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Direito Empresarial e

Societário
Sociedades
DIREITO SOCIETÁRIO
• Resumidamente, pode-se dizer que o direito societário compreende o
estudo das sociedades. E as sociedades, por sua vez, são pessoas
jurídicas de direito privado, decorrentes da união de pessoas, com a
finalidade de exploração de uma atividade econômica e repartição
dos lucros entre seus membros (arts.44,II, e 981 do Código Civil).
• São justamente a finalidade econômica e o intuito lucrativo as
características que diferenciam as sociedades das associações. Com
efeito, ambas são pessoas jurídicas de direito privado, contudo, as
associações não possuem fins econômicos e, consequentemente,
não distribuem lucros entre seus associados (art.53 CC).
Elementos da Constituição da Sociedade
• 1º Ponto: Nos termos do art. 985 do CC, a aquisição da personalidade
jurídica ocorrerá efetivamente com a inscrição no registro próprio dos atos
constitutivos da sociedade:
• Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro
próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150).
• 2º ponto: a personalidade jurídica – embora seja instituto importantíssimo,
não é elemento que necessariamente integra a constituição da sociedade,
até pelo fato de termos sociedades não personificadas disciplinadas pelo
próprio Código Civil.
• 3º ponto - para não esquecer mais: os elementos específicos para a
constituição da sociedade são: i) acordo de vontade com fim comum; ii)
pluralidade de sócios (regra); iii) definição de obrigações recíprocas; iv)
exercício de atividade econômica; e v) partilha dos resultados.
Sociedades Não Personificadas
• Um dos critérios para classificar a sociedade é o fato de ela ter (ou não)
personalidade jurídica própria, distinta da dos seus sócios.
• O próprio Código Civil expressamente disciplina dois tipos societários não
personificados, a saber, sociedade em comum e sociedade em conta de
participação.
• A sociedade em comum nos termos do art. 986 do CC, é aquela cujos atos
constitutivos ainda não foram inscritos na Junta Comercial (se sociedade
empresária) ou no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (se sociedade simples):
• Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por
ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que
com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples.
• Nesse sentido, aplicam-se à sociedade em comum as normas previstas no
capítulo próprio que a disciplina e, subsidiariamente, e no que com ele (Capítulo
I) forem compatíveis, as normas da sociedade simples.
• Antes de mais nada, é interessante sabermos que a hoje denominada
“sociedade em comum” compreende as figuras que eram
anteriormente chamadas pela doutrina de “sociedade irregular” e
“sociedade de fato”, então sob a égide do Código Comercial de 1850.
• Confira a respeito o Enunciado 58 da I Jornada de Direito Civil do
Conselho de Justiça Federal (CJF):
• Enunciado 58. Arts. 986 e seguintes: A sociedade em comum
compreende as figuras doutrinárias da sociedade de fato e da
irregular.
• Sociedade em Comum: Prova de Existência
• Consoante o art. 987 do CC, “os sócios, nas relações entre si ou com
terceiros, somente por escrito podem provar a existência da
sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.”
• Ou seja, diferentemente dos sócios, que precisam de prova escrita
para provar a existência da sociedade em comum, os terceiros que
com ela se relacionarem podem provar por qualquer meio a sua
existência, por exemplo, usando a prova testemunhal.
• Patrimônio Especial (Bens e Dívidas) e Responsabilidade dos Sócios
• Já os bens e dívidas sociais constituirão patrimônio especial, do qual os
sócios são titulares em comum (art. 988 do CC).
• Nesse sentido, verificamos que o CC institui uma espécie de “patrimônio
de afetação” em relação àqueles bens dos sócios utilizados
especificamente na atividade econômica da sociedade em comum. Tais
bens responderão inicialmente por eventual dívida da sociedade, sendo
que os demais bens dos sócios, não afetados diretamente à atividade,
somente poderão ser alcançados, em regra, de forma subsidiária.
• Confira a respeito o Enunciado 210 da III Jornada de Direito Civil:
• Enunciado 210. O patrimônio especial a que se refere o art. 988 é aquele afetado
ao exercício da atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios em
comum, em face da ausência de personalidade jurídica.
• No que diz respeito à condução dos negócios, em regra os bens sociais
respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios.
Contudo, nos termos do art. 989 do CC, pode haver pacto expresso
limitativo de poderes, “que somente terá eficácia contra o terceiro que o
conheça ou deva conhecer.”
• No que diz respeito à responsabilidade, o art. 990 do CC estabelece que
“todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações
sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que
contratou pela sociedade.”
• É importante interpretarmos o art. 990 em conjunto com o art. 1.024 do
CC, que dispõe:
• Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas
da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.
• Assim, como regra geral, os sócios respondem pelas dívidas da sociedade de
forma subsidiária em relação a terceiros, ou seja, primeiro tem que ser alcançado
o patrimônio afetado à atividade social. Os sócios podem inclusive se valer do
“benefício de ordem” para indicar bens da sociedade que possam responder
pelas obrigações. Caso tal patrimônio de afetação não baste, aí sim os sócios
responderão ilimitadamente com os seus bens e de forma solidária entre si.
• Mas temos uma exceção: o sócio que contratou pela sociedade (ou seja, que
atuou como o seu representante), não poderá se valer do benefício de ordem,
respondendo com o patrimônio próprio deste o início de forma solidária (e não
subsidiária, como os demais).
• Transcrevo o Enunciado 212 da III Jornada de Direito Civil, cujo entendimento é
nesse sentido:
• Enunciado 212. Embora a sociedade em comum não tenha personalidade jurídica, o sócio
que tem seus bens constritos por dívida contraída em favor da sociedade, e não participou
do ato por meio do qual foi contraída a obrigação, tem o direito de indicar bens afetados às
atividades empresariais para substituir a constrição.
• A sociedade em conta de participação é um tipo societário menos usual, sendo
que alguns autores citam que a sua origem é bem antiga, remontando às antigas
commendas da Idade Média, tipo societário que serviu também de inspiração
para a sociedade em comandita simples.
• Embora o Código Civil a classifique como sociedade (alguns a chamam de
“sociedade secreta”),, a doutrina sustenta que a sociedade em conta de
participação não se trata propriamente de uma sociedade, mas sim de um
contrato especial de investimento, já que não terá nome empresarial, alguns
‘sócios’ (sócios participantes) sequer aparecem perante terceiros e, também, não
se exige que haja um contrato formal por escrito (“independe de formalidade e
pode provar-se por todos os meios de direito”, consoante art. 992 do CC).
• E mais: o seu contrato social produz efeito somente entre os sócios (ou seja, a
sociedade somente existe internamente) e, mesmo que haja o registro do seu
contrato social, tal ato não conferirá personalidade jurídica à sociedade em conta
de participação (art. 993 do CC).
• De qualquer forma, tendo em vista que o CC a enquadra como sociedade,
cabe-nos dizer que nela coexistem duas categorias de ‘sócios’:
• Sócio ostensivo: será ele que irá exercer unicamente a atividade
constitutiva do objeto social, em seu nome individual e sob sua própria e
exclusiva responsabilidade (art. 991,caput do CC);
• Sócios participantes (ou ‘sócios ocultos’): apenas participam dos
resultados sociais correspondentes (art. 991, caput do CC).
• No que diz respeito ao sócio participante, apesar de ter o direito de
fiscalizar a gestão exercida pelo sócio ostensivo, ele não pode tomar parte
na relação do sócio ostensivo com terceiros, “sob pena de responder
solidariamente com este pelas obrigações em que intervier” (art. 993,
parágrafo único do CC).
• Assim como ocorre na sociedade em comum, as contribuições dos sócios
ostensivos e participantes também irão constituir patrimônio especial (o
chamado patrimônio de afetação), objeto da conta de participação
relativa aos negócios sociais. No entanto, a especialização patrimonial
somente produz efeitos em relação aos sócios (art. 994 do CC).
• Quanto à falência dos sócios, temos duas situações:
• falência do sócio ostensivo: acarreta a dissolução da sociedade e a
liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário;
• falência do sócio participante: o contrato social fica sujeito às normas que
regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.
• Por se tratar de sociedade de pessoas (e não de capitais), em que a figura
dos sócios tem grande relevância, como regra o sócio ostensivo não pode
admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais, salvo
disposição em contrário (art. 995 do CC).
• Por fim, devemos saber que se aplica a ela, subsidiariamente e no que
com ela for compatível, o disposto para a sociedade simples, e a sua
liquidação rege-se pelas normas relativas à prestação de contas, na forma
da lei processual.
• Em relação a esse último ponto, temos julgados do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) que, além de reconhecer a sua natureza societária, entendeu
ser possível o ajuizamento de ação de dissolução da sociedade em conta
de participação, de forma que somente a liquidação (fase em que se
apurará os haveres para o pagamento das obrigações) é que será regida
pelas normas relativas à prestação de contas.
• Destaca-se, que a sociedade em conta de participação é muito usada
em empreendimentos imobiliários, seja para viabilizar a construção
de imóveis (o construtor figurará como sócio ostensivo e os
investidores como sócios participantes), seja para a administração de
imóveis de temporada, como flats (corretora imobiliária será sócia
ostensiva e os proprietários serão sócios participantes).
• REFERÊNCIAS
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• MARTINS, Fran. Curso de Direito comercial. 40 ed. Rio de Janeiro: Forense,
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• MENDONÇA. José Xavier Carvalho de. Tratado de direito comercial
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• MUZZI, Tácio. O Estado brasileiro encontra-se apto a coibir o exercício
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• REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 24 ed. São Paulo, 2000.
• RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. 4 ed. Rio de Janeiro: Forense,
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