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INTENSIVO II

Fernando Gajardoni
Direito Processual Civil
Aula 17

ROTEIRO DE AULA

Mandado de segurança individual II

3. Legitimidade

3.2. Passiva (Lei n. 12.016/09, art. 1º, §§ 1º e 2º)

e) Autoridades públicas por equiparação (4 grupos)

I - Em regra, o mandado de segurança é cabível contra pessoa jurídica de direito público ou contra quem lhe faça às
vezes. Entretanto, eventualmente, o mandado de segurança caberá contra particulares ou pessoas que são regidas pelo
direito privado. Isso ocorrerá quando ela exercer atividade pública.

II - Previsão legal:

Lei n. 12.016/09, art. 1º, § 1º: “Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de
partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as
pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições”.

III – Grupos:
e.1) Representantes ou órgãos de partidos políticos (competência da Justiça Eleitoral)

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I - Os representantes ou órgãos de partidos políticos podem ser demandados pela via do mandado de segurança. Não
obstante o partido político ser uma entidade de natureza privada, ele exerce múnus público, pois sua finalidade é a
conquista do poder. Por essa razão, o seu tratamento é idêntico ao de uma autoridade pública.

II - Exemplo: diretório de partido político que expulsa filiado, em razão de infidelidade partidária. É perfeitamente
possível que o filiado, compreendendo que sua expulsão foi ilegal, impetre mandado de segurança contra o ato
praticado pelo partido político.

III - O mandado de segurança contra representante ou órgão de partido político é julgado pela Justiça Eleitoral, por
envolver matéria político-partidária.

e.2) Administradores ou autoridades de autárquicas ou fundações (desnecessidade)

I – As autarquias e as fundações de direito público são regidas pelo direito público. Portanto, a previsão legal é
desnecessária, inexistindo equiparação.

II – Exemplo: mandado de segurança impetrado contra o superintendente do INSS, em razão de indevida cassação de
um benefício previdenciário.

e.3) Pessoas físicas ou dirigentes de pessoas jurídicas que exerçam atribuições do poder público (atividade delegada –
S. 510 STF x atividade autorizada)

I – Eventualmente, o particular (pessoa física ou pessoa jurídica) pode exercer uma função que, não obstante regida
pelo direito privado, é uma atividade de natureza pública, como ocorre nas atividades delegadas (S. 510 STF1). Exemplo:
cartórios extrajudiciais.

II – Não há dúvidas quanto à viabilidade do mandado de segurança contra atividades delegadas, em razão de serem
atribuições do Poder Público. Entretanto, há outra espécie de atividade, a autorizada. Em regra, não cabe mandado de
segurança contra a atividade autorizada, pois ela não é uma atividade pública, a exemplo das instituições financeiras
(financiamento particular). Entretanto, eventualmente, a atividade autorizada poderá ser uma atribuição do Poder
Público. Exemplos: (a) financiamento do Sistema Financeiro de Habitação, visando a construção de casas populares; (b)
hospital particular que nega procedimento, financiado com verba do Sistema Único de Saúde.

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“Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a
medida judicial”.

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e.4) Dirigentes de empresas públicas, sociedades de economia mista e concessionárias de serviço público nos atos de
gestão pública (S. 333 STJ)

Não obstante as empresas públicas e as sociedades de economia mista comporem a Administração Pública indireta, elas
são regidas pelo direito privado, assim como as concessionárias de serviço público. Entretanto, essas pessoas podem
praticar atos de gestão pública, contra os quais cabíveis o mandado de segurança (S. 333 STJ2, “a contrario sensu”).
Exemplos: (a) licitação e (b) concurso público. Por outro lado, contra os atos de gestão comercial não cabe mandado de
segurança:

Lei n. 12.016/09, art. 1º, § 2º: “Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos
administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público”.

3.3. Intervenção de terceiros

a) Regra geral: não cabimento (STJ – RMS n. 24.394)

I - Nas relações jurídicas processuais existe uma disciplina própria no Código de Processo Civil a respeito da intervenção
de terceiros. Trata-se do fenômeno em que uma pessoa, que não é originariamente parte do processo, solicita o seu
ingresso, podendo tornar-se parte, ou conservando a figura de terceiro. De todo modo, ela começa a participar do
contraditório.

II – Em regra, não cabe intervenção de terceiros no mandado de segurança. Isso porque o mandado de segurança é um
procedimento sumaríssimo e especial e que tem a celeridade como sua pedra de toque, incompatível com a intervenção
de terceiros.

III – Exceções:

b) “Amicus curiae” (CPC, art. 138)

Conforme o artigo 138 do Código de Processo Civil, o “amicus curiae” seria cabível em qualquer espécie de processo, de
primeiro ou de segundo grau, em que o tema objeto da ação fosse de relevância pública ou social, e que permita ou
recomende a participação de terceiros, com a finalidade de ministrar ao juiz elementos que possam permitir um melhor
julgamento.
b) Intervenção anódina (Lei n. 9.469/97, art. 5º)

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“Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou
empresa pública”.

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I - Há autores que sustentam a viabilidade da intervenção anódina no mandado de segurança. A intervenção anódina é a
intervenção “velada” que a Administração direta poderá fazer nos processos da Administração indireta, quando haja
interesse econômico. Previsão legal:

Lei n. 9.469/97, art. 5º: “A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias,
fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais”.

II - Observação (geral): há autores que sustentam que a pessoa jurídica de direito público, ou quem lhe faça as vezes,
poderia ingressar como assistente litisconsorcial da autoridade coatora. O professor não concorda com esse
entendimento. Conforme analisado, o réu no mandado de segurança é a própria pessoa jurídica e autoridade coatora é
simplesmente o presentante.

4. Competência

Ao estudar a competência interna, trabalha-se à luz de quatro critérios:

• Funcional-hierárquico (ações originárias e foros privilegiados).


• Material.
• Valorativo
• Territorial (local).

4.1. Critério funcional-hierárquico (ações originárias e foros privilegiados)

a) Definido a partir da eleição da autoridade coatora (e não do réu)

Exemplo: tanto o mandado de segurança contra Ministro de Estado como o mandando de segurança contra Secretário
da Receita Federal são ações contra a União. Entretanto, como as autoridades coatoras são diferentes, a regra de
competência não é a mesma.

b) Regras da Constituição Federal (arts. 102, I, “d”, 105, I, “b” e 108, I, “c”) (Constituição Estadual: autoridades
estatuais)

I – Regras da Constituição Federal:

• CF, art. 102: “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

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I - processar e julgar, originariamente:
(...)
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de
segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo
Tribunal Federal;
(...)”.
• CF, art. 105: “Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal;
(...)”.
• CF, art. 108: “Compete aos Tribunais Regionais Federais:
I - processar e julgar, originariamente:
(...)
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;
(...)”.

II – Exemplo (Estado de São Paulo):

Constituição do Estado de São Paulo, art. 74: “Compete ao Tribunal de Justiça, além das atribuições previstas nesta
Constituição, processar e julgar originariamente:
(...)
III - os mandados de segurança e os "habeas data" contra atos do Governador, da Mesa e da Presidência da Assembléia,
do próprio Tribunal ou de algum de seus membros, dos Presidentes dos Tribunais de Contas do Estado e do Município
de São Paulo, do Procurador-Geral de Justiça, do Prefeito e do Presidente da Câmara Municipal da Capital;
(...)”.

c) Regras sumulares (S. 41 STJ) (S. 624, 433 e 330 STF)

I – STJ:

S. 41 STJ: “O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente, mandado de
segurança contra ato de outros Tribunais ou dos respectivos órgãos”.
II - STF:

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• N. 624: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de mandado de segurança contra
atos de outros tribunais”.
• N. 433: “É competente o TRT para julgar mandado de segurança contra ato de seu presidente em execução de
sentença trabalhista”.
• N. 330: “O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer de mandado de segurança contra atos
dos tribunais de justiça dos Estados”.

d) Expediente mnemônico: “TOP julga TOP” (2 exceções: S. 376 STJ e controle de competência da TR/CR)

I - Ao pensar sobre o critério hierárquico-funcional é preciso analisar a correspondência entre o status da autoridade e o
status do Tribunal competente. Portanto, deve existir uma correspondência. Exemplos (autoridade coatora: órgão
competente):

• Presidente da República: STF.


• Mesas da Câmara e do Senado Federal: STF.
• Ministro do STF3: STF.
• Ministros de Estado ou Chefes das Forças Armadas: STJ.
• STJ: STJ.
• Governador de Estado: Tribunal de Justiça.
• Mesa da Assembleia Legislativa ou de seu Presidente: Tribunal de Justiça.
• Tribunal de Justiça: Tribunal de Justiça.

II - A regra mnemônica tem duas exceções:

• Juízes do Juizado Especial: turma recursal ou colégio recursal4. Inclusive, para o juiz de primeiro grau (TJ ou TRF).
• Controle de competência das turmas recursais e dos colégios recursais: TJ ou TRF5.

e) Mandado de segurança impetrado por autarquia federal contra ato de juiz estadual fora do exercício da
competência delegada (CF, art. 109, § 3º)

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Há entendimento do STF no sentido de que não cabe mandado de segurança contra decisão de Turma ou do Plenário.
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S. 376 STJ: “Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado especial”.
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STJ – RMS n. 17.524/BA: caso a turma recursal esteja julgando processo que não deveria ser julgado pelo Juizado,
cabível mandado de segurança, que deve ser impetrado no TJ ou no TRF.

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No exercício da competência, caso exista um ente federal que pretenda ingressar, e eventualmente seu ingresso seja
indeferido, o mandado de segurança, interposto contra o ato do juiz estadual, será impetrado no Tribunal Regional
Federal (STJ – CC n. 46.512/RN).

4.2. Critério material

I - O mandado de segurança é impetrado na primeira instância.

II – Todas as Justiças tem competência para julgar mandado de segurança em primeira instância.

a) Definido a partir da categoria funcional (federal ou local) e matéria

• Federal: Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho ou Justiça Federal (critério: a matéria).


• Local: Justiça Estadual.

b) Eleitoral (Lei n. 12.016/09, art. 1º, § 1º) (v.g. contra ato de dirigente de partido político)

c) Trabalhista (CF, art. 114, V) (v.g. processo administrativo disciplina contra empregado público celetista - STJ)

d) Federal (Lei n. 12.016/09, art. 2º) (CF, art. 109, I e VIII)

I - Excluída a Justiça Eleitoral e a Justiça Trabalhista, todas as outras autoridades federais são julgadas em primeira
instância da Justiça Federal.

II - Lei n. 12.016/09, art. 2º: “Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do
ato contra o qual se requer o mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada”.

Portanto, é necessário verificar o status da atividade exercida pelo particular equiparado à autoridade pública.

d.1) Delegações e concessões de serviço público federal (se couber mandado de segurança)

Caso o mandado de segurança seja impetrado contra ato de gestão pública praticado por delegados ou concessionários
de serviço público federal, a competência é da Justiça Federal.

d.2) Ensino público superior (universidades públicas x universidades privadas)

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I - O ensino público superior pode ser explorado tanto pelo Poder Público como pelo particular, mediante autorização
do MEC.

II – É cabível mandado de segurança contra a universidade particular, caso o ato decorra de autorização da União, a
exemplo da expedição de diploma.

d.3) Sociedade de economia mista federal (se couber mandado de segurança) (v.g. licitação/concurso).

I - Se couber mandado de segurança, a competência é da Justiça Federal.

II – Observação (geral): nas três hipóteses, a competência será da Justiça Federal, em razão do artigo 2º da Lei do
mandado de segurança. Entretanto, caso o indivíduo ajuíze qualquer outro espécie de ação, que não seja a de mandado
de segurança, a competência será da Justiça Estadual. Trata-se de uma situação criticável, em razão da violação ao
princípio do juiz natural.

e) Estadual

Todo o mais será da competência da Justiça Estadual (autoridades estaduais e municipais).

4.3. Critério valorativo

I - É o critério do valor da causa.

II - Nacionalmente, aplicado para definir a competência dos Juizados (JEC, JEF e JEFP).

a) Não cabe Juizado Especial Federal e Juizado Especial da Fazenda Pública (Lei n. 10.259/01, art. 3º, § 1º, I e Lei
12.152/09, art. 2º)

Não cabe mandado de segurança no âmbito dos Juizados Especiais de primeiro grau de jurisdição (Lei n. 10.259/01, art.
3º, § 1º, I e Lei 12.152/09, art. 2º).

b) Exceção: S. 376 STJ (mandado de segurança no Colégio Recursal ou TJ/TRF)

• S. 376 STJ: “Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado
especial”.

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• RMS n. 17.524/BA: contra acórdão das turmas recurais, sustentando-se que não havia competência do sistema
do Juizado para determinado processo (TJ ou TRF).

4.4. Critério territorial

É o critério do local.

a) Domicílio funcional (não interessa onde o ato foi praticado)

O critério é o domicílio funcional da autoridade coatora, e não aquele onde o ato foi praticado. Em outras palavras,
verifica-se o local onde a autoridade coatora exerce suas funções (escritório).

b) Competência absoluta (regra talhada no interesse público)

Trata-se de uma regra de competência absoluta, talhada no interesse público de facilitar a defesa da autoridade
coatora.

5. Procedimento (especial, sumário e civil)

I - O procedimento do mandado de segurança é especial, sumário e de natureza civil.

II - Segundo Hely Lopes Meirelles, mesmo quando impetrado contra ato de juiz criminal, o mandado de segurança
mantém sua natureza civil. Como o mandado de segurança é um instrumento para atacar ato de autoridade, sempre se
revestirá de natureza civil. Tanto que subsidiariamente, mesmo no mandado de segurança do crime, aplicam-se as
regras do CPC, e não do CPP.

III – O procedimento é sumário porque o mandado de segurança trabalha com o modelo da sumarização procedimental
(plenário rápido). Trata-se de instrumento que, com a supressão de atos processuais e a concentração de outros,
encurta o tempo entre a inicial e a decisão final (sumarização do rito). Exemplos (inexiste): audiência de conciliação,
réplica e produção de provas.

5.1. Petição inicial (2 vias com documentos)

Tratando-se de autos físicos, a impetração do mandado de segurança é feita por duas vias, pois uma delas é direcionada
à autoridade coatora, com o intuito de obter informações. Caso os autos sejam eletrônicos, é prescindível a
apresentação das duas vias.

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a) Prova pré-constituída (Lei n. 12.016/09, art. 6º, salvo §§ 1º e 2º)

É indispensável a apresentação da prova pré-constituída, tratando-se de documento indispensável para a impetração.


Em outras palavras, o fato afirmado deverá ser demonstrado de plano. Entretanto, há uma exceção:

Lei n. 12.016/09, art. 6º: “(...).


§ 1º: No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em repartição ou estabelecimento público ou
em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por
ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o
prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição.
§ 2º: Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a própria coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento
da notificação.
(...)”.

b) Indicação de autoridade coatora e pessoa jurídica (não é litisconsórcio)

I – Os artigos 319 e 320 do Código de Processo Civil aplicam-se ao mandado de segurança. Entretanto, a petição
inicial também deverá indicar tanto a autoridade coatora como a pessoa jurídica a que ela pertence. Fundamentos da
indicação: (a) verificação da competência (autoridade coatora); (b) o representante judicial da pessoa jurídica será
intimado para acompanhar o processo (pessoa jurídica).

II – Não é hipótese de litisconsórcio porque a autoridade coatora e a pessoa jurídica são a mesma pessoal. Em outras
palavras, a autoridade coatora presenta a pessoa jurídica.

c) Valor da causa

I - Em relação ao valor da causa aplica-se o Código de Processo Civil, inexistindo particularidade na Lei 12.016/09 que
justifique ou afaste a aplicação dos artigos 291 e seguintes do CPC.

II – Valor da causa é o conteúdo econômico da demanda, que é a referência para as custas do mandado de segurança.

Observação: a grande maioria dos mandados de segurança não têm valor econômico, em razão do ato atacado,
geralmente, não trazer benefícios econômicos ao impetrante. Nesse caso, fixa-se valores aleatórios, para efeitos fiscais
(CPC, art. 291 e seguintes).

5.2. Admissibilidade

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a) Indeferimento da inicial (hipóteses) (recursos)

Três hipóteses:

• Vícios processuais (Lei n. 12.016/09, art. 6º, § 5º - CPC, art. 330).


• Falta de prova pré-constituída (Lei n. 12.016/09, art. 10).
• Decadência (Lei n. 12.016/09, art. 23): transcorrido o prazo de 120 dias, impede-se o conhecimento da questão
pela via do mandado de segurança (“decadência da via”). Entretanto, não há impedimento à rediscussão em
outra ação.

Considerações:

• Como o juiz não aprecia o mérito, não há impedimento para que o impetrante discuta a questão em outro
mandado de segurança ou em outra via (Lei n. 12.016/09, art. 19 e S. 304 STJ).
• Caso o indeferimento da inicial do mandado de segurança ocorra em primeiro grau, o recurso cabível será a
apelação. Caso indeferida pelo relator, em mandado de segurança originário, o recurso cabível será o agravo
interno (Lei n. 12.016/09, art. 10, § 1º) – prazo: 15 dias (CPC, art. 1.070).

b) Emenda (CPC, art. 321)

CPC, art. 321: “O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta
defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15
(quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.
Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial”.

c) Admissão (decisão inaugural)

5.3. Decisão inaugural de admissão

a) Liminar (Lei n. 12.016/09, art. 7º, III) (natureza) (caução) (efeitos) (recurso) (limites)

I – Previsão legal:

Lei n. 12.016/09, art. 7º: “Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


(...)

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III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder
resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.
(...)”.

II – A rigor, seria um pronunciamento com natureza de tutela provisória de urgência, em razão das expressões
“fundamento relevante” e “ineficácia da medida”. Tanto para a cautelar como para a tutela antecipada exigem-se os
mesmo requisitos. Entretanto, não há dúvidas na doutrina de que também seria cabível a liminar no mandado de
segurança nas hipóteses de tutela provisória da evidência (CPC, art. 311).

III – É plenamente possível ao juiz que, para a concessão de liminar, condicione ao impetrante a prestação de caução.
Entretanto, esse condicionamento não é obrigatório, não sendo, portanto, inconstitucional. Assim, é a partir do caso
concreto que se verifica a necessidade de proteger a pessoa jurídica demandada, em caso de eventual improcedência e
cassação da liminar.

IV – Efeitos da liminar (Lei n. 12.016/09, art. 7º, § 3º).

Lei n. 12.016/09, art. 7º, § 3º: “Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da
sentença”.

Portanto, a sentença sempre substitui a liminar concedida.

V – Recurso.

• Mandado em primeiro grau: agravo de instrumento (CPC, art. 1.015, I).


• Mandado de segurança originário: agravo interno (Lei 12.016/09, art. 16, parágrafo único).

VI – Limites à concessão da liminar em mandado de segurança (Lei n. 12.016/09, art. 7º, §§ 2º e 5º) (Lei n. 8.437/92) (Lei
n. 9.494/97):

Lei n. 12.016/09, art. 7º, § 2º: “Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos
tributários [S. 212 STJ], a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior [desembaraço aduaneiro], a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou
pagamento de qualquer natureza”.

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O Supremo Tribunal Federal entende que as vedações à concessão da liminar contra o Poder Público, especialmente no
mandado de segurança, são constitucionais, em princípio (ADC n. 4). Todavia, casuisticamente, o juiz poderia afastar a
vedação, concedendo a liminar.

b) Notificação da autoridade coatora para informações (Lei n. 12.016/09, art. 7º, I)

I – Previsão legal:

Lei n. 12.016/09, art. 7º: “Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos
documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações;
(...)”.

II – De acordo com a doutrina, a natureza jurídica desta notificação é a mesma da citação, tratando-se do ato inaugural
do processo em que a autoridade coatora é chamada a se defender - o uso da expressão “notificação” pela Lei do
mandado de segurança se dá por razões históricas, e não técnicas.

c) Cientificação da representação judicial da pessoa jurídica (Lei n. 12.016/09, art. 7º, II)

I – Previsão legal:

Lei n. 12.016/09, art. 7º: “Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


(...)
II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da
inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito;
(...)”.

II – O réu é a pessoa jurídica, presentado pela autoridade coatora. A Lei determina que o juiz não apenas cite a pessoa
jurídica pelo presentante, mas para prevenir, também ordena cientificar a existência do mandado de segurança na
representação judicial da pessoa jurídica (procuradorias e advocacias).

5.4. Informações (prazo) (natureza jurídica) (revelia) (sem reconvenção)

I – É o momento em que a autoridade coatora, que foi notificada, explicará ao juiz, responsável pelo julgamento do
mandado de segurança, as razões no sentido de que não há ilegalidade ou abuso de poder no seu ato. As informações
são subscritas pela autoridade coatora, mas não há vício algum caso elas sejam assinadas pelo advogado ou por ambos.

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II – O prazo é de 10 dias. Para as informações, inaplicável a dobra (CPC, art. 183, “caput”). Entretanto, para todos os
outros prazos, aplicável a dobra.

III – É amplamente majoritário o entendimento que as informações da autoridade coatora têm natureza jurídica de
contestação, pois compõe a resposta da pessoa jurídica demandada quanto ao pleito do autor. Entretanto, há posição
minoritária no sentido de que as informações teriam natureza jurídica de prova.

IV – Prevalece o entendimento, inclusive no âmbito do Supremo Tribunal Federal, de que não há revelia no mandado de
segurança (STF – MS n. 20.882/DF). Os atos da Administração Pública ou quem lhe faça as vezes são atos
administrativos, que ordinariamente gozam da presunção de legitimidade. Portanto, compete ao impetrante comprovar
a ilegalidade do ato. Consequentemente, as presunções são incompatíveis.

V – Não há reconvenção.

5.5. Atuação do Ministério Público (Lei n. 12.016/09, art. 12) (dispensa – CNMP?)

I – Previsão legal:

Lei n. 12.016/09, art. 12: “Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art. 7º desta Lei, o juiz ouvirá o
representante do Ministério Público, que opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público, os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual
deverá ser necessariamente proferida em 30 (trinta) dias”.

II – Segundo o professor, a atuação do Ministério Público seria obrigatória em todo mandado de segurança. Como o
ataque é dirigido ao bom funcionamento da Administração Pública, ou de quem lhe faça as vezes, por menor que seja a
questão envolvida, o Ministério Público deveria se pronunciar, já que compete à instituição fiscalizar o funcionamento
da ordem jurídica. Em outras palavras, indiscutivelmente há interesse social no julgamento do mandado de segurança,
pois se constatada a ilegalidade ou o abuso de poder, o Ministério Público deve proceder à apuração no âmbito
administrativo ou criminal.

III – A Resolução n. 34/2016 – CNMP concede ao Ministério Público a possibilidade de eleger as hipóteses em que há, ou
não, interesse público que justifique sua atuação. Portanto, na prática, a regra da Lei do mandado de segurança acaba
sendo excepcionada.

5.6. Sentença (Lei n. 12.016/09, art. 13) (natureza) (comunicação) (honorários) (liminar)

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I – Majoritariamente, a sentença que acolhe o mandado de segurança tem natureza mandamental. Portanto, além de
reconhecer a existência de uma obrigação, a sentença determina que a autoridade coatora para cumpra o determinado
pelo juiz.

Observação: segundo o professor, a natureza das sentenças no Brasil adota o conceito ternário (declaratória,
constitutiva e condenatória). Portanto, a sentença que acolhe o mandado de segurança seria condenatória. A diferença
entre elas seria a forma de cumprimento: condenatória (execução)/mandamental (intimação, sob pena de
desobediência).

II – Em caso de procedência, o juiz determinará a comunicação da ordem à autoridade coatora, que deve cumprir a
decisão prolatada, inclusive sob pena de desobediência.

III – Honorários:

• Lei n. 12.016/09, art. 25: “Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição de embargos
infringentes e a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções
no caso de litigância de má-fé”.
• S. 512 STF: “Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança”.
• S. 105 STJ: “Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios”.

Observação: há o recolhimento de custas.

IV – As liminares são automaticamente prejudicadas no momento da prolação da sentença, procedente ou


improcedente (Lei n. 12.016/09, art. 7º, § 3º e S. 405 STF).

5.7. Reexame necessário

I – Previsão legal:

Lei n. 12.016/09, art. 14, § 1º: “Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de
jurisdição”.

II – Não se aplica ao mandado de segurança o artigo 496 do Código de Processo Civil.

III – Entende-se que, em virtude da presunção de legalidade e de veracidade dos atos praticados pelo Poder Público ou
afins, que esses atos só podem ser considerados ilegais e abusivos depois de revistos pela segunda instância.

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IV – O fato de ter o reexame necessário não impede a execução provisória da sentença. Entretanto, há uma exceção:

Lei n. 12.016/09, art. 14, § 3º: “A sentença que conceder o mandado de segurança pode ser executada provisoriamente,
salvo nos casos em que for vedada a concessão da medida liminar”.

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