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Introdução
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Violeta Refkalefsky Loureiro
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Amazônia: da dependência a uma nova situação colonial
Uma vez que o rei de Portugal havia morrido sem deixar descendentes diretos e o
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rei da Espanha Felipe II, sendo neto do falecido rei, reivindicou o trono, criando a
chamada União Ibérica com os dois países.
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(entre 5 e 19 anos) era de apenas 26,5% e desses, quase todos eles cursavam
apenas os 4 anos do antigo curso primário. Na Amazônia a situação era mais
grave: apenas 30% “diziam” saber ler e pouquíssimos estavam nas escolas
(IBGE, 1940). A educação escolar consistia num atributo restrito às classes mais
abastadas e a pessoas que faziam uso da leitura e escrita em suas profissões
– que eram poucas. Não que naqueles tempos a educação não tivesse algum
valor social. O que ocorria é que a forma de sobrevivência dos grupos sociais
na região (até por volta da década de 1960), estando fundada no extrativismo
de produtos florestais e animais, em alguma criação de gado e na garimpagem,
dispensava a educação escolar (mesmo a básica) para o exercício da maior parte
das atividades produtivas e para a sobrevivência, embora modesta das famílias.
As distâncias, o linguajar diferenciado, a predominância indígena e
cabocla da população, a forma de vida condicionada ao rio e à mata, a precária
formação escolar e intelectual da população em geral, sua intensa articulação
com a natureza, enfim, o “atraso” amazônico em relação ao resto do Brasil e
outras características, acabaram por identificar a região como o polo negativo
e inferiorizado da dicotomia “moderno-atrasado”, em que o Centro-Sul
do Brasil representava o primeiro elemento do binômio. A Amazônia, para
os demais brasileiros, situava-se do lado de fora das fronteiras civilizatórias
em que o Brasil “moderno” começava a se inserir, desde que, entre 1930-
45, o processo de industrialização brasileira apresentou grande aceleração.
Enquanto o Brasil “moderno” estruturava e diversificava sua economia, a
região sobrevivia de alguns produtos extrativos exportados como a castanha,
as peles de animais silvestres e outros em menor quantidade, além de algumas
indústrias de pequeno porte, do pequeno comércio e de serviços nas cidades;
um sem-número de ribeirinhos e índios viviam do extrativismo, com algumas
poucas cidades à beira de rios e em meio à mata. Para os demais brasileiros
em geral, a Amazônia passou a ser o lugar da inferioridade: primitiva, inculta,
distante, desconhecida. Nos anos 1940, Getúlio Vargas dizia sobre a região:
Nada nos deterá nesta arrancada que é, no século XX, a mais alta tarefa do homem
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colonial (não concretizada, quando desses estudos). Sua inclusão nesta análise
é, portanto, diferente de abordagens anteriores, pois pretende evidenciar
como esses fatos constituíram passos decisivos para sequestrar a autonomia da
Amazônia e sua dominação.
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titânio, fosfato, ouro, prata, platina, paládio, ródio, estanho, tungstênio, nióbio,
tântalo, zircônio, terras-raras, urânio e diamante.
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jurisdicional dos estados sobre seus territórios. O decreto que confiscou terras
na Amazônia passando-as para a União, vigorou por 16 anos, sendo revogado
em 24.11.1987.
Após a revogação do decreto as terras retornaram à jurisdição dos seus
respectivos estados, mas quando isto ocorreu elas já estavam ocupadas, com
fins definidos pelo governo federal e irremediavelmente comprometidas; e
quando o caos fundiário na região já estava estabelecido. Mesmo assim, o ato
que revogou o decreto não excluiu as terras confiscadas posteriormente a 1971,
para constituir o Programa Grande Carajás (PGC), terras que correspondiam
na época a 10% do território nacional. O programa, na prática, consistiu
num enclave dentro de 3 estados (Pará, Maranhão e Tocantins), não apenas
no concernente aos aspectos econômicos, mas pela autonomia política e
administrativa com que funcionou dentro desses estados durante todo o
período em que se constituía num programa federal, cujos interesses locais
ignorava e cuja ligação se fazia diretamente com o governo central.
A forma autoritária de ocupação da Amazônia pelo Estado teve no
confisco de terras uma de suas expressões mais acabadas e audaciosas. Seja
pelo aspecto de ignorar as populações que habitavam as áreas confiscadas,
consideradas como “devolutas” (já que seus habitantes seculares não
dispunham de títulos de propriedade), seja pelo instrumento legal que
lhe conferia apoio – um decreto-lei que suprimia a autonomia dos estados
federados; seja pelo rito sumário do dispositivo legal; e, finalmente, pelo
casuísmo e arbítrio que tipificaram essa forma legal. E, para administrá-las,
foi gradativamente alterada a estrutura organizacional dos órgãos fundiários,
a legislação e os procedimentos relativos às terras. Assim, em 1982 cria-se o
Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários (MEAF), órgão federal
dotado de recursos financeiros e materiais, grande agilidade nas ações e,
sobretudo - absoluta centralização de decisões ( Decreto No. 87.457/82).
Tratava-se de um órgão incomum, não apenas porque decidia sobre terras
em diversos órgãos como Incra, Funai e outros, como porque era dirigido
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de índios para serem “gastos” (no dizer dos colonizadores). Impôs-se a ela e nela
um estranho processo civilizatório avesso à liberdade e à emancipação, que se
construiu destruindo e submetendo seus povos e suas culturas, que perdurou
até fins do século XX, em que os massacres foram às dúzias, durante três
décadas – 70, 80, 90, para a abertura de estradas e outros empreendimentos.
Nos anos 1980 conversei com soldados dos batalhões de construção em
Roraima, que abriam a estrada Manaus-Boa Vista (BR-174), que narravam
como feitos heroicos as mortes de índios Waimiri-Atroari por enfrentamento
entre o trecho que se estende do km 208 ao 326 daquela rodovia, onde se situa
a Terra Indígena Waimiri-Atroari e não havia a quem denunciar; o massacre
dos Ticuna, em 1988 no Amazonas (RÁDIOS EBC, 2016) e vários outros
como dos Arara (Pará), Parakanã (Pará), Cinta Larga (Rondônia e Mato
Grosso), em Mato Grosso e Rondônia os Nambikwara (HECK; LOEBENS;
CARVALHO, 2005) e em Mato Grosso os Kreenakarore (MARTINS, 1997).
Em 1989, o Brasil foi acusado junto ao Tribunal Permanente dos Povos,
em Paris, pela morte de 1/3 da população de índios Ianomami. No caso de
posseiros e ribeirinhos, os massacres persistiram das décadas desde 1970 aos
dias atuais, como o da Gleba Cidapar, no Pará entre 1970 e 1990, com mais de
100 mortes (LOUREIRO, 2015), o massacre do Castanhal Ubá/Pará em 1988
(LOUREIRO, 2012), o de Eldorado dos Carajás/Pará, em 1996), o massacre
da Fazenda Rio Cristalino em Xinguara em 2010 (Pará), o da Fazenda Santa
Lúcia 2018 (Pau d’Arco/Pará). Ao lado deles há as expulsões sumárias, como
as de 405 famílias de 14 comunidades diferentes, que residiam há décadas nas
localidades em Manacapuru, Novo Airão e Iranduba (CPT, 2018), embora
todas elas habitassem terras públicas da União, do estado ou a Reserva de
Desenvolvimento Sustentável do Baixo Rio Negro (CPT, 2018). E este traço
cultural de violência e político de impunidade e prevalência do capital sobre
povos e pessoas permanece até hoje, quando índios, caboclos, quilombolas
e ribeirinhos são obrigados a abandonarem suas formas anteriores de vida
e trabalho, remanejados para outras áreas, sob o argumento de dar lugar a
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bovina (6,58%), que somam mais de 20% da pauta do país, são produzidos
basicamente na Amazônia. Este incentivo à produção primária como política
pública representa um enorme retrocesso na já difícil situação brasileira como
economia periférica do mundo ocidental e um dano incalculável para o mais
rico bioma brasileiro.
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Considerações finais
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Referências
AGÊNCIA BRASIL. Em dez anos, número de bois na Amazônia Legal quase dobrou.
Brasília, 2007. Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/
noticia/2007-12-19/em-dez-anos-numero-de-bois-na-amazonia-legal-quase-
dobrou. Acesso em: 18 abr. 2018.
AMIGOS DA TERRA - AMAZÔNIA BRASILEIRA. O reino do gado: uma
nova fase na pecuarização da Amazônia brasileira. São Paulo: Amigos da
Terra - Amazônia Brasileira, 2008. Disponível em: http://amigosdaterra.org.
br/wp-content/uploads/2017/06/oreinodogado.pdf. Acesso em: 7 jan. 2018.
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