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Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Volume 1 – Capítulo 11

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Numa manhã, talvez um mês após eu dizer a Paul que queria começar a
trabalhar, uma carta endereçada a ele chegou em nossa casa.

Era provavelmente a resposta que eu esperava. Tentei o meu melhor para ficar
preparado para as notícias sem ficar muito impaciente.

Ele me contaria após o treino? Na hora do almoço? Ou na janta?

No momento, decidi me concentrar em nosso treino com espadas.

Entretanto, ele preferiu abordar o assunto assim que terminamos o


treinamento.

— Ei, Rudy.

— Sim, Pai? O que houve?

Tentando manter o rosto calmo, esperei ansiosamente por suas próximas


palavras. Este seria o meu primeiro emprego de todos… mesmo contando as
duas vidas. Eu tinha que me agarrar a isso.

Mas, em vez de me dar as boas notícias que eu esperava, Paul levou as coisas
em uma direção estranha.

— Me diga. O que você faria se eu dissesse que teria que te separar de Sylphie
por algum tempo?

— O quê? Uh, eu rejeitaria, claro…

— Certo, certo. Previsível.

— Do que você está falando?

— Ah, esquece. Não faz o menor sentido discutir isso. Você só ficaria
discutindo comigo, tenho certeza.

No instante em que essas palavras saíram da boca de Paul, sua expressão


mudou dramaticamente. De repente, surgiu sede de sangue em seu olhar. Até
um amador como eu podia sentir o que estava acontecendo.
— O-o qu…?!

Em um movimento ligeiro e intimidador, meu pai deu um salto à frente.

A morte me rondava, fria e silenciosamente.

Agindo por puro instinto, respondi com todo o poder disponível – usando magia
de fogo e vento ao mesmo tempo, buscando criar uma explosão entre nós. Pulei
para trás exatamente quando a onda de vento quente me acertou, deixando o
impacto me levar ainda mais longe.

Por acaso, já havia pensado em um cenário desses mais de uma vez. Em uma
luta contra Paul, eu não teria chances, a menos que criasse alguma distância
entre nós dois desde o começo. A explosão me machucaria tanto quanto ele,
mas desde que eu sofresse um dano que não me prejudicaria tanto, serviria
para comprar um pouco de distância.

Mas só um pouco, claro.

Meu pai continuava totalmente ileso e correndo, com o corpo todo inclinado.

Não aconteceu nada com ele!

Eu não tinha esperado nada diferente, mas ainda era aterrorizante. Precisava
seguir com meu próximo passo, e rápido.

Só fazer uma retirada de emergência não seria o bastante. Aquele cara


correndo adiante sempre seria mais rápido.

Fazendo um julgamento rápido, desencadeei uma onda de choque bem ao meu


lado. O golpe me atingiu com força suficiente para me fazer voar para o lado.

Ao mesmo tempo, ouvi algo cortando o ar próximo ao meu ouvido, isso fez meu
sangue gelar. A espada de Paul havia cortado o espaço onde minha cabeça
tinha estado há uma fração de segundos.

Bem. Isso deu certo, eu acho…

Evitei o primeiro ataque. Isso já era ótimo. Ele ainda estava próximo, mas criei
uma pequena distância entre nós. Comecei a ver alguma possibilidade de
vitória.

Quando Paul se virou para mim, pressionando com seu ataque, lancei um
feitiço que transformou o chão à sua frente em uma poça de lama. Seu pé
dianteiro foi direto no meio da armadilha.
Instantaneamente, ele mudou o peso de seu corpo para a outra perna e deu um
jeito de se libertar – quase sem perder o ritmo.

Droga! Preciso prender as duas pernas de uma vez?!

Desta vez, transformei o chão ao meu redor em uma área toda pantanosa.
Antes que eu acabasse afundando, atirei um pequeno jato de água no chão à
minha frente, enviando-me para trás, deslizando pela superfície.

Quando percebi que não estava me movendo rápido o suficiente, já era tarde
demais.

Paul chegou à beira do meu pequeno pântano e deu um enorme salto adiante.
A força de seus passos foram o bastante para deixar uma cratera no chão.

O homem ia me alcançar em um único salto.

— Aaaaaaah!

Balancei minha espada em pânico, tentando interceptá-lo. Foi um ataque feio e


descuidado, nada parecido com aqueles que aprendi.

O aperto da minha espada vacilou desagradavelmente em minhas mãos quando


meu golpe foi gentilmente desviado. Eu poderia dizer que Paul tinha usado
uma das defesas do Estilo Deus da Água… só pelo que senti.

Uma vez que um espadachim usando Deus da Água desvia de um golpe, ele
sempre segue com um contra-ataque. Eu sabia o que estava por vir, mas não
pude fazer nada.

A lâmina de Paul cortou em minha direção por um momento que pareceu durar
a eternidade.

Bem, estou feliz por estamos usando só espadas de madeira…

Com um golpe rápido e forte no meu pescoço, fiquei inconsciente.

Quando acordei, me vi dentro de um tipo de caixa. Dado todo o balançar e


barulho que sentia e ouvia, presumivelmente estava em algum tipo de veículo.

Tentei me sentar, só para descobrir que não poderia me mover. Olhando para
baixo, percebi que estava firmemente preso… com um monte de cordas.
Mas que diabos está acontecendo aqui?

Conseguia virar o pescoço para olhar em volta, e então vi que havia uma
mulher ali comigo. Ela tinha a pele marrom escura, um corpo musculoso
coberto por cicatrizes e roupas de couro bem apertadas, então nem precisava
usar a imaginação. As características contrastadas de seu rosto, combinadas
com o tapa-olho que usava, davam a ela uma verdadeira aura de um cara
durão.

Era praticamente a imagem pura de uma guerreira destemida de


algum show de fantasia… especialmente se levasse em consideração as
enormes orelhas peludas e sua cauda de tigre.

Pelo visto, sentindo meu olhar, a mulher olhou para mim.

— Prazer em conhecê-la — falei. — Meu nome é Rudeus Greyrat. Perdoe meus


modos – não consigo me levantar no momento.

Fazer uma apresentação preventiva parecia uma boa ideia. A regra mais básica
da conversação é tomar a iniciativa e falar primeiro. Depois de tomar a
iniciativa, poderia controlar para onde as coisas fluiriam.

— Para o filho do Paul, até que você é estranhamente bem-educado.

— Também sou filho da minha mãe.

— Ah, certo. Acho que você também tem algumas características de Zenith.

Pelo visto ela conhecia meus pais. Isso foi um alívio.

— Meu nome é Ghislaine. Vamos interagir muito a partir de amanhã, garoto.

A partir de amanhã? Como assim?

— Uhh, bem, certo. Prazer em conhecê-la, Ghislaine.

— Sim. O mesmo aqui.


Nesse momento, fui adiante e queimei as cordas ao redor do meu corpo com
um pouco de magia de fogo.

Estava sentindo uma dor infernal por todo o corpo. Isso não foi de surpreender
já que não tinha dormido em um lugar dos mais confortáveis. Estiquei os
braços e pernas, então deleitei-me com a maravilhosa sensação de estar
liberto. Claro, passei a maior parte da minha vida anterior sentado em um
quartinho minúsculo, movendo só os dedos, mas isso não significava que
queria passar tanto tempo deitado amarrado e completamente impotente aos
pés de uma mulher mais velha com a aparência de uma sádica. Isso deixaria
qualquer um desconfortável depois de algum tempo.

Havia bancos na frente e atrás da pequena “caixa”, então me sentei de frente


para Ghislaine. As janelas à direita e esquerda demonstravam uma breve visão
da paisagem lá fora; nada do que via parecia sequer remotamente familiar.

Certo, então isso com certeza era um veículo.

Oscilava com tanto vigor que fiquei um pouco preocupado, pensando ter ficado
doente, e pude ouvir uma espécie de barulho vindo da direção em que
estávamos indo. Parecia razoável supor que se tratava de uma carruagem
puxada por cavalos.

Certo. Então… eu estava em uma carruagem com uma senhora máscula, por
razões totalmente desconhecidas.

Gah! F-fui sequestrado por uma mulher macho devassa?! Ela roubou o garoto
mais fofo de toda a terra para escravizar?

Por favor, tenha piedade! Eu… eu meio que tenho uma queda por mulheres
musculosas, sim… mas já prometi meu coração para Sylphie!

Espera. Espera, espera aí. Pensamentos ruins.

A-a-acalme-se, idiota. Em momentos assim, um homem precisa ficar calmo.


Devo contar números primos até relaxar. Lembrar do que aquele padre disse:
“Os números primos são números solitários, divisíveis apenas por um e por
eles mesmos… eles me darão forças!”

Três. Cinco. Uhm… onze. Treze…? Uh, er… não lembro nenhum outro, droga!

Certo, que se danem os números primos. Cara, fica calmo. Pense nisso com
calma. Você precisa descobrir o que está acontecendo aqui. Respire fundo.
Respire fundo.
Hooo… haaaa…

Bom garoto.

Agora, vamos juntar tudo da melhor maneira possível.

Antes de qualquer coisa, Paul me atacou sem nenhum motivo aparente e me


deixou desacordado. E quando acordei, me deparei dentro de uma carruagem,
com as mãos e pés atados. Presumivelmente, ele me nocauteou por algum
motivo específico e depois me colocou aqui.

A única outra pessoa na carruagem era uma mulher máscula que disse que
“vamos interagir” a partir de amanhã.

Parando para pensar nisso… Paul também falou algo estranho antes de me
atacar.

Algo tipo: “Pare de ver Sylphie.”

Ou foi algo como: “Sylphie é boa demais para você.”

Era difícil lembrar direito do que dizia a respeito de Sylphie. Fiquei


completamente desconcertado por algum tempo.

Merda. Isso é tudo culpa do Paul…

Ah, bem, acho que vou ter que fazer algumas perguntas.

— Uhm, Senhorita?

— Pode me chamar de Ghislaine.

— Ah, tudo bem. Nesse caso, você pode me chamar de Ruru.

— Certo, Ruru.

Certo. Então, a mulher claramente não sabia identificar uma piada.

— Senhorita Ghislaine, meu pai falou o que está acontecendo?

— Apenas Ghislaine, criança. Não precisa do senhorita.

Enquanto falava, Ghislaine enfiou a mão na jaqueta para pegar uma carta e a
entregou para mim. A parte da frente estava toda em branco.
— Isso é para você, do Paul. Leia em voz alta, sim? Não sou tão boa com letras.

— Certo.

Abrindo o pedaço do papel dobrado, comecei a ler.

— Ao meu querido filho Rudeus. Se você está lendo esta carta, significa que
não estou mais neste mundo.

— O quê, o quê…?! — gritou Ghislaine, logo ficando de pé.

Ainda bem que esta carruagem tem um teto alto.

— Por favor, sente-se, Ghislaine. Ainda tem mais.

— Hm. Certo… — Assim sendo, ela voltou a se sentar.

— Foi mal, brincadeirinha! Eu sempre quis fazer isso com alguém.

“Então, de qualquer forma. Eu te nocauteei, amarrei e joguei em uma


carruagem, como se fosse uma princesa sequestrada. Imagino que deve estar
se perguntando o que aconteceu, hein? Na verdade, essa bola de músculos aí
serviria para explicar tudo… mas, infelizmente, o cérebro dela já virou um
amontoado de bíceps há muito tempo, então não acho que ela vá conseguir.”

— O que foi isso?! — gritou Ghislaine, ficando mais uma vez de pé.

— Por favor, sente-se, Ghislaine. A próxima parte está te elogiando.

— Hm. Certo.

E ela voltou a se sentar.

Certo, então, em frente.

— Essa mulher é uma Rei da Espada. Quando se trata de uma lâmina, você não
encontrará nenhum professor melhor fora do Santuário da Espada. Confie no
seu velho desta vez: ela é realmente muito boa. Nunca consegui ficar na
vantagem diante dela… fora na cama.

Pai. Por favor. Você não poderia ter deixado essa última parte de fora?

Ghislaine não parecia exatamente descontente. O velho certamente era


popular entre as mulheres.
Enfim… eu evidentemente estava viajando com uma lutadora incrível.

— Agora, vamos seguir para o seu trabalho. Você vai ensinar uma jovem em
Roa, a maior cidade da Região de Fittoa. Ensine-a a ler, escrever, matemática e
um pouco de magia básica, certo? A garota é uma criança mimada e violenta
que foi convidada a abandonar a escola e já conseguiu se livrar de vários
outros tutores. Mas tenho fé em você, criança! Tenho certeza que dará um
jeito.

Uau, que prestativo, Paul.

— Uh… v-você não parece exatamente mimada, Ghislaine.

— Não sou a jovem em questão.

— Ah, certo. É claro.

Tudo bem, vamos seguir em frente.

— Esse amontoado de músculos com você trabalha como guarda-costas para a


família da jovem, além de ser espadachim instrutora. Em troca de ajudar no
seu treinamento com espadas, ela quer que você a ensine a ler, escrever e
também aritmética. Eu sei, esse é um pedido ridículo vindo de uma mulher que
se resume a músculos, mas tente não rir muito alto. Ela provavelmente está
falando sério.

— Aquele filho de uma…

Eu estava vendo coisas ou realmente havia uma veia latejando na testa de


Ghislaine? O principal objetivo da carta era me explicar a situação, mas o
objetivo secundário de Paul com certeza era irritá-la. Fiquei até curioso quanto
à natureza do relacionamento deles.

— Ela não vai aprender rápido, disso tenho certeza, mas o negócio não parece
tão ruim. Você pelo menos não vai ter que pagar pelas suas lições.

Minhas lições, hein? Certo. Acho que ela será a minha nova instrutora a partir
de agora…

A técnica com espadas de Paul se baseava principalmente em instintos. Talvez


ele sentisse que eu precisaria de um professor melhor neste momento. Ou
talvez estivesse cansado de não me ver obtendo resultados melhores.

Acho que você podia ter tentado um pouco mais…


— Normalmente, quanto suas lições custariam, Ghislaine?

— Duas moedas de ouro Asurano por mês.

Espera, o quê?!

Eu tinha certeza de que Roxy recebia cinco moedas de pratas por mês quando
estava me ensinando. Esta mulher cobrava cerca de quatro vezes mais.

Este era um negócio realmente bom, então. Uma pessoa normal em Asura
poderia sobreviver com cerca de duas moedas de prata por mês.

— Nos próximos cinco anos, você ficará na casa da jovem para ensiná-la. Cinco
anos inteiros, entendeu? Você não pode voltar para casa antes disso. E nada de
cartas também. Caso você continue andando pela vila, Sylphie nunca vai
aprender a se virar sozinha. E você estava ficando cada vez mais dependente
dela também. Por isso dei um jeito de separar vocês dois.

Espera… o quê?

E-espera aí. O quê?

Isso é sério? Só vou poder ver a Sylphie daqui cinco anos? Não posso nem
mandar cartas?!

—- Qual foi o problema, Ruru? Terminou com a sua namorada? — perguntou


Ghislaine, aparentemente se divertindo com o olhar de desespero estampado
no meu rosto.

— Não. Meu pai idiota nos separou à força.

Eu nem tive a chance de me despedir. Droga, Paul. Você vai pagar por isso…

— Aguenta firme, Ruru. Vai ficar tudo bem.

— Uhm…

— O quê?

— Acho que prefiro que você me chame de Rudeus, na verdade.

— Hmm. Tudo bem.

Quando eu realmente pensei melhor, porém, vi que Paul estava certo. No ritmo
que as coisas estavam acontecendo, Sylphie poderia acabar virando uma típica
“amiga de infância” de uma visual novel porcaria padrão. Sabe… o tipo que
vive grudada no protagonista, girando em torno dele como se fosse um tipo de
satélite, e nunca desenvolvendo uma personalidade própria.

No mundo real, uma garota assim deveria fazer seus próprios amigos e
aprender coisas novas na escola. Mas, graças ao seu cabelo, Sylphie sempre
passava por momentos difíceis. Havia uma chance real de que acabasse
ficando colada em mim por anos e mais anos.

Isso até que fazia sentido. Paul acabou acertando, mesmo que talvez tenha sido
sem querer.

— Quanto à sua compensação, você receberá duas moedas de prata Asurano


por mês. Isso está abaixo da taxa de um tutor, mas é mais do que o bastante
para o salário de uma criança.

“E quando tiver um pouco de tempo livre, tente ir até a cidade para ter uma
ideia de como gastar o dinheiro. Um pouco de prática é a melhor forma de
garantir que você poderá usar ele efetivamente quando realmente precisar.
Por outro lado, isso talvez nem seja um problema para uma criança tão
talentosa quanto você.

“Além disso, depois que completar cinco anos de trabalho consistente, após
fornecer à jovem uma educação sólida em todos os aspectos, seu contrato lhe
dará uma recompensa especial: a cobertura do custo de mensalidade para
duas pessoas na Universidade de Magia.”

Hmm. Entendo.

Em outras palavras, depois que eu me dedicasse como um tutor, Paul me


deixaria fazer o que quisesse… exatamente como havia prometido.

— É claro que não há qualquer garantia de que Sylphie ainda desejará te


acompanhar daqui cinco anos, e você pode até acabar perdendo o interesse
por ela. Mas, em qualquer caso, não deixarei de explicar sua situação
perfeitamente para ela.

Uh… não sei se posso confiar em você, papai querido.

— Espero que os anos que você passará nesse novo ambiente lhe ensinem
muitas coisas, permitindo que desenvolva ainda mais os seus talentos.

“Atenciosamente, seu nobre, sábio e brilhante pai, Paul.”

Brilhante é o meu rabo! Esse plano todo é só para me tornar submisso!


Ainda assim, eu tinha que admitir que sua linha de pensamentos foi bastante
consistente. Isso seria o melhor para mim e para Sylphie. Ela poderia voltar a
ficar sozinha, mas… a menos que aprendesse a enfrentar seus próprios
problemas, nunca iria amadurecer como pessoa.

— Paul realmente te ama, não acha? — disse Ghislaine.

Eu não pude deixar de sorrir um pouco para isso.

— Ele costumava sempre ficar um pouco distante, mas realmente começou a


gostar desse lance de paternidade. Enfim, parece que ele também gosta muito
de você, Ghislaine…

— Hum? Por que diz isso?

Comecei a ler a última linha da carta em voz alta:

— P.S. Sinta-se à vontade para dar em cima da jovem, desde que seja
consensual, mas essa bola de músculos já é minha, então tira o olho.

— Hmm — disse Ghislaine. — Enviaremos essa carta para Zenith, sim?

— Soa como um bom plano.

Assim, me vi viajando para a Cidadela de Roa, a maior colônia da Região de


Fittoa.

Eu tinha alguns sentimentos contraditórios, claro, mas realmente parecia ser o


melhor. Não poderia simplesmente ficar com Sylphie, então isso era algo que
precisava acontecer. Claro, eu não ficaria amargurado. Não mesmo.

Bem… talvez conseguisse me convencer disso em algum momento. Mas ainda


não era esse momento.

Ponto de vista do Paul

— C-caramba, essa foi raspando…

Meu filho estava inconsciente no chão, bem diante dos meus calçados imundos
e cheios de lama.

Como esse seria meu último dia ensinando-o, decidi gravar o medo de Deus
nele antes de nocauteá-lo, mas o garoto resolveu disparar um monte de feitiços
no instante em que fiz meu movimento.

E não foram os ataques de alguém em desespero. Ele estava tentando


principalmente me desacelerar. E toda vez que lançava algo, era um feitiço
diferente.

— Esse é o meu garoto, muito bom. Ele tem um talento nato para a batalha…

Claro, a luta durou apenas alguns segundos. Mas foi um ataque surpresa, e eu
ainda precisei de três avanços para derrubá-lo. Aquele último foi
especialmente arriscado. Se hesitasse um pouco, ele teria prendido minhas
duas pernas e me derrubado.

Três avanços são muito quando se está lutando com um mago. Se ele tivesse
um grupo, um de seus aliados apareceria para protegê-lo assim que eu
iniciasse meu segundo avanço. E se houvesse um pouco mais de distância
entre nós dois, pode ser que eu precisaria de um avanço a mais.

Para todos os efeitos, o garoto conseguiu extrair o melhor de mim.


Provavelmente já podia jogá-lo em um grupo de aventureiros agora mesmo. Ele
seria mais do que o suficiente para cuidar de si mesmo em um labirinto.

— Acho que não deveria esperar menos de um prodígio que deixou uma maga
da Água de nível Santo com complexo de inferioridade…

O garoto era completamente aterrorizante. Mas, por alguma razão, isso me


deixou feliz. Até então, tive inveja de todos que eram mais talentosos do que
eu…, mas sendo meu filho, tudo que sentia era orgulho.

— Certo, não é hora de ficar falando comigo mesmo. É bom eu fazer isso antes
que Laws apareça…

Rapidamente comecei a amarrar o meu filho. Quando terminei a carruagem já


tinha chegado, então o peguei e me preparei para jogá-lo nela.

Claro, Laws escolheu esse momento para aparecer com Sylphie.

— Rudy?!

Ao ver seu companheiro de brincadeiras com as mãos e pés amarrados, a


garota imediatamente disparou um feitiço ofensivo de nível Intermediário em
mim, sem sequer fazer um encantamento. Desviei com bastante facilidade,
mas, além do feitiço silencioso, o poder e velocidade do ataque foram
impressionantes. Ela poderia muito bem ter me matado, caso eu fosse uma
pessoa normal.
Droga, Rudeus. Não saia ensinando essas merdas por aí…

Depois de entregar minha carta para Ghislaine, joguei Rudeus na carruagem


sem nem pensar duas vezes, e avisei ao cocheiro que já estava tudo pronto
para a partida.

Olhando para o lado, vi Laws agachado ao lado de Sylphie, falando firmemente


com ela, mas bem baixinho.

Sim, é isso aí. O trabalho dos pais é ensinar aos filhos o que é o quê.

Laws permitiu que Rudeus assumisse muitos de seus deveres, mas agora teria
a chance de recuperar seu papel. Soltando um suspiro, assisti a pequena
reunião familiar de longe; depois de um tempo, o vento levou a voz de Sylphie
até mim.

— Não… eu vou ficar forte o suficiente para ajudar o Rudy!

Hmm. Essa menina realmente te adora, meu filho.

Nesse ponto, minhas duas mulheres saíram de casa. Eu disse para elas ficarem
lá dentro, caso quisessem assistir, principalmente para sua própria segurança.
Mas suponho que queriam ver ao menos a partida do garoto.

— Ah, meu doce Rudy está me deixando!

— Seja brava, Madame. Esta é uma prova que devemos suportar!

— Eu sei, Lilia. Eu sei! Ah, Rudeus, Rudeus! Meu filhinho está indo embora!
Ele deixou sua pobre mãe sozinha. Ai de mim!

— Você não está sozinha, Madame. Ele não é sua única criança!

— Você está certa, claro. Ele agora tem duas irmãzinhas.

— Duas?! Ah, Madame!

— Claro, Lilia. Vou amar sua criança tanto quanto a minha! Tanto quanto eu te
amo!

— Ah, Madame! Eu sinto o mesmo!

Por alguma razão, Zenith e Lilia fizeram uma cena estranhamente teatral
quando a carruagem partiu pela estrada. Suponho que não estavam
exatamente preocupadas com Rudeus. Afinal, o garoto tinha uma cabeça boa.
De qualquer forma… essas duas estão se dando bem. Gostaria que fossem
amigáveis assim com o Papai aqui também. Ou que pelo menos parassem de se
juntar contra mim.

— Ainda assim… acho que Rudeus não estará por perto para ver as pequeninas
crescerem, hein?

Eu sabia que ele estava planejando se tornar o “melhor irmão mais velho de
todos os tempos”, mas as coisas não seriam bem assim.

Ruim para você, garoto. O Papai aqui vai receber todo o amor de suas filhas!
Eheheheheh.

Hm. Espera aí.

Rudeus estava prestes a começar um treinamento especial acelerado com uma


Rei da Espada. Dentro de cinco anos, chegaria aos doze. Muito maior e mais
forte do que já estava. Se tivéssemos algum arranca rabo quando ele voltasse,
eu teria alguma chance?

Ah, cara. Minha dignidade paterna está em jogo.

— Zenith, querida? Lilia? Agora que o Rudeus nos deixou, acho que vou
precisar começar a treinar um pouco mais.

Zenith olhou para mim com uma expressão de desinteresse. Lilia se inclinou
para sussurrar ao ouvido dela:

— Realmente demorou para que ele percebesse que o jovem mestre pode
superá-lo muito em breve, não?

— Honestamente, ele sempre foi assim. Nunca se esforçou enquanto não


acabasse envergonhado por alguém.

Pelo visto, eu já estava arruinado no referente a dignidade paterna.

Ah, bem… De qualquer forma, dignidade serve para quê? Meu velho era um
pedaço ambulante de orgulho e nobreza, e eu nunca fui muito chegado nele.
Queria ser um pai querido e amável, não digno.

Bem, havia tempo de sobra para pensar nisso depois. Pensamentos passaram
pela minha mente enquanto a carruagem de Rudeus partia pela estrada.

Rudeus…
Acredite, eu também não queria que as coisas acabassem assim. Acho que você
não concordaria com o meu plano, e não tenho certeza de que poderia te
convencer em uma discussão.

Ainda assim… Como seu pai, eu não podia fazer nada. Estou basicamente
empurrando você para outras pessoas, mas acho que é assim que deve ser.

Sei que não te dei nenhuma escolha, mas tenho certeza de que um garoto
inteligente como você entenderá. As experiências que vai ter por aí não seriam
possíveis aqui no vilarejo. Mesmo que não entenda minhas motivações, lidar
com os desafios à sua frente te deixará mais forte no final das contas.

Então tenha tanto ressentimento quanto quiser. Se ressinta de mim e se


ressinta por deixar eu fazer isso.

Cresci na palma da mão do meu velho, sabia? Mas acabei fugindo, e não o
enfrentando.

Até hoje meio que me arrependo disso. E gostaria de ter feito algumas coisas
de forma diferente.

Não quero que você sinta algo assim, é claro. Mas sabe… fugir assim me
deixou mais forte. Não tenho certeza sobre ser mais forte do que meu pai, mas
encontrei mulheres para amar, protegi as coisas com que me importo e fiquei
forte o bastante para apertar os parafusos soltos de minhas crianças.

Você quer revidar? Por mim tudo bem. Pode fazer isso.

Volte mais forte, criança.

Forte o bastante para enfrentar seu pai tirano.

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