Análise para seleção do tipo de membrana a ser utilizada em função da
necessidade local potencial ......................................................................................... 55
5.1.3 - Análise do sistema de pré-tratamento ao MBR ............................................ 58
5.1.4 - Análise para seleção do tipo de reator de membrana a ser utilizado ......... 62
5.1.5 - Proposta do fluxograma do sistema MBR e arranjo físico do sistema ....... 64
5.1.6 - Seleção dos parâmetros e equações de dimensionamento de todo o
sistema .......................................................................................................................... 65
5.1.7 - Dimensionamento e configuração do sistema proposto ............................... 66
5.2 - FASE 2 - ANÁLISE TECNOLÓGICA DE SISTEMAS DE TRATAMENTO
DE ÁGUA RESIDUÁRIA UNIFAMILIAR .................................................................... 68
5.2.1 - Levantamento de informações e base de dados ............................................ 68
5.2.2 - Definição dos Critérios e Pesos ....................................................................... 70
5.2.2.1 - Consumo de energia ....................................................................................... 73
5.2.2.2 - Área exigida ................................................................................................... 73
5.2.2.3 - Quantidade de resíduo (lodo) produzido ........................................................ 74
5.2.2.4 - Confiabilidade ................................................................................................ 75
5.2.2.5 - Complexidade operacional ............................................................................. 76
5.2.2.6 - Custo de capital ou de implantação ................................................................ 77
5.2.2.7 - Custo de operação e manutenção (O&M) ...................................................... 77
5.2.2.8 - Impacto Ambiental ......................................................................................... 79
5.2.2.9 - Conformidade com a Política e Legislação Ambiental .................................. 80
5.2.2.10 - Aceitação da comunidade/família ................................................................ 81
5.2.3 - Avaliação das Alternativas e da Metodologia ............................................... 82
5.2.3.1 - Avaliação dos resultados no Cenário 1 .......................................................... 84
5.2.3.2 - Avaliação dos resultados no Cenário 2 .......................................................... 84
5.2.3.3 - Avaliação dos resultados no Cenário 3 .......................................................... 85
5.2.3.4 - Análise de sensibilidade ................................................................................. 86
6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................................................... 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 93
APÊNDICE A - DIMENSIONAMENTO .......................................................................... 100
APÊNDICE B – LEVANTAMENTO DE CRITÉRIOS ................................................... 110

xi
LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 - Definição de sistemas descentralizados de coleta, tratamento e reutilização de


esgoto ......................................................................................................................... 9
Figura 3.2 - Principais configurações dos Biorreatores com membranas. (a) Sistema MBR
com membrana externa – MBR-e. (b) Sistema MBR com membrana submersa –
MBR-s...................................................................................................................... 16
Figura 3.3 - Configurações dos MBR submersos: (a) Tanque com membrana integrado; (b)
tanque tipo 1 com membrana separada; (c) tanque tipo 2 com membrana separada.
................................................................................................................................. 17
Figura 3.4 - Aspectos críticos e importantes na seleção de sistemas de tratamento de
esgotos em regiões desenvolvidas e em desenvolvimento (von Sperling, 2005). ... 40
Figura 4.1 - Metodologia empregada na Fase 2. ................................................................. 44
Figura 5.1 - Fluxograma do sistema MBR proposto. .......................................................... 64
Figura 5.2 - Configuração do sistema MBR dimensionado e proposto para ser aplicado ao
tratamento de esgoto doméstico unifamiliar. ........................................................... 67
Figura A.1 - Curvas cinética de nitrificação ...................................................................... 104

xii
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 - Processos de tratamento de água residuária: exemplos de tecnologias de


interesse ..................................................................................................................... 6
Tabela 3.2 - Tipos de sistemas de tratamento utilizados no Brasil...................................... 11
Tabela 3.3 - Parâmetros característicos para a qualidade da água de reúso irrestrito para fim
não potável ............................................................................................................... 13
Tabela 3.4 - Comparação do reator de membrana aeróbio com sistema de lodo ativado
convencional, no tratamento de efluente doméstico ................................................ 19
Tabela 3.5 - Possíveis medidas para redução do custo de instalação e operação ................ 21
Tabela 3.6 - Empresas que comercializam sistemas compactos de MBR no Brasil. .......... 23
Tabela 3.7 - Resumo dos estudos sobre MBR descentralizados em pequena escala. ......... 27
Tabela 3.8 - Levantamento de dados com maior relevância para executar a Fase 2. .......... 32
Tabela 5.1 - Base de dados com as principais referências levantadas para a fase 2............ 69
Tabela 5.2 - Dimensões e critérios de avaliação escolhidos para a análise tecnológica de
processo MBR para tratamento descentralizado de esgotos. ................................... 71
Tabela 5.3 - Aplicação de pesos para análise de sensibilidade do modelo ......................... 71
Tabela 5.4 - Aplicação de pesos de acordo com os cenários ............................................... 72
Tabela 5.5 - Valores adotados para quantificar o critério consumo de energia................... 73
Tabela 5.6 - Valores adotados para quantificar o critério área exigida ............................... 74
Tabela 5.7 - Valores adotados para quantificar o critério quantidade de resíduo (lodo)
produzido. ................................................................................................................ 74
Tabela 5.8 - Planilha pontuada para o critério confiabilidade ............................................. 75
Tabela 5.9 - Valores adotados para quantificar o critério confiabilidade ............................ 75
Tabela 5.10 - Planilha pontuada para o critério complexidade operacional. ....................... 76
Tabela 5.11 - Valores adotados para quantificar o critério complexidade operacional ...... 76
Tabela 5.12 - Valores adotados para quantificar o critério custo de implantação ............... 77
Tabela 5.13 - Planilha pontuada para o critério custo de operação e manutenção .............. 78
Tabela 5.14 - Valores adotados para quantificar o critério custo de O&M ......................... 78
Tabela 5.15 - Planilha pontuada para o critério impacto ambiental .................................... 79
Tabela 5.16 - Valores adotados para quantificar o critério impacto ambiental ................... 79
Tabela 5.17 - Planilha pontuada para o critério conformidade com a política e legislação
ambiental .................................................................................................................. 80

xiii
Tabela 5.18 - Valores adotados para quantificar o critério conformidade com a política e
legislação ambiental ................................................................................................. 81
Tabela 5.19 - Planilha pontuada para o critério Aceitação da comunidade/chefe da família
................................................................................................................................. 81
Tabela 5.20 - Planilha pontuada para o critério Aceitação da comunidade/família ............ 82
Tabela 5.21 – Matriz de avaliação das alternativas de acordo com cada critério................ 82
Tabela 5.22 – Limiares de preferência e de indirença adotados para a simulação do método
ELECTRE III. .......................................................................................................... 83
Tabela 5.23 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS para o
Cenário 1 .................................................................................................................. 84
Tabela 5.24 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS para o
Cenário 2 .................................................................................................................. 85
Tabela 5.25 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS para o
Cenário 3 .................................................................................................................. 86
Tabela 5.26 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com
aplicação de pesos iguais para cada critério ............................................................ 87
Tabela 5.27 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com
aplicação de pesos iguais para as dimensões ........................................................... 87
Tabela 5.28 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com
aplicação de pesos dobrados para os critérios técnicos ........................................... 88
Tabela 5.29 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com
aplicação de pesos dobrados para os critérios econômicos ..................................... 88
Tabela 5.30 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com
aplicação de pesos dobrados para os critérios ambientais ....................................... 88
Tabela 5.31 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com
aplicação de pesos dobrados para os critérios sociais.............................................. 89
Tabela A.1 - Dimensionamento do sistema de membrana. ............................................... 107
Tabela A.2 - Dimensionamento do sistema biológico aeróbio .......................................... 108
Tabela A.3 - Dimensionamento do sistema biológico anóxico ......................................... 109
Tabela A.4 - Dimensionamento do sistema de aeração. .................................................... 109
Tabela B.1 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura.................................. 110
Tabela B.1 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura (continuação)........... 111
Tabela B.1 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura (continuação)........... 112
Tabela B.1 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura (continuação)........... 113

xiv
LISTA DE SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


BAS Biofiltro Aerado Submerso
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO Demanda Química de Oxigênio
ELECTRE Elimination Et Choice Expressing Reality
EPA Environmental Protection Agency
FAn Filtro Anaeróbio
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FS Flat Sheet/Placa Plana
HF Hollow Fiber/Fibra Oca
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LAC Lodo Ativado Convencional
MBR Membrane bioreactor
MBR Membrane bioreactor/Reator Biológico com Membrana
MF Microfiltração
MT Multitubular
NBR Norma Brasileira
NTK Nitrogênio Total Kjeldahl
PE Polietileno
PES Polieterfulfona
pH Potencial Hidrogeniônico
PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
PP Polipropileno
PROSAB Programa de Pesquisa em Saneamento Básico
PTM Pressão transmembrana
PVDF Difluoreto de Polivinilideno
SSLM Sólidos Suspensos no Licor Misto
TOPSIS Technique for Order Performance by Similarity to Ideal Solution
TS Tanque Séptico
UASB Upward-flow Anaerobic Sludge Blanket/Reator Anaeróbio de Manta de
Lodo
UF Ultrafiltração
Wet Wetland

xv
1 - INTRODUÇÃO

A adoção de políticas públicas para a preservação e a conservação ambiental, por meio da


fixação de exigências, regulamentos e leis, é influenciada pelo mercado global e também
pelas necessidades de potabilidade, de reúso de água, e de preservação dos recursos
hídricos. Na medida em que aumentam a preocupação com o ambiente e as exigências
pelas agências reguladoras, novas tecnologias se aperfeiçoam para atender à qualidade
exigida.

No entanto, para a implantação de sistemas de tratamento de esgotos ainda são


selecionadas tecnologias inadequadas em determinadas localidades, quando se consideram
as condições locais climáticas e físicas, capacidades de recursos financeiros e humanos, e
aceitabilidade social ou cultural, na implantação de sistemas para o tratamento de esgoto
sanitário. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS,
2014), as alternativas que têm sido adotadas para o esgotamento sanitário no Brasil
contemplam as seguintes: fossas sépticas/sumidouros; fossas rudimentares; valas a céu
aberto; lançamento de esgotos em curso d’água; galerias de águas pluviais; e outros.
Segundo o SNIS, 67,3% dos municípios brasileiros utilizavam em 2014 as fossas
sépticas/sumidouros.

No Brasil, o índice médio de atendimento urbano com rede coletora de esgotos informados
pelo SNIS (2014) aponta valores acima de 70% apenas no Distrito Federal e nos estados de
São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Na faixa de 40% a 70%, aparecem outros seis estados:
Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Paraíba. Entre 20% e
40%, situam-se nove estados: Roraima, Rio Grande do Sul, Ceará, Alagoas, Rio Grande do
Norte, Mato Grosso, Pernambuco, Sergipe e Tocantins. Enquanto que na penúltima faixa,
de 10% a 20% dos municipios com rede de coleta de esgoto, encontram-se quatro estados:
Santa Catarina, Acre, Maranhão e Piauí. Por fim, na menor faixa, inferior a 10%, há quatro
estados: Amazonas, Pará, Rondônia e Amapá. Em relação ao tratamento de esgoto, apenas
40,8% do esgoto gerado no Brasil apresentam algum tipo de tratamento.

Diante desse enorme déficit sanitário brasileiro, aliado ao quadro epidemiológico e à


escassez de água, constata-se a necessidade do aperfeiçoamento de alternativas e

1
tecnologias para os sistemas de tratamento de esgotos que propiciem efluentes de melhor
qualidade.

Uma forma eficaz para proporcionar o tratamento de esgoto doméstico pode ser realizada
pelo emprego de sistemas unifamiliares ou descentralizados, também chamados de
sistemas individuais, que são aplicados ao próprio local onde foi gerado o efluente,
podendo servir a unidades habitacionais individuais ou a um grupo de residências sem
causar perturbação e impacto ao ambiente. Esses sistemas tornam-se mais atraentes em
locais onde há precariedade nos sistemas de esgotamento sanitário ou que ficam isolados
dos centros urbanos.

Os sistemas de tratamento descentralizados apresentam desafios significativos devido à


necessidade de desempenho confiável de alta qualidade em função de uma série de
restrições, incluindo longos períodos de tempo entre a manutenção e a operação das
atividades, carência de mão de obra qualificada, alta variabilidade na vazão e maiores
concentrações, além dos fatores específicos locais (Metcalf & Eddy, 2007).

Em sistemas descentralizados, geralmente utiliza-se o tanque séptico como forma de


tratamento. Um dos motivos de preocupação é que no efluente dos tanques sépticos não há
remoção de nutrientes, nitrogênio e fósforo, patógenos e metais. Isso pode tornar-se um
fator de risco para a qualidade das águas subterrâneas e superficiais e, consequentemente,
para a saúde pública. Por isso, tem-se aumentado o interesse em aperfeiçoar o desempenho
desse tipo de alternativa, por serem reconhecidas como possíveis causadores de impactos
ao ambiente.

Com o propósito de produzir um efluente de melhor qualidade, em comparação aos


processos convencionais de tratamento de esgoto, as membranas acopladas ao tratamento
biológico de esgoto oferecem vantagens aos sistemas de produção de água de reúso em
localidades sem sistemas de esgotamento sanitário e que sofrem com a escassez hídrica.
Essa alternativa é dada pela tecnologia de Reatores Biológicos de Membrana (MBR), a
qual produz retenção completa da biomassa e degradação dos poluentes mais eficientes em
função da maior concentração de micro-organismos no reator.

2
Apesar dessa tecnologia ter sido objeto de várias pesquisas no exterior, ainda é pouco
difundida no Brasil. Entretanto, a maior dificuldade para sua larga utilização aqui era o seu
custo, considerado muito alto, realidade que está se modificando rapidamente. Além disso,
não foram encontradas aplicações e pesquisas feitas que abordem a possibilidade de sua
utilização para o tratamento de esgotos em residências unifamiliares.

Face a esse cenário, devido ao crescente interesse em tecnologias que proporcionem um


efluente de melhor qualidade, tanto para manutenção da qualidade ambiental como para
produzir água para reúso, esta pesquisa dividiu-se em duas fases. Na primeira fase
concebeu-se um sistema MBR adaptado às condições existentes nos sistemas de esgotos
sanitários provenientes de unidades residenciais unifamiliares. E, na segunda fase
metodológica, realizou-se a avaliação do sistema proposto na primeira fase, empregando
um conjunto de fatores para a escolha de indicadores tecnológicos de desempenho,
utilizando métodos multiobjetivo e multicritério de auxílio à decisão.

3
2 - OBJETIVOS

2.1 - GERAL

O objetivo geral desta pesquisa foi o de verificar a possibilidade de aplicação da tecnologia


de Reatores Biológicos de Membrana ao tratamento de esgotos sanitários provenientes de
unidades residenciais unifamiliares no Brasil, formulando as adaptações necessárias e
verificando a sua sustentabilidade.

2.2 - ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos desta pesquisa são:


1. Conceber um sistema MBR adaptado às condições existentes nos sistemas de esgotos
sanitários provenientes de unidades residenciais unifamiliares;
2. Analisar o sistema MBR que foi concebido no objetivo específico anterior, utilizando
como base os indicadores tecnológicos de desempenho; e
3. Avaliar a contribuição da tecnologia MBR para o reúso do efluente doméstico no Brasil.

4
3 - FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Nesta seção são revistos termos conceituais referentes à temática desta pesquisa.
Primeiramente, foram levantadas as principais características baseadas em estudos de
diversos autores para aplicação do reator biológico com membranas (MBR) ao tratamento
de esgoto doméstico. Em seguida, discutiu-se a aplicação dos métodos multiobjetivo e
multicritério utilizados na tomada de decisão para escolhas de tecnologias de tratamento de
esgotos sanitários provenientes de unidades residenciais unifamiliares.

3.1 - SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESGOTO

Os esgotos domésticos ou domiciliares provêm principalmente de residências, edifícios


comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham instalações de banheiros,
lavanderias, cozinhas, ou qualquer dispositivo de utilização da água para fins domésticos.
Esses esgotos compõem-se essencialmente de água de banho, urina, fezes, papel, restos de
comida, sabão, detergentes, águas de lavagem (Jordão e Pessôa, 2009).

Muitas operações podem ser utilizadas no tratamento de esgoto antes dele ser descartado
no corpo receptor. O tratamento de esgoto pode ser realizado por meio de processos
físicos, químicos e biológicos. Entretanto, em um sistema completo de tratamento, esses
processos se intercalam de forma individual ou combinada.

Cada estação de tratamento de água residuária, requer a seleção de pelo menos um tipo de
reator para tratamento químico ou biológico. O tipo de fluxo e o padrão de mistura no
reator define o modelo hidráulico do mesmo. O padrão de mistura depende da geometria
do reator, do tamanho e da quantidade de energia produzida por unidade de volume. O
fluxo no reator pode ter duas condições: fluxo intermitente (em batelada) com entrada e/ou
saída descontínuas, e fluxo contínuo, com entrada e saída contínua. Os principais tipos de
reatores utilizados para o tratamento de águas residuárias são: 1) batelada; 2) fluxo em
pistão; 3) mistura completa; 4) fluxo disperso; 5) mistura completa em série; 6) reatores
com enchimento (Metcalf e Eddy, 1991).

5
Os métodos de tratamento em que predomina a aplicação da força física são conhecidos
como operações unitárias. Já os métodos de tratamento em que a remoção de
contaminantes é provocada por reações químicas ou biológicas são conhecidos como
processos unitários (Metcalf e Eddy, 2003). A operação agrupada desses processos
proporciona vários tipos de tratamentos, que se classificam em preliminar, primário,
secundário (com ou sem remoção de nutrientes) e terciário ou avançado. A Tabela 3.1
resume os objetivos de tratamento e os processos típicos de cada etapa com alguns
exemplos de tecnologias que podem ser adotadas.

Tabela 3.1 - Processos de tratamento de água residuária: exemplos de tecnologias de interesse


(Wu et al., 2009).
Nível de
Finalidade Tecnologia de tratamento
tratamento
Preliminar Grande remoção de partículas sólidas, como Peneiramento; decantação
trapos, paus, materiais flutuantes, areia e
gorduras.
Primário Remove sólidos suspensos e uma porção da Peneiramento; sedimentação
matéria orgânica.
Secundário Tratamento biológico e remoção de poluentes Percolação ou filtro biologico
orgânicos biodegradáveis. percolador, lodos ativados,
Tratamento anaerobio, lagoa de
estabilização/oxidação.
Terciário Remoção dos sólidos residuais em suspensão e Filtro de areia; biorreator com
ou poluentes especificos, tais como nitrogenio ou membrana; osmose reversa;
Avançado fósforo, cor, odor e etc. A desinfecção e a tratamento de ozônio; coagulação
remoção de nutrientes são frequentemente química; carvão ativado.
incluídas.

Existem basicamente duas variantes para os sistemas de esgotamento sanitário: o sistema


individual, também chamado de estático, e o sistema coletivo, também chamado de
dinâmico (von Sperling, 2005). O Sistema Estático é aquele que propõe uma solução no
local, sendo usualmente utilizado para atendimento unifamiliar ou para poucas edificações
que estejam próximas entre si. Já os sistemas dinâmicos são soluções que recebem o
lançamento do esgoto e a transportam, através de canalizações, até um destino final onde
será tratado e posteriormente pode ser lançado em algum corpo d’água ou reaproveitado.
Este sistema é adequado para locais de densidade populacional elevada. Existem duas
subdivisões do sistema coletivo: sistema unitário, também chamado de combinado, e
sistema separador. No sistema combinado, o esgoto sanitário é conduzido junto com as
vazões de águas pluviais, em uma mesma canalização. Já no sistema separador, o esgoto e
as águas de chuva são conduzidos em canalizações separadas.

6
A escolha do processo de tratamento de esgoto mais adequado depende das características
da água residuária em questão e dos objetivos que devem ser alcançados por intermédio
desse tratamento.

Algumas características dos processos de tratamento dos sistemas unifamiliares ou


descentralizados e tecnologias disponíveis, que são o foco desta pesquisa, serão
apresentadas nos tópicos 3.1.1 e 3.1.2. Para o efluente tratado tornar-se um produto
adequado para reutilização ou descarga, ele deve obedecer alguns padrões de qualidade
que são apresentados no tópico 3.1.3 que aborda o reúso de água.

3.1.1 - Sistema descentralizado de tratamento de esgoto

Um sistema descentralizado de tratamento de esgoto pode ser definido como aquele que
atende pequenas comunidades, incluindo-se unidades de tratamento individuais ou
pequenos grupos de edifícios ligados a um sistema de tratamento com variedades de
tratamento (EPA, 2002; Libralato et al., 2012).

A implantação de sistemas descentralizados consiste no tratamento eficaz das águas


residuárias a partir de residências individuais, de modo que isso não cause quaisquer
condições de perturbação e impacto sobre qualquer um dos usos benéficos da água
subterrânea local (Metcalf e Eddy, 1991).

Além disso, existem inúmeras dificuldades ao trabalhar com esses sistemas


descentralizados, por conterem um efluente doméstico concentrado, se comparado a um
esgoto bruto em uma estação de tratamento de águas residuárias municipal convencional,
devido à falta de diluição a partir de vazões das redes de esgotos. Além disso, os esgotos
domiciliares podem conter maior presença de cabelos e partículas sólidas, o seu fluxo
oscila muito mais, assim como a grande variação de carga.

Outra preocupação importante ao utilizar esses sistemas descentralizados está relacionada a


inexistência do controle operacional desses sistemas, já que no Brasil a utilização de
tanques sépticos é muito difundida, porém, os sistemas não são monitorados e controlados,
e, consequentemente, podem acarretar problemas ao ambiente e a saúde pública.

7
Mesmo com esses desafios, observa-se um enorme crescimento para adaptação e
desenvolvimento de novas tecnologias para o tratamento descentralizado. A
descentralização está sendo cada vez mais reconhecida como um modelo potencialmente
adequado para contribuir para a redução da população mundial sem acesso ao
abastecimento de água e ao saneamento adequado, bem como aumentar a eficiência de
tratamento de esgotos, possibilitando o reúso de água (Libralato et al., 2012). Os sistemas
descentralizados são alternativas reconhecidas como potencialmente viáveis, de baixo
custo em longo prazo, ao serem aplicadas estratégias para o tratamento de águas
residuárias, se forem planejadas, projetadas, instaladas, operadas e mantidas de forma
adequada.

Além disso, é possível alcançar a sustentabilidade desses sistemas individuais, de grupos


ou de comunidades, ao adaptá-los à reciclagem e reúso de água e remoção e/ou reciclagem
de nutrientes (IWA, 2011). Na Erro! Fonte de referência não encontrada. apresenta-se
um esboço das alternativas de utilização da água residuária em sistemas descentralizados.

A utilização da água residuária tratada pode ser realizada de forma indireta e direta. A
forma indireta ocorre ao reintroduzir o efluente nos corpos de águas superficiais ou
subterrâneas, com o propósito de serem utilizadas ao captar agua à jusante do lançamento
de maneira controlada. Já o reúso de água direto pode ser feito de diversas formas, por
meio de irrigação no jardim, recarga de água subterrânea, reciclagem na própria casa para
fins de usos não potáveis, como uso na descarga no banheiro e lavagem de calçadas
(Metcalf e Eddy, 2007).

Algumas regiões do Brasil sofrem por problemas de escassez de água, como exemplo o
semiárido nordestino e os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Uma das formas de
enfrentar a escassez de água é adotando um programa de reúso de água. Atualmente, as
tecnologias que permitem realizar reúso de água estão ficando cada vez mais acessíveis e
eficientes. Porém, ainda há a necessidade de uma legislação mais coerente com a realidade
e as tecnologias disponíveis que possa contribuir para diminuir a escassez e utilizar essas
águas usadas para fins menos nobres e exigentes, tais como irrigação de jardins, lavagem
de carros e descarga de bacias sanitárias.

8
Figura 3.1 - Definição de sistemas descentralizados de coleta, tratamento e reutilização de
esgoto
(Metcalf e Eddy, 2007)

Para a produção de água de reúso descentralizados em localidades sem sistemas de


esgotamento sanitário, possibilitando um aproveitamento da água residuárias tratada, tem-
se usado membranas acopladas a sistemas de tratamento de esgoto. O MBR, Membrane
Biological Reactor, ou Reator Biológico com Membrana, está entre o que existe de mais
avançado em tratamento de efluentes domésticos e industriais, com eficiência elevada e
aplicação em diversas situações. Essa tecnologia de MBR é uma variação moderna do
processo biológico aeróbio de lodos ativados. Um dos aspectos positivos do sistema MBR
é o de promover uma intensa redução de microrganismos patogênicos. Além disso, o
processo MBR possibilita a utilização de reatores compactos, ou seja, ele ocupa um menor

9
espaço, e o controle do sistema pode ser realizado remotamente por telemetria e
automação.

3.1.2 - Tecnologias de tratamento de esgoto no Brasil

Este tópico reúne alguns principais sistemas de tratamento de esgoto utilizados no Brasil.
Levantados por meio de pesquisa ao mercado (fabricantes), companhias de saneamento,
dados da literatura e do IBGE (2010).

Algumas tecnologias aplicadas ao tratamento de efluentes no Brasil utilizam tratamentos


preliminares, primários, secundários e terciários, com o emprego de processos biológicos
aeróbios e anaeróbios, tais como lagoas (facultativas, aeróbias, anaeróbias, mistas e de
estabilização), lodo ativado (convencional, aeração prolongada ou por batelada), filtração
biológica, valo de oxidação, aplicação no solo, tanques sépticos, reatores anaeróbios, e
reator UASB. Esses sistemas de tratamento de esgotos vão desde alguns tratamentos
unitários simples até os mais sofisticados, com a combinação de várias técnicas de
tratamento para produzir um efluente de melhor qualidade. Os sistemas de tratamento de
esgotos sanitários mais empregados nos municípios brasileiros estão apresentados na
Tabela 3.2. Ressaltando que os de municípios da região norte são os que apresentam menor
índice de tipos de sistemas de tratamento com apenas 7,8%.

No Brasil, as tecnologias fabricadas de forma compacta que estão em fase de expansão


são: as estações mistas, que combinam o sistema de tratamento aeróbio com o anaeróbio;
lodos ativados com pré-desnitrificação e aeração prolongada; reator biológico com
membranas (MBR); reator biológico de leito móvel (MBBR); UASB acompanhado de
filtro biológico; wetland e filtros biológicos. Normalmente, esses sistemas quando são
adquiridos de empresas para atender vazões menores, com aplicações em indústrias,
hospitais, condomínios e pequenas comunidades.

O sistema de tratamento descentralizado que se destaca no Brasil é o anaeróbio, por


apresentar custo baixo de instalação, ser de fácil operação e manutenção e simplicidade de
construção. Embora esse tipo de sistema seja eficiente na remoção de matéria orgânica,
apresenta alguns problemas relacionados à remoção de nutrientes (N e P) e micro-

10
organismos patogênicos, que acarretam problemas para a disposição final dos efluentes
tratados em corpos d’água.

Tabela 3.2 - Tipos de sistemas de tratamento utilizados no Brasil


IBGE (2010)
Número de municípios com tratamento de esgoto sanitário
Tipo de sistema de
Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil
tratamento
Unid. % Unid. % Unid. % Unid. % Unid. % Unid. %
Total geral de
449 100 1793 100 1668 100 1188 100 466 100 5564 100
municípios
Filtro biológico 6 1,3 67 3,7 151 9,1 82 6,9 11 2,4 317 5,7
Lodo ativado 4 0,9 20 1,1 123 7,4 34 2,9 7 1,5 188 3,4
Reator anaeróbio 14 3,1 84 4,7 238 14,3 178 15,0 51 10,9 565 10,2
Valo de oxidação 2 0,5 4 0,2 14 0,8 6 0,5 1 0,2 27 0,5
Lagoa anaeróbia 11 2,5 68 3,8 251 15,1 49 4,1 52 11,2 431 7,8
Lagoa aeróbia 10 2,2 29 1,6 56 3,4 22 1,9 14 3,0 131 2,4
Lagoa aerada 4 0,9 26 1,5 42 2,5 8 0,7 13 2,8 93 1,7
Lagoa facultativa 19 4,2 130 7,3 387 23,2 70 5,9 66 14,2 672 12,1
Lagoa mista 2 0,5 25 1,4 25 1,5 6 0,5 7 1,5 65 1,2
Lagoa de
6 1,3 90 5,0 78 4,7 16 1,4 48 10,3 238 4,3
maturação
Wetland/aplicação
no solo, plantas 1 0,2 5 0,3 11 0,7 3 0,3 - - 20 0,4
aquáticas
Fossa séptica de
sistema 4 0,9 33 1,8 42 2,5 28 2,4 2 0,4 109 2
condominial
Outros sistemas 2 0,45 43 2,4 54 3,24 20 1,68 10 2,15 129 2,3
Total 35 7,8 308 17,2 782 46,9 271 22,8 117 25,1 1513 27,2

As alternativas mais promissoras que têm apresentado destaque como processos de pós-
tratamento de sistemas anaeróbios, com o objetivo de melhorar a remoção de nutrientes e
patógenos são as seguintes: reatores biológicos em batelada sequencial; sistemas híbridos;
biodiscos; reatores de leito granular expandido; reatores de leito fixo dotados de materiais
de suporte alternativos; biorreatores com membranas; processos de oxidação avançado; e
flotação em dois estágios (Chernicharo, 2007).

3.1.3 - Reúso de água e legislação vigente

Há uma variedade de formas de reaproveitamento da água proveniente de um processo de


tratamento de água residuária, e a adoção de uma ou mais dessas formas depende do tipo e
do grau de remoção do componente requerido e do grau de interesse pelo reúso da água.
Entretanto, ao tratar de reúso de água no Brasil, ainda há um grande empecilho com a falta

11
de padrões e normas técnicas, o que é um problema, pois não há legislação específica que
trate de normas ou diretrizes com padrões de tratamento a serem seguidos.

A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei Nº 9433/97, estabelece entre
seus objetivos “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água,
em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.

Basicamente, existem apenas dois regulamentos brasileiros que tratam de reúso de água.
Um é estabelecido pela Resolução nº 54/2005 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos
(CNRH), que descreve quatro modalidades para prática de reúso direto não potável para
fins agrícolas, ambientais, industriais e aquicultura. Outro é a Norma NBR 13969/1997,
que não é específica para reúso de água, tem um item dedicado ao tema, inclusive com a
definição de classes de água de reúso e indicação de padrões de qualidade, que descreve as
unidades de pós-tratamento e sugere alternativas de disposição final de efluentes líquidos
de tanques séptico, como segue:
• Classe 1: Lavagem de carros e outros usos;
• Classe 2: Lavagens de pisos, calçadas e irrigação dos jardins, manutenção dos lagos e
canais para fins paisagísticos, exceto chafarizes;
• Classe 3: Reúso nas descargas dos vasos sanitários;
• Classe 4: Reúso nos pomares, cereais, forragens, pastagens para gados e outros cultivos
através de escoamento superficial ou por sistema de irrigação pontual.

De acordo com a NBR 13969/1997, para alcançar os níveis de tratamento apresentados na


Tabela 3.3, geralmente é necessário fazer o tratamento aeróbio seguido de desinfecção.

Existem outros regulamentos que tratam da necessidade de programas de reúso água,


porém não apresenta nenhuma orientação técnica para a sua aplicação. Na cidade de São
Paulo, por exemplo, existe a Lei nº 13276/2002, conhecida como “lei das piscininhas”,
para coleta e liberação lenta de águas de chuva para lotes que tenham área
impermeabilizada superior a 500 m², cujo principal objetivo é minimizar o escoamento
superficial de água durante as chuvas. No entanto, essa alternativa não garante segurança
na eficácia da qualidade.

12
Devido ao interesse pelo tema, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou
em 2007 a norma NBR 15527 referente aos requisitos para o “Aproveitamento de água da
chuva em coberturas nas áreas urbanas para fins não potáveis”, mas nenhuma, pelo menos
por enquanto, especificamente para o reúso de água.

Atualmente, ainda não há regulamentos necessários para a implementação de sistemas


alternativos de oferta de água no Brasil. No entanto, a Agência Nacional de Águas (ANA,
2005) orienta para a implantação de programas de conservação e reúso de águas em
edificações comerciais, residenciais e industriais. Nessas orientações, a ANA (2005),
estabelece exigências mínimas para à reutilização urbana irrestrita não potável, que inclui
os usos que são suscetíveis a risco para o público e, portanto, requer um elevado nível de
tratamento. Estes valores de referência apresentados na Tabela 3.3 são da Agência
Nacional de Águas (ANA, 2005) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT,
1997).

Tabela 3.3 - Parâmetros característicos para a qualidade da água de reúso irrestrito para fim não
potável
ANA (2005) ANA (2005) ANA (2005) NBR
Parâmetro
¹Classe 1 ²Classe 2 ³Classe 3 13969/1997
SST - Sólidos suspensos totais (mg/L) ≤ 5,0 ≤ 30 < 20 –
SDT - Sólidos dissolvidos totais
≤ 500,0 – – ≤ 200,0
(mg/L)
Turbidez (NTU) ≤ 2,0 – < 5,0 < 5,0
DBO5 (mg/L) ≤ 10,0 ≤ 30 < 20 –
Óleos e graxas (mg/L) ≤ 1,0 ≤ 1,0 – –
Não
Coliformes fecais (NMP/100 ml) ≤ 1000 ≤ 200,0 < 500
detectáveis
Cloro resigual (mg/L) – – 1 0,5 – 1,5
Nitrato (mg/L) < 10,0 – – –
Nitrogênio amoniacal (mg/L) ≤ 20,0 – 5 - 30 –
Nitrito (mg/L) ≤ 1,0 – – –
Fósforo total (mg/L) ≤ 0,1 – – –
pH 6,0 – 9,0 6,0 – 9,0 6,0 – 9,0 6,0 – 8,0
¹Classe 1: reúso de água em descarga de bacias sanitárias, lavagem de pisos e fins ornamentais, lavagem de
roupas e de veículos; ²Classe 2: reúso associado às fases de construção da edificação - lavagem de agregados
e preparação de concreto; ³Classe 3: irrigação de áreas verdes e rega de jardins.

13
Nota-se que esses padrões estabelecidos para o reúso de água no Brasil surgem a partir de
consultas às diretrizes internacionais e nacionais que são bem rigorosas, provenientes de
países que estão mais avançados nessa temática, como a Organização Mundial da Saúde
(OMS ou WHO), Agência Americana de Proteção Ambiental (EPA) ou normas europeias.

3.2 - REATOR BIOLÓGICO COM MEMBRANA (MBR)

O sistema MBR, por produzir um permeado de alta qualidade, tem provocado um


crescente interesse e tem sido a forma de tratamento mais utilizada para o reúso de água
em diversos países, pois ele consegue atender as diretrizes mais rigorosas quanto à
exigência de padrões, como os Sólidos Suspensos Totais (SST) e a turbidez em baixas
concentrações (Felizatto et al., 2016).

Um exemplo de aplicação de MBR para fim de reúso foi relatado por Côté et al. (2004),
que realizaram um estudo no Canadá comparando o sistema de lodos ativados sequenciado
de tratamento terciário com filtros de carvão ativado e o sistema MBR para reúso do
efluente de indústrias para fins de irrigação e reúso potável indireto. O estudo mostrou que
além de se obter com o MBR um efluente dentro de padrões mais rigorosos para reúso, o
MBR tem um custo 50% menor se comparado ao sistema de lodos ativados seguido de
filtração por carvão ativado.

Já o estudo realizado por Alaboud e Magram (2008) na Arábia Saudita, teve como objetivo
apresentar o MBR para o reúso de efluentes industriais e municipais, visto que o país
possui clima desértico. A pesquisa mostrou a eficiência do MBR no tratamento tanto de
efluentes municipais quanto industriais com tempos de detenção hidráulico (TDH)
diferentes, e comparou com o sistema de lodos ativados seguido de filtração com carvão
ativado. A qualidade do permeado obtido pelo MBR foi satisfatória, com alta remoção de
orgânicos, nutrientes e coliformes totais e termotolerantes, independentemente do TDH
empregado, com custo total de 20% menor do que o sistema de lodos ativados seguido de
filtração.

Nas últimas décadas, a tecnologia de membranas tem se difundido no mercado, pela sua
alta eficiência no tratamento de água e de efluentes, bem como por possibilitar o
aproveitamento da água residuária tratada. A aplicação dessa tecnologia tem se difundido

14
por diversas áreas de interesse, como na química, biotecnologia, farmácia, biomedicina,
indústrias alimentícias e bebidas, tratamento de água, tratamento de esgoto e tratamento de
despejos industriais.

O termo “reator biológico com membrana” aplica-se a todos os processos de tratamento de


águas residuárias integrando uma membrana permeável e seletiva com um processo
biológico (Judd, 2011). Essa tecnologia aplica-se tanto para efluentes sanitários
municipais, efluentes industriais e até no tratamento de chorume. Os MBR apresentam
duas configurações, uma com membrana externa e outra com membrana submersa, como é
mostrado na Figura 3.2.

No reator biológico com módulo externo (Figura 3.2a), o conteúdo do reator é bombeado
para os módulos, geralmente, tubulares, e o processo opera em fluxo cruzado, ou seja, a
solução ou suspensão escoa paralelamente à superfície da membrana, enquanto o permeado
é transportado transversalmente à mesma.

Na configuração do reator biológico com módulo de membranas submerso (Figura 3.2b), o


módulo ou feixe de membranas é imerso no tanque aerado e o conteúdo do biorreator está
em contato com a superfície externa das membranas. O permeado é obtido por meio da
sucção do conteúdo do reator que atravessa as paredes da membrana. Esta diferença de
pressão que promove a separação pode ser provocada pela coluna de líquido no interior do
reator ou aplicando-se vácuo no lado do permeado. Esses sistemas, geralmente, utilizam
membranas do tipo fibra oca ou placa plana.

Existem duas configurações diferentes no processo MBR submerso, dependendo da


existência de tanques de membrana separadas. Inicialmente, as membranas eram
submersas diretamente no tanque de aeração. No entanto, percebeu-se que essa
configuração é de difícil manutenção, porque todo o tanque de aeração tem de ser drenado
ou o módulo de membrana tem de ser içado para fora do tanque de aeração antes da
limpeza da membrana, lavagem do difusor de ar, da substituição de membrana, e assim por
diante. Como resultado disso, os tanques de membrana separados começaram a ser
instalados no tanque de aeração (Figura 3.3). Nessa configuração, todo o licor misto no
tanque pequeno com membrana pode ser transferido para o tanque maior de aeração,
sempre que necessário. Ao mesmo tempo, um tanque de membrana separada também tem

15
as seguintes desvantagens quando se compara com um tanque integrado: (1) tamanho
maior, (2) custos de capital mais elevados, (3) custos de energia mais elevados devido à
necessidade de recirculação de licor misto e a necessidade de mais aeração no tanque de
aeração (Yoon, 2015).

Figura 3.2 - Principais configurações dos Biorreatores com membranas. (a) Sistema MBR com
membrana externa – MBR-e. (b) Sistema MBR com membrana submersa – MBR-s.
(Subtil et al., 2013).

A concepção do tanque de membrana separado novamente evoluiu para o desenho


mostrado na Figura 3.3(c), onde o licor misto é bombeado a partir do tanque de membrana
para o tanque de aeração. Este projeto oferece algumas vantagens, tais como: (1) economia
de energia de bombeamento, reduzindo o fluxo a ser bombeado; (2) menor custo de capital
por meio de bombas de reciclagem com capacidade menor; e (3) redução da incrustação na
membrana por não enviar partículas finas geradas pela bomba de circulação diretamente
para o tanque de membrana (Yoon, 2015).

O MBR é um tratamento biológico resultante de sistemas de lodos ativados clássicos, em


que o sistema de decantação secundária, que ocupa grande espaço, é substituído por uma
membrana de ultrafiltração ou microfiltração, colocada no mesmo reator, ou anexa perto

16
do mesmo reator, conseguindo-se assim uma separação completa da biomassa da água
tratada ou permeada.

Figura 3.3 - Configurações dos MBR submersos: (a) Tanque com membrana integrado; (b) tanque
tipo 1 com membrana separada; (c) tanque tipo 2 com membrana separada.
(Yoon, 2015)

O sistema independe da decantabilidade do lodo, o que faz com que a concentração da


biomassa possa ser aumentada no reator até umas cinco vezes, com respeito ao processo
convencional de lodos ativados. Dessa forma, o volume do reator é reduzido, mantendo a
carga mássica do processo biológico. O reator pode trabalhar em condições aeróbias ou
anaeróbias, escolha que dependerá das características da água a tratar.

A maioria de instalações existentes, tal como ocorre com o processo convencional,


funciona com reatores biológicos aerados. O crescimento lento dos microrganismos
anaeróbios e a baixa adaptação às variações de carga fazem com que os processos

17
anaeróbios não sejam tão difundidos. Ainda mais que os custos de investimento são mais
elevados em sistemas de membrana em condições anaeróbias e, de alguma forma, seu
funcionamento apresenta maior complexidade. Além disso, os MBR anaeróbios são
significativamente influenciados por inúmeros fatores, como o tipo e variabilidade de
águas residuárias brutas, o tipo de contaminantes orgânicos no afluente, o seu pH, etc.

No entanto, Skouteris (2012b) mostra que os MBR anaeróbios podem tratar de forma
muito eficiente as águas residuárias. Além disso, eles podem produzir biogás de boa
qualidade, o que pode ser ainda utilizado dentro das próprias plantas MBR para a produção
de energia renovável. No entanto, a adoção e comercialização dessa tecnologia ainda são
insipientes, a maioria dos sistemas operados está em escala de bancada experimental, e a
sua aplicação em planta piloto é limitada, concluindo-se que os MBR anaeróbios em escala
industrial ainda não foram testados.

As membranas dos MBR estão inseridas em meios que contêm sólidos em suspensão como
flocos biológicos, células microbianas, debris celulares, colóides, macromoléculas e uma
gama variada de substâncias orgânicas solúveis (Dezotti et al., 2011). Na Tabela 3.4
comparam-se as caracteristicas do licor misto presente no reator biológico do sistemas com
membranas com as do lodos ativados convencionais.

A elevada concentração de biomassa no reator resulta em valores de carga orgânica


maiores que o tratamento convencional e produz uma relação alimento/microrganismo
reduzida. O tempo de retenção da biomassa nesses reatores situa-se na faixa entre 30 e 45
dias. A alta concentração da biomassa e o longo tempo de residência do lodo no reator
facilitam o crescimento lento de microrganismos e de organismos especialistas, como
bactérias nitrificantes autotróficas (Schneider e Tsutiya, 2001).

O longo tempo de residência da biomassa e a reduzida carga orgânica por unidade de


biomassa contribuem substancialmente para reduzir a produção de lodo, alcançando um
tamanho das partículoas de lodo com cerca de 30 a 50% menor que em um sistema
convencional. O tamanho reduzido dos poros das membranas permite a retenção completa
de microrganismos no reator, independentemente de estarem ligados ou não aos flocos da
biomassa (Schneider e Tsutiya, 2001).

18
Tabela 3.4 - Comparação do reator de membrana aeróbio com sistema de lodo ativado
convencional, no tratamento de efluente doméstico
(Schneider e Tsutiya, 2001).
Reator
Lodo ativado
Parâmetro com
convencional
membrana
Biomassa (g/L) 15 - 25 1,5 – 4,0
Kg DQO/m³d 2,6 – 5,0 < 1,0
Kg DBO/m³d 1,5 – 2,5 < 0,5
Kg NH3/m³d 0,2 – 0,4 < 0,07
A/M (kg DQO/Kg SSLM d) < 0,1 0,2 – 0,6
Tempo de residência da biomassa (d) 30 - 45 5 – 15
Produção de lodo (Kg lodo seco/Kg de DQO):
- A/M (0,5 a 1,0) 0,46 0,6
- A/M (0,1 a 0,2) 0 –
Diâmetro médio dos flocos (µm) 3,5 20
Tempo de residência hidráulica (h) 2 3–8
SSLM-sólidos suspensos no licor misto.

Benitez et al. (2002) ressaltaram as vantagens que os processos MBR possuem em relação
ao sistema convencional de lodos ativados, que estão relacionadas ao seu alto desempenho,
baixa produção de lodo e reator biológico com menor tamanho. E as desvantagens do
MBR são os altos custos de energia, custo de instalação de aeração, a lavagem e a
substituição das membranas. Assim, indicaram que o processo MBR é particularmente
adequado para tratamento de águas residuárias de baixa vazão e alto poder de poluição.

Tradicionalmente, os sistemas MBR foram projetados para operar em concentrações de


SSLM semelhantes nos reatores de processos biológicos e nos tanques de membrana. O
resultado é uma elevada taxa de recirculação de sólidos de 4 a 5 vezes o fluxo afluente.

Embora não seja viável em todos os projetos de MBR, em determinadas circunstâncias


(por exemplo, com o uso de decantadores primários) há uma oportunidade para operar com
concentrações mais baixas de SSLM e, portanto, menos massa nas bacias de aeração e
ainda assim manter uma concentração maior do SSLM nos tanques de membrana. Este
modo de operação pode reduzir a taxa de recirculação em até 50%. A redução de consumo
de energia resultante desta configuração é dupla, pois ocorre redução no bombeamento e
um aumento potencial do fator alfa, que melhora a eficiência de transferência de oxigênio
(WEF, 2012).

19
Por meio de um levantamento dos aspectos fundamentais do MBR, Judd (2008) mostra a
relação mútua e de complementariedade entre os processos e os parâmetros. Com isso,
Judd (2008) conclui que os MBR oferecem maior facilidade de controle do que o processo
de lodo ativado convencional, devido ao desacoplamento da TRS (tempo de retenção de
sólidos) e do TRH (tempo de retenção hidráulico). Estes dois parâmetros são geralmente
definidos pela biocinética de sistema, isto é, a velocidade à qual os micro-organismos
ativos decompõem os componentes do esgoto no SSLM. Grandes valores de TRS são
geralmente desejáveis do ponto de vista biocinético, porque isso produz mais micro-
organismos de crescimento lento, assim como a geração de menos lodo. O funcionamento
com TRS maior se torna possível pela retenção completa dos sólidos em suspensão pela
membrana. O TRH pode, então, ser definido de acordo com a microbiologia e biocinética
do sistema.

Yoon et al. (2004) buscavam determinar a condição operacional mais econômica para um
MBR, com o propósito de minimizar os custos operacionais e os custos de tratamento.
Com isto, constaram que a condição operacional mais econômica foi utilizando um TRH
de 16 h e SSLM de 11.000 mg/L, quando aeração para a biodegradação era de 13,3 m3
ar/min para um volume de 1000 m3 por dia. Para os intervalos razoáveis de TRH e SSLM,
o custo de tratamento de lodo supera o custo de aeração para a biodegradação. Portanto, a
manutenção de uma condição de baixa produção de lodo é mais importante para a redução
de custos de operação de um MBR.

Além disso, Chapman et al. (2001) ressaltam que, enquanto os custos de tecnologias
convencionais estão subindo lentamente com os custos do trabalho e as pressões
inflacionárias, os custos para todos os equipamentos de membrana (tanto para filtração
direta e MBR) vem caindo de forma constante durante os últimos 10 anos. Na Tabela 3.5
apresentam-se possiveis medidas para reduzir o custo para implantação do MBR.

O processo MBR tem o tamanho fisicamente menor de plantas em comparação com


aqueles convencionalmente empregados para o tratamento de efluentes, por isso ele se
torna importante nas áreas em que: (a) os custos da terra são elevados e aumenta a uma
taxa maior do que o índice geral de preços; (b) o espaço no local é limitado;e (c) restrições
legais foram impostas ao impacto visual acarretado pela planta (Judd, 2011).

20
O MBR com módulo externo tem um consumo de energia de 2 a 10 kWh/m3 de permeado
produzido, dependendo do diâmetro interno dos canais utilizados (considerando módulos
tubulares). Já o MBR com módulos submersos tem um consumo de energia de cerca de 0,2
a 0,4 kWh/m3 de permeado produzido (Côté et al., 1998).

Para reduzir a demanda de energia em MBR, Judd (2008) sugere a utilização de


membranas cerâmicas com operação anaeróbia. As membranas cerâmicas são mais
resistentes ao entupimento, porém elas apresentam alto custo. Os sistemas de MBR
anaeróbio submerso podem oferecer vantagens em relação ao tratamento aeróbio porque
exigem a operação anaeróbia não aerada e também geram o metano, que pode ser usado
para geração de energia (Judd, 2011).

Tabela 3.5 - Possíveis medidas para redução do custo de instalação e operação


(Côté et al., 1998).
Fator Possíveis medidas para redução de custo
- Utilizar fibras ocas de diâmetro mínimo para maximizar a área de filtração por
volume unitário de polímero e de módulo;
Membrana
- Filtração de fora para dentro da fibra oca, para maximizar a área de filtração exposta
à água bruta.
- Maximizar o comprimento das fibras para minimizar o consumo de resina de fixação
das fibras;
- Utilizar módulos sem envoltórios para minimizar o uso de materiais plásticos
resistentes à pressão;
Módulo - Limitar a perda de carga no interior da fibra a uma fração muito pequena da PTM;
- Maximizar a densidade de empacotamento de membranas no módulo para reduzir ao
máximo a área da planta;
- Manter o tamanho dos módulos dentro de limites que permitam o manuseio por
operadores individuais.
- Maximizar o tamanho para reduzir ao mínimo os pontos de conexão com
equipamentos auxiliares;
Blocos de - Maximizar a densidade de empacotamento de módulos para reduzir a área ocupada
membranas por bloco;
- Permitir acesso adequado para inspeção, manutenção e troca de módulos de
membrana.
- Operar sistema sem recirculação da água bruta e sem aeração para reduzir o
consumo de energia;
Operação - Limitar a pressão de operação e a frequência de limpeza química para reduzir o
consumo de energia e de produtos químicos e prolongar ao máximo a vida útil das
membranas.

3.2.1 - Exemplos de aplicação de MBR

Neste item são abordados alguns trabalhos da literatura científica referente ao tratamento
de água residuária utilizando o sistema MBR e que são relevantes para esta pesquisa.

21
A primeira instalação de MBR foi desenvolvida pela empresa Dorr Oliver em 1966 (Yang
et al., 2006). Foi constatada na literatura uma tendência de se utilizar o MBR com
membranas submersas e em sistemas aeróbios, sendo raras as pesquisas em sistemas
anaeróbios. No entanto, Judd (2008) destaca que configurações alternativas de baixo
consumo têm conduzido à exploração de acoplamento de biorreatores com outros
processos de separação por membrana, bem como a um renovado interesse nas tecnologias
MBR anaeróbias.

De acordo com Judd (2011), nos países que defendem o sistema MBR como a melhor
tecnologia disponível, são feitos contratos rigorosos de qualidade da água com os
fornecedores e, em caso de violação de qualidade da água do produto, são impostas
medidas financeiras punitivas. Além disso, Judd (2011) ressalta que diversos países (como
Reino Unido, EUA, Austrália, Canadá, Finlândia, França, Holanda, Suíça, Japão e
Dinamarca) têm incentivos oferecidos em várias formas para promover tecnologias
inovadoras eficientes de tratamento da água e redução no demanda de água doce. Esses
incentivos em países desenvolvidos fazem com que as tecnologias avançadas se tornem
mais acessíveis.

Um levantamento feito em 2006 mostrou que existiam 258 instalações de MBR em escala
real na América do Norte e cerca de 2200 no mundo todo (Yang et al., 2006). Atualmente,
o processo MBR se difundiu mais ainda, principalmente na China, onde se encontra em
funcionamento a planta de tratamento de esgotos em MBR de Beijing, considerada a maior
do mundo. Várias empresas internacionais comercializam o sistema de tratamento por
MBR, como a Kubota, a Zenon-GE, a Siemens, a Mitsubishi-Rayon, a Toray-Koch, a
Puron e a Huber Technology.

No Brasil, as empresas que atualmente oferecem sistemas compactos de MBR estão


apresentadas na Tabela 3.6. Esses sistemas podem ser aplicados em unidades
descentralizadas com alto volume de efluente gerado, por exemplo, hospitais e indústrias.

Um exemplo da aplicabilidade deste método no Brasil e primeira planta de MBR em


grande escala da América Latina a tratar esgoto doméstico, é a Estação Produtora de Água
e Reúso – EPAR Capivari - operada pela SANASA (Sociedade de Abastecimento de Água
e Saneamento S/A de Campinas) desde 2012. Essa planta de tratamento utiliza o sistema

22
MBR com membranas de ultrafiltração com configuração de fibra oca (Rosseto et al,
2014).

Tabela 3.6 - Empresas que comercializam sistemas compactos de MBR no Brasil.


Localizaçã
Empresa Tipo de membrana Configuração Fabricação
o
Rio de Cilíndrica do tipo fibra oca, Variados sistemas, Pam
Pam
Janeiro Ultrafiltração de polietersulfona conforme a escolha membranas,
Membranas
(RJ) Microbiltração de poli-imida. do cliente. Brasil
Huber
Huber São Paulo Placa plana. Sucção
UF 0,037 µm de polieter sulfona technology,
technology (SP) Submersa
Alemanha
AgE UF polietersulfona com
São José Placa plana. Sucção LG Kored,
Tecnologias porosidade de 0,2μm.
(SC) Submersa. Coreia
LTDA
0,4 µm com dois tipos, uma com
Centroprojekt São Paulo Placa plana. Sucção Kubota
tipo 203 (área real 0,1m²/pc) e
do Brasil S/A (SP) Submersa. Japão
tipo 510 (área real 0,8m²/pc)
Metropolitana São Paulo UF de 0,15μm. Placa plana. Sucção LG Kored,
Ambiental (SP) Submersa. Coreia

Santo
H2Life – – –
André (SP)

Atualmente, a EPAR Capivari tem capacidade de tratar 360 L/s de vazão média, podendo
atender a uma população de aproximadamente 180 mil pessoas. Na sua configuração final,
a EPAR terá capacidade para tratar a vazão média afluente de 725 L/s, e deverá atender às
necessidades da área até o ano 2025, para uma população estimada em 351.766 habitantes.
Essa estação vem produzindo efluente com valores de DQO consistentemente abaixo de 28
mg/L, concentrações de NH3 inferiores a 1 mg/L, turbidez menor que 0,33 NTU e sem
odor desagradável, com o excelente índice de remoção de DBO de 99,8% (Rosseto et al.,
2014).

A segunda planta de tratamento de esgotos em MBR foi instalada em Campos do Jordão


no fim de 2013 com capacidade de tratar em média 180 L/s e terá capacidade de tratar 213
L/s no fim de plano. Essa planta emprega membranas de UF da marca Zeeweed de PVDF e
configuração de fibra oca. Essa ETE de Campos do Jordão, atualmente, tem capacidade
para tratar 213 L/s, atendendo à demanda atual da população fixa da cidade (47 mil
habitantes) e da população flutuante.

23
3.2.2 - Configurações das aplicações de sistemas MBR descentralizados

Neste tópico serão vistas as concepções e arranjos físicos de alguns sistemas em pequena
escala descentralizados que foram implantados e que são importantes de serem relatados e
destacados com o propósito de utilizar as suas melhores características.

Com o passar do tempo, houve um grande avanço no desenvolvimento da tecnologia


MBR. Percebe-se que as configurações têm mudado e a eficiência dos sistemas foi
melhorada. Isso decorreu devido ao crescimento de pesquisas, aplicações e investimentos
na temática de tecnologias inovadoras e do interesse em produzir um efluente de boa
qualidade que pudesse ser utilizado.

Abegglen et al. (2008) investigaram o tratamento de um efluente doméstico com um


sistema MBR localizado no porão de uma casa com quatro moradores. Foram avaliadas
duas configurações operacionais para a remoção de nutrientes. Para o primeiro período, o
primeiro tanque funcionava como um clarificador primário seguido por um MBR no
segundo tanque. Para o segundo período, o primeiro tanque funcionou como um reator
anaeróbico/anóxico com agitação e aeração intermitente adicionando uma peneira no
efluente de entrada do segundo reator biologico com membrana. O desempenho do MBR
melhorou com as modificações no segundo período e, a reciclagem de lodo reduziu o
problema de odor, ocorreu uma taxa mais elevada de desnitrificação e melhorou,
parcialmente, a remoção biológica de fósforo em cerca de 70-90%.

Sartor et al. (2008) constataram que há viabilidade em aplicar o MBR descentralizado no


Vietnã em locais onde não há rede de esgoto municipal. O sistema aplicado é composto por
uma fossa séptica, um tanque anóxico e o terceiro é um tanque biológico aeróbio com
membrana. O sistema forneceu melhores condições de saúde ao local devido a um efluente
quase livre de bactérias e a possibilidade de reutilizar a água tratada.

Battilani (2010) utilizou um sistema sofisticado denominado de Biobooster com disco


rotativo e fluxo cruzado de aeração entre os discos de filtração de membrana do tipo
cerâmica. Segundo esse autor, esse sistema opera com uma concentração de lodo de quatro

24
a cinco vezes mais elevada (SSLM de 23,7 g/L) do que nos sistemas MBR convencionais
com capacidade de produzir efluente para reúso direto e indireto.
Verrecht et al. (2010), para otimizarem o consumo de energia de um biorreator com
membrana em pequena escala, utilizaram um modelo dinâmico para simulação da planta
(Modelo ASM2d), e, por meio de traçadores, determinaram o comportamento hidráulico da
planta. O modelo forneceu uma previsão precisa da remoção de nutrientes e concentrações
dos SSLM usando valores padrão para todos os parâmetros biocinético e estequiométrico.
A modelagem realista da planta foi obtida ao longo de um período de amostragem de
quatro meses com a variação do tempo de retenção de sólidos (TRS), vazão de recicurlação
e concentração de oxigênio dissolvido. Os novos valores de parâmetros operacionais
estabelecidos pelo modelo foram aplicados à planta, resultando numa redução do consumo
de energia em 23%, sem comprometer a qualidade do efluente.

Skouteris et al. (2012a) trabalharam com um MBR piloto aeróbio submerso operado com
esgoto doméstico com pré-tratamento para remoção de óleo/gordura e de areia/grão,
seguido de peneiramento fino e posteriormente um tanque de tratamento biológico e um
tanque de filtração por membrana. O lodo era regulado manualmente duas vezes por
semana. Dessa forma, o TRS e o TRH foram controlados.

Abbas et al. (2012) avaliaram a aplicabilidade da tecnologia MBR para sistemas de


tratamento descentralizado de esgoto na cidade de Bagdá no Iraque. O sistema que foi
estudado era controlado automaticamente. O sistema MBR era compacto e composto por
um tanque anóxico, um tanque biológico aerado e um tanque com membrana, projetado
para produzir água tratada de alta qualidade e sem excesso de lodo. O MBR mostrou-se
eficiente quando adotado para estações de tratamento de pequena escala.

Santasmasas et al. (2013), na Espanha, utilizaram a água cinza para reduzir o consumo de
água potável em edifícios após passar a água cinza pelo tratamento com um protótipo
MBR. Foi necessária a desinfecção de água cinza para garantir a conformidade com os
padrões microbianos para reúso de água, para evitar o risco para a saúde e efeitos estéticos
e ambientais negativos. Os níveis de compostos orgânicos foram grandemente reduzidos
pelo tratamento MBR, e, consequentemente, a etapa de desinfecção requereu menos
quantidade de cloro, o que representou baixos potenciais de formação na desinfecção com

25
cloro de subprodutos carcinogênicos, de problemas de saúde e de impacto aos
ecossistemas.

Tai et al. (2014) investigaram cinco anos de operação de uma planta de MBR
descentralizado em um condomínio próximo ao Rio São Lourenço nos EUA (Whitehouse
Terrace) com capacidade de 33 m³/d. Nessa planta, o esgoto é encaminhado por gravidade
para os tanques sépticos existentes e, em seguida, para uma bacia de equalização. Na
sequência, o esgoto é bombeado para o sistema MBR, onde sofre filtração.

Um resumo das características das configurações dos sistemas apresentados anteriormente


está apresentado na Tabela 3.7, junto com os principais parâmetros usados nos sistemas
MBR. Constatou-se que dos oito trabalhos considerados mais relevantes para essa pesquisa
em relação à operação do sistema MBR de modo descentralizado, dois sistemas utilizaram
módulos de membranas do tipo fibra oca, cinco utilizaram módulos do tipo placa plana e
um utilizou módulo compacto com membrana cerâmica de disco rotativo com fluxo
cruzado. Apenas um trabalho utilizou membranas de microfiltração (MF). Devido à
variação de dados, houve dificuldade em correlacionar as características dos sistemas em
relação ao TRS, TRH, pré-tratamento, concentração do SSLM e tipo de material da
membrana. Os módulos de membrana de placa plana são melhores de serem aplicados em
sistemas de tratamento em escala média e pequena. Além disso, notou-se que é
fundamental que se tenha um pré-tratamento antes do tanque com membranas para
diminuir a incidência de incrustação na membrana e melhorar a eficiência de tratamento.

26
Tabela 3.7 - Resumo dos estudos sobre MBR descentralizados em pequena escala.
Santasmasas
Parâmetros da planta Abegglen (2008) Sartor (2008) Batillani (2010) Verrecht (2010) Skouteris (2012a) Abbas (2012) Tai (2014)
(2013)
Dubendorf, America do Norte
Local do estudo Vietnã-Ásia Italia-Bologna Reino Unido Sfax, Tunisia Bagdá-Iraque –
Suíça. EUA
Disco rotativo com
membrana do tipo
Placa plana UF . Fibra oca - Fibra oca. UF de .. Placa plana.UF . Placa plana Placa plana de Placa plana UF
Tipo de membrana cerâmica de UF .
de 0.04 µm MF 0.1 µm. 0.04 µm 0.04 µm. UF - 0.08 µm. UF. (0.05 µm).
0.06 µm. Diametro
400 mm, altura 5 m.
Vazão – 500 L/h 10-200 m³/h 25 m³/d – 0,5 m³/h 33 m³/d 1155 L/d
Câmara de 1. Tanque 1. Tanque septico; 1.
1° Tanque 1.Tanque de
hidrolise seguido 1. Tanque séptico; anóxico; 2. Tanque de Peneiramento;
septico, 2° Somente peneira alimentação; 2.
pelo tanque 2. Zona anóxica e 2. Tanque aeração e 2. Oxidação
Estrutura do sistema tanque anoxico antes do MBR Tanque biologico
aeróbio com 3. Zona aeróbia aerado; dosagem; biologica; 3.
e 3° tanque Biobooster aerado; 3. Tanque
membrana com com membrana 3. Tanque com 3.Tanque com Filtração; 4.
aeróbio com membrana
recirculação membrana membrana Cloração
Malha da peneira 100 - 200 µm /0,1 - 0.75 mm 1.5 mm antes do
6 mm 0.2 mm 3 mm Fino 1 mm
(mm) 0,2 mm rotativa MBR
Área da membrana
4 m² 60 m² 5.85 m² 139 m² 7 m² – – 7 m²
(m²)

PTM – – – 0.06 bar <150 mbar –
Fluxo ( LMH) – – 34.9 10.78 12.81 16.7 – 35.4 11 19.2
Filtração:relaxação
– – – 10 : 0.5 min 9 : 1 min 10:01 min – –
(min)
SSLM 23.71 kg/m³ SSLM 6 - 12 g/L.
SSLM e relação A/M – – ou g/L e A/M=0.36 7832 mg/L SSLM = 9.21 g/L 10 - 12 mg/L A/M=0.10KgDBO –
gDQO/gSSLM /m³d
2d TRH anox. 4 h
TRH – 2h e 02 min – 1,01 d 29 h 19.5 h
e MBR 8 h
TRS /Ɵc (d) 50-200 20.9 35 15 - 30 20 – –
DBO5(%) – – – – 98% 97% 99% 95%
DQO (%) 95% 95% – – 89.70% – – 90%
Nitrogenio total (%) 90% 80% – – – 74% N.amonical 99% –
Fosforo total (%) 70% – – – – – 93% –

27
Tabela 3.7 - Resumo dos estudos sobre MBR descentralizados em pequena escala (continuação)
Santasmasas
Parâmetros da planta Abegglen (2008) Sartor (2008) Batillani (2010) Verrecht (2010) Skouteris (2012a) Abbas (2012) Tai (2014)
(2013)
SS (%) – – – – 100% – 95% 98%
pH – – 6.8 – – – 7.4 –
Turbidez ( NTU ou %) < 5 (NTU) <5 (NTU) – – 99% < 0.2 NTU – 98% (1.2 NTU)
Ausente exceto
E. Coli e
– – E. Coli 99.9 % – Bactéria aeróbica – – Ausente
microbiológicos (%)
mesofilica
Água recuperada
de 25m³/d para A remoção de P e
Modo de
usar em descarga A natureza da água por precipitação.
operação variava
Recirculação da de banheiro e tratada livre de Dosagem cloreto
e era desligado DBO5 (6,2
biomassa do irrigação. patógenos férrico. Requisito
das 22:00 até as O oxigénio mg/L) não
tanque aerado Consumo de confirmou a sua operacional de
5:30 h. dissolvido no atendeu ao
para o tanque energia de 3.11 aptidão para visita a estação é
O excesso de reator anóxico regulamento
anóxico. kWh/m³ com o irrigação irrestrita. de 1 vez na
lodo era é <0,5 mg/L, Espanhol
Concluíram que Remoção maior modelo otimizado O aeradores semana.
armazenado em enquanto o RD1620/2007
Principais é possível que 80% de alcançaria 2.99 consumiam 60% O alto teor de
um bag num oxigénio para uso urbano
recomendações e construir um metais Cd, Cr, As, kWh/m³. da energia. A SSLM, e um TRS
intervalo de 1-2 dissolvido na irrestrita no
conclusões MBR com Cu, Pb. Remoção de N bolha fina para a maior foi
semanas. O MBR é na Texas (5 mg/L).
métodos simples diminuiu com a limpeza do módulo facilmente
problema de mau faixa de 7,0- Somente para
sob condições diminuição do não é eficiente. O atingível,
odor no porão foi 8,0 mg/l. uso em
locais de países TRS. Com o lodo era retirado assegurando um
resolvido com a represamentoe
em aumento da Q de manualmente 2 processo de
reciclagem do paisagem (10
desenvolvimento recirculação vezes semana para nitrificação
lodo e modo de mg/L).
. melhorou a controlar o TRS e completa, mesmo
aeração
remoção de NT e a o TRH a uma temperatura
intermitente
deterioração da baixa de 8 ° C.
remoção PT.
Water Systems by Ecologix Water Systems by
Czech company, Grundfos
Weise technologies Weise
Sem Eidos Ltd Biobooster ZW500c aGE Sem
Fabricante e site MicroClear (USA) MicroClear
especificação http://www.zena- www.grundfos.co Zenon, Canadá especificação
http://www.microc http://www.eco http://www.microc
membranes.cz/ m/biobooster
lear.de/en logix.com/ lear.de/en
Catalogo disponível Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não

28
3.3 - MÉTODOS MULTIOBJETIVO E MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO

De acordo com Gomes et al. (2004) há duas vertentes que marcam o desenvolvimento de
pesquisas na escolha dos métodos de apoio a decisão multicritério, denominadas de Escola
Americana (cujos principais métodos são o AHP e o MAULT e a Escola Francesa (cujos
principais métodos são o ELECTRE e o PROMÉTHÉE). A Escola Francesa também é
chamada por alguns autores como Escola Europeia .

Desenvolveu-se na Escola Francesa um modelo mais flexível do problema, que não


pressupõe uma comparação entre as alternativas e não impõe ao tomador de decisão uma
estruturação hierárquica dos critérios existentes, ao contrário dos métodos da Escola
Americana (Gomes et al., 2004).

Diferentes classificações para os Métodos Multicritério têm sido apresentadas na literatura,


como em Roy (1985), que os divide em: (1) Métodos com critério de aproximação única de
síntese, desconsiderando qualquer incomparabilidade; (2) Métodos de aproximação
hierárquica de síntese, aceitando incomparabilidades; e (3) Métodos de aproximação do
julgamento local interativo, com interações do tipo tentativa-e-erro.

Devido a complexidade dos problemas ambientais, Souza (2014) afirma que esses
problemas podem ser mais bem analisados se considerados sob a ótica de múltiplos
objetivos e múltiplos critérios. Uma forma importante de entender e aplicar esses métodos
é entender como são classificados.

Souza (2014) sugere a classificação dos métodos em diferentes aspectos, permitindo que
um método se enquadre em mais de uma classe simultaneamente:
(1) Quanto às variáveis de decisão:
- Métodos contínuos;
- Métodos discretos.
(2) Quanto ao modo de atuar frente ao agente decisor:
- Articulação prévia de preferências;
- Articulação progressiva de preferências.
(3) Quanto à maneira de enfrentar o problema (tipo de função objetivo):
- Determinísticos;

29
- Estocásticos;
- Conjuntos Difusos (Fuzzy Analysis).
(4) Quanto ao tipo de aplicação:
- Métodos de classificação (hierarquização);
- Métodos de alocação (qualificação de alternativas).
(5) Quanto ao modo de solução:
- Teoria da Utilidade;
- Deslocamento Ideal;
- Compensações (trade-offs);
- Funções de Valor;
- Relações de Dominância.
(6) Quanto ao número de agentes de decisão:
- Com um único Agente Decisor;
- Com multigestores (Decisão em Grupo).

Para um aprofundamento do tema em métodos multiobjetivo e multicritério de apoio à


decisão, sugere-se a leitura das seguintes referências: Belton (1986), Boer et al. (2001),
Poh (1998) , Zanakis et al. (1998), Mendoza e Martins (2006), Wang et al. (2009), Ho et al
(2010), Kelemenis e Askounis (2010).

3.3.1 - Emprego dos métodos multiobjetivo e multicritério

Esta seção aborda alguns aspectos básicos relacionados à utilização e aplicação dos
métodos multiobjetivo e multicritério como ferramenta para resolver problemas
relacionados ao saneamento.

Souza (1992) desenvolveu o modelo PROSEL-I (Process Selection Version I) usando


princípios de tecnologia apropriada e análise de decisão com múltiplos objetivos e
múltiplos critérios, com o objetivo de eleger processos de tratamento de águas residuárias.
No modelo PROSEL-I , foram aplicados os métodos da Ponderação Aditiva Simples,
Programação de Compromisso e ELECTRE-I para a análise do processo decisório.

30
Para uma seleção preliminar de sistemas de tratamento de esgotos, von Sperling (1995)
organizou critérios e dados baseados em comparações qualitativas entre alternativas,
comparações diagramáticas, e balanço de vantagens e desvantagens de diversos sistemas.

Souza et al. (2001), por meio da utilização de métodos de análise multiobjetivo e


multicritério, avaliaram o desempenho de alternativas tecnológicas para tratamento de
efluentes de reatores anaeróbios. A metodologia constou do desenvolvimento das seguintes
atividades: (1) Pesquisa bibliográfica, de dados e de opinião; (2) Avaliação, seleção e
adaptação de métodos de análise multiobjetivo; (3) Escolha dos critérios de avaliação das
alternativas tecnológicas; e (4) Aplicação dos métodos selecionados e adaptados ao
objetivo pretendido. A etapa de análise final foi realizada utilizando-se três métodos de
análise: Ponderação Aditiva, Programação de Compromisso e ELECTRE-III.

Neder et al. (2002) avaliaram a seleção da alternativa mais apropriada para a remoção de
algas do efluente de lagoa de estabilização, considerando cinco diferentes processos de
tratamentos naturais testados, para selecionar o processo que fosse mais satisfatório para
tal aplicação.

Brites (2008) para selecionar sistemas de reúso de água em irrigação paisagística com
dados obtidos em um estudo piloto utilizou abordagem multicritério aplicada aos métodos
Compromise Programming, PROMETHEE 2 e o TOPSIS.

Hunt (2013) desenvolveu uma metodologia para a seleção de tecnologia de tratamento de


esgoto, especificamente para pequenos municípios brasileiros, por meio da análise
multiobjetivo e multicritério, particularmente a teoria da utilidade multiatributo - MAUT.
Neste sistema, as trinta e duas alternativas consideradas foram separadas em alternativas
factíveis e não factíveis, onde as factíveis atendem aos objetivos de tratamento e as
restrições de cada tecnologia. Para comparar as alternativas factíveis, utilizou-se o método
MAUT e consideraram-se dezenove critérios econômicos, ambientais, sociais e
tecnológicos. Os resultados indicaram que o sistema poderá auxiliar na escolha de
tecnologias de tratamento de esgoto. Verificou-se que, os critérios econômicos e
tecnológicos são o mais priorizado no Brasil.

31
Em função do conjunto de informações consideradas relevantes para esta pesquisa
construiu-se uma base de dados e, estão apresentadas na Tabela 3.8 as principais
referências que foram utilizadas como base de informações para a elaboração da Fase 2.

Tabela 3.8 - Levantamento de dados com maior relevância para executar a Fase 2.
Métodos
Autor Aplicação
utilizados
PA; CP com
Propõe um modelo para a tomada de decisão na escolha da
Souza (1992) adaptação;
tecnologia apropriada para o tratamento de água residuária
Electre I.
Souza et al. Análise das alternativas de pós-tratamento de efluentes de PA; CP;
(2001) reatores anaeróbios Electre III
Um modelo de seleção tecnológica de alternativas para o PA; CP;
Carneiro (2001)
tratamento de água residuária municipal Electre III
Formulação de modelo de avaliação de desempenho global
Brostel (2002) ELECTRE TRI
de duas estações de tratamento de esgoto
Verificou a sustentabilidade sistemas remotos de água e PROMETHEE
Werner (2009)
esgoto na Austrália e ELECTRE
Nogueira et al. Avaliação econômica e ambiental de sistemas de tratamento Análise de
(2009) de água residuária pequena e descentralizada ciclo de vida
Metodologia para avaliação de desempenho de sistemas de ELECTRE TRI
Mendonça (2009)
drenagem urbana e TOPSIS
Estratégias de desempenho e gestão de alternativas para o
Oakley et al.
controle de nitrogênio em estação de tratamento de água -
(2010)
residuária
Avaliação de alternativas estratégicas para a reciclagem de CP, ELECTRE
Ganoulis (2011)
água residuária na área do mediterrâneo III e IV
Ferramentas de análise de custo-benefício com Análise de
Molinos-Senante externalidades ambiental a grande quantidade de ciclo de vida;
et al. (2012) conhecimento de tecnologias de tratamento contida no Análise de
sistema de suporte a decisão foi aplicado em diferentes custo-beneficio
Metodologia de análise tecnológica de alternativas para o CP, TOPSIS,
Vanzetto (2012) desaguamento de lodos produzidos em estações de ELECTRE III e
tratamento de esgoto AHP
Avaliou a seleção da tecnologia de membrana para sistema
Sadr et al. (2013) -
de tratamento centralizados
Tjandraatmadja Seleção de um sistema de tratamento de águas residuárias
PROMETHEE
et al. (2013) para sist remotos com falha no tanque séptico
Estudo em 62 estações de tratamento de esgoto
Guo et al. (2014) -
descentralizadas instalada em áreas rurais na China
Ouyang et al. Seleção de alternativa de tratamento natural de água Lógica FUZZY
(2015) residuária e AHP
Utilização de aplicação de membranas em diversos Logica FUZZY
Sadr et al. (2015)
tipos/fases de tratamento e TOPSIS
Como objetivo é a utilização da água residuária da indústria
Aydiner et al.
de laticionio o que prevalece a alternativa que apresenta um AHP
(2016)
melhor retorno financeiro.
PA: Ponderação aditiva; CP: Programação de compromisso.

32
3.3.2 - Aplicação e desenvolvimento do TOPSIS

O método TOPSIS (Technique for Order Performance by Similarity to Ideal Solution)


baseia-se no princípio de que a alternativa escolhida deveria ter a menor distância vetorial
a partir de uma solução positiva ideal (PIS – Positive Ideal Solution) e a maior distância a
partir de uma solução negativa ideal (NIS – Negative Ideal Solution). O Método TOPSIS
utiliza um coeficiente de similaridade para ordenar as alternativas e é um aperfeiçoamento
do Método CP (Programação de Compromisso) (Souza, 2014).

Dada uma matriz e a definição de valores máximos e mínimos dentre as alternativas com
critério crescente j (fj*; fj-) e a definição dos máximos e mínimos valores dentre as
alternativas com critério decrescente i (fi*; fi-), pode-se realizar o cálculo dos vetores com
os melhores e piores valores, ou seja, os valores de PIS (f*) e NIS (f-), utilizando as
distâncias entre as alternativas. De posse dos valores encontrados para PIS (f*) e NIS (f-),
pode-se obter as funções de distância, onde wj, com j =1, 2, ..., J é o valor da importância
relativa (peso) da alternativa para cada objetivo, com p =1, 2, ..., ∞, pelas Equações (3.1) e
(3.2). Sendo p considerado a métrica do sistema (Souza, 2014).

1⁄
𝑝
∗ 𝑝 ∗ 𝑝
𝑝 𝑓𝑗 − 𝑓𝑗 (𝑥) 𝑓𝑖 (𝑥) − 𝑓𝑖
𝑑𝑝𝑃𝐼𝑆 = {∑ 𝑤𝑗 [ ∗ ] + ∑ 𝑤𝑖𝑝 [ − ∗ ] }
𝑓𝑗 − 𝑓𝑗− 𝑓𝑖 − 𝑓𝑖
𝑗∈𝐽 𝑖∈𝐼

(3.1)

1⁄
𝑝
𝑝 𝑓𝑗
(𝑥) − 𝑓𝑗− 𝑝 −
𝑝 𝑓𝑖 − 𝑓𝑖 (𝑥)
𝑝
𝑑𝑝𝑁𝐼𝑆 = {∑ 𝑤𝑗 [ ∗ ] + ∑ 𝑤𝑖 [ − ] }
𝑓𝑗 − 𝑓𝑗− 𝑓𝑖 − 𝑓𝑖∗
𝑗∈𝐽 𝑖∈𝐼

(3.2)

Quando p aumenta, a distância de dp decresce, dando maior destaque ao desvio de cada


alternativa em relação à solução ideal. Especificamente, p reflete a importância atribuída
aos desvios máximos. Se p=1, todos os desvios em relação ao ideal tem peso igual na
determinação do comprimento. Se p=2, significa que os desvios possuem pesos
proporcionais à sua magnitude. E se p= ∞, o maior desvio recebe a máxima importância.

33
Encontrados os valores de dPIS NIS
p e dp para cada alternativa (somatório das alternativas
com critério crescente e decrescente), pode-se calcular o coeficiente de similaridade (Ck*)
para cada alternativa em relação à f*, definido pela Equação (3.3).

𝑑𝑝𝑁𝐼𝑆
𝐶𝑘∗ =
𝑑𝑝𝑃𝐼𝑆 + 𝑑𝑝𝑁𝐼𝑆
(3.3)

O ordenamento das alternativas é feito a partir do Coeficiente de Similaridade (Ck*), o


qual coloca que a melhor alternativa será aquela mais próxima da solução ideal, isto é,
aquela em que Ck* está mais próximo de 1, ou seja, mais próxima da solução positiva ideal
(PIS) e, simultaneamente, mais afastada da solução negativa ideal (NIS).

3.3.3 - Aplicação e desenvolvimento do ELECTRE-III

O método conhecido como Elimination Et Choice Expressing Reality (ELECTRE) define


uma série de processos sobre as alternativas consideradas, as quais pertencem ao conjunto
de possíveis soluções do problema (Gomes et al., 2004).

O método ELECTRE-III elabora as comparações internamente, a partir de informações


fornecidas pelo agente decisor, que proporcionam o estabelecimento de conceitos de
limiares de “indiferença”, “preferência fraca”, “preferência estrita” e “veto”. Sua lógica de
funcionamento é análoga aos outros métodos da série ELECTRE, onde são estabelecidas
diferentes ordenações preferenciais das alternativas: uma ascendente, uma descendente, e
uma ordenação final formada a partir das anteriores (Roy, 1991; Duckstein et al., 1994).

Deve-se notar que não existem verdadeiros valores para os limiares, os valores escolhidos
para atribuir aos limiares são os que melhor se adaptam para expressar o caráter imperfeito
do conhecimento (Figueira et al., 2005).

Com o objetivo de considerar a imprecisão, incerteza e a indeterminação, além de outras


relações de preferência entre as alternativas, utilizam-se, no caso de muitos métodos
multicritério, os limiares, p e q. Quando p e q são nulos, o critério é chamado de
verdadeiro, ou seja, há completa transitividade entre as alternativas. Para p e q diferentes

34
de zero, o critério passa a ser denominado de “pseudocriterio”, porque permite outros tipos
de relações de preferências entre ações (Roy, 1991).

O limiar de veto (v) indica o nível a partir do qual uma alternativa A é tão melhor que uma
alternativa B sob um determinado critério que, mesmo considerando os outros critérios, B
nunca poderá ser considerada globalmente melhor que A (Roy, 1991).

O método ELECTRE-III é considerado o mais aceitável para os casos de incerteza e


imprecisão na avaliação das alternativas e permite analisar situações onde nem todas as
alternativas são comparáveis entre si devido a consideráveis diferenças de pontos de vista
(Cordeiro Netto et al., 2000).

Define-se im(a) como o valor do critério m atribuído para a alternativa a, q (im(a)),p (im(a)),
q (im(a)) e v (im(a)) como as funções de indiferença, preferência e veto, respectivamente.
Sabendo que as alternativas são avaliadas duas a duas, há quatro situações possíveis:
indiferença, preferência fraca, preferência forte e incomparabilidade. Essas situações são
definidas conforme as inequações (3.4) para um critério decrescente.

Indiferença: im (b) < im (a) + q (im (a))


Preferência fraca: im (a) + q (im (a)) < im (b) < im (a) + p (im (a))
Preferência forte: im (a) + p( im (a)) < im (b)
Incomparabilidade: im (a) + v( im (a)) < im (b)
(3.4)
No método ELECTE-III são calculados índices de acordo com as Equações (3.5), para
cada critério, que são os índices de concordância entre as alternativas. Cada um desses
índices indica o grau de confiança com que se afirma que a alternativa a é tão boa quanto a
alternativa b. Logo é construída uma matriz de concordâncias para o critério m, semelhante
ao que é feito para o ELECTRE-I.

Cm (a,b) = 0, se im (a) + p(im (a)) im (b)


Cm (a,b) = 1, se im (a) + q(im (a)) im (b)
Cm (a,b) é linear, se im (a) + q(im (a)) < im (b) < im (a) + p(im (a))
(3.5)

35
Nesse método, também é criada uma matriz de discordância com os índices calculados
conforme as inequações mostradas na Equação (3.6). Os índices de discordância, que
compõem essa matriz variam entre 0 e 1 e medem, para cada critério, o grau de
desconfiança ou refutação em se afirmar que a alternativa a é tão boa quanto a alternativa
b.

Dm(a,b) = 0 se im(a) + p(im(a)) im(b)


Dm(a,b) = 1 se im(a) + v(im(a)) im(b)
Dm(a,b) é linear se im(a) + p(im(a)) <im(b) <im(a) + v(im(a))
(3.6)

Existe no ELECTRE-III o cálculo de um índice de credibilidade, que permite a construção


de uma matriz de credibilidade. Isso é feito utilizando os valores das matrizes de
concordância e discordância para um determinado critério m. O índice de credibilidade
mostra com que medida uma “alternativa a desclassifica a alternativa b”, ou a
verossimilhança com a qual o decisor escolhe a alternativa a em detrimento à b.

O primeiro passo na construção da matriz de credibilidade é o cálculo de uma matriz de


concordância global, que calcula um índice geral da concordância entre duas alternativas
levando em conta todos os critérios simultaneamente. Esse cálculo é feito conforme a
Equação (3.7):
𝐼

𝐶(𝑎, 𝑏) = ∑ 𝐶𝑚 (𝑎, 𝑏). 𝑤𝑚


𝑚=1

(3.7)
Na qual:
wm é o peso atribuído ao critério m.

O próximo passo é definir L(a,b), que é o conjunto dos critérios em que o índice de
discordância é maior que o de concordância global, ou seja, Dm(a,b) C(a,b). Se esse
conjunto é vazio, o valor do índice de credibilidade é igual ao do índice concordância,
Cr(a,b) = C(a,b). Caso contrário, o índice de credibilidade é dado pela Equação (3.8).

36
[1 − 𝐷𝑚 (𝑎, 𝑏)]
𝐶𝑟(𝑎, 𝑏) = 𝐶(𝑎, 𝑏). ∏
[1 − 𝐶(𝑎, 𝑏)]
𝑖∈𝐿(𝑎,𝑏)

(3.8)

Enquanto os pesos dos critérios determinam a importância relativa dada a cada critério,
possuindo assim um grau mais elevado de arbítrio, os limiares guardam uma relação maior
com a natureza do critério e com a qualidade da avaliação (incertezas e imprecisões).

3.4 - AVALIAÇÃO TECNOLÓGICA

O esgotamento dos recursos naturais nos países desenvolvidos, aliado ao crescente


descontentamento gerado pelo processo de produção capitalista e o crescente problema
ecológico e, sobretudo, a consciência cada vez maior e generalizada de que a tecnologia
empregada não é só uma das principais causas dessa situação, como é incapaz de resolvê-
la, fez crescer o interesse em tecnologias alternativas (Dagnino, 1978).

No Brasil, os princípios fundamentais que se destacam à oferta de saneamento básico


dispostos na Lei nº. 11445 de 2007 são a universalização do acesso, a eficiência e
sustentabilidade econômica, a adoção de técnicas e processos de acordo com as
características locais e regionais, e a utilização de tecnologia apropriada, considerando a
capacidade de pagamento dos usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas.
Deste modo, diversos fatores devem ser considerados na escolha da melhor alternativa
tecnológica.

A ideia de uma seleção mais eficaz de tecnologia parte das seguintes constatações: (1)
existência de alternativas mais eficazes que outras; (2) possibilidade de definir critérios e
métodos para avaliar projetos e selecionar a tecnologia mais apropriada; e (3) possibilidade
de adaptar tecnologias às condições econômicas locais (Buarque, 1983).

Willoughby (1990) verificou que frequentemente ocorre a escolha de tecnologias


inapropriadas, isso reafirma a ideia da importância da escolha tecnológica. Essa
“impropriedade” é evidenciada em efeitos colaterais na sociedade e na dinâmica da
estrutura social. A “impropriedade” pode ser observada de diversas formas, tais como: (a)
a tecnologia é desenvolvida em um contexto diferente do qual ela é aplicada; (b) a

37
tecnologia é boa para uma classe social, mas é ruim para outra; (c) existe incompetência
e/ou inabilidade do projetista. A prática da escolha tecnológica requer especialistas e
técnicos capazes de incorporar dados sócio-políticos e considerações ético-pessoais ao
processo de concepção técnica (Willoughby, 1990).

No Brasil, a utilização de tecnologias apropriadas iniciou-se na passagem da década de


1970 para 1980, quando surgiu uma maior preocupação com o paradigma que regia as
práticas profissionais sanitárias (Oliveira e Moraes, 2005). Para Kligerman (1995), a
decisão de implantação de inovação tecnológica, no campo do saneamento não pode ser
individual, deve envolver um consenso social que é difícil de ser alcançado por
consequência das mudanças e condições locais, isto é, existe diversidade territorial,
econômica e cultural entre as regiões, e uma tecnologia padronizada não necessariamente
domina todas essas diversidades. Por isso há necessidade de se conceber sistemas de
esgotamento sanitário com tecnologias apropriadas, ou seja, que se adaptem às
características locais, reduzindo custos sem diminuir a eficiência.

O processo de decisão e avaliação tecnológica envolve diversos critérios de avaliação, os


quais se baseiam em conhecimentos e experiência técnica, visando trazer para a realidade
local, mão de obra e materiais disponíveis, sempre em busca de aperfeiçoamento para
melhor atender às comunidades e aos objetivos específicos.

Kligerman (1995) ressalta que, para compreender a utilização de uma tecnologia, é


importante conhecer as formas de gestão para a sua implementação, as condições,
conjunturas e os contextos políticos de sua utilização quanto as suas características
técnicas. Em relação à descentralização de sistemas de tratamento de esgotos, Kligerman
(1995) aponta que a descentralização é necessária mas não é suficiente para levar à
utilização de tecnologias apropriadas. Caso uma regulação para implantação de sistemas
descentralizados fosse bem feita, consequentemente, conduziria a tecnologias mais
adequadas e apropriadas. No entanto, isso depende da vontade política. O modelo de
gestão atual que é implantado no município por companhias concessionárias devem ser
revisto além da necessidade de incluir a comunidade no planejamento das ações de
saneamento.

38
Souza et al. (2001) abordaram algumas pesquisas em que aplicaram a análise tecnológica
multiobjetivo ao problema de águas residuárias, entre elas: a metodologia de Wolf (1987)
para análise de processos de tratamento de águas residuárias; a metodologia de Tecle et al.
(1988) para a gestão de águas residuárias; o modelo PROSEL-I (Souza, 1992) para seleção
de tecnologias para tratamento de águas residuárias. Baseados nessas aplicações,
propuseram uma metodologia de análise tecnológica composta de cinco fases, que são:
Fase I - Instruções gerais e informação de dados; Fase II - Pré-seleção de alternativas
viáveis ao caso; Fase III - Análise “técnica”; Fase IV - Análise sócioeconômica; e Fase V -
Análise tecnológica global (multiobjetivo).

Souza e Foster (1996) fizeram uma revisão crítica das metodologias que foram
desenvolvidas para auxiliar a seleção do processo a ser implantado em uma instalação para
tratamento de águas residuárias e sugeriram alguns quesitos para o potencial usuário usar
alguns critérios para se decidir sobre qual metodologia deverá utilizar, respondendo as
seguintes questões:
(1) Conjunto de alternativas: o conjunto de alternativas contido ou gerado pelo modelo
satisfaz às exigências do caso específico?
(2) Técnica de solução: a) qual é a técnica de solução que se deseja (tabular, gráfica, ou
computacional)? b) há tempo suficiente e condições para instalar um programa de
computador? Com que frequência necessita-se deste tipo de decisão?
(3) Dados de entrada: a) os dados requeridos pela metodologia são disponíveis? b) quais
são os custos e qual é o tempo necessário para o levantamento destes dados?
(4) Fatores influentes na seleção: a) quais são os fatores de decisão mais importantes no
caso específico? b) quais são os modelos que contemplam estes fatores?

A decisão do processo de tratamento de efluente a ser adotado deve resultar de um


balanceamento entre critérios técnicos e econômicos, com um julgamento quantitativo e
qualitativo de cada alternativa. Para que a escolha conduza à alternativa mais adequada
para a configuração em análise, critérios ou pesos devem ser atribuídos a diversos
aspectos, vinculados à realidade em foco. Na Figura 3.4 apresenta-se uma comparação dos
aspectos mais relevantes na seleção de tecnologia de tratamento entre os países
desenvolvidos e em desenvolvimento (von Sperling, 2005).

39
Na Figura 3.4 nota-se que os itens críticos para os países em desenvolvimento, como os
custos de operação e implantação, sustentabilidade e simplicidade apresentam um grau de
importância maior. No entanto, contrariamente, os países desenvolvidos prezam mais pela
eficiência e confiabilidade do sistema. Ou seja, em regiões desenvolvidas há uma
preocupação maior com a preservação dos recursos naturais e esses padrões são
estabelecidos por meio de regulamentos de controle e manutenção que são muito
criteriosos.

Figura 3.4 - Aspectos críticos e importantes na seleção de sistemas de tratamento de esgotos em


regiões desenvolvidas e em desenvolvimento (von Sperling, 2005).

Vários trabalhos no âmbito internacional quanto nacional, alguns exemplos incluem os


trabalhos de Souza (1992), PROSAB (1999), Carneiro et al. (2001), Brostel (2002),
Werner (2009), Tjandraatmagia et al. (2013), Molinos-Senante et al. (2012), Sadr et al.
(2015), Aydiner et al. (2016), foram resgatados, analisados e complementados por novos
estudos e foram utilizados como base para desenvolver esta pesquisa.

40
4 - METODOLOGIA

Essa pesquisa decorreu da demanda por sistemas de tratamento de esgotos domésticos em


locais que não possuem uma rede de coleta e tratamento de esgoto, ou que sofrem com a
escassez hídrica, ou embarcações, ou comunidades rurais. Escolheu-se como forma de
tratamento a tecnologia do reator biológico aeróbio com membrana (MBR), com a
finalidade de gerar um efluente de melhor qualidade, em menor espaço, e tendo a
praticidade na aplicabilidade, por serem vendidos pré-montados, para que, dessa forma,
sejam oferecidas condições sanitárias mínimas para a população e reduzidos os impactos
ao ambiente, uma vez que é possível reaproveitar a água tratada por esses sistemas. Por
causa do alto custo dos sistemas MBR, necessitava-se de uma metodologia para avaliar a
viabilidade de aplicação desses sistemas.

Por conseguinte, elaborou-se a metodologia desta pesquisa de modo a se poder realizar a


Análise Tecnológica do processo MBR mediante a aplicação de métodos multicritério e
multiobjetivo de análise de decisão. É importante estabelecer que, em um problema de
Análise Tecnológica, busca-se a alternativa que melhor se ajusta ao ambiente e às
condições de um determinado local ou cenário, conceito conhecido como “Ajuste
Tecnológico”. Nesse caminho, precisou-se responder a algumas questões, tais como: -
Quais são os principais objetivos e critérios que devem ser considerados para verificar a
aplicabilidade do processo MBR a sistemas descentralizados de esgotos no Brasil? – Em
que condições ou cenários o processo MBR seria recomendável para ser utilizado em
sistemas descentralizados de esgotos no Brasil?

Deste modo, organizou-se as atividades planejadas nesta pesquisa em duas fases que serão
detalhadas nos próximos tópicos.

4.1 - FASE 1 – CONCEPÇÃO DO SISTEMA MBR PARA RESIDÊNCIAS


UNIFAMILIARES

A primeira fase está baseada em resultados de pesquisas realizadas no contexto geral e


relacionadas ao tratamento de esgoto doméstico pelo processo de reator biológico aeróbio
com membranas. Procurou-se obter uma visão ampla do processo MBR quando aplicado a

41
sistemas descentralizados, em escala global e regional, e, posteriormente, correlacionaram-
se os dados à realidade do Brasil.

A metodologia da pesquisa incluiu a concepção de um sistema de reator biológico aeróbio


com membrana a partir de experiências anteriores com relativo sucesso, obtidas pelo
levantamento bibliográfico, tendo-se realizado a seleção de tipologia do processo e seus
detalhes de dimensionamento.

A revisão bibliográfica foi realizada em diversas bases de dados, concentrando-se em


tratamento descentralizado de esgotos empregando Reatores Biológicos com Membrana,
estações compactas de tratamento de esgoto, e reúso de água. Além disso, a partir da
consulta a catálogos de empresas, feiras especializadas e sites, foi realizado um estudo
investigativo direcionado aos sistemas de tratamento de esgotos sanitários disponíveis para
comercialização.

A caracterização da membrana teve o intuito de identificar as propriedades iniciais das


membranas para que pudessem ser avaliadas as modificações destas propriedades durante a
operação do sistema. Dentre os melhores sistemas identificados na etapa de levantamento
bibliográfico sistematizado, foram separados aqueles mais viáveis para a situação
brasileira, tendo sido coletados desses sistemas os valores dos parâmetros de projeto e
operacionais mais relevantes para o dimensionamento do processo, bem como os métodos
e equações de dimensionamento mais eficientes.

Essa etapa teve como objetivo apresentar a concepção do sistema com dados numéricos,
utilizando os resultados da avaliação teórica que foram fundamentais para dá sequencia ao
trabalho para a execução da Fase 2. Assim, concluiu-se a primeira fase da metodologia,
apresentando um sistema de tratamento de esgoto sanitário adequado à realidade brasileira
com desempenho que atenda às normas e a legislação vigente.

4.2 - FASE 2 – ANÁLISE TECNOLÓGICA DO SISTEMA MBR DESENVOLVIDO

A segunda fase metodológica visa avaliar o sistema proposto na Fase 1, ou seja, as


informações obtidas por meio da primeira fase metodológica serviram como subsídio para
adquirir fundamentos e experiências sobre a tecnologia MBR, empregando um conjunto de

42
fatores para a escolha de indicadores tecnológicos de desempenho, utilizando métodos
multiobjetivo de auxílio à decisão.

Na Figura 4.1 é apresentado o esboço adotado para a análise tecnológica do processo MBR
para tratamento de esgoto em sistemas descentralizados. Foi proposto um procedimento de
análise tecnológica do processo MBR baseado em uma abordagem de análise de decisão
com múltiplos objetivos e múltiplos critérios. Para facilitar o procedimento de análise,
propôs-se converter o processo decisório em uma problemática de hierarquização de
alternativas de tratamento de esgotos descentralizados, fazendo-se uma comparação com
outros processos de tratamento de esgotos comumente usados no Brasil com a mesma
finalidade.

Considerando-se que a consulta a um painel de especialistas, ou de atores, ou mesmo de


decisores, demandaria um tempo muito grande na pesquisa, além de que existem poucos
especialistas com conhecimento prático de utilização da tecnologia de MBR, foi proposto a
realização do levantamento de dados e informações da bibliografia disponível, ou seja, não
foi realizada a consulta direta, mas a consulta às pesquisas realizadas por autores e seus
respectivos dados e resultados obtidos em casos reais. Em função desse conjunto de base
de dados e informações é que toda a metodologia foi construída.

A partir do levantamento bibliográfico, o prosseguimento da Fase 2 subdividiu-se em três


rotas, sendo a primeira para a criação de cenários, tendo-se proposto quatro cenários
simples, a segunda para geração das alternativas de sistemas de tratamento de esgotos
utilizadas no Brasil, e a terceira rota composta pelos passos necessários para realização da
análise tecnológica, a qual foi realizada em três passos concomitantes, que foram a
definição de objetivos ou subobjetivos, definição dos critérios e definição dos pesos.

Com os objetivos definidos, também chamados de dimensões tecnológicas, escolheu-se o


que foi utilizado no passado para análise tecnológica em termos de critérios que medem
essas dimensões ou objetivos, e ao mesmo tempo providenciou-se a definição dos pesos
que foram utilizados para realizar a análise tecnológica. A partir daí, seguiu-se para o
próximo passo que foi a definição de modelos de avaliação do desempenho de cada
alternativa em cumprir cada um dos critérios escolhidos anteriormente, e fazer essa
avaliação para o preenchimento da matriz de consequências, a chamada de pay-off matrix,

43
para que fosse, a partir dela, possível o emprego do método multiobjetivo escolhido (ou
dos métodos escolhidos). Com isso, o processo de hierarquização proporcionado por esses
métodos gerou os resultados de avaliação tecnológica do processo MBR para os três
cenários previamente definidos, dentro do contexto de sistemas descentralizados de
tratamento de esgotos. Quando os resultados não corresponderam ao que seria
normalmente esperado, tratou-se de fazer a retroalimentação dos dados, verificando o que
poderia estar causando a discrepância.

Figura 4.1 - Metodologia empregada na Fase 2.

44
4.2.1 - Levantamento de informações

O levantamento de informações para executar a Fase 2 abordou as metodologias de


avaliação tecnológica de alternativas para o tratamento de águas residuárias e os modelos
de avaliação que levam em consideração métodos multiobjetivo e multicritério. Ao mesmo
tempo, levantaram-se dados de trabalhos técnicos, experimentais e reais dos sistemas
escolhidos para serem avaliados tecnologicamente. Foi particularmente importante o
registro dos principais resultados e da experiência obtida da Fase 1 do presente trabalho.
Assim, criou-se a base de dados com as informações consideradas mais relevantes para
esta pesquisa.

Esta etapa teve como foco levantar um conjunto de informações de pesquisas científicas
nacionais e internacionais aplicadas ao tema da dissertação, auxiliar na abordagem do
problema na obtenção de dados, na escolha dos critérios, dos pesos e dos métodos que
auxiliam na tomada de decisão.

4.2.2 - Definição dos objetivos, critérios e pesos

Os objetivos foram levantados a partir da consulta à literatura. Os objetivos delineados


para o caso estudado foram traduzidos em metas claras e quantificáveis, por meio da
especificação de escalas muito bem definidas, como sugerido em Souza e Foster (1996).
Essas escalas constituíram as várias métricas pelas quais foi possível avaliar as alternativas
escolhidas.

Levou-se em consideração que, para selecionar e avaliar processos unitários para o


tratamento de águas residuárias, idealmente devem ser utilizados diversos fatores que
variam desde a aplicabilidade do processo, característica do efluente, necessidade de
insumos, restrições ambientais, a confiabilidade, análise de ciclo de vida e disponibilidade
de áreas (Metcalf e Eddy, 2007).

Por isso foi considerado como o objetivo geral da metodologia de análise (interesse global)
o de verificar a possibilidade de implantação de um sistema descentralizado de tratamento
de esgoto doméstico com o processo MBR, com o propósito de se criar uma alternativa-
solução compatível com alguns cenários brasileiros.

45
A partir dessa definição do objetivo geral, e mediante consulta a trabalhos similares, foram
definidos os seguintes objetivos específicos da análise tecnológica:
(1) Avaliar e comparar alternativas de tratamento de água residuária utilizadas no Brasil
com o processo MBR em se adequar às realidades locais diferentes existentes no País; e
(2) Escolher um sistema de tratamento de água residuária seguro e confiável que se ajuste
aos aspectos financeiros, ambientais, técnicos e institucionais propiciando benefícios para
os usuários locais.

Partindo desse interesse e das informações disponíveis, constatou-se que os critérios eram
agrupados em dimensões de avaliação obtidas a partir dos objetivos selecionados. No total
foram levantadas nove dimensões e cento e dez critérios. Ao verificar a variedade de
critérios e dimensões, escolheram-se os que eram usados com maior frequência e os que
eram mais relevantes para avaliação de sistemas de tratamento de água residuária
doméstica descentralizado.

Deve-se ressaltar que um procedimento que produziria um critério mais consistente para as
avaliações seria a composição de uma equipe de especialistas que pudessem avaliar tanto a
pertinência das premissas, quanto a pontuação dada às mesmas. Entretanto, tal
procedimento tornou-se inviável de ser realizado.

Para o desenvolvimento da metodologia de análise tecnológica, foram utilizados quatro


dimensões e dez critérios de avaliação. Os critérios não utilizados, por apresentarem menor
frequência de uso, mostraram aspectos semelhantes a outros critérios adotados, além da
irrelevância para sistemas de tratamento descentralizados.

Para avaliar e quantificar os critérios, foram utilizados dois procedimentos ou modelos


para avaliação, o da planilha pontuada e o da planilha padronizada.

A proposta de construção de planilhas pontuadas, utilizadas com sucesso por Brostel


(2002), Mendonça (2009), Cordeiro (2010) e Vanzetto (2012), busca, por meio de
perguntas, levantar numericamente a resposta para a avaliação quantitativa de cada
alternativa segundo cada critério. O sistema de pontos das planilhas pontuadas segue uma
escala de pontuação, que pode ser de zero a cem, sendo que quanto maior ou menor a
pontuação do critério, avalia-se o desempenho do critério. Uma vez que, se a preferência

46
for maximizar, quanto mais próximo de cem, melhor. Se a preferência for minimizar,
quanto mais próximo de zero, melhor. O valor numérico de cada pergunta foi atribuído
pontuação igual, para que o processo de pontuação não influenciasse nos graus de
importância das perguntas, já que não houve consulta a um painel de especialistas.

Para a construção de planilhas padronizadas, obtiveram-se valores reais da literatura que


representassem a realidade das alternativas levantadas nesta pesquisa, de modo que, por
meio de ponderação quantitativa, se fizesse a padronização desses valores.

A padronização linear no intervalo de 0 a 100 foi feita pela seguinte Equação (4.1). Para
auxiliar o preenchimento desses dois tipos de planilhas, foram construídas tabelas de apoio
com dados numéricos obtidos na literatura e por analogia.

𝑋 − 𝑀𝑖𝑛
𝑓(𝑥) = ( ) . 100
𝑀𝑎𝑥 − 𝑀𝑖𝑛
(4.1)

A determinação dos pesos dos critérios (0 a 1), neste trabalho, foi executada
cuidadosamente, levando-se em conta, ainda, o estudo de trabalhos prévios sobre
metodologias de processo de seleção de tratamento de águas residuárias.
A seguir, descrevem-se os critérios utilizados e o procedimento adotado para as suas
respectivas avaliações. Devido à quantidade de alternativas a serem avaliadas e a escassez
de dados na literatura, muitas vezes foi necessário o preenchimento das tabelas de apoio
por meio de analogia entre dados presentes nas próprias tabelas que mais se aproximasse
de alternativas semelhantes.

Geração e definição das alternativas

A geração das alternativas deram-se partir dos sistemas mais empregados no país, com
base em dados do IBGE (2010) apresentados na Tabela 3.2, e do Programa de Pesquisa em
Saneamento Básico (PROSAB), por considerar que estes possuem tecnologia já
consolidada no Brasil, mais fácil acesso e com mais informações publicadas. Foram
escolhidas cinco alternativas, com o propósito de criar um conjunto de alternativas
tecnologicamente apropriadas para o caso de sistemas de tratamento de efluente doméstico

47
unifamiliar. Além dessas tecnologias adicionou-se o sistema MBR que é objetivo principal
desta pesquisa. Os sistemas de lagoas são bem difundidos no Brasil, porém, não se aplica a
sistemas descentralizados por ocupar uma grande área.

Desse modo, os processos e operações unitárias que foram avaliados tecnologicamente


para o caso estudado, são: A1. Tanque séptico (TS); A2. Tanque séptico seguido de filtro
anaeróbio (TS+FAn); A3. Tanque séptico seguido de Wetland (TS+Wet); A4. UASB
seguido por biofiltro aerado submerso (UASB+BAS); A5. UASB acompanhado por lodo
ativado convencional (UASB+LAC); e A6. Tanque séptico acompanhado por reator
biológico com membrana (TS+MBR).

4.2.3 - Criação de cenários

Os cenários estabelecidos para escolha da melhor alternativa estão descritos a seguir:


(1) Nível do lençol freático baixo e com alta permeabilidade e com risco epidemiológico e
ambiental pequeno ( o efluente poderá ser infiltrado no solo);
(2) Nível do lençol freático alto e/ou com capacidade de infiltração baixa com risco
epidemiológico e ambiental grande (efluente deverá ser lançado ao corpo receptor) ou
quando é necessário fazer a descarga direta em corpo de água superficial (caso de
embarcações, palafitas, etc.);
(3) Realização de reúso direto não potável da água em área urbana que sofre com a
escassez hídrica (lavagem de roupas e de veículos, descarga de bacias sanitárias, lavagem
de pisos e fins ornamentais, chafarizes, espelhos de água etc.) ou reúso direto não potável
da água em irrigação para locais rurais.

4.2.4 - Definição do método de avaliação de alternativas segundo cada critério

A escolha do método multicritério a ser utilizado está ligada à disponibilidade de


informações e familiaridade do analista com os métodos. Um ponto que deve ser destacado
é a recomendação de que se utilizem vários métodos para aprimorar a solução do problema
(Souza, 1992; Tecle et al., 1988).

Deste modo, optou-se por trabalhar com o método de análise multicritério ELETRE-III e
TOPSIS, por ser considerado de fácil aplicação e apontar como um método de fácil

48
entendimento que pode ser aplicado em várias áreas. Esses métodos já foram aplicados na
área de saneamento por Souza et al., (2001), Werner (2009), Mendonça (2009), Ganoulis
(2011), Vanzetto (2012) e Sadr et al., (2015).

Além disso, optou-se também pela utilização desses métodos, no caso do TOPSIS pela
facilidade em programar e executar o método em Excel, e, no caso do ELECTRE-III, pela
acessibilidade ao seu programa computacional para utilização.

Para o método TOPSIS foi desenvolvido um programa para planilhas em Excel, e para o
método ELECTRE III utilizou-se o software disponível em MCDA ULaval
(http://cersvr1.fsa.ulaval.ca/mcda/?q=en/node/11). A essência e a forma de funcionamento
desses dois métodos foram apresentadas anteriormente na revisão bibliográfica.

4.2.5 - Análise tecnológica e postulação da pay-off matrix para “n” cenário

A pay-off matrix é a maneira ou o modelo lógico, matemático, real ou racional que foi
usado para mensurar ou estimar o desempenho de cada alternativa segundo cada critério.

Nesta etapa, foram registradas as eficiências de todas as alternativas propostas de


cumprimento de cada critério de avaliação definido no tópico 4.2.2. Para isso, foram
estabelecidas as escalas de valores nas quais variaram os desempenhos de cada alternativa
segundo cada critério. Embora para o método de análise multiobjetivo utilizado não seja
exigido um intervalo de valores específicos a se adotar para essas escalas, foi utilizado uma
mesma escala de variação para todos os critérios considerados, onde os dados obtidos
foram normalizados, com o propósito de facilitar a interpretação dos resultados e a
aplicação dos métodos multicritério.

4.2.6 - Aplicação do método multiobjetivo e avaliação da solução

Após terem sido estabelecidos os critérios, os pesos, os cenários e as alternativas, e o ajuste


entre o que o cenário exige e o que a alternativa dispõe para aquele cenário, fez-se a análise
multiobjetivo por meio dos dois métodos anteriormente indicados, o TOPSIS e ELECTRE
III.. O processo de hierarquização proporcionada por esses métodos gerou os resultados

49
deste trabalho. Para cada cenário, obteviveram-se os resultados referentes a hierarquização
das alternativas. Ou seja, uma lista pela ordem de preferências das alternativas.

Consequentemente, na concepção original de métodos multiobjetivo é preciso ser realizado


um estudo de aceitabilidade da solução que foi feito por análise de sensibilidade, e chegou-
se ao resultado final. Caso as soluções não fossem aceitas, seria necessário retroalimentar o
modelo.

Para essa confirmação, fez-se a análise de sensibilidade, o que permitiu verificar quais
seriam as alterações no resultado final caso os desempenhos das alternativas variassem, ou
os pesos das dimensões tecnológicas fossem reanalisados.

50
5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 - FASE 1 - CONCEPÇÃO DO SISTEMA MBR PARA RESIDÊNCIAS


UNIFAMILIARES

5.1.1 - Análise dos sistemas existentes

A evolução do processo MBR desde os anos 90 até hoje, foi abordado por Crawford, Judd
e Zsirai (IWA, 2014), com uma visão dos sistemas divididos em quatro estágios. O
primeiro estágio da tecnologia utilizava um longo tempo de retenção de sólidos (TRS ou
Ɵc) e alta concentração do SSLM (sólidos em suspensão no licor misto). No segundo
estágio, adaptou-se a remoção de nutrientes (N e P) ao sistema MBR, adicionando uma
zona anóxica antes do reator biológico, com recirculação do concentrado no tanque
biológico aerado. Já no terceiro estágio, a planta MBR ganhou destaque ao destinar esforço
para aumentar a capacidade de fluxos na membrana e para minimizar o TRS e o SSLM
com o intuito de otimizar o custo total do MBR. E finalmente veio a quarta geração dos
sistemas MBR, que foi impulsionada por duas forças, pelo aumento da escala e tamanho do
sistema MBR, e pelo aumento do número de fabricantes de membranas, criando
concorrência no mercado. Nota-se que ainda existem muitos desafios, principalmente em
relação ao melhor desempenho do sistema MBR em relação à diversos parâmetros, como o
TRS, e concentração do SSLM, volume do reator e a gestão do lodo produzido, para
conceberem sistemas mais eficientes e com menor custo.

O tratamento biológico empregado nos MBR é normalmente aeróbio, embora existam


instalações de MBR anaeróbio, porém sendo estas muito raras, ainda em estágio
experimental. Em razão disso, esta pesquisa concentra-se nos sistemas de tratamento
descentralizado com MBR aeróbio submerso.

O uso de biorreatores com membrana tem crescido exponencialmente ao longo das últimas
duas décadas seguintes após a introdução de membranas submersas ao reator biológico,
que se deu na década de 90. A tecnologia evoluiu rapidamente com ganhos significativos
no desempenho e confiabilidade, e redução de custos (Cote et al., 2012).

51
Para aplicações de MBRs em pequenas comunidades (Sartor et al., 2008; Battilani et al.,
2010; Verrecht et al., 2010; Abbas et al., 2012; Gil et al., 2012; Skouteris et al., 2012a;
Santasmasas et al., 2013; Tai et al. , 2014) ou em residências unifamiliares (Abegglen et
al., 2008), existem grandes desafios, devido a grandes variações das vazões e,
proporcionalmente, valores grandes para os fatores de carga de pico. Além disso, nesses
casos, são necessários sistemas pequenos e compactos, que são energeticamente menos
eficientes.

Atualmente, os aspectos de maior interesse relacionados aos sistemas MBR são a redução
do consumo de energia e a obstrução do fluxo na membrana. Em uma visão geral, os
principais contribuintes para o consumo de energia são a transferência de lodo, produção
de permeado e a aeração, sendo que esta última é responsável por cerca de 50% do
consumo total de energia (Neoh et al., 2016), chegando mesmo até 60% (Skouteris et al.,
2012a). Para Krzeminski et al. (2012), o consumo específico de energia é dependente da
concepção do sistema e do arranjo físico, do volume de efluente tratado, do tipo de
membrana, e da estratégia operacional.

Existem algumas limitações ao comparar a tecnologia MBR com os processos de


tratamento biológico convencional, devido à complexidade do processo e o custo de
investimento e operacional. Para uma possível comparação entre sistemas de tratamentos,
Hai e Yamamoto (2011) afirmam que se deve considerar sistemas que produza um efluente
com a mesma qualidade, além disso, o MBR por ser modular e facilmente expansível,
torna-se relativamente menos caro em maior escala por população equivalente. Ou seja, é
mais interessante comparar sistemas que tenham o mesmo nível de complexidade. Porém,
essa não é a melhor forma de comparação. Apesar dos custos serem um fundamental fator
de decisão, deve-se considerar diversos outros fatores, como a qualidade do efluente, área
demandada, impacto ambiental que possa gerar e a realidade local para implantação.

As tecnologias MBR melhoraram e continuaram se desenvolvendo ao longo dos anos para


reduzir ainda mais os custos do ponto de vista tecnológico. Buer e Cumin (2010) afirmam
que, no decorrer do tempo, as membranas tiveram um melhor desempenho no fluxo (200-
300% a mais) e os módulos e sistemas de filtração requerem apenas uma parte da energia,
mas, ao mesmo tempo, são capazes de lidar com um fluxo de 5-10 vezes maior que

52
unidades instaladas nos anos anteriores. Assim, os custos globais por unidade de água
tratada eram, em 2010, 10% a menos do que há 15 anos.

Como estratégias operacionais para reduzir os problemas irreversíveis na membrana e um


tratamento mais eficaz, diversas pesquisas dos sistemas existentes adicionam um pré-
tratamento antes do reator com membrana, como um tanque séptico, clarificador primário
e/ou tanque anóxico, que servem para equalizar a carga de efluente, evitar obstrução na
membrana, e, quando ocorre reciclo de lodo ou do licor misto, aumentam a eficiência na
remoção de nutrientes (Abegglen et al., 2008; Sartor et al., 2008; Verrecht et al., 2010;
Abbas et al., 2012;). Segundo Tai et al. (2012), além do pré-tratamento, é possível
melhorar a eficiência na remoção de fósforo por meio do emprego de precipitação
química.)

O tratamento biológico e a separação física por membrana asseguram que a qualidade do


efluente é mantida ao longo do tempo, em relação aos parâmetros turbidez, sólidos
suspensos e microbiológicos, independentemente das variações de fluxo e a contaminação
da água de entrada (Santasmasas, 2013).

Sartor et al. (2008) mostraram que é possível construir um MBR com métodos simples
utilizando a mão de obra local de países em desenvolvimento, como no caso aplicado ao
Vietnã. Isso ajuda a favorecer a implemenação dessa tecnologia descentralizada em locais
onde não há tratamento de esgoto municipal, bem como o reúso de água para atender à
demanda atual e futura.

Battilani et al. (2010) utilizaram um sistema compacto, pré montado e com facilidade de
instalação, chamado de Biobooster, com capacidade de operar com uma concentração de
lodo de quatro a cinco vezes mais elevada do que um sistema MBR convencional. Este
MBR cumpria as normas de qualidade da água de irrigação exigidas pelas diretrizes
internacionais permitindo a reutilização da água direta e indiretamente.

Santasmasas et al. (2013) estudaram a viabilidade de utilizar água cinza após tratamento
realizado com um MBR que atende a uma pequena comunidade com 40 pessoas, por meio
da instalação de um protótipo. Eles notaram que o protótipo pode produzir 1155 L/dia com
um consumo de energia de 2,9 kWh/m³, o que representa 1,8 €/m³. Porém, ao comparar

53
esses resultados com uma unidade com capacidade três vezes maior, o consumo de energia
é reduzido para 2,0 kWh/m³. Ele concluiu que gastos menores de energia estão
relacionados com a aeração e com as diferentes configurações geométricas que ajudam a
melhorar o desempenho de sistemas maiores.

A planta MBR consome uma quantidade relativamente elevada de energia,


independentemente da escala, uma característica da natureza do MBR de pequena escala é
a de consumir quantidades similares de energia (Skouteris, 2012a; Santasmasas, 2013).
A planta MBR carrega custos adicionais associados à substituição da membrana. Os vários
mecanismos de envelhecimento que provocam o fim de vida dos produtos atuais de
membrana são determinados pelo aumento lento da pressão de operação e a necessidade de
limpeza química mais frequente (Cote et al., 2012).

Judd (2015) revisou o status quo da tecnologia MBR aplicada ao tratamento de águas
residuárias municipal e industrial, e relatou que, apesar do grande interesse nesta
tecnologia e da sua penetração no mercado aumentar significativamente, ainda há uma
falta de compreensão das restrições do processo-chave, como o entupimento da membrana
e a produção do conhecimento acerca dos processos de limpeza da membrana.

Com a escassez hídrica na Ilha de Creta na Grécia, Maton et al. (2010) compararam os
custos e benefícios de estratégias alternativas para o tratamento de águas residuárias para
uso na irrigação de vegetais utilizando um biorreator com membrana. Os valores foram
estimados e comparados em dois cenários, o primeiro correspondente a implementação das
opções convencionais de tratamento de água residuária e o segundo usando um MBR. Esse
trabalho de pesquisa teve o intuito de orientar os analistas na Grécia e outros países áridos
que desejam avaliar a viabilidade financeira de métodos alternativos de tratamento de
águas residuais para uso na agricultura. O reúso da água tratada por esta tecnologia
mostraram que os agricultores pagariam menos para tal água do que para água doce
convencional. Além disso, o uso de nível de água recuperada na agricultura poderia gerar
benefícios sociais líquidos, motivando, assim, aos tomadores de decisão á subsidiar
agricultores dispostos a investir em projetos de água de reúso.

Há diversos trabalhos que buscam soluções para otimizar os sistemas MBR, entre os quais
se destaca o de Verrecht et al., (2010), que utilizaram o modelo dinâmico ASM2d para

54
otimizar o consumo de energia de um biorreator com membrana em pequena escala para o
tratamento de águas residuárias domésticas de alta resistência para reciclagem de água. Por
meio de variação de alguns parâmetros foi possível reduzir o consumo de energia em 23%.
Assim, percebe-se que é fundamental o uso da ferramenta de modelagem para a otimização
de parâmetros, principalmente, para os sistemas com pequenas vazões tornarem-se mais
baratos.

Skouteris et al. (2012a) operaram uma estação piloto com MBR aeróbio submerso, com
objetivo principal de avaliar o potencial dos MBR para o tratamento descentralizado de
esgotos no Norte da África com análise de desempenho da membrana e avaliação
comparativa de energia. Inicialmente, foi avaliado o potencial para produzir água tratada
adequada para utilização em irrigação de culturas sem restrições. Demonstraram o
potencial para a utilização da água adequada para irrigação irrestrita e, consequentemente,
que isso pode ter um impacto significativo em termos de segurança hídrica e alimentar para
a região.

Embora o sistema MBR produza um efluente de ótima qualidade, ainda têm-se alguns
desafios com a utilização do permeado, em consequência da sua aparência estética, como a
cor amarela-castanha típica desta água, o que pode levar à sua rejeição por parte dos
consumidores para determinados fins de utilização do efluente produzido (Arévalo et al.,
2012).

Os estudos e aplicações reais de sistemas de tratamento utilizando o MBR têm aumentado


significativamente, tornando-o mais atrativo e economicamente viável. Mesmo quando
aplicados a uma menor capacidade de tratamento, esses sistemas apresentam maior
demanda de energia e maior o custo por pessoa equivalente, o qual, é um desafio que tem
sido superado pela possibilidade da reutilização do permeado, pela otimização dos
parâmetros de funcionamento para um melhor desempenho e pelo crescimento dessa
tecnologia no mercado.

5.1.2 - Análise para seleção do tipo de membrana a ser utilizada em função da


necessidade local potencial

55
Ao fazer um levantamento caracterizando as aplicações dos sistemas MBR conforme a
porosidade da membrana, observa-se uma vasta tendência para o uso de membranas de
ultrafiltração - UF (Costanzi et al., 2005; Abegglen et al., 2008; Verrecht et al., 2010;
Skouteris et al., 2012a; Abbas et al., 2012; Belli et al., 2012; Santasmas et al., 2013; Subtil
et al., 2013; Tai et al., 2014) e uma redução do uso de microfiltração - MF (Sartor et al.,
2008; Giacobbo et al., 2011; Gil et al., 2012). Isso pode ser em decorrência das membranas
de UF reterem uma gama maior de micropartículas, como por exemplo vírus, e o custo de
fabricação dos tipos de membrana terem se igualado. Também existem instalações que
utilizam membranas do tipo cerâmica (Battilani et al., 2010), mas estas ainda são raras,
devido o seu alto custo.

Arévalo et al. (2012) avaliaram e compararam a eficiência das membranas de MF e UF


para produzir efluente utilizável baseado nas diretrizes espanholas de reúso de água. Os
dois tipos de sistema funcionavam de modo diferente, onde a torta formada sob a camada
da membrana é muito mais significativa no sistema de MF, pois nesse sistema estudado
não acontecia a retrolavagem, ao contrário do sistema de UF. Com isso, esses autores
observaram que não havia diferenças estatisticamente significativas entre os principais
parâmetros físico-químicos e microbiológicos, donde se pode concluir que o tipo de
membrana do sistema MBR não influencia na qualidade do efluente. Entretanto, mesmo
não apresentando diferença significativa na qualidade do permeado, os sistemas de UF
apresentam maior segurança em decorrência do tamanho dos poros da membrana e,
consequentemente, mantendo a qualidade microbiológica e físico-química do efluente
dentro dos padrões.

A configuração de membranas do tipo placa plana (FS) é utilizada principalmente em


plantas pequenas (<5.000 m³/d); fibras ocas (HF) são usadas em toda a gama de vazão e
dominam em plantas maiores (> 10.000 m3/d). Estima-se que cerca de 75% da capacidade
total instalada de MBR utilizam fibras ocas (Cote et al., 2012). O MBR submerso com
placas planas funcionam similar ao formato fibra oca, mas devido o uso de ar elevado e
custo operacional mais baixo, tendem a ser selecionado para escalas pequenas e de médio
porte (Pearce, 2008).

De acordo com Krzeminski et al. (2012), o consumo de energia específica para aeração
da membrana do tipo placa plana é de 33-37% maior do que num sistema de fibras ocas.

56
Isso ocorre devido à exigência de ar para a limpeza. No entanto, as aplicações do tipo placa
plana são normalmente operadas em concentrações de SSLM mais elevadas e conhecidas
pelas vantagens operacionais em termos de entupimento e de limpeza, facilidade de
instalação, operação e manutenção em comparação com a configuração de fibra oca
(Pearce, 2008; Santasmasas et al., 2013).

Embora cada configuração de membrana tenha as suas vantagens, Tai et al. (2014)
afirmam que a configuração do tipo FS são bem adequadas para aplicações compactas e
descentralizadas, permitem as concentrações mais elevadas do SSLM para um espaço
menor, e dada a natureza dessas aplicações remotas, quaisquer melhorias em requisitos
operacionais são valiosos para os usuários finais. Embora os módulos de placa plana
proporcionem um desempenho robusto, os mesmos não são adequados para retrolavagem
em alta pressão e são muitas vezes mais caros do que as membranas de fibras ocas, devido
aos elevados custos de produção do módulo por área de membrana (Yoon, 2015). O
desempenho real dos módulos de placa plana e a capacidade de retrolavagem ainda não
estão bem conhecidos.

As aplicações de reúso de água em grande escala são muito restritas, comparado com um
sistema menor de reciclagem de água com aplicação no próprio local de tratamento. Isto
acontece porque o custo de aplicação de reúso de água, em larga escala, permanece alto e
muitas vezes economicamente inviável devido à necessidade de readaptar e investir nos
sistemas existentes de distribuição de água (Hai e Yamamoto, 2011).

Uma membrana utilizada em um sistema MBR precisa ser mecanicamente robusta,


quimicamente resistente a altas concentrações de cloro molecular usadas na limpeza, e não
biodegradável (Pearce, 2008). Phillips (2015) relata que a empresa “Koch Membrane
Systems” desenvolveu uma nova tecnologia do módulo de membrana de fibra oca de
ultrafiltração, cujo “design” inovador contém uma única ligação da fibra com a parte
superior do módulo, permitindo que as fibras de membrana possam mover-se livremente
dentro do cartucho. Essa configuração aberta permite que a aeração penetre no feixe de
fibras e solte sólidos filtrados durante a lavagem com ar. Ao comparar esse novo módulo
com os modelos convencionais de fibra oca que possuem as duas extremidades presas,
Phillips (2015) afirma que o movimento dessas fibras impede com que os sólidos se

57
acumulem em zonas mortas, consequentemente evitando a redução da área da superfície da
membrana, a obstrução do sistema de saída e a redução da eficiência energética.

Esses novos modelos que estão sendo desenvolvidos simplificam o modo de operação, e
muitas vezes eliminam a necessidade de pré-tratamento como a clarificação, além disso
minimizam o tempo de inatividade e reduzem o uso de produtos químicos. Esses
benefícios se somam a um menor custo total decorrente (Phillips, 2015).

Em virtude desse levantamento, constatou-se que para o presente caso, o tipo de membrana
ideal a ser utilizado para aplicação em um MBR descentralizado ou unifamiliar são as
membranas do tipo placa plana de ultrafiltração, por serem os mais recomendados a
sistemas com baixas vazões e por apresentarem maior segurança na qualidade do efluente.

5.1.3 - Análise do sistema de pré-tratamento ao MBR

Para sistemas descentralizados que têm grande variação de carga, é importante que se
tenha um pré-tratamento antes do reator biológico com membrana, como a crivagem para a
retenção do material grosseiro e um tanque para equalizar o efluente.

Os processos e operações unitários utilizados em instalações de tratamento com um


sistema MBR podem ser os seguintes: peneiramento grosso e fino; remoção de areia;
remoção de óleos e gorduras; tanque de equalização; clarificador primário; tratamento
biológico; separação por membrana; e desinfecção (WEF, 2012).

Como os sistemas de membrana em aplicações de tratamento de águas residuárias


municipais são sensíveis a danos causados por detritos e diminuição da eficiência de
dispositivos de aeração de bolha grosseira, o pré-tratamento é necessário para remover
sólidos grosseiros, como plásticos, folhas e trapos e partículas finas e coloidais incluindo
óleos, gorduras, e cabelo (Metcalf e Eddy, 2007).

Para as plantas pequenas, é necessário um sistema com peneiramento, sendo que aberturas
de menos de 1 até 3 mm estão se tornando mais comuns em instalações MBR (Metcalf e
Eddy, 2007), que seja de preferência automático (WEF, 2012). Abegglen et al. (2008)
utilizaram uma peneira de 6 mm que não foi eficiente, pois cabelos e algumas particulas

58
solidas suspensas atrapalharam o fluxo na membrana. Algumas aplicações têm utilizado
malhas menores que 1 mm, entre 0,1 e 0,75 mm, que funcionaram com bom desempenho
(Sartor et al., 2008; Battilani et al., 2010; Abbas, 2012).

O pré-tratamento tem outros benefícios na redução de sólidos inertes e cargas de matéria


orgânica no biorreator. O tratamento primário irá remover cerca de 30% da matéria
orgânica e cerca de 60% do SST. As telas finas irão remover cerca de 10 a 15% da DQO.
O percentual de sólidos inertes também é inferior em efluente primário de águas
residuárias, em comparação com o peneiramento. A concentração de substrato afluente
(medido como DBO) e a concentração de sólidos inertes afetam a produção de sólidos
totais e os requisitos de descarte do biorreator (Metcalf e Eddy, 2007).

Um reator com agitação antes do reator com membrana pode servir como um amortecedor,
gerando uma variação menor de carga. Abegglen et al. (2008) ao fazerem a recirculação
do lodo e aeração de modo intermitente, resolveram o problema de mau odor de um
sistema MBR em uma residência, o que também auxiliou na produção de um lodo mais
estabilizado.

Além do pré-tratamento, para alcançar a remoção biológica de nutrientes no MBR,


normalmente é feito por meio de uma combinação deste sistema aeróbio com condições
anóxicas e anaeróbias, com a recirculação do licor misto (ou lodo) feita através dos
diferentes tanques (Judd, 2015).

Sartor et al. (2008) obtiveram êxito na aplicação de um MBR em um sistema aplicado em


uma pequena comunidade, com mais de 95% da carga de DQO e 80% do nitrogênio total
removidos. O sistema possuía pré-tratamento, composto por um tanque séptico para a
equalização, um tanque anóxico para propiciar a fase de desnitrificação e o tanque
biológico aeróbio com membrana. A biomassa era bombeada por uma bomba de
recirculação da fase de nitrificação para a fase de desnitrificação. Em excesso, o lodo
ativado é reencaminhado para o estágio de nitrificação, onde o módulo de membrana está
instalado.

Outro fator que deve ser considerado para um bom desempenho do MBR é o modo com
que é dada a partida do sistema. A opção de dar partida com e sem inóculo em um MBR

59
submerso foi estudada por Di Bella et al. (2010). Ambas as condições iniciais de operação
foram capazes de garantir uma excelente eficiência de remoção orgânica. Contudo, os
diferentes mecanismos de deposição da torta sobre a membrana influenciaram
negativamente a eficiência de filtração durante a fase sem inóculo, ocasionando uma
incrustação intensa e irreversível nos primeiros dias, devido aos componentes dissolvidos e
coloidais responsáveis pela resistência do bloqueio dos poros. Este efeito não foi
observado na fase com inóculo, onde a deposição da torta atuou como um pré-filtro.

Pode-se concluir disso que as águas residuárias devem ser evitadas em qualquer
circunstância para inocular um reator biológico acoplado a uma membrana, devido ao seu
elevado potencial de incrustação irreversível. O lodo ativado de uma estação de tratamento
é preferível para a inoculação, uma vez que a biomassa seja aclimatada para efluentes
domésticos (Gil et al., 2012).

Há uma grande importância em manter a concentração de biomassa dentro do reator para


aumentar a eficiência do tratamento e diminuir a frequência de limpezas ocasionadas por
uma incrustração profunda. Por essa razão, Gil et al. (2012) perceberam que nenhum dos
parâmetros analisados (SSLM, índice volumétrico de lodo e carbono orgânico dissolvido)
influenciaram significativamente na capacidade de filtração do inóculo inicial.
Contrariamente, esses autores notaram que a entrada de água residuária demonstrou ser o
fator mais importante que regula o processo de “fouling” na membrana, em vez das
alterações na microbiologia.

De acordo com Gil et al. (2012), para uma situação ideal na partida do MBR, o fluxo
inicial deve ser “baixo”, e a vazão ser aumentada gradualmente até seu fluxo nominal
durante a fase de partida, quando o lodo apresentar flocos bem formados e estiver bem
aclimatado. Portanto, o fluxo deve ser reduzido para uma região suficientemente longe do
fluxo crítico, mas não demasiadamente baixa para evitar a afluência em massa de
partículas finas na membrana.

Yoon (2015) afirma que a lavagem com ar é realizada em membranas submersas para
mitigar o entupimento da membrana. A combinação efetiva de baixo fluxo e aeração
contínua mostrou-se eficaz para minimizar a incrustação biológica e, consequentemente, a
retrolavagem não foi necessária (Trinh, et al., 2016). No entanto, Yoon (2015) afirma que

60
a aeração contínua pode ser substituída por aeração intermitente, cujo consumo de energia
reduz-se em cerca de 30% para as membranas de fibras ocas.

A maioria dos fabricantes de sistemas de membrana submersa recomenda concentrações


do SSLM entre 8000 e 12.000 mg/L nos tanques de membrana, com a
operação ocasional chegando até 15.000 mg/L. Para algumas membranas planas pode-se
estender o limite de concentração superior para 15.000 e 20.000 mg/L. Concentrações mais
elevadas são possíveis, mas podem exigir mais baixo fluxo por causa do aumento da
resistência à filtração e maiores custos operacionais para a limpeza adicional e redução da
eficiência de transferência de oxigênio (WEF, 2012).

Quanto ao funcionamento do MBR aplicado a uma residência, após um longo período sem
alimentação, ou seja, quando os moradores estão ausentes durante as férias, Trinh et al.
(2016) e Abegglen et al. (2008) notaram que, ao retomar o funcionamento do sistema, a
eficiência na remoção de DQO é alcançada rapidamente, mostrando que o sistema se
recupera ligeiramente as condições iniciais de operação e que responde bem à choque de
cargas.

Diversos parâmetros são importantes para monitorar a eficiência de um sistema MBR. Por
exemplo, um turbidímetro automático é importante de ser instalado na linha de saída de
permeado para controlar as condições físicas da membrana (Tai et al., 2014; Trinh, et al.,
2016). Além da turbidez, a DQO também é um bom parâmetro para indicar os danos
causados a membrana. No entanto, a DQO ainda não é uma técnica analítica medida on
line (Trinh et al., 2016).

Ao ter um sistema totalmente automatizado, nota-se que é possivel o monitoramento e


controle da planta serem feitos por telemetria em uma unidade remota (Abegglen et al.,
2008; Tai et al., 2014), tendo a necessidade de o operador ir ao local apenas uma vez por
semana (Tai et al., 2014).

Conclui-se que o efluente do MBR independe da variação de fluxo e de carga, mostrando


que o mesmo se aplica a sistemas unifamiliares. E como forma de evitar problemas de
incrustação na membrana, rompimento e falha no sistema, observou-se que é necessário

61
um pré-tratamento, como, por exemplo, a instalação de um tanque séptico antes do reator
biológico com membranas.
.
5.1.4 - Análise para seleção do tipo de reator de membrana a ser utilizado

Nas configurações convencionais dos MBR, combinam-se o tratamento biológico com a


separação por membrana por microfiltração (MF) ou ultrafiltração (UF), com a membrana
sendo colocada tanto na parte interna, conhecido como MBR Submerso, como na parte
externa do biorreator, conhecido como MBR de Corrente Lateral ou MBR sidestream. As
membranas geralmente tem a configuração de placa plana (FS) ou de fibra oca (HF), se
colocadas no interior do biorreator, ou multitubular (MT), se colocadas na parte externa ao
biorreator.

A evolução dos sistemas MBR tem demonstrado que alguns módulos de membrana
desenvolveram-se vantagens significativas, tais como densidade de empacotamento,
exigência de energia de aeração, capacidade de tratamento por módulos, robustez na
membrana, e processos de limpeza automáticos em comparação a outros sistemas (Buer e
Cumin, 2010).

Cada um dos formatos dos MBR, com base nas configurações submersas ou externa,
apresenta suas próprias vantagens e desvantagens para diferentes tipos de aplicação e
tamanhos de planta.

O fato dos sistemas com módulos submersos demandarem menos energia decorre da
pressão transmembrana requerida. Em sistema com módulo externo ou corrente lateral,
geralmente a PTM é muito mais elevada do que o utilizado para a configuração submersa
(Judd, 2015).

O custo de energia para circular o líquido a ser filtrado de um MBR com módulo externo é
alto, porque apenas 1% a 5% da alimentação bombeada para o sistema de membrana é
recuperado como permeado em condições típicas e, assim, de 20 a 100 vezes mais água de
alimentação deve ser pressurizada e ou circulada que a quantidade de permeado obtido. O
consumo de energia específico para a filtração é maior do que 4 kWh/m³ de permeado.
Apesar dos elevados custos de capital e de energia, o MBR externo pode ser competitivo

62
para pequenos sistemas, talvez com capacidade menor que 100 m³/d, devido à operação e
manutenção relativamente fácil (Yoon, 2015).

A predominância de módulos submersos de MBR é indiscutível, como mais de 99% do


total instalado. Essa porção significativa é devida porque os módulos submersos
apresentam custos operacionais baixos como consequência da elevada eficiência do
mecanismo de lavagem da membrana e da pressão de vácuo ser baixa, quase sempre
inferior a 0,3 bar (Yoon, 2015).

O MBR com módulo externo, ou de corrente lateral, fornece um desempenho confiável,


com menos preocupação em relação ao entupimento em comparação com MBR submerso.
Ao mesmo tempo, as membranas individuais são de fácil acesso para manutenção e esta
pode ser feita com um pequeno volume de solução de limpeza. No entanto, a necessidade
de construção de um sistema de membrana compatível com pressão elevada (3-6 bar) faz
com que os custos de capital sejam elevados (Yoon, 2015).

Krzeminski et al. (2012), ao realizarem uma visão geral de sistemas MBR em grande
escala, mostraram que o consumo de energia relacionado aos módulos de membrana está
na faixa de 0,5-0,7 kWh/m³. Além disso, a aeração é um grande consumidor de energia,
muitas vezes superior a 50% do total de consumo de energia, com um mínimo de 35%
sendo utilizada apenas para aeração na membrana.

Uma das vantagens relatadas por Judd (2008) é que as concentrações dos sólidos em
suspensão no licor misto (SSLM) são mais elevadas no reator, o que reduz o tamanho do
reator exigido e promove o desenvolvimento de bactérias nitrificantes específicas,
melhorando assim a remoção da amônia.

A aplicação da tecnologia MBR com concentrações de sólidos em suspensão acima de 10


g/L favorece o uso dos módulos de membranas do tipo placa plana e multitubular, abaixo
deste limiar, para as membranas de fibra oca (Judd, 2015).

Dos mais de 55 produtos de membranas MBR comerciais considerados por Judd (2015),
quase 50% são baseados em materiais de difluoreto de polivinilideno (PVDF), oferecido
em todas as três configurações de membrana (placa plana, fibra oca, e multitubular). Os

63
materiais do tipo Polietersulfona (PES) e membranas de poliolefínica (polietileno, PE e
polipropileno, PP) também foram encontrados disponíveis em configurações de placa
plana e fibra oca, respectivamente. A maioria dos produtos tem um tamanho de poro entre
0,03 e 0,4 µm.

Um pré-tratamento eficiente com um tempo de retenção hidráulica e fluxos baixos e uma


sucção intermitente podem ajudar a prolongar a operação e alcançar uma transição mais
fácil entre o arranque e o estado estacionário (Gil et al. , 2012).

Baseado nas informações levantadas, por meio de outras experiências que obtiveram
sucesso, constatou-se que o tanque com membrana que melhor se aplica ao sistema
proposto é do tipo submerso, onde o mesmo deve ser separado do reator biológico para
facilitar a limpeza e a manutenção do sistema.

5.1.5 - Proposta do fluxograma do sistema MBR e arranjo físico do sistema

Em pequenas comunidades, as casas normalmente são colocadas distantes umas das outras,
a densidade populacional é baixa e, portanto, o uso de um sistema local para uma
residência individual ou para um conjunto de residências pode ser uma opção rentável. A
tecnologia MBR fornece um tratamento robusto, com efluente de alta qualidade, ocupa
pouco espaço, tem capacidade de expansão, e pode ser empregada para melhorar as
estações de tratamento convencionais existentes. Baseado no levantamento bibliográfico,
principalmente no estudo feito por Sadr et al. (2015), que compararam diversos arranjos e
combinações utilizando membranas, foi constatado que a melhor aplicação para um
cenário de reúso de água não potável em uma comunidade em desenvolvimento que sofre
com a escassez hídrica é um sistema composto por um tratamento primário seguido de um
MBR (anóxico + aeróbio + UF) + desinfecção. Com isso, propõe-se o fluxograma do
sistema MBR que está representado na Figura 5.1.

Figura 5.1 - Fluxograma do sistema MBR proposto.

64
O sistema sugerido foi baseado em Abegglen (2008), pois este foi o sistema que melhor
atendeu as características requeridas por esta pesquisa, sendo o único que aplicou o MBR
em uma residência, e, por operar de modo intermitente, deve reduzir ao máximo o
consumo de energia. O sistema proposto contempla um tanque séptico, seguido por um
tanque anóxico, tanque biológico aerado e tanque submerso com membrana. O módulo de
membrana será o de placa plana e ficará em um tanque separado, por apresentar vantagens
adicionais de manutenção, além de atuar como um tanque de aeração de segundo estágio.
Assim, o sistema se comporta como um reator de fluxo em pistão até certo ponto, e há
probabilidades de diminuir as concentrações dos contaminantes não tratados (Yoon, 2015).

5.1.6 - Seleção dos parâmetros e equações de dimensionamento de todo o sistema

O dimensionamento realizado como parte desta pesquisa segue os passos estabelecidos por
Judd (2011) para um MBR submerso com modelo em estado estacionário. Nesse método, o
dimensionamento é baseado em uma combinação de dados empíricos ou heurísticos e
biocinéticos ou estequiométricos, com base na bioquímica do processo biológico aeróbio
de tratamento de esgoto. Com informação adequada à inter-relação entre os parâmetros de
aeração, de qualidade da água de alimentação, de fluxos, e biocinéticos para o componente
biológico, o projeto pode ser dividido em três partes distintas, a do processo de membrana,
a do processo biológico e a do sistema de aeração. A permeabilidade e a limpeza para o
componente de permeação da membrana dependem das especificações do fabricante.

A aplicação da proposta do sistema destina-se a uma estação de tratamento de esgotos


domésticos de uma residência unifamiliar com cinco moradores. A vazão de esgoto
doméstico pode ser calculada com base no consumo médio de água diário per capita,
considerando uma faixa de contribuição entre pequena localidade e cidade média (von
Sperling, 2005), adotou-se uma contribuição de 150 L/hab.dia. Portanto, estimou-se que as
vazões média e máximas são as seguintes: Qmédia= 800 L/d, Qmáxima= 960 L/d e a
Qmáximahorária = 1440 L/d.

O sistema MBR será precedido por um tanque séptico, o cálculo do volume do tanque
séptico foi baseado na NBR 7229/1993, chegando-se ao volume de aproximadamente 2 m³.
As características do efluente após tratamento primário consideradas para o

65
dimensionamento foram os de DQO, DBO5, NTK, SST e SSV, com os valores de 481
mg/L, 229 mg/L, 40 mg/L, 151 mg/L, 107 mg/L, respectivamente. Os valores biocinéticos
típicos do sistema de lodos ativados podem ser usados para o MBR, mesmo não sendo os
valores apropriados, o seu uso não apresenta erro significativo (Judd, 2011). Esses valores
são: coeficiente de saturação (Ks = 20); coeficiente de decaimento endógeno heterotrófico
(ke = 0,12); taxa máxima de crescimento específico heterotróficos (µm = 6); coeficiente de
produção heterotrófico (Y = 0,4); meio coeficiente de saturação para a nitrificação (Kn =
0,74); coeficiente de decaimento endógeno nitrificação (ke,n = 0,08); taxa de nitrificação
máxima de crescimento específico (µm,n = 0,75); e coeficiente de produção de nitrificação
(Yn = 0,12) (Judd, 2011).

Para dimensionar o sistema MBR é necessário considerar três etapas: (1) dimensionamento
da membrana; (2) dimensionamento do sistema biológico, e (3) dimensionamento do
sistema de aeração. Os detalhes do dimensionamento estão apresentados no Apêndice B.

5.1.7 - Dimensionamento e configuração do sistema proposto

Baseado nos passos descritos foi realizado o dimensionamento do sistema MBR que estão
detalhados no Apêndice A. Com os resultados obtidos foi possível chegar a configuração
do sistema MBR apresentado na Figura 5.2. Os níveis e a cota do desenho dependerá da
topografia do terreno e como se deseja implantar com o uso ou não de bombeamento.

66
Figura 5.2 - Configuração do sistema MBR dimensionado e proposto para ser aplicado ao tratamento de esgoto doméstico unifamiliar.

(1) Tanque séptico: volume de 2 m³. Profundidade 1,5 m. Largura : 1 m; Comprimento 1,5 m.
(2) Tanque anóxico: volume de 0,25 m³. Profundidade 1,0 m. Largura : 0,5 m; Comprimento 0,5 m
(4) Tanque biológico aerado: volume de 0,30 m³. Profundidade 1,0 m. Largura : 0,5 m; Comprimento 0,6 m
(6) Tanque com membrana submersa: as dimensões do tanque dependerá da caracteristica do módulo fornecida pelo fabricante.

67
5.2 - FASE 2 - ANÁLISE TECNOLÓGICA DE SISTEMAS DE TRATAMENTO DE
ÁGUA RESIDUÁRIA UNIFAMILIAR

A análise tecnológica é essencial para aumentar as chances de sucesso na aplicação prática


de uma tecnologia. Neste tópico serão apresentados os resultados e a discussão da melhor
alternativa tecnológica dos sistemas de tratamento de água residuária escolhida de acordo
com a metodologia proposta. O grande desafio desta pesquisa é de como e quando
selecionar uma tecnologia de membrana para cenários específicos à realidade brasileira.
Para isso, selecionaram-se cinco sistemas de tratamento de esgotos para comparar e avaliar
qual é a melhor alternativa para cada cenário. A partir disso, por não haver muitos
especialistas na área (aplicações práticas), surgiu outro desafio relacionado ao
agrupamento de diversas opiniões obtidas por meio de publicações disponíveis na literatura
acerca do processo de tomada de decisão. Baseado nisso, desenvolveu-se uma metodologia
para a avaliação de tecnologias de tratamento de águas residuárias que integra um processo
de tomada de decisão utilizando a informação disponível na literatura e adaptando-a aos
cenários brasileiros.

5.2.1 - Levantamento de informações e base de dados

Do levantamento bibliográfico realizado, pôde-se verificar a evolução de metodologias


dessa natureza ao longo do tempo, onde se puderam constatar a análise de decisão com
enfoque econômico e ambiental e a análise de decisão com considerações de Tecnologia
Apropriada, sendo este último, o tipo de abordagem adotado pelo modelo proposto neste
trabalho.

Com a preocupação em identificar simultaneamente vários objetivos para solucionar


problemas, principalmente, em relação à qualidade de vida e do ambiente, se faz necessária
a definição e compreensão dos objetivos da análise a ser realizada, para obter sucesso na
tomada de decisão. Existem inúmeros critérios que merecem consideração ao avaliar
tecnologias para o tratamento de água residuária. Dependendo do estudo, a quantidade de
critérios considerados varia e alguns critérios apresentam importâncias maiores do que
outros. Na Tabela 5.1 estão apresentados os principais trabalhos que utilizaram métodos
multiobjetivo e multicritério, e a frequência de uso das dimensões utilizadas por esses
autores, assim como o número de critérios e de alternativas.

68
Tabela 5.1 - Base de dados com as principais referências levantadas para a fase 2.
Souza Carneiro Sadr Tjandraatmadja Sadr Ouyang Aydiner
Autor/ Souza Brostel Werner Ganoulis Frequência
et al. et al. et al. et al. et al. et al et al.
Dimensão (1992) (2002) (2009) (2011) de uso (%)
(2001) (2001) (2013) (2013) (2015) (2015) (2016)
Econômica x x x x x x x x x x x 100,0
Técnica x x x x x x x x x x 90,9
Ambiental x x x x x x x x x x 90,9
Social x x x x x x x x 72,7
Institucional x 9,1
Administrativa x 9,1
Sócio-econômica x 9,1
Cultural x x 18,2
Ecológico x 9,1
Total de dimensões 5 3 5 5 5 4 3 4 4 4 3
N.º de critérios 44 18 10 18 13 8 5 26 10 14 11
N.º de alternativas 106 10 6 --- 5 14 8 9 10 5 5

69
Esse levantamento de informações foi fundamental para a avaliação tecnológica proposta
no Capítulo 4. Os autores apontam um ponto de convergência com diferentes dimensões,
destacando-se e sendo escolhidas para esta pesquisa, as dimensões técnica, econômica,
social e ambiental, as quais constituíram o conjunto que instrumentou o processo de análise
tecnológica realizado.

5.2.2 - Definição dos Critérios e Pesos

Com o levantamento preliminar dos critérios apresentados no Apêndice B, escolheram-se


os que obtiveram maior frequência de uso, totalizando nove critérios, sendo adicionado
mais um. O critério adicionado foi o nível de complexidade, avaliado por Sadr et al. (2013)
como o mais importante para serem considerados nos países em desenvolvimento.

Como o foco deste trabalho são sistemas de tratamento de esgoto descentralizados, outro
critério importante de ser considerado seria a resistência a choques de cargas. No entanto,
esse critério foi descartado, já que todas as alternativas de tratamento tem um tanque
séptico que auxilia no pré-tratamento e serve para equalizar a carga de efluente, e esse
mesmo critério foi avaliado indiretamente dentro do critério de confiabilidade.

Com o propósito de facilitar a compreensão e obter uma boa simulação, nesta pesquisa,
portanto, estabeleceram-se dez critérios, subdividindo-os em dimensões de avaliação
técnica, econômica, ambiental e social, com os mecanismos de avaliação que estão
apresentados na Tabela 5.2.

Para a solução do comportamento de cada critério, identificaram-se a preferência


crescente, para aqueles que se aproximam de um ótimo quando seus valores aumentam e,
decrescentes, quando seus valores diminuem.

As estratégias dos pesos atribuídos para cada critério estão apresentadas nas Tabela 5.3 e
Tabela 5.4. Com o intuito de não convergir na escolha de uma alternativa, critério e/ou
dimensão, primeiramente considerou-se pesos iguais para todos os critérios (1/10).
Posteriormente, estabeleceram-se os pesos de acordo com as dimensões, considerando que
os pesos dos critérios da dimensão priorizada seriam o dobro das dimensões não

70
priorizadas. E por último priorizaram-se os objetivos de acordo com a necessidade dos
cenários e os pesos atribuídos foram definidos pela pesquisadora.

Tabela 5.2 - Dimensões e critérios de avaliação escolhidos para a análise tecnológica de processo
MBR para tratamento descentralizado de esgotos.
Mecanismo de Preferência
Dimensão Critério
avaliação
Planilha Decrescente
C1. Consumo de energia
padronizada
Planilha Decrescente
C2. Área exigida
padronizada
Técnica Planilha Decrescente
C3. Quantidade de resíduo (lodo) produzido
padronizada
C4. Confiabilidade Planilha pontuada Crescente
C5. Complexidade operacional Planilha pontuada Decrescente
Planilha Decrescente
C6. Custo de capital ou de implantação)
Econômica padronizada
C7. Custo de O&M Planilha pontuada Decrescente
C8. Impacto Ambiental Planilha pontuada Decrescente
Ambiental C9. Conformidade com a Política e Legislação Planilha pontuada Crescente
Ambiental
C10. Aceitação da comunidade/chefe da Planilha pontuada Crescente
Social
família

Tabela 5.3 - Aplicação de pesos para análise de sensibilidade do modelo


Estratégias
Dimensão Critérios Peso igual Peso igual
Econômic
para os para as Técnica Ambiental Social
a
critérios dimensões
C1 0,1 0,05 0,133 0,0831 0,0831 0,091

C2 0,1 0,05 0,133 0,0831 0,0831 0,091

Técnica C3 0,1 0,05 0,133 0,0831 0,0831 0,091

C4 0,1 0,05 0,133 0,0831 0,0831 0,091

C5 0,1 0,05 0,133 0,0831 0,0831 0,091

C6 0,1 0,125 0,067 0,167 0,0831 0,091


Econômica
C7 0,1 0,125 0,067 0,167 0,0831 0,091

C8 0,1 0,125 0,067 0,0831 0,167 0,091


Ambiental
C9 0,1 0,125 0,067 0,0831 0,167 0,091

Social C10 0,1 0,25 0,067 0,0831 0,0831 0,181

Para o Cenário 1, de acordo com a realidade local, considerou-se que o efluente poderia ser
infiltrado no terreno, e, por isso, os critérios escolhidos que apresentam maior relevância

71
nesta situação estão relacionados ao funcionamento técnico do sistema de tratamento,
especificamente, confiabilidade e complexidade. Adotou-se peso dobrado a esses critérios
em relação aos demais critérios.

No Cenário 2, os aspectos mais importantes de serem considerados estão relacionados com


a qualidade do efluente tratado, risco de falha da tecnologia e o impacto que possa
ocasionar no local. Por isso, os critérios confiabilidade, impacto ambiental e conformidade
com a legislação foram atribuídos valores duas vezes maiores que os demais critérios.

Com o intuito de representar diversas realidades brasileiras que sofrem com a escassez
hídrica e de fazer o reúso da água, propôs-se o cenário 3. Neste cenário, os parâmetros que
têm maior influência estão relacionados à capacidade de produzir um efluente de ótima
qualidade. Consequentemente, este cenário exige uma alternativa mais complexa e deve-se
considerar o comportamento da família/comunidade quanto à aceitabilidade do processo.
Portanto, enfatizaram-se os critérios confiabilidade, impacto ambiental, conformidade e
aceitação da comunidade, com o dobro do peso dos demais critérios e, para o critério
conformidade com a legislação, com o peso três vezes maior que os demais.

Tabela 5.4 - Aplicação de pesos de acordo com os cenários


Estratégias
Dimensões Critérios Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3
C1. Consumo de energia 0,083 0,077 0,067
C2. Área exigida 0,083 0,077 0,067
C3. Quantidade de resíduo (lodo)
Técnica 0,083 0,077 0,067
produzido
C4. Confiabilidade 0,166 0,154 0,133
C5. Nível de complexidade 0,166 0,077 0,067
C6. Custo de capital ou de
0,083 0,077 0,067
Econômica implantação
C7. Custo de O&M 0,083 0,077 0,067

C8. Impacto Ambiental 0,083 0,154 0,133


Ambiental C9. Conformidade com a Política
0,083 0,154 0,201
e Legislação Ambiental
C10. Aceitação da
Social 0,083 0,077 0,133
comunidade/chefe da família

72
Na formulação dos cenários não foram consideradas as condições do local quanto aos
fatores econômicos, de demanda por área e de consumo de energia, pois estes devem ser
avaliados de forma mais criteriosa de quando usar ou não uma alternativa.

5.2.2.1 - Consumo de energia

A quantidade de energia necessária ou requerida para cada alternativa é determinada pela


tecnologia que ela utiliza no processo de tratamento. O critério de consumo de energia é
importante, uma vez que não só tem implicações financeiras, mas também afeta o meio
ambiente. Os valores deste critério foram difíceis de serem encontrados na literatura para
sistemas descentralizados, por isso consideraram-se pontuações iguais para os sistemas que
não necessitam de energia para o seu funcionamento, e, para os que precisam de energia
elétrica foram dados valores por analogia. Adotou-se o valor máximo para a alternativa A6
por considerar um consume maior de energia ocasionado por usar mais equipamentos que
consomem energia elétrica que a alternativa A5. A mesma situação aconteceu para a
alternativa A5 que tem maior consumo de energia que a alternativa A4. Na Tabela 5.5
estão apresentados os valores adotados para quantificar esse critério.

Tabela 5.5 - Valores adotados para quantificar o critério consumo de energia


Consumo de energia
Alternativa Valor adotado
A1. TS 0
A2. TS + FAn 0
A3. TS + Wet 0
A4. UASB + BAS 50
A5. UASB + LAC 75
A6. TS + MBR 100

5.2.2.2 - Área exigida

Este critério fornece uma indicação comparativa do tamanho da área que ocupa uma
tecnologia de tratamento. Utilizou-se, para medir este critério, a variável área demandada
por metro cúbico de esgoto tratado, que é um parâmetro médio fornecido pela literatura
para cada processo ou operação unitária. Os valores de área demandada por m³ de esgoto
tratado foram adotados por meio de padronização de valores disponíveis na literatura,

73
sendo que a pontuação mais alta é atribuída à tecnologia que exige uma menor área e uma
pontuação baixa é atribuída à tecnologia que exige uma maior área (Tabela 5.6).

Tabela 5.6 - Valores adotados para quantificar o critério área exigida


Alternativa Valor padronizado
Área total (m²/m³) Referências
A1. TS Leroy Merlin (2016)*
0,7 0
A2. TS + FAn ALFAMEC (2016)*
0,85 3
A3. TS + Wet Guo et al. (2014)
5,83 100
A4. UASB + BAS 1,43 Analogia** 14
A5. UASB + LAC 2,01 Tega Engenharia (2016)* 26
A6. TS + MBR 0,83 Guo et al. (2014) 3
*Área calculada de acordo com a característica dos sistema ofertados no mercado. **Considerou-se esse
sistema maior que a alternativa 2 e menor que a alternativa 5.

5.2.2.3 - Quantidade de resíduo (lodo) produzido

Este critério considera a quantidade de produção de resíduo normalmente apresentada para


cada sistema ou operação unitária avaliado sob condições normais de operação. Como no
caso o único resíduo que se apresentava era o lodo, sendo este o resíduo computado. Os
valores de produção de lodo foram adotados por meio de padronização de valores
disponíveis na literatura. Para as tecnologias com menor quantidade de lodo gerado foi
atribuída pontuação mais alta, enquanto que, para as de maior produção de lodo atribuiu-se
pontuação menor (Tabela 5.7).

Tabela 5.7 - Valores adotados para quantificar o critério quantidade de resíduo (lodo) produzido.
Quantidade de resíduo (lodo) produzido
Produção de lodo Valor
Alternativa
(g/hab d) Referência padronizado
A1. TS
30 40
A2. TS + FAn
39 100
von Sperling* (2005)
A3. TS + Wet Alem Sobrinho e
30 40
A4. UASB + BAS Jordão* (2001)
30 Abegglen (2008) 40
A5. UASB + LAC 27 20
A6. TS + MBR 24 0
*considerou-se o valor máximo de produção de lodo.

74
5.2.2.4 - Confiabilidade

O critério “confiabilidade” foi avaliado considerando-se a frequência com que cada


alternativa de tratamento de esgoto apresenta falhas, sua capacidade de lidar com variação
de vazão e carga, o risco inerente de interromper o processo de tratamento. Foram
estimados os valores de “confiabilidade” para cada processo ou operação unitária
fornecida. Para as alternativas que produziram maior confiabilidade foram atribuídas
pontuações mais altas e vice-versa. O cálculo deste critério foi obtido pela planilha
pontuada apresentada na Tabela 5.8.

Tabela 5.8 - Planilha pontuada para o critério confiabilidade


Confiabilidade
Item Pontuação
0 - Alta
1. Frequência com que o processo apresenta falhas? 12,5 - Média
25 - Baixa
0 - Sim
2. A alternativa apresenta risco de ser interrompida?
25 - Não
0 - Não
3. A alternativa tem capacidade de lidar com vazão e cargas variáveis?
25 - Sim
0 - Muito
4. Como as condições operacionais podem afetar a qualidade do efluente? 12,5 - Pouco
25 - Nenhum

Na Tabela 5.9 apresentam-se as respostas e as referências utilizadas para responder a


planilha pontuada referente ao critério confiabilidade.

Tabela 5.9 - Valores adotados para quantificar o critério confiabilidade


Confiabilidade
Lida com
Tendências a Risco de ser Variação do
Alternativa variações de Pontuação
falhas interrompida efluente
carga e vazão
A1. TS Baixa Não Sim Nenhum 100
A2. TS + FAn Baixa Não Sim Pouco 87,5
A3. TS + Wet Baixa Não Sim Pouco 87,5

A4. UASB + BAS Média Sim Sim Pouco 50


A5. UASB + LAC Média Sim Sim Pouco 50
A6. TS + MBR Média Sim Sim Muito 37,5

75
5.2.2.5 - Complexidade operacional

A dificuldade de se operar e manter um processo de tratamento pode ser medida por seu
“nível de complexidade”. Como este critério indica o nível de habilidade necessária para
operação e manutenção da tecnologia de tratamento, para as tecnologias menos complexas
são atribuídas pontuações mais elevadas e vice-versa. A mensuração do valor deste critério
em cada alternativa foi obtida por planilha pontuada representada na Tabela 5.10. Na
Tabela 5.11 apresentam-se as respostas e as referências utilizadas para responder a planilha
pontuada referente ao critério complexidade operacional.

Tabela 5.10 - Planilha pontuada para o critério complexidade operacional.


Complexidade operacional
Item Pontuação
0 – Não
1. A alternativa possui uma tecnologia complexa?
16,7 - Sim
2. Para o funcionamento da alternativa é necessário a incorporação de 0 – Não
outros equipamentos? 16,7 - Sim
0 - Nenhum
3. Qual o grau de automação necessário para a execução automática da
8,35 - Médio
alternativa?
16,7 - Alto
4. É necessária mão de obra especializada para a operação da 0 – Não
alternativa? 16,7 - Sim
5. É necessário realizar o monitoramento e o controle operacional 0 – Não
remoto? 16,7 - Sim
0 - Raramente
6. Com que frequência a alternativa depende da assistência técnica de
8,35 - Às vezes
terceiros?
16,7 - Sempre

Tabela 5.11 - Valores adotados para quantificar o critério complexidade operacional


Complexidade operacional
Espec. Controle
Tecnologia Necessidade Grau de Frequência
Alternativa para operac. Pontuação
complexa de equip. automação assistência
operação remoto
A1. TS Não Não Nenhum Não Não Raramente 0
A2. TS +
Não Não Nenhum Não Não Raramente 0
FAn
A3. TS +
Não Sim Nenhum Não Não Às vezes 25,05
Wet
A4. UASB
Não Sim Nenhum Sim Não Às vezes 41,75
+ BAS
A5. UASB
Não Sim Nenhum Sim Não Sempre 50
+ LAC
A6. TS +
Sim Sim Alto Sim Sim Sempre 100
MBR

76
5.2.2.6 - Custo de capital ou de implantação

Este critério normalmente exerce grande influência no processo decisório de seleção da


tecnologia, principalmente nas regiões que apresentam maiores limitações econômicas e
financeiras. Para as tecnologias associadas a elevados custos de capital são atribuídas
pontuações altas, enquanto que para aquelas associadas com menores custos de capital são
atribuídas pontuações mais baixas. Os valores foram adotados por meio de padronização
de valores fornecidos por empresas que vendem esses sistemas de tratamento, encontrados
na literatura e por analogia, como apresentados na Tabela 5.12.

Tabela 5.12 - Valores adotados para quantificar o critério custo de implantação


Custo de Implantação
Alternativa Valor (R$/hab) Referência Valor ponderado
A1. TS 596,18 Leroy Merlin (2016)* 0
Delta Saneamento ambiental
A2. TS + FAn 1534,00 13
(2016)*
A3. TS + Wet 2526,90 Molinos-Senante et al. (2012) 26

A4. UASB + BAS 4963,45 Analogia** 59

A5. UASB + LAC 7400,00 Tega Engenharia (2016)* 92

A6. TS + MBR 8000,00 Pam Membranas (2015)* 100


*Dados informados por empresas que vendem sistemas de tratamento de esgoto (o valor de custo foi
dividido pela capacidade de tratamento). **Considerou-se mais barato que alternativa 5 e mais caro que a
alternativa 2, valor adotado pela média dessas duas alternativas.

Sistemas de tratamento de efluentes, quando em menor escala, tornam-se mais caros. Há


uma dificuldade em encontrar na literatura valores de custos disponíves que tenham a
mesma convergência de dados para sistemas descentralizados. Por isso, fez-se uma
consulta de preço as empresas/indústrias que comercializam alguns desses sistemas para
estimar o valor real. No caso da Alternativa 4 em que não foi possível estimar o preço,
usou-se uma abordagem de raciocínio de prova para marcar sistemas em relação ao outro
com analogia e média entre os preços.

5.2.2.7 - Custo de operação e manutenção (O&M)

Este critério leva em conta os custos associados com o funcionamento da cada processo de
tratamento durante a sua vida útil, importando em materiais para troca e substituição de

77
equipamentos, consumo de energia e de produtos químicos. Para as tecnologias associadas
a altos custos de O&M são atribuídas pontuações altas, enquanto para aquelas associadas
com menores custos de O&M são atribuídas pontuações mais baixas. Os valores foram
adotados por meio de planilha pontuada que está apresentada na Tabela 5.13.

Tabela 5.13 - Planilha pontuada para o critério custo de operação e manutenção


Custo de Operação e Manutenção
Item Pontuação
0 - Não consome energia
1. Qual a magnitude do consumo de energia elétrica proveniente da
8,35 - Média
operação da alternativa?
16,7 - Alta
0 - Baixa
2. Qual é a quantidade de equipamentos exigida? 8,34 - Média
16,7 - Alta
0 – Não
3. A alternativa exige o uso de produtos químicos?
16,7 - Sim
0 – Não
4. A alternativa necessita de substituição equipamentos ou materiais?
16,7 - Sim
0 - Baixa
5. Qual a frequência de manutenção do sistema? 8,34 - Média
16,7 - Alta
0 - Baixa
6. Qual o nível de qualificação exigida para a operação da
8,34 - Média
alternativa?
16,7 - Alta

As respostas e as referências utilizadas para responder a planilha pontuada referente ao


critério O&M estão expostas na Tabela 5.14.

Tabela 5.14 - Valores adotados para quantificar o critério custo de O&M


Custo de operação e manutenção
Nível de
Consumo Exigência Produto Substit. de Freq. de
Alternativa qualificação Pontuação
de energia de equip. químico equip. manut.
na operação
A1. TS Não Baixa Não Não Baixa Baixa 0
A2. TS +
Não Baixa Não Não Baixa Baixa 0
FAn
A3. TS +
Não Baixa Não Sim Média Baixa 25,05
Wet
A4. UASB
Média Média Não Sim Média Média 50
+ BAS
A5. UASB
Alta Média Não Sim Alta Alta 75,15
+ LAC
A6. TS +
Alta Alta Sim Sim Alta Alta 100
MBR

78
5.2.2.8 - Impacto Ambiental

A variável envolvida na mensuração deste critério foi a combinação de possibilidades de


uma alternativa de tratamento de esgotos provocar problemas ambientais devido à
ocorrência associada de: produção de maus odores e de ruídos; maior consumo de energia
e de produtos químicos. poluição do solo e da água. O impacto causado sobre o meio
ambiente é considerado um critério fundamental no processo de seleção. Para a tecnologia
de tratamento com menor impacto ambiental é atribuída uma pontuação baixa e vice-versa.
O cálculo deste critério foi obtido pela planilha pontuada apresentada na Tabela 5.15 e as
respostas e referências na Tabela 5.15.

Tabela 5.15 - Planilha pontuada para o critério impacto ambiental


Impacto ambiental
Item Pontuação
0 - Baixa
1. Qual a intensidade do odor gerado pela alternativa? 8.35 - Média
16,7 - Alta
0 - Baixa
2. Qual a intensidade das vibrações e de ruídos emitidos pela alternativa? 8.35 - Média
16,7 - Alta
0 – Não
3. Na operação da alternativa é necessário o consumo de energia elétrica?
16,7 - Sim
0 – Não
4. Na operação da alternativa é necessário o uso de produtos químicos?
16,7 - Sim
0 - Baixa
5. A alternativa causa risco de poluição do solo? 8.35 - Média
16,7 - Alta
0 - Baixa
6. A alternativa causa risco de poluição da água subterrânea ou superficiais? 8.35 - Média
16,7 - Alta

Tabela 5.16 - Valores adotados para quantificar o critério impacto ambiental


Impacto ambiental
Energia Produto Poluição Poluição Pontuação
Alternativa Odor Ruído
elétrica químico do solo da água
A1. TS Alta Baixa Não Não Alta Média 41,75
A2. TS + FAn Alta Baixa Não Não Média Baixa 25,05
A3. TS + Wet Alta Baixa Não Não Baixa Baixa 16,7
A4. UASB + BAS Alta Média Sim Não Baixa Baixa 41,75
A5. UASB + LAC Alta Alta Sim Não Baixa Baixa 50,1
A6. TS + MBR Alta Alta Sim Sim Baixa Baixa 66,8

79
5.2.2.9 - Conformidade com a Política e Legislação Ambiental

Para aquela tecnologia que oferecer um efluente em conformidade com as legislações


ambientais foi atribuída pontuação quanto maior for a associação de conformidades. Para
comparação dos parâmetros das alternativas com a legislação vigente avaliaram-se duas
situações específicas de acordo com o cenário considerado. Para o cenário 1 e 2
considerou-se os padrões de lançamento de efluente sanitário no corpo receptor com a
Resolução 430/2011 do CONAMA e, para o cenário 3 considerou-se apenas as alternativas
A4, A5 e A6 para serem avaliadas de acordo com os parâmetros de Classe 3 dos padrões
de reúso da ANA (2005). Os padrões de classe 3 foram os escolhidos por ser o menos
restritivo comparados as outras classes. A planilha pontuada para avaliar esse critério está
apresentada na Tabela 5.17.

Tabela 5.17 - Planilha pontuada para o critério conformidade com a política e legislação ambiental
Conformidade com a Política e Legislação Ambiental
Item
Atende aos padrões de lançamentos em corpo receptor (Classe II) Pontuação
(CONAMA Resolução 430/2011) – Aplicados aos cenários 1 e 2
0 - Não atende
1. DBO5 (120 mg/L ou 60%)
33,3 - Atende
0 - Não atende
2. Nitrogênio amoniacal (20 mg/L)
33,3 - Atende
0 - Não atende
3. SST (remoção > 20%)
33,3 - Atende
Atende aos padrões de reúso da ANA (2005) - Classe 3: irrigação de
Pontuação
áreas verdes e rega dos jardins - Aplicado aos cenário 3
0 - Não atende
1. SST - Sólidos suspensos totais (≤ 20,0 mg/L)
25 - Atende
0 - Não atende
2. Turbidez (≤ 5,0 NTU)
25 - Atende
0 - Não atende
3. DBO5 (≤ 20,0 mg/L)
25 - Atende
0 - Não atende
4. Nitrogênio amoniacal (5-30 mg/L)
25 - Atende

Na Tabela 5.18 apresentam-se os dados de alguns parâmetros de qualidade de efluente dos


sistemas de tratamento de esgoto sanitário encontrados na literatura e a pontuação adotada
para a avaliação desse critério.

80
Tabela 5.18 - Valores adotados para quantificar o critério conformidade com a política e legislação
ambiental
A2. TS + A3. TS + A4. UASB + A5. UASB + A6. TS +
Parâmetros A1. TS
FAn Wet BAS LAC MBR

DBO5 (mg/L) 170 < 60 < 20 12 < 20 < 10

Nitrogênio amoniacal
> 20 > 15 10 5-10 5-15 3.2
(mg/L)

Turbidez (UNT) 60 78 - <20* 16 <5

SST - Sólidos
< 100 < 20 <20 14 < 30 2.6
suspensos totais
Pontuação
Cenários 1 e 2 66,8 100 100 100 100 100
Cenário 3 - - - 75 50 100
*Valor não encontrado e por analogia considerando o baixo teor de SST adotou-se menor que 20.
Referências: Andrade Neto et al (2000); Chernicharo et al, (2001); EPA (2002); Gonçalves et al (1998); von
Sperling, (2005); Ávila (2005); Sartor (2008); Abegglen (2008); Almeida el al (2010); Bof et al., (2001)
Skouteris et al., (2012a); Abbas et al. (2012); Luna et al (2013).

5.2.2.10 - Aceitação da comunidade/família

Este critério tem a missão de indicar a receptividade da comunidade a uma determinada


tecnologia de tratamento. Este critério envolve complexidades e incertezas decorrentes dos
interesses, identidades culturais, ideologias e objetivos das diferentes partes interessadas,
além de experiências do passado. Uma pontuação elevada foi dada a tecnologia com maior
reconhecimento público, e uma pontuação baixa foi dada a uma tecnologia que não foi
compreendida ou respeitada publicamente. A planilha pontuada elaborada para avaliação
desse critério está apresentada na Tabela 5.19 e as respostas na Tabela 5.20.

Tabela 5.19 - Planilha pontuada para o critério Aceitação da comunidade/chefe da família


Aceitação da comunidade/chefe da família
Item Pontuação
0 – Não
1. O sistema pode ser aceito pela comunidade ou pela família?
33,3 - Sim
0 - Não
2. O sistema pode possibilitar o envolvimento da comunidade na
manutenção e operação do sistema? 12,5 - Parcialmente
33,3 - Sim
0 - Não
3. O sistema pode ser adaptado de acordo com as necessidades da
comunidade? 12,5 - Parcialmente
33,3 - Sim

81
Tabela 5.20 - Planilha pontuada para o critério Aceitação da comunidade/família
Aceitação da comunidade/família
Envolve a Pode ser
Aceitabilidade
Alternativa comunidade na adaptado ou Pontuação
do sistema
O&M expandido
A1. TS Sim Sim Sim 100
A2. TS + FAn Sim Sim Sim 100
A3. TS + Wet Sim Sim Sim 100
A4. UASB + BAS Sim Parcialmente Parcial 66,7
A5. UASB + LAC Sim Não Parcial 50
A6. TS + MBR Sim Não Não 33,3

5.2.3 - Avaliação das Alternativas e da Metodologia

Os resultados do preenchimento das planilhas ponderadas e das planilhas pontuadas foram


apresentados no Capítulo 5, e por meio deles constituiu-se a matriz de avaliação que está
apresentada na Tabela 5.21. Dados os diferentes cenários, os valores adotados para o
critério referente à conformidade com a política e legislação ambiental variaram conforme
a aplicação.

Tabela 5.21 – Matriz de avaliação das alternativas de acordo com cada critério
Pay-off Matrix
Alternativas
Dimensão Critério
A1 A2 A3 A4 A5 A6
C1 0 0 0 50 75 100
C2 0 3 100 14 26 3
Técnica C3 40 100 40 40 20 0
C4 100 87,5 87,5 50 50 37,5
C5 0 0 25,05 41,75 50 100
C6 0 13 26 59 92 100
Econômica
C7 0 0 25,05 50 75,15 100
C8 41,75 25,05 16,7 41,75 50,1 66,8
Ambiental
C91 66,6 100 100 100 100 100
C92 - - - 75 50 100
Social C10 100 100 100 66,7 50 33,3
¹Simulação para o Cenário 1 e 2; ²Simulação para o Cenário 3 (Reúso de água); A1. TS; A2. TS+FAn; A3.
TS+Wet; A4. UASB+BAS; A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

82
Nos próximos tópicos estão apresentados os resultados das alternativas para análise
multicritério e multiobjetivo com a aplicação dos métodos TOPSIS e ELECTRE III. As
alternativas estão posicionadas quanto à ordem de classificação no ranking. De modo que
os resultados da posição das alternativas do método ELECTRE III está apresentado na
coluna 2, e do método TOPSIS nas demais colunas juntamente com os valores encontrados
para os coeficientes de similaridade com p=1, p=2 e p=∞.

Os valores dos limiares para o método ELECTRE III de indiferença (q), preferência (p) e
veto(v) podem ser constantes ou variar ao longo da escala. Deve-se notar que não existem
verdadeiros valores para os limiares. Portanto, os valores escolhidos para atribuir aos
limiares são os que melhor se adaptam para expressar o caráter imperfeito do
conhecimento (Figueira et al, 2005). O limite de veto não foi utilizado pois em todos os
critérios estão aplicados na mesma escala, sendo que, diferença entre as opções. Os
desempenhos dos critérios não apresentam grande discrepância, por isso, desconsiderou o
veto nesta avaliação.

Neste trabalho, escolheram-se os limiares de preferências (p) com 25% do valor médio dos
critérios definidos como valores de referências e adotou-se uma relação de p/q=2,5. Na
Tabela 5.22 apresenta os valores adotados para representar a indiferença e a preferência de
cada critério.

Tabela 5.22 – Limiares de preferência e de indirença adotados para a simulação do método


ELECTRE III.
Critérios q p
C1 3,8 9,4
C2 4,7 11,7
C3 4,0 10,0
C4 6,9 17,2
C5 3,6 9,0
C6 4,8 12,1
C7 4,2 10,4
C8 4,0 10,1
C9 9,4 23,6
C10 7,5 18,8

83
5.2.3.1 - Avaliação dos resultados no Cenário 1

Para este cenário, os resultados apresentados na Tabela 5.23, dada a não exigência ao
considerar os critérios ambientais e dar enfoque aos critérios referentes ao funcionamento
das tecnologias, indicam que a melhor alternativa a ser aplicada nesta situação seriam as
alternativas A1 - Tanque séptico e a A2 - Tanque séptico seguido de filtro anaeróbio, por
serem tecnologias relativamente simples e de fácil implantação. Já a tecnologia que pior se
adequaria ao Cenário 1 se adotada para esta situação é a A6 – Tanque séptico seguido por
MBR, devido a sua complexidade, alto custo e necessidade frequente de manutenção.
Percebe-se uma similaridade nos resultados obtidos pelo método ELECTRE III com o do
TOPSIS para p = ∞.

Tabela 5.23 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS para o Cenário 1
Cenário 1 ELECTRE-III TOPSIS
Alt. Alt. Alt.
Ranking Alt.
Ck* (p=1) Ck* (p=2) Ck* (p = ∞)
1º A1 e A2 A2 A2 A1 e A2
2º A3 A1 A3 A3
3º A4 A3 A1 A4
4º A5 A4 A4 A5
5º A6 A5 A5 A6
6º A6 A6
Ck* - coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

5.2.3.2 - Avaliação dos resultados no Cenário 2

No Cenário 2 há uma restrição maior quanto à confiabilidade do sistema de tratamento, os


possíveis impactos que a tecnologia possa causar ao meio ambiente e à permanência do
efluente dentro dos padrões de lançamento que devem ser alcançados pela Resolução
430/2011 do CONAMA. Na Tabela 5.24 mostra-se que a alternativa A1 fica na pior
posição no ranking, para o parâmetro ∞, dada pelo desvio de maior importância,
evidenciando que essa tecnologia não se aplica a locais mais restritivos e sugerindo um
refinamento do seu efluente final complementado com pós-tratamento, como no caso das
alternativas A2 e A3 (tanque séptico seguido de filtro anaeróbio e seguido de wetland), que
foram as melhores classificadas, e, portanto, mais adequada para esta situação. Isto sugere
que essas duas alternativas atendem melhor aos requisitos ambientais e é tecnicamente e
economicamente viável. Porém, para o caso da alternativa A3 (sistema com plantas), se o

84
local tiver limitação de área, a solução que deverá ser adotada precisa atender o requisito
de disponibilidade de área para instalação, no caso a alternativa A2 é a melhor solução.
Enquanto que a alternativa A6 mostra-se novamente como a tecnologia menos adequada
para ser implantada nesse Cenário 2.

Tabela 5.24 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS para o Cenário 2
Cenário 2 ELECTRE-III TOPSIS
Alt. Alt. Alt.
Ranking Alt.
Ck* (p=1) Ck* (p=2) Ck* (p = ∞)
1º A1, A2 e A3 A2 A2 e A3 A2 e A3
2º A4 A3 A4 A4 e A5
3º A5 A1 A5 A1 e A6
4º A6 A4 A1
5º A5 A6
6º A6
Ck* - coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

5.2.3.3 - Avaliação dos resultados no Cenário 3

Os valores propostos para os padrões de reúso de água inviabilizam quase todos os


sistemas de tratamento quando se opta pelo reúso de água mais restrito, exceto para o
tratamento com reator biológico com membrana (MBR). Baseado nisso, para o cenário 3,
fez-se uma pré-triagem das alternativas, para que fossem avaliadas apenas as que
atendessem aos padrões de qualidade. Chegou-se à conclusão de que nem todas estavam
em conformidade com os principais parâmetros. Com isso, relaxaram-se um pouco os
valores dos padrões exigidos para o reúso de água na consideração das alternativas,
adicionando as tecnologias que melhor podem se adequar para alcançar os níveis
adequados para o reúso de água de Classe 3, com adaptações no tratamento.

As alternativas escolhidas para serem avaliadas nesta etapa foram as seguintes: (A4)
UASB seguido de filtro biológico aerado; (A5) UASB seguido por lodos ativados; e (A6)
Tanque séptico acompanhado do MBR. Para atender à exigência do Cenário 3, considerou-
se que todas essas alternativas teriam ao final a desinfecção do efluente tratado, como
recomendado pela NBR 13969/1997.

85
Os padrões adotados foram estabelecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA, 2005)
para o reúso de água para irrigação de áreas verdes e rega de jardins, já apresentados
anteriormente no tópico 3.1. Os resultados para avaliação das tecnologias de tratamentos
para esse cenário estão apresentados na Tabela 5.25

Tabela 5.25 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS para o Cenário 3
Cenário 3 ELECTRE-III TOPSIS
Alt. Alt. Alt.
Ranking Alt.
Ck* (p=1) Ck* (p=2) Ck* (p = ∞)
1º A4 A4 A4 A6
2º A5 e A6 A5 A6 A4
3º A6 A5 A5
Ck*- coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

É notório que a alternativa A6 somente no método TOPSIS (p = ∞) ficou em primeiro


lugar no ranking em decorrência desse parâmetro refletir a influência do maior desvio,
mesmo sendo considerada a alternativa ideal voltada à aplicação para o reúso de água por
ser a única que alcança os padrões exigidos pelo critério de conformidade com a legislação
ambiental. Ao passo que a A4 – Tanque séptico seguido por biofiltro aerado submerso
respondeu como a opção ótima para este cenário. Já a A5 – UASB seguido de lodos
ativados não é recomendável para ser aplicada nesta situação.

5.2.3.4 - Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade foi realizada por meio de variação dos pesos atribuídos a cada
critério, permitindo, assim, verificar quais seriam as alterações no resultado final caso as
suas preferências variassem.

As prioridades finais das alternativas são altamente dependentes dos pesos ligados aos
critérios principais. Assim, a análise de sensibilidade deve ser realizada para observar o
impacto de pesos variados sobre os resultados. Se a classificação não muda, os resultados
são considerados robustos, e em caso contrário, são sensíveis (Ouyang et al. 2015). Se o
ranking é altamente sensível a pequenas alterações nos pesos, uma revisão cuidadosa dos
pesos deve ser proposta. Além disso, os critérios de decisão adicionais devem ser
envolvidos como um ponto do ranking altamente sensível a uma potencial discriminação
fraca da série de critérios.

86
A ordenação das alternativas de acordo com a classificação da melhor (primeira posição)
ou pior (última posição), para adoção dos valores dos pesos iguais tanto para todos os
critérios (Tabela 5.26) como para as dimensões (Tabela 5.27), mostraram pequenas
variações. No entanto, essas variações não foram consideradas altamente sensíveis,
mostrando que a variação aconteceu conforme o esperado.

Tabela 5.26 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com aplicação de
pesos iguais para cada critério
ELECTRE III TOPSIS
Ranking
Alt. Alt. Ck* (p=1) Alt. Ck* (p=2) Alt. Ck* (p = ∞)
1º A1 e A2 A2 A2 A4
2º A3 A1 A3 A5
3º A4 A3 A1 A1, A2, A3 e A6
4º A5 A4 A4
5º A6 A5 A5
6º A6 A6
Ck*- coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

Tabela 5.27 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com aplicação de
pesos iguais para as dimensões
ELECTRE III TOPSIS
Ranking
Alt. Alt. Ck* (p=1) Alt. Ck* (p=2) Alt. Ck* (p = ∞)
1º A2 A2 A2 A2 e A3
2º A1 A3 A3 A1
3º A3 A1 A1 A4
4º A4 A4 A4 A5
5º A5 A5 A5 A6
6º A6 A6 A6
Ck*- coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

Na abordagem das quatro dimensões, os valores encontrados na Tabela 5.28, Tabela 5.29,
Tabela 5.30 e Tabela 5.31 referem-se aos valores maiores dados aos critérios técnicos,
econômicos, ambientais e sociais, respectivamente. O ranking mostrou-se sensível somente
quando houve grandes alterações dos pesos em relação aos critérios por dimensões.

87
Tabela 5.28 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com aplicação de
pesos dobrados para os critérios técnicos
ELECTRE III TOPSIS
Ranking Alt. Alt. Alt.
Alt.
Ck* (p=1) Ck* (p=2) Ck* (p = ∞)
1º A1 e A2 A1 A2 A1
2º A3 A2 A3 A4
3º A4 A3 A1 A2,A3,A5,A6
4º A5 A4 A4
5º A6 A5 A5
6º A6 A6
Ck*- coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

Tabela 5.29 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com aplicação de
pesos dobrados para os critérios econômicos
ELECTRE III TOPSIS
Ranking Alt. Alt. Alt.
Alt.
Ck* (p=1) Ck* (p=2) Ck* (p = ∞)
1º A1 e A2 A2 A2 A1 e A2
2º A3 A1 A3 A3
3º A4 A3 A1 A4
4º A5 A4 A4 A5
5º A6 A5 A5 A6
6º A6 A6
Ck*- coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

Tabela 5.30 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com aplicação de
pesos dobrados para os critérios ambientais
ELECTRE III TOPSIS
Ranking Alt. Alt. Alt.
Alt. *
Ck (p=1) *
Ck (p=2) Ck (p = ∞)
*

1º A1, A2 e A3 A2 A3 A2 e A3
2º A4 A3 A2 A4
3º A5 A1 A4 A5
4º A6 A4 A5 A6
5º A5 A6 A1
6º A6 A1
Ck - coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa.
*

88
Tabela 5.31 – Resultados da simulação nos métodos ELECTRE III e TOPSIS com aplicação de
pesos dobrados para os critérios sociais
ELECTRE III TOPSIS
Ranking Alt. Alt. Alt.
Alt.
Ck* (p=1) Ck* (p=2) Ck* (p = ∞)
1º A1 e A2 A2 A2 A1, A2 e A3
2º A3 A1 A3 A4
3º A4 A3 A1 A5
4º A5 A4 A4 A6
5º A6 A5 A5
6º A6 A6
Ck* - coeficiente de similaridade. Alt. – alternativa. A1. TS; A2. TS+FAn; A3. TS+Wet; A4. UASB+BAS;
A5. UASB+LAC; A6. TS+MBR

Para o método ELECTRE III, observou-se que a alternativa A1 manteve-se no topo do


ranking, mostrando-se pouco sensível a metodologia proposta. Isso pode ser em
decorrência da ausência de alguns dados que tiveram que ser determinados por analogia, os
quais podem ter influenciado no resultado final.

As alternativas ideais para cada situação de aplicabilidade refletem a variabilidade dos


possíveis cenários de decisão, atribuindo impacto significativo pelos pesos dos vários
critérios. Entre as seis alternativas consideradas, se maior peso é conferido ao critério
econômico, o tanque séptico é a opção ideal, enquanto os sistemas combinados com
biofiltro aerado submerso, lodos ativados e MBR, mantém-se na posição inferior no
ranking. Isto sugere que o tanque séptico é economicamente mais eficiente em comparação
com outras opções. Em contraste, se maior peso foi atribuído ao critério ambiental, o
tanque séptico fica como a alternativa inferior no ranking. Logo, percebe-se que, com as
variações dos pesos premiando o aspecto ambiental, as melhores alternativas no ranking
são a A2 tanque séptico seguido de filtro anaeróbio e a A3 UASB seguido de wetland.

Estes resultados apresentaram sensibilidade considerada compatível com a análise feita


normalmente por profissionais do setor. Por isso, não foram realizadas modificações na
metodologia inicialmente proposta.

89
6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Esta pesquisa permitiu descrever e registrar aspectos da tecnologia do processo de


biorreator com membrana (MBR) voltados para a sua aplicação aos sistemas
descentralizados de esgotos, tais como a sua concepção e dimensionamento, requisitos de
operação e de manutenção, suas vantagens e desvantagens, permitindo obter as principais
conclusões para propor um sistema unifamiliar e se aprofundar no assunto.

Foi desenvolvida uma metodologia simplificada de avaliação tecnológica de processos de


tratamento de esgotos descentralizados com uma abordagem de análise de decisão
multiobjetivo e multicritério, utilizando método com variável discreta e construindo o
problema para obter uma solução por hierarquização. Os métodos de análise multiobjetivo
selecionados e utilizados foram o ELETRE III e o TOPSIS. Na análise tecnológica
proposta, por motivo de simplicidade, adotaram-se apenas algumas das dimensões da
Tecnologia normalmente consideradas, e somente os critérios possíveis de mensuração
rápida e simples dessas dimensões. Essa proposta metodológica de avaliação foi testada
por um processo de análise de sensibilidade, no qual foram variados os valores dos pesos
de cada dimensão e de cada critério.

A metodologia de avaliação tecnológica desenvolvida foi então processada para três


cenários muito comuns e possíveis de existirem sob as condições brasileiras, incluindo-se
as mais remotas regiões do País. Para o Cenário 1, considerou-se que o efluente poderia ser
infiltrado no terreno, e as melhores alternativas a serem aplicadas nesta situação seriam as
alternativas A1 (Tanque séptico) e a A2 (Tanque séptico seguido de filtro anaeróbio), por
serem tecnologias simples, com baixo custo e de fácil implantação. No Cenário 2, para
atender a confiabilidade desejável para o sistema de tratamento e a permanência do
efluente dentro dos padrões de lançamento estabelecidos pela Resolução 430/2011 do
CONAMA, as alternativas A2 e A3 (tanque séptico seguido de filtro anaeróbio e tanque
séptico seguido de wetland), são as mais adequadas para este cenário, por atenderem aos
requisitos ambientais e serem tecnicamente e economicamente viáveis. A alternativa A6
(Tanque séptico seguido por MBR) é a ideal para o Cenário 3, por ser a única que atende
aos padrões de reúso. No entanto, a alternativa ótima para este cenário 3 seria a A4 –
Tanque séptico seguido por biofiltro aerado submerso.

90
O MBR por ser uma tecnologia considerada complexa e com altos custos de implantação e
manutenção se mostrou adequado para ser instalado apenas em locais que sofrem com a
escassez hídrica e necessitam de utilizar o efluente tratado de esgoto sanitário.

Entretanto, alguns aspectos da implantação da tecnologia MBR que podem ser


considerados relevantes para sua adoção em sistemas descentralizados de esgotos no Brasil
não foram levados em consideração pela metodologia de avaliação tecnológica
desenvolvida no presente trabalho. Isso sugere automaticamente que a metodologia poderá
sofrer ajustes mais refinados, para incluir algumas dimensões da tecnologia não
consideradas no momento, e, por óbvio, critérios mais precisos de avaliação. Portanto,
sugere-se rever as planilhas pontuadas e ponderadas.

Por exemplo, uma questão importante não capturada pela metodologia proposta é o
domínio pela comunidade da tecnologia, a sua “apropriação” pelo País. Sabe-se e é notório
que o Brasil não domina a tecnologia de fabricação das membranas, o que torna a adoção
da tecnologia MBR um fator de grande dependência pela importação de membranas e
equipamentos para funcionamento dos módulos de membranas. Então, para que a
metodologia capturasse esse fator, seria necessário que a ela fosse incorporada a dimensão
da política tecnológica.

A possibilidade ou não de se realizar o reúso de água parece ser o grande divisor entre a
adoção ou não da tecnologia MBR. Se se continuar a considerar padrões tão restritivos de
qualidade da água para reúso, então, pelo valor alcançado para Sólidos Suspensos Totais e
Turbidez no efluente das alternativas de tratamento de esgoto normalmente consideradas,
somente a tecnologia MBR tem condições de atender a esses critérios de exigência.
Espera-se que o Brasil adote uma legislação para reúso de água que seja realística, e,
portanto, permita que outras alternativas de processos biológicos de tratamento de esgotos
que não a MBR possam ser levadas em consideração nos cenários com reúso de água.

Por outro lado, sugere-se que na metodologia proposta sejam inseridos outros métodos
multiobjetivo e multicritério e que seja promovida a consulta a atores e especialistas para
atribuir pesos e avaliar os critérios utilizados para a avaliação tecnológica. E, ainda, uma
sugestão para aprimoramento do processo de análise tecnológica realizado é a adoção de
outra problemática decisória, que é a de alocação, onde se teria que criar classes de

91
adequação da tecnologia (adequada, inadequada) e cada alternativa tecnológica seria
classificada em uma dessas classes. Nesse caso, bastaria trocar os métodos de análise
multiobjetivo aqui utilizados por outros que permitam o procedimento de alocação (como,
por exemplo, o próprio TOPSIS modificado, ou o ELECTRE-TRI).

Os custos para a implantação e operação do MBR, bem como a comparação com outros
processos, como Lodos Ativados, podem ser tópicos de estudo para uma análise de custo
mais aprofundada quando aplicados a sistema unifamiliar ou descentralizado.

Finalmente, é importante ressaltar que os custos mais altos de implantação e de


manutenção da tecnologia MBR jogaram importante papel na análise tecnológica
realizada. Os resultados obtidos com o processamento da metodologia consideraram como
dados de entrada os custos atuais registrados. Entretanto, esses custos do processo MBR
estão declinando rapidamente, de tal forma que os resultados obtidos com a metodologia
proposta para análise poderão ser alterados em pouco tempo.

92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abbas, T.R. and Dixon, M.A. (2012). Applicability of MBR technology for decentralized
Municipal wastewater treatment in Iraq. Regional conference on Wastewater
Purification & reuse, Crete, Greece.
Abegglen, C.K (2008). Membrane bioreactor technology for decentralized wastewater
treatment and reuse. Dissertation of doctor of Sciences, Swiss Federal Institute of
Technology Zurich, 150 p.
Abegglen, C.K.; Ospelta, M.; Siegrist, H. (2008). Biological nutrient removal in a small-
scale MBR treating household wastewater. Water Research 42. 338 – 346.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13.969 (1997). Projeto,
Construção e Operação de Sistemas de Tanques Sépticos – Tratamento e Disposição
dos Efluentes de Tanques Séptico. Rio de Janeiro.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15527 (2007). Água de chuva -
Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos.
Rio de Janeiro.
Alaboud, T.M and Magram, S.F. (2008). A Discourse on Feasibility of the Membrane
Bioreactor Technology for Wastewater Reuse in Saudi Arabia. Research Journal of
Environmental Sciences 2(6):445-455
Alem Sobrinho, P. E Jordão, E. P. Pós-Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios –
Uma Análise Crítica. p.491-513. In: CHERNICHARO, C. A. L. (coordenador) Pós-
Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios. Belo Horizonte: Projeto PROSAB,
2001. 544p.
ANA - Agência Nacional Das Águas (2005). Conservação e Reúso da Água em
Edificações. Prol Editora Gráfica: São Paulo.
Andrade Neto, C.O.; Haandel, A van ; Melo, H.N.S. (2002). O Uso Do Filtro Anaeróbio
para Pós-Tratamento de Efluentes de Reatores Anaeróbios no Brasil. In: X Simpósio
Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária E Ambiental, 2002, Braga, Portugal. Anais
do X Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Braga:
APESB/APRH/ABES, 2002.
Arévalo, J.; Ruiz, L.M.; Parada-Albarracín, J.A.; González-Pérez, D.M.; Pérez, J.; Moreno,
B.; Gómez, M.A. (2012) Wastewater reuse after treatment by MBR. Microfiltration
or ultrafiltration? Desalination 299. 22–27
Ávila, R.O. (2005). Avaliação do desempenho de sistemas tanque séptico-filtro anaeróbio
com diferentes tipos de meio suporte.
Aydiner, C.; Sen, U.; Koseoglu-Imer, D.U.; Dogan, E.C. (2016). Hierarchical prioritization
of innovative treatment systems for sustainable dairy wastewater management.
Journal of Cleaner Production 112, 4605-4617.
Battilani, A.; Steiner, M.; Andersen, M.; Back, S.N.; Lorenzen, J.; Schweitzer, A.;
Dalsgaard, A.; Forslund, A.; Gola, S.; Klopmann, W.; Plauborg, F.; Andersen, M.N.
(2010) Decentralised water and wastewater treatment technologies to produce
functional water for irrigation. Agricultural Water Management 98. 385–402.
Belli, J.T.; Amaral, P.A.P.; Recio, M.A.L.; Vidal, C.M.S; Lapolli, F.R. (2012). Biorreator
à membrana em batelada sequencial aplicado ao tratamento de esgoto. Eng. Sanit.
Ambient. vol.17 no.2 Rio de Janeiro.
Belton, V. (1986) A comparison of the analytic hierarchy process and a simple multi-
attribute value function. European Journal of Operational Research 26. 7-21. North-
Holland.

93
Benitez, M.G.; Garriga, C.S.; Ferré, R. G. (2002). Bioreactores de Membrana (MBR).
Departamento de Proyectos de Ingeniería. Universitat Politécnica de Catalunya.
Gespaser SA.
Boer, L.; Labro, E. Morlacchi, P. (2001) A review of methods supporting supplier
selection. European Journal of Purchasing & Supply Management 7. 75-89.
Bof, V. S.; Sant'ana, T. D. C.; Wanke, R.; Silva, G. M. ; Salim, F. P. C. ; Nardotto, J. I. ;
Suzart Netto, E. ; Pegoretti, J. M. (2001). ETEs Compactas associando reatores
anaeróbios e aeróbios ampliam a cobertura do saneamento no Estado do Espírito
Santo. Trabalho II-0170. 21o. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental, Anais do, ABES, João Pessoa, PB, 16-21 de setembro de 2001.
BRASIL. Lei Federal Nº 9.433 (1997). Política Nacional de Recursos Hídricos: Brasília,
Ministério do Meio Ambiente.
Brites, C.R.C. Abordagem multiobjetivo na seleção de sistemas de reúso de água em
irrigação paisagística no Distrito Federal: 2008. Dissertação de Mestrado em
Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos. Universidade de Brasilía.
Brostel, R.C. (2002). Formulação de modelo de avaliação de desempenho global de
Estações de Tratamento de Esgotos Sanitários (ETEs). Dissertação de Mestrado,
Publicação PTARH.DM - 56/02, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, DF, 278 p.
Buarque, C. (1983) Tecnologia Apropiada: Una Politica para la Banca de Desarrollo de
America Latina. Lima, Peru: ALIDE – Asociación Latinoamericana de Instituciones
Financieras de Desarollo.
Buer, T. and Cumin, J. (2010). MBR module design and operation. Desalination,
Vol.250(3), pp.1073-1077
Carneiro, G.A.; Barbosa, R.F.M.; Souza, M.A.A. (2001) Tecnologia apropriada em
saneamento: uma nova abordagem com o emprego de análise multiobjetivo e
multicritério. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 21º,
João Pessoa. Anais. João Pessoa: ABES.
Chapman S.; G. Leslie; I. Law. (2001). Membrane Bioreactors (MBR) for Municipal
Wastewater Treatment – An Australian Perspective Stephen Chapman. Disponivel
em:
<http://www.sswm.info/sites/default/files/reference_attachments/CHAPMAN%20et
%20al%20ny%20MBR%20for%20Minicipal%20Wastewater%20Treatment.pdf>.
Acessado em 18 de Janeiro de 2015.
Chernicharo, C.A.L. (2007). Reatores anaeróbios. Belo Horizonte: Departamento de
Engenharia Sanitária e Ambiental – UFMG. 2 ed. 380 p.
Chernicharo, C.A.L.; Van Haandel, A.C.; Foresti, E.; Cybis, L.F. (2001). Introdução. In:
Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Belo Horizonte: ABES –
PROSAB. 544p.
CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Resolução Nº. 54 (2005) – Estabelece
critérios gerais para reuso de água potável.
Costanzi, R.N.; Hespanhol, I.; Asada, L.N.; Marques, A. (2005). Tratamento de efluente
por reator biológico aeróbio com membrana visando o reúso de água. Revista
Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.9, (Suplemento), p.217-220.
Campina Grande, PB, DEAg/UFCG - http://www.agriambi.com.br
Côté, P., Buisson, H., Praderie, M. (1998) “Immersed Membranes Activated Sludge
Process Applied to the Treatment of Municipal Wastewater”, Water Science and
Technology, v. 38, n. 4-5, pp. 437-442.
Côté, P.; Alam Z.; Penny, J. (2012). Hollow fiber membrane life in membrane bioreactors
(MBR). Desalination 288. 145–151.

94
Côté, P.; Arviv, R.; Liu, M. (2004) Comparison of membranes options for water reuse and
reclamation. ZENON Environmental Inc., Canada.
Dagnino, R. P. (1978) Tecnologia Apropriada – Uma Alternativa? Dissertação de
Mestrado, Departamento de Economia, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 257p.
Dezotti, M.; SantÁnna Jr., G. L.; Bassin, J. P. (2011) Processos biológicos avançados para
tratamento de efluentes e técnicas de biologia molecular para estudo da diversidade
microbiana. Editora Interciência Ltda, Rio de Janeiro, Brasil, 368 p.
Di Bella, G.; Durante, F.; Torregrossa, M.; Viviani, G. (2010). Start-up with or without
inoculum? Analysis of an SMBR pilot plant. Desalination 260, 79–90.
EPA. (2002). Onsite wastewater treatment systems manual. Office of Water.Office of
Research and Development. EPA-625-R-00-008. Washington, DC: Government
Printing Office.
EPA. United States Environmental Protection Agency – USEPA. (2007). Wastewater
management fact sheet. Membrane bioreactors. Setembro. Disponível em:
<http://water.epa.gov/scitech/wastetech/upload/2008_01_23_mtb_etfs_membrane-
bioreactors.pdf>. Acessado em: 18/12/2014.
Felizatto, M.R.; Nery, F.C.; Rodrigues, A.S.; Silva, C.M. (2016). Water reuse for
landscape irrigation and toilet flushing in Brasilia, Brazil. Good practice examples
and future research needs in Safe use of wastewater in agriculture workshop. United
Nations University: UNU-Flores. 24-25 Fevereiro 2016, Lima, Peru.
Figueira, J.; Mousseau, V.; Roy, B (2005).."ELECTRE methods". In J. Figueira, S. Greco,
and M. Ehrgott, editors,Multiple Criteria Decision Analysis: State of the Art Surveys,
pages 133-162. Springer Verlag, Boston, Dordrecht, London.
Ganoulis, J. (2011). Risk analysis of wastewater reuse in agriculture. 1st International and
4th National Congress on Recycling of Organics Wastes in Agriculture 9 – 10
November, Isfahan, Iran
Giacobbo, A.; Feron, G.L.; Rodrigues, M.A.S.; Bernardes, A.M.; Meneguzzi, A. (2011).
Utilização de biorreator à membrana para tratamento de efluentes. HOLOS, Ano
27, Volume 1.
Gil, J.A.; Dorgeloh, E.; Van Lier, J.B.; Van Der Graaf, J.H.J.M.; Prats, D. (2012). Start-up
of decentralized mbrs. Part I: The influence of operational parameters. Desalination
285. 324–335.
Gomes, L.F.A.M.; Araya, M.C.G.; Carignano, C. (2004). Tomada de decisão em cenários
complexos. São Paulo, SP. Thomson, 168 p.
Goncalves, R. F.; Araújo, V. L. ; Chernicharo, C. A. L. . Association of a UASB reactor
and a submerged aerated biofilter for domestic sewage treatment. Water Science and
Technology, v. 38, n.8-9, p. 189-195, 1998.
Guo, X.; Liu, Z.; Chen, M.; Liu, J.; Yang, M. (2014). Decentralized wastewater treatment
technologies and management in Chinese villages. Front. Environ. Sci. Eng., 8(6):
929–936
Hai, F. I. and Yamamoto, K. (2011). Membrane Biological Reactors. In P. Wilderer (Eds.),
Treatise on Water Science (pp. 571-613). UK: Elsevier.
Ho, W.; Xu, X.; Dey, P.K. (2010) Multi-criteria decision making approaches for supplier
evaluation and selection. European Journal of Operational Research 202, 16–24.
Hunt, C.C. Modelo Multicritério de apoio à decisão aplicada á seleção de sistema de
tratamento de esgoto para pequenos municípios. 2013.118f. Dissertação (mestrado) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica e Escola de Química,
Programa de Engenharia Ambiental, Rio de Janeiro, 2013.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico. Rio de Janeiro: 2010.

95
IWA (2014) Activated Sludge – 100 years and Couting. Chapter 16: Membrane
bioreactors. Crawford, G.V.; Judd, S.; Zsirais, T.
IWA. International Water Association. (2011). 10th Specialized Conference on Small
Water and Wastewater Systems and 4th Conference on Decentralised Water and
Wastewater International Network. 18the22nd April 2011, Venice, Italy.
Jordão, E. P. e Pessôa, C. A. (2009)Tratamento de esgotos domésticos. Rio de
Janeiro: ABES, 4. ed.
Judd, S. (2006). The MBR book: principles and applications of membrane bioreactors in
water and wastewater treatment. 1 Ed., San Diego, California, USA. Elsevier Ltda.
Judd, S. (2008). The status of membrane bioreactor technology. Trends in Biotechnology,
February 2008, Vol.26(2), pp.109-116. Elsevier Ltd.
doi:10.1016/j.tibtech.2007.11.005.
Judd, S. (2015). The status of industrial and municipal effluent treatment with membrane
bioreactor technology. Chemical Engineering Journal.
Judd, S.; Judd, C. (2011). The MBR book: principles and applications of membrane
bioreactors for water and wastewater treatment. 2 ed. Oxford: Elsevier/Butterworth-
Heinemann. Burlington, MA. 519 p.
Kelemenis, A. e Askounis, D. (2010) A new TOPSIS-based multi-criteria approach to
personnel selection. Expert Systems with Applications 37, 4999–5008
Kligerman, D.C. (1995) Esgotamento Sanitário: de Alternativa Tecnológica a Tecnologias
Apropriadas – Uma Análise Técnica, Econômica e Social. Dissertação de mestrado
do curso de Planejamento Urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 154p.
Krzeminski, P.; van der Graaf, J.H; van Lier, J.B. (2012). Specific energy consumption of
membrane bioreactor (MBR) for sewage treatment, Water Sci. Technol. 65. 380.
Libralato, G.; Ghirardini, A.V.; Avezzù, F. (2012). To centralize ou to decentralize: An
overview of the most recent trends in wastewater treatment management. Journal of
Environmental Management 94. 61e68.
Luna, M.L.D.; Sousa, J.T.; Lima, V.L.A.; Alves, A.S.; Pearson, H.W. (2013). Pós-
tratamento de efluente de tanque séptico utilizando filtros intermitentes de areia
operando em condições tropicais. Scientia Plena 9, 093102.
Maton, L.; Psarras, G.; Kasapakis, G.; Chartzoulakis, K.; Lorenzen, J.R.; Andersen, M.;
Bak, S.N.; Boesen, M.; Pedersen, S.M.; Kloppmann, W. (2010) Assessing the net
benefits of using wastewater treated with a membrane bioreactor for irrigating
vegetables in Crete. Agricultural Water Management, Vol.98(3), pp.458-464.
Mendonça, E.C. (2009). Metodologia para avaliação de desempenho de sistemas de
drenagem urbana. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental e recursos
Hídricos, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, universidade de Brasília,
DF, 171 p.
Mendoza, G.A. e Martins, H. (2006) Multi-criteria decision analysis in natural resource
management. Forest Ecology and Management 230, 1–22.
Metcalf e Eddy. (1991). Wastewater engineering: treatment, disposal and reuse. 3ª
Edição. McGraw-Hill Book Company, New York, EUA. 1334p.
Metcalf e Eddy. (2003). Wastewater engineering e Treatment and reuse. 4ª Edição.
McGraw-Hill Book Company, New York, EUA.
Metcalf e Eddy. (2007). Water Reuse: Issues, Technologies, and Applications. 5ª Edição.
McGraw-Hill Book Company, New York, EUA.
Molinos-Senante, M.; Garrido-Baserba, M.; Reif, R; Hernández-Sancho, F.; Poch, M.
(2012) Assessment of wastewater treatment plant design for small communities:

96
Environmental and economic aspects. Science of the Total Environment, 427–42811–
18.
Neder, K.D.; Carneiro, G. A.; Queiroz, T.R.; Souza, M.A.A. (2002). Selection of natural
treatment processes for algae removal from stabilisation pond effluents in Brasília,
using multicriterion methods. Water Science and Technology 46 (4−5), 347−354.
Neoh, C.H.; Noor, Z.Z.; Mutamim, N.S.A.; Lim, C.K. (2016) Green technology in
wastewater treatment technologies: Integration of membrane bioreactor with various
wastewater treatment systems. Chemical Engineering Journal 283. 582–594.
Oakley, S.M.; Gold, A.J; Oczkowski, A.J. (2016) Nitrogen control through decentralized
wastewater treatment: Process performance and alternative management strategies.
Ecological Engineering 36, 1520–1531.
Oliveira, M.T.C.S. e Moraes, L.R.S. (2005). A tecnologia apropriada e o sistema
condominial de esgoto sanitário: uma revisão conceitual. 23º Congresso Brasileiro
de Engenharia Sanitária e Ambiental,1-19, Campo Grande/MS.
Ouyang, X.; Guo, F.; Shan, D. Yu, H.; Wang, 7. (2015). Development of the integrated
fuzzy analytical hierarchy process with multidimensional scaling in selection of
natural wastewater treatment alternatives. Ecological Engineering 74 (2015) 438–447
Pearce, G.K. (2008). UF/MF pre-treatment to RO in seawater and wastewater reuse
applications: a comparison of energy costs. Desalination 222, 66–73
Phillips, K. (2015) Membrane system boosts water reuse Filtration and Separation,
Vol.52(3), pp.40,42-40,43. Disponivel em:
<http://www.filtsep.com/view/42310/membrane-system-boosts-water-reuse/>.
Acessado em 25 de agosto de 2015.
Poh, K.L. (1998) A knowledge-based guidance system for multi-attribute decision making.
Anijicial Intelligence in Engineering 12, 315-326.
PROSAB (1999). Tratamento de esgotos sanitários por processo anaeróbio e disposição
controlada no solo. Rio de Janeiro: ABES. José Roberto Campos.
Rosseto, R.; Pagotto Jr, R. Santos, M.A.; Gasperi, R.L.P.; Andrade, J.P.M. (2014).
Aspectos técnicos e operacionais da EPAR Capivari II. Revista Online: Pollution
Engineering, Disponível em: <http://www.revistape.com.br/artigo-tecnico/aspectos-
tecnicos-e-operacionais-da-epar-capivari-ii/2206>. Acessado em 20 de dezembro de
2014.
Roy, B. (1985). Méthodologie Multicritère d'Aide à la Decision, Economica, Paris, 423p.
Roy, B. (1991). The outranking approach and the foundations of electre methods. Theory
and Decision. 31: 49-73, Kluwer Academic Publishers.
Sadr, S.M.K.; Onder, T. Saroj, D.; Ouki, S. (2013). Appraisal of membrane processes for
technology selection in centralized wastewater reuse scenarios. Sustain. Environ.
Res., 23(2), 69-78
Sadr, S.M.K.; Saroj, D.P. ; Kouchaki, S.; Ilemobade, A.A.; Ouki, S.K. (2015). A group
decision-making tool for the application of membrane technologies in different water
reuse scenarios. Journal of Environmental Management 156 97e108.
Santasmasas, C.; Rovira, M.; Clarens, F.; Valderrama, C. (2013) Grey water reclamation
by decentralizes MBR prototype. Resources, Conservation and Recycling 72 102–
107.
São Paulo. Lei Estadual Nº 13276 (2002). Torna obrigatória a execução de reservatório
para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes edificados ou não, que
tenham área impermeabilizada superior a 500,00m²
Sartor, M.; Kaschek, M.; Mavrov, V. (2008). Feasibility study for evaluating the client
application of membrane bioreactor (MBR) technology for decentralised municipal
wastewater treatment in Vietnam. Science Direct. Desalination 224 172–177.

97
Schneider, R.P. e Tsutiya, M.T. (2001). Membranas Filtrantes para o Tratamento de
Água, Esgoto e Água de Reúso. ABES-Associação Brasileira de Engenharia Sanitária
e Ambiental, São Paulo, Brasil.
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS. (2014) Disponível em:
<http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos>. Acessado em 17 de abril de
2016.
Skouteris, G.; Arnot, T.C.; Feki , F.; Jraou, M.; Sayadi, S. (2012a). Operation of a
submerged aerobic membrane bioreactor for decentralised municipal wastewater
treatment in North Africa. Water Practice & Technology Vol 7. Nº 3.
doi:10.2166/wpt.2012.055.
Skouteris, G.; Hermosilla, D.; López, P.; Negro, C.; Blanco, Á. (2012b). Anaerobic
membrane bioreactors for wastewater treatment: A review. Chemical Engineering
Journal, Vol.198-199, pp.138-148.
Souza, M. A. A. (1992) "Methodology for Selection of Wastewater Treatment Processes".
PhD. Thesis. Birmingham, UK: School of Civil Engineering, The University of
Birmingham.
Souza, M. A. A., Carneiro, G. A., Lopes Júnior, R. P. E Cordeiro Netto, O. M. (2001)
Análise Tecnológica de Alternativas para Pós-tratamento de Efluentes de Reatores
Anaeróbios. Trabalho II-088. 21o. Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e
Ambiental, Anais do, ABES, João Pessoa, PB, 16-21 de setembro de 2001 (meio
digital).
Souza, M.A.A. (2014). Notas de aula da disciplina análise de sistemas ambientais,
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos,
Universidade de Brasília.
Souza, M.A.A. e Foster, C.L. (1996). Metodologias para seleção de processos de
tratamento de águas residuárias. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental. Volume
2. Nº 1.
Subtil, E.L.; Hespanhol, I.2; Mierzwa, J.C. (2013). Biorreatores com Membranas
Submersas (MBRs): alternativa promissora para o tratamento de esgotos sanitários
para reuso. Rev. Ambiente & Água. vol. 8 n. 3 Taubaté.
Tai, C. S.; Snider-Nevin, J.; Dragasevich, J.; Kempson, J. (2014). Five years operation of a
decentralized membrane bioreactor package plant treating domestic wastewater.
Water Practice & Technology Vol 9 No 2. doi: 10.2166/wpt.2014.024.
Tecle, A.; Fogel, M.; E Duckstein, L. (1988) Multicriterion Selection of Wastewater
Management Alternatives. Journal of Water Resources Planning and Management
Division. Proceedings of ASCE, 114 (4) 383-398.
Trinh, T.; Branch, A.; Hambly, A.C; Carvajal, G.; Coleman, H.M.; Stuetz, R.M.; Drewes,
J.; Le-Clech, P. Khan, S.J. (2016). Hazardous events in membrane bioreactors – Part
1: Impacts on key operational and bulk water quality parameters. Journal of
Membrane Science 497, 494–503.
Vanzetto, A.S. (2012). Análise das alternativas tecnológicas de desaguamento de lodos
produzidos em estações de tratamento de esgoto. Dissertação de Mestrado em
Tecnologia Ambiental e recursos Hídricos, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, universidade de Brasília, DF, 185 p.
Verrecht, B.; Maere, T.; Benedetti, L.; Nopens, I.; Judd, S. (2010). Model-based energy
optimisation of a small-scale decentralised membrane bioreactor for urban reuse.
Science Direct. Water Research 44. 4047-4056.
Von Sperling, M. (1995). Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos.
Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFMG, v.1,
240 p.

98
Von Sperling, M. (2005). Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgoto,
Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. UFMG Vol.1. Belo
Horizonte, Brasil, 53-116p.
Wang, J.J.; Jing, Y.Y.; Zhang, C.F; Zhao, J.H. (2009) Review on multi-criteria decision
analysis aid in sustainable energy decision-making. Renewable and Sustainable
Energy Reviews 13, 2263–2278.
WEF – Water Environment Federation. (2012). Membrane Bioreactors: WEF Manual of
Practice Nº 36. McGraw-Hill Professional.
Werner, M. (2009). Water and wastewater systems sustainability in remote Australia.
Master of Engineering thesis, School of Civil, Mining and Enviromental Engineering
Faculty of Engineering, university of Wollongong.
Willoughby, K.W. (1990) Technology Choice: A Critique of the Appropriate Technology
Movement. London, UK: Intermediate Technology Publications.
Wu, L., Weiping, C., French, C., and Chang, A. (2009). Safe Application of Reclaimed
Water Reuse in the Southwestern United States. University of California Extension
Publication #8357. URL: http://anrcatalog.ucdavis.edu
Yang, W.; Cicek, N.; Ilg, J. (2006) State-of-the-art of membrane bioreactors: worldwide
research and commercial applications in North America. Journal of Membrane
Science, V. 270, p. 201-211.
Yoon, S. H.; Kim, H. S.; Yeom, I. T. (2004). “The Optimum Operational Condition of
Membrane Bioreactor (MBR): Cost Estimation of Aeration and Sludge Treatment”,
Water Research, v. 38, pp. 37–46.
Yoon, S.H. (2015) Membrane Bioreactor Processes: Principles and Applications. 452 p.
Hoboken : CRC Press.
Zanakis, S.H.; Solomon, A.; Wishart, N.; Dublish, S. (1998) Multi-attribute decision
making: A simulation comparison of select methods. European Journal of
Operational Research IO7, 507-529

99
APÊNDICE A - DIMENSIONAMENTO

1. Dimensionamento da membrana

A primeira etapa do dimensionamento constitui a concepção da membrana. A partir de


estudos piloto e orientações fornecidas pelo fabricante, determinam-se: (1) a área da
membrana nas condições de pico e o volume mínimo do tanque de membrana; (2) a
Demanda Específica de Aeração necessária (SADm); (3) a capacidade de aeração para a
limpeza da membrana; e (4) a contribuição da capacidade de aeração por meio do balanço
de massa da Equação (A.1).

𝐴𝑚
𝑉𝑚,𝑚𝑖𝑛 =
∅𝑡𝑎𝑛𝑞𝑢𝑒
(A.1)
na qual:
Am: área da membrana
φ: Densidade de empacotamento da membrana

2. Dimensionamento do sistema biológico

A segunda etapa do dimensionamento é a concepção do processo biológico, apresentada


em seguida com detalhes, baseado no modelo de dimensionamento proposto por Judd
(2011).

O primeiro passo é a determinação do tempo de retenção de sólidos (Ɵx,aer) necessário


para atingir a concentração desejada de amônia (Ne), baseado na taxa de crescimento de
bactérias nitrificantes (µn) que estão apresentadas nas Equações (A.2) e (A.3).

𝜇 𝑁 𝑂𝐷
𝜇𝑛 = ( 𝐾𝑛,𝑚+𝑁 𝑒) (𝑘 ) − 𝐾𝑒,𝑛 (eq. 2)
𝑛 𝑒 𝑂 +𝑂𝐷

(A.2)
1
𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 = 𝑆𝐹
𝜇𝑛
(A.3)
Na qual:
µn,m: Taxa de nitrificação máxima de crescimento específico, gSSV/(gSSV d)

100
Ne: Amônia total, nitrogênio total ou NTK no efluente, mg/L
OD: oxigênio dissolvido
Kn: Meio coeficiente de saturação para a nitrificação
Ko: Meio coeficiente de saturação para o oxigênio
Ke,n: Coeficiente de decaimento endógeno Nitrificação, gSSV/(g SSV d)
SF: fator de segurança (adotado 1.5)

Baseado no Ɵx,aer, o cálculo de produção de biomassa (Mx,bio) pode ser encontrado


conforme a Equação (A.4). Inicialmente, usa-se uma estimativa do NOx sendo 80% de
TKN para o cálculo da produção de biomassa. Calculou-se, ainda, a concentração de DBO
efluente pela Equação (A.5).

𝑄𝑌 (𝑆 − 𝑆𝑒 ) 𝑓𝑑 𝐾𝑒 𝑄𝑌(𝑆 − 𝑆𝑒 )𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 𝑄𝑌𝑁 (𝑁𝑂𝑋 )


𝑀𝑥,𝑏𝑖𝑜 = + +
1 + 𝐾𝑒 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 1 + 𝐾𝑒 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 1 + 𝐾𝑒,𝑛 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟
(A.4)

𝑘𝑠 (1 + 𝐾𝑒 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 )
𝑆𝑒 =
𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 (𝜇𝑚 − 𝐾𝑒 ) − 1
(A.5)
Na qual:
Ks: coeficiente de saturação, gDQO/m3
Ke: Coeficiente de decaimento endógeno heterotrófico, gSSV/(g SSV d)
S: DBO afluente, g/m3
Se: DBO efluente, g/m3
fd: Fração da biomassa que permanece como detritos celulares, geralmente 0,1-0,15
gSSV/g substrato
Q: vazão média m³/d
Y: Coeficiente de produção heterotrófico, gSSV/(gDBO)
YN: Coeficiente de produção de nitrificação, gSSV/(gDBO)
NOx: Concentração de NTK oxidável ao nitrato, g/m3
µm: Taxa máxima de crescimento específico heterotróficos, gSSV/(gSSV d)

Chega-se, então, ao momento de calcular a concentração NOx com a Equação (A.6),


usando o valor de Mx,bio encontrado pela Equação 4 e pela concentração de TKN oxidado
para forma de nitrato em (g.m-3).
𝑀𝑥,𝑏𝑖𝑜
𝑁𝑂𝑋 = 𝑇𝐾𝑁 − 𝑁𝑒 − 0.12
𝑄
(A.6)
Na qual:
TKN: nitrogênio afluente, g/m3

101
Após calcular concentração de NTK oxidável ao nitrato (NOx), faz-se a iteração desse
novo valor encontrado com a Equação (A.4), para encontrar um novo valor de Mx,bio.

No próximo passo, determina-se a produção de biomassa total (MX,TSS) por adição da


fração não biodegradável no afluente SSVNB e SSTInerte por meio das Equações (A.7), (A.8)
e (A.9), respectivamente.
𝑀𝑥,𝑏𝑖𝑜
𝑀𝑋,𝑆𝑆𝑇 = + 𝑄(𝑆𝑆𝑉𝑁𝐵 + 𝑆𝑆𝑇𝑖 )
0.85
(A.7)

𝐷𝑄𝑂𝐵𝑃
𝑆𝑆𝑉𝑁𝐵 = (1 − ) 𝑆𝑆𝑉
𝐷𝑄𝑂𝑃
(A.8)

𝑆𝑆𝑇𝑖 = 𝑆𝑆𝑇 − 𝑆𝑆𝑉


(A.9)
Na qual:
DQObp: Demanda química de oxigênio particulada total, g/m3
DQOb: Demanda química de oxigênio particulada biodegradável, g/m3
SSVNB: Sólidos suspensos voláteis não-biodegradáveis, g/m³
SSTI: Sólidos suspensos totais inertes, g/m3

Usando valores adotados para o SSLM e o TRS aeróbio, o volume do tanque aeróbio pode
ser calculado por meio da obtenção da massa de sólidos sendo aerada. Então, utilizando o
SSLM aeróbio para converter essa massa para o volume ocupado de sólidos, obtém-se a
Equação (A.10) para determinar o volume do tanque aeróbio (Vaer).

𝑀𝑋,𝑆𝑆𝑇 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟
𝑉𝑎𝑒𝑟 =
𝑋𝑎𝑒𝑟
(A.10)
Na qual:
Xaer: Concentração do SSLM na zona aeróbia, g/m3

A concentração do SSLM na zona anóxica (Xanox) pode ser encontrada por meio da
equação (A.11).
𝑟𝑖𝑛𝑡
𝑋𝑎𝑛𝑜𝑥 = 𝑋𝑎𝑒𝑟 ( )
1 + 𝑟𝑖𝑛𝑡
(A.11)

102
Na qual:
rint: taxa de recirculação interna (adimensional)

Para calcular a concentração do SSLM na zona aeróbia utiliza a Equação (A.12) a seguir.

𝑟𝑚𝑟
𝑋𝑎𝑒𝑟 = 𝑋𝑚 ( )
1 + 𝑟𝑚𝑟
(A.12)
Na qual:
rmr: Razão de recirculação da membrana (adimensional)
Xm: Nível do licor misto de sólidos em suspensão de no tanque de membrana, g/m3

A vazão de descarte do lodo (Qw) pode ser determinada em função do volume do tanque
aeróbio com o TRS aeróbio, pelo emprego da Equação (A.13) a seguir.

𝑉𝑎𝑒𝑟
𝑄𝑊 =
𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟
(A.13)

O volume do tanque anóxico necessário deriva de um processo de iteração (processo


iterativo), sujeito à restrição de que a capacidade de desnitrificação (NOr, KgNO3-N/d) tem
que ser maior do que a carga de nitrato (NOcarga, em kg de NO3-N/dia) inferida a partir da
zona aeróbia por meio do fluxo de recirculação (Qint, em m³/dia), calculadas pelas
Equações (A.14) e (A.15), respectivamente.

𝑁𝑂𝑟 = 𝑉𝑎𝑛𝑜𝑥 𝑋𝑏,𝑎𝑛𝑜𝑥 𝑆𝐷𝑁𝑅


(A.14)

𝑀𝑥,𝑏𝑖𝑜
𝑁𝑂𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 = 𝑄 𝑟𝑖𝑛𝑡 (𝑇𝑁𝐾 − 𝑁𝑒 − 0.12 )
𝑄
(A.15)
Na qual:
SDNR: taxa de desnitrificação especifica, (gNO3-N/g SSVLM d)

A taxa de recirculação (rint) necessária para obter a concentração de nitrato desejada NOe, é
dada pela Equação (A.16).
𝑁𝑂𝑥
𝑟𝑖𝑛𝑡 = −1
𝑁𝑂𝑒

103
(A.16)
Na qual:
NOe: Concentração de nitrato efluente, g/m3

Em sequência, o procedimento adotado exige que se compare a capacidade de


desnitrificação obtida (NOR) com a NOcarga, e que se ajuste o TRHanoxico se o valor de NOR
for inadequado. A fração da biomassa ativa na zona anóxica (Xb,anox) leva em conta o rint e
pode ser encontrado pelo emprego da Equação (A.17) mostrada a seguir

𝑄 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 𝑌 (𝑆 − 𝑆𝑒 ) 𝑟𝑖𝑛𝑡
𝑋𝑏,𝑎𝑛𝑜𝑥 = ( )( )( )
𝑉 1 + 𝐾𝑒 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 𝑟𝑖𝑛𝑡 + 1
(A.17)

Para determinar a razão alimento/micro-organismo (A/M) é necessário escolher o TRH


anóxico, calculado pela Equação (A.18).
𝐴⁄ = 𝑄𝑆
𝑀 𝑉𝑎𝑛𝑜𝑥 𝑋𝑏,𝑎𝑛𝑜𝑥
(A.18)
Na qual:
Xb,anox; Biomassa ativa na zona anóxica, g/m3

Para uma determinada capacidade de desnitrificação insuficiente para desnitrificar a carga


de nitrato de entrada, o valor do Vanox tem de ser ajustado e o procedimento reiterado até
surgir um valor para o Vanox que garanta a capacidade de desnitrificação suficiente.

A taxa de desnitrificação especifica (SDNR) baseada na taxa A/M de DQOb pode ser
encontrada empiricamente, por meio de interpolação na Figura A.1.

Figura A.1 - Curvas cinética de nitrificação


(Judd, 2011)

104
O controle do TRS em um sistema biológico aeróbio determina a taxa de degradação de
substrato, a nitrificação, e a produção de lodos em excesso e a concentração da biomassa.
O TRS é tipicamente baseado nos objetivos desejados para o tratamento. Contudo, algumas
empresas têm indicado um requisito mínimo para o valor de TRS de 8 a 10 dias (WEF,
2012).

O TRS total do processo pode ser encontrado por meio da adição do TRS anóxico e
aeróbio, e é controlado pelo descarte periódico dos sólidos (lodo) do processo, como
mostrado na Equação (A.19).

𝑉𝑎𝑒𝑟 𝑋𝑎𝑒𝑟 + 𝑉𝑎𝑛𝑜𝑥 𝑋𝑎𝑛𝑜𝑥


𝜃𝑥,𝑝𝑟𝑜𝑐𝑒𝑠𝑠𝑜 = = 𝜃𝑥,𝑎𝑒𝑟 +𝜃𝑥,𝑎𝑛𝑜𝑥
𝑄𝑤 𝑋𝑎𝑒𝑟
(A.19)

Após seguir esses passos utilizando as equações mostradas, deve-se calcular a demanda de
Oxigênio (MO) para o tratamento biológico pelo emprego da Equação (A.20).

𝑀𝑂 = 𝑄 (𝑆 − 𝑆𝑒 ) − 1.42 𝑀𝑥,𝑏𝑖𝑜 + 4.33 𝑄 𝑁𝑂𝑥 − 2.86𝑄(𝑁𝑂𝑥 − 𝑁𝑂𝑒 )


𝑀𝑂 = 𝑀𝑚 + 𝑀𝑏
(A.20)
Na qual:
Mm: Oxigênio transferido pela aeração da membrana, kg/d
Mb: Oxigênio necessário pela a aeração biológica, kg/d

3. Dimensionamento do Sistema de aeração

A terceira etapa do dimensionamento consiste em conceber o sistema de aeração,


apresentado em seguida com detalhes.

Inicialmente, calcula-se o Fator de Correção dos sólidos suspensos (α) pela Equação
(A.21), onde x refere-se a bolhas finas ou grosseiras.

𝛼 = 𝑒 −𝜔𝑥 𝑋
(A.21)

105
Na qual:
ω: Fator para a bolha de aeração (adimensional)
X: Concentração do SSLM, g/m3

Em seguida, deve-se determinar o fator de correção da temperatura (φ) pela Equação


(A.22).

φ = 1.024(𝑇−20)
(A.22)
Na qual:
T: temperatura, °C

Posteriormente, calcula-se a taxa de aeração na membrana (QA,m) pela Equação (A.23).

𝑄𝐴,𝑚 = 𝑆𝐴𝐷𝑚 𝐴𝑚
(A.23)
Na qual:
SADm: Demanda de aeração específica em relação à área da membrana, Nm³/(m² h)
Am: Área da membrana, m²

Após determinar a taxa necessária para aerar a membrana, encontra-se a transferência de


O2 pela membrana (Mm), em Kg O2/d de acordo com a Equação (A.24).

𝑀𝑚 = 𝑄𝐴,𝑚 𝜌𝐴 (𝑆𝑂𝑇𝐸𝑔𝑟𝑜𝑠𝑠𝑎 𝑦𝑔𝑟𝑜𝑠𝑠𝑎 )𝑂𝐴,𝑚 𝛼𝛽𝜑


(A.24)
Na qual:
QA,m: vazão de aeração da membrana
ρA: Densidade do ar, Kg/m3
SOTEgrossa: Padrão de eficiência de transferência de oxigênio, bolha de aeração grossa,
%.m-1
Ygrossa: Profundidade do aerador de bolha grossa, m
OA,m:Percentagem de massa do oxigénio no ar, %
α: Relação da transferência de massa de oxigénio em suspensão com água pura
(adimensional)
β: Relação de transferência de massa de oxigénio em água salina com água pura
(adimensional)

O fluxo de ar líquido para atender aos requisitos biológicos (QA,b), em Nm³/h é dado pela
Equação (A.25).

106
𝑀𝑂 − 𝑀𝑚
𝑄𝐴,𝑏 =
𝜌𝐴 (𝑆𝑂𝑇𝐸𝑓𝑖𝑛𝑎 𝑌𝑓𝑖𝑛𝑎 )𝑂𝐴,𝑚 𝛼𝛽𝜑
(A.25)
Na qual:
MO: Oxigênio total necessário, kg/d
Mm: Oxigênio transferido pela aeração da membrana, kg/d
SOTEfina: Padrão de eficiência de transferência de oxigênio, bolha de aeração fina, %/m
Yfina: Profundidade do aerador de bolha fina, m
α: Relação de transferência de massa de oxigênio no lodo com a água pura
β: Relação da transferência de massa de oxigénio dissolvido na operação com concentração
de sólidos com a água pura.

4. Resultados do dimensionamento

Tabela A.1 - Dimensionamento do sistema de membrana.


Dimensionamento da Membrana
Valores adotados /
Parâmetros calculados
Q: vazão média (m³/d) 0.8
Qmax: vazão de pico (m³/d) 0.96
Q: vazão média ou fluxo de permeado (m³/h) 0.033
Qmax: vazão de pico (m³/h) 0.04
Jnet* (LMH) 9.167
Jnet,pico (LMH) 11
Área da membrana (m²) 3.636
φ: Densidade de empacotamento da membrana (m²/m³) 45
QA,M: vazão de aeração na membrana (Nm³/h) 1.091
Volume Minimo (m³) 0.081
SADm: Demanda especifica de aeração em relação a área da membrana
Nm³/(m² h) 0.3
SADp: Demanda especifica de aeração em relação ao vol. de permeado
(Nm³ar/m³permeado) 32.727
Xm: Nível do licor misto de sólidos em suspensão e no tanque de
membrana, (g/m3) 10000

107
Tabela A.2 - Dimensionamento do sistema biológico aeróbio
Dimensionamento do Sistema Biológico
Zona aeróbia
Parâmetros Valores adotados /calculados
Q: vazão média (m³/d) 0.8
S: DBO afluente (g/m³) 229
SF: fator de segurança 3
µn,m: Taxa de nitrificação máx de cresc específico, gSSV/(gSSV d) 0.75
Ne: concentração de Amônia efluente, (g/m³) 0.7
OD: oxigênio dissolvido (g/m³) 2
Kn: Meio coeficiente de saturação para a nitrificação 0.74
Ko: coeficiente de saturação para o oxigênio 1
Ke,n: Coeficiente de decaimento endógeno Nitrificação, (gSSV/g SSV d) 0.08
Ks: coeficiente de saturação, (gDQO/m³) 20
Ke: Coeficiente de decaimento endógeno heterotrófico, gSSV/(g SSV d) 0.12
µm: Taxa máxima de crescimento específico heterotróficos, (d-1) 6
fd: Fração da biomassa que permanece como detritos celulares, gSSV/g substrato 0.15
Y: Coeficiente de produção heterotrófico, gSSV/(GDBO) 0.4
YN: Coeficiente de produção de nitrificação, gSSV/(GDBO) 0.12
NTK: nitrogênio afluente, g.m-³ 40
SST: Sólidos Suspensos Totais afluente (g/m³) 151
SSV: Sólidos Suspensos Volateis afluente (g/m³) 107
DQO: Demanda quimica de oxigenio (g/m³) 481
fbp: Fração de DQO lentamente biodegradável 0.5
fup: Fração de DQO particulada não biodegradável 0.25
rmr: Razão de recirculação da membrana 4
-1
µn: taxa de crescimento especifica das bactérias nitrificantes (d ) 0.16
TRS (Ɵx,aer) (dia) 18.40
Yobs: Coeficiente de produção observador (gSSV /gDBO) 0.23
Px,het: Produção de biomassa (g/dia) 41.65
Px,aut: Produção de biomassa (g/dia) 0.00
Px,bio: Produção de biomassa (KgSSV/dia) 0.04
-3
Se: DBO efluente, g.m 0.60
NOx: Concentração de NTK oxidável ao nitrato (g/m³) 33.05
PX,TSS: Determinar a produção de biomassa total (Kg SST/dia) 0.11
SSVNB: Sólidos suspensos voláteis não-biodegradáveis (g/m³) 35.67
SSTi: Solidos suspensos totais inerte (g/m³) 44.00
DQObp: Demanda química de oxigênio particulada total (g/m³) 240.50
DQOb: Demanda química de oxigênio particulada biodegradável (g/m³) 360.75
Vaer: volume do tanque aeróbio (m³) 0.26
Xaer: Concentração do SSLM na zona aeróbia (g/m³) 8000
Xm: Nível do licor misto de sólidos em suspensão e no tanque de membrana (g/m³) 10000
NOe: Concentração de nitrato efluente (g/m³) 10.00
Qw: Vazão de descarte de lodo (m³/d) 0.014
rint: taxa de recirculação interna 2.31
TRH aerobio (h) 7.78

108
Tabela A.3 - Dimensionamento do sistema biológico anóxico
Dimensionamento do Sistema Biológico
Zona anóxica
Parâmetros Valores adotados /calculados
Xanox; Concentração de SSLM na zona anóxica, (g/m³) 5579.63
Ɵx,anox: idade do lodo requerida para a nitrificação (d) 9.73
Xb,anox; Biomassa ativa na zona anóxica, (g/m³) 1127.71
Vanox: volume do tanque anóxico (m³) 0.197
A/Mb: relação alimento microorganismos 0.83
SDNR: taxa de desnitrificação especifica, (gNo3-N/g SSLMV d) 0.15
NOR: capacidade de desnitrificação (Kg/d) 0.0339
NOcarga: Carga de nitrato na zona anoxica (Kg/d) 0.0610
MO: Oxigênio requerido (kg O2/dia) 0.24
TRH anoxico (h) 5.90
Volume total do processo (m³) 0.456
Ɵx,processo- TRS do processo (dia) 28.13
Fração do volume total do tanque anoxico 0.43
TRH processo (h) 13.68

Tabela A.4 - Dimensionamento do sistema de aeração.


Biológico Membrana
Dimensionamento do sistema de aeração
Bolha fina Bolha grossa
α: Fator de correção dos sólidos suspensos (α) 0.511 0.432
ω: Fator para a bolha de aeração 0.084 0.084
X: Concentração do SSLM, (kg/L) 8 10
φ: Fator de correção da temperatura 1.00 1.00
T: temperatura, °C 20 20
QA,m: vazão de aeração da membrana (Nm³/h) - 1.091
SADm: Demanda de aeração específica em relação à área da
membrana, Nm3/(m2 h) - 0.30
Am: Área da membrana, (m²) - 3.636
Mm: Transferência de O2 pela membrana, em Kg O2.d-1 - 0.14
ρA: Densidade do ar, (Kg/m3) 1.2 1.2
SOTEx: Padrão de eficiência de transf. de O, bolha de aeração, %.m-1 0.05 0.02
Yx: Profundidade do aerador de bolha grossa, m 5 2.3
OA,m:Percentagem de massa do oxigénio no ar,% 23.2 23.2
β: Correção de transferência de massa de O em água salina com água
pura 0.95 0.95
MO: Oxigénio total necessário, kg/d 0.24 -
Mb: Oxigênio necessário pela aeração biológica, kg/d
(Mo-MM) 0.11 -
QA,b: Fluxo de ar líquido para atender aos requisitos biológicos,
(Nm³/h) - 0.032
t1: Temperatura de entrada do ar °C 20
P1: Pressão de entrada do ar flange de admissão do compressor
(Kg/cm² ou bar) 5000
Rh: umidade relativa do ar (%) 30
Pv: pressão parcial do vapor de água (Kg/cm² ou bar) 5
Conversão de Nm³/h = m³/h . (Tp/Tr) . [Pr - (Pv.Rh)]/Pp 4374.58

109
APÊNDICE B – LEVANTAMENTO DE CRITÉRIOS
Tabela B.1 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura
Souza Carneiro Sadr Sadr Ouyang Aydiner Metcalf Freq.
Souza Brostel Werner Ganoulis Tjandraatmadja
Nº. Critérios de avaliação et al. et al. et al. et al. et al et al. e Eddy de
(1992) (2002) (2009) (2011) et al. (2013)
(2001) (2001) (2013) (2015) (2015) (2016) (2007) uso %
1 Custo de capital (ou implantação) x x x x x x x x x 75
2 Custo de O&M (despesas contínuas) x x x x x x x x x x x 92
3 Consumo de energia x x x x x x 50
4 Impacto Ambiental x x x x x 42
Aceitação da comunidade/chefe da
5 x x x x x 42
família
6 Adaptabilidade x x x 25
7 Facilidade de construção e expansão x x x 25
8 Demanda por área x x x x x x 50
9 Nivel de complexidade x x x 25
10 Confiabilidade x x x x x x x x 67
11 Dificuldade de O&M x 8
Produção de resíduos sólidos/mínimo de
12 x x 17
resíduos/gestão de RS
13 Dificuldade de cond.de resíduos sólidos x 8
Exigência de equipamento
14 x x 17
importado/pacote completo
15 Quantidade de pessoal para O&M x x 17
16 Aplicabilidade do processo x x 17
17 Qualidade da agua residuária bruta x 8
18 Fatores climáticos/efeitos sazonais x x x x 33
19 Desempenho do processo x x 17
20 Compatibilidade com outros processos x x 17
21 Necessidade de pós-tratamento x 8
22 Sustentabilidade financeira x x 17
23 Dificuldade de implantação x 8
24 Quantidade de resíduos (lodo) produzidos x x x x x x 50
25 Manejo do lodo x x 17
26 Condições locais x 8
27 Regulamentações/legislação ambiental x x x x x 42

110
Tabela B.2 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura (continuação)
28 Necessidade da população x 8
Nivel de participação de engenheiros e
29 x 8
técnicos
30 Experiência previa com a tecnologia x 8
31 Beneficios sociais ou socioeconomicos x x x 25
32 Aspectos sócio-culturais x 8
33 Necessidade institucionais x 8
34 Nivel de gerenciamento necessario x 8
Qualidade do efluente/exigência do grau
35 x x x 25
de tratamento do efluente
36 Controle de qualidade da água recebida x x 17
37 Exigência da agencia reguladora x 8
Necessidade de gestão da bacia
38 x 8
hidrográfica
39 Alcance de projeto x 8
40 Plano de gestão de esgoto sanitário x 8
Possibilidade de regionalização do
41 x 8
tratamento de esgoto
42 Tamanho da população atendida x 8
43 Proliferação de mosquitos x 8
Risco à saúde/Conformidade com
44 x x 17
parametros de saúde
45 Produção de odores x x 17
46 Proximidade de áreas residenciais x 8
47 Tempo de detenção nominal do processo x 8
48 Disposição de residuos adequada x x 17
49 Exigencia de pessoal (mão de obra) x 8
Resistencia a choques de carga/demanda
50 x x x 25
durante horário de pico
Grau de simplicidade de implantação e
51 x x 17
ampliação
Grau de simplicidade de operação e
52 x x 17
manutenção
53 Gestão de manutenção x 8
54 Requisitos de operação x x 17

111
Tabela B.3 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura (continuação)
Seguro para operar/segurança e saúde no
55 x x 17
trabalho
56 Eficiência ambiental x 8
Sistema de monitoramento e controle
57 x x 17
operacional (remoto)
58 Eficiência do processo x 8
59 Especificidade da ETE x 8
Gestão de recursos humanos/Exigência
60 x 8
em capacitação de recursos humanos
61 Gestão de informação x 8
62 Gestão organizacional x 8
63 Viabilidade financeira x 8
64 Gestão ambiental e sustentável x 8
65 Participação social x 8
66 Efic.na remoção de matéria orgânica x 8
Efic. na remoção de nitrogênio/N no
67 x x x 25
efluente
68 Efic. na remoção de fósforo x x 17
Efic. na remoção de organismos
69 x x 17
patogênicos
70 Faixa de vazões aplicaveis x 8
71 Variação de vazões aplicaveis x 8
Constituintes inibitórios que não são
72 x 8
afetados
Dimensionamento com base na cinética
73 x 8
de reação/carga de massa
Dimensionamento com base nas taxas de
74 x 8
transferências de massa/ carga de massa
75 Requerimentos químicos x 8
Requerimento de outros recursos/
76 x x x 25
requisitos externo
Necessidade de processos
77 x 8
complementares
78 Análise de ciclo de vida x 8
79 Uso líquido da água x 8

112
Tabela B.4 – Levantamento dos critérios encontrados na literatura (continuação)
80 Volume de água residuária produzida x 8
81 Eutrofização por fósforo x 8
82 gases de efeito estufa produzido x 8
83 Oxidação fotoquímica x 8
84 Substancias cancerigenas x 8
85 Combustiveis fósseis x 8
Uso de recursos minerais e combustiveis
86 x x 17
fosseis/Consumo de recursos naturais
87 Capacidade de tratamento x 8
88 Ruído x 8
89 Interferência nas atividades domésticas x 8
90 Desempenho de recuperação de água x 8
Desempenho de recuperação do soro do
91 x 8
leite
92 Acessibilidade inicial x 8
93 Beneficio do investimento x 8
94 Retorno do investimento x 8
95 Economia de água x 8
96 Variação da qualidade da DBO x 8
97 Variação da qualidade da DQO x 8
98 Variação da qualidade dos SS x 8
99 Risco hidrológico x 8
100 Manutenção x 8
101 Disponibilidade de espaço aberto x 8
102 Custo do terreno x 8
103 Recreação x 8
104 Pescaria x 8
105 Natação x 8
106 Saúde humana x 8
107 Planta resposta x 8
108 Utilização preferencial de materiais locais x 8
109 Nível de rejeição do público x 8
110 Conf. no fornecimento de energia x 8
Quantidade total de critérios 44 18 10 18 13 8 5 26 10 14 11 24

113

Você também pode gostar