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UNIVERSIDADE OPET
FACULDADE DE DIREITO
CURITIBA
20202
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CURITIBA
2022
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RESUMO
SUMMARY
This present monograph of conclusion of the Law course at Uniopet under the
guidance of Professor Luís Andre Pontarolli, deposited in November 2022. This re-
search sought to examine the institution of the leniency agreement and its prediction
in Law nº 12.529/2011 and in Law nº 12.846/2013, carrying out an approach about
the origins of the aforementioned institute in North American law and the first legal
norm to provide for it in Brazil, as well as scrutinizing the individualities, the proce-
dure and the reality of each model of leniency provided for in the Brazilian legal sys-
tem. With this method, we had the objective of researching a theme that has been
receiving more and more importance due to the evolution of the execution of leniency
agreements as instruments to help in the diligences, either in the scope of competi-
tion law, or to meet the popular ambitions for a punishment to the corruption that
brought about an institutional political crisis in the Brazilian State, going through an
analysis of the difference and effectiveness of the leniency programs adopted, as we
seek to list the legislative suggestions that are intended for their improvement, espe-
cially the model of the Law No. 12.846/2013.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................1
1. Fundamentos do acordo de leniência
1.1 Origens....................................................................................................4
1.2 Objetivos da leniência ............................................................................5
1.3 Leniência concorrencial (Lei nº 12.529/2011).........................................6
1.4 Outras espécies de leniência (Banco Central, entes reguladores, entre
outros)..........................................................................................................................9
1.5 Conclusões parciais..............................................................................14
4. CONCLUSÃO.......................................................................................34
5. REFERÊNCIAS.....................................................................................36
1
INTRODUÇÃO
O Acordo de leniência é um regimento do direito concorrencial que obtém cé-
lebre importância ao colaborar para uma ordem econômica mais justa, na proporção
em que proporciona o combate aos cartéis. Em verdade, beira a fantasia imaginar
um universo empresarial de convivência harmônica entre as empresas jurídicas e
seus administradores/sócios que respeitam as regras do livre mercado e as que par-
ticipam de práticas anticompetitivas. Essas dificilmente são descobertas pelas auto-
ridades e, por consequência, os envolvidos não recebem punições. O modelo brasi-
leiro, adotado desde o ano 2000, recebeu forte influência dos Estados Unidos da
América (EUA) e da comissão europeia, e ganhou inicialmente poucas companhias.
Porém, uma organização dos critérios originais amplificou gradualmente a aderência
ao Programa. O maior incentivo fomento, por assim dizer, à propositura do acordo, é
a redução de consideradas punições administrativas, penais e cíveis, colocadas a
empresas e administradores/sócios pelo cometimento de crimes contra a ordem
econômica.
Em consequência de um comprometimento internacional adotado pelo Brasil
para combater a corrupção e compelido pela sociedade após as calorosas manifes-
tações de 2013, o legislativo brasileiro adicionou ao conjunto regulamentar pátrio a
Lei 12.846/2013, popularmente conhecida como Lei Anticorrupção (LAC). Sua in-
cumbência, além de se prestar a ser um novo marco legal para o necessário comba-
te à corrupção pública, é o de suprir uma lacuna legal referente à falta de legislação
para a sanção de pessoas jurídicas por atos proibidos que contemplam contra à
probidade da Administração. Não obstante, a referida ordem, não se interrompeu a
isso. Em específico pelos artigos 16 e 17 da lei, foi possível visualizar uma nova
forma de tratar, administrativamente, as práticas de corrupção no ordenamento jurí-
dico brasileiro: a utilização do direito colaborativo. Isso é, a lei anticorrupção deu a
possibilidade ao direito administrativo punitivo de desabilitar, ou ao menos tentar
abandonar, a velha cultura do hard law, pensando a probabilidade jurídica de a Con-
troladoria Geral da União (CGU) firmar, no âmbito federal, o chamado acordo de le-
niência com as empresas que, porventura, alcançassem se habilitar para tanto. Em
resumo, para isso as pessoas jurídicas devem revelar a prática de definido ilícito de
corrupção previsto na legislação, apontar os envolvidos, bem como oferecerem ao
domínio da autoridade investigadora um composto de provas sujeitos a comprovar o
que foi ou será denunciado. Em troca, a autoridade investigadora dará ao delator um
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eufemismo na punição a que lhe seria posta, ou seja, a autoridade será leniente com
o agente colaborador. A essa troca de informações, como dito, é dado o nome de
acordo de leniência. E, desde que o regimento penetrou ao programa de combate à
corrupção, nunca deixou de ser contestado.
Primeiro, porque, em uma breve leitura, já se mostra possível averiguar que o
texto da lei anticorrupção, quando trata dos acordos de leniência, é ausente quanto
à atuação das diversas outras figuras responsáveis pelo controle do Poder Público.
Em verdade, o legislador, ao menos quando do âmbito federal, só menciona a figura
da CGU. Mas, é certo mencionar que ela é apenas uma entre diversas “ilhas de con-
trole” da Administração Pública Federal. Encontram-se várias outras tais como o Mi-
nistério Público Federa, Advocacia Geral da União, Tribunal de Contas da União que
são entidades autônomas e competentes a buscarem o combate corrupção.
A contrariedade, por conseguinte, é que tal situação é capaz de criar insegu-
rança jurídica. Isso em função de a legislação, ao antecipar que o acordo de leniên-
cia será assinado exclusivamente com um dos incumbidos pelo controle da Adminis-
tração Pública Federal (no caso da LAC, a CGU), deixa a empresa colaboradora ex-
posta ao poder sancionador dos outros entes cujas competências são, por muitas
vezes, constitucionais e, consequentemente, não passíveis de serem afastadas pela
omissão de mera legislação infraconstitucional.
Nesse sentido, o Ministro do Tribunal de Contas da União Benjamin Zymler
criou uma metáfora que é assaz clara ao descrever tal situação, vejamos:
Seria como se a empresa e seus dirigentes estivessem
submetidos a um pelotão de fuzilamento com três solda-
dos: a CGU, podendo declarar a inidoneidade com fulcro
nas normas de licitações; o Ministério Público, podendo
ajuizar ações civis, administrativas e penais; e o TCU,
também podendo declarar inidôneas as empresas. Se
você faz o acordo de leniência com ator só, de nada adi-
anta, porque “as balas dos outros atiradores” podem te
atingir.
lise de seu conceito e seus objetivos; mencionando sobre a sua fundamentação es-
tratégica; e, por fim, outras espécies de leniência, mas que de alguma forma, podem
integrar um programa de leniência.
No segundo capitulo, usurpando como base as indagações mencionadas no tí-
tulo anterior, se aprofundará ao universo dos principais programas de leniência pre-
vistos na legislação brasileira, quais sejam: da legislação antitruste e o da lei anticor-
rupção, analisando, assim, todos seus requisitos e objetivos, para, ao final, os com-
pará-los com os paradigmas definidos se chegar à conclusão de que, ao menos, o
programa de leniência previsto na Lei anticorrupção fortalece o papel do Ministério
Público como agente de salva-guarda do patrimônio público
No terceiro, e último capítulo, se embrenhara na controversa referente à aos
aspectos práticos do próprio programa de leniência da lei anticorrupção que, con-
forme dito, se pauta na conformação de um sistema de leniência sem a previsão de
todos os responsáveis pelo controle da corrupção pública. Dentre eles (se escolherá
o Tribunal de Contas da União para se avaliar, de forma profunda, suas conforma-
ções e contribuições para o aprimoramento e erradicação da referida insegurança
jurídica que, de certo, não é, e nem deve ser esperada pelos administrados.
É esta, a análises a se enfrentar.
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documentos. Por conseguinte, o acordo de leniência tem como objetivo restituir e/ou
reparar os prejuízos causados pelos atos ilícitos praticados.
O conceito de leniência é muito mais amplo que sua aplicação no direito. No
contexto da política antitruste, passando a ser empregado quando há aplicação de
uma pena ou obrigação menos severa do que aquela que seria aplicável não hou-
vesse cooperação voluntária.
Podemos entender como Acordo de Leniência o contrato celebrado entre o
Estado e a pessoa investigada, pessoa jurídica, o qual a máquina pública pode dar o
benefício do abrandamento ou a extinção da pena aplicada ao particular, em troca,
pede a colaboração com provas materiais e documentos, logo solidificando a culpa-
bilidade do ente e massificando sua prova cabal.
A prática de cartel é tanto uma ilegalidade administrativa (art. 36, §3º, I da Lei
nº 12.529/2011) quanto uma antijuricidade criminal (art. 4º, II da Lei nº 8.137/1990).
No polo administrativo a capacidade para investigar e instaurar processos ad-
ministrativos para a apuração de cartéis e outras condutas anticoncorrenciais coleti-
vas é da Superintendência-Geral (art. 13, V da Lei nº 12.529/2011), sendo a decisão
condenatória ou absolutória de competência do Plenário do Tribunal do Cade (art.
9º, III da Lei nº 12.529.2011). A celebração do Acordo de Leniência candidata as
empresas e/ou pessoas físicas à obtenção dos benefícios da extinção da ação puni-
tiva ou da redução da penalidade aplicável pelo Cade, benefícios estes concedidos
definitivamente quando do julgamento do processo administrativo pelo Plenário do
Tribunal do Cade (art. 86, §4o da Lei nº 12.529.2011) (vide perguntas 17 a 19, infra).
Na esfera administrativa, nos termos do artigo 37, incisos I a III da Lei nº
12.529/2011, as sanções pecuniárias (multas) aplicáveis às infrações contra a or-
dem econômica são as seguintes: I. no caso de empresas, multa de 0,1% a 20% do
faturamento bruto da empresa, grupo ou conglomerado, obtido no último exercício
anterior à instauração do processo administrativo, no ramo de atividade empresarial
em que ocorreu a infração, a qual nunca será inferior à vantagem auferida, quando
for possível sua estimação; II. no caso de pessoas físicas ou jurídicas de direito pú-
blico ou privado, bem como de associações, e sindicatos que não exerçam atividade
empresarial, não sendo possível utilizar-se o critério do valor do faturamento bruto,
multa entre R$ 50.000,00 e R$ 2.000.000.000,00; e III. no caso de administradores
direta ou indiretamente responsáveis pela infração cometida, quando comprovada
sua culpa ou dolo, multa de 1% a 20% daquela aplicada à empresa. Conforme pre-
visto no artigo 38 da mesma Lei, além das multas, outras sanções podem ser apli-
cadas isoladas ou cumulativamente na esfera administrativa, tais como: (i) a exigên-
cia de publicação da decisão de condenação em jornal de grande circulação; (ii) a
proibição de contratar com instituições financeiras e de participar de licitações reali-
zadas por órgãos públicos; (iii) a cisão de sociedade ou venda de ativos; (iv) a reco-
mendação para que seja concedida licença 12 compulsória de direito de propriedade
intelectual; (v) a proibição de concessão de parcelamento de tributos; (vi) a proibição
de exercer comércio e/ou qualquer outro ato ou providência necessários para a eli-
minação dos efeitos nocivos à ordem econômica.
Também, está prevista a celebração externa do acordo. Consoante previsto no
artigo 2º, caput, da Lei nº 12.529/2011, a Lei de Defesa da Concorrência, bem como
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consideradas graves (cf. art. 4º do mesmo diploma), este termo não poderá ser ce-
lebrado; (d) Concessões do Bacen: com sua assinatura, o termo poderá fazer com
que o PAS deixe de ser instaurado (quando ainda não o fora), ou que ele seja sus-
penso por determinado período ao final do qual, constatado o integral cumprimento
do acordado, ocorre a extinção da punibilidade do particular em relação à infração
constante do termo; (e) Contrapartidas de natureza razoável: segundo o art. 11 da
Lei, para sua celebração, o particular deverá se comprometer a, cumulativamente: •
cessar a prática sob investigação ou os seus efeitos lesivos; • corrigir as irregulari-
dades apontadas; • indenizar os prejuízos causados pela conduta infracional; e •
cumprir as demais condições que forem acordadas no caso concreto, com obrigató-
rio recolhimento de contribuição pecuniária. O termo de compromisso, assim, não
exige do particular a delação ou a entrega de documentos que possam incriminar
outras pessoas.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma entidade autárquica em re-
gime especial e que, ainda que vinculada ao Ministério da Fazenda, possui não ape-
nas personalidade jurídica e patrimônio próprios, mas também é, por lei, dotada de
autoridade administrativa independente, de ausência de subordinação hierárquica,
de mandato fixo e estabilidade de seus dirigentes, bem como de autonomia financei-
ra e orçamentária. Uma entidade, assim, com um grau de autonomia e independên-
cia muito maior do que o Bacen. Seu propósito institucional é de zelar pelo funcio-
namento eficiente, pela integridade e pelo desenvolvimento do mercado de capitais,
promovendo o equilíbrio entre a iniciativa dos agentes e a efetiva proteção dos in-
vestidores, tendo, como uma de suas principais funções para tanto, a de fiscalizar,
apurar e condenar as infrações à legislação do mercado de valores mobiliários. Com
a finalidade de atender de modo mais eficaz aos interesses públicos envolvidos, foi
legalmente concedida à CVM a possibilidade de celebrar termos de compromissos,
cuja previsão legal se encontra estabelecida em sua lei instituidora, Lei nº 6.385/76 e
processo atuais previstos pela Deliberação CVM 390/2001 (com última alteração
realizada pela Deliberação CVM 759/2016). Todavia, tendo como um de seus pro-
pósitos o aperfeiçoamento desse instrumento, a já mencionada Lei nº 13.506/2017
alterou, revogou e incluiu alguns dos dispositivos da referida lei. Ademais, a autar-
quia especial publicou, em 18 de junho de 2018, o Edital de Audiência Pública SDM
nº 02/2018, contendo uma ampla proposta de Instrução que, uma vez aprovada,
consolidará, em um único documento, todas as regras relativas à sua atividade san-
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firmado com o Bacen. Entretanto, isto não quer dizer que não seja preciso lhe dar
maior segurança jurídica. Além da incerteza quanto à aprovação ou não de nova
norma regulamentadora (citada proposta de Instrução, que, se aprovada, substituirá
a Deliberação CVM 390/01), é preciso chamar a atenção para a omissão em relação
às eventuais penalidades possíveis de transação por termos de compromisso junto à
CVM. Segundo o § 3º do art. 11 da Lei nº 6.385/76 (com redação dada pela Lei nº
13.506/2017), as penalidades de advertência e de multa poderão ser aplicadas sem
relação à gravidade da infração, enquanto as penalidades de inabilitação temporária,
de suspensão de autorização e de proibição temporária só poderão ser impostas
para casos de infração grave. Ainda, o § 13 do mesmo artigo (incluído pela Lei
nº 13.506/2017) acrescenta a possibilidade de outro tipo de penalidade (proibição,
por até cinco anos, de contratar com instituições financeiras oficiais e de participar
de qualquer licitação pública de qualquer órgão ou entidade estatal), porém, sem
indicar se sua aplicação depende da gravidade da infração cometida. Ainda que não
haja qualquer disposição (em lei ou mesmo na proposta de Instrução) vedando a
transação de penalidades graves pelos Termos de Compromisso firmados com a
CVM (tal como existe no caso daqueles celebrados com o Bacen), certo é que a
presunção de que isto seja possível é, em certa medida, arriscada. De todo modo –
e por todo o exposto –, é possível genericamente se considerar atrativa para o parti-
cular a celebração de termos de compromisso com a CVM.
Por razão da Lei nº 12.846/2013 (Art. 16, §10. A Controladoria-Geral da União
- CGU é o órgão competente para celebrar os acordos de leniência no âmbito do
Poder Executivo federal, bem como no caso de atos lesivos praticados contra a ad-
ministração pública estrangeira) e do Decreto nº 8.420/2015 (Art. 29. Compete à
Controladoria-Geral da União celebrar acordos de leniência no âmbito do Poder
Executivo federal e nos casos de atos lesivos contra a administração pública estran-
geira), os quais compete a CGU firmar acordos de Leniência no âmbito do Poder
Executivo Federal, assim como casos de atos lesivos contra a Administração Pública
estrangeira.
A estrutura da CGU consiste em cinco secretarias finalísticas para execução
das ações de controle do Governo Federal. A novidade principal fica por conta da
nova secretaria, que é responsável pelas atividades de combate a corrupção, reu-
nindo acordos de Leniência, informações estratégicas e operações especiais.
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cadas pela organização criminosa e sem a obrigação de informar quem quer que
seja.
E o último resultado, que resulte na localização de eventual vítima com a sua
integridade física preservada. Uma vítima que foi sequestrada, por exemplo, pode
ser resgatada com sua vida intacta e sem imposição de qualquer delação, pois a
vida humana é o bem maior a ser resguardado. A colaboração neste caso deve ser
reconhecida, quando for possível a posição da vítima, com sua integridade física
resguardada.
Na visão da Amanda Athayde e Rodrigo Grandis (2015m pág 287-304), a
grande novidade desse sistema lega foi o delineamento, em termos precisos particu-
larizados, do procedimento da colaboração premiada.
Além disso, a legitimidade para execução do acordo de colaboração premiada
também consta expressamente no §6º, do artigo 4º da Lei nº 12.850/2013, que pos-
sui as negociações que passarão a ser feitas, entre o delegado de polícia, o investi-
gado e seu defensor, sempre com a manifestação do Ministério Público, ou entre o
Ministério Público, os investigados ou acusados e seu defensor (BRASIL, 2013,
www.planalto.gov.br).
Já que o órgão ministerial pode sugerir a efetivação do acordo de colaboração
premiada tanto durante a fase verificação quanto na fase processual. Não há privilé-
gios sem que haja uma contrapartida de informações por parte do colaborador, a fim
de apurar o fato criminoso e identificar os participantes. Dessa forma, faz-se preciso
que o promotor de justiça analise o teor das informações prestadas pelo colabora-
dor, visto que, sem a análise do conteúdo das informações, não é recomendado que
se conceda qualquer prerrogativa (MENDRONI, 2017).
Além disso, na parte da investigação, tanto a polícia quanto o Ministério Públi-
co e os advogados devem realizar suas atividades de forma mais efetivas quando se
tratar de diligências criminais abrangendo o crime organizado. Assim, no decorrer da
persecução penal, deve o advogado do agente criminoso avaliar a possibilidade e
vantagens de realizar o acordo de colaboração premiada (MENDRONI, 2017).
De maneira a conferir maior eficácia à colaboração premiada, tanto a autori-
dade policial, durante o inquérito policial, quanto o Ministério Público, simultanea-
mente, devem alertar os indiciados (e acusados) sobre a possível pena a que esta-
rão sujeitos em caso de condenação e sobre os benefícios que poderão obter em
caso de colaboração efetiva (LIMA, 2017, p. 732).
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dades empresárias de grande ou médio porte, é possível que se sugira a opção pelo
acordo de leniência, nos casos em que a liderança da empresa, seu conselho de
administração, ou os dirigentes que realmente tenham poderes para administrá-la e
representa-la, não estejam incluídos nos atos lesivos.
Um exemplo disso é no caso de algum empregado, empresa de marketing ou
despachante que tenha subornado agente público para prevaricar, com o objetivo de
favorecer a empresa, logo, a empresa sofrerá as sanções da lei anticorrupção, con-
siderada a responsabilidade objetiva. Em tais hipóteses, principalmente se a empre-
sa possuir mecanismos de compliance, que detectem tal crime, pode ser uma opção
procurar o Poder Público, para pactuar o acordo de leniência e ajudar com as dili-
gências. Contudo é preciso não omitir que em parte dos casos os diretores e sócios
as que têm a autoridade decisão estarão incluídas ou cientes da prática do crime,
tornando muito mais complicada a propositura da pessoa jurídica na celebração de
acordo de leniência, analisadas as opções de responsabilização em outras esferas
do poder estatal punidor.
trativas, o Ministério Público poderá ajuizar ação civil pública para providenciar a
responsabilização administrativa integral da pessoa jurídica infratora, interpretação
conjunta dos artigos 20 e 30 da Lei 12.846/2013,
probatório seja mais elevado em processos penais que em processos civis em sis-
temas judiciais baseados na Common Law.
Seguindo nesse sentido, corrobora o voto do conselheiro Mauricio Oscar Ban-
deira Maia (2018, processo 08012.004674/2006-50):
Portanto, fundar a condenação essencialmente em anotações esparsas,
desconectas e muitas vezes ininteligíveis constantes da agenda do Senhor
Rodrigo Alvarez me parece conferir uma significação a esses escritos, não
suportada ou corroborada pelas demais evidências colhidas, e, mais ainda,
emprestar-lhes um caráter de veracidade e de credibilidade absoluta, como
se a partir delas as Representadas é que tivessem que interpretar o seu
conteúdo e produzir provas em contrário.
(...)
Portanto, em minha concepção, a agenda e todo o seu conteúdo consiste
em mero indício, sem qualquer força probante isoladamente, e, tal qual o
depoimento de signatários de leniência ou de termos de cessação de con-
duta, tem a natureza de meio de obtenção de prova (art. 3º da Lei n.
12.850/2011), cujo teor deve ser corroborado por provas e/ou conjunto de
indícios convergentes a serem produzidos nos autos, a partir dessa direção
investigativa norteada pela colheita de tal evidência.
(...)
A agenda é um documento unilateral, na qual o seu dono tem ampla e irres-
trita possibilidade de escrever o que bem entende, vale dizer, pode escrever
fatos passados e verdadeiros que vivenciou, situações que lhe foram conta-
das e por ele não verificadas ou comprovadas, aspirações pessoais e pro-
fissionais, pensamentos, especulações fantasiosas, comentários maliciosos
sobre terceiros e sobre situações que viveu ou que imaginou poderiam ocor-
rer, relatos imprecisos sobre acontecimentos que chegaram ao seu conhe-
cimento por fontes não fidedignas, enfim, a agenda tem um potencial ilimi-
tado de receber dados e informações verdadeiros e também falsos, justa-
mente porque os seres humanos ora falam a verdade, ora não, e não paira
sobre estes a obrigação de somente reproduzirem em suas agendas fatos
verdadeiros e por eles vivenciados.
Isso vai de acordo com o estudo de Scott D. Hammond acerca das condições para
um programa de leniência efetivo, já que a previsão de punições severas e a imposi-
ção de medo sobre o risco de descoberta do conluio são duas delas.
Apesar da grande importância do instituto da leniência, vê-se que ainda há um
longo caminho a ser percorrido – o qual manifestadamente já começou a ser trilha-
do, tendo em vista as tentativas recentes de cooperação – de forma a não promover
o abatimento de mecanismo de extrema importância para o combate a práticas cri-
mes e organizadas através de esquemas excessivamente complexos. A missão ha-
bita, recentemente, na administração institucional entre os órgãos que têm algum
poder sobre a leniência, seja para fiscalizar, seja para assinar. A conversa entre os
atores principais sem dúvidas trará mais segurança jurídica às lenientes e, por con-
sequência, tornará o instituto, ainda recente no ordenamento jurídico brasileiro, mais
atrativo
4. CONCLUSÃO
A lei anticorrupção, de acordo com exaltadamente referido no atual trabalho,
além de ser um novo marco legal inclinado a preencher a lacuna legislativa no que
se refere à probabilidade de responsabilização de pessoas jurídicas quanto aos atos
que atentem quanto à moralidade pública, se prestou a ser uma verdadeira tranquili-
zadora das ambições da população quanto aos escândalos de corrupção que ainda
açoitam país. Porém, talvez pela velocidade na qual o legislativo a aprovou, a referi-
da lei já nasceu com diversas arestas que, de certo, precisam de correção. Uma de-
las é o seu programa de leniência.
Conforme demostrado, no final do Capítulo II deste trabalho, tenha se dado,
exclusivamente, pelo fato de o programa de leniência da LAC não ter concedido
prerrogativa total àquele que primeiro firmar a avença, tal quesito não parece, e de
fato não é, banal. Para que se possa consentir com isso, basta se analisar que deli-
berar por confessar um determinado ilícito, e ainda, desmantelar a organização cri-
minosa na qual esteja envolvido, não é uma decisão que pareça ser lógica, tão pou-
co favorável se, em troca, não se receber a devida proteção, ou prêmio que com-
pense, por parte do Poder Público.
Uma vez que, como se viu pela lógica econômica que existe no processo de
tomada de deliberação quanto ao desrespeito da norma jurídica, na qual se prevê
que determinando agente só decidirá pelo descumprimento da norma se tal atitude
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lhe trouxer uma conveniência esperada, tal raciocínio, também, pode ser aplicado
para a tomada de decisão no sentido de se cessar a prática: só se cessará determi-
nada prática sob o ponto de vista econômico-jurídico, se tal postura for benéfica. Isto
é se teme por ser exposto, seja porque a lei lhe dá privilégios para tanto.
Além do mais, se for levado em conta a ideia básica que se ampara um dispo-
sitivo de investigação que se baseia na colaboração do investigado, tal questão (a
falta de atratividade à confissão) se mostra, ainda mais, inquietante. Dado que, sem
ela – a confissão –, um programa de leniência não surtirá efeito algum. Soma-se a
isso, ainda, a questão da insegurança jurídica trazida pelo programa de leniência
previsto na lei anticorrupção, a qual foi mostrada de forma própria no terceiro capítu-
lo desta pesquisa.
Ora, se já não bastasse a ideia de que não se terá a imunidade total pela con-
fissão, a possibilidade de, ainda sim, ser condenado por outra entidade que, surpre-
endentemente, é apenas outro braço da mesma Administração Pública Federal com
que se firmou a leniência, faz cair por terra, ao menos sob o ponto de vista teórico,
qualquer possibilidade de a opção por delatar ser uma boa escolha (tão pouco a me-
lhor) a ser tomada pelo agente do ilícito. Portanto, à guisa de conclusão, resta claro
que o programa de leniência da lei anticorrupção merece alteração em seus termos,
seja nos seus requisitos de sua conformação, os quais não incitam de forma efetiva
à confissão dos agentes envolvidos em práticas de corrupção, principalmente por-
que não confere a benesse da isenção integral das sanções, seja em uma confor-
mação mais coordenada em todas as entidades de controle da Administração Públi-
ca, sobretudo, no âmbito Federal. A boa notícia é que, até que isso ocorra, quer pa-
recer que as entidades de controle, aos menos o Tribunal de Contas da União, pare-
cem estar, de alguma forma, se esforçando para conseguirem a coordenação que já
deveria estar prevista em lei.
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REFERÊNCIAS
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OR-
DAO%253A824%2520ANOACORDAO%253A2015/DTRELEVANCIA%2520desc%2
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