Você está na página 1de 3

Introdução aos Estudos Históricos

Marina Lima
DRE: 122044047

Questão 2 (5 pontos)
Como Henry Rousso explica o que ele chama de “atraso relativo da França” na
preocupação com a “história do tempo presente”?
O autor descreve que, após a Segunda Guerra, houve uma rejeição de produções
historiográficas que retratassem o tempo presente. Segundo Rousso, Hank Wesseling
alegou que a academia seria incapaz de produzir um conteúdo historiográfico despolitizado
sobre o período da “história imediata”, mas o autor discorda, dizendo que em meio aos
avanços da historiografia francesa continua inexplicado o fato de não ter se desenvolvido
nenhum grupo interessado em retratar essa história do tempo presente de maneira “que
não fosse política ou de acontecimentos”.
Henry Rousso retrata então que só posteriormente esse cenário teria uma mudança,
e surge um interesse da comunidade acadêmica de história sobre a questão. O autor
argumenta então que a relação os Annales com a história do tempo presente acaba por se
assemelhar à da escola metódica ― por mais contraditório que pareça ―, no sentido de
que ambas tiveram problemas em “aceitar o caráter incerto e inacabado de toda a história
do tempo presente”, além de que havia ― para os contemporâneos franceses da escola
dos Annales ― uma relação com o conceito de “longa duração” que era predominante na
época.
Essa geração parece de certa forma nutrir uma relação de evasão com o próprio presente,
o que está muito relacionado com o fator de que os próprios estudiosos haviam presenciado
e vivenciado muitos dos eventos traumáticos que estavam ligados a um eventual estudo da
história do tempo presente. O autor acentua também que a importância do conceito de
“longa duração” parece trazer também uma recusa dos eventos que fazem parte da “história
imediata”, afinal, como sequer pensar sobre os efeitos da Segunda Guerra como
reverberantes sendo eles tão terríveis e seu esquecimento tão desejável? Mas não há
somente reações de negação do estudo do tempo presente relacionadas à perspectiva de
evento traumático. Rousso traz também autores que as linhas dessa história não estão bem
definidas o suficiente para distinguir o que de fato se lê história, julgando a tentativa de
análise dessa como algo primitivo e que não traria resultados.
Em suma, essas ideias se entrelaçam para formar o que o Henry Rousso denomina
por “atraso relativo da França”, relacionado desde o problema em tornar esse tempo
contemporâneo em história política, até a dificuldade de entender os limites entre história e
realidade, o que é passado e o que parece recente demais para ser passível de uma
análise. O tratamento do tempo presente na historiografia francesa do período analisado
pelo autor acaba sendo por demais associado à temporalidade.

Questão 3 (2,5 pontos)


Qual diferença François Hartog percebe entre as expressões “crer em história” e
“crer na história”?
Primeiramente, François Hartog nomeia a crença em história quase como em uma
entidade absoluta. Depois, ele relaciona essa crença com a crença de que uma história está
sendo feita, a crença de que existem atores que constroem esse fazer da história, e que
esse “crer em” e “crer que se faz”, estão de certa forma relacionados. O autor então
apresenta pensadores que em tempos diferentes questionaram essa forma de pensar em
história, e tentaram construir uma relação entre uma história que “passou” e uma história
que se constrói, que trazem a reflexão de que a história está por toda a parte sendo feita,
por diversos atores, independentemente de sua “importância” para essa história que se crê
em. A partir desse ponto também, principalmente com a profissionalização das disciplinas,
se torna interessante pensar que fazer história é relacionável com a produção de história
realizada pelos historiadores; ou seja, pensar em “fazer história” torna-se relacionável com a
produção de historiografia.
Por fim, Hartog traz a questão acerca do sentido da história, dizendo que a visão de
uma história em que se crê implica novamente nesse conceito de entidade absoluta, e que
esvaziá-la de sentido a torna ainda mais passível de uma “adoração”, de uma profundidade.
Pensando dessa maneira, o sentido de fazer história se afasta do anterior, estabelecendo
que é preciso reconhecer “que existe uma distância entre o que se acredita fazer e o que se
faz efetivamente”. Em suma, crer em história traz uma série de implicações desde perceber
seus contrastes e rupturas mas também sua continuidade, perceber as formas em que ela
se produz tanto na vida quanto nos papéis.
De forma mais sintetizada, Hartog aborda também o que seria o “crer na história”,
descrevendo que esse tipo de crença se relaciona com um conceito mais raso, onde se
assume que há uma história em andamento. Basicamente que existe uma história passível
de registro e observação, uma história que é possível capturar. Essa crença mais
secundária vê a história como algo pouco mutável, que precisa ser observado nos mínimos
detalhes para que se capturem as nuances. Dessa visão da história há também o
complemento da percepção da existência de múltiplas histórias, que são percebidas e
interpretadas pelo historiador.

Questão 4 (2,5 pontos)


Como Caroline Bauer e Fernando Nicolazzi caracterizam a diferença entre falarmos de
“função social do historiador” e “função social da história”?
Caroline Bauer e Fernando Nicolazzi apresentam a ideia de que o saber histórico
não é um “monopólio dos historiadores”, portanto, ao estabelecer uma função social deve
ser feita a diferenciação entre qual a função social do historiador e qual é a da história.
Segundo os autores, cabe o questionamento acerca do costume de pensar a função de um
campo de conhecimento da mesma maneira em que se pensa na função de quem tem
como ofício a prática dentro desse campo de conhecimento. Ou seja, trazem o
questionamento sobre a equiparação entre historiador e história quanto à sua função.
Portanto, caracterizam a função social do historiador como um ofício que carece de
legitimação social, institucional e epistemológica para exercê-lo. Por legitimação eles
evidenciam exemplos como um diploma, profissão regulamentada, entre outros. Em suma,
essa função social depende da validação que cerca esse ofício do historiador, de certa
forma o historiador depende do aval de alguma coisa reconhecida pela sociedade como
autoridade para que essa pessoa ocupe esse papel. Já quanto a história, Bauer e Nicolazzi
estabelecem que antes de ser disciplina, a história é “uma narrativa sobre o tempo e sobre
a experiência humana no tempo”. Ou seja, ela não depende das amarras da metodologia
científica e validação de uma autoridade “para existir enquanto narrativa”.
Dessa maneira, os autores afirmam que para ser feita a categorização é primeiro
necessário reconhecer a historicidade que a própria história carrega, e entender que quem
ocupa o lugar de historiador e qual é a função desse ofício depende do contexto. Sendo
assim, propõe também que talvez seja mais coerente buscar “funções da história”, pensá-la
dentro das inúmeras possibilidades de seu uso ao longo do tempo. Ao finalizar o
pensamento, fazem um questionamento que resume a discussão acerca desses conceitos:
deveríamos na verdade pensar em “de que forma a história é usada?”.

Você também pode gostar