Você está na página 1de 27

Direito do Trabalho

Prof. Ms. Luciana de Camargo Maltinti


E-mail: luciana.maltinti@gmail.com
Aula 3: Direito do Trabalho: denominação,
conceito, natureza jurídica. Aplicação das
Normas Jurídicas: no Tempo e Espaço.
Hierarquia das Normas. Princípios.
Organização Internacional do Trabalho -
OIT
DIREITO DO TRABALHO

 Denominação: Legislação Trabalhista; Direito Operário; Direito


Industrial; Direito Corporativo; Direito Social; Direito do Obreiro;
Direito do Trabalho (Alemanha, 1912).

 Conceito: Para Maurício Godinho Delgado o Direito do Trabalho é


um complexo de princípios, regras e institutos jurídicos que regulam,
no tocante às pessoas e matérias envolvidas, a relação empregatícia
de trabalho, além de outras relações laborais normativamente
especificadas.
 Natureza Jurídica: Segundo Maurício Godinho Delgado a
natureza jurídica de qualquer ramo do Direito não se mede em
função da imperatividade ou dispositividade de suas regras
componentes. Se tal critério fosse decisivo, o Direito de Família,
formado notadamente por regras imperativas, jamais seria ramo
componente do Direito Civil e Privado. Por conseguinte afirma que:

 “Enfocada a substância nuclear do Direito do Trabalho (relação de


emprego) e seu cotejo comparativo com a substancia dos demais
ramos jurídicos existentes, não há como escapar-se da conclusão
de que o ramo justrabalhista situa-se no quadro componente do
Direito Privado.” Maurício G. Delgado
APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS
NO TEMPO E NO ESPAÇO

 As normas nascem com a promulgação que é o ato pelo qual o


Executivo autentica a lei, atestando a sua existência ordenando-lhe a
aplicação. Mas só começam a vigorar com a sua publicação (no
diário oficial, gera presunção de conhecimento geral do texto).
Ninguém pode deixar de cumprir a lei, alegando desconhecimento.
Assim, a publicação é a condição para a lei entrar em vigor e tornar-
se eficaz. Ela é obrigatória para todos, mesmo para os que a
ignoram.
 A obrigatoriedade da norma não se inicia no dia da publicação, salvo
se ela assim determinar. Pois sua força obrigatória está condicionada
à sua vigência, ou seja, ao dia em que começar a vigorar.

 Assim, para que uma norma entre em vigor, ou seja, possa gerar
efeitos, ela deve aguardar um certo período de tempo. A esse
período entre a data da publicação e o termo inicial de aplicação da
norma denomina-se vacatio legis.

 A vacatio legis tem a finalidade de permitir que a lei seja melhor


conhecida pelos seus destinatários, bem como permitir aos
aplicadores da lei que se preparem para poder aplicá-las
devidamente.
 Quanto à possibilidade da lei retroagir ao passado para regular
situação anteriormente constituída, segundo a Constituição Federal,
no seu artigo 5.º, XXXVI:

“A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a


coisa julgada".

 Essa fórmula, que proíbe expressamente as leis retroativas, vem


desde a Constituição de 1.891 (art. 11) e todas as subseqüentes
mantêm esse mesmo princípio.

 A lei nova, como regra, deve respeitar o direito adquirido, o ato


jurídico perfeito e a coisa julgada. Mas ela foi feita para ter vigor
somente no futuro.
HIERARQUIA DAS NORMAS (KELSEN)
CONSTITUIÇÃO FEDERAL

EMENDA CONSTITUCIONAL

LEI COMPLEMENTAR, LEI ORDINÁRIA, LEIS DELEGADAS


E MEDIDAS PROVISÓRIAS

DECRETOS LEGISLATIVOS E RESOLUÇÕES

SENTENÇAS NORMATIVAS, SENTENÇAS ARBITRAIS EM


DISSÍDIOS COLETIVOS E JURISPRUDÊNCIA

CONVENÇÃO COLETIVA

ACORDO COLETIVO

COSTUMES
 Com relação à hierarquia das fontes, no vértice (topo) da pirâmide
temos a Constituição Federal, a partir da qual, em grau decrescente,
as demais fontes vão se escalonando.

 A pirâmide normativa trabalhista, diferentemente do Direito Comum, é


estabelecida de modo flexível e variável, elegendo para seu vértice a
norma jurídica mais favorável ao trabalhador.

 Assim, no Direito Comum, o critério informador da pirâmide


hierárquica é rígido e inflexível.
PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO
 Princípio é a fonte primária ou básica determinante de alguma coisa.
Toda norma jurídica emana de uma razão, de um fundamento, que é
o seu princípio.

 Pode-se dizer que o princípio inspira a criação da norma.

 O Direito do Trabalho, como ciência autônoma, possui princípios


próprios, dada a natureza da relação de formas desiguais que rege a
relação de emprego, mais favorável ao empregador, que detém o
poder diretivo.
 Decorrente da necessidade de proporcionar a igualdade na relação
trabalhista e compensar a superioridade do empregador, surge o
princípio da proteção do trabalhador, que subdivide em três
princípios:

 Princípio da norma mais favorável ao trabalhador: em caso de


conflito de normas, prevalecerá a norma que for mais favorável ao
trabalhador.

 Princípio in dúbio pro operário: trata-se de critério de interpretação


das normas trabalhistas, ou seja, na dúvida interpreta-se sempre a
favor do empregado.
 Princípio da condição mais benéfica: as vantagens mais benéficas
conquistadas pelo trabalhador não podem ser alteradas ou supridas
para pior. Trata-se de direito adquirido, conforme o Direito Civil.

 OBS: a Orientação Jurisprudencial 163, da SDI (ex Súmula 51, do


TST) deixa certo que as cláusulas regulamentares que alterem
vantagens deferidas anteriormente só atingem os trabalhadores
contratados após a alteração.
 Princípio da irrenunciabilidade: os direitos trabalhistas são
irrenunciáveis, pois, mesmo que forçado ou ameaçado, o trabalhador
não pode abdicar dos direitos estabelecidos pela legislação.

Supondo que o empregado renuncie às férias legais, tal fato não tem
validade. Entretanto, pode ocorrer renúncia de um benefício
voluntário do empregador, por não ser obrigatório, como uma
gratificação ou prêmio.
 Princípio da inalterabilidade ou imodificabilidade: é natural que
ao longo do contrato de trabalho ocorram alterações nas condições
de trabalho, como função ou salário. Tais alterações só serão lícitas
se decorrerem de mútuo consentimento e, ainda assim, não
acarretarem prejuízos ao empregado (art. 468, CLT)
 Princípio da continuidade da relação de emprego: o intérprete
considera que o empregado é o que menos tem interesse em
rescindir o contrato, de tal sorte que, em havendo rescisão, caberá ao
empregador provar que não foi ele quem dispensou o empregado,
mas, sim, que este pediu demissão voluntariamente
 Princípio da primazia da realidade: no direito do trabalho prevalece
a realidade dos fatos sobre a forma, ou seja, leva-se em conta a
verdade real e não a formal. Assim, podem-se impugnar os registros
de ponto (prova documental) com o depoimento de testemunhas
(prova testemunhal)
OBS: TEORIA DO CONGLOBAMENTO (REFORMA TRABALHISTA):

 A teoria ou princípio do conglobamento (globalização), utilizada no


Direito do Trabalho, dispõe que a negociação coletiva que for mais
favorável ao empregado deve ser utilizada como um todo. Essa
teoria é majoritária na doutrina e na jurisprudência nacional.

 Segundo a Teoria do Conglobamento, deve-se analisar a


Convenção ou o Acordo Coletivo de Trabalho de uma maneira
"global", para poder aplicá-lo.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
 A OIT foi instituída como uma agência da Liga das Nações após a assinatura
do Tratado de Versalhes, em 1919, que deu fim à Primeira Guerra Mundial.
 A Organização Internacional do Trabalho (OIT ou ILO, do inglês
International Labour Organization) trata-se de uma agência multilateral da
Organização das Nações Unidas, especializada nas questões do trabalho,
principalmente no que se refere ao cumprimento das normas (convenções
e recomendações) internacionais.

 Tem por finalidade promover oportunidades para que homens e mulheres


possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições
de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas, sendo
considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a
redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade
democrática e o desenvolvimento sustentável.
 A OIT tem sede em Genebra, Suíça e mantém cerca de 40 escritórios pelo
mundo. No Brasil, o escritório fica em Brasília.

 É composta por 186 estados-membros, com representação tripartite de


governos, organizações de empregadores e organizações de
trabalhadores.

 Em 1969, em seu 50º aniversário, a OIT recebeu o Prêmio Nobel da Paz


por sua atuação entre as classes, pela promoção da justiça para
trabalhadores e pela assistência técnica a nações em desenvolvimentos.

 A OIT desempenhou um papel importante na definição das legislações


trabalhistas e na elaboração de políticas econômicas, sociais e trabalhistas
durante boa parte do século XX.
 A criação de uma organização internacional para as questões do
trabalho baseou-se em argumentos:

 humanitários: condições injustas, difíceis e degradantes de muitos


trabalhadores,
 políticos: risco de conflitos sociais ameaçando a paz, e
 econômicos: países que não adotassem condições humanas de
trabalho seriam um obstáculo para a obtenção de melhores
condições em outros países.
 A OIT funda-se no princípio de que a paz universal e permanente só
pode basear-se na justiça social. Fonte de importantes conquistas
sociais que caracterizam a sociedade industrial.

 A OIT é a estrutura internacional que torna possível abordar questões


e buscar soluções que permitam a melhoria das condições de
trabalho no mundo.
 O trabalho decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos
estratégicos da OIT com respeito aos direitos no trabalho, em
especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração dos
Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento,
adotada em 1998, são eles:
 Liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação
coletiva;
 eliminação de todas as formas de trabalho forçado;
 abolição efetiva do trabalho infantil; e,
 eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de
emprego e ocupação.
As convenções da OIT ratificadas pelo Brasil versam sobre as
seguintes matérias:
 Convenção nº 103: amparo à maternidade;
 Convenção nº 115: proteção contra as radiações ionizantes;
 Convenção nº 127: peso máximo de cargas;
 Convenção nº 134: prevenção de acidentes de trabalho dos
marítimos;
 Convenção nº 136: proteção contra os riscos de intoxicação
provocados pelo benzeno;
 Convenção nº 139: prevenção e controle de riscos profissionais
causados pelas substâncias ou agentes cancerígenos;
 Convenção nº 148: proteção dos trabalhadores contra os riscos devidos
à contaminação do ar, ao ruído e às vibrações no local de trabalho;
 Convenção nº 152: segurança e higiene nos trabalhos portuários;
 Convenção nº 155: segurança e saúde dos trabalhadores e meio
ambiente de trabalho;
 Convenção nº 159: reabilitação do profissional e emprego de pessoas
deficientes;
 Convenção nº 161: os serviços de saúde no trabalho;
 Convenção nº 162: utilização do asbesto com segurança;
 Convenção nº 163: proteção da saúde e a assistência médica as
trabalhadores marítimos;
 Convenção nº 167: segurança e saúde na construção;
 Convenção nº 170: segurança na utilização de produtos químicos no trabalho;
 Convenção nº 182: proibição das piores formas de trabalho infantil e a ação
imediata para sua eliminação.

Você também pode gostar