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disposição dos interessados a versão digital da citada obra, porém com algumas
melhor entendimento.
foram mantidos.
OS TUTELADOS DE MARIA
4
OS TUTELADOS DE MARIA
______________________
Projeto Gráfico
Éclat! Comunicação Ltda
61 - 447 6979
Impressão
Gráfica Edicel
61 - 485 1530
__________________________________________________
1. Espiritismo 133.9
6
HISTÓRICO
O Centro Espírita Maria Madalena – CEMA................................................... 16
PRIMEIRA PARTE
O Suicida e as Modalidades de Atendimento................................................. 29
CAPÍTULO I
DESPERTANDO PARA A NOVA REALIDADE
1.1. O Resgate de Simão ........................................................................... 29
1.2. O Enforcado ....................................................................................... 31
8
CAPÍTULO II
SUICÍDIO ASSOCIADO ÀS DESILUSÕES AMOROSAS
2.1. Uma Estrada para Lígia ....................................................................... 34
2.2. No Repicar dos Sinos .......................................................................... 36
2.3. Um Dia...talvez ................................................................................ 40
CAPÍTULO III
HOMICÍDIO SEGUIDO DE SUICÍDIO
3.1. Nevoeiro de Ódio ................................................................................ 45
CAPÍTULO IV
O NIILISTA ANTE O SUICÍDIO
4.1. Reconstrução Perispiritual ................................................................... 49
CAPÍTULO V
SUICÍDIO ASSOCIADO AO FANATISMO RELIGIOSO
5.1. Equivocado Pastoreio .......................................................................... 52
5.2. Em Busca do Paraíso .......................................................................... 57
5.3. Engano Cruel ..................................................................................... 60
CAPÍTULO VI
SUICÍDIO POR USO DROGAS
6.1. Impossível Regresso ........................................................................... 66
6.2. Filhos do Abandono ............................................................................ 69
6.3. Uma Canção para Ivo ......................................................................... 73
Trechos da Carta Lida pelo Espírito Ivo........................................................ 75
6.4. Labirinto Mental ................................................................................. 77
9
CAPÍTULO X
O PRECONCEITO OBSTRUINDO O SOCORRO
10.1. Retratos do Passado ......................................................................... 93
CAPÍTULO XI
SUICIDAS EM ESTADO DE DEMÊNCIA
11.1. Brumas do Passado .......................................................................... 96
CAPÍTULO XII
SUICÍDIO INFANTO-JUVENIL
12.1. Carrossel Despedaçado ..................................................................... 101
Transcrição da Psicografia sobre o Suicídio de Serginho................................ 104
12.2. Acordes para um Despertar ............................................................... 105
SEGUNDA PARTE
Espíritos em Vias de Reencarnação.............................................................. 109
CAPÍTULO I
1. O Caso do Escritor ................................................................................. 109
CAPÍTULO II
2. Caso Adelaide ....................................................................................... 113
CAPÍTULO III
3. O Retorno de Pipoca .............................................................................. 116
CAPÍTULO IV
4. O Retorno de um Homossexual .............................................................. 120
CAPÍTULO V
5. O Retorno de Espíritos Suicidas Obsessores.............................................. 124
CAPÍTULO VI
6. Pablo, o Sedutor.................................................................................... 128
TERCEIRA PARTE
A PSICOGRAFIA NAS REUNIÕES DE ATENDIMENTO A ESPÍRITOS SUICIDAS................... 135
A Psicografia.............................................................................................. 135
10
1. CARTAS-DESABAFO
1.1. Depoimento Chamando a Atenção para o Perigo da ideia do
Suicídio...................................................................................................... 136
1.2. Depoimento de Filho Drogado, no Dia das Mães.................................... 137
1.3. Desabafo de Mãe................................................................................. 139
1.4. Carta-desabafo de um Trabalhador da Colônia Maria de Nazaré.............. 140
1.5. Carta desabafo – Suicídio por Desilusão Amorosa 1................................ 140
1.6. Carta–desabafo – Suicídio por Desilusão Amorosa 2............................... 142
1.7. Carta-desabafo de uma Enfermeira....................................................... 144
1.8. Carta-desabafo – Suicídio por Orgulho.................................................. 146
1.9. Carta-desabafo – Suicídio Infanto-Juvenil.............................................. 147
2. RELATO-SÚPLICA
2.1 Apelo para Renascer............................................................................. 149
2.2. Relato-súplica de uma Jovem Viciada.................................................... 149
2.3. Relato-súplica de Alguém que Cedeu à Sugestão de Espíritos
Obsessores................................................................................................ 150
QUINTA PARTE
A ATUAÇÃO DA EQUIPE ESPIRITUAL NAS REUNIÕES DE ATENDIMENTO A ESPÍRITOS
SUICIDAS.................................................................................................... 178
Seleção dos Espíritos que serão Atendidos................................................... 178
Preparação para o Atendimento.................................................................. 179
A Ligação do Espírito com o Médium............................................................ 179
Preparação do Ambiente onde Ocorrerá a Reunião de
Atendimento............................................................................................. 179
Providências quando o Grupo Encarnado adentra a Sala onde se Processará
a Reunião.................................................................................................. 180
Dinâmica da Reunião.................................................................................. 181
Término da Reunião de Atendimento........................................................... 182
SEXTA PARTE
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 184
Urgência da Formação de Novos Grupos de Atendimento a Espíritos Suicidas 184
Pontos a serem Considerados para a Formação de Grupos de Atendimento a
Espíritos Suicidas ...................................................................................... 184
Detalhamento das Histórias ....................................................................... 186
SÉTIMA PARTE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 190
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA LEITURA......................................................... 193
12
Agradecimentos
1
ROOSEVELT, M. S. Cassorla. O que é o Suicídio, 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1992, pág. 31, 101
p.
15
2
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida..., op. cit., p. 133.
3
Palavras do doutrinador Olavo, integrante do nosso grupo mediúnico, em uma das reuniões de
atendimento aos suicidas.
16
INTRODUÇÃO
4
Relatório sobre a Saúde no Mundo, 2001 – Organização Panamericana da Saúde – Organização Mundial
de Saúde – ONU.
5
Designação dada aos trabalhadores da Colônia Maria de Nazaré no livro de PEREIRA, Yvonne A.
Memórias de um Suicida. 16ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, 568 p.
17
HISTÓRICO
6
Kardec, Allan. O Céu e o Inferno. 52ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003, 425 p.
7
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um Suicida. 16ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira,
1991, Cap. VI., p. 138-141, 598p.
8
Idem, p. 140-141.
20
9
Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 91ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1985, 456 p.
10
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um Suicida. 16ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira,
1991, 568 p.
11
Idem, cap.III.
11
“A música representa importante papel na inspiração profética e religiosa. Ela dá o ritmo à emissão
fluídica e facilita a ação dos Espíritos elevados. É por isso que ela tem seu lugar nas reuniões espíritas,
nas sessões em que convém sejam precedidas por um hino apropriado às circunstâncias. Ocorre com
freqüência que os guias de grupos levam assistentes a entoarem um cântico, a fim de facilitar as
manifestações.” (DENIS, Leon. O Espiritismo na Arte. 2ª ed. Rio de Janeiro: Publicações Lachâtre, 1994,
caps. V, VI, p. 63-110.
21
Como nada fica sem resposta, embora muitas vezes não consigamos
percebê-la ou entendê-la, ela não se fez esperar. Em uma das nossas reuniões
de atendimento, quando o bloqueio em mim se fazia ainda mais fortemente
para a escrita, o mentor respondeu à pergunta que tanto me intrigava,
conforme transcrição a seguir:
(...) poderíamos psicografar uma obra, mas preferimos o retrato vivo de uma
situação possível na Terra, pois do contrário, uma obra psicografada traria tão
somente ideias de um trabalho a ser implantado; e neste caso, faltar-lhe-ia o
ornamento dos sentimentos e dos percalços que o grupamento enfrentou e essas
situações todas precisam ser ditas para que quando outros lerem-na, sintam que é
possível realizar o trabalho. E se um dia forem chamados a auxiliar outros grupos na
implantação de uma tarefa similar, não estarão contando algo que leram em um
livro, mas estarão falando de suas verdadeiras vivências. (...)”
13
I Epístola de Pedro 4:8.
26
• O Grupo Mediúnico
Esclarecemos que os nomes sob os quais designamos a nós e ao
grupo são fictícios, a fim de que haja uma valorização maior dos conteúdos
aqui apresentados, do que das pessoas que foram instrumentos para a
concretização da obra. O nosso grupamento, no plano material, era assim
formado: Olavo e Estevão - médiuns doutrinadores; Lucíula e Franco -
médiuns psicofônicos, sendo que Franco era psicógrafo também; Laura -
médium psicógrafa; Marcos e eu - Clarisse – médiuns sustentadores.
Nesse ponto, entendemos ser necessário abrir um parêntese para
explicarmos a designação que acabamos de usar.
Nas reuniões mediúnicas, os médiuns que não são psicógrafos,
psicofônicos ou doutrinadores são denominados, por alguns autores, de
“assistentes”14; os quais têm suas potencialidades voltadas para manter a
harmonização do ambiente. Entretanto, em nossas reuniões de atendimento a
Espíritos suicidas, passamos a designá-los de médiuns “sustentadores”, pelo
14
JACINTHO, Roque. Doutrinação. 11ª ed. São Paulo: Editora Luz no Lar, 128 p.
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um Suicida. 16ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira,
1991, Cap. VI, p. 163, 568 p.
16
FERREIRA, Aurélio B. Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Editora Nova
Fronteira, 2ª edição, 1986, 1828 p.
28
16
PERALVA, Martins. O Pensamento de Emmanuel. 5ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira,
1994, p. 29-30, 232 p.
29
inevitavelmente. (...)”; que não apenas consolida o termo usado, como resume
de forma clara as potencialidades de que todos dispomos para auxiliar os que
sofrem.
PRIMEIRA PARTE
Capítulo I
***
32
***
1.2. O Enforcado
pelo qual o seu corpo não reagia aos impulsos mentais emitidos. Em seu rosto,
a expressão de horror, a máscara da mais completa insanidade.
O enforcamento era uma realidade imutável e tornou-se uma carga
pesada em demasia, bloqueando a sua lucidez. Ele não podia compreender.
No entanto, admitia-se sozinho, necessitando de ajuda para voltar à sua casa e
retomar sua vida.
Há quanto tempo ele estava ali? Não sabia, pois perdera totalmente a
noção das horas e dos dias. Entretanto, a Misericórdia Divina que a nenhum
dos seus filhos deixa na orfandade, no momento adequado, conduziu Túlio ao
auxílio. Chegara o momento de ele despertar, de aceitar a verdade e iniciar a
reconstrução de si mesmo.
Entre brados de angústia e choro convulso, Túlio se manifestou em
nossa reunião. O seu panorama mental se restringia às luzes da cidade que ele
avistava ao longe e ao desejo incontrolável de voltar para lá. No entanto, à
medida que ele percebia que aquilo era impossível, por sentir-se preso àquele
lugar, sem saber a razão, mais e mais o seu desespero aumentava...
Olavo compreendeu que era preciso despertá-lo para a dolorosa, mas
inevitável realidade. Túlio precisava iniciar uma nova trajetória em sua vida.
Impregnando as palavras de grande doçura, característica sobressalente em
sua doutrinação, Olavo incitou-o a descobrir o motivo pelo qual ele estava
preso àquele lugar, sem conseguir voltar para casa. Decorrido algum tempo de
diálogo, sucedeu-se significativo silêncio. Na sequência, o bloqueio mental foi
rompido, pois Túlio levou a mão ao pescoço e, desesperadamente, sentiu o
laço apertado da corda a impedir sua respiração. Tudo lhe pareceu
interminável, pois de instante a instante, o laço mais se arrochava,
intensificando a sensação de sufocamento. Quando a agonia de Túlio alcançou
o auge, Olavo chamou-lhe a atenção para o barulho de passos que se
aproximavam. Alguém ouvira o seu clamor e iria tirá-lo dali.
Sintonizados com o trabalho da doutrinação, a sustentação
empenhava-se em dar forma viva às palavras pronunciadas por Olavo,
formando mentalmente os quadros de auxílio sugeridos. Por fim, oferecemos
as próprias mãos para que a corda fosse retirada do seu pescoço. Após a
34
***
***
17
Como explicamos na Introdução a respeito de como este livro foi escrito, vislumbramos essa cena
quando escrevíamos a história de Túlio.
35
Capítulo II
***
Não sabemos quanto tempo ela viveu essa situação após o suicídio.
Mesmo sendo meigamente acolhida por Olavo, recusou-se, a princípio, a
compartilhar a sua dor. Intimamente, já havia sentenciado a si mesma o
padecimento sem fim. Entretanto, aos poucos, aquela resistência foi sendo
vencida pelas nossas vibrações carinhosas.
Quando Lígia começou a relatar o seu drama, deixando-nos entrever
a sua fragilidade ante a desilusão amorosa, grande comoção se apoderou de
nós.
Para muitas mentes absorvidas pela realidade dos flagelos humanos,
o drama em foco poderia ser tomado à conta de futilidade. Cada ser é um
universo em si mesmo, não encontrando, na maioria das vezes, a
correspondência em outros universos-seres que o rodeiam. Dessa forma, o
respeito aos sentimentos das criaturas deve ultrapassar a visão restrita que
cada um tem sobre a vida e suas complexidades, pois os pontos de vista são
formados a partir daquilo que se é. Como ousar julgar ou mesmo questionar a
relevância do que é próprio de outro universo?
Já um pouco mais conscientes dessa realidade, nós, os Servos de
Maria − assim também são chamados os colaboradores encarnados −,
vibramos muito amor para auxiliar Lígia a resgatar dos destroços a esperança
e, assim, descerrar as trevas do seu coração. O tratamento que cabia àquele
Espírito era o de imprimir-lhe ânimo e coragem.
Olavo, então, falou-lhe da Bondade e da Providência Divinas que
permitem o raiar de um novo dia, após um período de sombras, oportunizando
a todos o recomeço. Disse-lhe que os sofrimentos são passageiros, pois são
como professores a ensinar a valorização do bem; que, como criatura de Deus,
ela havia sido criada para ser feliz, mas que, no entanto, a felicidade é uma
construção do dia-a-dia; que as pessoas erram, é verdade, mas que, em outras
oportunidades, elas poderão acertar; que a criatura deve ser, em primeiro
lugar, juíza de si mesma, mas não deve se julgar implacavelmente. Deve, sim,
ponderar todos os fatos e sentenciar a si mesma a possibilidade de retificação.
37
18
Segundo a convicção religiosa de Helena, o suicídio era tido, naquela época, como ato imperdoável aos
olhos de Deus e quem o cometesse não teria sequer o direito a um enterro cristão e estaria condenado às
penas eternas.
19
Lucas, capítulo 13, versículos 3-7. Bíblia Sagrada (versão digital). Seafox/Terra Santa/James
King/Vozes, 2005.
39
***
***
20
Mateus, capítulo 25, versículo 30. Bíblia Sagrada, op. cit.
43
***
***
21
Mateus, capítulo 27, versículo 32. Bíblia Sagrada, op. cit.
46
Capítulo III
22
Caso de zoantropia, em que o Espírito é induzido a tomar a forma de um animal.
48
***
23
Caso específico de zoantropia, em que o espírito é induzido a tomar a forma de lobo.
49
***
50
Capítulo IV
24
Sobre a Doutrina Niilista, cf. KARDEC, Allan. O Porvir e o Nada. In: KARDEC, Allan. O Céu e o
52
***
Capítulo V
25
Cf. PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida. 16.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, p. 160-167.
26
A reunião de atendimento ao Espírito protagonista desta história aconteceu no ano de 1998.
54
27
Jardim em que Adão e Eva viveram, ou seja, paraíso.
56
28
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida. 16. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira,
1991.
57
***
29
KARDEC, Allan. Evangelho Segundo o Espiritismo. 91.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1985.
30
Mateus, capítulo 5, versículos 19-21 e 25-34. Bíblia Sagrada, op. cit.
31
João, capítulo 8, versículo 32. Bíblia Sagrada (versão digital). Seafox/Terra Santa/James King/Vozes,
2005.
59
trevas da ignorância. Não haverá, então, espaço para inquirições vazias. Nosso
caminhar será firme e não temeremos os abismos da estrada, pois os nossos
olhos estarão abertos.
Dia após dia, novas seitas surgem em toda parte, sustentadas por
interesses que não nos cabe analisar, por não ser este o nosso intento e
porque também não nos compete examinar os motivos que levam as pessoas
a se filiarem a elas. Sabemos, entretanto, que o fanatismo é extremamente
perigoso, uma vez que pessoas fanáticas param de pensar e, subjugadas em
seu raciocínio, passam a agir de acordo com um conjunto de normas que
normalmente só interessam a quem as criou ou aprendeu a manipulá-las.
Portanto, por ser o fanatismo tão recorrente no campo religioso, suas
consequências podem ser funestas para a alma humana.
Pedro, homem esculpido pelas durezas da vida, pouco experimentou
gozos neste mundo, pois assim exigia a sua escalada evolutiva. No entanto, ao
sentir-se acuado em um mundo de interesses, em que prevalece a lei do mais
forte, viu-se impotente para alterar o curso da própria vida, deixando-se oprimir
pela tola vaidade. Em virtude da angústia que passou a consumir os seus dias,
buscou a religião como âncora de salvação.
O primeiro impulso de Pedro foi acertado, visto que o homem pode
encontrar na fé que professa o timoneiro fiel que o guiará pelo mar da vida,
conduzindo-o com segurança nas horas tempestuosas da sua existência.
Entretanto, fragilizado pelas dificuldades do dia-a-dia, pouco a pouco começou
a plasmar dentro de si o céu dos oprimidos e dos justos. Deixando-se dominar
por esse monoideísmo, ansiou alcançá-lo. Acreditava que o paraíso32 era a
recompensa da qual era merecedor!
Diuturnamente, deixou que aquela ideia se agigantasse dentro de si,
dominando a sua capacidade de análise e raciocínio. Eis que, assim, chegou
ao cume da sua insensatez, quando surgiram poderosas em sua mente as
tenebrosas indagações: “Se um dia aquele ‘céu’ lhe seria dado por direito, por
que esperar? Por que não abreviar uma espera, cujo desfecho já estava
definido?”.
32
Mesmo que “céu”: local onde habitam Deus, os anjos, os bem-aventurados e as almas dos justos.
60
***
***
A morte é ainda, para nós, uma fatalidade; a única certeza que temos
nesta vida. Inevitável. Um dia, sem inquirir se desejamos nos entregar aos seus
braços, chega-nos, altaneira e segura de si. A sua chegada, entretanto, é
caracterizada por grande relativismo: para uns, o nada; o padecer para sempre;
o sono profundo de pesadelos eternos; para outros, a compensação pelas
dores bem suportadas; a felicidade indescritível do reencontro; o sonho
transformado em realidade.
Cada qual vive edificando o próprio mundo, no exercício pleno do
livre arbítrio. Entretanto, existe um lugar-comum no universo de cada criatura.
Na ânsia por preenchê-lo, incansavelmente ela está sempre à procura de algo,
62
mesmo que não tenha consciência disso! É a busca de Deus, Senhor Absoluto
de tudo o que somos.
Desde os anais do tempo, na trajetória da história da Humanidade,
temos notícias das constantes lutas dos homens para reinar uns sobre os
outros. Nessa guerra pelo domínio, destacamos a maior de todas: a guerra
pela subjugação das consciências, principalmente nas áreas da Política,
Educação e Religião. Não nos prenderemos aqui a citações que
exemplificariam tal dominação nos campos mencionados, à exceção do
Religioso, por ser esse de interesse direto deste capítulo.
Em nome de um Deus e de uma fé, a raça humana dividiu-se em dois
grupos: o de perseguidos e o de perseguidores, sendo que tais posições se
alteraram numa reversão constante de papéis.
É inegável que os seguidores do Espiritismo já foram muito
discriminados e perseguidos por adeptos de outras religiões. Contudo, nem as
atrocidades cometidas pela Inquisição na Idade Média, à semelhança dos
circos romanos em que os cristãos eram devorados pelos leões, conseguiram
ofuscar as luzes resplandecentes do Cristianismo. Da mesma forma, a Doutrina
Espírita, por reviver o Cristianismo primitivo, sobre os pilares “Deus, Cristo e
Caridade”, tem ganhado o respeito e a admiração de muitos.
Como sempre acontecia no primeiro domingo do mês, estávamos
reunidos, colocando nossas possibilidades − ainda que muito restritas − à
disposição da Espiritualidade. Marthan nos saudou carinhosamente por meio
da psicofonia de Franco, proporcionando-nos enorme contentamento. A seguir,
com seu inconfundível sotaque estrangeirado, elucidou-nos sobre os casos
selecionados para atendimento. Era a primeira vez que se manifestava em
nossa reunião com aquele fim específico, embora soubéssemos que estava
sempre presente, visto que integrava o quadro de colaboradores de Maria.
Primeiramente, teceu alguns comentários a respeito dos agravantes
sofridos por aqueles que, direta ou indiretamente, lutaram contra as luzes que a
religião espalha, enfatizando os tormentos oriundos de uma consciência
desequilibrada; que alguns, mesmo se sentindo desventurados, conseguem
suportar o remorso e angariam forças para recomeçar. Outros podem chegar
63
33
O termo “Luz” refere-se à Doutrina Espírita.
64
***
***
34
Mateus, capítulo 22, versículos 34-40. Bíblia Sagrada, op. cit.
67
Capítulo VI
35
Mateus, capítulo 14, versículo 31. Bíblia Sagrada, op. cit.
68
referencial, refugiou-se na rua, adotou os becos como o seu novo lar e buscou
nas drogas o seu alento. O seu jovem corpo, no entanto, fragilizado e
macerado pelos alucinógenos, sucumbiu à overdose. Túlio desencarnou em
condições muito difíceis, alimentando profundo ódio da sua genitora.
Adelaide, após a fuga de Túlio, arrependeu-se amargamente do ato
praticado. Subjugada por voraz remorso, começou a buscar soluções que
pudessem amenizar o seu suplício. Encontrou no trabalho assistencial um
pouco de consolo e reconforto. Prestando auxílio aos menos afortunados,
ajudava a si mesma a carregar a própria cruz, que, por sua invigilância, ficara
mais pesada.
Após anos de trabalho, de renúncia e de sacrifício, ela retornou ao
mundo espiritual. Ávida por reencontrar o filho perdido, procurou-o
desesperadamente, sem, entretanto, alcançar êxito. Mas a Bondade e a
Misericórdia de Deus mais uma vez entraram em ação...
Na sala de reuniões, Lucíula, com o coração cheio de amor, ofereceu
o seu aparelho físico para que o jovem Túlio pudesse haurir os fluidos de que
necessitava para ser auxiliado. Senti, no momento em que ele se manifestou,
mesmo sem ter pronunciado palavra alguma, que se tratava de alguém
aprisionado em uma grande revolta. Mentalmente, procurei aproximar-me dele,
porém não obtive sucesso, pois ele estava muito arredio. Imediatamente,
então, canalizei minhas energias na mentalização de flores reluzentes,
procurando envolvê-lo em uma atmosfera de luz. Justamente após a
mentalização, ele exteriorizou, pela primeira vez, a sua revolta, ordenando-me:
“Saia daqui!” No entanto, foi como se ele tivesse me implorado para amá-lo e
para compreendê-lo. Então, verdadeiramente, desejei libertá-lo das potentes
amarras do ódio a que estava preso.
Das flores reluzentes, passei a mentalizar cenas infantis e folguedos
juvenis, pois tinha plena convicção de que tais quadros criariam vida se o
auxílio a ele assim o exigisse. Olavo, por sua vez, procurou resgatá-lo daquele
abismo, falando sobre a necessidade de perdoarmos as ofensas, a fim de
encontrarmos a paz que alivia e renova o ser. Entretanto, ele parecia nada
ouvir... Quase no fim do atendimento, comecei a cantar em pensamento uma
69
36
Mateus, capítulo 26, versículo 41. Bíblia Sagrada, op. cit.
70
***
***
37
Denominação vulgar que se dá à cola de sapateiro.
72
***
***
38
Mateus, capítulo17, versículos 7-9. Bíblia Sagrada, op. cit.
74
***
39
SAINT-EXUPÉRY, Antonie. O Pequeno Príncipe. São Paulo: Círculo do Livro: 1944.
40
Idem, ibidem.
75
todos os que compartilharam das suas ideias, atitudes e palavras, pois foram
cativados.
Ivo, em sua última encarnação, arrebanhara multidões! Fora músico e
cantor. Tornara-se um grande ídolo e desencarnara em face do excessivo uso
de bebidas alcoólicas e outras drogas. Só após ter decorrido muito tempo de
sofrimento e aprendizado, pôde perceber as consequências que as suas
loucuras, intransigências e fracassos produziram naqueles que o idolatraram.
Abatido por mordaz remorso, tinha consciência de que deveria fazer o
caminho de volta e que a nova caminhada seria cingida de intensas lutas e
copiosos sacrifícios... Confessou-nos que, no tempo que ora decorre − após ter
sido julgado e condenado por sua própria consciência −, só acalentava um
único desejo: poder voltar à Terra e fazer-se ídolo novamente. Para obter êxito
nesse empreendimento, estava estudando profundamente a música cristã, a
fim de usá-la como instrumento de auxílio. Nesses estudos, aprendeu a
reverenciar aquela que o recebeu nos braços e que, por acréscimo de
misericórdia, permitiu-lhe, naquela noite, mesmo ainda estando em processo
de burilamento para o necessário resgate da infração cometida, ser o portador
de uma mensagem endereçada ao nosso grupo.
Antes de fazer a leitura da carta, porém, revelou-nos a forma como se
deu o seu atendimento. À medida que Ivo desenvolvia sua narrativa,
reavivávamos o quadro mental que possibilitara o seu resgaste. Então, mais
uma vez, concebemos o ramalhete de outrora, cujas flores eram destituídas de
espinhos. O coração bateu-nos descompassadamente, ao sabermos que as
flores ofertadas a Ivo se transformaram em “doce chuvinha”, proporcionando-
lhe alento e paz; e que as nossas vozes, entoando a música “Ave Maria”, de
autoria do Grupo de Canto Maria Madalena, o despertara do torpor em que se
debatia, vitimado pelas sombras de interminável pesadelo.
***
***
78
41
O termo “energia” aqui empregado se refere a uma espécie de ordem, pois a docilidade e as palavras
carregadas de meiguice também são formas de energia, sendo, aliás, poderosíssima na terapêutica a
Espíritos enraizados no mal, no sentimento de desespero, entre outros.
80
***
***
81
Capítulo VII
Aquela noite era, para todos nós, muito especial... O Grupo de Canto
Maria Madalena (GCMM), antecipando-se ao “Dia das Mães” que oficialmente
seria comemorado no domingo seguinte, havia feito uma apresentação
belíssima, emocionando não apenas o público presente, como também os
próprios integrantes do coro.
Havia um clima de grande ternura no ar... A figura materna, por sua
incomparável capacidade de amar e perdoar, havia sido enaltecida. O nosso
grupo iniciou as atividades mediúnicas envolvido pelas docílimas vibrações que
pairavam no ambiente... Como quase sempre acontecia, tivemos
primeiramente a comunicação do mentor que discorreu sobre o valor da
maternidade, chamando-nos a atenção para a responsabilidade dos
compromissos assumidos diante dela.
Tocada em sua sensibilidade maternal, que requer a todo o momento
dedicação e renúncia, Lucíula ofereceu o seu aparelho físico para o
intercâmbio mediúnico. Apresentou-se, então, um espírito renitente em não
receber qualquer tipo de auxílio, por não acreditar que alguém pudesse
dispensar-lhe carinho, afeto ou atenção, após seu gesto inescrupuloso de ter
recusado o próprio filho. A sua consciência, estigmatizada por culpa e remorso,
intermitentemente registrava que se tornara indigna da maternidade.
Olavo, percebendo o drama íntimo em que a comunicante se debatia,
afirmou que o erro ainda é lugar-comum às criaturas. Sem acusá-la de coisa
alguma e sem pedir contas dos seus atos, sugestionou o grupo a trabalhar na
concepção mental de um quadro que falasse profundamente ao coração
daquele espírito.
82
***
***
quando Lucíula relatou que ao oferecer o bebê à Zulmira, essa não quis
recebê-lo. Franco informou-nos que o espírito abortado confessou, pelos
canais da audiência, que havia tentado nova aproximação com Zulmira, porém
sem obter nenhum sucesso.
Muitas interrogações ficaram em nossas mentes em relação a esse
caso. Não nos foi dado a conhecer nem como e nem por que Zulmira se
suicidou; qual o êxito alcançado com o atendimento dado a ela naquela noite –
tendo em vista que ela continuou a recusar a maternidade –; e nem as
providências que seriam ultimadas a seu favor.
Compreendemos, não obstante, que nem sempre teríamos todas as
respostas e que elas viriam no momento certo, se assim fosse necessário; que
o mais importante era a nossa disposição em servir, incondicionalmente.
Muitas lições acerca da maternidade foram suscitadas! Muitas reflexões
a respeito das oportunidades que a vida oferece àqueles que em algum
momento das suas existências colaboraram com a prática do aborto,
acovardando-se na omissão ou comprometendo-se na indução à ação
delituosa!
Por toda parte, a infância desprotegida reclama amparo. Mães
desvalidas suplicam socorro para os filhos que definham na miséria. Mãos
humanitárias esperam por outras mãos no auxílio às creches, aos orfanatos, às
casas transitórias e às escolas de evangelização. Quantas oportunidades de
remissão, no exercício diuturno do amor!
***
86
Capítulo VIII
***
88
42
Personagem da história Retratos do Passado, Cap. X, 10.1.
89
***
***
90
Capítulo IX
***
***
94
Capítulo X
43
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76.ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1995,
Questão 150.
95
***
97
Capítulo XI
44
Departamento do Hospital Maria de Nazaré onde são internados os Espíritos em grande desequilíbrio.
Cf. PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida. 16.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991.
45
Idem, ibidem.
98
achar que tudo está perdido e que não há mais possibilidades. Baixar a
cabeça e cruzar os braços não é a melhor saída.
Confie, companheiro, acredite! Olhe em volta, veja essas mãos
estendidas para você... Estamos aqui para ajudá-lo. A sua dor e o seu
problema fazem parte também de nós.
O Pai não nos criou para estarmos em queda permanente. Com
as quedas, aprendemos a levantar e a refletir sobre os motivos que nos
levaram a cair. É preciso seguir em frente. A sua caminhada será
acompanhada por irmãos abnegados que estarão com você, lado a
lado, e muitas vezes, nos momentos mais difíceis, carregando-o nos
braços.
Portanto, acalme-se e confie! Você vai vencer. Você vai
reencontrar o equilíbrio para seguir de cabeça erguida e com o coração
cheio de esperança. Agora, repouse. Vamos rogar à Mãe Santíssima
que Ela envolva você com toda a ternura; que Ela possa abençoá-lo e
revigorar as suas energias para que você encontre o caminho do
equilíbrio; que as nossas energias sejam misturadas às energias astrais
e que elas possam vibrar dentro de você, impulsionando-o para a
vitória.
***
46
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 23.ed. Araras, SP: IDE, 1992, Segunda Parte, itens 188 e 189.
100
***
47
Mateus, capítulo 11, versículos 28-30. Bíblia Sagrada (versão digital). Seafox/Terra Santa/James
King/Vozes, 2005.
101
***
102
Capítulo XII
SUICÍDIO INFANTO-JUVENIL
48
Estávamos no ano de 1998. Naquela época, ainda nos faltava uma bagagem de estudos maior acerca da
temática do suicídio na infância e na adolescência. Nas sugestões de leitura, há textos que tratam do
assunto.
105
***
49
João, capítulo 13, versículo 34. Bíblia Sagrada (versão digital). Seafox/Terra Santa/James King/Vozes,
2005.
50
Jovens desencarnados que apoiam as atividades socorristas no âmbito das reuniões mediúnicas da nossa
Casa Espírita, o Cema.
106
51
Por meio da vidência de Franco, o coral mencionado foi visto em diversas reuniões fazendo um cordão
de isolamento ao redor da Casa Espírita, bem como ajudando a socorrer os Espíritos atendidos em nossas
reuniões mediúnicas.
52
João, capítulo 18, versículo 9. Bíblia Sagrada, op. cit.
107
***
53
Muitas impressões descritas nos comentários, datas e dificuldades encontradas ficaram fora de ordem
no texto final, pelo fato de termos optado, na organização didática dessa obra, pelos capítulos de acordo
com a modalidade de atendimento
109
qual contava sobre o seu suicídio e sobre o seu resgate, que se dera em uma
noite de Natal54.
A visão materialista da vida, a inversão de valores e a falta de diálogo
familiar são fatores extremamente relevantes como incentivadores do desvario
que acomete a maioria dos jovens. A vivência plena do fulgor juvenil é
incentivada pela sociedade, que seduz o jovem com efemeridades, falácias e
sordidez. Não sobra espaço para a descoberta de si mesmo, como criatura
singular na epopeia da vida. Nesse contexto e sob essa perspectiva, não há
lugar para jovens como Otávio, que simplesmente aguardam o “nada” ...
***
54
A mensagem psicografada está transcrita na Parte 2 desta obra, Capítulo 1 − Cartas-Desabafo, Suicídio
110
SEGUNDA PARTE
Capítulo I
O CASO DO ESCRITOR
Infantojuvenil.
55
No decorrer dos anos, foram muitos os atendimentos. E, consequentemente, todas as história
foram únicas e especiais para os Espíritos protagonistas. Entretanto, para nós, avolumavam-se
como socorros e mais socorros. E assim, naturalmente, não nos seria possível retê-las todas em
111
nossa memória, principalmente as passadas há vários anos atrás. Nesta obra, ousamos selecionar
alguns poucos relatos, a título de estudo.
112
***
56
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um Suicida. 16ª ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita
114
Capítulo II
CASO ADELAIDE
***
***
57
João, capítulo 15, versículos 9-17. Bíblia Sagrada (versão digital). Seafox/Terra Santa/James
117
Capítulo III
O RETORNO DE PIPOCA
King/Vozes, 2005.
118
58
A história de Pipoca está relatada no capítulo. 1.9 “No Silêncio do Picadeiro”.
59
Céu, termo usado pelo doutrinador no sentido de “Providência Divina, Deus”.
119
***
***
121
Capítulo IV
O RETORNO DE UM HOMOSSEXUAL
60
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 91ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1985, Cap.XIV,
item 9, 456 p.
122
61
KÜHL, Eurípedes – Sexo: Sublime Tesouro. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora Espírita Cristã Fonte Viva,
1992, pág. 145.
62
BARCELOS, Walter – Sexo e Evolução. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora Espírita Cristã Fonte Viva,
1993, cap. 9, p. 109.
124
árvore frondosa da compreensão, a fim de que ela possa albergar sob seus
galhos os peregrinos a caminho da redenção.
***
125
Capítulo V
***
***
127
***
129
Capítulo VI
PABLO, O SEDUTOR
“Não, não quero voltar, não quero voltar! Eu não vou conseguir nada.
Não quero voltar! Vai ser horrível! Eu não vou conseguir. O fardo é pesado. Eu
não quero voltar, não quero!”. Essas palavras denunciam o drama que vive o
suicida ao deparar com o inevitável momento de retornar ao mundo físico. Ao
adentrar as portas do Departamento de Reencarnação63, alguns poderão se
sentir serenos, por estarem conscientes de que após o penoso resgate
poderão reiniciar a caminhada bruscamente interrompida. Entretanto, a maioria
estará relutante, por recear novas quedas e novos fracassos. É certo, porém,
que nenhum se sentirá tomado de felicidade, em decorrência da gravidade do
ato infracional cometido.
Pablo pertencia ao segundo grupo. Apavorava-se diante do premente
retorno às lides terrenas em circunstâncias adversas às que vivenciara na vida
pregressa.
Apesar das argumentações de Olavo, tentando mostrar-lhe as
possibilidades de sucesso que ele teria na nova encarnação, o Espírito estava
resoluto em solicitar mais tempo para que pudesse melhor se preparar para o
regresso. Rogava, ainda, que lhe fosse dada a provação da pobreza, mas que
lhe fosse facultado habitar um corpo físico perfeito. Segundo os técnicos64 do
Departamento Reencarnatório, tal petição era absolutamente sem proveito para
ele, pois não havia sido a riqueza o motivo da sua queda, mas a forma física
perfeita e bela. Vivendo uma vida de prazeres, rendia culto exterior à beleza,
emaranhando-se, cada vez mais, nas teias da tola vaidade e do orgulho.
Conhecer o outro lado da moeda era para ele lição imprescindível.
Renasceria sob o amparo de família carinhosa, com poder aquisitivo suficiente
para lhe oferecer oportunidades de edificação. Em contrapartida, teria uma das
63
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida..., op. cit. p. 327-330.
64
Idem, ibidem, p. 352-356.
130
daquele rio e que, embora o despertar fosse doloroso, era o primeiro passo
para a reabilitação daquele Espírito perante as Leis Divinas.
Olavo, então, disse-lhe que não havia mais possibilidade de deter a
queda, visto que ela já havia pulado. Ao mesmo tempo em que rompia o
bloqueio mental, encorajava-a a seguir adiante, afirmando-lhe que “o amor
cobre a multidão de pecados” e que, um dia, todos iremos amar intensamente,
não apenas a uma pessoa, mas à Humanidade.
Comumente testemunhamos o Espírito manifestar a dor provocada
pelo ato suicida quando o bloqueio mental é rompido. Mas, no caso de Ranna,
seguiu-se profundo silêncio, do qual deduzimos que o seu recolhimento se dera
de imediato.
Em nós, ainda ecoava aquele nome, tão sentidamente evocado:
“Pablo!”. A inevitável dúvida ganhava vulto em nossa mente: O Pablo que
Ranna chamou era o mesmo que fora anteriormente atendido? –
perguntávamos a nós mesmos.
Como já acontecera em outras ocasiões, um dos mentores da
reunião, por meio da psicofonia, elucidou-nos sobre os acontecimentos daquela
noite.
O momento da volta é o drama de todos os suicidas.
O irmão quer a pobreza e o que é dado a ele é um corpo
mutilado. Embora ele diga que irá arrastar-se, terá uma perna atrofiada,
o que não o impedirá de manter-se na posição ereta; enquanto outros,
que verdadeiramente se arrastarão, dirão que têm os movimentos
dificultados. Quanta diferença!
Há muito tempo, ele vem adiando a provação. Não
constrangemos e nem estipulamos prazos muito rigorosos para o
retorno, quando, então, se cumprirá a necessária reparação do ato
praticado contra as Leis Divinas.
Certamente, se o irmão fosse mais sereno e mais humilde, o
prazo de estudos para ele seria maior. Se estivesse disposto a buscar a
transformação pela humildade, poderia retornar pobre, vitimado por
dores pungentes, mas com muitas oportunidades de trabalho. No
entanto, ainda se sente um nobre, ocupando posição de destaque.
Cultuando o corpo físico, vê-se ainda como o mesmo sedutor do
passado, que levou ao desequilíbrio tantas almas. Dessa forma, para
ele, a beleza, mesmo na pobreza, seria fonte de delinquências e
desequilíbrios, pois ele não conseguiria mudar sua conduta.
133
***
Constatar que aquele a quem Ranna tanto havia amado e por quem
se deixara iludir era justamente Pablo, o jovem sedutor, foi surpreendente
demais!
Mas, o que realmente havia acontecido? Por que Pablo, jovem
afortunado e dotado de expressiva beleza física, levando uma vida condizente
com o seu orgulho e vaidade, suicidara-se? Como acontecera o seu suicídio?
134
65
Ala do Hospital Maria de Nazaré, na Colônia Maria de Nazaré, onde eram internados os Espíritos em
alto grau de demência. Cf. PEREIRA, Yvonne A. PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida..., op.
cit. p. 217-218.
135
***
***
136
TERCEIRA PARTE
A PSICOGRAFIA
valores e pontos de vista com os quais foram construídas eram peculiares aos
que as viveram.
Com o passar dos anos, portanto, fomos percebendo a relevância da
psicografia como possibilidade de socorro aos suicidas, pois, como nos
afirmaram os próprios coordenadores técnicos espirituais, trata-se de um
“desabafo da alma”.
A seguir, a título de ilustração, apresentamos algumas mensagens
psicografadas, conforme as três situações que acabamos de ressaltar.
Almejamos que elas possam servir tanto como elemento de estudo como de
fortalecimento, pois a continuidade da vida independe das nossas crenças
pessoais, e a nossa vida presente é apenas um momento diante da eternidade.
***
1- Cartas - Desabafo
“Minha história não tem vibrações de alegria. Vem crivada pela dor do
suicídio.
Ainda muito jovem, deixei-me levar por vibrações inferiores, pois
julgava ser o centro das atenções. Quanto mais me supunha ligada aos que me
amavam, mais me distanciava deles. Na adolescência, diante de mínimos
sofrimentos e contrariedades, ameaçava me matar. Quanto mais meus pais se
desdobravam em amor, mais preocupação desejava causar a eles.
Até que um dia, não resistindo à volúpia daquela mórbida sugestão,
matei-me com um tiro na cabeça. Meus pais muito sofreram com o destino que
dei à minha vida, e os meus irmãos, ainda tão pequenos, não puderam ter o
exemplo das minhas virtudes.
Como pude ser tão inocente? Ah, como eu gostaria de poder voltar o
tempo! Como eu gostaria de poder arrancar do peito da minha mãe aqueles
momentos dolorosos e que a fizeram adoecer gravemente!
138
***
66
Refere-se à atuação do grupo nas reuniões mediúnicas, nos momentos em que fazia vibrações em favor
dos Espíritos no Vale dos Suicidas e locais congêneres, bem como durante o sono físico.
139
lágrimas em seus olhos e tristeza em seu coração. Ah, mãe, como eu queria
lhe pedir perdão!
Acreditei que os amigos eram mais importantes. Achei careta me
dedicar aos estudos, enquanto a turma saía para a balada. Esqueci-me dos
exemplos de trabalho no bem que constantemente recebia.
Quantas noites você ficou esperando por mim e eu não voltei porque
estava drogado. Lembro-me de que no começo tentava melhorar minha
aparência para disfarçar meus deslizes. Com o tempo, porém, perdi toda a
noção de higiene e de qualquer forma de manifestação de amor. Já não
percebia você, mãe. As drogas haviam superado qualquer princípio que
existisse dentro de mim. Já não podia voltar, pois era tarde demais. Era o fim.
Não sei ao certo quanto tempo permaneci enlouquecido, em lugar
aterrador. Minhas dores se misturavam às dores e às lágrimas de tantos
outros.
Em meio a tanto sofrimento, algumas vezes, por breves momentos,
podia ouvir sua voz... Como eu procurei por você, como a chamei! Mas só
encontrei muita solidão...
Gostaria tanto de reencontrá-la e poder chamá-la novamente de mãe.
Se você pudesse me ouvir, como eu gostaria de pedir perdão.”
***
***
141
***
“Irmãos,
Quanto sofrimento... Mas, a cada dia, surpreendo-me com os
horizontes que se descortinam diante dos meus olhos. Nesses momentos,
sinto-me confusa entre o que hoje vivencio e o que antes eu acreditava.
Fui evangélica e servi ao Senhor da forma que eu conhecia como
certa e única.
142
***
67
Gênesis, capítulo 1. Bíblia Sagrada (versão digital). Seafox/Terra Santa/James King/Vozes, 2005.
143
68
Salmo 23. Bíblia Sagrada, op. cit.
144
Não sei dizer quanto tempo havia passado... Sei, porém, que em um
determinado momento, já bastante exausta, lembrei-me de Jesus e tentei
rezar. Mas, minha mãe não estava lá para rezarmos juntas. Então, chorei,
chorei e chorei, pois nada mais me restava a fazer. Entretanto, em meio
àquelas lágrimas, lembrei-me de singela oração, que fiz de olhos fechados.
Comecei, assim, a me sentir melhor. Implorei auxílio. Meus olhos se
desanuviaram e pude ver muitas pessoas se aproximarem de mim. Entre elas,
uma mulher de olhar sereno, falou-me: “Chega de sofrer. Você quer vir
conosco?”. Sem poder respondê-la, inopinadamente, beijei suas mãos e deixei-
me ser socorrida.
Adormeci profundamente. Quando despertei, estava em um hospital,
onde fui muito bem tratada e onde me aconselharam com amor.
Vagarosamente, recordei todos os acontecimentos. Entrei em desespero. Eu
teria, enfim, morrido? Por que eu estava ali? Paulatinamente, fui sendo
esclarecida sobre a minha nova condição; e, ao mesmo tempo, procurava me
fortificar na fé. A continuidade da vida em outra dimensão foi uma grande
surpresa para mim.
Estudei e conheci toda a Colônia, constatando o quanto era bem
administrada. Assistia palestras, apresentações musicais e teatrais. Quanto
bem a música me proporcionava!
Depois de muito tempo, integrei-me ao grupo de captação de preces
e pude levar o bálsamo da oração aos necessitados de conforto e auxílio.
Um dia, disseram-me que Paulo desencarnara aos setenta e cinco
anos de idade e que eu poderia me encontrar com ele. Informaram-me que ele
muito sofrera ao saber o que havia acontecido comigo e que, verdadeiramente,
arrependera-se de ter me iludido e abandonado. Exultante, esperei ansiosa
pelo reencontro.
Encontramo-nos, então, e agradecemos a Jesus a concessão
daquele encontro. Dali em diante, eu permaneceria na Colônia e Paulo daria
continuidade ao tratamento a que estava sendo submetido. Sempre que era
possível, encontrávamo-nos novamente. A ternura e o carinho que sentíamos
145
um pelo outro cresciam cada vez mais, assim como a disposição para o
trabalho.
Antes, eu tinha muito medo de reencarnar! Agora, sinto-me mais
confiante, pois meus pais já estão reencarnados e irão me receber novamente
como filha.
Eu e Paulo teremos também uma nova oportunidade e receberemos
como filha aquela que foi outrora o motivo da nossa separação.
É tempo de partir.
Com muita alegria agradeço a oportunidade.”
***
“Amigos em Cristo,
A minha história ainda me toca muito, pois é bem difícil conviver com
a realidade de que fui a causadora de tantas mortes.
Sim, meus amigos! Recebi instruções de enfermagem e isso era uma
grande vitória, pois à época em que vivi não era corriqueiro a mulher ter uma
profissão. Portanto, sentia-me feliz, pois tinha certeza de que Deus havia
colocado em minhas mãos o sacerdócio do auxílio.
Consegui trabalho em uma maternidade e afaguei muitas mãezinhas
nos seus momentos de dores, como também pude compartilhar do júbilo que
elas sentiam ao segurar os filhos nos braços.
Os tempos eram difíceis e os recursos financeiros, antes suficientes,
já não atendiam minhas necessidades. Certa feita, uma família em desespero
me procurou, pois a filha caçula aparecera grávida de um serviçal da casa.
Isso, para a sociedade da época, era uma afronta aos bons costumes. Era
preciso resolver o problema... A princípio, a proposta fez-me recuar. Entretanto,
além da recompensa financeira ser tentadora, considerei que a causa era
‘justa’. O ‘trabalho’ não fora difícil, pois eu tinha muita prática; e a recompensa
me fizera aceitar a experiência com naturalidade.
146
***
Sim, é uma luz! Ah, meu Deus, há tanto tempo estou envolvido em
pesadas trevas... Estou tão cansado. Gostaria que me levassem... Não suporto
mais...
Auxiliem-me, se for possível.”
***
***
150
2 – Relato–súplica
***
***
“Amigos,
Quanto sofrimento encontrei por ter desistido de viver! A dor era tão
intensa que me sentia morrer a cada instante, sem que isso efetivamente
acontecesse.
152
***
“Queridos irmãos,
Somente a compreensão, a perseverança e a dedicação farão dos
trabalhadores deste grupo seareiros diferenciados pela responsabilidade que
julgamos ser de todos nós. É natural que alguns ainda permaneçam ansiosos e
que tenham muitos questionamentos.
69
Mensagem psicografada em agosto/1998, período em que começamos a fazer os registros para a
confecção desta obra.
153
***
70
Pseudônimo explicado na Introdução, no item “O Grupo Mediúnico”.
154
“Queridos irmãos,
A Bondade Suprema de Deus nos concedeu, no dia de hoje, a
oportunidade de estarmos juntos neste trabalho de amor, pelo qual tanto
esperamos.
Até estarmos hoje na condição de trabalhadores fiéis da Colônia
Maria de Nazaré, muitas lágrimas foram derramadas, pois o aprimoramento
daquele que infringe as Leis Divinas se faz com lutas e sacrifícios. Muitos
caminhos foram percorridos para que nos preparassem para esta atividade
que, embora pareça tão simples, tanto significa para nós.
Muitos julgam não ser necessário um dispêndio tão intenso de amor.
Outros até questionam a necessidade de um trabalho específico para atender
aqueles que se negaram a viver. Por isso, por várias vezes, este grupo foi
criticado. Mas aqueles que já se sensibilizaram com o sofrimento alheio, após
um esclarecimento maior, compreenderão melhor essa necessidade.
Não fiquem impacientes diante das críticas, pois essas quase sempre
são frutos da inexperiência que dificulta a percepção do amor que hoje vocês já
sabem valorizar.
Maria não nos desampara e a luz que um dia fez brilhar no abismo
onde vocês estavam, resgatando-os de sofrimentos atrozes, ainda hoje se
reflete neste grupo, apoiando a realização deste trabalho.
Em certas ocasiões, o silêncio será melhor, a fim de que o
desabrochar se processe de forma natural. Somos como frutos... Por isso,
esperemos e confiemos.
Sabemos das dificuldades que por vezes os ameaçam. Percebemos
as lágrimas diante dos sofrimentos. Entretanto, Jesus nos ampara sempre,
aceitando-nos como trabalhadores da sua seara.
Para nós, o trabalho continua sempre, estendendo-se noite adentro,
pois quando os corpos repousam, os Espíritos continuam o aprendizado.
Então, cada um ressurge, carregando no peito o símbolo do colaborador que,
mesmo entre dificuldades, se faz luz.
155
***
***
“Caros irmãos,
Grande é o despertar da humanidade nos tempos que surgem. O
trabalho com o Cristo requer de nós a compreensão e o desprendimento que
tantas vezes nos desviam do caminho.
Uma sintonia maior é necessária para que o trabalho possa fluir com
êxito e para que as influências advindas dele não interfiram72 em suas vidas. A
71
Mensagem psicografada em dezembro de 2002, época em que estava sendo implantado, por meio de
campanhas, o Culto do Evangelho no Lar. Atualmente, essa prática, bem como a consciência da sua
importância têm encontrado cada vez mais receptividade nos lares dos trabalhadores da Casa Espírita.
72
A vigilância é imprescindível em qualquer trabalho que se realize. Nas atividades mediúnicas, a sua
importância assume proporções ainda maiores.
156
atividade de auxílio é ampla e tem continuidade nos dias que se seguem à sua
realização.
Não se deixem envolver por pensamentos negativos, que são a porta
de entrada para as influências menos sãs. Recorram sempre ao Evangelho,
fortificando-se nas lições que o Cristo nos deixou.
Sabemos que as dificuldades os desmotivam. Entretanto, acreditem
no Amparo Vigilante que envia amigos para auxiliá-los.
Agradecidos pela oportunidade, pedimos ao grupo que se mantenha
unido e confiante para que as dificuldades possam ser superadas com êxito.
Confiemos e aguardemos, pois o trabalho continua.”
***
Maria nos sorri com benevolência e nos alerta que é preciso orar e
vigiar os pensamentos mais secretos e os pequenos gestos, a fim de sermos
mais receptivos às influências do Alto.
Desejamos que as vibrações e os pensamentos emitidos por vocês
possam ser percebidos por meio da luz e da paz que sejam capazes de
irradiar. Isso é um treino constante, em que Jesus nos auxilia com o Seu amor.
Tenhamos fé e não nos deixemos levar. Busquemos o equilíbrio e a
harmonia para o nosso próprio melhoramento.
Jesus os abençoe e que a Sua luz possa envolvê-los em eflúvios de
paz.
Um irmão em Cristo.”
***
***
158
QUARTA PARTE
A PSICOPICTOGRAFIA
73
Pintura dos Espíritos por meio do médium (pintura mediúnica).
159
74
Durante a formação do quadro, o médium vislumbrava as cores, porém no relato para o grupo o que se
via era a folha de papel com o desenho a lápis.
161
Quadro 2- Aquece-nos
Data: 07/07/92
“Aquece-nos, Senhor!
Aquece-nos para servirmos sempre, para aprendermos a amar os
nossos inimigos, tentando alcançar o coração deles.
Aquece-nos para esquecermos o gelo de outrora e perdoe-nos as
falhas do passado para vencermos o que ainda nos faz prisioneiros de
vibrações tão infelizes.
Ajude-me com o seu calor de irmão e deixe-me voltar aqui mais
algumas vezes, pois ainda preciso me melhorar.
Estou com os companheiros em tratamento que foram trazidos pela
equipe da Colônia.
Maria nos abençoe!
Alma Suicida”
162
Quadro 3- Fortalece-te
Data: 14/07/92
***
163
Quadro 4- Eleva-te
Data: 21/07/92
Quadro 5- Previna-te
Data: 28/07/92
““Previna-te!
Os caminhos são muitos.
As pedras da maldade nos fazem tropeçar e os espinhos das provas
difíceis nos ferem os pés. Qualquer descuido e poderemos ser levados pela
correnteza das paixões e aprisionados pelas futilidades que devoram o nosso
desejo de crescer.
Somente as ações pautadas nos preceitos ensinados por Jesus
poderão iluminar a estrada, permitindo-nos avançar com segurança, pois
certamente andaremos entre espinhos, pedras e serpentes.
Só vencerá aquele que não se esquecer do recado: previna-te.
Alma Suicida”
165
“Certa noite, ainda preso à loucura do passado que para mim ainda era
presente, eu ainda pensava estar vivo. Desesperei-me. Uma falange de irmãos
se aproximou de mim e maldosamente fizeram com que eu percebesse o que
eu era na realidade: mais um que passava da vida para a morte, por meio do
abuso da liberdade que Deus havia me confiado. Por uma dose a mais de
cocaína, eu estava preso a uma situação que não sabia qual era.
O local era escuro, frio e tinha gente que gritava e gemia. Era, na
verdade, um cemitério e eu não conseguia enxergar e nem entender direito
tudo aquilo. Ao mesmo tempo em que me sentia anestesiado, sofria dores
absurdas. Não tinha a mente sob controle e não conseguia pensar.
De vez em quando, percebia que riam de mim. Não tinha qualquer
noção de tempo, nem me lembrava da família e dos amigos. Apenas sofria.
Acovardado, não podia resistir à falange que um dia me arrastou e jogou-me
em um poço de lama, onde eu não conseguia respirar. Sufocado, eu chorava.
Às vezes, a respiração voltava ao normal, mas logo me sentia sufocado
novamente. Assim fiquei não sei por quanto tempo.
168
que mãos me afagavam como se eu fosse uma criança. Percebi, por fim, que
não estava só; e um canto suave de mulher me fez adormecer...
Muitos dias se passaram. Eu acordava e novamente voltava a dormir,
sem nada de novo perceber à minha volta. Estava totalmente alheio a tudo o
que se passava.
Hoje sei que fui socorrido pela Legião dos Servos de Maria e que
aqueles dias de sono faziam parte do tratamento inicial de desintoxicação do
meu organismo fluídico. Desintoxicação dentro dos limites do possível, já que
alguns resíduos só poderei mesmo eliminar em novo corpo, trabalhando e
reeducando a mente.
As sessões de tratamento foram muitas até que a minha mente
finalmente despertasse e pudesse ser submetida à terapêutica dolorosa, porém
necessária: a revivescência do passado.
Relembrar era muito penoso e eu, quase sempre, caía em depressão
profunda, tendo que partir do zero novamente, até que a melhora se
consolidasse.
Aos poucos, fui me habituando aos trabalhos da Colônia Maria de
Nazaré e encontrando paz nas preces que, a princípio, eu articulava meio sem
sentido, tentando vencer o bloqueio que eu impusera a mim mesmo por ter
vivido na Terra longe de qualquer manifestação de louvor ou mesmo de súplica
ao Criador.
Marcos”
170
Em meus dias de solidão percebi que nada fiz para merecer pensar
nele como alguém de fronte serena e de olhar manso, a exemplificar-nos o
amor.
Anseio voltar à Terra e poder pintar novamente... Retratar o amor no
brilho intenso daquele olhar. Anseio desenhar os lábios que sussurravam
canções de amor que foram compreendidas apenas pelos puros de coração.
Gostaria de mostrar a face bela do Cristo sem espinhos..., mas como
fazer se ainda sou o espinho a sulcar-lhe a fronte, por não conseguir
compreender a sua sublime lição?
Rogo a Deus e a Maria que eu possa encontrar dentro de mim, neste
período de renovação a que me entrego nesta Colônia, a convicção de que,
mesmo em face das minhas arbitrariedades contra a vida, Ele somente deseja
o meu progresso e a minha felicidade.
Espero estar mais sereno a cada dia e voltar com o coração
preenchido de emoções verdadeiras, a fim de fazer da minha vida um pouco de
luz.
Quero mentalizar em cada ação e em cada gesto, a retirada dos
espinhos que plantei em minha vida anterior. Só assim verei o Cristo como
muitos de vocês: como amor e somente amor.
Marcos”
***
173
Quadro 7- Caminhos
Data: 08/12/92
***
177
75
FRANCO, Divaldo P. Autodescobrimento (uma busca interior). Pelo Espírito Joanna de Angelis. 3.ed.
Salvador: Editora Leal, 1996.
178
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76
Mateus, capítulo 10, versículo 8. Bíblia Sagrada (versão digital). Seafox/Terra Santa/James
King/Vozes, 2005.
179
QUINTA PARTE
PREPARAÇÃO DO AMBIENTE
77
Nomenclatura explicada na Introdução, no item “O Grupo Mediúnico”.
78
Luzes, termo usado no sentido de vibrações.
182
***
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185
SEXTA PARTE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
79
Coordenador Espiritual da Reunião de Atendimento aos Suicidas do Centro Espírita Maria Madalena
(Cema), Planaltina-DF.
186
As respostas a estas questões não eram importantes, pois nos cabia tão
somente agir em consonância com os preceitos de Jesus. Sempre que
necessário, a Espiritualidade responsável pelos atendimentos nos orientava,
fosse via intuição ou por meio da psicofonia e/ou da psicografia.
Ainda hoje, assim tem sido a rotina das reuniões mediúnicas do nosso
grupo. Em alguns momentos, temos a clareza dos quadros espirituais,
chegando a conhecer pormenores da história do Espírito. Em outros, temos
notícias da adaptação desses irmãos na Pátria Maior e, em algumas ocasiões,
posteriormente, eles são novamente levados às nossas reuniões. Entretanto,
na maioria dos casos atendidos, apenas alguns fragmentos da realidade
daqueles irmãos nos são permitidos entrever, dando-nos a certeza de que
fomos instrumentos de auxílio.
Tendo em vista a pequena quantidade de médiuns que se permite abrir
o coração para a comunicação de um suicida80, as reuniões com este fim serão
marcadas pelo aproveitamento máximo do tempo, com exclusão de
detalhamentos desnecessários ao socorro.
Durante os anos em que fomos chamados a coletar dados e histórias
para compor esta obra, grande parte do tempo das nossas reuniões era
preenchida pela palavra dos coordenadores espirituais, que traziam
detalhamentos dos casos atendidos e as formas de intervenção, bem como
abriam espaço para perguntas e solicitação de orientações diversas.
Findo aquele período, o maior tempo da reunião passou a ser utilizado
para as intervenções socorristas, e as comunicações de orientação se
restringiram aos casos que fugiam ao nosso entendimento.
Julgamos relevante esse comentário, a fim de que aqueles que
abraçarem essa tarefa compreendam o quanto é limitado o nosso
conhecimento acerca da história de cada Espírito; e que, longe de ser um
entrave à realização da tarefa, tal fato é mais um motivo para reconhecermos o
respeito da Espiritualidade diante da dor alheia, auxiliando com sigilo e
discrição e preservando a identidade dos Espíritos socorridos; e, ao mesmo
tempo, ensinando-nos que é preciso perguntar menos e servir mais.
190
***
80
PEREIRA, Yvonne A. Memórias de um suicida. 16.ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira,
191
SÉTIMA PARTE
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. XAVIER, Francisco Cândido. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 13ª ed.
Rio de Janeiro: Federação Espírita do Brasil, 1987, 264 p.
1991, p. 138-141.
192
10. KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 30ª ed. Rio de Janeiro: Federação
Espírita Brasileira, 1993, 425 p.
11. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 91ª ed., Rio de
Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1985, 456 p.
12. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 23ª ed. São Paulo: IDE, 1992, 464 p.
13. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 76ª ed., 1995, 494 p.
14. KÜHL, Eurípedes. Sexo: Sublime Tesouro. 1ª ed. Belo Horizonte: Editora
Espírita Cristã Fonte Viva, 1992,185 p.
20. JACINTHO, Roque. Doutrinação. 11ª ed. São Paulo: Editora Luz no Lar,
128 p.
(contracapa)