Você está na página 1de 1

'.

44 - RUI BARBOSA

clamada em nome dos direitos do trabalho; e exe-


1-- ANTOLOGIA - 45

cutada, não faria senão inaugurar, em vez da su- "Clérigos e bispos"! clamou o desassombrado ca-
premacia do trabalho, a organização da miséria. valhéiro, "o chão em que estais~ era o sítio da casa
de meu pai. O homem, por quem, fazeis preces, no-lo
(Omção aos Moços, nova ed, a cargo de tomou à fôrça, quando simples duque dB Normandia,
ADRIANO D!, GAMA Ké'RY. C.R.E., Ri:). 1956,
págs, 30-31.) e, com afronta de tôda a justiça, por um ato de po-
derio tirânico, aqui fundou esta abadia. Eu não o
vendi, não o empenhei, também o nã,o percli por
A FôRÇA DO DIREITO sentenças, nem lho dei. Recl~Il1'O,pois, êste terreno,
----- demando a sua restituição, e,;',em nome de Deus,
,{
~, Quando Guilherme I de Inglaterra, depois de proíbo que o corpo do esbÚllmdor se cubra com a
, :y atravessar a Normandia, talando as searas, arran- gleba da minha propriedade, que durma na hE'rança
~~ can'do os vinhedos, cortando os pomares. incendiando dos meus." , ' ,

vilas e cidades. caiu malferido nas ruas dI' Nantes, Estas palavras, ditas. em tom de se ouvirem, todos
~ (; abr(\sada em chamas, exalando o Último alento n'o os presentes as escutaram, e o monge Orderieus Vi-
mSsteiro de Saint-Gervais, o ('(\(híver do rei, abando- talis, contemporâneo dêsses sucessos, as recolheu ,com
.~ nado pl'la nobreza e pelo clero. no meio das cenas escrúpulo na sua História Eclesiástica da Inglaterra
~'I~ de pilhagem que se seguiram. só em um fidalgo nor-
maudo encontrara mãos piedosas, que o transporta-
ram para a abadia de Saint-Etienne, erigida pelo
e da N onnandia. '

Os assistentes conheciam o,'intel'l'UptOl;, sabiam do


~ :~ morto em Caen, onde, ainda hoje. lhe dormem os fato, e apoiaram com o seu téstemu.nho os embargos
do prejudicado, enquanto o ataÚde régio aguardaya
~~ rl'stos debaixo de uma lápide negra.
l\Tas.antE'Sde se recolher à dE'rradeira jazida, quan- a decisão do litígio, instaurado 'com tão desusada es-
tranheza à beira daquela sepultura. J'rimelro que
do lhe abriam, entre o côro e o altar, a cova, aonde
$: ia baixar o férE'tro do conquistador, um caso ~stranho
e insólito dt'teve a santa cerimônia. enchendo os
ela recebesse o seu hóspede, foi mister que os prelados
cmbolsassem ao dono da tena o valor do sítio ocu-

~
~
circuJlstantE's de assombro. Da turba dos fiéis saíra
à, frl'nte um homem. ouviudo-se-Ihe oa bôca o braoo
legal dE' apêl0 à justi<:a e ;) lei. 11l11'o!
o aqui d'el-j'à
pado pejo jazigo" e se avençassem com o proprietário
quanto à soma da indenidade dô solo, onde se cons-
truíra o templo. Só então levantou o pleiteapte o seu
daqueles Ü'!llPOSe terras, eontra o ato que se estava impedimento, e o corpo elo soberano desceu ao sarcó-
a consumar. Tomados, assim. de sobrE'ssalto, queda- fago, que o esperava.
ram todos. ('nearando no intruso. Era Ascelino, filho
de Artur. modesto sujeito, ~ujo nome êsse rasgo (Trecho da famosa conferência sôbre "A
Justiça", in Ruínas de um Govêrno, Rio, 1931,
imortalizou. págs. 191-192.) ,
/;L "
(~ q ~
.( ~
..(Yl-t, ~!/~ d~ ~
Lr' - t/. &/:..~~4i.-J ~j;;~"", 1

Você também pode gostar