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Como construir cidades e moradias mais criativas?

Escrito por Marília Matoso

28 de Junho de 2021 Compartilhar

“Desde a Revolução Industrial, linhas de montagem ditaram um mundo feito de partes enquadrando a
imaginação de arquitetos e designers que foram treinados a pensar nos seus projetos como resultados
de pedaços com funções distintas”, essa foi uma frase proferida pela arquiteta israelense e
pesquisadora do MIT Media Lab, Neri Oxman em sua palestra do TED intitulada “Projetando na
intersecção entre tecnologia e biologia”.

Neri reforça que a maneira tradicional de se construir é feita do mesmo modo há milênios e precisa ser
reinventada. De fato, fomos ensinados a construir edifícios e cidades de forma racionalizada, em
partes, sem pensar no todo. Até hoje essa lógica ainda é ensinada nas universidades.

A era hoje não é mais industrial, é digital. E agora?

Revolução Industrial

As primeiras grandes inovações acerca do lar e da tecnologia do morar só ocorreram após as Grandes
Navegações quando as comunicações entre os povos, as trocas de ideias e o intercâmbio de culturas,
insumos e matéria-prima tornaram-se possíveis, principalmente os diálogos entre Inglaterra e EUA.
Mas foi especificamente após a Revolução Industrial, em 1750, que a evolução da moradia aconteceu
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de verdade.

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É fato que a industrialização trouxe inúmeros benefícios, entre eles, invenções como a bomba de
mercúrio criada pelo alemão Hermann Sprengel em 1850, e que deu origem futuramente à luz elétrica
e ao cimento hidraúlico, uma mistura de cimento romano com outros insumos, criado em 1825 pelo
americano Canvass White, como afirma Bill Bryson em seu livro “História da Vida Doméstica”.

Mas infelizmente estamos há 200 anos criando dessa mesma forma, com mentes treinadas a pensar
como peças de montagem, e invenções sendo tratadas como linhas de produção. Como resolver
problemas complexos se não conseguimos sair do pensamento industrial? Como sermos criativos num
mundo que limita a nossa ousadia?

Na faculdade de Arquitetura, o primeiro aprendizado na aula de Desenho Técnico é que uma parede
tem 15 cm porque o tijolo padrão tem 9cm mais 6cm de argamassa. Que a janela deve ter um tamanho
múltiplo de 6m (como 1m, 1.5m, 2m ou 3m) porque a barra de alumínio vendido no mercado tem 6m.

Como estimular que arquitetos, engenheiros e designers sejam criativos e pensem em outras formas de
construção menos poluentes, mais conectadas a saberes ancestrais e mais otimizadas se o próprio
ensino se adaptou à industrialização?

A perda da criatividade

Arquitetos como o chinês Wang Shu e a indiana Anupama Kundoo tem defendido que técnicasGuardar
tradicionais e criativas de construção se apagaram ao longo dos processos de colonização, tornando
países de terceiro mundo dependentes de indústrias criadas por outras culturas, totalmente diferentes.
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“ Esta geração de profissionais perdeu contato com as tradições de
construção e não consegue trabalhar com materiais naturais ou de maneira
artesanal – Wang Shu ”

Para Anupama e Wang, moradias de construção rápida e mercantilizadas são essencialmente voltadas
para o lucro e para o enriquecimento de poucos, ignorando os requisitos básicos para o bem-estar
humano.

Se alguém interpretar o papel do arquiteto como meramente reprodutor de edifícios de acordo com
catálogos de materiais e tendências de construção, então sim, esses hábitos não são válidos em outras
regiões geográficas, pois não seriam necessariamente adequados ao clima, aos materiais locais e às
suas culturas.

Simplesmente reproduzir materiais da indústria e deixar de pensar com as mãos – usando suas
habilidades técnicas e artísticas –, para criar estruturas e processos exclusivos para a identidade única
de cada projeto, destrói a capacidade criativa que acompanhou nossos povos ancestrais durante
tantos anos.

Além disso, as práticas de industrialização exigem um ritmo acelerado de criação, para que o lucro
tenha resultados rápidos. Como respeitar o tempo da natureza criando no ritmo do nosso ciclo
circadiano?

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“ Não estamos totalmente cientes das implicações quando não sabemos
mais como fazer coisas básicas com nossas mãos, como costurar um botão
na roupa. Fazer tem um impacto sobre a mente e sua evolução. Acho
interessante que, se recorrermos a tecnologias feitas à mão, possamos
construir tudo o que imaginarmos, sem nenhuma das restrições que as
máquinas carregam, com base no que foram projetadas para fazer. –
 Anupama Kundoo ”
Novas formas de pensar

Na cidade de Massa Lombarda, na Itália, o escritório Mario Cucinella Architects concluiu um protótipo
para uma casa combinando algumas das tecnologias mais recentes com materiais antigos de
habitação, como por exemplo, barro e areia. A moradia, batizada de TECLA, é a primeira casa impressa
em 3D feita de barro e o objetivo é que o desenho de seu programa seja uma opção viável para abrigar
pessoas que carecem de moradia adequada por questões financeiras ou deslocamento.

A flexibilidade do programa de usar o solo disponível e sua facilidade de construção significa que a
moradia TECLA pode ser adequada para suprir habitação em diversos países. Cucinella afirma que
TECLA é de baixo desperdício, uma vez que sua estrutura é biodegradável (acessórios extras como
portas e janelas, no entanto, não são) e o processo de construção usa muito menos energia do que
construir uma casa padrão.

Além disso, a tecnologia de impressão 3D permite que diferentes protótipos sejam criados para
diferentes terrenos e configurações de cada projeto, de acordo com a natureza do lugar. Guardar

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Nos Estados Unidos, a popularidade crescente dos produtos de madeira em massa – conhecido
também como mass timber, um tipo de aglomerado de madeira para construção – levou a uma
redescoberta de técnicas ancestrais indígenas de construção.

Como a madeira é um recurso natural renovável e uma fonte de empregos florestais, ela se alinha aos
valores indígenas de administração e comunidade há muito obscurecidos pelas práticas de construção
dominantes no século XX.

O uso da madeira prensada também estimulou que escritórios de arquitetura procurassem


construtores indígenas para entender suas técnicas ancestrais do uso da madeira, criando um nicho de
arquitetos formados por indígenas.

No Brasil, o arquiteto sérvio Marko Brajovic, naturalizado brasileiro, é um desses profissionais que
lutam contra a industrialização. Há alguns anos tem colaborado com comunidades no nosso país,
bebendo dos seus saberes ancestrais para ressignificar a arquitetura e o design.

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Marko divulgou recentemente o projeto de uma Biblioteca Comunitária Flutuante no lago Mamori, na
Floresta Amazônica. Desenvolvido em estreita colaboração com a comunidade local, o projeto
pretende se tornar uma referência para a construção sustentável e educação ambiental.

Depois de quase duas décadas de pesquisas e experimentações em design e arquitetura com um forte
relacionamento com a comunidade local, a equipe envolvida no projeto de Marko descobriu que os
principais problemas locais estão diretamente relacionados a processos industriais e materiais de
construção industrializados.

O uso de tais materiais e técnicas de construção introduzidos de fora resultaram em novas tipologias
arquitetônicas que não atendem às condições climáticas, desgastando a qualidade de vida da cultura
local.

Com novos olhares para materiais e processos, é possível construir cidades e edifícios mais criativos,
resgatando a imaginação de profissionais da criação. E que essas cidades não sejam produtos de
indústrias atrasadas, com tecnologias poluentes e caras, e que não se encaixam mais em contextos
descolonizados.

Via O futuro das coisas.

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