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Neste trabalho, teremos como fulcro o Protestantismo, de uma forma geral e nos
deteremos, de forma mais específica, na análise dos desvios doutrinários que ocorrem
em muitas igrejas da atualidade e que permeiam, em sua maioria, a vertente protestante
conhecida como Neopentecostalismo.
Para tanto, cabe ressaltar que essas manifestações religiosas que ocorrem em
muitas igrejas da atualidade, tanto na forma litúrgica quanto nas produções escritas, se
assemelham às manifestações que no passado eram circunscritas a outras religiões
consideradas pagãs, a exemplo do catolicismo, paganismo romano e religiões afros.
Cabe salientar que o conceito de igreja pós-moderna usado nesse trabalho não se
refere à igreja de Cristo, conforme definiu Emílio Conde, em sua obra Igrejas Sem
Brilho:
“...A Igreja de Cristo, composta de todos aqueles que foram salvos pela
graça, é una, é indivisível. A Igreja de Cristo é um organismo perfeito e
está edificada sobre a Rocha dos Séculos - Cristo. A Igreja reúne as
multidões de salvos de todas as nações que formarão a esposa do
Cordeiro. Ela, é claro, é a Igreja de todos os séculos, cujo fulgor
aumenta como a luz da aurora até alcançar o brilho mais claro que o sol
do meio-dia” (CONDE, 2013, p.4)”.
Portanto, temos como fulcro analisar as práticas litúrgicas dessas igrejas atuais,
mostrando como uma grande parte delas, que apresenta uma série de “novidades”, tem
sido influenciada por práticas religiosas antigas, consideradas pela Bíblia e pelos
cristãos do passado como pagãs. Para tal, usaremos aqui o conceito de neopaganismo
ressalvando que, como este é um termo novo, faremos uso dessa expressão numa
perspectiva de similaridade com as práticas religiosas pagãs da igreja cristã pós-
moderna.
O escritor Peter Jones, em sua obra A Ameaça Pagã, relata que atualmente existe
dois modos opostos de entender a natureza humana e o universo, “Um defende a
verdade, o outro a mentira diabólica. Um segue o Deus da Bíblia, o outro segue os
deuses do paganismo” (JONES, 1998, p. 19). O autor salienta que o modo correto de
entender o mundo é através da interpretação e aplicação dos ensinos bíblicos, mas que
atualmente tem ocorrido uma revolução religiosa cujos revolucionários têm usado uma
arma secreta, a “tolerância”, que tem possibilitado a entrada do paganismo na igreja.
De acordo com Peter Jones, a influência pagã faz uma revolução maléfica na
igreja atual:
Vivemos em uma época em que muitos cristãos têm perdido o temor a Deus e à
sua Palavra, desprezando ensinos preciosos da Bíblia Sagrada. Sobre os vários tipos de
“evangelhos” existentes na atualidade, assim já alertava o apóstolo Paulo em sua carta
aos gálatas:
Para termos uma idéia de como o neopaganismo reinante nas igrejas pós-
modernas está distante do que Jesus Cristo ensinou quando veio à terra, faremos uma
descrição do surgimento do Cristianismo e como se manifestava a religiosidade dos
primeiros cristãos. O intuito dessa descrição é termos elementos mínimos para
traçarmos um paralelo entre a prática religiosa dos primeiros cristãos e o que é realizado
em muitas igrejas cristãs hodiernas.
De forma bem diferente do que ocorria naquela época, hoje vemos um grande
número de movimentos, ditos cristãos, nos quais pessoas estão sendo dirigidas por
líderes que não têm as palavras de Jesus Cristo como única autoridade, mas que
pastoreiam o rebanho conforme seus próprios entendimentos. Grande parte dessas
pessoas acaba freqüentando a igreja como se estivessem freqüentando qualquer
compromisso social, não há espontaneidade e o culto se mostra por demais mecânico.
Segundo Viola, o culto da igreja primitiva “Era um encontro fluido, não um ritual
estático. E era imprevisível, bem diferente do culto da igreja moderna” (VIOLA, 2008,
p. 14).
Quando estava para subir ao céu, o próprio Cristo deixou a nós, seus servos, a
incumbência de propagarmos seus ensinamentos a todas as pessoas. “E disse-lhes: Ide
por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15). Assim, orientados
por Jesus, os discípulos começaram pregar o Evangelho desde Jerusalém até os lugares
mais distantes do mundo. “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir
sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra” (At. 1:8).
Contrastando com o que estamos acostumados a ver hoje, onde notamos uma
exacerbada preocupação apenas com o crescimento quantitativo do número de
membros, o cristianismo primitivo foi impulsionado pelo poder do Espírito Santo sendo
difundido pelos servos de Jesus, chamados de Cristãos em Atos dos Apóstolos. “E
sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em
Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (At. 11:26). A
Bíblia relata essa nomenclatura que os servos de Jesus Cristo passaram a adotar
denotando a diferença de comportamento que esses irmãos tinham do restante da
sociedade.
Como exemplo dessa transformação que Jesus Cristo causava na vida do crente,
podemos citar a história de Paulo, um improvável pregador do Evangelho. Tratava-se de
um homem que deixou de ser perseguidor dos cristãos para se tornar o maior
propagador e sistematizador do Evangelho de Cristo. Esse homem foi o grande apóstolo
dos gentios. Sobre a chamada de Paulo, Charles R. Swindoll afirmou:
Cabe ressaltar que o apóstolo Paulo teve papel primordial nesse contato entre o
Evangelho de Cristo e os helenos. Para Louis Rougier, (ROUGIER, 1995), sem Paulo, o
cristianismo teria sido apenas uma pequena seita judaica.
Para que se tenha uma idéia de como ocorreram essas transformações, podemos
nos remeter ao que salientou Louis Rougier: "A designação de nazarenos, de cristãos,
de católicos, marca as principais etapas dessa mutação" (ROUGIER, 1995, p. 82) ou
mesmo à sentença de Francisco José da Silva Gomes: "A Igreja, de perseguida, tornou-
se 'triunfante" (GOMES, 1997, p.39). No entanto, apesar de se tornar “triunfante”, no
sentido de ter uma proeminência frente à sociedade, no quesito espiritualidade a igreja
decaiu muito.
cristã
do quarto século da nossa era. Alguns eventos históricos contribuíram para que o
cristianismo deixasse de ser uma religião desprezada e perseguida pelo Império Romano
para se tornar a religião do Império. Ao obter esse status, a Igreja Cristã deu abertura
305, e depois com Galério (305-311): "Galério promulgou um edito, em seu leito de
morte em 311, que estabeleceria a tolerância ao cristianismo, desde que os cristãos não
Contudo, essa liberdade que o Cristianismo passou a ter com Constantino foi a
um custo muito alto. Até o momento da conversão do imperador romano Constantino ao
cristianismo, ocorrida em 312, o cristianismo permaneceu com suas bases doutrinárias
isentas de influências pagãs. Ou seja, Constantino se converteu ao cristianismo por puro
interesse político, pois vira no cristianismo a possibilidade de salvação do seu Império,
que já estava em franco declínio. De forma geral, não houve uma verdadeira conversão
por parte do imperador, pelo contrário, ele proporcionou uma miscelânea de práticas
religiosas, incorporando os rituais que ele trouxe do paganismo ao culto cristão, dando
origem à Igreja Católica Apostólica Romana.
Assim como vemos o sincretismo religioso reinando nas igrejas cristãs atuais, no
quarto século, de acordo com Charles Guignebert, a Igreja saía vitoriosa no conflito
contra o Império e a sociedade pagã, porém com um alto preço. O cristianismo acabou
fazendo um grande sincretismo. Para esse autor, não teria sido a fé cristã a vitoriosa,
mas os governantes. Foi a Igreja e os benefícios recebidos graças a Constantino. Para o
autor, se os cristãos primitivos soubessem do resultado dessa luta “lo hubieran
considerado um desastre” (GUIGNEBERT, 1988, p. 180).
Sobre essa nova conjuntura política e social que surgiu no Império, assim afirma
J. N. Hillgarth: “A Igreja passou a fazer parte da estrutura sócio-política do Estado
opressor” (HILLGARTH, 2004, p. 60).
Para qualquer pessoa que tenha um mínimo conhecimento teológico seria bem
simples chegar à conclusão de que o cristianismo e o paganismo eram totalmente
incongruentes. Louis Rougier afirma que não tem como conceber duas hierarquias de
valores mais antitéticas que helenismo (paganismo) e cristianismo. “Henri Heine dividia
os homens em nazarenos ou helenos” (ROUGIER, 1995, p. 76).
Até o início do quarto século, a tônica presente na Igreja do Senhor Jesus era a
de inconformismo e enfrentamento ao paganismo. Porém, de forma totalmente avessa
aos propósitos divinos, os líderes cristãos, vendo a possibilidade de obterem vantagens,
até mesmo pessoais, se estivessem ao lado do Império, criaram um novo cristianismo,
chamado Igreja Católica Apostólica Romana. Esse cristianismo é totalmente
irreconhecível, se comparado àquele pregado por Jesus quando ele veio a essa terra.
Conforme é comum vermos nas igrejas cristãs neopagãs da atualidade, além dos
problemas ocorridos com a liturgia, a Igreja Católica, naquela época, através de seu
vasto clero, protagonizou vários escândalos e desvios de conduta no decorrer dos
séculos posteriores ao seu surgimento.
A cerca dos anseios dos grandes reformadores, assim expressou o teólogo Alderi
Souza de Matos:
Todo esse momento histórico mostra como Deus tem um zelo especial pelo seu
povo. Da mesma forma como abriu as portas do Evangelho aos gentios, quando os
judeus se distanciaram, o Senhor levanta, cerca de mil e quinhentos anos após a
vivência de Jesus aqui na terra e um longo período de domínio da Igreja Católica,
homens corajosos para alertarem o povo a buscarem um avivamento espiritual e a
retornarem aos princípios pregados pelos apóstolos da Igreja Primitiva.
Esse zelo do Senhor nos enche de esperança com relação à permanência dos
verdadeiros servos de Cristo na pregação e prática do Evangelho, pois embora haja
tantos cristãos nominais, a Bíblia nos garante que as portas do inferno não prevalecerão
contra a verdadeira igreja.
A partir da Reforma Protestante, o cristianismo, tendo agora uma nova, mas não
homogênea roupagem, se alastrou pela Europa influenciando pessoas das várias classes
sociais. Muitas dessas pessoas viram no protestantismo, uma forma de se tornar
participante das coisas de Deus, e não apenas espectadores.
2.1 – O Pentecostalismo
2.2 - Neopentecostalismo
O termo neopentecostalismo surgiu nos Estados Unidos, nos anos 70, para
designar o movimento de renovação carismática no meio protestante. Sobre a essa
terminologia Paulo Romeiro e André Zanini expressam:
Sobre essa visão que coloca o cristão como cliente e a igreja como um mercado,
Luiz Sayão afirma:
Um grande problema com relação a essas práticas religiosas neopagãs é que elas
não se limitam às igrejas pós-modernas, mas também têm influenciado até mesmo
algumas igrejas solidificadas. Sobre esse aspecto, assim salientou Augustus Nicodemus:
“Até mesmo os cultos das igrejas históricas no Brasil têm sido influenciados na
admissão de elementos estranhos à Bíblia, cultivando um culto antropocêntrico”
(LOPES, 2011, p. 109).
E com essa influência, aparecem crentes com fitinhas no braço, com medalhas
de símbolos bíblicos, ungindo portas e janelas com azeite, colocando sal ao redor da
casa para impedir a entrada de maus espíritos; outros bebem copos de água abençoada,
usam óleos consagrados em Jerusalém, guardam gravetos que misteriosamente
aparecem brilhando nos montes, ungem roupas para libertar as pessoas e etc.
É notório, que a maior parte das pessoas hoje dedica suas vidas em busca de
coisas terrenas e apegam-se tanto a isso como se essas coisas fossem eternas. No
entanto, as Escrituras Sagradas advertem, em várias referências, e quem tem visão
espiritual também consegue entender, que as coisas vão fenecendo a cada instante na
terra e a maioria dos seres humanos não o percebem porque estão presos na mesma
dimensão e acompanhando a velocidade com que essas coisas acontecem.
A atitude de Jesus, para alguns até muito ríspida, mostrou o quanto o Senhor tem
um zelo especial pela sua obra. Mostrou também que Jesus abomina as práticas
daqueles que procuram fazer comércio das coisas sagradas.
Segundo Paulo Romeiro e André Zanini, na época do ministério de Cristo, o
templo:
“... era controlado por uma casta sacerdotal que ali desenvolvia um
comércio regular de animais destinados ao sacrifício e cambiava
moedas trazidas por judeus de todo o Império Romano, proibidas de
circularem na área do templo. Como não havia um padrão único de
moedas, exigia-se a presença do cambista, cuja função era trocar
dinheiro do peregrino pela ‘moeda do templo’, condição para a
aceitação das ofertas. Isso, obviamente, era feito em condições
vantajosas para os sacerdotes”(ROMEIRO e ZANINI, 2009, p. 65).
Essa concepção errônea da prosperidade faz com que muitos fiéis vivam uma
vida frustrada quando não conseguem atingir o patamar social que almejam e acabam
deixando a igreja. Fazem isso por não terem uma fé firmada em Cristo, mas apenas no
desejo de receber bênçãos materiais.
É comum, em muitas igrejas neopentecostais brasileiras, pessoas doarem para a
igreja, em momentos de emoção promovidos por pastores especialistas em comover as
pessoas, dinheiro, joias, carros, fazendas e até mesmo suas próprias moradias. E não
raras vezes, depois de passado o momento de frenesi dessas reuniões, alguns membros
se arrependem e tentam reaver os bens doados, mas sem sucesso. Esses episódios
acabam por gerar uma imagem negativa para a igreja evangélica como um todo, pois as
pessoas generalizam tais situações, o que dificulta ainda mais a pregação do Evangelho.
Vale salientar que, apesar de muitos apologetas cristãos da atualidade,
principalmente os das igrejas históricas, colocarem num mesmo bojo os pentecostais e
os neopentecostais, há diferenças enormes. A principal dessas diferenças é que o foco
do pentecostalismo é a evangelização e a consequente salvação das almas através da
ação do Espírito Santo. O neopentecostalismo, por sua vez, enfoca, dentre outros
aspectos, a busca do bem estar de seus fiéis enquanto estão aqui na terra, principalmente
através da Teologia da Prosperidade. Sobre esse assunto, escreveu Ciro Sanches
Zibordi:
“Aleluia! A despeito de haver alguns críticos que, por falta de
conhecimento, põem os pentecostais e os neopentecostais místicos no
mesmo bojo, louvo a Deus por ser um pentecostal que ama a Palavra de
Deus! Mesmo pobre, financeiramente, graças a Deus continuo crendo
na atualidade da multiforme manifestação do Espírito Santo na igreja,
sem abrir mão do primado das Escrituras e da mensagem da cruz!”
(ZIBORDI, 2010).
“Se você quiser ajudar, amém. Se não quiser, Deus vai me dar outra
pessoa para ajudar. Amém! Entendeu como é ? Se quiser, bem, se não
quiser, que se dane. Ou dá, ou desce” (MACHADO, 2006, p. 91).
Outro equívoco que pode ser notado em reuniões da IURD é o fato de se atribuir
preeminência à pessoa que recebe algum tipo de milagre da parte de Deus. Um exemplo
disso foi um fato exibido na TV Record/GO no dia 07/02/15 por volta das 14:30 h,
dentro do telejornal Balanço Geral. Na ocasião, quando fiéis dessa denominação, após
testemunharem a cerca de bênçãos recebidas na igreja, eram saudados pelo bispo, que
dizia a seguinte frase: “Parabéns. A sua fé te curou”. Como se a pessoa tivesse algum
mérito por ter recebido o milagre (não questiono aqui se os milagres de fato ocorreram).
Quem cura é Jesus e, mesmo que a pessoa tenha fé, se a realização do pedido não for da
vontade de Deus, um milagre não se realizará. Portanto, esse tipo de saudação citada
não convém, pois à luz da Palavra de Deus, se alguém é curado, ou recebe qualquer
outra benção, isso se dá pela infinita misericórdia de Deus. Então todo o louvor e toda a
honra devem ser dados a Deus, que operou o milagre. E inclusive, se a pessoa teve fé
para recebê-lo, essa própria fé também vem de Deus, conforme endossa o apóstolo
Paulo em Efésios 2:8c : “fé... é dom de Deus”.
Os variados tipos de campanhas realizadas com o escopo de arrecadação de
dinheiro, pela IURD, só reforçam o que muitos pastores e escritores ortodoxos falam ou
escrevem sobre o neopentecostalismo, de um modo geral. Para o Dr. Augustus
Nicodemus, o neopentecostalismo:
“De fato, muita coisa mudou. Os bens materiais já não são inimigos da
fé a ser combatidos, mas grandes aliados na busca da felicidade e do
sucesso. A preocupação com o céu, com a vida após a morte e com o
retorno de Cristo arrefeceu sensivelmente, dando lugar à busca das
bênçãos financeiras e da solução de problemas e conflitos. Renunciar ao
mundo tornou-se tarefa mais amena, o que levou a classe média a
aderir, em grande escala, ao movimento neopentecostal” (ROMEIRO,
2005, p. 76).
Portanto, existe um número enorme de pastores, bispos, apóstolos e outras
lideranças neopagãs que, mesmo dizendo serem conhecedores da Bíblia, têm comido
toda a gordura e tosado até a última lã de suas ovelhas. Para esses, a Palavra de Deus
afirma em Miquéias capítulo 3, versículos 2, 3 e 4:
“A vós que odiais o bem, e amais o mal, que arrancais a pele de cima
deles, e a carne de cima dos seus ossos; E que comeis a carne do meu
povo, e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis
como para a panela e como carne dentro do caldeirão. Então clamarão
ao Senhor, mas não os ouvirá; antes esconderá deles a sua face naquele
tempo, visto que eles fizeram mal nas suas obras”.
Que Deus tenha misericórdia dos fiéis que são explorados por esses pastores que
não estão preocupados com a salvação da alma do homem, mas em se enriquecerem
cada vez mais. Que Deus liberte esses pastores que espiritualmente estão cegos pela
ganância e precisam de um encontro genuíno com Cristo.
“E, saindo ele do templo, disse-lhe um dos seus discípulos: Mestre, olha
que pedras, e que edifícios! E, respondendo Jesus, disse-lhe: Vês estes
grandes edifícios? Não ficará pedra sobre pedra que não seja
derrubada”.
Para Frank, Viola, esses grandes templos são um desperdício de recursos. “Os
cristãos modernos estão desperdiçando uma enorme quantidade de dinheiro com
edifícios desnecessários” (VIOLA, 2008, p. 65).
Um líder neopentecostal que também se destaca no cenário do marketing gospel
brasileiro é o Apóstolo Valdemiro Santiago. Ele é o presidente da Igreja Mundial do
Poder de Deus e também apresenta um grande carisma para atrair a atenção das pessoas.
“Em uma das visitas que fiz à IURD em João Pessoa, o pastor
convidava todas as moças solteiras e que desejassem o casamento para
que fizessem uma fila e adquirissem um sabonete ungido que, após ser
usado abriria o caminho para que elas encontrassem a sua outra metade”
(OLIVEIRA, 2004, p. 52).
Devido ao fato do líder religioso ser uma referência para a comunidade que
lidera, muitos deles acabam caindo na tentação de se colocarem como uma espécie de
intermediários entre o povo e Deus. Se o líder não vigiar, seu ministério pode se tornar,
para ele mesmo e para alguns fiéis, aquilo que a escritora Maria Isaura Queiroz chama
de messianismo:
“Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram
entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas
as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não
procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos,
e não apascentaram as minhas ovelhas”.
De forma ainda mais estarrecedora é o que vemos acontecer com relação aos
cantores evangélicos nos dias desse cristianismo neopagão. Esses cantores, que são
chamados de artistas gospel, quando são convidados para cantar, apresentam uma
enorme lista de requisitos, no mínimo anticristãos. Exigem cachês de milhares de reais,
hotel de luxo, passagens de avião de primeira classe, camarim com comidas e bebidas
exóticas, dentre outras tantas regalias. O pior disso tudo é saber que essas pessoas dizem
que fazem a obra de Deus por amor. Na verdade o que demonstram é amor ao dinheiro e
à fama.
Ao falar sobre a mercantilização da fé promovida pelos pregadores e cantores da
atualidade na Conferência Missão na Íntegra 2013, o pastor Neil Barreto sentenciou:
“Virou mercado. Isso é fácil de se ver, a não ser que não se queira. Na
igreja de mercado o objetivo é o lucro. Dinheiro não é o meio, é o
fim...São 7 mil reais para pregar, 60 mil para cantar. É a realidade. O
cara chega no evento e se tem menos de mil pessoas, ele não canta. Se o
cachê é 60 mil e você pagou 59 mil, ele não canta” (BARRETO, 2017).
Tanto para o líder que contrata quanto para o artista que é contratado isso se
constitui num abuso do dinheiro das ofertas e dos dízimos dos irmãos. Com certeza,
todos aqueles que se utilizam do evangelho para promover seu próprio ego e engordar
os seus bolsos haverão de prestar contas ao Senhor da seara um dia.
Para que esse tipo de prática seja extirpado do meio evangélico é preciso que os
cristãos deixem de idolatrar os líderes, pastores, cantores e todas essas celebridades
gospel e passem a render glória somente a Deus, conforme ensinou o apóstolo Paulo:
“Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre!
Amém” (Rm 11:36).
Vimos ainda nesse capítulo, que o paganismo que foi tão combatido por Jesus e
por seus discípulos ganhou guarida no cristianismo sob a égide do imperador romano
Constantino. O imperador viu no Cristianismo a possibilidade de unir os romanos em
torno de um propósito e dessa forma trazer um novo fôlego ao Império, que já estava
em derrocada. A igreja, por sua vez, se viu beneficiada ao passar de religião perseguida
ao status de Religião do Império. Dessa forma, a Igreja deixou de ser perseguida, mas
por um preço muito alto, pois abriu suas portas ao paganismo, dando origem assim à
Igreja Católica Apostólica Romana.
Com certeza, não sou contra o crescimento numérico da igreja, mas reitero que
este deve ocorrer sem a perda da essência do Evangelho de Jesus, que é o que de fato
ocorre na igreja pós-moderna. É notório que vivemos em um País em que é muito
simples abrir uma igreja evangélica. Temos um número astronômico de denominações,
consideradas evangélicas, cujos líderes não possuem nenhum lastro eclesiástico. São
pessoas que se auto intitulam pastores, bispos, missionários ou apóstolos, mas que
nunca freqüentaram um seminário básico de Teologia ou que nem ao menos tenham
pertencido a alguma convenção ou presbitério.
Essa reprimenda de Jesus dizia respeito ao fato dos cristãos efésios tolerarem as
práticas de uma seita conhecida como Nicolaítas, cujos adeptos eram a favor da
poligamia. De forma semelhante, a igreja cristã pós-moderna tolera e, muitas vezes,
pratica heresias grotescas e, portanto, precisa urgentemente retornar ao caminho da
verdade, as Sagradas Escrituras, para que também não seja “tirada do seu lugar”.
Não acredito que, em dias tão difíceis, deixar de pertencer a uma denominação
evangélica seja a solução para o cristão que quer viver piamente o que a Bíblia Sagrada
nos recomenda. Pelo contrário, como a própria Bíblia menciona em várias referências, a
Igreja de Cristo foi criada pelo próprio Deus e não podemos deixar congregar. Como
exemplo, podemos ver o que escreveu o escritor da carta aos Hebreus: “Não deixando a
nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros;
e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia (Hb. 10:25).
Contudo, não podemos ver todo o tipo de aberrações doutrinárias que acontece
por aí e nos acomodarmos. Cada cristão verdadeiro tem a missão de propagar o
Evangelho de forma genuína e, assim como ocorreu na época da Reforma Protestante,
quando os reformadores lutaram ferrenhamente contra o paganismo que havia se
estabelecido na Igreja Católica, é preciso que hoje os cristãos verdadeiros sejam
apologetas destemidos agindo dentro do contexto social no qual estão inseridos. Embora
não tenhamos tantos recursos financeiros e midiáticos quanto muitos falsos profetas por
aí possuem, precisamos fazer nossa parte junto às pessoas que estão ao nosso redor, seja
na igreja ou em meio a nossa parentela, na escola ou no trabalho; temos o dever de
propagar o santo Evangelho de Jesus Cristo até que Ele volte.
Por fim, creio que cada cristão da atualidade precisa se apegar mais ao texto
bíblico, não deixando de congregar, mas observando cotidianamente se a denominação
onde congrega está realmente alicerçada nos princípios bíblicos ou se está sendo
influenciada pelo neopaganismo. Que busquemos sempre sabedoria e discernimento da
parte de Deus!
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