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“Desde a Revolução Industrial, linhas de montagem ditaram um mundo feito de partes enquadrando a
imaginação de arquitetos e designers que foram treinados a pensar nos seus projetos como resultados
de pedaços com funções distintas”, essa foi uma frase proferida pela arquiteta israelense e
pesquisadora do MIT Media Lab, Neri Oxman em sua palestra do TED intitulada “Projetando na
intersecção entre tecnologia e biologia”.
Neri reforça que a maneira tradicional de se construir é feita do mesmo modo há milênios e precisa ser
reinventada. De fato, fomos ensinados a construir edifícios e cidades de forma racionalizada, em
partes, sem pensar no todo. Até hoje essa lógica ainda é ensinada nas universidades.
Revolução Industrial
As primeiras grandes inovações acerca do lar e da tecnologia do morar só ocorreram após as Grandes
Navegações quando as comunicações entre os povos, as trocas de ideias e o intercâmbio de culturas,
insumos e matéria-prima tornaram-se possíveis, principalmente os diálogos entre Inglaterra e EUA.
Mas foi especificamente após a Revolução Industrial, em 1750, que a evolução da moradia aconteceu
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de verdade.
Mas infelizmente estamos há 200 anos criando dessa mesma forma, com mentes treinadas a pensar
como peças de montagem, e invenções sendo tratadas como linhas de produção. Como resolver
problemas complexos se não conseguimos sair do pensamento industrial? Como sermos criativos num
mundo que limita a nossa ousadia?
Na faculdade de Arquitetura, o primeiro aprendizado na aula de Desenho Técnico é que uma parede
tem 15 cm porque o tijolo padrão tem 9cm mais 6cm de argamassa. Que a janela deve ter um tamanho
múltiplo de 6m (como 1m, 1.5m, 2m ou 3m) porque a barra de alumínio vendido no mercado tem 6m.
Como estimular que arquitetos, engenheiros e designers sejam criativos e pensem em outras formas de
construção menos poluentes, mais conectadas a saberes ancestrais e mais otimizadas se o próprio
ensino se adaptou à industrialização?
A perda da criatividade
Arquitetos como o chinês Wang Shu e a indiana Anupama Kundoo tem defendido que técnicasGuardar
tradicionais e criativas de construção se apagaram ao longo dos processos de colonização, tornando
países de terceiro mundo dependentes de indústrias criadas por outras culturas, totalmente diferentes.
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“ Esta geração de profissionais perdeu contato com as tradições de
construção e não consegue trabalhar com materiais naturais ou de maneira
artesanal – Wang Shu ”
Para Anupama e Wang, moradias de construção rápida e mercantilizadas são essencialmente voltadas
para o lucro e para o enriquecimento de poucos, ignorando os requisitos básicos para o bem-estar
humano.
Se alguém interpretar o papel do arquiteto como meramente reprodutor de edifícios de acordo com
catálogos de materiais e tendências de construção, então sim, esses hábitos não são válidos em outras
regiões geográficas, pois não seriam necessariamente adequados ao clima, aos materiais locais e às
suas culturas.
Simplesmente reproduzir materiais da indústria e deixar de pensar com as mãos – usando suas
habilidades técnicas e artísticas –, para criar estruturas e processos exclusivos para a identidade única
de cada projeto, destrói a capacidade criativa que acompanhou nossos povos ancestrais durante
tantos anos.
Além disso, as práticas de industrialização exigem um ritmo acelerado de criação, para que o lucro
tenha resultados rápidos. Como respeitar o tempo da natureza criando no ritmo do nosso ciclo
circadiano?
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Na cidade de Massa Lombarda, na Itália, o escritório Mario Cucinella Architects concluiu um protótipo
para uma casa combinando algumas das tecnologias mais recentes com materiais antigos de
habitação, como por exemplo, barro e areia. A moradia, batizada de TECLA, é a primeira casa impressa
em 3D feita de barro e o objetivo é que o desenho de seu programa seja uma opção viável para abrigar
pessoas que carecem de moradia adequada por questões financeiras ou deslocamento.
A flexibilidade do programa de usar o solo disponível e sua facilidade de construção significa que a
moradia TECLA pode ser adequada para suprir habitação em diversos países. Cucinella afirma que
TECLA é de baixo desperdício, uma vez que sua estrutura é biodegradável (acessórios extras como
portas e janelas, no entanto, não são) e o processo de construção usa muito menos energia do que
construir uma casa padrão.
Além disso, a tecnologia de impressão 3D permite que diferentes protótipos sejam criados para
diferentes terrenos e configurações de cada projeto, de acordo com a natureza do lugar. Guardar
Como a madeira é um recurso natural renovável e uma fonte de empregos florestais, ela se alinha aos
valores indígenas de administração e comunidade há muito obscurecidos pelas práticas de construção
dominantes no século XX.
No Brasil, o arquiteto sérvio Marko Brajovic, naturalizado brasileiro, é um desses profissionais que
lutam contra a industrialização. Há alguns anos tem colaborado com comunidades no nosso país,
bebendo dos seus saberes ancestrais para ressignificar a arquitetura e o design.
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Depois de quase duas décadas de pesquisas e experimentações em design e arquitetura com um forte
relacionamento com a comunidade local, a equipe envolvida no projeto de Marko descobriu que os
principais problemas locais estão diretamente relacionados a processos industriais e materiais de
construção industrializados.
O uso de tais materiais e técnicas de construção introduzidos de fora resultaram em novas tipologias
arquitetônicas que não atendem às condições climáticas, desgastando a qualidade de vida da cultura
local.
Com novos olhares para materiais e processos, é possível construir cidades e edifícios mais criativos,
resgatando a imaginação de profissionais da criação. E que essas cidades não sejam produtos de
indústrias atrasadas, com tecnologias poluentes e caras, e que não se encaixam mais em contextos
descolonizados.
Galeria de Imagens
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Marília Matoso
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