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1 - A MOURA DO CASTELO DE TAVIRA

By Bruno Lage

A noite de S. João é, desde tempos imemoriais, a noite das mouras encantadas. A


tradição conta que no castelo de Tavira existe uma moura encantada que todos os
anos aparece nessa noite para chorar o seu triste destino. Os mais antigos dizem
que essa moura é a filha de Aben-Fabila, o governador mouro da cidade que
desapareceu quando Tavira foi conquistada pelos cristãos, depois de encantar a
sua filha. A intenção do mouro era voltar a reconquistar a cidade e assim resgatar
a infeliz filha, mas nunca o conseguiu.

Existe uma lenda que conta a história de uma grande paixão de um cavaleiro
cristão, D. Ramiro, pela moura encantada. Foi precisamente numa noite de S. João
que tudo aconteceu. Quando D. Ramiro avistou a moura nas ameias do castelo,
impressionou-o tanto a sua extrema beleza como a infelicidade da sua condição.
Perdidamente enamorado, resolveu subir ao castelo para a desencantar. A subida
através dos muros da fortaleza não se revelou tarefa fácil e demorou tanto a subir
que, entretanto, amanheceu e assim passou a hora de se poder realizar o
desencanto.

Diz o povo que a moura, mal rompeu a aurora, entrou em lágrimas para a nuvem
que pairava por cima do castelo, enquanto D. Ramiro assistia sem nada poder
fazer.

A frustração do jovem cavaleiro foi tão grande que este se empenhou com grande
fúria nas batalhas contra os Mouros. Conquistou, ao que dizem, um castelo, mas
ficou sem moura para amar…

Lenda retirada do site: Lendas de Portugal


2 - LENDA DA TOMADA DE SILVES AOS MOUROS
By Bruno Lage

Reinava em Silves o inteligente e corajoso rei mouro Ben-Afan que numa noite de
tempestade, no intervalo das suas lutas contra os cristãos, teve um sonho
extraordinário. Um sonho que começou por ser um pesadelo, com tempestades e
vampiros, mas que se tornou numa visão de anjos, música e perfumes e terminou
pelo rosto de uma mulher, divinamente bela, com uma cruz ao peito.

No dia seguinte, Ben-Afan procurou a fada Alina, sua conselheira, que lhe revelou
que tinha sido ela própria a enviar-lhe o sonho e que a sua vida iria mudar. Deu-lhe
então dois ramos, um de flor de murta e outro de louro, significando respetivamente
o amor e a glória. Consoante os ramos murchassem ou florissem assim o rei
deveria seguir as respetivas indicações.

Enviou-o ao Mosteiro de Lorvão e disse-lhe que lá o esperava aquela que o amor


tinha escolhido para sua companheira: Branca, princesa de Portugal. Para entrar
no mosteiro, Ben-Afan disfarçou-se de eremita e o primeiro olhar que trocou com a
princesa uniu-os para sempre. O rei mouro voltou ao seu castelo e preparou os
seus guerreiros para o rapto da princesa. Branca de Portugal e Ben-Afan viveram
a sua paixão sem limites, esquecidos do mundo e do tempo. O ramo de murta
mantinha-se viçoso, até que um dia D. Afonso III, pai de Branca, cercou a cidade
de Silves e Ben-Afan morreu com glória na batalha que se seguiu. Nas suas mãos
foram encontrados um ramo de murta murcho e um ramo de louro viçoso.

Lenda retirada do site Lendas de Portugal


3 - LENDA DA FONTE DA MOURA
By Bruno Lage
A muito antiga Fonte da Moura que ainda hoje existe nos arredores de Santarém
tem na origem a história da perseguição dos Mouros por D. Afonso Henriques, após
a conquista da cidade. Um grupo de cavaleiros, liderado pelo jovem rei, seguia já
há dias pelos campos quando, cheios de sede, procuraram uma fonte.

Foi então que surpreenderam uma jovem moura fugitiva que ao ser questionada
onde ficaria a fonte mais próxima lhes disse que era muito longe, acrescentando
em tom de desafio que se o Deus dos cristãos era tão poderoso que fizesse nascer
ali mesmo uma fonte. Talvez então ela se convertesse.

D. Afonso Henriques desceu do cavalo e retirou-se para rezar e, de repente, ouviu-


se um som surdo e viu-se um jato de água límpida e fresca que formou um pequeno
regato. Os cavaleiros ajoelharam-se perante o milagre e a jovem moura, que
chorava de emoção, prometeu dedicar a sua vida ao Deus cristão. A fonte ficou
para sempre conhecida como a Fonte da Moura.

Lenda retirada do site Lendas de Portugal


4 - LENDA DA MOURA CASSIMA
By Bruno Lage
Esta lenda passa-se em 1149, na véspera da reconquista de Loulé aos Mouros pelo Mestre
D. Paio Peres Correia. Loulé estava sob domínio dos mouros e seu governador tinha três
belas filhas Zara, Lídia e Cassima que era a mais nova.
Quando D. Peres se encontrava no exterior das muralhas da cidade pronto para conquistar
a cidade, o governador levou as suas filhas até uma fonte onde as encantou, com o objetivo
de as preservar de um possível cativeiro. Contudo o governador nessa noite conseguiu
fugir para Tânger deixando as suas filhas para trás.
Mas este não conseguia viver feliz ao pensar na pouca sorte das suas pobres filhas. Até
que num certo dia apareceu em Tânger um “carregamento” de escravos vindos de Portugal
onde se encontrava um homem de Loulé, que o governador não hesitou em comprar.
Já no palacete o mouro perguntou ao Carpinteiro se ele não gostaria de voltar para perto
da sua família, este sem perder um segundo disse que sim. Logo o mouro pegou num
alguidar cheio de água dizendo ao louletano para ele se colocar de costas para o alguidar
e saltar para o outro lado, prevenindo-o que se caísse dentro da água iria-se afogar no
oceano, dando-lhe 3 pães (pães esses que continham a chave para o desencantamento
das mouras) diz-lhe o que fazer com eles a fim de libertar as suas lindas filhas do
encantamento a que foram sujeitas. O carpinteiro salta e como num passe de mágica chega
a sua casa abraçando a sua mulher, logo de seguida ele vai até um canto da casa e
esconde os 3 pães dentro de um baú.
Passado algum tempo mulher descobre os pães e fica desconfiada por ele estarem
escondidos, então ela pega numa faca afim de ver se há alguma coisa dentro deles,
espetando a faca num de imediato ela ouve um grito e as suas mãos enchem-se de sangue
vindo do interior do pão.
Na véspera de S. João (dia para o encantamento ser quebrado) o carpinteiro estava
indiferente à animação pois só pensava em cumprir a promessa por ele feita ao ex-
governador, logo que pode pegou nos pães e foi até fonte. Chegando a altura certa este
atira o 1º pão para a fonte e grita por Zara, a mais velha das irmãs e uma figura feminina
sobe no espaço e desaparece diante dos seus olhos. Logo de seguida atira o 2º e grita por
Lídia volta a aparece-lhe outra bela rapariga que desaparece no ar diante dele. Por fim
atira o 3º e grita pela filha mais nova do ex-governador, nada acontece, ele volta a grita por
Cassima e uma jovem moura aparece-lhe agarrada ao gargalo da fonte, que lhe diz que
não pode sair dali devido a curiosidade da sua esposa. Ele pede-lhe desculpa em nome da
sua pobre mulher, esta diz que a perdoa e que tem uma coisa para a mulher deste pois
jamais poderá sair daquela fonte e atira um cinto bordado a ouro para as mãos do
carpinteiro, enquanto desaparece no interior da fonte…
No caminho o Carpinteiro para ver melhor a beleza do cinto coloca-o em redor de um troco
de um grande carvalho, mas de imediato a árvore cai por terra, cortada cerce pelo cinto
fantástico.
Benzendo-se e rezando o carpinteiro compreende tudo: Cassima dera-lhe o cinto apenas
para se vingar! Sua mulher ficaria cortada ao meio, como o carvalho gigantesco!…
Este correu para casa abraçou a mulher e nessa noite não consegui pregar olho com medo
que a moura ali aparece-se, mas isso nunca aconteceu. Tal como a moura Cassima lhe
dissera não mais poderia sair da fonte. Apenas por vezes, segundo se diz – principalmente
nas vésperas de S. João – ela consegue agarrar-se ao gargalo da fonte, e mostrar sua
beleza, e chorar a sua dor aos que se aventuram por até lá….
Retirado do site Lendas de Portugal
5 - LENDA DA PRINCESA FÁTIMA
By Bruno Lage
Fátima, jovem e bela princesa moura, era filha única do emir, que a guardava dos
olhos dos homens numa torre ricamente mobilada, tendo por companhia apenas as
aias e, entre elas, a sua preferida e confidente Cadija.

Apesar de estar prometida a seu primo Abu, o destino quis que Fátima se
apaixonasse pelo cristão que seu pai mais odiava, Gonçalo Hermingues, o “Traga-
Mouros”, o cavaleiro poeta que nas suas cavalgadas pelos campos via a bela
princesa à janela da torre. Rapidamente o coração do cavaleiro cristão se encheu
daquela imagem e sabendo que a princesa iria participar no cortejo da Festa das
Luzes, na noite que mais tarde seria a de S. João, preparou uma cilada de amor.

No impressionante cortejo de mouras e mouros, montando corcéis lindamente


ajaezados, Fátima era vigiada de perto por Abu. De repente, os cristãos liderados
pelo “Traga-Mouros” saíram ao caminho e Fátima viu-se raptada por Gonçalo. Mas
Abu depressa se organizou e partiu com os seus homens em perseguição dos
cristãos e a luta que se seguiu revelou-se fatal para o rico e poderoso Abu. Como
recompensa pelos prisioneiros mouros, Gonçalo Hermingues pediu a D. Afonso
Henriques licença para se casar com a princesa Fátima, a que o rei acedeu com a
condição que esta se convertesse.

A região que primeiro acolheu os jovens viria a chamar-se Fátima, mas a princesa,
já com o nome cristão de Oureana, deu também o seu nome ao lugar onde se
instalaram definitivamente, a Vila de Ourém.

Lenda retirada do Site: Lendas de Portugal


6 - LENDA DAS TRÊS GÉMEAS DE SILVES
By Bruno Lage
No tempo em que Silves pertencia aos Mouros, vinha o rei Mohamed a passear a
cavalo quando encontrou um destacamento do seu exército que trazia reféns
cristãos. Entre estes estava uma lindíssima jovem, sumptuosamente vestida,
acompanhada da sua aia, filha de um nobre morto durante o saque ao seu castelo.
Mohamed ordenou que a nobre dama fosse levada para o seu castelo, onde a
rodeou de todas as atenções, e lhe pediu que abraçasse a fé de Maomé para se
tornar sua mulher. A jovem chorou de desespero porque Mohamed não lhe era
indiferente, mas a sua aia encontrou a solução: ambas renegariam a fé cristã
apenas exteriormente para agradar ao rei mouro e possibilitar o casamento.
Passado algum tempo, nasceram três gémeas a quem os astrólogos auspiciaram
beleza, bondade e ternura, para além de inteligência, mas avisaram o rei que este
deveria vigiá-las quando estas chegassem à idade de casar. O rei não as deveria
confiar a ninguém. Passaram alguns anos e a sultana morreu, ficando a aia, que
tinha tomado o nome árabe de Cadiga, a tomar conta das jovens. Quando estas
eram adolescentes o rei levou-as para um castelo longe de tudo, onde havia apenas
o mar por horizonte. As princesas tornaram-se mulheres, mas embora gémeas
tinham personalidades muito diferentes. A mais velha era intrépida, curiosa, porte
distinto e de olhar insinuante e profundo. A do meio era a mais bela, de uma singular
beleza e apreciava tudo o que era belo, as joias, as flores e os perfumes caros. A
mais nova era a mais sensível. Tímida e doce, passava horas a olhar o mar sob o
luar prateado ou o pôr-do-sol ardente.
Um dia, contra todas as indicações do rei aportou perto do castelo uma galera com
reféns cristãos, entre os quais se salientavam três jovens belos, altivos e bem
vestidos. Curiosas, as princesas perguntaram a Cadiga quem eram aqueles
homens de aspeto tão diferente dos mouros. Cadiga respondeu-lhes que eram
cristãos portugueses e contou às princesas tudo sobre o seu passado. Como as
princesas começaram a ficar demasiado interessadas com os jovens cristãos,
Cadiga pediu ao rei que levasse as filhas para junto de si, sem lhe explicar a razão.
Cavalgavam as princesas com o rei e o seu séquito a caminho de Silves quando se
cruzaram com os três cativos cristãos que não respeitaram a ordem de baixarem o
olhar. As princesas quando os avistaram levantaram os véus e o rei, furioso,
mandou castigar os cristãos insolentes. As princesas ficaram muito tristes, mas
conseguiram convencer Cadiga a arranjar maneira de se encontrarem com os
jovens cristãos. A paixão violenta desencadeada por aquele encontro foi alegria de
pouca dura. Os três cristãos foram resgatados pelo rei português e iriam embora
em breve. As princesas dispuseram-se a segui-los e a converterem-se à fé cristã
antes de casarem com os nobres cristãos. Cadiga rejubilava por conseguir resgatar
para a fé que secretamente professava as filhas da sua ama. Foi então que a
princesa mais nova se recusou a partir e a abandonar o pai. Ficou para trás e, conta
a lenda, morreu de tristeza pouco tempo depois. A sua alma ainda hoje se lamenta
e chora na torre do castelo nas noites sem luar.
7 - LENDA DAS AMENDOEIRAS EM FLOR
By Bruno Lage
Há muito tempo, antes da independência de Portugal, quando o Algarve pertencia
aos mouros, havia ali um rei mouro que desposara uma rapariga do norte da
Europa, à qual davam o nome de Gilda.

Era encantadora essa criatura, a quem todos chamavam a “Bela do Norte”, e por
isso não admira que o rei, de tez cobreada, tão bravo e audaz na guerra, a quisesse
para rainha.

Apesar das festas que houve nessa ocasião, uma tristeza se apoderou de Gilda.
Nem os mais ricos presentes do esposo faziam nascer um sorriso naqueles lábios
agora descorados: a “Bela do Norte” tinha saudades da sua terra.

O rei consegui, enfim, um dia, que Gilda, em pranto e soluços, lhe confessasse que
toda a sua tristeza era devida a não ver os campos cobertos de neve, como na sua
terra.

O grande temor de perder a esposa amada sugeriu, então, ao rei uma boa ideia.
Deu ordem para que em todo o Algarve se fizessem plantações de amendoeiras, e
no princípio da Primavera, já elas estavam todas cobertas de flores.

O bom rei, antevendo a alegria que Gilda havia de sentir, disse-lhe:

– Gilda, vinde comigo à varanda da torre mais alta do castelo e contemplareis um


espetáculo encantador!

Logo que chegou ao alto da torre, a rainha bateu palmas e soltou gritos de alegria
ao ver todas as terras cobertas por um manto branco, que julgou ser neve.

– Vede – disse-lhe o rei sorrindo – como Alá é amável convosco. Os vossos desejos
estão cumpridos!

A rainha ficou tão contente que dentro em pouco estava completamente curada. A
tristeza que a matava lentamente desapareceu, e Gilda sentia-se alegre e satisfeita
junto do rei que a adorava. E, todos os anos, no início da Primavera, ela via do alto
da torre, as amendoeiras cobertas de lindas flores brancas, que lhe lembravam os
campos cobertos de neve, como na sua terra.

Retira do site Lendas de Portugal


8 - LENDA DA MOURA DO RIBEIRO DAS FONTAINHAS

Na margem direita do ribeiro das Fontainhas, que corre a Poente da freguesia,


existe um grande penedo. Nele, devido à ação da erosão, abre-se uma pequena
gruta. O povo de Segura chama-lhe a Cova da Moura.

Quem depois do pôr-do-sol se aproximar do penedo, ouvirá, como vinda de muito


longe, do interior da rocha ou das profundezas da terra, uma guisalheira infernal,
produzida pelo som de muitas e diferentes campainhas. É o sinal do aparecimento
do Moura.

E diz a lenda, que se o curioso, que a visitar persistir em descobrir o segredo da


rocha, mesmo depois de ouvir a guisalheira, pagará com a vida o atrevimento,
porque a Moura o esmagará com uma enorme cacheira de ferro.

O porquê deste proceder da estranha criatura, que ao contrário de outras suas


irmãs espalhadas por todo o Portugal, prefere o isolamento à quebra do feitiço,
ignora-o o povo de Segura que embora receie a Moura do penedo, continua a
afirmar que nenhuma há mais bela ou mais linda.

fonte: site da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova


9 - LENDA DO ALMOCREVE DE ESTOI

O almocreve José Coimbra, conhecido também por Ti Zé da Serra, percorria


habitualmente, com o seu burrinho, os caminhos do Algarve. Um dia ao passar junto
das ruínas de Milreu, perto de Estoi, encontrou uma bela moura encantada vestida
com um manto de princesa que lhe sorriu. Fascinado, seguiu a moura até que ela
chegou a um sítio onde bateu com o pé no chão três vezes e um alçapão se abriu.
Desceram ambos por uma escadaria de mármore até uma sala enorme revestida a
ouro onde a moura o deixou só por um instante antes de surgir acompanhada por
um leão e uma serpente, seus irmãos encantados.

A bela moura prometeu-lhe o palácio e todo o seu ouro se ele quebrasse o encanto:
teria que ser três vezes engolido e vomitado pelo leão e três vezes abraçado pela
serpente. O corpo do almocreve ficaria em chaga e finalmente a moura o beijaria
na fronte para lhe retirar os santos óleos do batismo. O almocreve pediu-lhe para
pensar e a moura deixou-o partir com duas barras de ouro.

José Coimbra voltou para casa e tentou esquecer o episódio, mas passado pouco
tempo começou a empobrecer, ficando na mais absoluta miséria. Decidiu então
vender as duas barras de ouro que tinha escondido, mas quando as olhou logo
ficou cego. Como última esperança, resolveu consultar um especialista de olhos
em Faro. Ao passar por Estoi, apareceu-lhe a moura que o acusou de ter faltado à
promessa de lhe dar uma resposta. A moura só lhe tinha poupado a vida porque
ele nunca tinha revelado o segredo daquele encontro. O almocreve chorou sinceras
lágrimas de arrependimento, comovendo a moura que decidiu perdoar-lhe e
devolver-lhe a visão. Conta-se que o almocreve nunca mais voltou a passar por
Estói, onde ainda hoje uma moura e os seus irmãos esperam por quem os queira
desencantar.

Lenda retirada do site: Lendas de Portugal


10 - LENDA DO DISTRITO DE ÉVORA – Geraldo Geraldes

Esta lenda passou-se no ano de 1166, no tempo em que Évora era ainda a
Yeborath árabe, para grande desgosto de D. Afonso Henriques que a desejava
como ponto estratégico da reconquista de Portugal aos Mouros. Geraldo Geraldes,
um homem de origem nobre que vivia à margem da lei, era chefe de um bando de
proscritos que habitavam num pequeno castelo nos arredores de Yeborath.
Conhecido também pelo Sem Pavor, Geraldo Geraldes decidiu conquistar Évora
para resgatar a sua honra e o perdão para os seus homens. Disfarçado de trovador
rondou a cidade e traçou a sua estratégia de ataque à torre principal do castelo que
era vigiada por um velho mouro e pela sua filha. Numa noite, o Sem Pavor subiu
sozinho à torre e matou os dois mouros, apoderando-se em silêncio da chave das
portas da cidade. Mobilizou os seus homens e atacou a cidade adormecida numa
noite sem lua que, surpreendida, sucumbiu ao poder cristão. No dia seguinte, D.
Afonso Henriques recebeu surpreendido a grande novidade e tão feliz ficou que
devolveu a Geraldo Geraldes as chaves da cidade, bem como a espada que
ganhara, nomeando-o alcaide perpétuo de Évora. Ainda hoje, a cidade ostenta no
brasão do claustro da Sé, a figura heróica de Geraldo Geraldes e as duas cabeças
dos mouros decepadas, para além de lhe dedicar a praça mais emblemática de
Évora.
11 - LENDA DA MOURA DA PONTE ROMANA DE CHAVES

Esta é uma lenda que tem origem no século XII. Nesse tempo, as terras Flavienses
eram governadas pelos Mouros. De acordo com o que diz o povo, uma jovem moura
ficara prometida a alguém. No caso, ficou noiva do seu primo Abed. O Alcaide tinha
um filho, Abed, sendo que este ia casar com a sobrinha (que ficou órfã devido à
guerra) do Alcaide.
O primo não era do agrado da jovem, pois ela não amava o seu primo. A bela jovem
não recusou, pois, os Mouros por ali eram poucos e nenhum lhe despertara paixão.
Depois dos cristãos reconquistarem Chaves, os cavaleiros Rui e Garcia Lopes,
irmãos de D. Afonso Henriques, lideravam o exército português e fizeram da jovem
moura uma refém. O Alcaide e o seu filho encabeçaram a resistência Moura e a
defesa do castelo. No entanto, perante os ataques cristãos, a população da cidade
começou a fugir desesperadamente.
A jovem acabou por se apaixonar por um cristão. Eles estavam apaixonados e
viviam felizes. Enquanto isso, o seu primo, que tinha fugido de Chaves, guardava-
lhe rancor.
Após ficar restabelecido de um ferimento de guerra, Abed voltou a Chaves,
disfarçado de mendigo. Um dia, esperou a sua prima na ponte e pediu-lhe esmola.
Depois da jovem estender a mão para o pedinte, Abed olhou-a nos olhos e rogou-
lhe uma praga:
“Ficarás encantada para sempre, sob o 3º arco desta ponte. Só o amor de um
cavaleiro cristão, que não pode ser aquele que te levou, poderá salvar-te! Mas esse
cavaleiro nunca virá!”
Ouviu-se um grito da mulher. Ela reconheceu o primo e, depois desse momento, a
moura desapareceu magicamente e nunca mais foi vista. As damas cristãs que a
acompanhavam testemunharam o sucedido. Abed fugiu de seguida.
O guerreiro cristão que vivia com ela, tudo fez para a encontrar. Desesperado,
procurou a jovem incessantemente. Viveu em agonia, mesmo depois de pagar para
que trouxessem Abed vivo para que este quebrasse o encanto. Porém, nunca mais
viu a jovem. O cristão morreu ao fim de alguns anos, numa profunda dor de
saudade.
Anos mais tarde, numa noite de São João, um cavaleiro cristão passou pela dita
ponte, tendo ouvido a voz de uma mulher que lhe pediu para descer ao 3º arco da
ponte e dar-lhe um beijo. Contudo, o jovem cristão, com medo, apenas fugiu. O
homem trazia o crucifixo ao peito, tocou nele e recordou-se dos contos que a mãe
lhe costumava contar acerca das desgraças dos cavaleiros que ficaram entregues
aos feitiços das mouras encantadas. Fugiu a cavalo, jurando nunca mais ali passar
à meia-noite.
Desde então, nas noites de São João, é possível ouvir os lamentos da moura
encantada. A jovem moura ficou para sempre encantada, como castigo do amor
que tivera por um cristão, estando aprisionada na ponte romana de Chaves.
12 - LENDA DA MOURA SALÚQUIA

Em 1165 Moura era uma cidade chamada Al-Manijah, capital de província.


Governava então nessa importante cidade uma formosa moura, de nome Salúquia,
filha de Abu-Assan, que se apaixonou pelo alcaide de Arouche, de seu nome
Bráfama.
Chegada a véspera do dia das núpcias, grande alegria reinava no castelo de Al-
Manijah. Salúquia esperava ansiosamente, no alto da torre, ver surgir o seu noivo,
entre os densos olivedos. Entre tanto Bráfama acompanhado de brilhante comitiva,
cheio de contentamento e desprovido de armas, pois ia para um festim e não para
a guerra, deixava Arouche e tomava caminho da terra da sua amada, que estava
localizada a 10 léguas de distância.
Todo o Alentejo, ao norte e a oeste de moura já tinha sido constado pelos cristãos.
El-rei D. Afonso Enriques, encarregou D. Álvaro Rodrigues e D. Pedro Rodrigues,
dois irmãos fidalgos muito valentes e ilustres, de conquistarem Al-Manijah, uma das
mais importantes cidades muçulmanas, além do Guadiana.
Estes dois fidalgos, sabedores do que se passava no castelo, foram esconder-se
com o seu exército num olival (chamado hoje Bráfama de Arouche) e aí esperaram
o desventurado alcaide e a sua comitiva para, traiçoeiramente, matarem os infelizes
árabes.
Depois de travada a batalha e de todos estarem mortos, os cristãos despiram-se e
vestiram-se com os seus trajes.
Disfarçados de muçulmanos e simulando alegres canções mouriscas, dirigiram-se
de que nada suspeitava.
Salúquia, ao vê-los, mandou baixar a ponte levadiça, julgando que seu noivo se
aproximava e depressa percebeu que tinha sido traída: os invasores ao transporem
os muros, baixaram as máscaras de árabes honrados e começaram a ferir, sem dó,
a desprevenida guarnição de Al-Manijah.
Sabedora do que se passava, alcaidessa preferiu a morte à escravidão e num
derradeiro esforço, verdadeiramente heroico, tomou as chaves do castelo e
precipitou-se da torre onde se encontrava (Torre da Salúquia).
Depois da morte da alcaidessa e da conquista da cidade, os irmãos Rodrigues, pelo
o que parece, quando queriam referir-se a Al-Manijah diziam a terra de Moura, a
vila (que nesse tempo significava cidade) da Moura.
13 - LENDA DO MILAGRE DE OURIQUE

A Batalha de Ourique é um episódio simbólico para a monarquia portuguesa, pois


conta-se que foi nela que D. Afonso Henriques foi pela primeira vez aclamado rei
de Portugal, em 25 de julho de 1139. Foi no campo de Ourique que se defrontaram
o exército cristão e os cinco reis mouros de Sevilha, Badajoz, Elvas, Évora e Beja e
os seus guerreiros, que ocupavam o sul da península. A lenda conta que um pouco
antes da batalha, D. Afonso Henriques foi visitado por um velho homem que o rei
já tinha visto em sonhos e que lhe fez uma revelação profética de vitória. Contou-
lhe ainda que "sem dúvida Ele pôs sobre vós e sobre a vossa geração os olhos da
Sua Misericórdia, até à décima sexta descendência, na qual se diminuirá a sucessão.
Mas nela, assim diminuída, Ele tornará a pôr os olhos e verá." O rei deveria ainda,
na noite seguinte, sair do acampamento sozinho logo que ouvisse a sineta da ermida
onde o velho vivia, o que aconteceu. O rei foi surpreendido por um raio de luz que
progressivamente iluminou tudo em seu redor, deixando-o distinguir aos poucos o
Sinal da Cruz e Jesus Cristo crucificado. O rei emocionado ajoelhou-se e ouviu a voz
do Senhor que lhe prometeu a vitória naquela e em outras batalhas: por intermédio
do rei e dos seus descendentes, Deus fundaria o Seu império através do qual o Seu
Nome seria levado às nações mais estranhas e que teria para o povo português
grandes desígnios e tarefas. D. Afonso Henriques voltou confiante para o
acampamento e, no dia seguinte, perante a coragem dos portugueses os mouros
fugiram, sendo perseguidos e completamente dizimados. Conforme reza a lenda,
D. Afonso Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ter cinco escudos
ou quinas em cruz representando os cinco reis vencidos e as cinco chagas de cristo,
carregadas com os trinta dinheiros de Judas.
A Morte do Lidador Num dia longínquo de 1170, Gonçalo Mendes da Maia, nomeado
Lidador pelas muitas batalhas travadas e ganhas contra os Mouros, decidiu celebrar
os seus 95 anos com um ataque ao famoso mouro Almoleimar. Da cidade de Beja
saiu o Lidador naquela manhã com trinta cavaleiros fidalgos e trezentos homens de
armas, sabendo de antemão que o exército de Almoleimar era muitas vezes
superior. Perto do meio-dia, pararam os cavaleiros para descansar perto de um
bosque onde emboscados aguardavam os mouros. A primeira seta feriu de morte
um guerreiro português, o que fez com que o exército cristão se pusesse em guarda.
Frente a frente se mediam a destreza e perícia árabes, invocando Allah, e a rudeza
e força cristãs, clamando por Santiago. A batalha começou e ambos os exércitos se
debateram com coragem, até que num dado momento Gonçalo Mendes e
Almoleimar cruzaram espadas em cima dos seus cavalos. Um dos vários golpes
desferidos atingiu Gonçalo Mendes que, mesmo ferido, atacou com raiva
Almoleimar, que ripostou. O resultado foram dois golpes fatais, um dos quais matou
o mouro e outro que deixou Gonçalo Mendes Maia ferido de morte. O Lidador,
moribundo, perseguiu com os seus homens os mouros que debandavam em fuga
até que o esforço de um último golpe sobre um cavaleiro árabe lhe agravou os
ferimentos. O Lidador caiu morto na terra juncada de mais de mil corpos inimigos.
Os cerca de sessenta cristãos sobreviventes celebraram com lágrimas esta última
vitória do Lidador. Um sacerdote templário disse em voz baixa as palavras do Livro
da Sabedoria: "As almas dos justos estão na mão de Deus e não os afligirá o
tormento da morte".
14 - LENDA DO MENINO DA GRALHA

Um capitão mouro vivia no forte da ilha do pessegueiro (perto de Porto Covo) com
um grupo de soldados, sua mulher e filhos. Tinha a seu cargo a defesa da fortaleza
e o treino dos seus soldados. Sonhava, ele, fazer do seu filho (criança de 8 anos),
um grande guerreiro, corajoso e forte.

Porém o menino detestava as armas e fugia aos treinos a que o pai o submetia.
Gostava muito de brincar e tinha um coração bondoso, tanto para as pessoas, como
para todos os animais. Afeiçoou-se de tal maneira a uma gralha, que era ela o seu
passatempo favorito.

Onde estava o menino lá estava o pássaro. O pai enfurecido do seu desinteresse


pelas artes da guerra, ameaçou-o de matar a gralha se ele não deixasse de brincar
com ela.

Uma noite quando todos dormiam, o menino pegou na sua companheira gralha
resolveu fugir para que seu pai não matasse a sua amiguinha. Muitos dias se
passaram. Todas as buscas foram em vão pois não encontravam o pobre menino.
Quando voltaram a ver o seu filho, já ele estava morto junto a uma fonte num vale,
com a sua amiga gralha pousada no seu corpo, morta também. Desde aí, aquela
fonte ficou conhecida como a "Fonte da Gralha".

Nota: Esta fonte encontra-se debaixo da água da nova barragem, construída na


herdade da Cabeça da Cabra, e muita gente ali residente se lembra perfeitamente
dela.
15 - LENDA DA FUNDAÇÃO DO CASTELO
DE
SANTIAGO DO CACÉM

Durante a ocupação árabe, foi proprietário do território à volta de Santiago do


Cacém um mouro muito rico.
O mouro tinha dois filhos e uma filha.
Já muito velho, sentindo aproximar-se a morte, um dia chamou os filhos e disse-
lhes:
- Estou velho e doente. Sei que não posso durar muito. Mas antes de morrer queria
que repartissem os bens que possuo, de modo que todos fiquem satisfeitos e
amigos. Morrerei feliz se fizerem o que vos peço.
Então, como era costume na época, o filho mais velho tirou para si as terras que
pretendia. O segundo filho procedeu do mesmo modo com a parte restante. Apesar
disso enormes propriedades ficaram para a irmã, uma gentil moura, linda como os
amores.
-Ficaste satisfeita, minha filha?
-Sim, meu pai, mas não quero propriedades. Acho mais necessário termos um
castelo para nossa defesa. Para mim apenas quero o terreno que se possa cobrir
com a pele de um boi. Grande foi a admiração do pai e dos irmãos.
Apresentaram-lhe a pele que pedia para que pudesse demarcar a parte da sua
herança.
A jovem mandou cortar a pele em tiras muito finas, e com elas delimitou o perímetro
da área do terreno que pretendia.
Depois disto vieram três dias de intenso nevoeiro. Passado este tempo o nevoeiro
dissipou-se e apareceu o castelo de Santiago do Cacém, no lugar traçado pela
moura, onde ainda hoje o podemos admirar.
16 - LENDA DA PRINCESA ARDÍNIA

A princesa Ardínia viveu no século X, no castelo de Lamego, quando esta terra se


encontrava sob domínio árabe. Era o período da reconquista da Península Ibérica
aos árabes.

A beleza da princesa era falada por todos os lados. Um dia o cavaleiro cristão, dom
Tedom, veio disfarçado a Lamego, tendo-se logo apaixonado. Depois de alguns
encontros no laranjal do castelo, ao luar, resolveram casar-se.

Mas o rei mouro, pai da princesa, não consentia no casamento da sua filha
muçulmana com um cristão.

Numa noite de vendaval a princesa fugiu com o seu amado para longe,
escondendo-se no Convento de S. Pedro das Águias, onde casaram.

Mas a felicidade de Ardínia durou pouco. O pai, que saíra em sua perseguição,
encontrou-a junto do rio Távora e, ao saber que se tinha casado e convertido à
cristandade, matou-a com a sua espada deitando o corpo à água. O Dom Tedom
quando soube da morte da sua amada, fez votos de nunca mais se casar e atirou-
se ao combate dos muçulmanos, tendo sido morto, bem perto junto a um pequeno
rio, que ficou com o seu nome, rio Tedo.

Diz o povo, que as águas dos rios Távora e Tedo, por vezes, aparecem vermelhas,
porque o sangue dos amados Ardínia e Tedom ainda as tinge.
Também diz o povo que quando o castelo é envolvido pelo nevoeiro no Inverno, a
alma da princesa esvoaça sobre ele.
https://www.outrostempos.com/experiencias/82-experiencias/144-lenda-da-princesa-ardinia
17 - LENDA DE ALMIRA, A MOURA ENCANTADA

Alcácer do Sal foi uma das povoações abaixo do Tejo mais difíceis de conquistar
aos mouros. D. Afonso Henriques tomou o castelo da cidade em 1160, mas a
conquista não durou muito. Em 1191 os muçulmanos estavam de novo em poder
do castelo da cidade e só em 1217, depois de dois meses e meio de cerco por parte
das tropas de D. Afonso II, os Almóadas foram expulsos definitivamente de Alcácer.

Conta a lenda que, na altura em que, aterrorizados pela sanha dos cristãos, os
mouros fugiram do castelo, e uma bela menina terá ficado para trás.

Chamava-se Almira e mal falava ainda. Recolhida pelos soldados, foi criada no
castelo como cristã e cresceu rodeada de amor. Dotada para a música, aprendeu
a tocar alaúde. Sem conhecer o seu passado, Almira carregava consigo uma
saudade e tristeza que a tornavam uma excecional poetisa. O seu canto, que
rivalizava com qualquer um dos trovadores que passassem pelo castelo, encantava
todos os que o ouviam e, por isso, muitos cavaleiros se deixaram seduzir pela bela
rapariga. Almira, porém, a nenhum dedicava o seu amor. Honrava-os nos seus
poemas, mas continuava distante e intocável. Assim permaneceu até ao dia em
que conheceu D. Gonçalo, nobre cavaleiro que chegou a Alcácer do Sal em busca
de honra e serviço.

A jovem moura deixou-se encantar pelos olhos de D. Gonçalo a quem dedicava as


mais belas melodias.

“Pois é mais vosso que meu


Senhor, o meu coração
Pois vossos cativos são
Meus olhos, lembro-vos eu.”

Almira entoava estes versos do alto da sua janela. Certa noite, o seu canto teve
resposta. Era D. Gonçalo que dedicava à moura alguns versos de amor:

“Mais digna de ser servida


Que senhora deste mundo,
Vós sois o meu deus segundo
Vós sois meu bem desta vida.”

Ouvindo o canto melodioso do seu amor, Almira só terá exclamado: “Oh, meu
senhor D. Gonçalo!”. O resto não conta a lenda, mas diz-se que desde então, em
certas noites de luar de agosto, se podem ouvir junto às muralhas do castelo os
sussurros dos amantes eternamente encantados.
http://www.cm-alcacerdosal.pt/es/municipio/concelho/patrimonio/patrimonio-etnografico/lendas/lenda-de-almira-moura-encantada/
18 - LENDA DOS CORVOS DE S. VICENTE

No tempo da ocupação da Península Ibérica pelos mouros, estes ordenaram que


todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas muçulmanas. Os cristãos de
Valência quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S. Vicente, que estava guardado
numa igreja, levando-o para tal por mar para as Astúrias, então a única região cristã
da península.

Como as águas estavam turbulentas, foram forçados a aproximar-se da costa. Por


essa altura, perguntaram ao mestre da embarcação que terra tão bonita era aquela,
ao que ele respondeu que era o Algarve. Pouco depois o barco encalhou e forçou-
os a passar a noite naquele lugar.

Na manhã seguinte, quando se preparavam para retomar viagem, avistaram um


navio pirata. O mestre da embarcação propôs-lhes afastar-se com o navio para
evitar a abordagem dos corsários, enquanto os cristãos se escondiam na praia com
a sua relíquia. Depois viria buscá-los.

O barco, no entanto, nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele lugar. Ali
construíram um templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena aldeia
à sua volta. Entretanto, D. Afonso Henriques entrou em guerra com os mouros do
Algarve, e estes, por vingança, arrasaram a aldeia dos cristãos de S. Vicente e
levaram-nos cativos.

Passados muitos anos, D. Afonso Henriques foi avisado de que existiam vários
cristãos entre os prisioneiros feitos numa batalha contra os Mouros. Chamados à
presença do rei, um deles, já muito velho, contou-lhe a sua história e confidenciou-
lhe que tinham enterrado o corpo de S. Vicente num local secreto. Pedia ao rei que
resgatasse o corpo do mártir para um local seguro.

D. Afonso Henriques resolveu viajar com o cristão a caminho de S. Vicente, mas


este morreu durante a viagem. Sem saber o local exato onde estava o santo, D.
Afonso Henriques aproximou-se das ruínas do antigo templo. Avistou então um
bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar. Os seus homens aí escavaram
e encontraram o sepulcro de S. Vicente, escondido na rocha.

Trouxeram o corpo de S. Vicente de barco para Lisboa e durante toda a viagem


foram acompanhados por dois corvos, cuja imagem ainda hoje figura nas armas de
Lisboa em testemunho desta história extraordinária.
19 - LENDA DA COVA ENCANTADA OU DA CASA DA MOURA ZAIDA

No tempo em que os Mouros dominavam Sintra, um cavaleiro nobre cristão foi feito
prisioneiro. Zaida, a filha do alcaide, apaixonou-se por ele.

Um dia, o resgate foi pago e o cavaleiro libertado. Apaixonado também por Zaida,
o cavaleiro pediu-lhe para fugirem. Zaida recusou, mas pediu-lhe para nunca mais
a esquecer.

O nobre cavaleiro voltou para a sua família e tentou esquecer Zaida nos campos
de batalha, mas não conseguiu. Decidiu atacar de novo o castelo de Sintra. Durante
esse combate, o nobre cavaleiro tombou ferido. Zaida arrastou-o através de uma
passagem secreta até uma sala escondida numas grutas.

Entretanto, enquanto enchia uma bilha de água para levar ao seu amado, foi
atingida por uma seta e caiu ferida. Reunindo as últimas forças, o cavaleiro cristão
arrastou-se para junto do corpo da sua amada. Os dois foram encontrados mais
tarde, já sem vida.

Diz a lenda que, em certas noites de luar, aparece junto à cova uma formosa
donzela vestida de branco a encher uma bilha de água, desaparecendo logo de
seguida, após um doloroso gemido.

Na serra de Sintra existe uma rocha com um corte, perto do Castelo dos Mouros.
Segundo a tradição que esse corte marca a entrada para uma cova que tem
comunicação com o castelo. É conhecida por Cova da Moura ou Cova Encantada.
20 - LENDA DA COVA DA MOURA

Em tempos que lá vão, quando os mouros e cristãos ainda viviam próximos uns
dos outros, apesar de inimigos, uma bela Moura ficou perdida de amores por um
jovem cavaleiro cristão. Da janela do castelo, lá na atalaia, onde seu pai era senhor,
fixava a pobre da Moura o horizonte, na ânsia de ver a sua paixão. Só se tinham
encontrado em segredo, pela calada da noite, com medo de serem vistos.
Com o passar do tempo, o amor entre eles foi crescendo de tal maneira, que já não
suportavam a ausência do outro, nem os fugazes encontros as escondidas! Por
isso, apesar de saberem o quanto isso era difícil, resolveram revelar ao pai da
jovem o segredo do amor que partilhavam, para que este autorizasse o casamento.
O chefe mouro nem queria ouvir o que a jovem filha lhe pedia! Casar com um
cristão? A filha tinha de certeza perdido o juízo por completo! Não pertencia o
pretenso noivo ao inimigo e a outra fé? Como podia aceitar tal casamento?
Ao princípio ainda pensou que aquilo era desvario da juventude, e da força da
primavera que se iniciara em plena pujança. Por isso deixou passar algum tempo
para ver da perseverança do desejo. Mas o tempo passava e a filha cada vez mais
se agarrava aquele cavaleiro que lhe importunava a porta. Usou todas as
artimanhas para que a paixão desaparecesse, desde alertar os guardas para não
deixarem aproximar-se o cristão, ate fechar a pobre da donzela moura na mais alta
das torres do castelo. Nada conseguiu!
Esgotadas as tentativas para convencer a filha a deixar esse amor, resolveu o chefe
mouro chamar uma mulher das redondezas, que diziam ter grandes poderes.
Depois de lhe contar o que pretendia, confiou a bruxa o remédio para tão grande
mal de amor.
Introduziu-se a bruxa nos aposentos da jovem moura, para lhe conquistar a
confiança e a convencer a colocar uns brincos que trazia consigo. A donzela ainda
negou a oferta, desconfiada da aparência da mulher que a visitava, mas quando
lhe disseram que os brincos lhe iam ficar muito bem, porque ela era muito linda, e
que os brincos eram mesmo talhados para o seu rosto, lá aceitou, por entre um
sorriso de vaidade. Quando estava a acabar de prender o segundo brinco, a bruxa
disse umas palavras estranhas para enfeitiçar a pobre da moura. Naquele mesmo
instante a bela jovem transformou-se numa horripilante cobra!
A partir daquele dia nunca mais a moura foi vista pelo jovem cavaleiro que, por isso,
morreu de desgosto! Diz o povo que há quem tenha visto uma cobra muito estranha
pelos lados da Atalaia. Também há quem diga que, uma vez por mês, em noites de
lua cheia, aparece uma linda jovem com uns belos brincos, na Praia da Lenta, num
local onde existe uma cova, que, segundo dizem, liga o rio à Atalaia. Têm-na visto
ali a lavar, esquecendo-se por vezes de uma ou outra peça das suas belas e ricas
roupas.
Muitos mostram pena da moura e do seu fado, por ter desejado um amor que lhe
era proibido. Todos acreditam que quem conseguir tirar os brincos das orelhas, lhe
acaba o feitiço que a maldita da bruxa lhe impôs! Até hoje ainda ninguém conseguiu
tal feito, permanecendo a pobre de moura no encantamento de antanho!
21 - LENDA DOS SETE AIS

- Lenda do Distrito de Lisboa -

Esta é uma lenda estranha que está na origem do nome de um local do concelho
de Sintra e que remonta a 1147, data em que D. Afonso Henriques conquistou
Lisboa aos Mouros. Destacado para ocupar o castelo de Sintra, D. Mendo de Paiva
surpreendeu a princesa moura Anasir, que fugia com a sua aia Zuleima. A jovem
assustada gritou um "Ai!" e quando D. Mendo mostrou intenção de não a deixar
sair, outro "Ai!" lhe saiu da garganta. Zuleima, sem lhe explicar a razão, pediu-lhe
para nunca mais soltar nenhum grito do género, mas ao ver aproximar-se o exército
cristão a jovem soltou o terceiro "Ai!". D. Mendo decidiu esconder a princesa e a
sua aia numa casa que tinha na região e querendo levar a jovem no seu cavalo,
ameaçou-a de a separar da sua aia se ela não acedesse e Anasir deixou escapar
o quarto "Ai!". Pouco depois de se instalar na casa, a princesa moura apaixonou-
se por D. Mendo de Paiva, retribuindo o amor do cavaleiro cristão que em segredo
a mantinha longe de todos. Um dia, a casa começou a ser rondada por mouros e
Zuleima receava que fosse o antigo noivo de Anasir, Aben-Abed, que apesar de na
fuga se ter esquecido da sua noiva, voltava agora para castigar a sua traição.
Zuleima contou a D. Mendo que uma feiticeira lhe tinha dito que a princesa morreria
ao pronunciar o sétimo "Ai!". Entretanto, Anasir curiosa pela preocupação da aia
em relação aos seus "Ais", exprimiu o quinto e o sexto consecutivamente,
desesperando a sua aia que continuou a não lhe revelar o segredo. D. Mendo partiu
para uma batalha e passados sete dias foi Aben-Abed que surpreendeu Anasir, que
soltou o sétimo "Ai!", ao mesmo tempo que o punhal do mouro a feria no peito.
Enlouquecido pela dor, D. Mendo de Paiva tornou-se no mais feroz caçador de
mouros do seu tempo.
https://lendasetradicoes.blogs.sapo.pt/tag/distrito+lisboa
12 - A LENDA DA MOURA SALÚQUIA

A lenda da Moura Salúquia remonta ao tempo em que a região de Moura estava


em poder dos mouros e que os reis cristãos da Península, nomeadamente D.
Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, se esforçavam por reconquistar para a
cristandade.

Salúquia era filha do governador muçulmano Abu Hassan e estava noiva de um


jovem que fora nomeado alcaide do castelo. Debruçada do alto de uma das torres,
aguardava ansiosamente a chegada do seu noivo, que partira para combater os
portugueses. Estes, porém, avançando à conquista da povoação fizeram uma
emboscada ao jovem mouro e mataram-no, assim como aos seus companheiros.
Vestiram os seus trajes e com este ardil conseguiram que lhes abrissem as portas
do castelo.

Percebendo o embuste, a bela moura Salúquia, preferindo a morte a ser escrava e


cativa dos cristãos, atirou-se da torre. E assim se explica a origem do nome Moura.

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