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By Bruno Lage
Existe uma lenda que conta a história de uma grande paixão de um cavaleiro
cristão, D. Ramiro, pela moura encantada. Foi precisamente numa noite de S. João
que tudo aconteceu. Quando D. Ramiro avistou a moura nas ameias do castelo,
impressionou-o tanto a sua extrema beleza como a infelicidade da sua condição.
Perdidamente enamorado, resolveu subir ao castelo para a desencantar. A subida
através dos muros da fortaleza não se revelou tarefa fácil e demorou tanto a subir
que, entretanto, amanheceu e assim passou a hora de se poder realizar o
desencanto.
Diz o povo que a moura, mal rompeu a aurora, entrou em lágrimas para a nuvem
que pairava por cima do castelo, enquanto D. Ramiro assistia sem nada poder
fazer.
A frustração do jovem cavaleiro foi tão grande que este se empenhou com grande
fúria nas batalhas contra os Mouros. Conquistou, ao que dizem, um castelo, mas
ficou sem moura para amar…
Reinava em Silves o inteligente e corajoso rei mouro Ben-Afan que numa noite de
tempestade, no intervalo das suas lutas contra os cristãos, teve um sonho
extraordinário. Um sonho que começou por ser um pesadelo, com tempestades e
vampiros, mas que se tornou numa visão de anjos, música e perfumes e terminou
pelo rosto de uma mulher, divinamente bela, com uma cruz ao peito.
No dia seguinte, Ben-Afan procurou a fada Alina, sua conselheira, que lhe revelou
que tinha sido ela própria a enviar-lhe o sonho e que a sua vida iria mudar. Deu-lhe
então dois ramos, um de flor de murta e outro de louro, significando respetivamente
o amor e a glória. Consoante os ramos murchassem ou florissem assim o rei
deveria seguir as respetivas indicações.
Foi então que surpreenderam uma jovem moura fugitiva que ao ser questionada
onde ficaria a fonte mais próxima lhes disse que era muito longe, acrescentando
em tom de desafio que se o Deus dos cristãos era tão poderoso que fizesse nascer
ali mesmo uma fonte. Talvez então ela se convertesse.
Apesar de estar prometida a seu primo Abu, o destino quis que Fátima se
apaixonasse pelo cristão que seu pai mais odiava, Gonçalo Hermingues, o “Traga-
Mouros”, o cavaleiro poeta que nas suas cavalgadas pelos campos via a bela
princesa à janela da torre. Rapidamente o coração do cavaleiro cristão se encheu
daquela imagem e sabendo que a princesa iria participar no cortejo da Festa das
Luzes, na noite que mais tarde seria a de S. João, preparou uma cilada de amor.
A região que primeiro acolheu os jovens viria a chamar-se Fátima, mas a princesa,
já com o nome cristão de Oureana, deu também o seu nome ao lugar onde se
instalaram definitivamente, a Vila de Ourém.
Era encantadora essa criatura, a quem todos chamavam a “Bela do Norte”, e por
isso não admira que o rei, de tez cobreada, tão bravo e audaz na guerra, a quisesse
para rainha.
Apesar das festas que houve nessa ocasião, uma tristeza se apoderou de Gilda.
Nem os mais ricos presentes do esposo faziam nascer um sorriso naqueles lábios
agora descorados: a “Bela do Norte” tinha saudades da sua terra.
O rei consegui, enfim, um dia, que Gilda, em pranto e soluços, lhe confessasse que
toda a sua tristeza era devida a não ver os campos cobertos de neve, como na sua
terra.
O grande temor de perder a esposa amada sugeriu, então, ao rei uma boa ideia.
Deu ordem para que em todo o Algarve se fizessem plantações de amendoeiras, e
no princípio da Primavera, já elas estavam todas cobertas de flores.
Logo que chegou ao alto da torre, a rainha bateu palmas e soltou gritos de alegria
ao ver todas as terras cobertas por um manto branco, que julgou ser neve.
– Vede – disse-lhe o rei sorrindo – como Alá é amável convosco. Os vossos desejos
estão cumpridos!
A rainha ficou tão contente que dentro em pouco estava completamente curada. A
tristeza que a matava lentamente desapareceu, e Gilda sentia-se alegre e satisfeita
junto do rei que a adorava. E, todos os anos, no início da Primavera, ela via do alto
da torre, as amendoeiras cobertas de lindas flores brancas, que lhe lembravam os
campos cobertos de neve, como na sua terra.
A bela moura prometeu-lhe o palácio e todo o seu ouro se ele quebrasse o encanto:
teria que ser três vezes engolido e vomitado pelo leão e três vezes abraçado pela
serpente. O corpo do almocreve ficaria em chaga e finalmente a moura o beijaria
na fronte para lhe retirar os santos óleos do batismo. O almocreve pediu-lhe para
pensar e a moura deixou-o partir com duas barras de ouro.
José Coimbra voltou para casa e tentou esquecer o episódio, mas passado pouco
tempo começou a empobrecer, ficando na mais absoluta miséria. Decidiu então
vender as duas barras de ouro que tinha escondido, mas quando as olhou logo
ficou cego. Como última esperança, resolveu consultar um especialista de olhos
em Faro. Ao passar por Estoi, apareceu-lhe a moura que o acusou de ter faltado à
promessa de lhe dar uma resposta. A moura só lhe tinha poupado a vida porque
ele nunca tinha revelado o segredo daquele encontro. O almocreve chorou sinceras
lágrimas de arrependimento, comovendo a moura que decidiu perdoar-lhe e
devolver-lhe a visão. Conta-se que o almocreve nunca mais voltou a passar por
Estói, onde ainda hoje uma moura e os seus irmãos esperam por quem os queira
desencantar.
Esta lenda passou-se no ano de 1166, no tempo em que Évora era ainda a
Yeborath árabe, para grande desgosto de D. Afonso Henriques que a desejava
como ponto estratégico da reconquista de Portugal aos Mouros. Geraldo Geraldes,
um homem de origem nobre que vivia à margem da lei, era chefe de um bando de
proscritos que habitavam num pequeno castelo nos arredores de Yeborath.
Conhecido também pelo Sem Pavor, Geraldo Geraldes decidiu conquistar Évora
para resgatar a sua honra e o perdão para os seus homens. Disfarçado de trovador
rondou a cidade e traçou a sua estratégia de ataque à torre principal do castelo que
era vigiada por um velho mouro e pela sua filha. Numa noite, o Sem Pavor subiu
sozinho à torre e matou os dois mouros, apoderando-se em silêncio da chave das
portas da cidade. Mobilizou os seus homens e atacou a cidade adormecida numa
noite sem lua que, surpreendida, sucumbiu ao poder cristão. No dia seguinte, D.
Afonso Henriques recebeu surpreendido a grande novidade e tão feliz ficou que
devolveu a Geraldo Geraldes as chaves da cidade, bem como a espada que
ganhara, nomeando-o alcaide perpétuo de Évora. Ainda hoje, a cidade ostenta no
brasão do claustro da Sé, a figura heróica de Geraldo Geraldes e as duas cabeças
dos mouros decepadas, para além de lhe dedicar a praça mais emblemática de
Évora.
11 - LENDA DA MOURA DA PONTE ROMANA DE CHAVES
Esta é uma lenda que tem origem no século XII. Nesse tempo, as terras Flavienses
eram governadas pelos Mouros. De acordo com o que diz o povo, uma jovem moura
ficara prometida a alguém. No caso, ficou noiva do seu primo Abed. O Alcaide tinha
um filho, Abed, sendo que este ia casar com a sobrinha (que ficou órfã devido à
guerra) do Alcaide.
O primo não era do agrado da jovem, pois ela não amava o seu primo. A bela jovem
não recusou, pois, os Mouros por ali eram poucos e nenhum lhe despertara paixão.
Depois dos cristãos reconquistarem Chaves, os cavaleiros Rui e Garcia Lopes,
irmãos de D. Afonso Henriques, lideravam o exército português e fizeram da jovem
moura uma refém. O Alcaide e o seu filho encabeçaram a resistência Moura e a
defesa do castelo. No entanto, perante os ataques cristãos, a população da cidade
começou a fugir desesperadamente.
A jovem acabou por se apaixonar por um cristão. Eles estavam apaixonados e
viviam felizes. Enquanto isso, o seu primo, que tinha fugido de Chaves, guardava-
lhe rancor.
Após ficar restabelecido de um ferimento de guerra, Abed voltou a Chaves,
disfarçado de mendigo. Um dia, esperou a sua prima na ponte e pediu-lhe esmola.
Depois da jovem estender a mão para o pedinte, Abed olhou-a nos olhos e rogou-
lhe uma praga:
“Ficarás encantada para sempre, sob o 3º arco desta ponte. Só o amor de um
cavaleiro cristão, que não pode ser aquele que te levou, poderá salvar-te! Mas esse
cavaleiro nunca virá!”
Ouviu-se um grito da mulher. Ela reconheceu o primo e, depois desse momento, a
moura desapareceu magicamente e nunca mais foi vista. As damas cristãs que a
acompanhavam testemunharam o sucedido. Abed fugiu de seguida.
O guerreiro cristão que vivia com ela, tudo fez para a encontrar. Desesperado,
procurou a jovem incessantemente. Viveu em agonia, mesmo depois de pagar para
que trouxessem Abed vivo para que este quebrasse o encanto. Porém, nunca mais
viu a jovem. O cristão morreu ao fim de alguns anos, numa profunda dor de
saudade.
Anos mais tarde, numa noite de São João, um cavaleiro cristão passou pela dita
ponte, tendo ouvido a voz de uma mulher que lhe pediu para descer ao 3º arco da
ponte e dar-lhe um beijo. Contudo, o jovem cristão, com medo, apenas fugiu. O
homem trazia o crucifixo ao peito, tocou nele e recordou-se dos contos que a mãe
lhe costumava contar acerca das desgraças dos cavaleiros que ficaram entregues
aos feitiços das mouras encantadas. Fugiu a cavalo, jurando nunca mais ali passar
à meia-noite.
Desde então, nas noites de São João, é possível ouvir os lamentos da moura
encantada. A jovem moura ficou para sempre encantada, como castigo do amor
que tivera por um cristão, estando aprisionada na ponte romana de Chaves.
12 - LENDA DA MOURA SALÚQUIA
Um capitão mouro vivia no forte da ilha do pessegueiro (perto de Porto Covo) com
um grupo de soldados, sua mulher e filhos. Tinha a seu cargo a defesa da fortaleza
e o treino dos seus soldados. Sonhava, ele, fazer do seu filho (criança de 8 anos),
um grande guerreiro, corajoso e forte.
Porém o menino detestava as armas e fugia aos treinos a que o pai o submetia.
Gostava muito de brincar e tinha um coração bondoso, tanto para as pessoas, como
para todos os animais. Afeiçoou-se de tal maneira a uma gralha, que era ela o seu
passatempo favorito.
Uma noite quando todos dormiam, o menino pegou na sua companheira gralha
resolveu fugir para que seu pai não matasse a sua amiguinha. Muitos dias se
passaram. Todas as buscas foram em vão pois não encontravam o pobre menino.
Quando voltaram a ver o seu filho, já ele estava morto junto a uma fonte num vale,
com a sua amiga gralha pousada no seu corpo, morta também. Desde aí, aquela
fonte ficou conhecida como a "Fonte da Gralha".
A beleza da princesa era falada por todos os lados. Um dia o cavaleiro cristão, dom
Tedom, veio disfarçado a Lamego, tendo-se logo apaixonado. Depois de alguns
encontros no laranjal do castelo, ao luar, resolveram casar-se.
Mas o rei mouro, pai da princesa, não consentia no casamento da sua filha
muçulmana com um cristão.
Numa noite de vendaval a princesa fugiu com o seu amado para longe,
escondendo-se no Convento de S. Pedro das Águias, onde casaram.
Mas a felicidade de Ardínia durou pouco. O pai, que saíra em sua perseguição,
encontrou-a junto do rio Távora e, ao saber que se tinha casado e convertido à
cristandade, matou-a com a sua espada deitando o corpo à água. O Dom Tedom
quando soube da morte da sua amada, fez votos de nunca mais se casar e atirou-
se ao combate dos muçulmanos, tendo sido morto, bem perto junto a um pequeno
rio, que ficou com o seu nome, rio Tedo.
Diz o povo, que as águas dos rios Távora e Tedo, por vezes, aparecem vermelhas,
porque o sangue dos amados Ardínia e Tedom ainda as tinge.
Também diz o povo que quando o castelo é envolvido pelo nevoeiro no Inverno, a
alma da princesa esvoaça sobre ele.
https://www.outrostempos.com/experiencias/82-experiencias/144-lenda-da-princesa-ardinia
17 - LENDA DE ALMIRA, A MOURA ENCANTADA
Alcácer do Sal foi uma das povoações abaixo do Tejo mais difíceis de conquistar
aos mouros. D. Afonso Henriques tomou o castelo da cidade em 1160, mas a
conquista não durou muito. Em 1191 os muçulmanos estavam de novo em poder
do castelo da cidade e só em 1217, depois de dois meses e meio de cerco por parte
das tropas de D. Afonso II, os Almóadas foram expulsos definitivamente de Alcácer.
Conta a lenda que, na altura em que, aterrorizados pela sanha dos cristãos, os
mouros fugiram do castelo, e uma bela menina terá ficado para trás.
Chamava-se Almira e mal falava ainda. Recolhida pelos soldados, foi criada no
castelo como cristã e cresceu rodeada de amor. Dotada para a música, aprendeu
a tocar alaúde. Sem conhecer o seu passado, Almira carregava consigo uma
saudade e tristeza que a tornavam uma excecional poetisa. O seu canto, que
rivalizava com qualquer um dos trovadores que passassem pelo castelo, encantava
todos os que o ouviam e, por isso, muitos cavaleiros se deixaram seduzir pela bela
rapariga. Almira, porém, a nenhum dedicava o seu amor. Honrava-os nos seus
poemas, mas continuava distante e intocável. Assim permaneceu até ao dia em
que conheceu D. Gonçalo, nobre cavaleiro que chegou a Alcácer do Sal em busca
de honra e serviço.
Almira entoava estes versos do alto da sua janela. Certa noite, o seu canto teve
resposta. Era D. Gonçalo que dedicava à moura alguns versos de amor:
Ouvindo o canto melodioso do seu amor, Almira só terá exclamado: “Oh, meu
senhor D. Gonçalo!”. O resto não conta a lenda, mas diz-se que desde então, em
certas noites de luar de agosto, se podem ouvir junto às muralhas do castelo os
sussurros dos amantes eternamente encantados.
http://www.cm-alcacerdosal.pt/es/municipio/concelho/patrimonio/patrimonio-etnografico/lendas/lenda-de-almira-moura-encantada/
18 - LENDA DOS CORVOS DE S. VICENTE
O barco, no entanto, nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele lugar. Ali
construíram um templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena aldeia
à sua volta. Entretanto, D. Afonso Henriques entrou em guerra com os mouros do
Algarve, e estes, por vingança, arrasaram a aldeia dos cristãos de S. Vicente e
levaram-nos cativos.
Passados muitos anos, D. Afonso Henriques foi avisado de que existiam vários
cristãos entre os prisioneiros feitos numa batalha contra os Mouros. Chamados à
presença do rei, um deles, já muito velho, contou-lhe a sua história e confidenciou-
lhe que tinham enterrado o corpo de S. Vicente num local secreto. Pedia ao rei que
resgatasse o corpo do mártir para um local seguro.
No tempo em que os Mouros dominavam Sintra, um cavaleiro nobre cristão foi feito
prisioneiro. Zaida, a filha do alcaide, apaixonou-se por ele.
Um dia, o resgate foi pago e o cavaleiro libertado. Apaixonado também por Zaida,
o cavaleiro pediu-lhe para fugirem. Zaida recusou, mas pediu-lhe para nunca mais
a esquecer.
O nobre cavaleiro voltou para a sua família e tentou esquecer Zaida nos campos
de batalha, mas não conseguiu. Decidiu atacar de novo o castelo de Sintra. Durante
esse combate, o nobre cavaleiro tombou ferido. Zaida arrastou-o através de uma
passagem secreta até uma sala escondida numas grutas.
Entretanto, enquanto enchia uma bilha de água para levar ao seu amado, foi
atingida por uma seta e caiu ferida. Reunindo as últimas forças, o cavaleiro cristão
arrastou-se para junto do corpo da sua amada. Os dois foram encontrados mais
tarde, já sem vida.
Diz a lenda que, em certas noites de luar, aparece junto à cova uma formosa
donzela vestida de branco a encher uma bilha de água, desaparecendo logo de
seguida, após um doloroso gemido.
Na serra de Sintra existe uma rocha com um corte, perto do Castelo dos Mouros.
Segundo a tradição que esse corte marca a entrada para uma cova que tem
comunicação com o castelo. É conhecida por Cova da Moura ou Cova Encantada.
20 - LENDA DA COVA DA MOURA
Em tempos que lá vão, quando os mouros e cristãos ainda viviam próximos uns
dos outros, apesar de inimigos, uma bela Moura ficou perdida de amores por um
jovem cavaleiro cristão. Da janela do castelo, lá na atalaia, onde seu pai era senhor,
fixava a pobre da Moura o horizonte, na ânsia de ver a sua paixão. Só se tinham
encontrado em segredo, pela calada da noite, com medo de serem vistos.
Com o passar do tempo, o amor entre eles foi crescendo de tal maneira, que já não
suportavam a ausência do outro, nem os fugazes encontros as escondidas! Por
isso, apesar de saberem o quanto isso era difícil, resolveram revelar ao pai da
jovem o segredo do amor que partilhavam, para que este autorizasse o casamento.
O chefe mouro nem queria ouvir o que a jovem filha lhe pedia! Casar com um
cristão? A filha tinha de certeza perdido o juízo por completo! Não pertencia o
pretenso noivo ao inimigo e a outra fé? Como podia aceitar tal casamento?
Ao princípio ainda pensou que aquilo era desvario da juventude, e da força da
primavera que se iniciara em plena pujança. Por isso deixou passar algum tempo
para ver da perseverança do desejo. Mas o tempo passava e a filha cada vez mais
se agarrava aquele cavaleiro que lhe importunava a porta. Usou todas as
artimanhas para que a paixão desaparecesse, desde alertar os guardas para não
deixarem aproximar-se o cristão, ate fechar a pobre da donzela moura na mais alta
das torres do castelo. Nada conseguiu!
Esgotadas as tentativas para convencer a filha a deixar esse amor, resolveu o chefe
mouro chamar uma mulher das redondezas, que diziam ter grandes poderes.
Depois de lhe contar o que pretendia, confiou a bruxa o remédio para tão grande
mal de amor.
Introduziu-se a bruxa nos aposentos da jovem moura, para lhe conquistar a
confiança e a convencer a colocar uns brincos que trazia consigo. A donzela ainda
negou a oferta, desconfiada da aparência da mulher que a visitava, mas quando
lhe disseram que os brincos lhe iam ficar muito bem, porque ela era muito linda, e
que os brincos eram mesmo talhados para o seu rosto, lá aceitou, por entre um
sorriso de vaidade. Quando estava a acabar de prender o segundo brinco, a bruxa
disse umas palavras estranhas para enfeitiçar a pobre da moura. Naquele mesmo
instante a bela jovem transformou-se numa horripilante cobra!
A partir daquele dia nunca mais a moura foi vista pelo jovem cavaleiro que, por isso,
morreu de desgosto! Diz o povo que há quem tenha visto uma cobra muito estranha
pelos lados da Atalaia. Também há quem diga que, uma vez por mês, em noites de
lua cheia, aparece uma linda jovem com uns belos brincos, na Praia da Lenta, num
local onde existe uma cova, que, segundo dizem, liga o rio à Atalaia. Têm-na visto
ali a lavar, esquecendo-se por vezes de uma ou outra peça das suas belas e ricas
roupas.
Muitos mostram pena da moura e do seu fado, por ter desejado um amor que lhe
era proibido. Todos acreditam que quem conseguir tirar os brincos das orelhas, lhe
acaba o feitiço que a maldita da bruxa lhe impôs! Até hoje ainda ninguém conseguiu
tal feito, permanecendo a pobre de moura no encantamento de antanho!
21 - LENDA DOS SETE AIS
Esta é uma lenda estranha que está na origem do nome de um local do concelho
de Sintra e que remonta a 1147, data em que D. Afonso Henriques conquistou
Lisboa aos Mouros. Destacado para ocupar o castelo de Sintra, D. Mendo de Paiva
surpreendeu a princesa moura Anasir, que fugia com a sua aia Zuleima. A jovem
assustada gritou um "Ai!" e quando D. Mendo mostrou intenção de não a deixar
sair, outro "Ai!" lhe saiu da garganta. Zuleima, sem lhe explicar a razão, pediu-lhe
para nunca mais soltar nenhum grito do género, mas ao ver aproximar-se o exército
cristão a jovem soltou o terceiro "Ai!". D. Mendo decidiu esconder a princesa e a
sua aia numa casa que tinha na região e querendo levar a jovem no seu cavalo,
ameaçou-a de a separar da sua aia se ela não acedesse e Anasir deixou escapar
o quarto "Ai!". Pouco depois de se instalar na casa, a princesa moura apaixonou-
se por D. Mendo de Paiva, retribuindo o amor do cavaleiro cristão que em segredo
a mantinha longe de todos. Um dia, a casa começou a ser rondada por mouros e
Zuleima receava que fosse o antigo noivo de Anasir, Aben-Abed, que apesar de na
fuga se ter esquecido da sua noiva, voltava agora para castigar a sua traição.
Zuleima contou a D. Mendo que uma feiticeira lhe tinha dito que a princesa morreria
ao pronunciar o sétimo "Ai!". Entretanto, Anasir curiosa pela preocupação da aia
em relação aos seus "Ais", exprimiu o quinto e o sexto consecutivamente,
desesperando a sua aia que continuou a não lhe revelar o segredo. D. Mendo partiu
para uma batalha e passados sete dias foi Aben-Abed que surpreendeu Anasir, que
soltou o sétimo "Ai!", ao mesmo tempo que o punhal do mouro a feria no peito.
Enlouquecido pela dor, D. Mendo de Paiva tornou-se no mais feroz caçador de
mouros do seu tempo.
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12 - A LENDA DA MOURA SALÚQUIA