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Problema 1

DOR Remoção da causa, quase sempre, é


Sinal de alarme e mecanismo essencial de acompanhada de alívio imediato da sensação dolorosa.
defesa. Quanto menor o número de segmentos
Experiência sensorial e emocional medulares envolvidos na inervação de uma estrutura
desagradável associada a uma lesão tecidual já mais localizada é a dor (somática superficial).
existente, real ou potencial, ou relatada como se uma Número grande de segmentos, mais difusa
lesão existisse. será a dor (visceral e somática profunda).
Modulada por condições fisiológicas, Exemplos: Agressões externas (picada de
emocionais, motivacionais e psicológicas, além de inseto, fratura de osso, corte da pele), dor visceral
experiências prévias de vida. (apendicite), neuralgia do trigêmeo, invasão neoplásica
Tipos de dor dos ossos.
Quanto ao início e à evolução: A dor nociceptiva pode ser subdividida em:
Pode ser aguda ou crônica. 1.1 Dor nociceptiva espontânea:
O mecanismo que transforma uma dor aguda Tem várias designações, tais como pontada,
em crônica é a plasticidade mal-adaptativa do sistema facada, agulhada, latejante, contínua. Sugerindo lesão
nociceptivo. tissular.
Obs: plasticidade neural é definida como a capacidade Pode ser constante, ocorre continuamente,
do sistema nervoso modificar sua estrutura e função variando intensidade, mas sem desaparecer
em decorrência dos padrões de experiência, e a completamente.
mesma, pode ser concebida e avaliada a partir de uma Ou intermitente, ocorre episodicamente, como
perspectiva estrutural (configuração sináptica) ou exemplo a alodinia e a hiperpatia.
funcional (modificação do comportamento). Obs: Alodinia é a sensação desagradável provocada
Dor aguda:
pela estimulação tátil de uma área com limiar
Imediata, intensa, localizada e aumentado de excitabilidade. O contato com a roupa é
autolimitada. extremamente doloroso.
Tem função protetora. Obs 2: Hiperpatia é a sensação desagradável, mais
Duração de segundos a meses. dolorosa que a comum, provocada pela estimulação
Lesão tecidual óbiva. nóxica, repetitiva.
1.2 Dor nociceptiva evocada:
Pode ser desencadeada por manobras como a
Dor aguda tratada
inadequadamente:
de Lasègue na ciatalgia.
Fatores emocionais e sociais.
Mecanismos de plasticidade 2. Neuropática:
alterados. Denominada por lesão neural ou
Dor crônica:
desaferentação (privação de um neurônio de suas
Mal definida, difusa,
sem ínicio e fim aferências), ou central quando é secundária a lesões do
definido. SNC.
Dura + de 3 meses até Ainda não se conhecem exatamente os
anos. mecanismos fisiopatológicos.
Intensidade váriavel É independente de estímulo interno ou
de leve a muito externo.
intensa. Em geral, o fator causal não pode ser
Passa a ser a própria removido.
doença.
Seu início ocorre após dias, semanas, meses ou
anos da atuação do fator casual.
Do ponto de vista fisiopatológico:
Causas: Neuropatia diabética; neuralgia pós-
1. Nociceptiva:
herpética; dor da síndrome do membro fantasma; dor
Causada pela ativação dos nociceptores.
após AVE.
2.1 Dor neuropática intermitente: Decorre da estimulação dos nociceptores das
Decorre da ativação das vias nociceptivas pela vísceras.
cicatriz formada no local da lesão ou por efapse É profunda e tem características similares às da
(impulsos motores descendentes que cruzam as vias dor somática profunda (difusa).
nociceptivas no sítio de lesão do sistema nervoso. Pode estar relacionada com 4 condições:
Mais frequente em lesões nervosas periféricas 2.1 – Comprometimento da própria víscera (dor
e da medula espinal. visceral verdadeira)
Dor em choque. Tende a se localizar na projeção anatômica do
Difere-se da ciatalgia pelo fato do seu trajeto órgão onde se origina.
não seguir o do nervo. É transmitida pelas fibras sensoriais para dor,
2.2 Dor neuropática constante: nos feixes nervosos autônomos, e as sensações são
Dor em queimação, dormência ou REFERIDAS para áreas da superfície do corpo.
formigamento. Exemplo: a esofágica, na região retroesternal
Trata-se de uma disestesia (sensação anormal ou epigástrica.
desagradável). 2.2 – Comprometimento secundário do peritônio ou
Tende a ser agravada pela interrupção cirúrgica pleura parietal (dor somática profunda)
das vias da dor. 2.3 – Irritação do diafragma ou do nervo frênico
2.3 Dor neuropática evocada: 2.4 Relacionada a um reflexo víscerocutâneo (dor
Decorrente de rearranjos sinápticos que referida)
sofreram desaferentação. Sensação dolorosa superficial percebida
Manifesta-se na forma de alodinia ou distante da estrutura onde se originou (visceral ou
hiperpatia. somática.
Mais comum em lesões encefálicas. Obedece à distribuição metamérica.
Depende da estimulação dos receptores e do Sua explicação é a convergência de impulsos
tráfego dos impulsos pelas vias nociceptivas. dolorosos viscerais e somáticos, superficiais e
Assim, pode ser aliviada pela secção cirúrgica profundos, para neurônios nociceptivos, localizados no
da via neoespinotalâmica ou neotrigeminotalâmica na corno dorsal da medula espinal (lâmina V).
dor facial.

3. Mista:
Decorre por mecanismos nociceptivo e
neuropático.
Por exemplo, em certos casos de dor por
neoplasias malignas.

4. Psicogênica:
Condição em que não há substrato orgânico,
gerada apenas por condições emocionais.
Tende a ser difusa, mudando de localização
sem qualquer razão aparente.
Relatada como muito intensa, excruciante,
incapacitante. Descrita de maneira dramática. 3. Irradiada:
Sentida à distância de sua origem, mas em
Quanto a estrutura de origem da dor: estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em um nervo
1. Somática: cuja estimulação é responsável pela dor.
Superficial - dor nociceptiva, provocada pela Classificação semiológica
estimulação de nociceptores do sist. Tegumentar. Bem Decálogo semiológico da dor: localização,
localizada, referenciada como “picada, pontada, irradiação, qualidade/caráter, intensidade, duração,
queimor”. Por trauma, queimadura ou processo evolução, relação com funções orgânicas, fatores
inflamatório. desencadeantes ou agravantes, fatores atenuantes, e
Profunda – ativação de nociceptores dos manifestações concomitantes.
músculos, fáscias, tendões, ligamentos. Localização 1. Localização: É a região onde o paciente
imprecisa, tipo cãibra. Por estiramento muscular, sente a dor, anotar conforme a nomenclatura das
exercício exaustivo prolongado, artrite. regiões corporais apontada.
2. Irradiação: reconhecimento inicial da dor e
2. Visceral: de sua irradiação pode indicar a estrutura nervosa
comprometida.
3. Qualidade/caráter: Sensação que a dor 10. Manifestações concomitantes: por
provoca. Importância prática desta característica é que exemplo, a dor aguda, nociceptiva, intensa, costuma
pode auxiliar a definir o processo patológico acompanhar-se de manifestações neurovegetativas
subjacente, por exemplo, dor de cabeça latejante ou como sudorese, palidez, hipertensão arterial, náuseas.
pulsátil sugere enxaqueca, abcesso e odontalgia. Limiar de dor
4. Intensidade: experiência sensorial subjetiva, Representa o estímulo mínimo capaz de gerar
OMS considera o principal componente para a escolha um impulso nervoso no nervo sensitivo, suscetível de
do esquema terapêutico. ser percebido.
Quando o estímulo é insuficiente para gerar
um impulso, é chamado subliminar.
O limiar de dor é inversamente proporcional à
reação à dor.
Um paciente com elevado limiar doloroso é
4.1 Escalas de dor hiporreativo, enquanto aquele que tem baixo limiar é
hiperreativo.
Depende de uma série de fatores: idade
(diretamente proporcional), grau de atenção (diminui)
ou de distração (aumenta), estado emocional
(instabilidade, preocupação, medo, apreensão e
ansiedade diminuem), fadiga (diminuem), raça (latino-
americanos e os europeus têm o limiar diminuído),
sexo (limiar do homem > limiar da mulher) e aspectos
culturais e religiosos, dentre outros.
Assim, o mesmo estímulo doloroso pode ser
considerado intenso por um indivíduo e leve por outro
ou até pelo mesmo indivíduo quando submetido a
estímulos iguais em circunstâncias distintas.
FISIOLOGIA DA DOR
A) desvantagem por ser subjetiva. O componente fisiológico da dor é chamado
B) é a preferida em adultos, não exclui a nocicepção.
subjetividade, mas, melhora a avaliação. Consiste dos processos de transdução,
C) para adultos com baixa escolaridade, transmissão e modulação de sinais neurais gerados em
crianças e idosos. resposta a um estímulo nocivo externo.
Quando pct tem dificuldade, você exemplifica De forma simplificada, pode ser considerado
a dor do parto, da cólica nefrética, úlcera perfurada são como uma cadeia de três-neurônios: neurônio de
referências para pior possível. primeira ordem originado na periferia e projetando-se
5. Duração: data de início. Se é contínua, para a medula espinhal  neurônio de segunda ordem
calcula-se o tempo transcorrido. Cíclica, registra-se a ascende pela medula espinhal  neurônio de terceira
data e a duração de cada episódio doloroso. ordem projeta-se para o córtex cerebral.
Intermitente, várias vezes ao dia, registra a data inicial,
duração média, número médio de crises por dia e de
dias por mês.
6. Evolução: complementa a duração. Saber se
é súbita ou insidiosa.
7. Relação com funções orgânicas: tendo em
conta a localização da dor e os órgãos e estruturas
situados na mesma área. A dor é acentuada pela
atividade funcional do órgão. Exceção a regra é o alívio
da dor da úlcera péptica duodenal pela ingestão de
alimentos (pois se deve a hipercloridria e não à
atividade duodenal).
8. Fatores desencadeantes ou agravantes: são
os que desencadeiam ou agravam a dor, incluindo as
funções orgânicas, e outros como alimentos ácidos e Nociceptores
picantes, chocolates, o ato de lavar o rosto etc. São terminações nervosas livres, receptores de
9. Fatores atenuantes: aliviam a dor, incluindo dor.
funções orgânicas, posturas, atitudes etc.
Em outras palavras, receptores periféricos Transmissão
sensíveis a estímulos químicos – MEDIADORES - As fibras aferentes, ao estabelecerem sinapse
(radicais ácidos, capsaicina, bradicinina, histamina, com neurônios de segunda ordem, utilizam como
serotonina, prostaglandinas,etc), mecânicos (pressão), principal neurotransmissor o aminoácido glutamato
físicos (calor ou frio). (Glu), que é capaz de gerar potenciais excitatórias pós-
Existem nas camadas superficiais da pele, bem sinápticos (PEPS) rápidos por meio da ativação de
como em certos tecidos internos. receptores glutamatérgicos do tipo AMPA.
Não são específicos, e, dependendo da Por sua vez, o neurônio de primeira ordem
intensidade do estímulo e fatores associados, podem também é capaz de liberar peptídeos
gerar percepções diferentes (tato, pressão, calor...) e neurotransmissores (substância P), que geram PEPS
não necessariamente sensação dolorosa. lentos.
Transdução O processamento da informação nociceptiva
A sensação dolorosa inicia pela estimulação em diferentes níveis do SNC pode gerar respostas
dos nociceptores. motoras (reflexos de retirada, extensão cruzada),
É a transformação dos estímulos ambientais vegetativas (aumento da frequência cardíaca e
intensos (mecânicos, químicos ou térmicos) em respiratória, vasoconstrição) ou comportamentais
potenciais de ações que são transferidos por fibras (memória dolorosa, aspectos afetivos).
nervosas do SNP para SNC. Ou seja, por intermédio do neurônio sensorial
Os neurônios de primeira ordem são de primeira ordem  potencial despolarizantes
classificados em três grandes grupos, segundo seu conduz o estímulo ao SNC (2 e 3 ordem)  sinapse no
diâmetro, seu grau de mielinização e sua velocidade de corno dorsal da medula espinal ou no tronco cerebral.
condução: Fibras A-β, Fibras A-δ e Fibras C. Os corpos das células estão no gânglio da raiz
Apenas as fibras C e Aδ transmitem informação dorsal e no gânglio trigeminal.
nociceptiva. Este processo é possível devido o conjunto de
A estimulação isolada de fibras A-delta vias e mecanismos que possibilitam o impulso nervoso
cutâneas produz dor em pontada, a de fibras C atingir estruturas nervosas centrais que reconhecem a
cutâneas, dor em queimação, e a de fibras A-delta e C dor.
musculares, dolorimento (aching pain) ou cãibra. Vias de dor nociceptoras
As terminações utilizam duas vias separadas
para a transmissão de sinais dolorosos para o SNC.
Uma via para a dor pontual/rápida, e uma vida
Estímulo nociceptivo aplicado  os para dor lenta/crônica.
nociceptores Aδ (específicos – sensação térmica e Via Neoespinotalâmica/ do grupo lateral:
mecânica) são responsáveis pela dor aguda imediata, a Responsável pela dor aguda e bem localizada
qual é seguida por uma dor mais difusa provocada pela “em pontada”.
ativação dos nociceptores C (polimodais – não são Trata-se da via "clássica" de dor e temperatura,
seletivos, respondem a estímulo mecânico, térmico e constituída basicamente pelo trato espinotalâmico
químico) de condução mais lenta. lateral, envolvendo uma cadeia de três neurônios.
Os estímulos mecânicos e térmicos, além de NEURÔNIOS I - localizam-se nos gânglios
excitarem os nociceptores sensíveis, promovem dano espinhais situados nas raízes dorsais. O prolongamento
tecidual e vascular local, liberando ou formando uma periférico de cada um destes neurônios liga-se aos
série de substâncias, tais como os íons hidrogênio e receptores através dos nervos espinhais. O
potássio, serotonina, histamina, cininas, leucotrienos, prolongamento central penetra na medula e termina
prostaglandinas e substância P. na coluna posterior, onde faz sinapse com os neurônios
Em suma, é a conversão do estímulo II.
nociceptivo por substâncias proteicas em potencial NEURÔNIOS II - os axônios do neurônio II
elétrico DESPOLARIZANTE. cruzam o plano mediano pela comissura branca,
ganham o funículo lateral do lado oposto, inflectem-se
cranialmente para constituir o trato espinotalâmico
lateral. Ao nível da ponte, as fibras deste trato se unem
com as do espinotalâmico anterior para constituir o
lemnisco espinhal, que termina no tálamo fazendo
sinapse com os neurônios III.
NEURÔNIOS III - localizam-se no tálamo, no
núcleo ventral posterolateral. Seus axônios formam
radiações talâmicas que, pela cápsula interna e coroa
radiada chegam à área somestésica do córtex cerebral
situada no giro pós-central (áreas 3, 2 e 1 de
Brodmann). Através dessa via, chegam ao córtex
cerebral impulsos originados em receptores térmicos e
dolorosos situados no tronco e nos membros do lado
oposto.
Via Paleoespinotalâmica/ via do grupo medial:
Constituída de uma cadeia de neurônios em
número maior que os da via neoespinotalâmica.
Dor crônica e difusa “em queimação”.
NEURÔNIOS I - localizam-se nos gânglios
espinhais, e seus axônios penetram na medula do
mesmo modo que os das vias anterior.
NEURÔNIOS II - situam-se na coluna posterior.
Seus axônios dirigem-se ao funículo lateral do mesmo
lado e do lado oposto, inflectem-se cranialmente para
constituir o trato espinorreticular. Este sobe na medula
junto ao trato espinotalâmico lateral e termina fazendo
sinapse com os neurônios III em vários níveis da
formação reticular. Muitas dessas fibras não são
cruzadas.
NEURÔNIOS III - localizam-se na formação
reticular e dão origem às fibras retículotalâmicas que
terminam nos núcleos do grupo medial do tálamo, em
especial nos núcleos intralaminares (neurônios IV). Os
núcleos intralaminares projetam-se para territórios
muito amplos do córtex cerebral.
Sabe-se que alguns Neurônios III da via
paleoespinotalâmica, situados na formação reticular,
projetam também para a amígdala, o que parece
contribuir para o componente afetivo da dor.

Modulação
É através dela que uma dor pode ser suprimida
em situações de lesão ou de ameaça, em uma reação
de luta ou fuga.
As vias de supressão também são ativadas
pelas vias nociceptivas.
Teoria do portão/das comportas:
Como se sabe, as fibras amielínicas (C) e
mielínicas finas (A-delta) conduzem a sensibilidade
termoalgésica, enquanto as fibras mielínicas grossas
(A-alfa e A-beta) conduzem as demais formas de
sensibilidade (tato, pressão, posição, vibração).
Segundo essa teoria, a ativação das fibras
mielínicas grossas excitaria interneurônios inibitórios
da substância gelatinosa de Rolando para os aferentes
nociceptivos, impedindo a passagem dos impulsos
dolorosos, ou seja, haveria um fechamento da
comporta, ao passo que a ativação das fibras delta e C A infecção primária resulta da inoculação do
inibiria tais interneurônios inibitórios, tornando vírus através da mucosa do trato respiratório superior
possível a passagem dos impulsos nociceptivos ou conjuntiva.
(abertura da comporta). Ocorre por contato pessoal com paciente com
Esse mecanismo explica por que uma leve varicela ou varicela-zóster.
fricção ou massageamento de uma área dolorosa É contagiosa, com período de
proporciona alívio da dor. transmissibilidade semelhante ao da varicela (24-48
A existência de outro sistema modulatório foi horas antes da erupção), porém com uma
verificada quando a estimulação elétrica da substância contagiosidade menor.
cinzenta periaquedutal produzia acentuada analgesia. Fisiopatologia
Postulou-se, então, que a estimulação elétrica Penetração do vírus acontece pelas vias
da substância cinzenta periventricular e periaquedutal respiratórias superiores na infecção primária.
excitaria o bulbo rostroventral e o tegmento pontino Durante a parte inicial do período de incubação
dorsolateral, de onde partem vias descendentes (10-21 dias) o vírus replica-se nas vias respiratórias
inibitórias para os neurônios nociceptivos do corno provocando VIREMIA SUBCLÍNICA em 1-11 dias antes
dorsal. do rash, predominando em linfócitos.
Tais vias cursam bilateralmente pelos funículos As lesões cutâneas disseminadas aumentam na
dorsolaterais da medula espinal e utilizam como SEGUNDA FASE VIRÊMICA.
neurotransmissor, respectivamente, a serotonina e a As lesões cutaneomucosas aparecem em
norepinefrina, proporcionando o alívio da dor. surtos na 1ª semana da doença, correspondendo a
Conclui-se que a dor pode ser provocada tanto episódios de viremia.
pela ativação das vias nociceptivas como pela lesão das Os leucócitos mononucleares transportam os
vias modulatórias (supressoras). vírus infectantes, produzindo novos grupos de
Sensibilização vesículas por 3 a 7 dias.
É a percepção desproporcional da sensação Durante a FASE AGUDA da varicela, o vírus é
dolorosa em relação ao estímulo que a desencadeia, carreado por via hematogênica para outros órgãos,
em virtude da diminuição no limiar da dor. incluindo gânglios nervosos, invasão feita através das
Sensibilização periférica: vias nervosas a partir das lesões vesiculares cutâneas.
Desenvolve-se no local do estímulo, o O VZV determina uma infecção latente nas
resultado é a diminuição do limiar de excitabilidade dos células dos gânglios sensoriais em todos que sofrem a
nociceptores. infecção primária.
Lesão celular causa liberação de mediadores A reativação do vírus latente causa o herpes-
inflamatórios gerando uma dor aguda. zóster, erupção vesicular que tem distribuição por
Sensibilização central: dermátomos. No seu curso, podem ocorrer alterações
Facilitação da chegada do estímulo ao SNC pela necróticas nos gânglios satélites.
redução do limiar de estímulo e espraiamento da A varicela estimula tanto a imunidade humoral
região cortical envolvida no processamento da dor. como a celular, que é altamente protetora contra
Exemplo é o aparecimento de dor ao tocar o reinfecção sintomática. A supressão da imunidade
rosto após o fim de uma crise de neuralgia do trigêmeo. celular ao VVZ correlaciona-se com risco maior de
HERPES ZÓSTER reativação do VZV como HZ.
É uma dermatovirose. O processo de reativação do VZV envolve a
O vírus varicela-zóster (VZV) causa 2 mudança no balanço intraneuronal de 2 proteínas
patologias: a varicela e o herpes-zóster. Cursando com octaméricas (Oct) importantes na vitalidade neuronal.
infecções primárias, latentes e recorrentes. A proteína viral alfa-TIF liga-se com grande
A infecção primária é manifestada como afinidade à Oct-1, muito encontrada nos
varicela, doença benigna da infância caracterizada por queratinócitos, onde consegue promover a transcrição
erupção exantemática vesiculosa, e resulta no do genoma viral.
estabelecimento de uma infecção latente vitalícia dos A situação normal dos neurônios é a de
neurônios dos gânglios sensoriais. predominância da Oct-2, em que alfa-TIF não consegue
A reativação da infecção latente (mais comum exercer seu efeito.
após os 60 anos) causa o herpes-zóster, que se Lesões cutâneas, vibração, extremos de
apresenta como uma erupção vesiculosa de um temperatura lesionam as terminações nervosas e
dermátomo, em geral associada à dor intensa. liberam o fator de crescimento neuronal, que pode
Transmissão reabilitar as terminações lesadas, mas altera
O VVZ é TRANSMITIDO pelas secreções temporariamente o balanço Oct-1/Oct-2, com
respiratórias e pelo líquido das lesões cutâneas tanto predomínio temporário do primeiro.
na disseminação pelo ar como por contato direto.
Esses fatos possibilitam a transcrição do Esse método reduz de forma significativa a
genoma do VZV latente nos gânglios paravertebrais e a intensidade da doença, caso não a previna totalmente.
reativação do vírus. Manifestações clínicas
O que fala no Guyton? A primeira manifestação é a dor na área
Ocasionalmente, o herpes-vírus infecta um correspondente ao trajeto do nervo afetado; de
gânglio da raiz dorsal. instalação súbita ou insidiosa, de intensidade que pode
Isso causa dor forte no segmento dermatômico ser desde muito discreta até intolerável, ela precede as
suprido pelo gânglio, desencadeando tipo de dor primeiras lesões cutâneas em 3 a 5 dias, sendo
segmentar que circunda em faixa o hemicorpo. acompanhada por febre discreta, cefaleia e mal-estar
A doença é chamada herpes-zóster ou geral.
"cobreiro", devido às erupções cutâneas que No início, as lesões cutâneas são
geralmente surgem. eritematopapulosas, evoluindo rapidamente para
A causa da dor presumivelmente é a infecção papulovesiculosas e papulopustulosas e agrupam-se
pelo vírus dos neurônios para dor no gânglio da raiz dentro de um ou, menos comumente, dois
dorsal. dermátomos adjacentes.
Além de causar dor, o vírus é conduzido pelo Apresentam-se reunidas em pequenos grupos,
fluxo citoplasmático neuronal pelos axônios periféricos situados em um ou mais dermátomos, podendo haver
até suas origens cutâneas. acometimento de mucosas compreendidas nesses
Ai, o vírus produz exantema que forma dermátomos.
vesículas em poucos dias, e todos esses fenômenos É característico do herpes-zóster ser unilateral,
ocorrem dentro da área dermatomérica suprida pela não ultrapassando a linha média do corpo.
raiz dorsal infectada. Os nervos mais acometidos são: torácico
Fatores de risco e prevenção (53%), cervical (C2, C3 e C4 - 20%), trigêmeo, incluindo
Como já referido, para ter herpes zóster é o oftálmico (15%) e lombossacro (1 1%).
necessário já ter tido catapora em algum momento da Os nervos cranianos (facial, óptico, auditivo,
vida. Entre os fatores de risco podemos citar: faríngeo, laríngeo) produzem erupção de localização
1. Idade acima de 50 anos. correspondente aos seus trajetos anatômicos.
2. Estresse físico ou psicológico. O comprometimento é de um único gânglio, e,
3. Privação do sono. por isso, a erupção é assimétrica e respeita o dimídio.
4. Diabetes mellitus. A duração total da doença é de 7 a 10 dias;
5. Câncer. entretanto, pode durar até 2 a 4 semanas antes de
6. Quimioterapia. haver normalização da pele.
7. Doenças crônicas. Nos casos mais graves, as lesões podem sofrer
8. Uso de drogas imunossupressoras. necrose (ZÓSTER NECRÓTICO), cuja involução deixa
9. HIV / AIDS. cicatrizes podendo ser queloidianas.
Vacina antivaricela São frequentes a NEURALGIA e a
De vírus vivo atenuado. HIPERESTESIA, sendo mais intensa nos idosos,
Nas crianças > 1 ano (até 12 anos) que não podendo anteceder o quadro cutâneo geralmente 48 a
tenham apresentado varicela (1ª dose aos 12 a 15 72 horas.
meses e 2ª com 4 a 6 anos) e aos adultos soronegativos Manifesta-se mais frequentemente como DOR
para VZV. LANCINANTE. Em certos casos, simula IAM, apendicite,
Os soronegativos para VZV com > 13 anos colecistite. Acompanha a erupção cutânea e pode
devem receber 2 doses com intervalo de, pelo menos, permanecer meses ou anos após a involução do
1 mês. herpes-zóster; eventualmente o quadro é
Em caso de > 50 anos, a vacina diminuiu a acompanhado de PRURIDO.
incidência de zóster em 51%, a gravidade da doença em Quando a dor persiste > 1 mês após a resolução
61% e a incidência de neuralgia pós-herpética em 66%. do quadro cutâneo, recebe a denominação de
Imunoglobulina Antivaricela-zóster (VZIG) NEURALGIA PÓS-HERPÉTICA (NPH).
Aos indivíduos suscetíveis que tenham alto Não é incomum o zóster manifestar-se como
risco de complicações da varicela e sofreram exposição um indicador de neoplasia (não é paraneoplásico),
significativa. principalmente de linfoma; nesses casos, tende a ser
Fornecida em até 96 horas (de preferência, 72). mais exuberante ou multidermatomal.
Terapia antiviral É considerada doença cutânea disseminada
Profilaxia para indivíduos sob alto risco que quando houver + 20 lesões fora do dermátomo
não sejam elegíveis à vacina ou que estejam além de acometido ou contíguos.
96 horas do contato.
O tratamento é iniciado 7 dias após exposição.
Casos de zóster sem as manifestações cutâneas Tratamento antiviral oral
são eventualmente diagnosticados e fazem diagnóstico Aciclovir, valaciclovir ou fanciclovir, acelera a
diferencial com diversas doenças. resolução das lesões e da dor associada.
Os quadros de zóster sem lesões cutâneas ou O aciclovir é administrado na dose de 800 mg,
com poucas manifestações dermatológicas são um 5X/dia, durante 7 a 10 dias.
desafio diagnóstico, sendo úteis a sorologia pareada e Contudo, o valaciclovir e o fanciclovir são
a avaliação de IgM anti-VZV. superiores em termos de farmacocinética e
O herpes-zóster é mais grave no farmacodinâmica e devem ser usados
IMUNOCOMPROMETIDO. As lesões continuam a se preferencialmente.
formar por mais de uma semana, e as crostas formam- Comparado com o aciclovir, tanto o fanciclovir
se completamente apenas após 3 semanas na maioria quanto o valaciclovir oferecem a vantagem de
dos casos. Os com doença de Hodgkin e linfoma não administrações menos frequentes.
Hodgkin correm maior risco de herpes-zóster O início do tratamento antiviral dentro de 72
progressivo. Ocorre disseminação cutânea em 40% horas após o desenvolvimento de lesões na pele é
desses pacientes. Entre aqueles com disseminação ideal, mas o início em até 7 dias após o aparecimento
cutânea, o risco de pneumonite, meningoencefalite, também parece ser benéfico.
hepatite e outras complicações graves aumenta em 5- Nos gravemente imunocomprometidos, usa
10%. Contudo, até mesmo em pacientes aciclovir IV, reduzindo a ocorrência de complicações
imunocomprometidos, o herpes-zóster disseminado viscerais, mas não exerce qualquer efeito sobre a
raramente é fatal. cicatrização das lesões cutâneas ou sobre o alívio da
Diagnóstico dor.
Clínico: Para imunocomprometidos de baixo risco, o
Com base na história (incluindo varicela tratamento oral com valaciclovir ou fanciclovir parece
anterior ou a administração da vacina) e exame físico. benéfico.
Laboratorial: No caso da herpes-zóster OFTÁLMICO devem
Um esfregaço de Tzanck e/ou IFD podem ser encaminhados a um oftalmologista. O tratamento
ajudar a confirmar. Este último pode diferenciar entre desse consiste na administração de analgésicos para
HSV e VZV. alívio da dor intensa e uso de atropina. O aciclovir, o
A varicela e herpes-zóster têm os mesmos valaciclovir e o fanciclovir aceleram a cicatrização.
resultados histológicos como infecções por HSV, mas a As decisões quanto ao uso de glicocorticoides
imuno-histoquímica pode distingui-los. devem ser tomadas pelo oftalmologista.
Testes laboratoriais adicionais incluem cultura O tratamento da NEURITE AGUDA e/ou da
viral, sorologia e PCR. NEURALGIA PÓS-HERPÉTICA pode ser difícil. Além do
A cultura viral é muito específica; no entanto, uso criterioso de analgésicos, incluindo desde fármacos
não é muito sensível e os resultados podem não estar não narcóticos até derivados de narcóticos, fármacos
disponíveis por > 1 semana. como gabapentina, pregabalina, cloridrato de
A PCR é uma técnica altamente sensível e amitriptilina, adesivos de lidocaína e cloridrato de
rápida. flufenazina aliviam dor.
Diagnóstico diferencial A dose oral de prednisona é de 60 mg/dia nos
Outras infecções virais dias 1 a 7, 30 mg/dia nos dias 8 a 14, e 15 mg/dia nos
Infecção disseminada por HSV em pacientes dias 15 a 21.
com dermatite atópica e lesões vesiculopapulosas Esse esquema apenas é apropriado para
disseminadas às vezes associadas à infecção por vírus indivíduos idosos sadios que apresentem dor
Coxsackie, infecção por vírus Echo, ou sarampo atípico. moderada ou grave à apresentação.
Essas erupções são mais comumente Os glicocorticoides não devem ser usados sem
morbiliformes, com um componente hemorrágico, do terapia antiviral concomitante.
que vesiculosas ou vesiculopustulosas. CALENDÁRIO VACINAL DO IDOSO
Riquetsiose variceliforme Influenza
A diferenciação é facilitada pela detecção da É rotina, com dose única anual.
“lesão denunciadora” no local de picada do ácaro e A partir de 60 anos de idade, existe um risco
pela ocorrência de cefaleia mais proeminente. aumentado de formas graves e óbito por Influenza.
As lesões da varíola são maiores que as de É disponibilizada na UBS, a 3V.
varicela e, em um dado momento, estão todas no Pneumocócicas (VPC13 e VPP23)
mesmo estágio de evolução. É rotina, iniciar com uma dose da VPC13
Tratamento seguida de uma dose de VPP23 seis a 12 meses depois,
Uso de compressas de acetato de alumínio e uma segunda dose de VPP23 cinco anos após a
pode promover alívio e limpeza da lesão. primeira.
Se a segunda dose de VPP23 foi aplicada antes
dos 60 anos, está recomendada uma terceira dose
depois dessa idade, com intervalo mínimo de cinco
anos da última dose.
Na UBS é disponível apenas a VPP23.
Herpes zoster
Rotina a partir dos 50 anos.
Vacina atenuada (VZA) – dose única
Vacina inativada (VZR) – duas doses com
intervalo de 2 meses (0-2).
Não é disponível na UBS.
A vacinação está recomendada mesmo para
aqueles que já desenvolveram a doença.
dT ou dTpa
É rotina, atualizar dTpa independente de
intervalo prévio com dT ou TT.
Com esquema de vacinação básico completo:
reforço com dTpa a cada dez anos.

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