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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL

CURSO: LICENCIATURA EM LETRAS INGLÊS (NOTURNO)


DISCIPLINA: TEORIA DA LITERATURA – 2022.1
PROF. MARCUS VINICIUS MATIAS

O ESCUDO DE AQUILES

UTOPIA E DISTOPIA EM UM JOGO DE DADOS


CLARA BEATRIZ ALVES DOS SANTOS (22111145)
2022

“O Escudo de Aquiles” é um projeto idealizado por estudantes do 1º


período do curso de Letras Inglês e pelo professor Marcus Vinicius Matias, da
disciplina de Teoria da Literatura, como um método avaliativo. O objetivo desse
projeto é realizar uma escrita criativa com elementos e teorias literárias
estudadas em classe por meio de um jogo de RPG (Role-Playing Game, jogo
de interpretação) que permite que os participantes sejam ativos na criação do
cenário, tempo, espaço , personagens e sistema.
Através de um formulário, foi decidido que o jogo se passaria universo
cyberpunk – uma combinação entre mundo cibernético e punk alternativo com
alta tecnologia e baixa qualidade de vida – e que os personagens seriam
baseados nos arquétipos dos deuses e heróis gregos. Essa parte deixou muita
abertura criativa para a construção dos personagens, pois os jogadores tinham
a possibilidade de juntar duas ou mais características de dessas figuras
gregas.
Nesse projeto a história se passa numa cidade chamada Night City e
nela existe o Tártaro - localização dos pobres, marginalizados onde há muitas
drogas, violência e prostituição e pouca ação de justiça – e há também o
Olimpo – lugar onde os executivos, detentores do poder e regência da cidade
vivem com seus esquemas secretos e sujos. Entre esses dois lugares e seus
habitantes há conflitos: os poderosos sempre querendo explorar mais dos
menos favorecidos e a outra parte lutando por justiça e sobrevivência. Se
apegando ao tema cyberpunk, a sociedade é regida por uma Inteligência
Artificial que tem o pode de ascender pessoas talentosas do Tártaro ao Olimpo.
A sociedade de “O Escudo de Aquiles”, se comparada a sociedade do
mundo extradiegético, vê-se o mesmo problema: a diferença entre classes
sociais. Neste ponto, então, pode-se ter como referência teórica a mimésis de
Aristóteles, que se define como uma representação da realidade extradiegética.

“Ao que parece, duas causas, e ambas naturais, geraram a poesia. O imitar é
congênito no homem (e nisso difere dos outros viventes, pois,de todos, é ele o
mais imitador e, por imitação, apreende as primeiras noções), e os homens se
comprazem no imitado [...] Causa é que aprender não só muito apraz aos
filósofos, mas também, igualmente,aos demais homens, [...] tal é o motivo por
que se deleitam perante as imagens: olhando-as, aprendem e discorrem sobre
o que seja cada uma delas.”

Segundo Aristóteles, essa representação ou imitação, é uma forma


de conhecimento, exprimindo, portanto, a verdade. E isso fica nítido nos
conflitos sociais entre Tártaro e Olimpo, sempre gerando essa crítica da
desigualdade social.
Outra característica do jogo é que o Mestre não é responsável
pelas ações dos personagens, ou seja, os personagens decidem a
própria narrativa e podem mudar o curso dos planos do Mestre. Na
primeira sessão de jogatina com os alunos do curso, uma das
personagens pegou o Mestre do jogo de surpresa, modificando seu
plano inicial, fazendo-o a tomar decisões improvidas.
Roland Barthes, escritor francês, defendia a teoria de que o leitor,
ao ler uma obra, elimina a autoria que o autor tem sobre ela, é quando
ocorre “a morte do autor.” No caso do RPG, o autor acaba sendo todos
os personagens juntamente com o Mestre e todos “morrem”,
simultaneamente, pois a narrativa depende de cada jogador e um vai
eliminando a autoria do outro assim que entra em cena.
REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES, Poética, IV1448b4-20. Todas as citações da Poética, de


Aristóteles, citadas no textooriginal na tradução italiana de M.Valgimigli, Bari,
Laterza, 1964, foram substutídas pela traduçãoportuguesa de Eudoro de
Sousa, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1992

THE DEATH of the Author. In: BARTHES, Roland. Image, music, text. London:
Fontana, 1977. p. 142-148.

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