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O NEOPAGANISMO E SUAS INFILTRAÇÕES NA

LITURGIA DA IGREJA PÓS-MODERNA

UMA ANÁLISE DAS PRÁTICAS RELIGIOSAS PAGÃS PRESENTES


EM IGREJAS EVANGÉLICAS DA ATUALIDADE
INTRODUÇÃO

Entre os teólogos e pastores sérios, é praticamente unânime a posição de que a


igreja evangélica pós-moderna brasileira atravessa atualmente a maior crise de
identidade de sua existência. Através de estudos bíblicos, pela leitura de diversas obras
de autores cristãos e de estudiosos da religião, bem como pela minha experiência de 18
anos como obreiro de uma denominação evangélica pentecostal, tive o interesse de
pesquisar sobre algumas das diversas manifestações religiosas presentes na igreja
evangélica atual.

Foi partindo desse pressuposto que, nesse trabalho, vislumbramos algumas


perspectivas concernentes à situação atual da igreja evangélica brasileira no que tange à
liturgia e ao papel desempenhado na sociedade hodierna.

O Cristianismo é uma das maiores religiões do mundo e apresenta em seu seio


uma gama enorme de ramificações religiosas com interpretações, crenças e liturgia bem
distintas. Dentre essas ramificações, o Catolicismo Romano e o Protestantismo se
constituem em seus maiores representantes.

Neste trabalho, teremos como fulcro o Protestantismo, de uma forma geral e nos
deteremos, de forma mais específica, na análise dos desvios doutrinários que ocorrem
em muitas igrejas da atualidade e que permeiam, em sua maioria, a vertente protestante
conhecida como Neopentecostalismo.

O contexto histórico delimitado para esse estudo compreende a


contemporaneidade, no entanto, discorreremos sobre a trajetória do Cristianismo, desde
seu surgimento na Palestina até a contemporaneidade, para compreendermos como o
Cristianismo se trasformou no decorrer dos séculos ganhando uma roupagem, em
muitos casos, quase irreconhecível.

Para tanto, cabe ressaltar que essas manifestações religiosas que ocorrem em
muitas igrejas da atualidade, tanto na forma litúrgica quanto nas produções escritas, se
assemelham às manifestações que no passado eram circunscritas a outras religiões
consideradas pagãs, a exemplo do catolicismo, paganismo romano e religiões afros.

Portanto, neste trabalho, enfocaremos as práticas cristãs da igreja pós-moderna,


que se assemelham aos rituais e manifestações análogas aos realizados no paganismo.
Para tanto, usaremos a expressão neopaganismo para nos referirmos a todo esse
arquétipo religioso desenvolvido em muitas igrejas evangélicas atuais.

No capítulo um, discorreremos sobre a definição de Neopaganismo, bem como


trabalharemos o seu desenvolvimento sócio-histórico no decorrer dos séculos que
sucederam à Igreja Primitiva. No decorrer da análise de todo esse contexto, traçaremos
um paralelo entre as práticas religiosas daquele período com as práticas da igreja
evangélica atual.

Inicialmente, nessa jornada através do contexto cristão dos primeiros séculos,


abordaremos os aspectos principais do Cristianismo do primeiro século e a discrepância
entre o modo de vivenciar o Evangelho dos cristãos daquela época com as
manifestações litúrgicas presentes na igreja evangélica pós-moderna.

Posteriormente, nos deteremos na análise de como o Cristianismo, que fora


perseguido por Roma nos seus quatro primeiros séculos de existência, se estabeleceu
após a conversão do Imperador Constantino como religião oficial do Império Romano.
Descreveremos como após a conversão de Constantino o Cristianismo foi influenciado
pelo paganismo de tal forma que veio a se tornar uma igreja praticamente
irreconhecível, se comparada à Igreja Primitiva.

Encerrando o primeiro capítulo, abordaremos o rompimento de Lutero e dos


outros Reformadores com a Igreja Católica como tentativa de afastar o Cristianismo da
influência pagã e resgatar a essência do verdadeiro Evangelho que era pregado pelos
cristãos primitivos.

No segundo capítulo, discorreremos sobre como se deu a origem e conseqüente


influência do neopaganismo nas igrejas cristãs. Problematizaremos a questão do grande
crescimento numérico que se viu nas igrejas protestantes, principalmente a partir da
metade do século XX, e o afastamento das doutrinas bíblicas advindo do verdadeiro
inchaço experimentado pelo Cristianismo.
Em primeiro plano, ponderaremos sobre o surgimento do Pentecostalismo e
como esse movimento fez uma grande revolução no protestantismo. A partir desse novo
movimento, o Protestantismo alcançou os mais longínquos rincões das periferias das
grandes cidades.

Em segundo lugar, discorreremos sobre o neopentecostalismo, movimento que


surgiu nos Estados Unidos na década de 70 do século XX e pode ser considerado como
a porta de entrada para o neopaganismo nas igrejas cristãs. Será tratado acerca do
surgimento das primeiras denominações pentecostais e como estas conseguiram se
estabelecer de forma rápida fazendo usos de uma Teologia liberal tendo em sua
vanguarda principalmente a Teologia da Prosperidade e a Teologia da Confissão
Positiva.

No último capítulo destacaremos, através de vários exemplos, e faremos uma


análise, das principais práticas religiosas presentes em algumas igrejas evangélicas
brasileiras da atualidade. Discorreremos sobre como muitos líderes, ditos cristãos, têm
se afastado da “verdadeira doutrina” e corrompido o Evangelho com distorsões
assombrosas. Problematizaremos questões como idolatria dos líderes, praticada por
parte dos fiéis, mercantilização de bençãos, deturpação das Sagradas Escrituras, dentre
outros aspectos.

Por fim, nas considerações finais, faremos um apanhado do caminho percorrido


pelo Cristianismo desde seus primórdios até chegar à igreja hodierna. Embasados nas
Escrituras Sagradas e dialogando com os autores citados no trabalho, deixaremos nossa
concepção acerca de toda essa miscelânea religiosa em que se tornaram grande parte das
igrejas cristãs pós-modernas.
1. DEFINIÇÃO E DESENVOLVIMENTO SÓCIO-HISTÓRICO DO
NEOPAGANISMO.

A situação do Cristianismo brasileiro atual, num contexto genérico, se encontra


de forma tão crítica que, em muitos casos, as práticas de muitas igrejas se assemelham
àquelas realizadas em movimentos pagãos do passado.

Cabe salientar que o conceito de igreja pós-moderna usado nesse trabalho não se
refere à igreja de Cristo, conforme definiu Emílio Conde, em sua obra Igrejas Sem
Brilho:

“...A Igreja de Cristo, composta de todos aqueles que foram salvos pela
graça, é una, é indivisível. A Igreja de Cristo é um organismo perfeito e
está edificada sobre a Rocha dos Séculos - Cristo. A Igreja reúne as
multidões de salvos de todas as nações que formarão a esposa do
Cordeiro. Ela, é claro, é a Igreja de todos os séculos, cujo fulgor
aumenta como a luz da aurora até alcançar o brilho mais claro que o sol
do meio-dia” (CONDE, 2013, p.4)”.

Pelo contrário, o termo igreja pós-moderna ao qual faremos menção nesse


trabalho, se refere às denominações surgidas no contexto histórico de finais do século
XX até os dias atuais, e se restringe àquelas “igrejas” que se afastaram da doutrina
bíblica e se embrenharam no campo do pragmatismo, visando atender interesses escusos
de suas lideranças e seus seguidores, que formam uma demanda cada vez mais exigente
pela satisfação de seus próprios anseios.

Portanto, temos como fulcro analisar as práticas litúrgicas dessas igrejas atuais,
mostrando como uma grande parte delas, que apresenta uma série de “novidades”, tem
sido influenciada por práticas religiosas antigas, consideradas pela Bíblia e pelos
cristãos do passado como pagãs. Para tal, usaremos aqui o conceito de neopaganismo
ressalvando que, como este é um termo novo, faremos uso dessa expressão numa
perspectiva de similaridade com as práticas religiosas pagãs da igreja cristã pós-
moderna.

De forma geral, o neopaganismo, como é visto hoje, se define como um dos


movimentos relacionados com o antigo politeísmo das antigas religiões da Europa
e Oriente Médio. Enquanto movimentos como Wicca fazem isso através da
“modernização das práticas mágicas e da bruxaria” (ARAÚJO, 2007), o neopaganismo
busca ser mais fiel aos antigos rituais e ter “... uma atitude mais contemplativa”
(ARAÚJO, 2007). De modo mais específico, exploraremos neste trabalho o
neopaganismo como o bojo de práticas religiosas que se assemelham ao velho
paganismo que adentrou no seio do Cristianismo a partir da conversão do Imperador
Romano Constantino, no século IV.

O neopaganismo teve início no século XIX junto com o Romantismo e ganhou


importantes elementos nos anos 1960, entre eles as preocupações ecológicas, os ideais
feministas e o interesse no conceito de arquétipo. O Neopaganismo floresceu após
a Segunda Guerra Mundial principalmente nos Estados Unidos e na Europa
influenciado pelos trabalhos do psiquiatra Carl Jung e do escritor Robert Graves.

Entre os principais movimentos neopagãos podemos citar a Igreja de Todos os


Mundos, uma religião fundada em 1962 por Oberon Zell-Ravenheart e sua esposa
Morning Glory. Algumas das celebrações e de seus rituais tomam como base os Deuses
da Grécia Antiga e cuja devoção é feita à deusa-mãe Terra. Outra religião neopagã é a
Feraferia, baseada em antigas religiões gregas, é uma comunidade sediada na Califórnia
que pratica o culto a deuses helênicos. O fundador do grupo, Frederick McLaren
Charles Adams II, reuniu-se e foi profundamente influenciado por Robert Graves e pelo
seu livro, A Deusa Branca. Outras religiões neopagãs são a Bruxaria Tradicional, a
Bruxaria Natural, a Stregheria, o Heathenismo e o Reconstrucionismo (CASTRO,
2016). O que todos esses movimentos religiosos possuem em comum é que estão dentro
do mesmo arcabouço, o Paganismo Contemporâneo ou Neopaganismo.

É sabido que os pressupostos teológicos a respeito de toda a existência do


homem sejam muitos e bastante diversificados. Desde os primórdios da humanidade não
foram poucas as idéias que começaram a surgir em torno da questão da divindade ou do
sagrado. Ora politeísmo (com muitas ocorrências), ora monoteísmo (raras vezes) a
divindade sempre foi assunto dentro do contexto humano.

O homem sempre mostrou interesse em conhecer o divino, fazendo inclusive


separação entre o que é profano ou natural e o que é sagrado. Sobre esse assunto, o
escritor romeno Mircea Eliade, em sua obra O Sagrado e o Profano, afirma que: “O
sagrado manifesta se sempre como uma realidade inteiramente diferente das realidades
“naturais” (ELIADE, 1992, p. 6).
Nos dias atuais é comum virmos no seio da Igreja Cristã um bojo de
movimentos pseudoevangélicos que se autodenominam protestantes, mas cujas práticas
de fé se diferem grandemente da doutrina bíblica e do ensino teológico genuíno. Assim,
muitos desses movimentos estão repletos de elementos do paganismo antigo disfarçados
de religiosidade cristã.

O escritor Peter Jones, em sua obra A Ameaça Pagã, relata que atualmente existe
dois modos opostos de entender a natureza humana e o universo, “Um defende a
verdade, o outro a mentira diabólica. Um segue o Deus da Bíblia, o outro segue os
deuses do paganismo” (JONES, 1998, p. 19). O autor salienta que o modo correto de
entender o mundo é através da interpretação e aplicação dos ensinos bíblicos, mas que
atualmente tem ocorrido uma revolução religiosa cujos revolucionários têm usado uma
arma secreta, a “tolerância”, que tem possibilitado a entrada do paganismo na igreja.

De acordo com Peter Jones, a influência pagã faz uma revolução maléfica na
igreja atual:

“Esta revolução penetra em cada lar e alma, redefinindo a sexualidade,


a espiritualidade, Deus, a religião e a revelação. A nova ordem do
mundo põe tudo o que conhecemos de cabeça para baixo – o bem se
torna mal, a homossexualidade torna-se a expressão sexual preferida, e
a família tradicional uma estrutura minoritária” (JONES, 1998, p. 21).

Há um grande antagosnismo entre o Cristianismo e as Religiões Pré-Cristãs no


que tange à singularidade do Deus cristão, que é o mesmo dos Judeus. Esse
antagonismo se revela, conforme relata Mircea Eliade, entre monoteísmo e politeísmo.
Segundo esse autor, os apologistas cristãos dos primeiros séculos desprendiam grandes
esforços para demonstrar a origem sobrenatural do cristianismo e, por conseqüência, sua
superioridade, ao mesmo tempo em que precisavam explicar a origem e inferioridade
dos deuses pagãos, sobretudo a idolatria do mundo pré-cristão. Como era de se esperar,
os militantes do politeísmo saíram na defesa dos deuses pagãos. Ainda conforme Mircea
Eliade, a reação pagã tomou múltiplas vias, ora atacando a originalidade e o valor
espiritual do cristianismo, com Celso (178 d. C.), ora comparando as concepções
religiosas dos indianos, dos gregos e dos egípcios, que propõem um ideal de
religiosidade pagã, através de Porfírio (233 d. C.), ou mesmo por Jâmblico (280 d. C.),
que militava por um ideal de sincretismo e tolerância religiosa.
Portanto, é notório que desde a origem do Cristianismo, há uma oposição entre
este e o Paganismo. No entanto, percebemos que no contexto da igreja evangélica atual,
sua liturgia e costumes têm apresentado uma grande similaridade com as práticas pagãs.

O presente trabalho abarca o contexto do Cristianismo Protestante delimitando-


se às igrejas evangélicas pós-modernas. As igrejas evangélicas da atualidade têm
experimentado um grande inchaço, tendo em vista que se percebe apenas crescimento
quantitativo e não qualitativo.

Com relação a essa discrepância entre os ensinamentos de Cristo e o que se vê


na maioria das igrejas cristãs da atualidade, Frank A. Viola assim reverbera, em seu
livro Cristianismo Pagão:

“...o cristianismo moderno agregou um monte de tradições


humanamente concebidas que acabaram suprimindo a direção
funcional, real e vivificante de Jesus Cristo enquanto Cabeça de Sua
Igreja”(VIOLA, 2008, p. 6) .

A Igreja Evangélica contemporânea tem passado por um momento conturbado


em sua essência, enfrentando, com isso, sérios problemas como afastamento da sã
doutrina bíblica, crise de identidade e falta de integridade de muitos líderes evangélicos
e, conseqüentemente, de grande parte de seus seguidores.

Em sua obra Igreja Emergente, o autor D. A. Carson relata histórias de crentes


que se tornaram tão inconformados com a situação da igreja pós-moderna que acabaram
abandonando suas congregações para professar sua fé em casa ou junto a pequenos
grupos de cristãos que se reúnem seus próprios lares. Ao contar a história de um líder
cristão que outrora era pastor de uma grande igreja nos Estados Unidos e que deixou
essa igreja para cultuar a Deus na garagem de sua casa, Carson relata o
descontentamento desse ex-pastor com a igreja atual:

“Podem me chamar de louco, mas parece que muitos de meus amigos


da igreja seguem bem mais a risca cada palavra que sai da boca de
líderes evangélicos mundiais do que a própria palavra que sai da boca
de Deus” (CARSON, 2010 p.17).

No afã de sobreviver em meio a tanto pluralismo religioso, a maioria das igrejas


neopentecostais, no despontar do novo milênio, se mostram como estruturas mutantes e
vulneráveis ao ambiente. Com a flagrante necessidade de sobrevivência, essas igrejas
fazem adaptações e concessões, modificando o padrão de conduta, a moral, e a
identidade que eram bem definidos na Igreja Primitiva, através do genuíno ensino
bíblico. Com essas atitudes, os líderes dessas igrejas transparecem, em última instância,
deixar de lado a própria idéia de passado e valores que outrora garantia ao Cristianismo
uma identidade mais concreta, para se enquadrar aos moldes e exigências da sociedade
pós-moderna.

Essas concessões que as igrejas pós-modernas fazem para manter sua


“clientela”, acabam possibilitando o aumento de escândalos e o conseqüente
afastamento da religião e o apego ao humanismo, por parte da sociedade. Ocorre o que
Mircea Eliade, chama de dessacralização “... a dessacralização caracteriza a
experiência total do homem não religioso das sociedades modernas”(ELIADE, 1992 p.
14).

Vivemos em uma época em que muitos cristãos têm perdido o temor a Deus e à
sua Palavra, desprezando ensinos preciosos da Bíblia Sagrada. Sobre os vários tipos de
“evangelhos” existentes na atualidade, assim já alertava o apóstolo Paulo em sua carta
aos gálatas:

“Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se


alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja
anátema (Gl. 1:9)”.

Mormente a essa situação decadente em que se encontram muitas igrejas cristãs


na atualidade, assim se expressou Warren W. Wiersbe:  

“Depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que a palavra que


melhor descreve a situação atual da igreja é opróbrio e tenho a
impressão de que muitas pessoas concordam comigo” (WIERSBE,
2013, p. 1). 

Para termos uma idéia de como o neopaganismo reinante nas igrejas pós-
modernas está distante do que Jesus Cristo ensinou quando veio à terra, faremos uma
descrição do surgimento do Cristianismo e como se manifestava a religiosidade dos
primeiros cristãos. O intuito dessa descrição é termos elementos mínimos para
traçarmos um paralelo entre a prática religiosa dos primeiros cristãos e o que é realizado
em muitas igrejas cristãs hodiernas.

Portanto, discorreremos no decorrer desse capítulo sobre a discrepância entre o


Cristianismo do século I e os movimentos cristãos pós-modernos, a conversão de
Constantino e a entrada do paganismo na igreja cristã, e a Reforma Protestante e sua
tentativa de rompimento com o paganismo.

1.1 – A discrepância entre o Cristianismo do século I e os movimentos


cristãos pós-modernos

Se observarmos o comportamento das igrejas pós-modernas e fizermos uma


comparação entre o que foi ensinado por Jesus quando esteve aqui na terra e o que era
praticado pelos primeiros cristãos, veremos que as manifestações religiosas atuais
destoam bastante do genuíno Evangelho de Cristo.

Inicialmente, o Evangelho do Senhor Jesus foi vivenciado por Ele próprio e


transmitido durante seu ministério terreno às diversas pessoas que o acompanhavam
para ouvir suas palavras e presenciarem seus milagres maravilhosos. Depois de sua
partida os discípulos, inspirados por Deus, escreveram os Evangelhos. Esses
evangelhos, que constam de um total de quatro livros, escritos por Mateus, Marcos
Lucas e João, são os relatos fidedignos dos fatos ocorridos durante a vida e ministério
de Jesus Cristo na terra.

De forma bem diferente do que ocorria naquela época, hoje vemos um grande
número de movimentos, ditos cristãos, nos quais pessoas estão sendo dirigidas por
líderes que não têm as palavras de Jesus Cristo como única autoridade, mas que
pastoreiam o rebanho conforme seus próprios entendimentos. Grande parte dessas
pessoas acaba freqüentando a igreja como se estivessem freqüentando qualquer
compromisso social, não há espontaneidade e o culto se mostra por demais mecânico.
Segundo Viola, o culto da igreja primitiva “Era um encontro fluido, não um ritual
estático. E era imprevisível, bem diferente do culto da igreja moderna” (VIOLA, 2008,
p. 14).

Partindo do primeiro século, através dos Evangelhos, a Palavra de Deus chegou


até os dias atuais. E através dos evangelhos pudemos conhecer qual é a vontade de Deus
para seu povo. Os primeiros cristãos experimentaram na prática a maneira como Jesus
Cristo ordenou que seus discípulos vivessem.

O Espírito Santo é o personagem principal de Atos dos Apóstolos, pois é ele


quem concede poder aos primeiros cristãos para iniciarem a igreja de Jesus. Cabe
ressaltar que o Espírito Santo é uma pessoa e que como tal, possui vontade, emoções e
realiza uma obra essencial para a salvação da alma do homem, conforme observa o
pastor Manoel Ferreira:

“O Espírito Santo é inteligente e conhecedor de tudo. Tem vontade


própria, ama e se entristece. Ele pratica atos que só uma pessoa pode
praticar, tais como: investiga, minuciosamente, as profundezas de Deus,
revela, fala, clama, dá testemunho, intercede, dá assistência, geme,
habita, guia, conduz, chama e separa homens para a obra de Deus,
persuade os pecadores, peleja contra os rebeldes, consola o povo de
Deus”(FERREIRA e ROSA, 200, p. 12).

Diferentemente do que ocorria no início do Cristianismo, onde o Espírito Santo


dirigia a igreja, o que vemos na atualidade são pessoas que demonstram não ter nenhum
temor de Deus, pois têm tratado as coisas sagradas como negócio.

Quando estava para subir ao céu, o próprio Cristo deixou a nós, seus servos, a
incumbência de propagarmos seus ensinamentos a todas as pessoas. “E disse-lhes: Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15). Assim, orientados
por Jesus, os discípulos começaram pregar o Evangelho desde Jerusalém até os lugares
mais distantes do mundo. “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir
sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra” (At. 1:8).

Segundo Itamir Neves de Souza, esse texto citado é o versículo-chave de Atos


dos Apóstolos:

“Ao observarmos o seu conteúdo, reparamos que essa é uma palavra de


Jesus, dirigida aos discípulos, que implica no compromisso da
promessa, na designação da missão, no significado da tarefa, na
definição da metodologia e no estabelecimento da abrangência”
(SOUZA, 2011, p.38).
Esse pensamento chave ou o tema de Atos dos Apóstolos também foi sintetizado
por Marshall da seguinte maneira:

“O tema principal de Atos é que Deus elevou e exaltou o Jesus


crucificado para ser o Messias e Senhor, por meio de quem são
oferecidos o perdão e o Espírito Santo a todos os povos que clamem
pelo Senhor. Desse modo, está havendo a formação de um povo de
Deus, constituído por crentes judeus e gentios, que se ergue em
continuidade a Israel, mas agora está sendo reconstituído em torno do
Messias. Os seguidores de Jesus estão comprometidos em completar o
plano de salvação de Deus a ser pregado ao mundo inteiro”
(MARSHALL, 2007, p. 39).

Contrastando com o que estamos acostumados a ver hoje, onde notamos uma
exacerbada preocupação apenas com o crescimento quantitativo do número de
membros, o cristianismo primitivo foi impulsionado pelo poder do Espírito Santo sendo
difundido pelos servos de Jesus, chamados de Cristãos em Atos dos Apóstolos. “E
sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em
Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (At. 11:26). A
Bíblia relata essa nomenclatura que os servos de Jesus Cristo passaram a adotar
denotando a diferença de comportamento que esses irmãos tinham do restante da
sociedade.

Como exemplo dessa transformação que Jesus Cristo causava na vida do crente,
podemos citar a história de Paulo, um improvável pregador do Evangelho. Tratava-se de
um homem que deixou de ser perseguidor dos cristãos para se tornar o maior
propagador e sistematizador do Evangelho de Cristo. Esse homem foi o grande apóstolo
dos gentios. Sobre a chamada de Paulo, Charles R. Swindoll afirmou:

“ Quem poderia imaginar que o escritor do Novo Testamento, que


provavelmente causou o maior impacto no seu crescimento cristão,
viesse de um mundo de tamanha cegueira espiritual e brutalidade física?
Mas veio mesmo. Foi por isso que reivindicou o título de ‘maior dos
pecadores’. Em sua mente, ele era o maior dos pecadores. E pode muito
bem ter sido” (SWINDOLL, 2003, p. 29).
Tudo isso mostra que Deus não está preso a nenhuma forma ou conceito
humano, pelo contrário, Ele age conforme sua soberana vontade estabelecendo e
cuidando de sua igreja no decorrer da história.

O historiador Charles Guignebert, ao considerar o cristianismo de forma geral, o


enfatiza como “uma religión oriental por sus Orígenes y por sus caracteres
fundamentales” (GUIGNEBERT, 1988, p. 202). Porém o que levou o cristianismo a se
destacar no mundo ocidental foi o fato dos cristãos primitivos difundirem o Evangelho
em meio aos gentios, onde a evangelização “se aprovecha de la propaganda de la
sinagoga y la absorbe” (GUIGNEBERT, 1988, p. 203).

Cabe ressaltar que o apóstolo Paulo teve papel primordial nesse contato entre o
Evangelho de Cristo e os helenos. Para Louis Rougier, (ROUGIER, 1995), sem Paulo, o
cristianismo teria sido apenas uma pequena seita judaica.

O cristianismo, como é concebido atualmente, levou pelo menos quatro séculos


para se estruturar como religião predominante no Império Romano. No caminho
traçado, desde seus primórdios até os dias hodiernos, grandes foram as transformações
pelas quais o cristianismo passou. Infelizmente, no decorrer desse caminho, grande
parte da essência do verdadeiro Evangelho de Cristo foi sendo deixada de lado.

Para que se tenha uma idéia de como ocorreram essas transformações, podemos
nos remeter ao que salientou Louis Rougier: "A designação de nazarenos, de cristãos,
de católicos, marca as principais etapas dessa mutação" (ROUGIER, 1995, p. 82) ou
mesmo à sentença de Francisco José da Silva Gomes: "A Igreja, de perseguida, tornou-
se 'triunfante" (GOMES, 1997, p.39). No entanto, apesar de se tornar “triunfante”, no
sentido de ter uma proeminência frente à sociedade, no quesito espiritualidade a igreja
decaiu muito.

Enquanto a igreja era perseguida de diversas formas, mas os cristãos


permaneciam centrados nos ensinamentos da Palavra de Deus, mais o número de
pessoas salvas crescia. Mesmo enfrentando as perseguições do Império Romano os
cristãos primitivos conseguiam manter os padrões bíblicos como os pilares da fé dos
irmãos. Porém, ao se unir ao Império Romano, vários elementos que não constavam da
Bíblia Sagrada e dos cultos cristãos começaram a adentrar na liturgia e nos costumes
cristãos através do imperador Constantino.
1.2 - A conversão de Constantino e a entrada do paganismo na igreja

cristã

Podemos considerar que a entrada do paganismo no cristianismo se deu a partir

do quarto século da nossa era. Alguns eventos históricos contribuíram para que o

cristianismo deixasse de ser uma religião desprezada e perseguida pelo Império Romano

para se tornar a religião do Império. Ao obter esse status, a Igreja Cristã deu abertura

para que as práticas pagãs dos romanos adentrassem em seu seio.

No século IV, a situação de perseguição ao cristianismo mudou radicalmente,

em especial no Ocidente; primeiro com o afastamento voluntário de Diocleciano em

305, e depois com Galério (305-311): "Galério promulgou um edito, em seu leito de

morte em 311, que estabeleceria a tolerância ao cristianismo, desde que os cristãos não

violassem a paz do Império" (CAIRNS, 1995, p.76).

No entanto, de acordo com Earle E. Cairns, o cristianismo só teve liberdade

plena com Constantino:

"A perseguição só acabaria totalmente sob o governo de Constantino,

que promulgou o Edito de Milão em 313. Este edito garantia liberdade

de culto não somente ao cristianismo, mas a todas as religiões"

(CAIRNS, 1995, p. 76).

Contudo, essa liberdade que o Cristianismo passou a ter com Constantino foi a
um custo muito alto. Até o momento da conversão do imperador romano Constantino ao
cristianismo, ocorrida em 312, o cristianismo permaneceu com suas bases doutrinárias
isentas de influências pagãs. Ou seja, Constantino se converteu ao cristianismo por puro
interesse político, pois vira no cristianismo a possibilidade de salvação do seu Império,
que já estava em franco declínio. De forma geral, não houve uma verdadeira conversão
por parte do imperador, pelo contrário, ele proporcionou uma miscelânea de práticas
religiosas, incorporando os rituais que ele trouxe do paganismo ao culto cristão, dando
origem à Igreja Católica Apostólica Romana.

Inicialmente, o fato da conversão do imperador romano ao cristianismo e a


conseqüente liberdade de culto, promulgada por Constantino em 313, foram celebradas
por todos os cristãos. Isso se deu pelo fato dos cristãos já estarem enfrentando a fúria de
Roma a cerca de três séculos.

Porém, partir do momento em que a Igreja se uniu ao Império Romano,


deixando a total dependência divina que tivera até esse momento, e se tornou religião de
estado, as influências pagãs começaram a contagiar o cristianismo.

Se observarmos bem, a liturgia das igrejas cristãs pós-modernas é uma


verdadeira mistura de práticas religiosas oriundas de diversas religiões, inclusive as
religiões afros. Semelhante situação ocorreu no início da Igreja Católica. Viola afirma
que a missa católica “Foi uma combinação de rituais pagãos e judaicos borrifados com
teologia católica e vocabulário cristão” (VIOLA, 2008, p. 15).

Assim como vemos o sincretismo religioso reinando nas igrejas cristãs atuais, no
quarto século, de acordo com Charles Guignebert, a Igreja saía vitoriosa no conflito
contra o Império e a sociedade pagã, porém com um alto preço. O cristianismo acabou
fazendo um grande sincretismo. Para esse autor, não teria sido a fé cristã a vitoriosa,
mas os governantes. Foi a Igreja e os benefícios recebidos graças a Constantino. Para o
autor, se os cristãos primitivos soubessem do resultado dessa luta “lo hubieran
considerado um desastre” (GUIGNEBERT, 1988, p. 180).

A partir desse momento, aquela Igreja, que enfrentara as terríveis perseguições


de Roma, inclusive com a tortura e morte de inúmeros cristãos, deixa o status de
perseguida para assumir o de perseguidora. Todos, sem exceção, deviam obediência
cega à Igreja Católica e o não cumprimento das obrigações estabelecidas por ela poderia
levar o fiel até a morte.

Sobre essa nova conjuntura política e social que surgiu no Império, assim afirma
J. N. Hillgarth: “A Igreja passou a fazer parte da estrutura sócio-política do Estado
opressor” (HILLGARTH, 2004, p. 60).
Para qualquer pessoa que tenha um mínimo conhecimento teológico seria bem
simples chegar à conclusão de que o cristianismo e o paganismo eram totalmente
incongruentes. Louis Rougier afirma que não tem como conceber duas hierarquias de
valores mais antitéticas que helenismo (paganismo) e cristianismo. “Henri Heine dividia
os homens em nazarenos ou helenos” (ROUGIER, 1995, p. 76).

Até o início do quarto século, a tônica presente na Igreja do Senhor Jesus era a
de inconformismo e enfrentamento ao paganismo. Porém, de forma totalmente avessa
aos propósitos divinos, os líderes cristãos, vendo a possibilidade de obterem vantagens,
até mesmo pessoais, se estivessem ao lado do Império, criaram um novo cristianismo,
chamado Igreja Católica Apostólica Romana. Esse cristianismo é totalmente
irreconhecível, se comparado àquele pregado por Jesus quando ele veio a essa terra.

A partir dessa influência do paganismo no seio da igreja cristã, o culto, que


agora passou a se chamar Missa, teve uma nova conotação. Segundo Frank Viola,
Gregório O Grande (540-604) foi o homem mais responsável pela formação da Missa
Medieval. Segundo Viola:

“Gregório foi um homem incrivelmente supersticioso, cujo pensamento


foi influenciado pelos conceitos mágicos dos pagãos. Ele personificou a
mente Medieval, que era uma mistura de paganismo, magia e
cristianismo” (VIOLA, 2008, p. 15).

Conforme é comum vermos nas igrejas cristãs neopagãs da atualidade, além dos
problemas ocorridos com a liturgia, a Igreja Católica, naquela época, através de seu
vasto clero, protagonizou vários escândalos e desvios de conduta no decorrer dos
séculos posteriores ao seu surgimento.

Da mesma forma como vemos muitos movimentos cristãos atuais se prostituindo


com o mundo, após a união entre Estado (Império Romano) e Igreja (Igreja Católica
Apostólica Romana), de forma lenta e gradativa, a Igreja Católica foi, ao longo dos
séculos, se afastando do verdadeiro Evangelho de Cristo e se embrenhando cada vez
mais no caminho da idolatria.

Isso culminou com um longo período de trevas espirituais que se mantiveram


sobre a Europa por cerca de mil anos. Somente com a Reforma Protestante, que ocorreu
a partir do século XV, viu-se novamente a luz do Espírito Santo pairando sobre o
Cristianismo.

1.3 – A Reforma Protestante e sua tentativa de rompimento com o


paganismo

Após a desenfreada influência do paganismo no cristianismo durante toda a


Idade Média, alguns cristãos descontentes com a situação lastimável da igreja
promoveram a Reforma Protestante na tentativa de eliminar o paganismo de dentro da
igreja.

Os ideais da Reforma são importantes para compreendermos como os cristãos


fervorosos do passado lutaram contra o paganismo e serve para dar uma certa base para
os cristãos fervorosos da atualidade permanecerem firmes na luta contra as heresias que
têm atingido a igreja pós-moderna.

Ao analisarmos a Reforma Protestante, é necessário que entendamos que esta foi


um grande processo que envolveu um complexo cenário com enfoques religioso,
cultural, político e social. Portanto, não podemos considerar o movimento como uma
simples reforma religiosa, uma vez que suas conseqüências afetaram profundamente a
sociedade européia.

A cerca dos anseios dos grandes reformadores, assim expressou o teólogo Alderi
Souza de Matos:

“O questionamento protestante do catolicismo medieval pode ser


sintetizado em alguns princípios básicos que todos os reformadores
tinham em comum: as Escrituras como suprema autoridade e norma de
fé somente (sola Scriptura), a salvação pela graça mediante a fé
somente (sola gratia e sola fides) e a igualdade espiritual de todos os
cristãos, com a negação da distinção entre clero e leigos (o sacerdócio
de todos os crentes)”. MATOS, p. 139, 1998).

As principais causas da Reforma Protestante podem ser resumidas da seguinte


maneira:

- desenvolvimento dos estados nacionais - no período feudal, a Igreja Católica reinava


em conluio absoluto, com o apoio dos senhores feudal. Querendo mudar esse contexto e
alargar seus domínios os reis absolutistas e a nascente burguesia viram na Reforma a
oportunidade de se desprender do jugo da Igreja;

- desenvolvimento do capitalismo - o crescente comércio e a conseqüente ascensão da


burguesia proporcionaram o surgimento do Capitalismo, cujo lema é sempre produzir
lucro. Como a Igreja pregava contra a usura e o lucro, a Reforma foi essencial para que
a burguesia criasse suas estruturas básicas e se fortalecesse no cenário europeu;

- crise moral da Igreja – a venda de indulgências e relíquias, a opulência dos padres e os


escândalos sexuais causavam cada vez mais desgaste à Igreja Católica e muitos fiéis
viram na Reforma uma forma de moralizar o cristianismo na Europa.

Em meio ao contexto de discrepância religiosa, a Reforma Protestante surgiu


como um grande movimento de retorno aos princípios bíblicos e que teve grande
influência inclusive histórica e social na Era Medieval.

Além da repercussão histórico-social, sob o prisma teológico, a Reforma


Protestante foi um marco na história do Cristianismo. A partir desse momento ímpar no
contexto histórico mundial, a verdadeira Igreja do Senhor Jesus, formada por aqueles
poucos cristãos que permaneciam fiéis às escrituras sagradas mesmo sendo perseguidos
pela Igreja Católica, voltou a vislumbrar a possibilidade de freqüentar uma igreja
baseada nos moldes da Igreja Primitiva.

Todo esse momento histórico mostra como Deus tem um zelo especial pelo seu
povo. Da mesma forma como abriu as portas do Evangelho aos gentios, quando os
judeus se distanciaram, o Senhor levanta, cerca de mil e quinhentos anos após a
vivência de Jesus aqui na terra e um longo período de domínio da Igreja Católica,
homens corajosos para alertarem o povo a buscarem um avivamento espiritual e a
retornarem aos princípios pregados pelos apóstolos da Igreja Primitiva.

Esse zelo do Senhor nos enche de esperança com relação à permanência dos
verdadeiros servos de Cristo na pregação e prática do Evangelho, pois embora haja
tantos cristãos nominais, a Bíblia nos garante que as portas do inferno não prevalecerão
contra a verdadeira igreja.

A partir da Reforma Protestante, o cristianismo, tendo agora uma nova, mas não
homogênea roupagem, se alastrou pela Europa influenciando pessoas das várias classes
sociais. Muitas dessas pessoas viram no protestantismo, uma forma de se tornar
participante das coisas de Deus, e não apenas espectadores.

Dentre todos os benefícios conquistados pelos verdadeiros cristãos com a


Reforma, é importante salientar o fato de a Bíblia Sagrada passar a ser traduzida para as
línguas nacionais e os cultos, antes missas rezadas em latim, poderem ser realizados nas
línguas de cada país.

Durante os séculos subseqüentes, a Igreja Protestante, apesar de várias tentativas


do diabo de derrotá-la, seguiu triunfante crescendo em todo o mundo. Contudo, resta
questionar uma coisa: será que a Igreja Protestante tem crescido em qualidade como tem
crescido em quantidade?

Para melhor elucidação acerca de como foi a preparação do terreno para o


surgimento do neopaganismo evangélico, sintetizaremos, de forma breve, o caminho
percorrido pelo cristianismo desde a Reforma Protestante até o século XX, quando o
paganismo retornou com força ao âmago do cristianismo.

Sintetizando a História do Protestantismo, poderemos entender como algumas


igrejas evangélicas, de forma genérica, tomaram o rumo que as trouxe até o momento de
declínio em que se encontram contemporaneamente.
2. A ORIGEM DO NEOPAGANISMO NAS IGREJAS CRISTÃS

A origem do neopaganismo nas igrejas cristãs remonta ao grande crescimento da


igreja protestante após a Reforma. A partir da Europa, o protestantismo, mesmo não
sendo uniforme em suas concepções doutrinárias, se alastrou pelos outros continentes
levando o Evangelho de Cristo aos mais variados e distantes povos e nações. A partir do
século XVI, o protestantismo avançou além-oceano rumo ao Novo Mundo (Continente
Americano). Com certeza, inúmeros eram os interesses dos colonizadores europeus na
América, como mercantilismo e conquista de terras, mas havia também o aspecto
religioso.

Entre os séculos XVI a XIX, o protestantismo cresceu alcançando praticamente


todos os rincões da terra, mantendo quase que em sua totalidade, os preceitos oriundos
da Reforma Protestante. Contudo, a partir de fins do século XIX, o cristianismo teve
suas estruturas abaladas, com o surgimento de movimentos que buscavam trazer um
aquecimento espiritual à igreja.

O primeiro desses movimentos foi o Pentecostalismo, que surgiu na última


década do século XIX nos Estados Unidos. Para muitos teólogos pentecostais, o
surgimento desse renovo contrastou com a situação de mornidão espiritual que atingia a
Igreja Protestante da época. O segundo movimento foi o Neopentecostalismo, originado
também nos Estados Unidos, a partir de meados do século XX. Esse movimento se
caracteriza, de forma básica, por uma teologia mais liberal. Discorreremos,
sucintamente, sobre esses dois movimentos, pois ambos são essenciais para
compreendermos como foi aberto o caminho para o surgimento do neopaganismo que
reina na igreja pós-moderna.

2.1 – O Pentecostalismo

É denominado Pentecostalismo o movimento de reavivamento espiritual


experimentado por um conjunto de igrejas cristãs que a partir do século XX começaram
enfatizar o sentir da presença do Espírito Santo e a praticar a glossolalia (falar em
línguas estranhas).

Sobre a origem do Pentecostalismo, Tony Lane afirma:


“O nascimento do Pentecostalismo moderno tem sido traçado de um
reavivamento que começou em Topeka, Kansas no primeiro dia do
século vinte, 1º de janeiro de 1901. Pessoas falaram em línguas e isto
foi identificado como evidência do batismo no Espírito. O evento local
deveria tornar-se internacional através de um reavivamento semelhante
que manifestou-se em 1906 na Rua Azusa em Los Angeles e durou por
três anos. O movimento espalhou-se rapidamente pelo mundo” (LANE,
2007, p. 159).

Algum tempo depois, vários grupos semelhantes foram formados em muitos


lugares dos EUA, mas com o rápido crescimento do movimento, o nível de organização
também cresceu até o grupo denominar-se Missão da Fé Apostólica da Rua Azusa. A
partir desse movimento, houve um despertamento espiritual e nasceu um fervor
missionário por parte daqueles que iam sendo avivados.

Diferente do que ocorria na igreja católica, dominada pelo paganismo desde a


conversão de Constantino até os dias atuais, o Pentecostalismo, quando surgiu, se
manifestou de forma ferrenha contra todo o tipo de idolatria.

Com relação às igrejas reformadas, o que diferenciava o Pentecostalismo era a


crença e busca pelos dons espirituais baseada nos ensinamentos bíblicos. Ou seja, para
os pentecostais, os dons do Espírito Santo descritos na Bíblia não cessaram na época da
igreja primitiva, mas estão disponíveis ainda hoje para todo o cristão que crer e buscá-
los.

O Pentecostalismo chegou ao Brasil em 1908, com a vinda de missionários que


tinham sido avivados na América do Norte. O primeiro deles foi o presbiteriano Louis
Francescon, que dedicou seu trabalho entre as colônias italianas no Sul e Sudeste do
Brasil e resultou no nascimento da Congregação Cristã no Brasil. Logo depois,
chegaram os batistas Daniel Berg e Gunnar Vingren que vieram como missionários para
Belém, Pará e ali iniciaram a Igreja Assembléia de Deus, em 1911.

O Pentecostalismo brasileiro, apesar de ter se originado de um mesmo


movimento, não possuiu, desde sua gênese, um aspecto homogênio:

“O pentecostalismo brasileiro é formado por uma série de movimentos


em constante mudança. Seu desenvolvimento ocorreu na medida em
que seus adeptos começaram a propagar suporte bíblico às suas
experiências sensoriais. Ao mesmo tempo, interagiram com outros
pentecostais e com a sociedade dentro e fora de suas fronteiras
geográficas (BLEDSOE, 2012, p. 25).
Paul Freston, em sua obra Protestantismo no Brasil, ao analisar o
desenvolvimento do pentecostalismo no país divide-o em três grandes ondas. Essas
ondas correspondem a períodos históricos que demarcam a evolução do pentecostalismo
até o surgimento do neopentecostalismo.

Segundo Freston, a primeira onda se iniciou na década de 1910, com a chegada


da Congregação Cristã (1910) e a Igreja Assembléia de Deus (1911). Apesar de
surgirem algumas outras igrejas pentecostais nesse período, essas duas foram as mais
preponderantes. A segunda onda data dos anos 50 e início dos anos 60, quando houve
algumas fragmentações, surgindo dentre outras, três igrejas principais: Igreja do
Evangelho Quadrangular (1951), Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo (1955) e a
Igreja Deus é Amor (1962). A terceira onda, conhecida como Neopentecostalismo,
começa no final dos anos 70 e ganha força nos anos 80, sendo composta, por exemplo,
pelas igrejas: Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (1976), Igreja Universal do
Reino de Deus (1977), Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) e Igreja Renascer
em Cristo (1986).

Atualmente, a Igreja Assembléia de Deus é o maior grupo pentecostal e a maior


denominação evangélica no Brasil. Além disso, sob a liderança de muitos campos de
trabalho que se destacam em várias regiões do país, tem se espalhado por vários países
do mundo. Nos últimos anos, a Igreja Assembléia de Deus tem se valido de recursos de
mídia possuindo programas de rádio e de TV espalhados por todo o Brasil. Outro
aspecto importante é o fato da Igreja possuir grande representação no campo político,
possuindo vários membros no Congresso Nacional, Assembléias Legislativas e em
cargos municipais pelo país.

Vale salientar, que apesar de seu grande crescimento na atualidade, há uma


preocupação por parte de muitos assembleianos que têm compromisso com a Palavra
quanto ao perigo do crescimento apenas numérico da Igreja. Ou seja, em muitas Igrejas
Assembléia de Deus, líderes estão abrindo mão do genuíno ensino das Sagradas
Escrituras para se adequar ao gosto de pessoas que não querem ter compromisso com o
Evangelho de Cristo.

Inicialmente, o neopaganismo começou a ter influência nas igrejas protestantes


brasileiras a partir de algumas denominações pentecostais. O crescimento da Igreja é
algo positivo, porém, é preciso crescer em qualidade, e não apenas em quantidade de
pessoas. É interessante observar o título que Estevam Fernandes de Oliveira(2004)
atribui a uma de suas obras: “Conversão ou Adesão” . O autor traz uma reflexão sobre
como muitas pessoas têm apenas aderido a uma igreja evangélica, mas não têm se
convertido a Jesus Cristo. Muitos da atualidade vão a igreja, cantam, participam de
eventos, até pregam, mas não se convertem a Deus com sinceridade de coração. Sobre a
maneira que devemos nos converter, Jesus Cristo ensinou, em Mt. 18:3: “E disse: Em
verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de
modo algum entrareis no reino dos céus”.

Concomitante a essa influência do neopaganismo iniciada em algumas


denominações pentecostais, essa influência se manifestou de forma mais contundente a
partir do surgimento de uma ramificação do pentecostalismo, conhecida como
Neopentecostalismo.

2.2 - Neopentecostalismo

O neopentecostalismo, que surgiu em meados do século XX e continua se


expandindo até os dias atuais é marcado pelo crescimento das igrejas protestantes,
porém esse crescimento se caracteriza mais pelo número de fiéis do que em conversão
genuína ao Evangelho de Cristo. Ou seja, as igrejas estão cheias de pessoas, mas que em
muitos casos, estão vazias da presença de Deus e do caráter de Cristo.

Em meio a esse “crescimento” da igreja, podemos notar que o paganismo que


adentrou ao cristianismo no século IV agora se manifesta novamente buscando
demonstrar uma aparência de renovação espiritual, mas que trás em seu bojo um
conjunto de velhas práticas pagãs. De acordo com Krüger , “...no neopentecostalismo a
ênfase principal é a libertação”( KRÜGER, 2015, p.15). Porém, com essa premissa de
busca de libertação, segunda a autora, o que ocorre realmente nessas igrejas é a
admissão de elementos estranhos à Bíblia e uma grande abertura ao antropocentrismo.

Além desse grande crescimento experimentado pela igreja evangélica com o


advento do neopentecostalismo, tem ocorrido na também uma tendência ao
ecumenismo, conforme afirma Tony Lane:

“O século XX tem visto avanços em direção à unidade cristã. Tem


havido pouco para ver no modo das igrejas se fundirem, mas tem
havido uma mudança radical nas atitudes de diferentes igrejas umas
com as outras. Cada vez mais há um espírito de cooperação e amizade.
As igrejas na maioria, reconhecem que elas não possuem a verdade toda
e estão abertas a aprenderem umas com as outras. Até a Igreja Católica
Romana tem modificado significativamente suas reivindicações
anteriores de possuir a verdade toda. Os evangélicos estão divididos em
sua atitude com o movimento de unidade ecumênica, mas a maioria está
pronta para reconhecer os outros como cristãos iguais de quem eles
podem aprender” (LANE, 2007, p.192).

Sobre o surgimento do neopentecostalismo, assim sintetizou Paulo Romeiro:

Atribui-se a “paternidade” do movimento a Essek William Kenyon,


embora seu maior expoente seja provavelmente Kenneth Erwin Hagin,
alguém que se converteu a Cristo depois de ter sido três vezes levado
por ele em visita ao inferno. As constantes visões levaram-no à
afirmação de “novas verdades”, como a necessidade da iniciativa e da
agência humana no enfrentamento do demônio, diante da
impossibilidade de Jesus em intervir (ROMEIRO, 1993, p. 10, 14).

Portanto, para Paulo Romeiro, o neopentecostalismo é uma deturpação do


Evangelho, pois esse tenta trazer ao âmbito cristão novidades a cerca de doutrinas
básicas das Sagradas Escrituras.

O termo neopentecostalismo surgiu nos Estados Unidos, nos anos 70, para
designar o movimento de renovação carismática no meio protestante. Sobre a essa
terminologia Paulo Romeiro e André Zanini expressam:

“O termo neopentecostalismo pressupõe um novo pentecostalismo. É


uma nova roupagem que carrega, de certa forma, a essência pentecostal,
mas, por sua vez, não pode mais ser identificada com a matriz”
(ROMEIRO e ZANINI, 2009, p. 51).

Ainda sobre a terminologia neopentecostalismo, Estevam Fernandes de Oliveira


denota: “Embora seja para nós um termo ainda recente, ele vai ganhando cada vez mais a
simpatia dos pesquisadores e estudiosos do fenômeno do pentecostalismo” (OLIVEIRA, 2004,
p. 36).

Um dos aspectos principais que distingue as igrejas neopentecostais das


pentecostais está ligado diretamente à chamada teologia da prosperidade. Esta, por sua
vez, pode ser entendida como o movimento da Confissão Positiva. Em sua obra
“SuperCrentes”, Paulo Romeiro assim sintetiza a Confissão Positiva:

“Para a satisfação de alguns e espanto da maioria, o movimento


denominado Confissão Positiva tem se alastrado na comunidade
evangélica brasileira desde a última década do século passado. É
conhecido popularmente por vários nomes: ‘teologia da prosperidade’,
‘evangelho da saúde e da prosperidade’, ‘palavra da fé’ ou ainda
‘Movimento da fé’. Essa corrente doutrinária ensina que qualquer
sofrimento do cristão indica falta de fé... Seus líderes apregoam que os
seres humanos possuem natureza divina, que consultar médicos ou
tomar remédios é pouco recomendável para o cristão, que Jesus foi
milionário e que a soberania de Deus é limitada pela vontade humana”
(ROMEIRO, 2007, p. 19).

Além do aspecto teológico, o neopentecostalismo também difere do


pentecostalismo no que diz respeito aos costumes pentecostais, rompendo com quesitos
de vestuário, alimentação e lugares que podem ou não ser freqüentados.

De acordo com Gabriella Porto, no mundo todo, “existem aproximadamente


19.000 denominações ou grupos neopentecostais, com aproximadamente 295 milhões
de seguidores” (PORTO, 2014). Os princípios e práticas neopentecostais são
encontrados em muitas congregações independentes. A maioria das denominações
neopentecostais não possui lastro, ou seja, elas não são ligadas a nenhuma convenção;
são igrejas, muitas das vezes, fundadas por pessoas que se rebelaram de outras
denominações, pentecostais ou históricas.

O advento do neopentecostalismo trouxe para muitos evangélicos uma terceira


via no que concerne à organização eclesiástica. Na prática, muitas pessoas ansiavam
poder frequentar igrejas históricas ou pentecostais, mas esbarravam nos dogmas dessas
denominações. Alguns gostavam da aplicação ao estudo teológico e à liberdade de usos
e costumes, presente nas igrejas históricas, mas desejavam, que estas aceitassem a
manifestação dos dons espirituais, a realização de campanhas de cura e libertação, a
inserção de louvores com ritmos mais contemporâneos na liturgia, dentre outros. Já
outras pessoas gostavam do fervor espiritual e a manifestação dos dons do Espírito nos
cultos pentecostais, mas desejavam que essas igrejas fossem menos severas com relação
aos usos e costumes. Assim, as igrejas neopentecostais apareceram como opções para
essas pessoas.

Outra característica marcante em algumas igrejas neopentecostais é a prática do


evangelismo midiático massivo. A maior parte delas utiliza, ou até mesmo possuem,
canais de TV, rádios, jornais, editoras ou literaturas próprias e portais ou sites,
participando, inclusive, de atividades comerciais como a venda de TVs por assinatura
ou produtos da ideologia eclesiástica que suportam a corrente neopentecostal.

Além dos altos investimentos em mídia, muitas igrejas neopentecostais têm a


preocupação de alcançar todos os tipos de pessoas, inclusive aquelas que não teriam
nenhum interesse de frequentar uma igreja. Para chegar até essas pessoas, algumas
dessas denominações investem em estrutura e equipamentos que possam tornar a casa
de Deus algo mais atrativo. Esse tipo de estratégia é mais comum nos Estados Unidos,
onde surgiu um movimento denominado, segundo T. A. McMahon, de “Igreja ao gosto
do freguês”. As principais igrejas precursoras desse movimento são: Willow
Creek Community Church (perto de Chicago), pastoreada por Bill Hybels, e Saddleback
Valley Church (ao sul de Los Angeles), pastoreada por Rick Warren. Segundo
McMahon, essas igrejas realizam pesquisas com os não evangélicos, chamados de
“desigrejados” ou “João e Maria desigrejados”, para ver o que poderiam oferecer a essas
pessoas a fim de atraí-las à igreja. Sobre esse assunto, assim afirma o escritor:

“O movimento chamado "igreja ao gosto do freguês" está invadindo


muitas denominações evangélicas, propondo evangelizar através da
aplicação das últimas técnicas de marketing... questiona os que não
freqüentam quaisquer igrejas sobre o tipo de atração que os motivaria a
assistir às reuniões. Os resultados do questionário mostram as mudanças
que poderiam ser feitas nos cultos e em outros programas para atrair os
"desigrejados", mantê-los na igreja e ganhá-los para Cristo. Os que
desenvolvem esse método garantem o crescimento das igrejas que
seguirem cuidadosamente suas diretrizes aprovadas. Praticamente
falando, dá certo!” (MCMAHON, 2005).

Assim, segundo McMahon, com esse intuito de chamar a atenção de todos os


públicos para suas igrejas os templos dessas denominações se tornam mega complexos
de lazer e variedades:

Megaigrejas através dos EUA adicionam salas de boliche, quadras de


basquete, salões de ginástica e sauna, espaços para guardar
equipamentos, auditórios para concertos e produções teatrais, franquias
do McDonalds, tudo para o progresso do Evangelho. Pelo menos é o
que dizem. Ainda que algumas igrejas estejam lotadas, sua freqüência
não é o único elemento que avaliamos ao analisar essa última moda de
"fazer igreja"” (MCMAHON, 2005).
De acordo com os líderes das igrejas adeptas desse movimento, o alvo deles é
alcançar os perdidos, o que seria até louvável, mas os métodos usados para alcançar esse
alvo não são tão dignos de louvor assim. Ou seja, tendo o marketing como estratégia, as
pessoas são tratadas não como portadoras de almas carentes de Deus, mas como
consumidoras e o Evangelho, como um simples produto a ser consumido. Esse método
nega completamente o propósito do Evangelho de Cristo, que é buscar a salvação do
perdido por meio da graça (favor imerecido) que, conforme afirma o apóstolo Paulo, em
Filipenses 4:8, “...é dom de Deus”. Então, se a graça vem de Deus, o que meros seres
humanos podem oferecer em prol da salvação de alguém? Nada. A nosso ver, o atrativo
dessas igrejas não é a pessoa de Cristo e seu maravilhoso Evangelho, mas o
entretenimento que podem proporcionar aos seus “consumidores”.

Diante dessa perspectiva mercantilista do evangelho, T. A. McMahon ainda


sentencia:

“... o Evangelho, e mais significativamente a pessoa de Jesus Cristo, não


cabem em nenhuma estratégia de mercado. Não são produtos a serem
vendidos. Não podem ser modificados ou adaptados para satisfazer as
necessidades de nossa sociedade consumista. Qualquer tentativa nessa
direção compromete de algum modo a verdade sobre quem é Cristo e do
que Ele fez por nós. Por exemplo, se os perdidos são considerados
consumidores, e um mandamento básico de marketing diz que o freguês
sempre tem razão, então qualquer coisa que ofenda os perdidos deve ser
deixada de lado, modificada ou apresentada como sem importância”
(MCMAHON, 2005).

Sobre essa visão que coloca o cristão como cliente e a igreja como um mercado,
Luiz Sayão afirma:

“Em alguns casos, há aqueles que costumam frequentar diversas igrejas.


Numa “consomem” a boa mensagem do culto. Noutra “compram” o
louvor mais “animado”, e ainda numa terceira “desfrutam” da escola
bíblica para adquirir mais informações. Tais pessoas não se veem como
servos que devem doar-se para o Reino. Querem apenas ser agradadas.
Não enxergam o conceito de corpo, de coletividade; não podem ver que
a obra de Deus é sustentada pelo esforço de todos”(SAYÃO, 2013).

Além dessas nuances apresentadas sobre o neopentecostalismo, muitas outras


práticas ditas cristãs ferem vários princípios bíblicos. No Brasil, a realidade do
neopentecostalismo não é diferente dos demais países cristãos, sendo que existe uma
gama enorme de denominações com práticas ditas cristãs, das mais diversas.

Lamentavelmente, em nosso país, de forma genérica, o protestantismo tem


vivenciado uma época de grande pobreza espiritual e pouco embasamento teológico. É
comum o surgimento de igrejas e movimentos que expõe constantemente o Evangelho
de Cristo a escândalos. No decorrer da história do cristianismo, nunca se viu um
momento tão ambíguo quanto esse no qual estamos inseridos. Ou seja, ao mesmo tempo
em que o número de fiéis e igrejas aumenta espantosamente, o número de pessoas
realmente engajadas no trabalho genuíno no Reino Deus e com um caráter
verdadeiramente cristão é cada vez menor.

Dentre as centenas de igrejas neopentecostais que existem no Brasil, podemos


citar: a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de Deus, a
Igreja Renascer em Cristo, a Igreja Batista Nacional, a Igreja Videira, a Igreja Fonte da
Vida de Adoração, a Igreja Mundial do Poder de Deus, a Comunidade Evangélica Sara
Nossa Terra, o Ministério Nova Jerusalém, a Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, O
Ministério Ouvir e Crer, o Ministério Internacional da Restauração, dentre outros.

Essas igrejas fazem parte ou se aproximam do Protestantismo Apostólico, que


aceitam apóstolos, bispos e pastores ou missionários presidentes que norteiam o rumo
de suas igrejas no País e pelo mundo. 

O contexto evangélico brasileiro atual é tão crítico, espiritualmente falando, que


assim sintetizou Warrem Wiersbe em seu artigo Crise de Integridade, “Não nos
envergonhamos do Evangelho, talvez, o Evangelho esteja envergonhado de nós”
(WIERSBE, 2013, p. 2).

De forma contrastante à tendência ao ecumenismo entre as religiões no Brasil, o


protestantismo brasileiro apresenta em seu seio uma grande diversidade. Sobre esse
aspecto Paul Freston afirmou em sua tese de doutorado:

“O divisionismo protestante no Brasil iniciou-se com os missionários,


fincou o pé na tradição brasileira de catolicismo leigo e terreiros
concorrentes, e alimenta-se agora da enorme expansão de um público
religioso flutuante” (FRESTON, 1993, p. 36).
Ou seja, apesar de observarmos, em termos gerais, uma maior proximidade entre
algumas religiões e seus líderes, dentro da própria igreja evangélica brasileira há uma
diferença enorme de convicções doutrinárias. E um grande problema que se pode ver na
atualidade é o surgimento cada vez maior de igrejas que não possuem nenhum lastro
teológico-doutrinário. Muitos líderes criam ministérios pelas mais diversas razões,
como obter status, interesse financeiro, sede de poder, incapacidade de submissão,
dentre outras. Um sem número de líderes não estão preocupados com a pregação do
Evangelho genuíno, com salvação das almas, ou com a transformação de vidas, mas
têm, como fulcro principal, apenas a prosperidade nessa terra. Parece que não se
importam com o que Paulo disse: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os
mais miseráveis de todos os homens” (I Co. 15:19).
3. A IGREJA PÓS-MODERNA E OS RITUAIS PAGÃOS EM SUAS
LITURGIAS

Um grande problema com relação a essas práticas religiosas neopagãs é que elas
não se limitam às igrejas pós-modernas, mas também têm influenciado até mesmo
algumas igrejas solidificadas. Sobre esse aspecto, assim salientou Augustus Nicodemus:
“Até mesmo os cultos das igrejas históricas no Brasil têm sido influenciados na
admissão de elementos estranhos à Bíblia, cultivando um culto antropocêntrico”
(LOPES, 2011, p. 109).

Em vez dos cristãos adeptos da igreja pós-moderna seguirem os ensinamentos


bíblicos, preferem a busca de novidades e, segundo Peter Jones, dão ênfase a “...
teologias da libertação de todos os tipos, que tomam a experiência como revelação
divina” (JONES, 1998, p. 146).

E com essa influência, aparecem crentes com fitinhas no braço, com medalhas
de símbolos bíblicos, ungindo portas e janelas com azeite, colocando sal ao redor da
casa para impedir a entrada de maus espíritos; outros bebem copos de água abençoada,
usam óleos consagrados em Jerusalém, guardam gravetos que misteriosamente
aparecem brilhando nos montes, ungem roupas para libertar as pessoas e etc.

Cabe ressaltar que não temos o interesse, em nosso trabalho, de denegrir a


imagem ou nome de nenhuma denominação ou generalizar as práticas aqui
mencionadas, mas estabelecer uma reflexão teológica dos fatos que ocorrem em
algumas dessas igrejas. Portanto, para uma questão de análise da situação atual da igreja
pós-moderna, citaremos fatos reais que ocorrem dentro de algumas igrejas
neopentecostais com o escopo de confrontá-los à luz da Bíblia Sagrada e da Teologia,
sempre citando fontes de forma científica.

A igreja evangélica brasileira, de um modo geral, vive um momento de grandes


transformações em sua essência. Essas transformações vão desde aspectos litúrgicos
inovadores a mudanças de caráter doutrinário. Essas transformações refletem em todo o
cristianismo, de forma geral, e em particular nas igrejas neopentecostais.

Dentre as principais práticas neopagãs presentes nas igrejas cristãs pós-modernas


podemos citar: a venda de bênçãos; O Marketing Evangélico; o uso de imagens e
símbolos na liturgia; o culto a personalidades: líderes, apóstolos, pastores, bispos,
cantores e outros; escândalos de líderes; e bizarrices presentes em algumas igrejas
evangélicas atuais.

3.1 - A venda de bênçãos

Um problema sério enfrentado pela igreja cristã na atualidade é o apego ao


materialismo. Esse materialismo pode ser entendido como uma forma de pensar,
segundo a qual as coisas espirituais são tidas como distantes, abstratas, difusas e sem
embasamento, e as coisas materiais são concretas e, portanto, dignas de fidúcia. Porém,
se observarmos a Bíblia temos um ensino diferente, ou seja, o mundo espiritual é real e
mais importante que o temporal, visto que é eterno. Quando escreveu aos irmãos de
Corinto, o apóstolo Paulo advertiu: "Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas
nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são
eternas" (2 Co 4.18).

É notório, que a maior parte das pessoas hoje dedica suas vidas em busca de
coisas terrenas e apegam-se tanto a isso como se essas coisas fossem eternas. No
entanto, as Escrituras Sagradas advertem, em várias referências, e quem tem visão
espiritual também consegue entender, que as coisas vão fenecendo a cada instante na
terra e a maioria dos seres humanos não o percebem porque estão presos na mesma
dimensão e acompanhando a velocidade com que essas coisas acontecem.

Como conseqüência disso, muitas pessoas, ao alcançarem uma idade mais


avançada, lamentam pelo tempo precioso que perderam na busca frenética por coisas
efêmeras e que poderia ter sido usado na busca por coisas realmente necessárias, como a
amizade e os bons relacionamentos. Com relação às coisas espirituais não é diferente,
infelizmente inúmeras pessoas só perceberão que desperdiçaram suas vidas com coisas
terrenas e deixaram de “acumular tesouro nos céus” quando estiverem diante do juízo
de Deus e não for mais possível corrigir suas atitudes.

O mais grave em relação a esse apego materialista é quando cristãos,


influenciados por líderes gananciosos, gastam suas vidas atrás de promessas de
receberem tesouros desse mundo em detrimento da busca pelo Reino dos Céus. Esses
cristãos não observam os ensinamentos de Cristo, como o que está escrito em Mateus
capítulo 6, versículo 33: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas”. Infelizmente, observando as práticas litúrgicas
da igreja pós-moderna, vivemos numa época em que existe um retorno a práticas que
são características de religiões pagãs. Uma dessas práticas é a venda de bênçãos e a
busca incessante por bens materiais.

O neopaganismo evangélico recorrente nas igrejas pós-modernas apresenta,


como uma de suas facetas, uma forma nova de fazer o que os cristãos católicos faziam
na Idade Média, a saber, o uso de bens materiais para tentar usufruir de coisas
espirituais. Naquele tempo muitos líderes da Igreja Católica comercializavam as
relíquias “sagradas” e a própria salvação com os fiéis. Se um católico fosse abastado,
por exemplo, ele poderia usar sua riqueza para tirar um familiar do purgatório
contribuindo com as finanças para a Santa Madre Igreja. Na atualidade, de forma bem
parecida, muitas igrejas evangélicas têm oferecido as bênçãos de Deus aos fiéis em
troca de generosas doações.

Na época da Idade Média, muitas pessoas faziam o comércio de relíquias,


consideradas sagradas pelos católicos. Aliás, a questão do dinheiro é algo presente no
Cristianismo desde os seus primórdios. Sobre essa questão, Leonildo Campos
expressou:

“O Cristianismo surgiu numa sociedade já habituada à


‘comercialização’ do sagrado, porque, no primeiro século de nossa era,
em muitos santuários religiosos de tradição asiático-greco-romana
praticava-se um intenso comércio ao redor do espaço sagrado”
(CAMPOS, 2000, p. 167).

Sobre a comercialização de coisas sagradas, o próprio Cristo rebateu


veementemente o comércio que era realizado no templo, em Jerusalém:

“E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e


compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras
dos que vendiam pombas; e disse-lhes: Está escrito: A minha casa será
chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de
ladrões” (Mt. 21:12,13).

A atitude de Jesus, para alguns até muito ríspida, mostrou o quanto o Senhor tem
um zelo especial pela sua obra. Mostrou também que Jesus abomina as práticas
daqueles que procuram fazer comércio das coisas sagradas.
Segundo Paulo Romeiro e André Zanini, na época do ministério de Cristo, o
templo:

“... era controlado por uma casta sacerdotal que ali desenvolvia um
comércio regular de animais destinados ao sacrifício e cambiava
moedas trazidas por judeus de todo o Império Romano, proibidas de
circularem na área do templo. Como não havia um padrão único de
moedas, exigia-se a presença do cambista, cuja função era trocar
dinheiro do peregrino pela ‘moeda do templo’, condição para a
aceitação das ofertas. Isso, obviamente, era feito em condições
vantajosas para os sacerdotes”(ROMEIRO e ZANINI, 2009, p. 65).

Esse episódio gerou um grande conflito entre Jesus e os sacerdotes, que


recebiam muito dinheiro dos cambistas. De forma bem parecida com o que ocorre hoje
em muitos templos neopentecostais, naquela época, havia muitos sacerdotes
preocupados com as coisas terrenas. Como Jesus Cristo sempre teve o foco na salvação
das almas o ódio dos sacerdotes do século I para com o nosso Senhor só aumentava,
tendo seu ápice na crucificação do Mestre.

Infelizmente, apesar dos líderes neopagãos de hoje dizerem conhecer a Bíblia,


quando o assunto é dinheiro eles preferem dar ouvidos à sua própria ganância e se
propõem a negociar as coisas de Deus. A lógica predominante em grande parte das
igrejas pós-modernas é a seguinte, quanto mais o fiel contribui financeiramente, mais
ele é abençoado. Os líderes e seus seguidores se esquecem que não podemos dar nada a
Deus, pois tudo lhe pertence: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles
que nele habitam”(Sl. 24:1). Quando o cristão devolve o dízimo ou faz qualquer
contribuição financeira à igreja, ele deve fazê-lo por gratidão, reconhecendo que tudo o
que ele possui já é de Deus. Portanto, não se deve contribuir em troca de bênçãos.

O neopentecostalismo representa a concretização dos anseios de muitos cristãos


que estão mais preocupados com as coisas terrenas do que com o Reino de Deus. Sob a
égide da Teologia da Prosperidade, que está presente em grande parte das igrejas
neopentecostais, o neopaganismo tem se alastrado no meio evangélico nesse século.

“O neopentecostalismo, que utiliza a Teologia da Prosperidade, chama


atenção por seu rápido desenvolvimento, sobretudo em países como o
Brasil. É um movimento religioso que reflete os desejos mais
materialistas da sociedade” (OLIVEIRA, 2011).

A “Faith Prosperity Doctrines” (Teologia da Prosperidade), criada nos EUA,


legitima o ideário do sistema capitalista, fazendo com que os trabalhadores seguidores
desta doutrina não percebam a desigualdade social, associando a riqueza ao mérito e a
pobreza à falta de fé.
Um dos grandes expoentes da Teologia da Prosperidade foi Kenneth Hagin. Esse
pregador afirmou:
“Se Jesus estivesse em carne hoje, teria um Cadillac. O equivalente ao
Cadillac na época de Jesus seria o jumentinho no qual ele montou e
entrou em Jerusalém” (HAGIN, 2000, p. 48).

Essa concepção errônea da prosperidade faz com que muitos fiéis vivam uma
vida frustrada quando não conseguem atingir o patamar social que almejam e acabam
deixando a igreja. Fazem isso por não terem uma fé firmada em Cristo, mas apenas no
desejo de receber bênçãos materiais.
É comum, em muitas igrejas neopentecostais brasileiras, pessoas doarem para a
igreja, em momentos de emoção promovidos por pastores especialistas em comover as
pessoas, dinheiro, joias, carros, fazendas e até mesmo suas próprias moradias. E não
raras vezes, depois de passado o momento de frenesi dessas reuniões, alguns membros
se arrependem e tentam reaver os bens doados, mas sem sucesso. Esses episódios
acabam por gerar uma imagem negativa para a igreja evangélica como um todo, pois as
pessoas generalizam tais situações, o que dificulta ainda mais a pregação do Evangelho.
Vale salientar que, apesar de muitos apologetas cristãos da atualidade,
principalmente os das igrejas históricas, colocarem num mesmo bojo os pentecostais e
os neopentecostais, há diferenças enormes. A principal dessas diferenças é que o foco
do pentecostalismo é a evangelização e a consequente salvação das almas através da
ação do Espírito Santo. O neopentecostalismo, por sua vez, enfoca, dentre outros
aspectos, a busca do bem estar de seus fiéis enquanto estão aqui na terra, principalmente
através da Teologia da Prosperidade. Sobre esse assunto, escreveu Ciro Sanches
Zibordi:
“Aleluia! A despeito de haver alguns críticos que, por falta de
conhecimento, põem os pentecostais e os neopentecostais místicos no
mesmo bojo, louvo a Deus por ser um pentecostal que ama a Palavra de
Deus! Mesmo pobre, financeiramente, graças a Deus continuo crendo
na atualidade da multiforme manifestação do Espírito Santo na igreja,
sem abrir mão do primado das Escrituras e da mensagem da cruz!”
(ZIBORDI, 2010).

Muitos pastores da igreja pós-moderna pregam, equivocadamente, que os


dízimos e ofertas são critérios para a pessoa receber a salvação eterna. Porém, a Bíblia
ensina algo diferente em Efésios 2:8: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e
isto não vem de vós, é dom de Deus”. Ou seja, a salvação não nos é dada por nossos
méritos, como dar esmolas, ofertar ou fazer qualquer outra coisa. O cristão deve ser
dizimista e ofertante não para ser salvo, mas por que já é salvo e, portanto, é grato a
Deus por todos os benefícios que Ele lhe concede.
Muitas igrejas neopentecostais, têm priorizado as soluções pragmáticas para
problemas imediatos em detrimento das coisas eternas. Há uma grande preocupação
com relação ao bem estar do crente enquanto ele está aqui na terra e pouca, ou quase
nenhuma, preocupação com a salvação da alma e a conseqüente vida eterna. A Bíblia
nos auxilia a entendermos as coisas de Deus e compreendermos que Jesus está conosco
nos ajudando a vencer as lutas que passamos enquanto estamos aqui na terra. “A Bíblia
não oferece um caminho para fugir das duras realidades da vida diária” (DRANE,
2001, p. 199). Pelo contrário, a Bíblia serve como manual para termos sucesso em
nossas batalhas através das experiências vivenciadas pelos personagens nela descritos.
Conforme Frank Viola, “A oferta na primitiva igreja era voluntária ” (VIOLA,
2008 p. 102). No entanto, nos dias atuais, em muitas igrejas evangélicas, é comum
vermos a realização de campanhas de arrecadação financeira nas quais os fiéis são
ameaçados, amaldiçoados e até mesmo expulsos da comunhão com os irmãos caso não
contribuam.
Há muitos líderes cristãos neopagãos que reiteradamente defendem e praticam,
de forma disfarçada, o velho paganismo. Eles falam de Deus como se Ele fosse um ser
iracundo sedento de sacrifícios e pronto pra castigar quem não ofertar para a “obra”.
Esses líderes não pregam a graça, pelo contrário, procuram barganhar as coisas
espirituais em troca de dinheiro.
Assim, é comum encontrar pastores, bispos, apóstolos, missionários, e outros
supostos líderes espirituais que estão arrancando a pele das ovelhas. Usando de
artifícios com as desculpas de livramentos e bênçãos do Senhor, há igrejas que criam
campanhas, e mais campanhas, e que para as pessoas participarem têm que pegar um
envelope e trazer uma quantia determinada. Tem alguns que chegam ao absurdo de
cobrar não mais os dízimos, mas o trízimo, dez por cento para o Pai, dez por cento para
o filho e dez por cento para o Espírito Santo. Há todo tipo de misticismo disfarçado,
como as fogueiras santas, onde pedem um sacrifício, ou seja, o seu maior valor sua
economia, seu carro, sua casa, sua poupança, o famoso desafio e tantos outros meios
fraudulentos de arrancar a pele e comer a carne das ovelhas, pois usam o nome de Deus,
mas enganam o povo a todo o instante. Sabemos, portanto, que Deus não cobra nenhum
valor para abençoar alguém, pois, como já mencionamos anteriormente, Ele já é dono
de tudo.
Atualmente tem ocorrido, em muitas igrejas evangélicas, uma inversão de
valores bíblicos como, por exemplo, o expresso pelas palavras de Jesus em João 16:33,
de que no mundo teremos aflições, já não é pregado por muitos pastores. Pelo contrário,
vários líderes neopentecostais têm ensinado que o sofrimento não é algo que o crente
possa experimentar. Ou seja, se alguém é de Deus, essa pessoa deve ser próspera,
financeiramente falando, pois caso contrário, Deus não está na vida de tal pessoa.
Em sua biografia, escrita por Douglas Tavoralo, Edir Macedo, líder e fundador
da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), insiste em dizer que: “Deus deve
trabalhar para o indivíduo” (TAVORALO, 2007, p. 132). Com essa afirmação, ele quer
dizer que Deus deve produzir resultados imediatos às necessidades imediatas
apresentadas pelo ser humano. “As fórmulas espirituais prescritas pelos pastores e
bispos colocam o Senhor em uma situação onde não existe opção a não ser responder”
(BLEDSOE, 2012, p. 101).
Em uma de suas obras, o Bispo Macedo reitera:

“Não perca a oportunidade de ser sócio de Deus. Coloque-se a sua


disposição com tudo o que você tem e comece a participar de tudo o que
Deus tem também” (MACEDO, 2000, p. 60).

Como se pode inferir dessa afirmação, a IURD espiritualiza o dinheiro e o


confunde com a presença da divindade na vida da pessoa. Constantemente, os fiéis são
desafiados a fazerem uma espécie de sociedade com Deus tendo o intuito de serem
abençoados, materialmente falando.
Pastores da IURD disponibilizam também, para seus fiéis, um contrato de
compra de terreno no céu. Há um vídeo na internet (disponível no endereço eletrônico:
https://www.youtube.com/watch?v=2a3PRUDo2hI), no qual o pastor incentiva os
irmãos a fazerem esse contrato com Deus para garantirem um pedaço de terra no céu.
Inclusive, no vídeo, gravado em uma de suas igrejas, setenta pastores vão autenticando
com a “marca do sangue de Cristo” os contratos, que são exibidos como troféus pelos
fiéis. Sobre esse assunto, o pastor Marco Aurélio Carvalho expressa:

“Comprar terreno no céu só pode ser brincadeira. E mesmo que fosse


verdade, quem deu essa autoridade a eles?... Você não precisa comprar
nada e nem pagar, Jesus providenciou a graça. Por isso se chama graça.
Não existe nada nesse mundo além do sacrifício libertador de Nosso
Senhor Jesus Cristo que já não tenha sido feito e foi o único aceito por
Deus” (CARVALHO, 2015).

É notável que o foco principal de muitos líderes evangélicos pós-modernos é a


arrecadação de dinheiro. Não se tem, por parte de muitos sacerdotes da IURD, a
humildade de suplicar a Deus por uma determinada benção, antes preferem determinar
que Deus conceda o benefício que a pessoa necessita. Ao dar instrução aos seus pastores
sobre como aumentar as arrecadações, Edir Macedo orienta:

“Se você quiser ajudar, amém. Se não quiser, Deus vai me dar outra
pessoa para ajudar. Amém! Entendeu como é ? Se quiser, bem, se não
quiser, que se dane. Ou dá, ou desce” (MACHADO, 2006, p. 91).

Outro equívoco que pode ser notado em reuniões da IURD é o fato de se atribuir
preeminência à pessoa que recebe algum tipo de milagre da parte de Deus. Um exemplo
disso foi um fato exibido na TV Record/GO no dia 07/02/15 por volta das 14:30 h,
dentro do telejornal Balanço Geral. Na ocasião, quando fiéis dessa denominação, após
testemunharem a cerca de bênçãos recebidas na igreja, eram saudados pelo bispo, que
dizia a seguinte frase: “Parabéns. A sua fé te curou”. Como se a pessoa tivesse algum
mérito por ter recebido o milagre (não questiono aqui se os milagres de fato ocorreram).
Quem cura é Jesus e, mesmo que a pessoa tenha fé, se a realização do pedido não for da
vontade de Deus, um milagre não se realizará. Portanto, esse tipo de saudação citada
não convém, pois à luz da Palavra de Deus, se alguém é curado, ou recebe qualquer
outra benção, isso se dá pela infinita misericórdia de Deus. Então todo o louvor e toda a
honra devem ser dados a Deus, que operou o milagre. E inclusive, se a pessoa teve fé
para recebê-lo, essa própria fé também vem de Deus, conforme endossa o apóstolo
Paulo em Efésios 2:8c : “fé... é dom de Deus”.
Os variados tipos de campanhas realizadas com o escopo de arrecadação de
dinheiro, pela IURD, só reforçam o que muitos pastores e escritores ortodoxos falam ou
escrevem sobre o neopentecostalismo, de um modo geral. Para o Dr. Augustus
Nicodemus, o neopentecostalismo:

“...é um movimento de massas, levado avante no grito, na centralização


do poder nas mãos de pseudo-bispos e apóstolos que manipulam as
massas usando a Bíblia como pretexto para recolher milhões e milhões
de reais” (NICODEMUS, 2011).

Um outro líder de destaque no cenário evangélico nacional é o fundador da


Igreja Internacional da Graça de Deus, pastor R.R. Soares. Para esse líder, o crente
precisa usar corretamente sua fé que, em sua concepção, o cristão precisa apenas
determinar e Deus concede a benção: “Não precisamos pedir mais. Só determinar,
exigir, ou seja: Tomar posse da benção” (SOARES, 1990, p. 22).
Líderes neopentecostais de outras denominações também agem de forma
análoga com relação à conquista de bens materiais.
Para o escritor Paulo Romeiro:

“De fato, muita coisa mudou. Os bens materiais já não são inimigos da
fé a ser combatidos, mas grandes aliados na busca da felicidade e do
sucesso. A preocupação com o céu, com a vida após a morte e com o
retorno de Cristo arrefeceu sensivelmente, dando lugar à busca das
bênçãos financeiras e da solução de problemas e conflitos. Renunciar ao
mundo tornou-se tarefa mais amena, o que levou a classe média a
aderir, em grande escala, ao movimento neopentecostal” (ROMEIRO,
2005, p. 76).
Portanto, existe um número enorme de pastores, bispos, apóstolos e outras
lideranças neopagãs que, mesmo dizendo serem conhecedores da Bíblia, têm comido
toda a gordura e tosado até a última lã de suas ovelhas. Para esses, a Palavra de Deus
afirma em Miquéias capítulo 3, versículos 2, 3 e 4:

“A vós que odiais o bem, e amais o mal, que arrancais a pele de cima
deles, e a carne de cima dos seus ossos; E que comeis a carne do meu
povo, e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis
como para a panela e como carne dentro do caldeirão. Então clamarão
ao Senhor, mas não os ouvirá; antes esconderá deles a sua face naquele
tempo, visto que eles fizeram mal nas suas obras”.

Que Deus tenha misericórdia dos fiéis que são explorados por esses pastores que
não estão preocupados com a salvação da alma do homem, mas em se enriquecerem
cada vez mais. Que Deus liberte esses pastores que espiritualmente estão cegos pela
ganância e precisam de um encontro genuíno com Cristo.

3.2 - O Marketing Evangélico

Segundo o Dicionário Online Priberam da Língua Portuguesa, “Marketing


(MKT), ou Mercadologia, são atividades comerciais que trabalham com a investigação
dos desejos psicológicos dos consumidores, a fim de adaptar o produto às suas
necessidades”. Como o neopaganismo praticado pelos líderes das igrejas cristãs da pós-
modernidade coloca os fiéis como clientes, há a necessidade de se investir em
marketing.
Com essa mentalidade de atender a uma clientela, a satisfação dos fiéis é algo
muito perseguido pelos líderes cristãos neopagãos. Dessa forma, esses líderes investem
muitos recursos de dízimos e ofertas em propaganda. Essa propaganda é veiculada por
diversos meios, como TV, rádio, jornal, internet e outros.
Cônscios de que a propaganda é essencial para o bem dos negócios, muitos
pastores das igrejas pós-modernas têm se profissionalizado para saber “vender” o seu
“produto”. Podemos ver nisso a similaridade com o que o apóstolo Paulo chamou de
“outro evangelho” (Gl. 1:8).
Frank Viola é categórico ao falar desse profissionalismo que impera nos pastores
dessas igrejas neopagãs: “Um pastor do século I nada tem a ver com o sentido
especializado e profissional que veio a ter na moderna cristandade” (VIOLA, 2008, p.
65).
Nas igrejas pós-modernas, é muito comum o uso maciço de mecanismos
midiáticos e de técnicas de marketing com o intuito de inchar as igrejas. Existem
pessoas que se tornaram profissionais do púlpito. São líderes que fazem cursos de
oratória e que se valem de técnicas de marketing empresarial na busca pelo
“crescimento do Reino”.
A maior ligação entre o espírito empresarial e a organização religiosa propiciou
a adoção de novas práticas, como estratégias de comunicação através da compra de
emissoras de televisão e rádio, a adesão de sistemas de franquia, uma maior ligação
entre a política e a igreja, dentre outras. “O uso da televisão, rádio e internet é comum
nas organizações neopentecostais” (ROMEIRO e ZANINI, 2009, p. 69). Cada vez mais
um grande número de igrejas evangélicas estão se assemelhando a empresas, onde o
foco principal não é a salvação das almas perdidas, mas sim o enriquecimento, a fama e
o poder.
Como exemplo do investimento gigantesco em mídia por parte das organizações
religiosas evangélicas no Brasil podemos citar o Jornal Folha Universal. A tiragem
semanal desse jornal é 2,3 milhões de exemplares (TAVORALO, 2007, p. 238). O
jornal é distribuído para todos que entram nos templos da IURD, e também para
vizinhos e pedestres que passam nas portas das igrejas. O conteúdo do jornal é mesclado
com informações e acontecimentos nacionais e internacionais da atualidade, bem como
apresenta testemunhos, pregações e mensagens pastorais de Macedo e outros líderes da
igreja. “A FU também representa um veículo para defender a organização da IURD e
as ações de seus líderes sempre que qualquer em deles for atacado” (FONSECA, 2003,
p. 260).
Outro exemplo de investimento pesado em mídia foi a aquisição, por parte da
Igreja Universal, na década de noventa, da TV Record. Com certeza, a compra da TV
Record fez da Igreja Universal, a mais conhecida denominação neopentecostal do País.
A TV ainda é um dos principais meios de comunicação do Brasil.“Percebendo esta
verdade, a Igreja Universal do Reino de Deus deu um grande passo, tornando-se uma
das principais igrejas no Brasil depois que comprou a Rede Record” (ROMEIRO e
ZANINI, 2009, p. 72).
Para manter seus programas de televisão, as igrejas neopentecostais apelam para
a boa vontade dos fiéis em ofertarem. A maioria dos líderes neopentecostais que estão
presentes na TV, utilizam grande parte do tempo de seus programas para pedirem aos
telespectadores que se tornem participantes, mantenedores do trabalho de evangelismo
que realizam. Esses líderes celebram cultos em seus templos que são voltados, na
realidade, mais para os que estão em casa acompanhando pela televisão, do que para os
que estão no templo, onde o culto é realizado.
Há, na atualidade, em muitas igrejas neopentecostais, o costume de enaltecer,
através da mídia, o nome da igreja com relação aos milagres que nelas são realizados.
Os líderes dessas igrejas fazem questão de mencionar que o milagre recebido pelo fiel
foi recebido na igreja fulana de tal.
Para promover a imagem de suas denominações, muitos líderes tem se esforçado
e, em muitas ocasiões, imposto pesados fardos nos ombros de seus fiéis, para construir
templos suntuosos que servem para demonstrar o poderio de tais denominações. Um
exemplo bastante comentado na atualidade foi o caso da construção do Templo de
Salomão, por parte da IURD. Foram gastos milhões de reais para construir uma obra tão
suntuosa que para participar das reuniões, os visitantes precisam pagar uma quantia de
dinheiro para entrar. A IURD tem investido maciçamente no marketing sobre esse
Templo, atraindo, com isso, pessoas de todo o mundo para visitá-lo. O grande problema
com relação a toda essa mídia voltada para o Templo é o perigo de se idolatrar o templo,
em vez de dar toda a Glória a Deus, semelhante ao que ocorreu com alguns discípulos
na época do Templo de Herodes, conforme está escrito em Marcos 13:2:

“E, saindo ele do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha
que pedras, e que edifícios! E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes
grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja
derrubada”.

Para Frank, Viola, esses grandes templos são um desperdício de recursos. “Os
cristãos modernos estão desperdiçando uma enorme quantidade de dinheiro com
edifícios desnecessários” (VIOLA, 2008, p. 65).
Um líder neopentecostal que também se destaca no cenário do marketing gospel
brasileiro é o Apóstolo Valdemiro Santiago. Ele é o presidente da Igreja Mundial do
Poder de Deus e também apresenta um grande carisma para atrair a atenção das pessoas.

“Valdemiro Santiago não foge desta lógica ao usar o slogan bastante


conhecido pelos que acompanham seus programas: ‘Vem pra cá,
Brasil’. Ele disse que, atualmente, a Igreja Mundial do Poder de Deus
paga mais de 13 milhões de reais por mês para exibir seus programas no
Brasil e em alguns países ao redor do mundo, incluindo África e
Europa. E acrescentou: ‘À medida que eu for provando pra vocês que
Deus me ouve, você vai ver que pode até pagar um desses programas
para a igreja... Até meus CDs são para a obra. A moça da gravadora
disse que estão preparando o disco de diamante para me dar! Significa
mais de 500 mil cópias vendidas. Mas esse dinheiro não é para mim, é
para pagar os programas que abençoam vocês” (ROMEIRO e ZANINI,
2009, p. 73-74).

É comum ver esse apóstolo em canais de TV chorando, de forma bem apelativa,


ao pedir que os fiéis depositem dinheiro para ajudar a manter seus programas
televisivos. São milhões de reais que os irmãos enviam sempre na perspectiva de dar o
dinheiro em troca de alguma benção divina.

Se os cristãos freqüentadores dessas igrejas neopagãs examinassem melhor as


Escrituras Sagradas deixariam de ser presas fáceis de tantos líderes charlatões que se
utilizam do marketing para engodar os fiéis.

3.3 - Uso de imagens e símbolos na liturgia

Outra característica marcante das igrejas pós-modernas é o uso de imagens e


símbolos em sua liturgia. Nos cultos realizados nessas igrejas, acontece uma série de
práticas estranhas em que se usam símbolos de forma análoga aos usados nas religiões
pagãs antigas e no catolicismo romano.
Clifford Geertz, em seu livro A interpretação das culturas, afirma que a cultura
é um conjunto de significados que são transmitidos, através da história, principalmente
por meio de símbolos. Segundo o autor, as pessoas usam conforme suas vontades os
símbolos para interagir dentro de seu próprio contexto e na relação com outras culturas
(GEERTZ, 1989, p. 47).
Sobre a importância dos símbolos para as religiões, assim se expressou o escritor
Mircea Eliade: “Ora, o simbolismo desempenha um papel considerável na vida
religiosa da humanidade; graças aos símbolos, o Mundo se torna “transparente”,
suscetível de “revelar” a transcendência” (ELIADE, 1992, p. 65).
Sabedores dessa força cultural que os símbolos representam e a capacidade que
possuem de atrair as pessoas, muitos líderes de igrejas neopentecostais têm abarcado um
emaranhado de símbolos e arquétipos litúrgicos que, em épocas passadas, figuravam
apenas no catolicismo e em religiões pagãs, e trazido esse conteúdo para o seio da igreja
evangélica.
Segundo Peter Jones, todo fenômeno local “... encontra a sua verdade e mais
completo significado no significado mais global dos símbolos” (JONES, 1998, p. 153).
Baseado nisso, percebemos que os líderes cristãos neopagãos se utilizam de símbolos
que remetem a passagens bíblicas, ou mesmo a elementos da natureza, como forma de
lhes conceder um caráter aparentemente cristão, mas que no fundo, é puro paganismo
disfarçado.
Infelizmente, com o intuito de agradar as multidões, que têm a tendência natural
de mistificar e idolatrar pessoas e símbolos, esses líderes, sempre ávidos por aumentar a
quantidade de membros, criam mecanismos, muitas das vezes obscuros, para aquilatar
seus cultos. Um desses mecanismos muito usado hoje em dia é a realização de
campanhas com a utilização de elementos simbólicos como o sal, por exemplo, com a
promessa de que o fiel receberá grandes milagres. Um fator agravante nessa história é
que, na maioria das vezes, para que o fiel realize a campanha e consequentemente
receba a benção de Deus, ele deve pagar certa quantia para a igreja.
A IURD, por exemplo, leva muito a sério as representações simbólicas e
investem pesadamente no uso de estratégias baseadas nesse artifício:

“A inserção de objetos na prática religiosa passa pela consagração


mágica na IURD. Os pastores consagram o óleo a ser usado, pedindo as
bênçãos de Deus para que, através daquela unção, as pessoas que serão
ungidas recebam a benção que estão procurando” (OLIVEIRA, 2004, p.
51).
Leonildo Campos, ao analisar o significado dos objetos no culto neopentecostal
fornece exemplos que servem de ilustração para o assunto aqui abordado. Um desses
exemplos é: “Venha receber o pão da cura, o pão da benção, o pão do Espírito. Leve
um pedaço de pão para um doente. Ele vai ser curado” (CAMPOS, 1997, p. 79).
Outro exemplo carregado de simbolismo é esse:

“Participe da campanha da arruda contra os maus espíritos na última


sexta-feira do mês. Temos a oração de descarrego com arruda, uma
oração forte, muito para sua vida” (CAMPOS, 1997, p. 79).

Ou ainda o que o pastor Estevam Fernandes de Oliveira relatou sobre


uma visita que fez à IURD:

“Em uma das visitas que fiz à IURD em João Pessoa, o pastor
convidava todas as moças solteiras e que desejassem o casamento para
que fizessem uma fila e adquirissem um sabonete ungido que, após ser
usado abriria o caminho para que elas encontrassem a sua outra metade”
(OLIVEIRA, 2004, p. 52).

Todos esse exemplos ilustram como a IURD se vale do simbolismo para


“despertar a fé” nos frequentadores de suas reuniões.

“Muitos objetos de culto, encontrados nos templos iurdianos, trazem as


marcas católicas, protestantes, afro-brasileiras e até judaicas, numa
demonstração clara do sincretismo presente na elaboração de sua prática
religiosa” (OLIVEIRA, 2004, p. 54).

Os símbolos usados em muitas igrejas evangélicas pós-modernas demonstram o


quanto seus cultos têm, arraigados em seu seio, a presença de elementos oriundos de
celebrações pagãs. Isso comprova que o neopaganismo está presente em um número
cada vez maior de igrejas, ditas evangélicas, que se preocupam, cada vez mais, em
agradar o público e, consequentemente, encher seus templos. Aproveitam-se da
credulidade do povo e do pouco conhecimento bíblico que a maioria dos evangélicos
atuais possui para propagar sua miscelânea de invenções.
Sobre esse uso indiscriminado de símbolos no culto evangélico, Estevam
Fernandes salienta:

“Muitos desses símbolos também fazem parte da simbologia figurativa


e cósmica, tais como: água, fogo, alimento, luz, natureza, de que cada
religião faz uso, vivenciando-os e adaptando-os à luz de suas
características sócio-culturais específicas” (OLIVEIRA, 2009, p. 54).

Embora os pastores e bispos neguem isso, o uso desses símbolos acaba


transferindo aos mesmos uma transcendentalidade que termina por incentivar a
idolatria, como se esses símbolos ou objetos tivessem algum poder em si mesmos. Esse
é um problema sério, pois como cristãos e conhecedores da Bíblia Sagrada, entendemos
que o Senhor despreza a idolatria: "Eu sou o Senhor; esse é o meu nome! Não darei a
outro a minha glória nem a imagens o meu louvor” (Is. 42:8).
Por certo, como já relatamos nesse trabalho, para fugir desse neopaganismo, o
que os cristãos atuais precisam fazer é meditar com afinco nas Escrituras Sagradas para
que estejam firmados na rocha e não venham a sucumbir com tantos ventos de doutrina.
Ao meditar na Bíblia, o crente está pronto a rejeitar todo o tipo de idolatria.

3.4 - Culto a personalidades: líderes, apóstolos, pastores, bispos,


cantores e outros

Muitas igrejas cristãs brasileiras na contemporaneidade, de modo geral, têm


presenciado em seu seio um fenômeno muito semelhante ao que ocorria na Época da
Idade Média. Naquela época, alguns cristãos começaram a cultuar os padres e bispos de
renome, às vezes em vida e, na maioria dos casos, após a morte desses, atribuindo-lhes
até mesmo a realização de milagres. Daí para a canonização desses clérigos foi um pulo.
De forma semelhante, na atualidade, muitos cristãos estão endeusando seus líderes e
idolatrando cantores, pregadores e outras celebridades.
Apesar das Escrituras Sagradas apresentarem vários textos sobre ocasiões em
que servos de Deus minimizavam sua imagem em detrimento da imagem e da glória de
Deus, muitos líderes cristãos têm aproveitado o prestígio que possuem para se tornarem
verdadeiros astros e estrelas. Ao contrário do que João Batista disse, em João capítulo
três versículo 30, ao afirmar que convinha que Jesus crescesse e que ele diminuísse,
muitos desses líderes têm buscado reconhecimento para si mesmos.

Devido ao fato do líder religioso ser uma referência para a comunidade que
lidera, muitos deles acabam caindo na tentação de se colocarem como uma espécie de
intermediários entre o povo e Deus. Se o líder não vigiar, seu ministério pode se tornar,
para ele mesmo e para alguns fiéis, aquilo que a escritora Maria Isaura Queiroz chama
de messianismo:

“Todo líder carismático tem em torno de si um grupo que lhe


corresponda. Em torno do profeta com seus discípulos, há a coletividade
mais ampla dos adeptos, que é chamada congregação; os discípulos são
os indivíduos mais chegados que ajudam ativamente o profeta e que em
geral também são dotados de certas virtudes carismáticas, servindo de
intermediários entre o messias e o restante do grupo. O messias modela
a seu talante a comunidade que o cerca, mas a própria quantidade de
funções que se arroga lhe impõe a divisão do trabalho e,
consequentemente, o aparecimento de uma série de auxiliares, seus
íntimos” (QUEIROZ, p. 330-331, 1965).

Semelhantemente à idolatria dos fiéis para com os padres e bispos na Igreja


Católica da Idade Média, nas igrejas pós-modernas tem se tolerado e até sido encorajado
o culto a líderes que são verdadeiros astros e estrelas gospel. Há uma série de líderes
evangélicos que se tornam tão famosos que acabam tomando pra si a glória e não há
espaço para dar glória a Deus.
Existem líderes que, insatisfeitos com o título de pastor, criaram nomenclaturas
mais pomposas, como apóstolo, por exemplo. São homens e mulheres que se intitulam
apóstolos, mas na realidade não conviveram com Jesus Cristo, como foi o caso dos
apóstolos bíblicos, ou que tenham sido chamados pelo próprio Cristo, como ocorreu
com o apóstolo Paulo. Há outros ainda que, ávidos por status, se apresentam ao rebanho
como verdadeiros mediadores entre Deus e os homens. Mas a Bíblia afirma que existe
apenas um mediador entre Deus e os homens: “Porque há um só Deus, e um só
Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (I Tm. 2:5). Esses líderes, não
impedem o povo de cultuá-los, e quando o fazem, na realidade o fazem apenas de boca
pra fora, pois suas atitudes revelam que gostam de holofotes; gostam de ser tratados
como ídolos.
Além dos pastores e líderes famosos, temos também, em muitas igrejas cristãs
da atualidade, os artistas gospel. Esses, na realidade, são pessoas que se utilizam do
talento que Deus lhes deu para ganhar fama e dinheiro. Muitos crentes, que de fato são
chamados de fãs, lotam ginásios e outros espaços de eventos para aplaudir seus “ídolos
gospel”.
Há poucos dias ouvi um pastor narrar com indignação um caso que aconteceu
com ele. Quando este pastor convidou um pastor itinerante para pregar em sua igreja,
esse respondeu que atenderia o convite pelo valor de R$ 5.000,00 (Cinco mil reais),
levando já em consideração o fato de serem amigos de longa data. Agora imagine só,
um homem, ordenado a pastor, cobrar para pregar a Palavra de Deus. Se analisarmos a
questão pelo lado da quantidade de tempo que o preletor ministraria na igreja, algo em
torno de uma hora e meia, relacionando com o valor cobrado, chegaríamos à enorme
cifra de mais de R$ 3.300,00 (Três mil e trezentos reais) por hora “trabalhada”.
Relembrando que o pregador ainda salientou que esse preço era pelo fato de serem
amigos. Esse é um exemplo de como muitos homens têm se tornado verdadeiros ídolos,
pois se o pregador cobra um valor exorbitante como esse, é porque há igrejas que
pagam. Ou seja, só existe o ídolo por que existe o adorador, ou fã.
O profeta Amós profetizando contra Israel, que abandonara os ensinamentos da
Palavra do Senhor afirmou: “Ai dos que dormem em camas de marfim, e se estendem
sobre os seus leitos, e comem os cordeiros do rebanho, e os bezerros do meio do
curral” (Amós 6:4). Da mesma forma, no cristianismo pós-moderno, tem artistas gospel
que estão espoliando as ovelhas dizendo que estão “fazendo a obra”.
Se observarmos bem, muitos desses artistas gospel, cantores e pregadores, são
pessoas que não tiveram sucesso em nenhuma outra carreira e viram no Evangelho a
oportunidade de ganharem prestígio e dinheiro. Muitos deles vivem de forma mundana,
escondidos atrás da hipocrisia e não têm nenhum compromisso com o Evangelho de
Cristo.
Há aqueles que usam desculpas afirmando que a Bíblia diz que o obreiro é digno
do seu salário, mas com certeza, esse salário que as Escrituras se referem não diz
respeito a essas quantias astronômicas de dinheiro.
Um número grande de pastores que se destacam no cenário nacional por terem
muita eloquência para pregar e carisma para conquistar o povo, na realidade não estão
preocupados com as ovelhas de Cristo, mas se preocupam apenas em comer a lã.
Semelhante a isso, era o que ocorria na época de Jeremias, quando Deus usou este
profeta e disse:

“Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e


dize aos pastores: Assim diz o Senhor DEUS: Ai dos pastores de Israel
que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as
ovelhas?” (Jr. 34:2).

Ou ainda o que diz a profecia de Ezequiel, no capítulo 34 versículo 8:

“Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram
entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas
as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não
procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos,
e não apascentaram as minhas ovelhas”.

De forma ainda mais estarrecedora é o que vemos acontecer com relação aos
cantores evangélicos nos dias desse cristianismo neopagão. Esses cantores, que são
chamados de artistas gospel, quando são convidados para cantar, apresentam uma
enorme lista de requisitos, no mínimo anticristãos. Exigem cachês de milhares de reais,
hotel de luxo, passagens de avião de primeira classe, camarim com comidas e bebidas
exóticas, dentre outras tantas regalias. O pior disso tudo é saber que essas pessoas dizem
que fazem a obra de Deus por amor. Na verdade o que demonstram é amor ao dinheiro e
à fama.
Ao falar sobre a mercantilização da fé promovida pelos pregadores e cantores da
atualidade na Conferência Missão na Íntegra 2013, o pastor Neil Barreto sentenciou:

“Virou mercado. Isso é fácil de se ver, a não ser que não se queira. Na
igreja de mercado o objetivo é o lucro. Dinheiro não é o meio, é o
fim...São 7 mil reais para pregar, 60 mil para cantar. É a realidade. O
cara chega no evento e se tem menos de mil pessoas, ele não canta. Se o
cachê é 60 mil e você pagou 59 mil, ele não canta” (BARRETO, 2017).
Tanto para o líder que contrata quanto para o artista que é contratado isso se
constitui num abuso do dinheiro das ofertas e dos dízimos dos irmãos. Com certeza,
todos aqueles que se utilizam do evangelho para promover seu próprio ego e engordar
os seus bolsos haverão de prestar contas ao Senhor da seara um dia.
Para que esse tipo de prática seja extirpado do meio evangélico é preciso que os
cristãos deixem de idolatrar os líderes, pastores, cantores e todas essas celebridades
gospel e passem a render glória somente a Deus, conforme ensinou o apóstolo Paulo:
“Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!
Amém” (Rm 11:36).

3.5 - Escândalos de líderes


Talvez uma das consequências mais negativas para o Evangelho, resultante da
maneira como muitos líderes evangélicos têm tratado a obra de Deus, sejam os
escândalos que as atitudes desses líderes trazem para o meio evangélico em geral.
Desde a época em que Cristo esteve na terra já ocorriam escândalos e Ele
próprio afirmou que são inevitáveis, mas as conseqüências são muito sérias: “Ai do
mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai
daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt. 18:7).
Contudo, os escândalos, que pareciam ser raros no passado, no contexto
evangélico hodierno são cada vez mais comuns. Apesar de ser comum, não podermos
encarar os escândalos como algo normal. Estamos familiarizados com notícias de que
pastores, bispos, apóstolos, líderes de departamentos eclesiásticos, cantores famosos e
outras lideranças evangélicas estão envolvidos em escândalos. São situações
envolvendo todo tipo de conduta ilícita, como adultério, desvio de recursos financeiros,
pedofilia, negociações ilegais, contendas e até o uso de drogas e prostituição por parte
de pregadores e cantores gospel.
Poderíamos citar aqui inúmeros casos de escândalos em que líderes evangélicos
foram protagonistas, mas nos deteremos em citar alguns que servem como ilustração
para o tema aqui analisado.
Um episódio lamentável foi o escândalo financeiro envolvendo os fundadores da
Igreja Apostólica Renascer em Cristo, bispos Estevam e Sônia Hernandes. Tudo
começou no final de novembro de 2006, quando a justiça de São Paulo decretou a prisão
do casal Hernandes. O episódio mais constrangedor ocorreu no dia 9 de janeiro de 2007,
quando eles foram presos pelas autoridades de imigração em Miami, ao tentarem entrar
nos Estados Unidos com 56 mil dólares não declarados (Revista Veja, 17/01/2007).
Como era de se esperar, a imprensa na época usou esse fato para atacar a Igreja de
forma generalizada, afirmando que igrejas e pastores estavam interessados apenas no
dinheiro dos fiéis.
Outra situação que tomou conta das redes sociais foi o lançamento por parte de
um suposto casal de pastores de um filme pornográfico gospel. Segundo os
idealizadores, a idéia é retratar o sexo explícito entre pessoas ligadas pelo matrimônio,
sem obscenidades e sem sexo extraconjugal. (matéria disponível no site:
https://noticias.gospelmais.com.br/porno-gospel-evangelicos-lancam-filmes-produtos-
sexo-29358.html).
Outro exemplo de escândalo que tomou conta das manchetes foi noticiado pelo
Jornal Folha de São Paulo em 29 de março de 2018. Segundo o Jornal, o pastor José
Caitano Neto era proprietário de uma empresa que reunia oito faculdades que
mantinham um esquema de venda de diplomas de curso superior. O pastor e outras sete
pessoas foram presos pela Polícia Civil de São Paulo. (Matéria disponível no site:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/faculdades-usadas-por-pastor-para-
vender-diplomas-estao-em-estado-de-abandono.shtml).
Esses exemplos de comportamentos inconvenientes de uma pequena parcela de
líderes evangélicos trazem terríveis transtornos aos pastores realmente compromissados
com o Evangelho de Cristo. Os pastores genuínos têm que se desdobrar para amenizar
os danos causados a suas igrejas sérias, que são colocadas, pelo senso comum, no
mesmo patamar de igrejas inidôneas.
É alarmante o grande número de casos de escândalos que ocorrem na igreja
evangélica da atualidade. São pastores que permitem que o neopaganismo reine em suas
igrejas. Sobre a hipocrisia dos pastores da igreja pós-moderna, Frank Viola reverbera
forma bastante impetuosa:
“Enquanto os pastores rugem do alto de seus púlpitos sobre seguir a
“Bíblia” e trilhar a “pura Palavra de Deus”, suas palavras lhes
atraiçoam. É alarmante a terrível diferença entre nosso moderno
cristianismo e as práticas da igreja do século I” (VIOLA, 2008 p. 9).

Infelizmente, muitos líderes, principalmente neopentecostais, não se mostram


preocupados em zelar por um bom caráter e por uma boa reputação. Devido ao grande
número de escândalos que ocorre no meio cristão, uma multidão de pessoas têm
abandonado a fé. E o mais lamentável é que a maioria dessas pessoas se torna tão
descrentes que não querem mais voltar a pertencer a qualquer igreja cristã.
Sobre esse tipo de pastores, assim expressou o profeta Jeremias: “Ai dos
pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o SENHOR” (Jr. 23:1).
Com certeza, a alma de cada uma das ovelhas que se desgarraram por causa dos
escândalos será requerida pelo Senhor no dia do Juízo.

3.6 - Bizarrices presentes em algumas igrejas evangélicas atuais

Com a influência do neopaganismo na igreja cristã pós-moderna são tantas


invencionices que certos líderes evangélicos criam por aí que até parece que não estão
tratando das coisas de Deus, mas sim de brincadeiras. A Palavra do Senhor afirma no
livro de Provérbios, capítulo 1, versículo 7, que “O temor do Senhor é o princípio da
sabedoria; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução”. O que a gente pode
depreender desse texto, é que o temor ao Senhor traz entendimento e sabedoria à pessoa.
Não é o que se vê em muitas igrejas atuais, principalmente as neopetecostais. Como
atualmente grande parte considerável dos líderes evangélicos perdeu esse temor, um
grande número dos evangélicos atuais nem se quer já ouviram falar acerca da reverência
devida a Deus.
Como exemplo de coisas bizarras que têm acontecido no meio evangélico, e que
reforça bem nosso entendimento de que há uma influência muito grande do
neopaganismo na igreja evangélica atual, citaremos aqui nomes de algumas
denominações evangélicas veiculadas pelo Jornal O Globo.
Apesar de esses nomes serem no mínimo muito estranhos, eles são nomes de
igrejas reais. A.D.H.O.N.E.P. (Associação Dos Homens De Negócio Do Evangelho
Pleno); A.M.O.R. (Assembléia Ministério de Ostentação ao Rebanho); “IGREIJA”
Evangélica Muçulmana Javé é Pai; Igreja Batista Evangélica da Bazuca Celestial; Igreja
Batista Homossexual Gays de Cristo; Igreja Pentecostal a Majestade o Sabiá. (Matéria
disponível em: http://noblat.oglobo.globo.com/noticias/noticia/2010/04/olhem-que-
achei-la-na-gaveta-282704.html).
Um outro exemplo de bizarrice no meio evangélico atual é o grande número de
“unções proféticas” que existem por aí. Já apareceu “unção do riso”, “unção do
macaco”, “unção do leão”, “unção do cachorro”, dentre outras.
Para termos uma ideia desse tipo de “unção”, citaremos aqui a chamada “Unção
do Leão”. Trata-se de uma ação denominada, pela cantora Ana Paula Valadão, de “ato
profético”, no qual ela, durante um Show Gospel, imita um leão, engatinhando e
rugindo no palco. Ressaltando que não é nosso interesse denegrir a cantora, nem muito
menos julgar sua vida espiritual ou particular, apenas estamos citando e analisando o
fato como ilustração.
Ao criticar a atitude dessa cantora, o escritor Ciro Zibordi questiona, de forma
irônica: “E quanto à nova "unção" que a cantora menciona, que a levou a andar como
um quadrúpede, pode ser atribuída aos impulsos do Espírito?” (ZIBORDI, 2007).
Segundo esse escritor, os cantores e líderes em geral devem voltar suas atenções para o
que a Palavra de Deus ensina e evitar essas novidades.
Esse tipo de atitude exemplificada demonstra que muitos cantores, pastores e
outros líderes evangélicos, ignoram o que as Escrituras ensinam sobre os dons
espirituais, como o que o apóstolo Paulo registrou no capítulo 14 de I Coríntios. Quando
se refere ao dom de profecia, por exemplo, ele instrui a igreja de Corinto da seguinte
forma: “Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação”
(I Co. 14:3). Ou seja, a profecia tem um propósito de Deus para alcançar a igreja, bem
diferente do que chamam por aí de “adoração extravagante”, que em muitas ocasiões,
não passa de barulho e ausência de espiritualidade.
Nessa difícil época da igreja cristã pós-moderna é comum também vermos
cantores usarem jargões estranhos quando vão se apresentar. É possível ver bizarrices
para todos os lados. Em sua obra Erros que os adoradores devem evitar, Ciro Sanches
Zibordi, menciona o uso desses jargões exemplificando:
“Vou cantar para o Inferno escutar! Enquanto isso, os irmãos digam
‘aleluia’ bem alto para o Diabo ouvir. O que muitos adoradores da
atualidade não sabem é que o Inimigo está feliz com todo esse espaço
que tem recebido nos cultos” (ZIBORDI, 2014, p. 43).
Ainda sobre as bizarrices no meio da música, um problema sério que podemos
perceber no meio gospel atual é a falta de cuidado de muitos compositores que
escrevem letras de músicas evangélicas. No afã de ganhar muito dinheiro satisfazendo o
mercado gospel, esses compositores não se baseiam na Bíblia para escrever suas letras e
cometem diversos tipos de erros teológicos e meninices.
Para exemplificar essa falta de cuidado com as letras de músicas evangélicas,
Ciro Zibordi, em uma de suas análises escreve sobre a música “Sabor de mel”. Em sua
análise, o autor cita que na letra dessa música, quando se usa a expressão “Quem te viu
passar na prova e não te ajudou, quando ver você na benção vão se arrepender; vai
estar entre a platéia, e você no palco” fica claro a priorização do sentimento de
vingança Zibordi(2014). Essa análise deixa claro o enfoque antropocêntrico que é tão
comum nas igrejas evangélicas neopagãs da pós-modernidade.
Um outro tipo de bizarrice diz respeito às campanhas realizadas pelas igrejas
pós-modernas, sobretudo nas denominações neopentecostais. Uma dessas campanhas,
que se tornou bastante conhecida, postada pelo site Guia-me, foi realizada pela IURD.
Trata-se de uma espécie de ritual no qual os fiéis caminham através de portais
representando diversos aspectos da vida, como "saúde", "família", e "finanças".
Caracterizados como sacerdotes do Antigo Testamento, pastores da Universal recebem
as pessoas e, sobre um pequeno altar, fazem um "sacrifício de sangue". Está certo que o
sangue não é real (trata-se de simples tinta), mas a imolação simulada vai totalmente
contra tudo o que ensina o Novo Testamento, onde aprendemos que Jesus Cristo fez o
holocausto perfeito por nós e não há mais a necessidade de sacrifícios. (Matéria
disponível em: https://guiame.com.br/gospel/reportagens-especiais/bizarrices-na-igreja-
evangelica-brasileira.html).
Essas e outras bizarrices que acontecem no meio evangélico têm contribuído
para ridicularizar o evangelho e dar ocasião para que pessoas ímpias, de forma
generalizada, façam chacota da igreja e do Evangelho de Cristo.
Portanto, o cristão que professa o verdadeiro Evangelho de Cristo deve ficar
atento a todos esses tipos de manifestações pagãs e pautar sua prática de fé no que a
Bíblia Sagrada ordena. Mesmo que as novidades tomem conta da maioria dos
evangélicos, precisamos permanecer defendendo o Evangelho genuíno, sabendo que um
dia, Deus trará juízo sobre todos: “Assim, sabe o Senhor livrar da tentação os piedosos,
e reservar os injustos para o dia do juízo, para serem castigados” (II Pe. 2:9).
A melhor arma para o cristão verdadeiro usar contra tantas novidades nocivas da
igreja pós-moderna é agir como os irmãos da igreja de Beréia faziam ao ouvir a
pregação de Paulo “...examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era
assim mesmo” (Atos 17:10).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazendo as minhas considerações finais, podemos enfatizar a influência do


neopaganismo no contexto cristão atual. Através das abordagens feitas no contexto
histórico analisado no trabalho, pudemos traçar o percurso que o Cristianismo percorreu
até chegar à igreja cristã pós-moderna. Vimos que durante esse percurso, infelizmente, o
Cristianismo primitivo perdeu muito de sua essência.

A partir dos pressupostos problematizados nesse trabalho pudemos ter um


vislumbre da situação espiritual em que se encontra uma grande parte das igrejas
evangélicas da atualidade. Práticas neopagãs estão arraigadas na realidade dessas
igrejas.

Confrontando a triste realidade dessas igrejas com o Evangelho genuíno


apresentado nas Sagradas Escrituras, encontramos uma discrepância gritante. É
lamentável que um grande número de cristãos está sendo apascentado por líderes
religiosos inescrupulosos que deixaram de seguir a luz do Evangelho de Cristo e se
embrenharam por caminhos tenebrosos.

A síntese histórica apresentada nesse trabalho, desde o cristianismo primitivo até


as igrejas pós-modernas, nos permitiram perceber como o cristianismo sofreu alterações
influenciado pelo paganismo oriundo de outras religiões. Mas também entendemos que,
no decorrer da história, Deus sempre teve pessoas comprometidas com a verdade e se
mantiveram fiéis à sua Palavra.

Como vimos no primeiro capítulo, as práticas religiosas presentes no


cristianismo originário sempre foram pautadas pela observância estrita às Sagradas
Escrituras e o conseqüente apartamento dos padrões religiosos judaico e romano, que
imperavam na época de Cristo. Além disso, o comportamento dos primeiros cristãos era
condizente com o que Jesus Cristo vivenciou e deixou como exemplo para seus
seguidores. Despido de concepções religiosas, Jesus apregoou na terra uma série de
condutas que deveriam ser seguidas por todos aqueles que desejassem se aproximar de
Deus. De forma semelhante a Cristo, os crentes da Igreja Primitiva apregoavam uma
doutrina teocêntrica e odiavam a hipocrisia que era contumaz nas vidas dos líderes
religiosos judeus daquela época.

De forma totalmente contrastante vemos, nas igrejas pós-modernas, uma


quantidade enorme de crentes que se curva aos padrões mundanos, recebendo influência
de todo o tipo de paganismo religioso, e tem a hipocrisia como uma marca registrada em
suas vidas.

Vimos ainda nesse capítulo, que o paganismo que foi tão combatido por Jesus e
por seus discípulos ganhou guarida no cristianismo sob a égide do imperador romano
Constantino. O imperador viu no Cristianismo a possibilidade de unir os romanos em
torno de um propósito e dessa forma trazer um novo fôlego ao Império, que já estava
em derrocada. A igreja, por sua vez, se viu beneficiada ao passar de religião perseguida
ao status de Religião do Império. Dessa forma, a Igreja deixou de ser perseguida, mas
por um preço muito alto, pois abriu suas portas ao paganismo, dando origem assim à
Igreja Católica Apostólica Romana.

Semelhantemente, na igreja cristã da pós-modernidade, percebemos que há uma


gama enorme de negociatas realizadas por lideranças evangélicas com instituições e
pessoas de prestígio e abastadas. Essas negociatas têm como pano de fundo todo tipo de
interesses escusos, mas é certo que, em todas elas, os líderes ganham e a igreja acaba
perdendo. Temos uma igreja rica de dinheiro, mas pobre em misericórida; uma igreja
com líderes reconhecidos politicamente, mas de caráter desqualificado; definitivamente,
uma igreja cheia de fiéis, mas vazia da presença de Deus.

No segundo capítulo, abordamos a questão da origem do neopaganismo na


igreja cristã. Como vimos, essa origem se deu inicialmente com o crescimento
estrondoso do Cristianismo após a Reforma Protestante e, de forma mais contundente a
partir de meados do século XX. O grande problema para a igreja cristã, a partir desse
período, foi a influência neopagã que adentrou a ela com esse crescimento desenfreado.

Com certeza, não sou contra o crescimento numérico da igreja, mas reitero que
este deve ocorrer sem a perda da essência do Evangelho de Jesus, que é o que de fato
ocorre na igreja pós-moderna. É notório que vivemos em um País em que é muito
simples abrir uma igreja evangélica. Temos um número astronômico de denominações,
consideradas evangélicas, cujos líderes não possuem nenhum lastro eclesiástico. São
pessoas que se auto intitulam pastores, bispos, missionários ou apóstolos, mas que
nunca freqüentaram um seminário básico de Teologia ou que nem ao menos tenham
pertencido a alguma convenção ou presbitério.

Por fim, no terceiro capítulo, discorremos sobre as práticas neopagãs que se


manifestam nas igrejas pós-modernas. Essas práticas têm trazido um grande prejuízo à
obra de Deus, pois os escândalos decorrentes das mesmas acabam desmotivando alguns
cristãos a permanecerem na Fé e impedindo que muitos descrentes se convertam ao
Evangelho.

Chega a ser embaraçoso para o verdadeiro cristão da atualidade quando este é


abordado por uma pessoa não cristã e esta lhe pergunta se ele é evangélico, tamanho
envilecimento que ocorreu com essa expressão no decorrer das últimas décadas.

As igrejas cristãs pós-modernas que deixaram de observar os princípios bíblicos


e se renderam a práticas análogas ao neopagnismo precisam voltar atrás e descobrir
onde erraram e refazer o caminho de volta ao genuíno Evangelho apresentado na Bíblia
Sagrada. Os cristãos neopagãos precisam atentar à admoestação que Jesus Cristo deu à
Igreja de Éfeso através de João em Apocalipse 2:5: “Lembra-te, pois, de onde caíste, e
arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei
do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres”.

Essa reprimenda de Jesus dizia respeito ao fato dos cristãos efésios tolerarem as
práticas de uma seita conhecida como Nicolaítas, cujos adeptos eram a favor da
poligamia. De forma semelhante, a igreja cristã pós-moderna tolera e, muitas vezes,
pratica heresias grotescas e, portanto, precisa urgentemente retornar ao caminho da
verdade, as Sagradas Escrituras, para que também não seja “tirada do seu lugar”.

É por causa da situação lastimosa em que se encontram muitas igrejas cristãs da


atualidade que o número de desigrejados tem crescido tanto no Brasil. É cada vez mais
comum encontrarmos cristãos que deixaram de congregar e dizem que estão servindo a
Deus em suas próprias casas. O número de cristãos desigrejados na atualidade equivale
a cerca de 21,8% do total dos evangélicos. Esse total representa um grupo maior que a
soma de todos os crentes vinculados a denominações evangélicas de missão
(presbiterianos, metodistas, batistas, luteranos, congregacionais, e outros), os quais
somam pouco mais de 7,6 milhões de evangélicos (FERNANDES, 2013).

Não acredito que, em dias tão difíceis, deixar de pertencer a uma denominação
evangélica seja a solução para o cristão que quer viver piamente o que a Bíblia Sagrada
nos recomenda. Pelo contrário, como a própria Bíblia menciona em várias referências, a
Igreja de Cristo foi criada pelo próprio Deus e não podemos deixar congregar. Como

exemplo, podemos ver o que escreveu o escritor da carta aos Hebreus: “Não deixando a
nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros;
e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia (Hb. 10:25).

Contudo, não podemos ver todo o tipo de aberrações doutrinárias que acontece
por aí e nos acomodarmos. Cada cristão verdadeiro tem a missão de propagar o
Evangelho de forma genuína e, assim como ocorreu na época da Reforma Protestante,
quando os reformadores lutaram ferrenhamente contra o paganismo que havia se
estabelecido na Igreja Católica, é preciso que hoje os cristãos verdadeiros sejam
apologetas destemidos agindo dentro do contexto social no qual estão inseridos. Embora
não tenhamos tantos recursos financeiros e midiáticos quanto muitos falsos profetas por
aí possuem, precisamos fazer nossa parte junto às pessoas que estão ao nosso redor, seja
na igreja ou em meio a nossa parentela, na escola ou no trabalho; temos o dever de
propagar o santo Evangelho de Jesus Cristo até que Ele volte.

Por fim, creio que cada cristão da atualidade precisa se apegar mais ao texto
bíblico, não deixando de congregar, mas observando cotidianamente se a denominação
onde congrega está realmente alicerçada nos princípios bíblicos ou se está sendo
influenciada pelo neopaganismo. Que busquemos sempre sabedoria e discernimento da
parte de Deus!
BIBLIOGRAFIA

ARAÚJO, Susana de Azevedo. PARADOXOS DA MODERNIDADE: A crença em


bruxas e bruxarias em Porto Alegre. Tese de doutorado, UFRS. Porto Alegre, 2007.

BARRETO, Neil. Comércio da fé no meio gospel. Disponível em:


https://www.gospelgeral.com.br/2017/07/pastor-detona-comercio-da-fe-no-meiogospel-
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Bíblia de Estudo Pentecostal. Tradução de Gordon Chown. Rio de Janeiro: CPAD,


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