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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE EXECUÇÕES

PENAIS DE SÃO PAULO

Processo nº XXXXXXX-XXXX.XXXX.X.XX.XXXX

Guilherme (Sobrenome), já qualificada nos autos da ação penal em epígrafe,


movida pelo Ministério Público, vem por meio de seus advogados que esta
subscrevem, perante Vossa Excelência, tempestivamente, interpor o presente

AGRAVO EM EXECUÇÃO

com fundamento no artigo 197 da Lei nº 7.210/84, em face da decisão prolatada.

O recorrente pede que Vossa Excelência se retrate da sua decisão e,


subsidiariamente, caso não haja a retratação, requer o recebimento, processamento
e encaminhamento do recurso, com as razões inclusas, ao Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, nos termos do artigo 589 do Código de Processo Penal.

Nestes termos,

pede e espera deferimento.

São Paulo-SP, 15 de julho de 2019.

João Eduardo Pinto Pires


OAB XXXXXX

Ellen Thais Oliveira Santos


OAB XXXXXX

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

RAZÕES DO RECURSO DE AGRAVO EM EXECUÇÃO

Processo nº XXXXXXX-XXXX.XXXX.X.XX.XXXX

Recorrente: Guilherme (sobrenome)

Recorrido: Ministério Público

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

COLENDA CÂMARA CRIMINAL

ÍNCLITOS DESEMBARGADORES

Em que pese o ilibado saber jurídico do Juízo a quo, não merece prosperar a
referida decisão, sendo imperiosa a reforma por este Tribunal ad quem, pelas
razões a seguir expostas:

I. DA TEMPESTIVIDADE

A Súmula 700 do Supremo Tribunal Federal preceitua que “é de cinco dias o prazo
para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal”. Assim,
considerando que a intimação do réu deu-se no dia 9 de julho de 2019 (terça-feira) e
o prazo iniciou-se em 10 de julho de 2019 (quarta-feira), o encerramento ocorreu no
dia 15 de julho de 2019 (segunda-feira), uma vez que o dia 14 de julho foi domingo
e o artigo 798, § 3º do Código de Processo Penal leciona que “o prazo que terminar
em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia útil imediato”.
Portanto, o recurso é tempestivo.

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II. DOS FATOS

Guilherme cumpria pena em regime semiaberto, após 1 (um) ano em regime inicial
fechado ao ser condenado definitivamente pela prática de crime de lesão corporal
seguida de morte.

Na unidade penitenciária, o apenado trabalhava internamente buscando a remissão.


Contudo, veio a ser encontrado em seu colchão um aparelho celular. O diretor, ao
tomar conhecimento do fato por meio de agentes penitenciários, de imediato
reconheceu na ficha do preso falta grave, o que ocasionou a perda de benefícios da
execução por parte do apenado, após comunicado ao Ministério Público.

Ocorre que Guilherme nunca fora ouvido sobre a aplicação da falta grave, que lhe
resultou em regressão do regime semiaberto para o fechado, perda da totalidade
dos dias remidos, reinício da contagem do prazo de livramento condicional e reinício
da contagem do prazo do indulto.

III. DO DIREITO

3.1 Ausência de observância das formalidades legais no reconhecimento da


falta grave

Em que pese o fato imputado ao réu estar contido no rol do artigo 50 da Lei nº
7.210/84 (Lei de Execuções Penais), a Súmula 533 do Superior Tribunal de Justiça
preleciona que

Súmula 533. Para o reconhecimento da prática de falta


disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a
instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a
ser realizado por advogado constituído ou defensor público
nomeado.

Logo, constitui-se como indispensável a abertura de procedimento administrativo


pelo dirigente da Unidade Penal, a fim de assegurar ao condenado o exercício da
ampla defesa e do contraditório, sendo acompanhado por um patrono.

Vê-se que tal procedimento não foi observado no presente caso, uma vez que o
diretor do estabelecimento penal teve conhecimento do aparelho celular por agentes

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penais e imediatamente reconheceu na ficha do réu o cometimento de falta grave,
sem, contudo, abrir uma investigação sobre o fato, colher o depoimento pessoal do
réu, ouvir testemunhas e, sobretudo, garantir a defesa técnica do detento.

Desse modo, é imperioso reconhecer a irregularidade da imputação de falta


grave ao réu, devendo esta ser afastada.

3.2 Impossibilidade de regressão do cumprimento de pena para o regime


fechado

Nos termos do artigo 118, inciso I, da Lei nº 7.210/84 e da Súmula 534 do Superior
Tribunal de Justiça, a prática de falta grave, quando regularmente comprovada,
seria hipótese de sanção, como se observa:

Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita


à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos
regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;

Súmula 534. A prática de falta grave interrompe a contagem do


prazo para a progressão de regime de cumprimento de pena, o
qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.

No caso em tela, considerando a manifesta ilegalidade do reconhecimento de


falta grave, tem-se como inaplicável a regressão do regime semiaberto para o
fechado

Portanto, não há possibilidade de regressão do cumprimento de pena para o


regime fechado.

3.3 Impossibilidade da sanção de perda da integralidade dos dias remidos

Preleciona o artigo 127 da Lei nº 7.210/84 que o juiz poderá revogar até 1/3 (um
terço) do tempo remido em caso de falta grave, observado a natureza, os motivos,
as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu
tempo de prisão.

No presente caso, verifica-se que o juízo da execução determinou a perda da


totalidade dos dias remidos, por essa razão a decisão mostra-se contrária às
disposições do artigo 127 da Lei de Execuções Penais e deve ser reformada.

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Nesse sentido, colha-se o seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PENAL. EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE.
LEI N. 12.433/2011. PERDA DE 1/3 DOS DIAS REMIDOS.
FRAÇÃO QUE INCIDE SOBRE A TOTALIDADE DOS DIAS
REMIDOS (ART. 127 DA LEP). 1. Com o advento da Lei n.
12.433, de 29/6/2011, foi dada nova redação ao art. 127
da Lei de Execuções Penais, que passou a dispor que o
cometimento de falta grave não mais acarretaria a perda
da integralidade do tempo remido, somente podendo
atingir o limite de 1/3 (um terço). [...] (STJ - AgRg no
AREsp n. 370.629/RJ, relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta
Turma, julgado em 11/11/2014, DJe de 10/12/2014.). (Grifo
não original).

À vista disso, é certo que a revogação da totalidade de dias remidos é indevida,


devendo ser afastada e aplicada as disposições do artigo 127 da Lei nº
7.210/84.

3.4 Incorreção da decisão que determinou o reinício da contagem do prazo


para fins de obtenção de livramento condicional e indulto

Embora muitos defendam a recontagem do prazo para livramento condicional e


indulto em caso de falta grave, o fato é que a execução penal está sujeita ao
princípio da legalidade, sendo certo que tais sanções não estão previstas em lei.

Assim, diante da ausência de previsão legal, não pode o magistrado impor o


reinício da contagem do prazo de livramento condicional, nos termos da
Súmula 441 do Superior Tribunal de Justiça, como segue:

Súmula 441. A falta grave não interrompe o prazo para obtenção


de livramento condicional.

Pelas mesmas razões apresentadas até aqui, foi editada a Súmula 535 do STJ
prevendo que a prática de falta grave não interrompe o prazo para fins de
comutação de pena ou indulto, sem prejuízo de essa ser considerada no
momento de analisar o preenchimento dos requisitos subjetivos desse benefício,
como se observa abaixo:

Súmula 535. A prática de falta grave não interrompe o prazo para


fim de comutação de pena ou indulto.

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Portanto, é incabível o reinício da contagem do prazo do indulto e do
livramento condicional em razão do princípio da legalidade que também é
aplicável na execução penal.

V. DO PEDIDO

Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso para determinar
o afastamento da falta grave imputada ao réu e de suas consequências.

Nestes termos,

pede e espera deferimento.

São Paulo-SP, 15 de julho de 2019.

João Eduardo Pinto Pires


OAB XXXXXX

Ellen Thais Oliveira Santos


OAB XXXXXX

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