Disciplina:
Vivo e moro em Curitiba. Tenho três amores: sou professor, padre e escritor. Dou
aulas de teologia. Sistemática. Lecionei em Florianópolis, São Paulo e Curitiba. Como
padre, trabalhei em Lages (SC), Florianópolis e atualmente em Curitiba (Paróquia
Sagrados Corações de Jesus e Maria). Como autor, publiquei vários livros quase
todos de antropologia teológica. Os principais são: Ensaio de antropologia cristã
(Vozes); Condição humana e solidariedade cristã (Vozes); Quem somos? Donde
viemos? Para onde vamos (Vozes); A realização de nosso Deus e a do homem
(Loyola); Teologia da religiosidade popular latino-americana (Paulus). Também
tenho escrito muitos artigos de teologia. No momento estou escrevendo outro livro
versando sobre o tema Antropologia teológica. Como estudo, fiz graduação de
filosofia, pedagogia e teologia. Fiz também mestrado e doutorado em missiologia,
e pós-doutorado em antropologia teológica. Hoje sou professor de cristologia,
escatologia e, lógico, antropologia teológica, no Studium Theologicum (Curitiba).
e-mail: helcionriobeiro@hotmail.com
Prof. Dr. Pe. Hélcion Ribeiro
CRISTOLOGIA
Guia de Disciplina
Caderno de Referência de Conteúdo
© Ação Educacional Claretiana, 2008 – Batatais (SP)
Preparação Revisão
Aletéia Patrícia de Figueiredo Felipe Aleixo
Isadora de Castro Penholato
Aline de Fátima Guedes
Maiara Andréa Alves
Camila Maria Nardi Matos
Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Elaine Cristina de Sousa Goulart Projeto gráfico, diagramação e capa
Lidiane Maria Magalini Eduardo de Oliveira Azevedo
Luciana A. Mani Adami Joice Cristina Micai
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luiz Fernando Trentin
Luis Antônio Guimarães Toloi
Patrícia Alves Veronez Montera
Raphael Fantacini de Oliveira
Rosemeire Cristina Astolphi Buzelli Renato de Oliveira Violin
Simone Rodrigues de Oliveira Tamires Botta Murakami
GUIA DE DISCIPLINA
1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................ VII
2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA .......................................................................... VII
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................. VIII
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ..................................................................................... IX
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .......................................................................... IX
INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL ............................................................................................ 3
Como teologizar é estabelecer as razões da própria fé, espero que você esteja
bem motivado para aprofundar os conhecimentos sobre Jesus Cristo. Para isto, você
deverá ler e estudar os textos indicados e complementares.
Aproveite seu estudo. Esta é a disciplina mais importante – mesmo não sendo a
única – de um curso de Teologia.
Objetivo geral
( ) Presencial ( X ) A distância
ATENÇÃO!
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste Guia de disciplina, você teve a oportunidade de encontrar orientações e
informações práticas para seu itinerário acadêmico em relação à disciplina Cristologia.
Sempre que for necessário ou você quiser, poderá consultar o Guia acadêmico.
Agora, você deve dar outro passo. Conheça o Caderno de Referência do conteúdo.
Ele está dividido em seis unidades, com suas respectivas subunidades. Nesse Caderno,
você encontrará temas e conteúdos da disciplina. Eles são um roteiro para facilitar seu
estudo de Cristologia.
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VIII Claretiano – Batatais
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GUIA DE DISCIPLINA Bacharelado em Teologia
Ainda mais: aproveite esta grande oportunidade que você está tendo de ampliar
seu conhecimento e sua fé, mesmo que seja à custa de seu esforço e de seus contratempos.
Não esqueça, porém, a graça de Deus. Alguém já disse: a cristologia se faz ajoelhado.
FORTE, B. Jesus de Nazaré. História de Deus. Deus da história. São Paulo: Paulus, 1985.
GARCIA DE ALBA, J. M. Cristo Jesus. Conhecê-lo, amá-lo e segui-lo. São Paulo: EDUSC,
1998.
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
MOLTMANN, J. Quem é Jesus Cristo para nós hoje? Petrópolis: Vozes, 1999.
SERENTHÁ, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Ensaio de cristologia. São Paulo:
Salesiana, 1986.
____ A fé em Jesus Cristo. Ensaio a partir dos vitimas. Petrópolis: Vozes, 2000.
RAUSCH, T. Quem é Jesus? Uma introdução à cristologia. Aparecida. São Paulo: Santuário,
2006.
TAVARES, S.S. Jesus, parábola de Deus. Cristologia narrativa. Petrópolis: Vozes, 2007.
DUQUOC, C. Cristologia. Ensaio dogmático I. O homem Jesus. São Paulo: Loyola, 1992.
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IX
Batatais – Claretiano
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GUIA DE DISCIPLINA
Bacharelado em Teologia
_____ Cristologia. Ensaio dogmático II. O messias. São Paulo: Loyola, 1980.
LAURENTIN, R. A vida autentica de Jesus Cristo. São Paulo: Paulinas: 2001. v.1e 2.
MAGNANI, Giovanni. Jesus, mestre e construtor. Novas perspectivas sobre seu ambiente
de vida. Aparecida: São Paulo: Santuário, 1998.
_____ Jesus hoje. Uma espiritualidade de liberdade radical. São Paulo: Paulinas, 2008.
THEISEN, G.; MERZ, A. O Jesus histórico. Um manual. São Paulo: Loyola, 2002.
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X Claretiano – Batatais
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CADERNO DE REFERÊNCIA
DE CONTEÚDO
APRESENTAÇÃO
Que bom encontrá-lo para fazermos juntos este estudo de Cristologia. Nossa
disciplina está disponibilizada em seu ambiente virtual (SGA-SAV). Neste Caderno de
Referência de Conteúdo, conforme você foi informado no Guia de disciplina, consta o
referencial teórico e programático, organizado em seis unidades, com suas subdivisões.
Para facilitar, iniciaremos com uma introdução à própria disciplina, pois faz
sentido entender logo o conceito, a história e as grandes questões da cristologia. Em
seguida vamos encontrar duas unidades bíblicas, que contextualizam e identificam Jesus.
Esta é uma parte muito importante porque a Bíblia é a norma maior da fé. Na quarta
unidade, estudaremos a história da formulação dos dogmas e contextos culturais da
disciplina. Compreender sistematicamente o significado teológico de Jesus, incluindo sua
morte e ressurreição, será a preocupação da quinta unidade. E, por fim, vamos retomar
as grandes questões, ressaltando a dimensão sotereológica da cristologia, que é o objeto
de estudo da sexta unidade.
Você já sabe que os recursos, o apoio logístico e o tutor estarão sempre à sua
disposição. Espero que este itinerário cristológico ajude você a compreender mais Jesus
Cristo, como fundamento de sua fé para que possa crer, amar e segui-lo melhor.
Bons estudos!
Objetivos
• Estabelecer interação com os participantes do curso e
com o tutor, tendo em vista o necessário fortalecimento
do vínculo inicial para a construção do processo de
aprendizagem na modalidade EAD.
Conteúdos
• Programa para o desenvolvimento da disciplina.
Objetivos
• Analisar o âmbito e o conceito de cristologia.
Conteúdos
• Ponto de partida e conceito de cristologia.
1 INTRODUÇÃO
Nesta unidade, você terá a oportunidade de conhecer a história da cristologia,
seu ponto de partida e seu conceito, bem como as dificuldades e oportunidades que a
disciplina propõe.
Bom estudo!
VOCÊ SABIA QUE: Para tanto, salientamos que a cristologia é o centro da teologia. É ela o ponto
A palavra “cristologia” foi de partida, sem ser a totalidade da teologia. Ela é como o centro donde partem os raios
usada pela primeira vez, em
1624, como título do livro de B. de uma roda de bicicleta.
Messneir, Christologiae sacrae
disputationes.
A história pessoal de Jesus Cristo é a referência permanente e o ponto de
partida da cristologia. Ela abrange a vida, a mensagem, as ações e o destino (morte e
ressurreição) de Jesus, contados à luz da páscoa. Não é a pura biografia de Jesus que
dá origem à cristologia, mas, a sua vida à luz da ressurreição – aliás, é como fazem os
evangelhos. Dessa forma, ela passa da história dos fatos para captar a consciência e o
significado destes na totalidade de quem é Jesus, Aquele que nasceu de Maria, mas veio
de Deus, como nosso salvador.
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4 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 1 Bacharelado em Teologia
A importância cristológica de Anselmo está em sua obra Por que Deus se fez
homem? (Cur Deus homo?).
Nesta obra e em alguns outros discursos, Anselmo faz a mais influente leitura
ocidental da cristologia sotereologia. Esta cristologia marcou todo o segundo milênio e INFORMAÇÃO:
permanece muito forte ainda hoje. Este livro foi traduzido para o
português pela editora evangélica
Novo Século, em 2003.
Anselmo se propusera a dialogar com os judeus e muçulmanos sobre quem era
Jesus por meio de uma lógica racional, sem apelar às Escrituras Sagradas (NT). Judeus e
mulçumanos não acreditam nelas.
Contudo, segundo Anselmo, é deste modo que Jesus se encarnou para poder,
morrendo na cruz, restituir a honra ofendida de Deus e obter o perdão de Deus ao ATENÇÃO!
pecador. Note-se que desde a bíblia
e da patrística, há várias
interpretações possíveis sobre
Se desde Tertuliano (+ depois de 220) vinha se afirmando a dimensão o significado “encarnatório”. O
sotereológica (de salvação) pela cruz, agora Anselmo elabora critérios teológicos suficientes predomínio do significado de
“morte na cruz pelos pecados”
para justificar a encarnação de Jesus. avultou-se no segundo milênio,
o que oportunizou a artistas,
dramaturgos, poetas e “místicos”
Santo Tomás de Aquino aceitou a “teoria da santificação” de Anselmo, mas, medievais desenvolverem tanto a
propôs-se a corrigi-la num ponto fundamental. Não era o direito do ofendido (Deus) que espiritualidade quanto a devoção
se deveria levar em conta. O importante era a bondade de Deus, que nos amou tanto e a literatura centradas na cruz.
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Batatais – Claretiano
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UNIDADE 1
Bacharelado em Teologia
a ponto de nos dar seu Filho único. Deus poderia nos perdoar de diversos modos, mas
escolheu este. A teoria de santo Tomás, mesmo aceita, nem sempre foi mais utilizada que
a “dramática” de Anselmo.
Calvino (+ 1504), inclusive por sua formação jurídica, entendeu que Cristo,
oferecendo-se em sacrifício ao Pai em nosso lugar, como substituto nosso, obtém do Pai o
perdão, pois nós nascemos maus e depravados. Nós nascemos da carne e por isto somos
carne (cf. Jo 3,6). Esta corrupção é irregenerável, mas Deus, pelos méritos de Cristo,
pode salvar aqueles a que predestinou esta graça. Nem todos serão salvos, apenas os que
Deus escolhe ou predestina. Calvino também insistiu na ideia de tríplice função de Cristo:
sacerdote, profeta e rei.
Concílio de Trento (1545 – 1563) não elaborou uma cristologia própria. Aceitou
INFORMAÇÃO: diversas correntes da época, mas afirmou certas verdades de fé: a universalidade do
Por causa da cultura pecado de Adão, a necessidade do batismo para a salvação, o enfraquecimento da vontade
amartiocêntrica, nos tempos do
Concílio de Trento, parece que a por causa do pecado e, sobretudo, a necessidade de Cristo para a salvação.
salvação era apenas questão de
salvar dos pecados.
A partir do século 19, novas questões contextuais e universais oportunizaram e
continuam oportunizando criativas reflexões teológicas sobre o significado de Jesus para
todos os homens e/ou desde as culturas.
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UNIDADE 1 Bacharelado em Teologia
Esta discussão surge partindo ora da dimensão divina que pré-existe e se encarna
na terra, ora da história de Jesus nascido de Maria, na Galiléia. Uma faz o caminho inverso
INFORMAÇÃO:
da outra. Seus autores constroem inúmeros argumentos para demonstrar a certeza de Para aprofundar o estudo da
seu ponto de vista. A verdade cristológica exige que as duas se completem. Uma não é história da cristologia leia o
verbete “história da cristologia”
completa sem a outra. in: LACOSTE, Jean-Yves.
Dicionário crítico de teologia. S.
Paulo: Paulinas - Loyola, 2004,
A grande tensão na cristologia e na fé cristã em geral é conciliar a humanidade
p. 480-491.
e a divindade de Jesus. Por causa do ponto de partida, há excessos e/ou insuficiências que
levam a considerar demais a humanidade, esquecendo a divindade ou vice-versa. Esta
dificuldade – natural, por sinal – só é real porque estudar, conhecer, amar e seguir Jesus
tem muitas faces.
Jesus Cristo não é uma pessoa linear, de um esquema só. Sua riqueza sempre
ultrapassa um ponto de vista. Não é em vão que no NT aparecem vários modelos de
análise cristológica. Nenhum deles é completo sem os outros. Esta sabedoria bíblica com
frequência é esquecida ou desvalorizada entre os teólogos.
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Batatais – Claretiano
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UNIDADE 1
Bacharelado em Teologia
da compreensão sobre “quem é Jesus?” e não tanto “o que é Jesus?” criou um aparato
intelectual de altíssimo nível, que muitas vezes só é compreendido por especialistas.
Na história dos dogmas encontra-se uma adequada escola para evitar concepções
erradas sobre o Filho de Deus, que se fez nosso irmão para nossa salvação. Ele, o Senhor
dos vivos e dos mortos, é, contudo, uma pessoa viva e histórica e só Nele está a nossa
salvação. Por isso, a cristologia, que tem como normativo o NT e é guarda do patrimônio
da tradição e do dogma, se atualiza, ao mesmo tempo, como ciência (conhecimento) e
como vivência (experiência) da fé.
5 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você se deparou com a problemática não de Jesus, mas da
cristologia. Entre as questões, surgiu a diversidade de cristologias, já no NT, as tensões
entre as teorias sobre Deus e o homem, o lugar da cristologia, bem como o papel do
dogma cristológico, suas dificuldades e possibilidades atuais.
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8 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 1 Bacharelado em Teologia
de Deus, “passou pelo mundo fazendo o bem” (At 10,38), mas foi morto na cruz. O Pai o
ressuscitou e o constituiu Senhor nosso, colocando-o à sua direita.
Até a próxima!
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTIN, R. Jesus, relato histórico de Deus. Cristologia para viver e rezar. São Paulo:
Paulinas, 1997.
SERENTHA, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Ensaio de cristologia. São Paulo:
Salesiana, 1986.
LACOSTE, J.Y. Cristo/cristologia. In: DICIONÁRIO Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas
- Loyola, 2004.
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Batatais – Claretiano
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Anotações
UNIDADE 2
JESUS, DESDE A HISTÓRICA
BÍBLICA DA SALVAÇÃO
Objetivos
• Identificar ideias, fatos e pessoas como fundamento
e origem no AT, para a cristologia e a sotereologia
neotestamentária.
Conteúdos
• O AT como base e fundamento da cristologia
neotestamentária.
• As experiências salvíficas.
• O homem Jesus.
1 INTRODUÇÃO
Esta unidade quer aproximar você, criticamente, dos textos bíblicos para
perceber os profundos significados cristológicos subjacentes. Jesus de Nazaré é um ser
humano datado e localizado no povo e na tradição judaicos e, fora disto, não pode ser
compreendido. Imagine se Ele tivesse nascido na Espanha, durante a inquisição.
Jesus creu em Deus como um judeu, não como um grego ou brasileiro. É desde
a longa tradição de seu povo onde nasceu, que Ele viveu, creu e morreu. O momento
histórico de sua vida não era o melhor da história do Povo Eleito. Todavia, este tempo
estava “carregado” pela longa tradição de bênçãos divinas: alianças e libertações, de
pecados humanos e de expectativas messiânicas. No NT chamou a tal tempo de “plenitude
dos tempos” (cf. Gal 4,4).
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UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia
confiança. Neste contexto, nasceu e viveu Jesus. É preciso buscar algumas características
da história judaica para compreendê-lo mais corretamente.
3 AS EXPERIÊNCIAS SALVÍFICAS NO AT
Você encontrará, sintetizadas, três experiências de salvação do povo judeu do
AT, que evidenciam a necessidade de compreender Jesus no contexto das tradições e
expectativas de seu povo. Você pode aprofundar outras experiências além das indicadas,
como a apocalíptica judaica, o comportamento dos patriarcas, sacerdotes e mediadores
que prefiguram o papel de Cristo.
A experiência da aliança
O nome de Deus é clássico: “Eu sou aquele que sou para vós” (cf. Ex 3,14). Ele
será o Deus da bênção e da promessa. Ele é o Deus que olha e salva no presente, mas
tem olhos para o futuro definitivo. Ele é o que cumpre sua promessa. Isto se manifesta,
sobretudo:
• na experiência da aliança;
• na expectativa messiânica;
• na reflexão sapiencial.
Deus é aliado do ser humano, do seu povo. Quer assegurar sua liberdade e sua
salvação. Israel deve ser um povo livre. Por isso, Deus será sempre fiel à sua aliança,
mesmo que o homem não o seja.
Com a libertação do Egito, inicia-se nova eleição divina do povo, cujo pacto se
firmou no Sinai. Antes houvera a aliança com Abraão e as simbólicas com Adão e Noé.
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia
Nenhuma aliança, contudo era um pacto entre iguais. Deus sempre tomava a iniciativa.
Ele não usava sua onipotência para esmagar o ser humano, usava-a sempre para salvá-lo.
Esta é uma aliança assimétrica entre Deus, o Onipotente, e seu povo, limitado e pecador.
Expectativas messiânicas
Só Moisés viu a Deus, com quem falou “face a face” (Dt 5,4). Só a ele foi confiado
o nome de Deus (cf. Ex 3,14). O povo não o viu, apenas o ouvia. Por isso, este é o povo
da Palavra. Deus diz a Moisés: “Javé teu Deus suscitará um profeta como eu no meio de
ti, dentre teus irmãos, e vós o ouvireis (...) Vou suscitar para eles um profeta como tu no
meio de seus irmãos. Colocarei as minhas palavras na sua boca e ele lhes comunicará tudo
o que eu lhes ordenar.” (Dt 18,15-18). Javé Deus promete sua presença por meio de um
INFORMAÇÃO: novo profeta, cujo protótipo é Moisés. Mas, esta espera também antevê um novo êxodo e
Para você saber mais sobre o
que estamos estudando leia Is uma nova aliança. A força da promessa dita pelo profeta estará na Palavra viva, eficaz, que
42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13; produz o que significa, julga, abate e torna a erguer (cf. Is 55,10-11; Jr 1,10).
53,12.
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14 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia
A história de Israel foi feita de esperanças e decepções frequentes pela sua não
correspondência e infidelidade dos reis e profetas. O pecado e a idolatria enfraquecem a
expectativa messiânica. Mas, mesmo nas contradições, Deus suscita chamas de esperança.
À época da restauração pós-exílica e dos acontecimentos decorrentes, nos períodos mais
recentes, surgiu um messianismo Apocalíptico que apontou ao advento de um cataclisma
cósmico. Seria o fim deste mundo cósmico. Com isso, a literatura Apocalíptica se estende
de 200 a.C. até 100 d.C. A primeira grande obra é a de Daniel (168-164 a.C.), além de 1
e 2 Henoc e 2 Baruc.
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Batatais – Claretiano
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia
A grande tradição de Israel é a sua histórica relação com Javé. Ambas estão
fixadas nos cinco livros do Pentateuco, que caracterizam as vicissitudes do povo e a ação
salvífica de Deus.
Numa faixa semita que vai da Mesopotâmia ao Egito, há uma cultura com
conotação religiosa cósmica. No centro da reflexão está a existência: se nasce, cresce,
desenvolve e morre. É a questão do sentido da vida pessoal: como realizar-se plenamente?
Como ser feliz? São questões antropológicas que afetam universalmente qualquer ser
humano, em qualquer tempo, debaixo do céu.
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16 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia
Inúmeras vezes Deus se serviu de mediadores para confirmar seu amor pelo
povo. Por fim, Deus suscita nele uma grande esperança por um Messias escatológico. O
povo escolhido, apesar de seus inúmeros pecados, vive na confiança em Deus. A literatura
sapiencial, além de sua sabedoria experiencial, também acredita existir no próprio Deus a
Sabedoria, como aquela que articulada a relação de Deus com os homens.
Todas estas questões estavam muito presentes nos últimos tempos antes do
nascimento de Jesus. Havia grandes tensões e expectativas messiânicas. Para entender
Jesus, é preciso ter presente ao menos estas ideias.
Você deverá ter percebido nesta reflexão a afirmação insistente de que Deus
dirige a história. Ele preparou seu povo para o envio do seu Filho, na plenitude dos
tempos (cf. Gl 4,4; Ef 1,10). Certamente, você terá ouvido falar dum “pequeno resto” que
permanece fiel a Javé. Do povo de Israel sobraram uns poucos. Assim, para compreender
Jesus Cristo é necessário compreender o seu contexto imediato.
Seu estudo não será feito a puro nível histórico, como se ele fosse apenas
um personagem da história. É pressuposto dado que no homem histórico e real, Jesus
de Nazaré encontramos Deus encarnado. Deus se fez homem neste Jesus que viveu na
Palestina. Isto é uma situação única e inaudita.
Contudo, queremos, aqui, deixar de lado a pura fé, que não pensa na história
concreta de Jesus, como se ele não tivesse vivido e mergulhado num tempo histórico em
meio a um povo histórico. Ele era e é Deus, mas sem deixar de ser homem concreto,
datado e verdadeiro. Ele não é a soma de homem e Deus, nem um Deus em aparência
humana.
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia
Ele na verdade é o misterioso filho da humanidade por meio de Maria, que viveu no
início da era cristã na Palestina. Trabalhou com suas próprias mãos. Pregou a boa notícia do
Reino de Deus. Foi escandalosamente crucificado e morto. Deus o ressuscitou, constituindo
Senhor à sua direita. Deus devolveu-lhe toda a glória que tinha, desde toda a eternidade,
mas que fora esvaziada quando Ele se fez homem como nós. Todavia, o significado de Jesus
está em ter sido humano, sem deixar de ser Deus, e é nosso salvador.
Nossa opção aqui é partir da realidade de Jesus histórico, para, depois, estudar
as grandes conquistas histórico-dogmáticas e, por fim, sistematizar, teologicamente, o
significado de Jesus para nós.
INFORMAÇÃO:
Na Unidade 5 você poderá
aprofundar-se numa discussão Não é possível elaborar uma biografia científica exaustiva sobre Jesus, uma vez
atual sobre o Jesus da história,
que muitos pesquisadores se que as fontes documentais são insuficientes.
propõem. Essa discussão tem
um valor científico, porém não
Os evangelhos apresentam Jesus não para fazer história, como se entende
cristológico.
hoje. Fora do mundo cristão não há informações confiáveis e suficientes. Os evangelhos,
contando a história da vida de Jesus, querem, na verdade, dar os fundamentos da fé à luz
da ressurreição e é por isto que se pode fazer cristologia, mas não história.
Jesus, cujo nome que quer dizer: ‘Javé Salva’, é de Nazaré, da ‘Galiléia dos
gentios’, região norte da Palestina, onde predominavam atividades pesqueiras, agrícolas
e pecuárias (gado de pequeno porte). Região marginalizada pelo centro do poder político
e religioso da Judéia (Jerusalém). É a pátria de Jesus, que ao seu tempo teria uns 200
vilarejos. Cada um deles teria entre 50 e 2.000 habitantes.
A tradição de indicar Belém como lugar de seu nascimento, parece hoje ser
bem mais um acerto de Mateus e Lucas, ao interpretarem algumas profecias, como a
descendência de Davi (cf. Lc 2,4 e a promessa de Mq 5,1). É desconhecida a data e o ano
de seu nascimento.
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia
Dois grandes temas envolvem e resumem a vida de Jesus: sua relação com
Deus e a pregação sobre o Senhorio ou Reinado de Deus (Malkut Yaweh). Só a partir daí
é que se pode compreender todo o significado de sua vida.
Entretanto, mesmo que Ele tenha feito uma distinção entre “meu” e “vosso Pai”
(cf. Mt 11,27; Lc 22,29 e outros), não implica exclusão: o amor de Deus, que é Pai, é para
todos. Fazer a vontade do Pai, ao extremo, inclusive dar a vida por Ele, foi o programa
prototípico de Jesus, que se esvaziou de si para revelar o Pai. É desta relação fontal que
Jesus encontra razões para ser revelador do Pai aos seus. Também desta relação fontal
surge sua boa nova: “o senhorio de Deus está entre vós” (Mt 3,2).
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20 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia
O senhorio de Deus é, para Jesus, uma realidade que vem chegando da parte
do Pai mesmo, que às vezes, de forma “pequena como um grão de mostarda”, ou como
o fermento. Ele, porque é dom de Deus, tem significado salvífico dentro da história e
também fora dela. É terreno e celeste. Ele passa concretamente pela cultura, pela política,
pela economia, pela religião. Ele está acima e antes de tudo. Por isto deverá ser buscado
em primeiro lugar (cf. Mt 6,33). Os pobres em espírito, os famintos, os desejosos de
justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os perseguidos e todos os outros bem-
aventurados (cf. Mt 5,1-12) no futuro receberão com certeza este Reino. Mas isto, porém,
não é só uma questão de futuro. Jesus já o está antecipando escatologicamente. Jesus
histórico sabe disto, por isto faz curas, e milagres; os ensina e toma atitudes peculiares,
radicalmente, até dar sua vida.
Depois ele insiste no caráter dinâmico e atual do reino, com incidência prática
na vida. Pois, trata-se:
b) da democratização da política;
c) da socialização da economia;
INFORMAÇÃO:
d) da naturalização da cultura; Para se aprofundar mais no
assunto, leia a concepção de
e) da orientação da Igreja para o reino de Deus. MOLTMANN, Jürgen. Quem é
Jesus para nós Hoje? Petrópolis:
Vozes, 1997.
Os atos de poder e sinais (milagres)
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Batatais – Claretiano
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia
Mais que mestre e profeta, por palavras e obras (At 10,38), foi capaz de fazer
seus ouvintes compreenderem o significado de suas ações e palavras em linguagem
escatológica, como ações salvíficas de Deus já presentes e que atingirão sua realização
plena no Reino definitivo, ou seja, em Deus mesmo.
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22 Claretiano – Batatais
Versão para impressão econômica
UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia
veio abolir a Lei e os profetas, mas dar-lhes pleno cumprimento. Seu ensino aqui pode
ser resumido no mandamento do amor. Para Jesus é preciso voltar a priorizar o amor em
meio à multiplicidade de mandamentos e regras dos judeus. A ética de Jesus resume-se
em “amar a Deus de todo coração, de toda alma, com todas as forças e ao próximo como
a si mesmo” (cf. Mt 22,34-40; Mc 12,28-34; Lc 10,25-28). Este ensino já pertence, na
verdade, ao AT. Talvez a inovação que Jesus traz aqui é a precedência (primeiro lugar)
sobre todos os outros. Este amor dele inclui até amor aos inimigos (cf. Mt 5,38-48; Lc
27-36).
Uma leitura atenta dos Evangelhos nos permite perceber atitudes fundamentais
de Jesus e de como ele foi compreendido pelos primeiros discípulos, os primeiros
cristãos.
Este primeiro dado causa admiração, estupor e contestação: aos olhos de Jesus
tudo está subordinado à implantação do Senhorio de Deus e à imagem que ele tem de
Deus/Pai. Esta é sua causa e o fundamento de sua atuação. Assim, Ele se torna livre
diante de seus familiares (cf. Mc 3,21-33), diante dos especialistas da Lei, os Escribas (cf.
Mt 14,83-60), diante das tradições, ritos, prescrições e culto, que devem estar a serviço
do ser humano (cf. Mc 3,1-6; 2,23-28; 7,1-12; Mt 12,1-8; 19,1-8).
Esta liberdade radical desperta esperanças no povo, cujo resultado imediato é ATENÇÃO!
Você pode aprofundar este tema,
descobrir um novo sentido de viver e fazer-se discípulo de Jesus. Ela também é causa de lendo: Uma história de liberdade.
irritação diante dos defensores do “status quo”. In: FORTE, Bruno. Jesus de
Nazaré, a história de Deus, o
Deus da história. São Paulo:
Jesus não foi apenas um homem livre. Foi (e sua causa permanece) um Paulinas, 1985, p. 242-274.
libertador. Por isso, cura, salva, perdoa, orienta e cria caminhos de justiça e fraternidade.
Liberta das doenças e preconceitos do legalismo e subserviências dos fardos psicológicos
e moralistas, da prepotência humana (social, política, econômica ou religiosa) em vista da
fraternidade comum.
O que alimenta sua vida é fazer a vontade de Deus, seu Pai (cf. Jo 4,34).
Deus não é um alguém vingativo ou caprichoso, que busca interesses próprios. Deus está
voltado e totalmente dedicado para com os seus. Por isto procura o homem perdido (cf. Lc
15,4-7), preocupa-se com os últimos (Mt 20,1-16). É Pai acolhedor, que sabe perdoar (cf.
Lc 15,11-32), chama a todos para a festa (Mt 22,1-14). É a este Deus que Jesus obedece.
Anunciar esta mensagem é a causa dele. Mesmo quando Jesus é atingido pessoalmente,
como no Monte das Oliveiras, está ali para fazer “não a minha, mas a tua vontade” (cf.
Lc 22,42).
Porque é obediente sabe que veio para servir, não para ser servido (cf. Mt 10,45;
Lc 10,29-37). Não se preocupa consigo (cf. Mt 9,10-13; 11,19; Lc 16,13; nem com o poder
(cf. Jo 6,15). É um homem para os outros. Sua preocupação é não só com o necessitado,
seu irmão (cf. Lc 10,29-37; 22,27, mas também com seus adversários (cf. Lc 23,34; Mt
25,44).
Sua fidelidade ao Pai (e à sua causa) é tão radical a ponto de ele entregar sua
própria vida (cf. Mc 15,34; Lc 22,34; 23,46). Contra toda infidelidade (desobediência) “de
Adão”, ele faz a vontade de Deus, acima de todos os interesses próprios e/ou dos grupos
que o cercavam. Não em vão, morreu pregado na cruz, crendo em Deus até o último
momento, quando diz: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 24,46).
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UNIDADE 2
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Foi capaz de perceber, com profundidade, a raiz do mal que assolava a comunidade
judaica. Captou significados mais profundos das influências sócio-polítco-econômicas e,
VOCÊ SABIA QUE:
sobretudo, religiosas. Não podemos esquecer sua atitude frente a estas questões, dado
Mahatama Gandhi, o fundador
da Índia atual, inspirou-se nos que foi um crítico sagaz de seu tempo e circunstâncias. Manteve clara a opção pelos
evangelhos, particularmente pobres e pelo senhorio de Deus, preferindo ações (políticas) não violentas.
nas “bem-aventuranças”, para
descobrir o método da não
violência ativa. Com isso, assegurou a liberdade, a igualdade e a fraternidade não só políticas,
mas, sobretudo, diante de Deus. Por isto, enfatizava que a Lei, as tradições, o “jogo
econômico”, o poder político e religioso não só não podem se bastar a si mesmos, mas
devem estar a serviço das pessoas e das comunidades.
Além da dimensão crítica frente aos usos e costumes do tempo, Jesus reconheceu
e conviveu com homens e mulheres normais e sadios, com quem se compraziam em
convivialidades. Encontrou homens e mulheres de boa vontade, capazes de atos generosos
e os prestigiou. Até mesmo com os ricos e opressores manteve diálogo (às vezes ásperos),
em que a centralidade de Deus e do ser humano deviam estar acima de tudo (até do
sábado). Como não recordar, aqui, casos como o de Levi (o cobrador de impostos), de
Zaqueu, do centurião romano, de Herodes e de Pilatos? Nestas questões, ele se situava no
horizonte escatológico e não apenas sociológicos, mesmo que religiosos.
Jesus e as mulheres
Não é necessário recordar todo o contexto das opressões judaicas, tão pouco o da
mulher. Jesus tem uma posição ímpar diante delas. Recordaremos agora, algumas situações:
• Ele revela uma solicitude particular com as mulheres envolvidas com doenças
pessoais ou familiares. É atencioso para com elas. Não só com a sogra de
Pedro, com a viúva de Naim, com Marta (as irmãs do falecido Lázaro), com
a mulher que tinha uma doença já há dezoito anos. E atencioso, apesar de
irônico, com a estrangeira sírio-fenícia, que lhe suplica a cura da filha possessa.
(cf. Mc 7, 224-30; Mt 15,21’-28)
• Com as pecadoras, Jesus revela uma sensibilidade impressionante. No caso
da samaritana, o fato deve ter tido uma repercussão enorme a ponto de o
evangelista João dedicar ao encontro dois terços de um capítulo. Nota-se que
o seu evangelho tem apenas vinte e um capítulos (cf. 4,1-42). “Do mesmo
modo Jesus se dirige à mulher que se atiram a sua frente: - ”Mulher, ninguém
te condenou? Nem eu! Vai em paz. E não torne a pecar” (cf. Jo 8, 1-11). Ao
deixar lavar os pés, sabia bem que era ela. Contudo, era necessário libertar
aquela mulher dos machismos todos e inclusive libertar a eles mesmos. (cf.
Mt 21,31ss). Na questão do divórcio, sobretudo diante do direito do homem,
Jesus advoga o igual direito à mulher.
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UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia
Ele teve, por elas, grande apreço. Isto está simbolizado na constante presença
delas em suas atividades. Era algo inovador para aqueles tempos, a ponto de Mateus, o
judeu que escreve para os judeus, ser o evangelista que mais fatos narra sobre mulheres.
E o ensino de Jesus deve ter sido tão marcante que o ortodoxo São Paulo chega a afirmar
que depois de Jesus, diante de Deus, não pode haver mais discriminações até mesmo
entre homem e mulher, pois, todos são iguais.
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UNIDADE 2
Bacharelado em Teologia
a) João Batista.
O primeiro contato público de Jesus é com o Batista e seu grupo. Ali procurou
o batismo. Mas, em seguida, distanciou-se deles. As concepções sobre Deus
e sua vinda, são completamente diferentes. Diferentes também é o modo de
viver e atuar.
b) Fariseus.
Os sete grupos de fariseus cumpriam rigorosamente a Lei. Respeitavam as
tradições, observavam o sábado, os ritos purificatórios, as orações, esmolas
e dízimo. Estudavam a Torá. Esperavam um Messias libertador de Israel e a
ressurreição final. Desejavam a libertação da Palestina. Mesmo convivendo
com os romanos, não eram amigos deles. Este grupo, na maioria, leigos
apesar de alguns “sacerdotes”, se sente separado das outras pessoas, pois as
consideravam ignorantes da Lei e impuros na observância dos mandamentos.
Davam à Halahá valor igual à Torá.
Jesus não escondeu sua simpatia por eles. Recriminou, porém, dois
subgrupos deles (“os de costas largas” e “os vagarosos”), também reprovado
pela população em geral. A salvação, segundo os fariseus, viria da “estrita”
observância da Lei.
INFORMAÇÃO: Não era este o caminho de Jesus, que propõe a dinâmica da salvação no
Para saber mais sobre o assunto,
leia sobre As sete espécies de apreço a Deus, que já vem chegando, e aos irmãos, sobretudo, aos pobres;
fariseus em SAUNIER, Christiane não à absolutização da Lei, mas a mudança de coração.
e ROLLAND, Bernard. Palestina
no tempo de Jesus. São Paulo: c) Saduceus.
Paulinas, 1983, p. 80.
De famílias sacerdotais, os saduceus pertenciam também às elites econômicas.
Recusavam as tradições orais judaicas. Não criam na ressurreição, apoiando-
se na ideia de uma retribuição imediata e material (isto, hoje, corresponderia
à chamada “teologia da prosperidade”). A prova disto estava na riqueza
e poder que detinham. Isto, para eles, eram bênção e a aprovação de
Deus. Sentiam-se por isto fiéis a Deus, que lhes era fiel. Detinham eles, o
poder sobre o Templo, consequentemente sobre o culto, esmolas, dízimos
e taxas. Exploravam o povo, inclusive obrigando-o a trabalhos pesados e
outras humilhações. Coniventes com os romanos, eles faziam, também,
INFORMAÇÃO:
Veja as inúmeras informações interesseiras alianças com os piores inimigos de sua fé. Dominavam o
sobre o “sinédrio”, no Índice Sinédrio. Pelo culto formal, apenas “esperavam”, para um dia, a vinda do
de nomes, assuntos e obras
fundamentais em THEISEN, Messias de Deus.
Gerd e MERZ, Annette. O Jesus
histórico. Um manual. São Paulo:
Jesus, com suas críticas desautorizando a suposta “autoridade religiosa” que
Loyola, 2002, p. 650.
julgam deter, concordava com eles contra a “tradição dos pais”, conservada
pelos fariseus. Ao mesmo tempo, porém, percebia a maldade dos saduceus e
a exploração a que submetiam o povo para se manterem no poder. Eles foram
os responsáveis pela morte de Jesus, mesmo que um deles (José de Arimatéia)
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não tenha consentido com isto (cf. Lc 23,51). Para eles, o programa de vida de
Jesus baseado na misericórdia e justiça, na fraternidade e na igualdade, não
só seria inviável, como também prejudicial aos seus interesses.
d) Herodianos.
Ao tempo de Jesus, os herodianos reinavam no país, em nome dos romanos.
Eles legitimavam o poder mantendo a ordem política e a paz nas regiões
judaicas, sem deixarem de ser uma realeza vassala. Estavam muito atentos
a qualquer pretensão messiânica, que contestasse seu poder. Recolhiam
forçados impostos e, inclusive, quiseram um pronunciamento claro de Jesus
(para, na verdade, incriminá-lo até sobre o assunto), (cf. Mc 12,13-17).
Também pressionaram Jesus sobre o significado do sábado, dia do sagrado
(cf. Mc 3,1-56). Foram eles mal amados pelo povo, sobretudo, por causa da
corrupção.
e) Essênios.
Foram os essênios homens e mulheres que se refugiaram no deserto, em
especial em Qumram, onde estabeleceram leis rígidas, sobre a pureza e
seus ritos. Recusavam o templo, manchado pela idolatria, na opinião deles.
Preferiam substituir os holocaustos pela ascética santidade de vida. Assim,
estariam apressando a vinda do Reino e do Messias libertador. Consideravam-
se os militantes de Deus, para combater os inimigos e demônios. Por meio de INFORMAÇÃO:
ritos, preparavam-se para as “guerras santas”, totalmente dedicadas a Deus, Confira as imagens de Qunram
disponível em: <http://www.
vivendo a pobreza, a castidade e a obediência. teologo.org/israel/photos/
photo92.html>. Acesso em: 26
jan. 2009.
Contra a posição deles (uma fuga espiritualista e ascética da realidade),
Jesus propõe o amor a Deus, o serviço ao próximo e a simplicidade de vida
até no julgamento do semelhante.
f) Zelotas.
O apressamento do Reino só se podia dar pela violência, como preferiam
os zelotas (antes conhecidos como “salteadores” ou “bandidos”). Este
movimento extremista, adepto da violência, queria restaurar em Israel a
teocracia. Para tanto, invocava condições de vida extremamente ligadas
à santidade do Templo e ao cumprimento da Lei. Eram rigorosamente
ortodoxos e integristas e detinham uma confiança absoluta em Deus e em
suas instituições. Exterminar os ímpios pela revolução armada era o meio de
apressar o Reino.
g) Samaritanos.
Apegados aos cinco livros do Pentateuco, os samaritanos são homens da Lei.
Com rigor, seguem as prescrições da circuncisão, do sábado, das festas etc.
Seu monte santo, porém, era Guarizin e não Jerusalém (Sion). Esperam um
Messias: Taheb, que não é um descendente de Davi, mas um novo Moisés
(cf. Dt 18,15). O Messias virá restabelecer toda a ordem no final dos tempos.
A salvação e o Messias não podem passar por Jerusalém, nem pelo Templo
de Salomão. ‘Ali tudo está corrompido’.
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UNIDADE 2
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Jesus lhes indica: nem em Jerusalém nem em Guarazin está o Reino de Deus
(cf. Jo 4,21). Ele está no coração, em espírito e verdade. Apesar de sua
religiosidade, Jesus indica novas e mais profundas relações com Deus. Não é
possível manter-se na superficialidade, nem no rigorismo, como já acenara
a outros grupos.
Os cristãos continuam agindo no lugar Dele e você tem esta missão também.
Por isso, relacione o estudo com suas atividades e com sua vida. Aja de tal modo que Ele
pudesse se identificar no seu agir e continue estudando.
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUQUOC, C. Cristologia. Ensaio dogmático II. O messias. São Paulo: Loyola, 1980.
FREYNE, S. Jesus, um judeu da Galiléia. Nova leitura da história de Jesus. São Paulo:
Paulus, 2008.
FORTE, B. Jesus de Nazaré. História de Deus, Deus da história. São Paulo: Paulinas,
1985.
MAGNANI, G. Jesus, construtor e mestre. Novas perspectivas sobre seu ambiente de vida.
Aparecida: Santuário, 1998.
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UNIDADE 2 Bacharelado em Teologia
MOLTMANN, J. Quem é Jesus Cristo para nós hoje? Petrópolis: Vozes, 1997, p. 23-28.
SERENTHA, M. Jesus Cristo, ontem, hoje. Ensaio de cristologia. São Paulo: Salesiana,
1986.
9 E-REFERÊNCIAS
PENSAR. Qumram. Disponível em: <http://www.teologo.org/israel/photos/photo92.
html>. Acesso em: 26 jan. 2009.
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Anotações
UNIDADE 3
O DESTINO DE JESUS:
MORTE E RESSUREIÇÃO
Objetivos
• Identificar as causas e razões da morte de Jesus na cruz.
Conteúdos
• A morte de Jesus.
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 2, você pôde compreender o AT como base e fundamento da
cristologia neotestamentária, bem como as experiências salvíficas, Jesus de Nazaré, sua
história e sua atuação. Além de estudar o homem Jesus e sua atuação diante dos outros.
Se você fizer uma rápida pesquisa entre as pessoas que o rodeiam, certamente
INFORMAÇÃO: perceberá uma supervalorização da morte de Jesus na cruz, por causa de nossos pecados.
A palavra “estaurológica” deriva Esta teologia estaurológica foi muito importante na espiritualidade do segundo milênio,
da palavra grega staurós, que
significa cruz e o complemento sobretudo na Idade Média. E ainda perdura. Mas, você deve convir com São Paulo: se
“lógica” indica a ciência, o Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé.
conhecimento. Aqui, no caso,
quer dizer: a compreensão, o
conhecimento ou a interpretação Os evangelhos e a Igreja não concebem o fim histórico de Jesus, sem considerar,
da fé, a partir da cruz de Jesus. além da morte, o outro elemento constitutivo: sua ressurreição. Liturgicamente, a Igreja
celebra sempre o chamado “tríduo pascal”. A espiritualidade move-se pela graça do
ressuscitado.
A teologia atual tem preferido fazer a sua reflexão levando mais em conta o
significado da morte e ressurreição como verso e reverso da mesma moeda, que na
verdade só se explica no contexto da vida encarnada de Jesus com sentido para o cristão
de hoje. Você vai estudar separadamente os dois temas, para poder explorar mais e melhor
seus significados. Depois disto, deverá aprofundar a percepção do NT em compreender
Jesus. Elas são sintetizadas em duas grandes linhas: a da cristologia da elevação e eleição
e a cristologia da pré-existência e encarnação.
Reveja seus conceitos sobre estes temas e justifique sua posição, sabendo que
o significado de Jesus é ainda maior, pois Ele, conforme o NT, não é o apenas nascido
da Virgem Maria. Ele é Deus que pré-existe, desde toda a eternidade. Para afirmar esta
verdade bíblica da fé, os teólogos e exegetas costumam, hoje, falar da cristologia da
exaltação e eleição do homem Jesus e da cristologia da pré-existência e encarnação de
Deus. Na verdade, não existe uma tensão entre as duas. Elas compõem um movimento
circular que vem do céu à terra e da terra sobe ao céu. O Cristo é o mesmo homem de
Nazaré. É assim que o NT nos apresenta Jesus. Estes são princípios que devem guiar sua
fé.
INFORMAÇÃO:
Certamente você já ouviu falar
da famosa escultura “Pietà”,
de Michelangelo, que se
2 A MORTE DE JESUS
encontra na Basílica de São Agora, programe-se em questão de horário, material complementar de estudos.
Pedro, em Roma. Sobretudo,
a partir da Idade Média, muitos E prepare-se para adentrar num dos momentos mais significativos da vida de Jesus.
artistas tiveram o tema de
Maria recebendo, ao colo, seu
A morte de Jesus marcou demasiadamente os cristãos, sobretudo durante o
filho morto ao ser descido da
cruz. É um tema que pervadiu segundo milênio. Tanto a teologia (cristologia) quanto a liturgia, a piedade popular e as
a espiritualidade. É clássica a artes em geral, centram sua ação na morte de cruz (estaurologia). A interpretação da
expressão “Pietà” para designar
este momento plástico da mãe morte de Cristo estava ligada à questão do pecado. A partir daí, se vive certo “dolorismo”,
sofredora com seu filho aos que encheu nossas igrejas com cruzes, vias-sacras, crucificados, pietàs etc.
braços.
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia
Realmente não se pode compreender Jesus sem sua morte e morte na cruz. Ela,
porém, não é o centro nem o sentido de sua encarnação. Todavia, é o motivo pelo qual os
cristãos se reconciliam “oficialmente” com Deus.
Sabia Jesus que iria ser morto e pregado na cruz? A resposta que pareceria
óbvia, na verdade não é tanto assim. Três vezes Jesus profetizará a morte do “Filho do
Homem” (Mc 8,31; 9,31; 10,33). Todavia, a morte na cruz não era algo em seu horizonte,
pois na Torá se ensinava: “maldito é o que é pendurado na cruz” (cf. Dt 21,23). As
questões que atingiam e ameaçam Jesus se davam dentro do povo judeu. Todavia, Ele
foi preso, condenado e pregado na cruz pelo poder romano, mas com a colaboração das
autoridades judaicas.
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UNIDADE 3
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e da palavra sobre a destruição do templo (Mc 13,2; 14,56-61) foram o estopim para a
prisão, condenação e morte.
O processo judicial começou por causa das chamadas blasfêmias de Jesus (Mt
26,65; Mc 14,64) e de seu “desacato ao Sinédrio” (cf. Mt 17,12; Jo 18,21-23; Mc 14,60ss;
15,4s). Havia, também, antecedentes em sua pretensão de colocar-se na esfera do divino,
de sua consciência como enviado de Deus, chamado a instaurar o Reino de Deus na
terra.
O Sinédrio, neste tempo, não tinha poder para executar uma sentença capital.
Além do que, no processo de Jesus, parece não ter havido unanimidade entre seus
membros. Então, transferiu a causa para o âmbito civil: entregou Jesus a Pilatos, ao poder
romano, a quem tanto se odiava.
Diante dos poderes estatuídos, a morte de Jesus aparece para todos como
INFORMAÇÃO: fracasso de sua pretensão e como abandono de Deus que depois se revela no
Entre outros interessantes grito da cruz: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mc 15,34).
e atualizados estudos
contemporâneos sobre a morte
de Jesus, você pode aprofundar
a questão lendo: SLOYAN,
Gerard. Porque Jesus morreu na Jesus diante de sua morte (perspectiva subjetiva)
cruz? São Paulo: Paulinas, 2006,
p. 19-72. Jesus não buscou a morte. Antes, buscou a Deus e ao seu Senhorio. Porém,
contou com ela e foi integrando-a em sua vida como consequência de sua pretensão (a
causa de Deus). Também deu a ela, já durante sua vida terrena, um sentido peculiar: por
Deus e por nós (pró-existência total). Assumida a missão de enviado ao Pai, assume a
morte que se avizinha como entrega pela causa. Ele não a buscou (cf. Jo 18,22ss; 19,11;
11,53s), e nos últimos tempos, já quase não aparecia mais em público (cf. Jo 11,53ss).
Jesus foi suficientemente realista para se dar conta do perigo que o espreitava.
Os conflitos se avolumavam e as hostilidades se radicalizavam. O complô era visível (Mt
22,15; Lc 11,54; Jo 11,45-54). As ameaças contra sua vida deviam vir do Sinédrio, com
sua faculdade de mandar a apedrejar (cf. Lc 4,29; 13,34; Jo 8,59; 11,8), de Herodes, o
que mandara recentemente degolar a João Batista (Mc 6,26) e, mais tarde, Tiago o irmão
do Senhor (At 12,2) ou, finalmente, de Pilatos, o que podia e, de fato o fez, crucificar.
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia
pareceu entender que seu destino definitivo lá está (cf. Jo 11,8; 55,57). Jerusalém, Jesus
o sabia do AT, é o lugar teológico onde se desenrolariam os principais acontecimentos
salvíficos, acontecidos na morte dos profetas. A única ida àquela cidade, conforme os
sinóticos, atesta esta perspectiva por parte Dele.
Na oração do Monte das Oliveiras, Ele resume sua posição (Mc 14,32-42): vence
sua última tentação (guardar sua vida para si) e resolve entregar sua vida nas mãos dos
pecadores que o matariam; ao mesmo tempo, ele a entrega a Deus como prova de sua
radical adesão à vontade divina.
Jesus interpretou sua morte, já durante a vida, como doação/entrega. Ele fez de
sua vida um serviço ininterrupto para Deus e, por isto, aos homens. Mesmo na morte, sua
esperança em Deus (cf. Mc 15,34 citando Sl 34,6) é radical: viver por Deus e para Deus. INFORMAÇÃO:
Você pode aprofundar este tema
A interpretação que Jesus, durante a Ùltima Ceia, dera à sua morte era uma lendo: BERGER, Klaus. Para
que Jesus morreu na cruz? São
verdadeira afirmação de que Ele estava à disposição do Pai. Sua morte não seria um Paulo: Loyola, 2005.
obstáculo para a implantação do Senhorio (Reinado) de Deus.
Tanto Jesus quanto as primeiras comunidades cristãs interpretaram esta morte, ATENÇÃO!
à luz do AT, fazendo referência às imagens do “sangue da Aliança (cf At 9,14-28) ou do Temos observado nesta
disciplina, bem como na de
“Cordeiro pascal” (cf. Jo 1,29; Ap 5,6-12. Mas sobretudo as palavras de Jesus, pronunciadas, Antropologia Teológica, que
quer sobre o cálice, quer sobre o pão ou sobre os dois (pão e vinho, segundo as diferentes se a morte de Jesus tem um
caráter redentor. É preciso estar
narrativas dos evangelhos), indicam a disposição de Jesus de dar a vida “por muitos” (ou consciente de que tal gesto de
por nós ou pela vida do mundo) (cf. Mc 14,24; Mt. 20, 28; 1Cor 11,24; Jo 6,51). extrema doação, não é razão
última da encarnação do Verbo. A
morte deve ser compreendida no
Com toda certeza se pode afirmar que Jesus “aceitou sua morte na cruz” como conjunto de sua vida. Não vale
um ato expiatório e salvífico, em favor dos outros. Seu desejo de fazer a vontade de Deus apenas este momento, como
se o “restante” de sua vida não
e de viver em prol dos outros confirmam a interpretação de sua morte como um serviço tivesse significado. Além do que,
de salvação. se Jesus é realmente redentor
de todo pecado humano, é
sobretudo o revelador e o
A disposição final caminho de nossa realização
plena em Deus, na força do
A crucifixão e morte de Jesus são o fim de sua pretensão. Objetivamente, Espírito Santo.
seus discípulos não teriam mais razões para continuarem reunidos. Suas esperanças se
frustraram. A morte de Jesus indicaria a rejeição Dele até mesmo diante de Deus. Só
restava voltar. Aquele que ligara o anúncio da chegada de Deus à sua pessoa, agora
estava morto. A causa estava destruída. Tudo deveria ser sepultado. Fora legalmente INFORMAÇÃO:
crucificado; eliminado com sua pretensão. Para os judeus “era maldito todo aquele que Você pode completar o estudo
deste item, com a leitura das
fosse pendurado na cruz”. meditações de MARTINI, Carlo
Maria. Os relatos da paixão de
Cristo. Lisboa: São Paulo,1994.
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Este é o tema que você vai começar aprofundar. Ele é o mais importante em
nossa fé. Aproveite-o ao máximo. Mas, não esqueça: cristologia não é só uma questão
de razão científica, como já dissemos em textos acima. É uma questão de fé, que se faz
orando.
Tudo recomeça com a “boa nova” dos Anjos às mulheres que vão cuidar do
embalsamamento do corpo do morto (o que não pudera ser feito por causa do sábado –
que começava ao pôr-do-sol de sexta-feira). É o anjo, diante do sepulcro aberto, quem
lhes anuncia: “porque procuram entre os mortos, aquele que está vivo?” (Lc 24,5). A partir
daí se desencadeará um processo novo e inovador. Tão novo que é vivido aos sobressaltos
de quem não é capaz de identificar a realidade nova: “é um jardineiro!”, “um peregrino!”,
“um fantasma!”. “Alguém que entra mesmo sem abrir portas!” Ele se faz ver. Aparece.
a) as confissões de fé;
b) o kerigma;
d) os hinos.
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36 Claretiano – Batatais
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Confissões de fé
Morte Ressurreição
O fato morreu foi ressuscitado
Inciso por nossos pecados ao terceiro dia
Plano de Deus segundo as Escrituras segundo as Escrituras
Prova foi sepultado apareceu a...
O “terceiro dia” (cf. 1Cor 15,4) era uma expressão usual no tempo de Jesus para
designar um fato muito importante. E foi usada não para afirmar um fato histórico, mas
um acontecimento de plenitude escatológica.
Note-se que Jesus, conforme o plano de Deus, morreu para ressuscitar, para
vencer a morte e, de modo novo, permanecer com os seus. Porque ele morreu,
foi sepultado. Porque ele ressuscitou, apareceu a Pedro, aos doze e mais de
500 irmãos, muitos dos quais ainda estavam vivos ao tempo do apóstolo Paulo
(cf. 1Cor 15,6).
Sua morte por nossos pecados e sua ressurreição para nos levar à plenitude
são questões cristológicas de valor soteriológico. “Deus o ressuscitou” é a afirmação para
descrever a ação de Deus. Quer dizer: o início da criação de Deus (cf. Gn 1,1-2.4b) o
início, desde agora, atinge sua culminância na ressurreição de Jesus. Deus faz viver de
modo novo (nova criação) quem fora submetido à morte, para vencê-la desde dentro.
Deus colocou-se ao lado de Jesus, julgando o julgamento humano.
O Kerigma
O Kerigma de Pedro e Paulo, nos Atos dos Apóstolos, é o primeiro sim pascal
apresentado aos judeus. Contém já uma leitura cristológica do homem Jesus, a quem eles
haviam matado e Deus o ressuscitara.
Os textos dos Atos dos Apóstolos que caracterizam o Kerigma Pascal mantêm
um elemento vinculante da fé desde o início. Aquele que foi crucificado, pelos homens,
porque ele viera para os seus e não fora recebido por eles, desde o início, pois “preferiram
as trevas à luz”, (cf. Jo 1,11), Deus o ressucitara constituindo Senhor à sua direita. Ainda
mais: ele nos fora dado para a nossa salvação.
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As aparições não só confirmam a ressurreição, mas afirmam como Deus agiu com
o crucificado: o fez encontrar-se com seus discípulos, prometeu sua nova presença entre
eles para sempre e lhes atribuiu a tarefa de, testemunhar o ressuscitado, continuando a
missão de Jesus, até os confins da terra (Mt 28,19-20).
• Narrativa do túmulo aberto (Mc 16,1-8; Lc 24,1-11; Jo 20,1-11):
A pedra tinha sido removida pelo anjo, (cf. Mt 28,2), não porque Jesus
ressuscitara, mas para mostrar às mulheres que elas deviam procurar quem
estava vivo e não morto. Por estar vazio o túmulo, não significa que Jesus
tivesse ressuscitado. Antes, por estar vivo é que ele não estava ali. Por outro
lado, o crucificado que ali estivera, agora está vivo. Ele é o mesmo.
Os hinos
Estes hinos foram usados, sobretudo, nos encontros litúrgicos desde as primeiras
comunidades. Sem dúvida a ressurreição de Jesus era um fato novo, inaudito e definitivo.
Para o AT, morrer é desaparecer. Não é deixar de viver, mas é ir para o sheol, onde
viveria o silêncio entediante (Sl 31/30,18; 87,4-13). Ali, dorme-se o sono da morte.
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia
Significado da fé pascal
Para Deus:
b) o homem Jesus, seu Filho muito amado, lhe foi fiel até o fim;
c) que é possível crer no ser humano e manter com ele a aliança pascal;
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UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia
d) a ressurreição esclarece porque a criação do ser humano era algo muito bom
“(cf. Gn 1,31);
Para nós:
Que havia acontecido com o homem Jesus, que andara com os apóstolos? Eles
viram Jesus pregado na cruz: era o fracasso de sua pretensão e de sua missão. E eles
desanimaram. De repente, sem nenhuma expectativa, surge o grito: “Ele está vivo e
apareceu”. Brota o medo, a apreensão, a certeza. Mas, afinal quem é Jesus?
Era certo: Deus havia agido e ressuscitara Jesus. Os apóstolos e discípulos vão
experimentar e reconhecer que está vivo aquele que fora crucificado.
Todo o significado das respostas, porém, está em que Ele é o nosso Senhor e
Salvador. Tudo aconteceu para a nossa salvação.
Ele não fez uma análise de si mesmo, mas viveu entregue a Deus em favor
dos outros. Foi fiel a Deus e aos homens. Aqui pregou, fez amizades, cuidou do próximo,
especialmente dos doentes e excluídos. Nisto, foi descobrindo sua missão. Assumiu a morte
como um serviço. O Ressuscitado mostrou-se como obra do Pai. Enfim, não encontramos
Nele uma autoexplicação senão implícita.
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia
Esta primeira cristologia foi feita por Ele próprio. O modo de manifestar sua
pretensão e sua autoridade, sua liberdade e atuação desde dentro do judaísmo, sua
proposta sobre o Reino e o chamado a assumi-lo, sua relação com Deus e os homens etc.;
tudo isso aponta a uma chamada cristológica implícita. E ela pode ser sistematizada pelo
modo como Ele foi chamado (títulos), ou como Ele os usou.
Depois vai surgir uma cristologia explícita por obra dos apóstolos e da primeira
comunidade cristã, dando origem à cristologia, que é a resposta permanente e atualizada
sobre “quem é Ele para nós?”
A cristologia nasce, a partir das experiências pascais, nas perguntas sobre quem
Ele era, é e sempre será (cf. Heb 13,8). A primeira resposta, encontrada Nele
mesmo é uma cristologia implícita. Porém, as criativas e diversificadas respostas
foram, desde a páscoa, criando uma percepção muito rica, polifacetada. Elas,
porém, mantiveram uma unidade fundamental. Tudo convergia para aquela
experiência pascal vivida sobre o Cristo glorificado, que era o mesmo com
quem eles tinham vivido até a crucifixão.
É bom lembrar que, desde o início, há uma variação muito grande de cristologias
nascentes. Aqui se enfatiza mais numa forma de síntese este procedimento.
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UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia
Filho de Deus
Esta expressão do AT, Jesus atribuiu a si só de modo indireto. Foi muito usado
pelos primeiros cristãos (cf. At 13,32-41). Jesus é superior até mesmo aos anjos (cf. Mc
13,32). Assumiu plenamente o desígnio de Deus dando-nos a vida (cf. Rm 5,10; 8,32).
Por Ele fomos reconciliados com o Pai e por Ele nos tornamos filhos (cf. Rm 8,14-15; Gl
4,4-7; Jo 10,30.38).
É muito frequente este título no evangelho de João (3,25; 6,19ss; 6,40; 8,36;
1Jo 2,23). Ele expressa, sobretudo sua total submissão ao Pai enquanto sua condição
humana; mas também por sua elevação junto ao Pai. A confissão de fé que brota deste
título aparece inúmeras vezes (cf. Mt 16,16; Mc 15,39).
Deve-se observar que todos os títulos cristológicos dados a Jesus não são
suficientes para interpretar, em plenitude, quem Ele foi e como foi compreendido pelos
primeiros cristãos, ainda apostólicos.
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42 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia
Foi no homem Jesus que eles descobriram a sua pré-existência. Questão difícil
para eles por saberem da origem terrena, da história de vida e da cotidianeidade
de Jesus de Nazaré.
Uma figura cósmica do pensamento para fins soteriológicos. Ela serve para
pensar em conjunto a universalidade da atuação e da revelação de Deus em
toda a criação (participação dos povos na Sabedoria divina) e o significado
especial de sua atuação particular na história de Israel (posição incomparável à
da Torá) e assim, ao mesmo tempo, destacar a validade universal da Torá (como
planta secreta da construção do mundo e caminho abrangente da salvação)”
(KESSLER, 2000, p. 281).
Ele era do mundo de Deus e foi enviado ao mundo dos homens para, a fim de salvar,
remir (cf. Gl 4,52; Jo 3,16ss; Rm 8,31; 1Jo 4,9). Aqui entra a fórmula teológica do envio.
Com isso, Deus envia seu Filho, pré-existente (Sabedoria), na plenitude dos
tempos afim de que, por Ele, todos tenham vida em plenitude (cf. Jo 10,10). Ele será
o salvador de todas as limitações e desgraças humanas. Vem de Deus, para libertar o
ser humano. Vem para desenvolver todas as potencialidades do homem (criado) até
sua plenitude em Deus. Mas, fez-se necessário que o pré-existente e enviado assuma a
natureza humana para salvar o ser humano desde dentro de sua realidade. Só assim será
o salvador e mediador entre Deus e os homens, porque é um verdadeiro homem e Deus
verdadeiro entre nós.
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UNIDADE 3
Bacharelado em Teologia
5 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de estudar a morte de Jesus, sua
ressurreição e o testemunho neotestamentário, além de reconhecermos quem é Jesus e
a resposta cristológica do NT.
Esperamos que no decurso deste tema você tenha tido, também, a vontade de
(re)-ler os próprios evangelhos, por dois motivos. Primeiro, porque é ali que você encontra
a cristologia fundamentada na Palavra de Deus. E segundo, porque a cristologia (enquanto
estudo das razões da fé) é complementada pela mística. Quer dizer, aprende-se para viver
e louvar a Deus, no caso a Cristo Jesus e quem lê os evangelhos, deve lê-los com o espírito
de oração, por se tratar da Palavra de Deus.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGER, K. Para que Jesus morreu na cruz? São Paulo: Loyola, 2005.
BORG, M; CROSSAN, J. A última semana: um relato detalhado dos dias finais de Jesus. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
______. ______. Vol. III/6: o evento Cristo. 6. Mysterium paschale. Petrópolis: Vozes,
1974.
GOURGUES, M. Jesus diante de sua paixão e morte. São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
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UNIDADE 3 Bacharelado em Teologia
MARTIN RODRIGUEZ, F. Jesus, relato histórico de Deus: cristologia para viver e rezar. São
Paulo: Paulinas, 1999.
RATZINGER, J.B. XVI. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007.
______. Por que Jesus morreu na cruz? São Paulo: Paulinas, 2006, p. 19-72.
7 E-REFERÊNCIA
Lista de figura
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Anotações
UNIDADE 4
REFLEXÃO HISTÓRICO – DOGMÁTICA:
A CRISTOLOGIA DOS DOGMAS
Objetivos
• Identificar o processo teológico da compreensão de
Jesus Cristo como verdadeiro homem e ao mesmo tempo
verdadeiro Deus.
Conteúdos
• O NT como normativo para a cristologia.
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 3, estudamos a morte de Jesus, sua ressurreição e o testemunho
neotestamentário. Reconhecemos também quem é Jesus e a resposta cristológica do NT.
Com isso, vamos iniciar uma nova etapa do nosso curso, na qual pressupondo
INFORMAÇÃO:
Vale salientar que nosso o NT como normativo para a cristologia, deveremos aprofundar a evolução dogmática nos
texto tem um caráter mais grandes concílios cristológicos, as três grandes respostas conciliares e suas conclusões.
de história das ideias
dogmático-cristológicas. Assim,
recomendamos que em paralelo Os temas que iremos abordar aqui têm uma natural dificuldade. A razão está na
ao seu estudo, você leia, passagem da linguagem bíblica para a filosófica. Muitos conceitos são realmente difíceis,
também, BOFF, L. Jesus Cristo
libertador, o capítulo intitulado: mas não impossíveis de sua compreensão. No entanto, não desanime e bom estudo!
‘Humano assim só podia ser
Deus’. O autor segue outro
(válido e oportuno) esquema em
que descreve, por um lado, a
interpretação da humanidade de
Jesus e, por outro, sua divindade.
É bem interessante. Confira!
2 O NT COMO NORMATIVO PARA A CRISTOLOGIA
Nós professamos a fé de que Jesus, o crucificado/ressuscitado é verdadeiro Deus
e verdadeiro Homem, ao mesmo tempo. Porém, está é uma afirmação de fé; resultado de
um longo processo de compreensão.
Hoje quando lemos o NT, encontramos várias expressões, cujo sentido, à época,
era diferente do que pensamos. Ou dito de outro modo, convém lembrar:
b) ninguém, durante a vida histórica de Jesus, jamais pensou que Ele fosse Deus;
c) o AT sempre ensinara que Deus é um só. O próprio Deus dizia: “Não tereis
outros deuses, além de mim... Eu sou o único Deus.” A isto se chama
monoteísmo rígido;
Jesus era Deus e por isto, Ele próprio, era salvador. Assim, foi possível se
reunirem de modo novo, à luz de Deus.
Quando no NT se fala de Deus, se entende sempre Deus Pai. Só mais tarde se ousa
aplicar a Jesus (uns poucos textos: Jo 20,28; Rm 9,5; Jo 5,20). Porém, todas as expressões
ali encontradas deixam entender que realmente Jesus é o Senhor”, Ele é Deus mesmo.
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UNIDADE 4 Bacharelado em Teologia
“De modo idêntico, o Espírito Santo jamais foi chamado de Deus, no NT”.
(RAHNER, 1965, p. 568).
Como você já sabe, o significado de Jesus Cristo, para nós, não é apenas o
de alguém do passado (museificado). É antes a expressão viva e permanente de nossa
salvação. Quer dizer: em todos os tempos, as pessoas devem compreendê-lo como Ele é
(Homem Deus). Então, torna-se importante compreendê-lo na linguagem do tempo e da
cultura contemporânea. E isto desde o começo do cristianismo tenta-se fazer, não sem
inúmeras dificuldades.
Na continuidade deste tema, você vai encontrar muitos termos que formam
a base da cristologia dogmática. Eles, em geral, têm uma origem etimológica
grega. Devem ser bem compreendidos. Procuramos, numa linguagem bem
simplificada, dar o respectivo significado. Porém, indicamos também o
Glossário cristológico in Garcia de Alba (1998) e Forte (1985). Você pode
recorrer ainda a outros dicionários já indicados neste texto.
A terceira corrente se pôs entre estes dois extremos e afirmava que em Jesus, o
ser divino e humano, estava ligado numa unidade paradoxal. Esta corrente era constituída,
no oriente grego, pelos Padres Apostólicos e pelos antignósticos (Inácio de Antioquia,
Irineu), que afirmava esta unidade, pois só assim Jesus seria o mediador entre Deus e os
homens, para a nossa salvação.
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UNIDADE 4
Bacharelado em Teologia
Todas estas questões criaram um estado de espírito tão agitado que o povo,
além dos bispos e teólogos, não só discutiu o assunto em locais públicos, mas também
começou a tomar partido, à medida que elas se agudizam.
Várias questões surgidas poderiam ser aceitas na Igreja, desde que entendidos
de modo histórico-salvífico. Mas, na realidade, as interpretações estavam sendo,
crescentemente, feitas em perspectiva metafísico-essencial.
As questões se agravaram mais, quanto Ario (256 - 336), em atrito com seu
bispo, Alexandre, de Alexandria, afirmando que o Logos-Cristo não pode ser da mesma
substância do Pai (que como o Deus é um só). Cristo pertence, como criatura à ordem
cósmica (e não divina), portanto. Deus não pode se transformar, diz Ario, e por isso, Cristo
só pode ser extradivino (Ele se encarna, sofre modificações. Não pode ser eterno, pois). E
no caso (intracósmico) é criatura, mesmo que seja a “primeira”, antes da criação.
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UNIDADE 4 Bacharelado em Teologia
Após o concílio, que afirmou a igualdade entre Jesus Cristo e o Pai, por que os
dois têm a mesma substância ‘homoousios’, surgiram novas discussões. Alguns conceitos
não estavam tão claros como se pensava, sobretudo, a palavra homoousios, que poderia
ser entendida por uns, como “igual” e por outros, como “semelhante”. Se, pois, o Filho
fosse da mesma e igual natureza, como podia ser diferente do Pai? Então um grupo propôs
uma nova interpretação, acrescentando a letra “i” homoiousios, que é: semelhante. O Pai
e o Filho teriam uma substancia semelhante.
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UNIDADE 4
Bacharelado em Teologia
O esquema Logos-sarx
Tal esquema foi rejeitado. Sem a alma humana, o Cristo não é perfeito Homem,
dirão os teólogos do outro grupo Logos-antropos. E se não é humano, então, não nos
salvará. Gregório de Nazianzo (330 - 390) vai afirmar: “O que não foi assumido (pelo
Logos na encarnação), também não é redimido; o que, porém, é unido a Deus também é
ATENÇÃO! salvo”. Quer dizer se no Logos-sarx, o homem perdeu o que lhe é próprio (alma racional),
Vale salientar que aqui está então não era verdadeiro homem. O Concílio de Constantinopla I havia afirmado que
valendo o conceito de homem
composto das duas unidades; o Logos eterno, o Filho de Deus, tinha assumido também o homem completo (corpo e
mas Apolinário dizia que o alma). E só assim que era o verdadeiro redentor.
Logos só podia se encarnar
num corpo sem alma humana,
para se transformar em Cristo, o O esquema Logos-antropos
salvador).
O novo esquema “oficial” da Igreja levantava novas perguntas e respostas. Há
dois grupos muito influentes, cujas respostas são válidas: os da escola de Alexandria e os
da escola de Antioquia.
Como afirmar que Cristo é perfeito Deus e perfeito Homem sem afirmar que
são dois? (Escola antioquena: cristologia da distinção) ou como afirmar que
Jesus é “um e o mesmo’ sem afirmar que sua unidade é plena e independente
antes da união, porém depois é absorvida pela divindade? (Escola Alexandrina:
cristologia da dualidade).
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UNIDADE 4 Bacharelado em Teologia
distintas (mas não separadas). Dá-se uma unidade moral entre elas. Há uma cooperação
entre duas naturezas, que parte da verdadeira experiência de Jesus de Nazaré e se liga
ao Logos-Filho divino. Por causa do alto grau de santidade de sua profunda humanidade,
de sua constante procura em fazer a vontade de Deus e de sua máxima dedicação aos
outros, há, no Homem Jesus, uma radical composição com o Logos divino, que realiza a
obra salvifica sem ser prejudicado pelo lado humano.
A união entre as duas realidades cria uma singular e nova realidade de um Jesus
Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
Na prática, esta tese poderia criar algumas dificuldades quando exagerada. Foi o
que aconteceu com Nestório (380 - 451) que insistia na questão de dois sujeitos distintos,
moralmente unidos; porém não se pode atribuir à divindade os atos e paixões próprios
do humano.
Se antes da encarnação do Logos era possível haver uma natureza divina que
se vai unir à humana, depois não se separam mais as naturezas. Portanto, o que nasceu
do Pai e o que nasceu de Maria é um e o mesmo.
A decisão do Concílio não foi bem aceita, sobretudo, pelos orientais: o imperador
Teodósio, intervindo, quase obrigou uma conciliação, sem resultados.
“O Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus... gerado pelo Pai antes de todos
os séculos... nascido de Maria virgem, segundo a humanidade por nós e para na
nossa salvação... consubstancial ao Pai... é um só Cristo, um só Filho”.
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UNIDADE 4
Bacharelado em Teologia
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UNIDADE 4 Bacharelado em Teologia
um só e mesmo
Cristo
Filho
Senhor
Unigênito
conhecido
em duas naturezas
inconfusas/imutáveis indivisas/inseparáveis
a distinção das naturezas de modo algum é anulada pela união,
mas a propriedade de cada natureza é conservada,
concorrendo para formar um só prósopon e uma só hipóstase;
não cindindo ou dividindo em duas pessoas (prósopa), mas
um só e mesmo
Filho unigênito
Deus-Logos
Senhor
Jesus Cristo;
________________________________________________________
como outrora os profetas a seu respeito
e ele próprio, Jesus Cristo, nos ensinaram
e o símbolo dos Padres nos transmitiu”.
A natureza humana de Jesus Cristo não tem uma existência própria, pois subsiste
na hipóstase do Logos. Isto não anula ou nega a perfeita humanidade dos homens porque
em Jesus ela se amplia em perfeição. Ou como diz Walter Kasper:
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UNIDADE 4
Bacharelado em Teologia
No início desta unidade, você leu que iria fazer uma estudo sobre o
desenvolvimento histórico das ideias dogmáticas da cristologia. Para aprofundar a questão
foi sugerido que você também lesse o texto de Leonardo Boff. A seguir apresentamos uma
síntese do texto sugerido para que você faça uma revisão de seu estudo. Lembre-se que
o oportuno texto do autor, usando outro método, visa caracterizar “um Deus humano” e
“um homem divino, sem se ater ao processo histórico da dogmatização”.
a) Duas grandes respostas: “Deus se fez homem para que o homem se fizesse
Deus” (escola Alexandrina) e “Um homem, todo inteiro, foi assumido pelo
Verbo eterno” (escola antioquena).
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UNIDADE 4 Bacharelado em Teologia
Depois do primeiro século, quando já não havia mais quem tivesse conhecido
pessoalmente Jesus, e, sobretudo, no meio helenístico, apenas se ouvia seu ensino, muitos
começaram a propor uma nova e grande questão:
• quem é Ele realmente?
Linha teológica
Linha Antropológica
Linha de Síntese
As duas afirmações eram corretas. Ter-se-ia, porém, que falar sempre da mesma
pessoa. Se era verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, como poderia ser uma só pessoa?
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UNIDADE 4
Bacharelado em Teologia
d) Uma nova questão surge: “sendo duas as naturezas, seriam também duas as
vontades, duas as atuações?”. Sim, será a resposta.
5 CONSIDERAÇÕES
Se você achou teórica demais esta unidade, conclui algo certo, muitos também
pensam assim hoje. Contudo, este tema no passado foi tão popular que chegou a ser
discutido até nos botequins de esquina e causou muita briga. Em determinada época e até
recentemente (do século 4º até o 20), foi considerado o único tema da cristologia. Esta
cristologia dogmática é importante, entretanto, para não só evitar concepções e práticas
pastorais erradas, mas para compreender melhor, desde a razão, quem é o Senhor Jesus,
Deus e Homem verdadeiro.
Até a próxima!
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FORTE, B. Jesus de Nazaré. História de Deus, Deus da história. São Paulo: Paulinas,
1985.
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58 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 4 Bacharelado em Teologia
GARCIA DE ALBA, J. Cristo Jesus. Conhecê-lo, amá-lo e segui-lo. São Paulo: EDUSC,
1998, p. 199-211.
RAHNER, K. Theos nel Nuovo Testamento. In: Id. Saggi Teologia. Roma: Paoline 1965,
p. 568.
RUBENSTEIN, R. E. Quando Jesus se tornou deus. A luta épica sobre a divindade de Cristo
nos últimos dias de Roma. Rio de Janeiro: Fisus Ltda, 2001.
SERENTHA, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Ensaio de cristologia. São Paulo:
Salesiana, 1986.
7 E-REFERÊNCIA
Chamada numérica
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Anotações
UNIDADE 5
CRISTOLOGIA SISTEMÁTICA
Objetivos
• Sistematizar um discurso exaustivo sobre Jesus Cristo.
Conteúdos
• A cristologia hoje.
• O homem Jesus.
1 INTRODUÇÃO
Esta unidade propõe levar você a um grande processo projetivo de síntese e
sistematização do que foi estudado até aqui.
Assim, aqui você encontrará com Jesus Cristo, um ser humano original, não
só por ser divino e humano ao mesmo tempo. Você se lembra do conceito de “união
hipostática”?
Bom estudo!
2 AS CRISTOLOGIAS HOJE
A cristologia é feita no plural. Na verdade não existe a cristologia, mas as
cristologias. E porque é assim?
Nenhum estudo por mais completo que seja abarca toda a pessoa de Jesus,
homem e Deus, entre nós e nosso senhor salvador.
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
Numa grande síntese, se pode dizer que a cristologia tem tido dois grandes
modos de proceder (métodos): “a partir de baixo” ou “a partir de cima”.
A cristologia “a partir de baixo” é que vai predominando hoje como critério para
aproximar-se de Jesus. Por quê?
Não só por causa das mudanças sócio culturais do mundo, mas também pela
crescente “des-europeização” da Igreja. Não só porque a segunda usa uma “gramática”
que leva (quase hereticamente) a perceber Jesus em si, ontológico, como alguém (quase)
estranho aos seres humanos reais, mas também pela compreensão da mudança do
papel da Igreja, como “serva” e “instrumento de salvação” (cf. LG e GS). Por que ainda:
para responder “quem é Jesus Cristo, para nós hoje?”, é necessário, não apenas nova
linguagem, mas que leve também em conta as perspectivas antropológicas da cultura
contemporânea. E ai, inclusive, a recuperação de uma cristologia sotereológica.
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UNIDADE 5
Bacharelado em Teologia
INFORMAÇÃO: preocupação é ressaltar a kenose de Deus, que ao se humilhar, não se sentiu indigno
Alguns afirmam que sua forte de assumir a natureza humana, a fim de elevá-la até Deus. Tal cristologia, identifica nos
presença, em contraposição às
cristologias a partir de baixo, evangelhos, inclusive nos sinóticos, a presença de Deus no homem Jesus.
se deve ao fato de que ela é a
preferida pelos bispos e papas.
Assim, o que dizer sobre estas duas cristologias hoje?
Perspectivas cristológicas
Como é impossível escrever uma “síntese cristológica”, então se percebe que
todas e quaisquer cristologias sofrem a influência e cultura de seus teólogos.
3 O HOMEM JESUS
Jesus, um homem original
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
Viveu Jesus, ao tempo dos imperadores romanos Otavio Augusto (27 a.C. a
14 d.C.) e Tibério (4-37 d.C.); do governo de Herodes o Grande (até o ano 36 d.C.), o
perfeito romano, que administrou Judeia romana e detinha o poder de nomear o sumo
sacerdote e controlar o sinédrio no governo de Jerusalém (entre 4 e 41 d.C.). José Caifás,
influenciado pelo seu sogro Anás, foi sumo sacerdote por dezessete anos.
Vejamos a seguir o quadro que dividi a vida de Jesus narrada pelos quatro
evangelhos:
Mt Mc Lc Jo
Infância 1- 2 0 1-2 -
Ministério Público 3-25 1-13 3-21 1,19-17
Paixão e Morte 26-27 14-15 22-23 18-19
Ressurreição 28 16 24 20-21
Fonte: Acervo pessoal.
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UNIDADE 5
Bacharelado em Teologia
Jesus foi conhecido como pessoa normal, mesmo que com um algo a mais,
que o tornava diferente. Entre os seus contemporâneos, se conhecia seu pai, sua mãe e
seus irmãos. Sabia-se de sua profissão. Os evangelistas o mostram como quem viveu as
realidades humanas, como todos os outros homens e mulheres. Dizem eles: foi em tudo
semelhante a um de nós. Alegrou-se em festa de casamento.
Ensinou com autoridade. Gerou admiração e perseguição; foi amado e odiado. Por
causa de suas ideias, foi duro, exigente, com sua família; rigoroso com seus adversários e
benquisto entre os pobres. Valorizou coisas belas. Apreciou a natureza e o a simplicidade.
Foi didático em seus ensinamentos; e foi chamado de “mestre” rabi. Por muitos, inclusive
adversários, foi compreendido como profeta. Gostava de refeições com amigos. Chegou
a ser chamado de “glutão”. Foi severo com os que exploravam a religião em proveito
próprio.
Jesus encarou, com destemor, a morte. Sentiu seu peso e suas dores.
Crucificado, morreu abandonado por seus amigos.
Porque é diferente de nós, o próprio Jesus nosso irmão? Ele o é, pelo fato de ter
assumido a plenitude do homem, em sua originalidade. Ele é o ser humano original, radical,
projetado por Deus desde o início, desde antes da criação (histórica) do ser humana. No
dizer de São Paulo e dos Santos Padres: Ele, “o segundo Adão”, vindo do céu (cf. 1Cor
15,45-47; Rm 5,12-21), é o primogênito dentre os irmãos (cf. 1Cor 15,48; Rm 8,29),
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
Jesus é diferente porque sendo um dos nossos, como nós, é Aquele que vem como
“homem novo” (original no pensamento de Deus). Quando Ele centraliza sua vontade, seu
querer, de modo absoluto em Deus, é Ele capaz de fazer sempre a vontade de Deus. Ele é
diferente, por ter-se colocado todo a serviço de Deus e dos irmãos. Sua solidariedade, tão
extrema, revela profundamente, que Naquele homem encontramos Deus mesmo.
b) um homem orante;
Jesus centrou sua vida no Pai. Só se pode compreender Jesus a partir de sua
relação com o Abbá. Sem dúvida, sem deixar de notar que da parte de Deus houve sempre
uma atenção particular sobre o Homem Jesus (anunciação, batismo, morte e ressurreição
etc.). Por outro lado é fundamental ressaltar que Jesus elegeu a Deus como fonte e razão ATENÇÃO!
Não confunda ser místico com
de sua vida. Ele viveu para Deus, o Deus de Israel, seu Pai. uma pessoa que só vive em
oração, “fora do mundo”. Místico
• Vale salientar que Jesus, porque creu em Deus, foi um homem místico. é o que mantém profunda ligação
com Deus e age em favor dos
filhos de Deus. Quer dizer:
Assim, como “a boca fala do que o coração está cheio” (cf.Lc 6,45), isto se
oração e ação.
evidência. Jesus pôs em Deus as razões e fundamentos do seu agir, do seu falar e de sua
oração. Sua vida foi alimentada na fé e na confiança em Deus, até o extremo na noite da
cruz.
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Batatais – Claretiano
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UNIDADE 5
Bacharelado em Teologia
Jon Sobrino (entre outros) acentua não só esta piedade de Jesus, como comenta
a profundidade da oração do Senhor, superando ingenuidades, mecanizações, hipocrisias,
opressões, narcisismos. Acentua positivamente a oração de Jesus como um compromisso
situado, concreto e amoroso e sempre com sentido de totalidade. E, resume dizendo:
O fato mesmo de Jesus orar mostra que existe para Ele um pólo referencial
último de sentido pessoal, ante o qual se põe para recebê-lo e expressá-lo.
Esta oração é algo distinto de sua prática e de sua possível reflexão analítica
sobre como construir o reino; é uma realidade na qual expressa diante de
Deus o sentido de sua própria vida em relação à construção do reino, sentido
afirmado e questionado pela história real. Por isso, a oração de Jesus aparece
como busca da vontade de Deus, como alegria de que seu reino chega, como
aceitação de seu destino. Em síntese, aparece como confiança em Deus bom,
INFORMAÇÃO: que é o Pai e como disponibilidade diante de um Pai que continua sendo Deus,
Você pode aprofundar este tema
em SOBRINO, Jon. Jesus, o mistério. (SOBRINO, 1994, p. 211)
libertador, p. 207/211, além de
vários outros autores.
A vida de oração de Jesus revela não somente sua fé em Deus. Contudo, se
torna clara a própria confiança em Deus. Uma confiança cotidiana que se manifestava,
não só ao invocar a Deus; mas, sobretudo, atribuindo a Deus seus milagres, a origem e
significado de sua vida. A confiança absoluta e radical se evidencia no modo como Ele
assume a própria morte pela causa de Deus.
Enfim, Jesus entende que suas ações e reações, ensinos e obras (milagres),
tudo deve testemunhar sua relação com o Pai.
O testemunho que Jesus dá do Pai o leva a reprovar até mesmo a oração dos
que querem ser justos sem o ser, sobretudo por desprezarem os outros, os pobres (cf.
Lc 18,9-14). Do mesmo modo, dá testemunho de Deus ao expulsar demônios, símbolos
do poder do mal e da destruição (cf. Mc 3,21ss; Jo 10,20ss). Hospeda-se na casa de
pecadores (Zaqueu, por exemplo), porque a salvação de Deus deve chegar também a eles
(cf. Mc 2,15-17).
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Com sua morte, dá um radical testemunho de que Ele é enviado do Pai e que mesmo
no “abandono do Pai” (Mc 15,34), Ele confia ao extremo. Não em vão, todo o testemunho que
Jesus dá do Pai se manifesta na ação do Pai, que o ressuscita (cf. At 2,24).
Mesmo que tenha diferenciado, e com razão, o modo de Deus ser pai Dele e
nosso, criou, para todos, uma aproximação singular de Deus para com todos
os seres humanos. Deus, não é distante e nem um julgador implacável. Ele
não é nem um vingativo e nem um indiferente para com seus filhos. É um
Deus amoroso, sempre atento pelo bem de seus filhos.
Jesus faz compreender que Deus se aproxima de todos, especialmente dos pobres.
Ele vem a ser um Deus próximo, que ama e perdoa, que sabe de nossas necessidades
e é misericordioso para com todos os que o procuram. Jesus faz saber que Deus, o Pai,
o enviou a nós como expressão de seu amor providente. E em nome do Pai, Jesus cura,
perdoa, encontra “os perdidos”, reconcilia os inimigos de Deus e dos homens.
A nova imagem de Deus, mostrada por Jesus não é irênica nem ingênua. Deus
não se deixa convencer pela hipocrisia do orante (Lc 18, 9-14). Nem se deixa manipular
pelos “poderosos de seu tempo” que julgam “determinar” em seu nome a Lei e o ensino
dos profetas (cf. Mc 3,4; Lc 14,2s; Mt 12,11; Lc 6,24).
Jesus o apresenta como Senhor que não se convence com mecanismos idolátricos
da religião, particularmente da religião opressora (cf. Mc 7,1-23; Mt 15,1-20; Lc 11,38;
7,14; 13,10s). Deus, porque é justo, reprova a religião que oprime e discrimina, inclusive
lesando o direito do próximo (cf. Mt 7,13; Mc 7,14-23; 12,40; Lc 11,42. 46. 52).
É preciso lembrar que para Jesus, Deus não é uma questão de discussão e de
teorias, é sim preciso fazer a sua vontade na prática (cf. Mt 7,21).
Jesus não tem muito a dizer hoje sobre a questão de Deus se esta é vista
puramente a partir do ateísmo, da existência ou da não existência de Deus.
Mas, tem muito a dizer, até o dia de hoje, se perguntamos quem é o Deus e o
que fazer de Deus. Jesus não ilustra o fato que Deus exista, mas ilustra qual
Deus exista (SOBRINHO, 1994).
Jesus deu um valor salvífico ao Reino. Ele creu no Senhorio (Reino, Reinado) de
Deus que se aproximava. Creu que o reinado de Deus passava pela sua pessoa. Anunciá-
lo, por palavras, obras e até pela própria vida, foi sua missão. O que fez e disse foi em
função deste Senhorio.
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É importante perceber que Jesus anunciou que este Senhorio de Deus é salvífico.
E no exercício de sua missão, Jesus o comprovaria ao curar doentes de toda espécie, ao
perdoar pecadores, ao reconstituir a dignidade dos excluídos e discriminados, ao expulsar
os males e seus poderes diabólicos.
Por causa do Reinado de Deus que chegava, Jesus “restitui a vista aos cegos,
anuncia a libertação dos prisioneiros e o ano da graça do Senhor (cf. Lc 4,18ss). Porque
é salvador o Senhorio anunciado aos pobres, multiplica-se e se reparte o pão. As
“ovelhas perdidas” devem ser encontradas. Os pecadores precisam ser redimidos. As
crianças e mulheres passam a ser consideradas como iguais. Homens e mulheres são
companheiros.
Fez de si um Homem livre para amar. Para pôr-se à disposição dos outros. Fez
sua vida em prol dos outros. Porque havia centrado sua vida em Deus, viveu
para os outros.
É do seu ensino que decorre a afirmação de 1Jo 4,20: “Quem diz que ama Deus,
mas esquece o irmão é mentiroso”. Jesus radicalizou seu amor por Deus e pelos outros.
Sua preocupação mais radical ainda foi o ser humano necessitado. Fez do seu, um amor
amplo que se tornou universal: amou a todos, a exemplo de seu e nosso Pai.
Frente aos outros, foi sincero e serviçal (Lc 22,27). Aproximou-se desinteressadamente
dos pobres, dos excluídos, dos doentes, dos perdidos. Buscou os pecadores, os desolados.
Acolheu os fracos e os impuros (cf. Mc 1,23-38; 40-45; 5,25-34). Defendeu o povo humilde e
explorado (Mc 6,34; Mt 9,36) e até oprimido pela religião (Mt 23,4).
Da sua relação com Deus, brotou um empenhativo amor pelos outros. Fatigou-
se para atender a todos. Foi solicito para com os que o procuravam. Procurou quem não
podia procurá-lo (por causa das discriminações legais). Sofreu e chorou com os sofredores.
Animou as amizades. Devolveu a auto-estima. Soube confiar até o extremo (mesmo da
traição). Criou novas formas de convivência. Descobriu princípios mais convincentes e
profundos na Lei e nos Profetas, não veio para mudá-los, mas para aperfeiçoá-los (Mt
5,17). Oportunizou novos vínculos de solidariedade para com o próximo (que era gente
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
Da sua relação com Deus, gerou forças libertadoras para os que o procuravam,
inclusive para os ricos que o convidavam para seus jantares (esnobes): em suas casas
também deveria entrar a salvação. Para isso, era preciso que eles nascessem de novo em
espírito e verdade (Jo 3,3).
Como ensinara ao amor aos inimigos (cf. Mt 5,4ss), assim também viveu e
suplicou o perdão do Pai por aqueles que o crucificavam (cf. Lc 23,34).
Ele existe por causa de Deus. Sua vida, por causa de Deus. Deus é seu centro.
Então o querer, o pensar e o agir de Jesus são discernidos a partir de Deus: “Vim para
fazer a tua vontade, o Pai” (cf. Jo 6,28); “não se faça a minha, mas a tua vontade” (Lc
22,42; Mc 14,36). O simbolismo da eleição do Pai no batismo e na transfiguração, além de
indicar o motivo da “eleição” divina, pode apontar outro sentido:
Jesus foi eleito porque se deixou (parece ser uma questão passiva) eleger. Se
assim é, é porque Ele se fez todo de Deus (questão ativa). Deus elege todo ser
humano para ser seu filho (no Filho, inclusive desde antes da criação – cf. Ef
3,3ss). Jesus, o nascido de mulher (Gl 4,4), Filho de Davi segundo a carne (Mt
9,27), compreende profundamente que a razão de seu ser era fazer a vontade
de Deus. Só a partir de Deus é que Ele se autoconcebe. Deus é seu único
Senhor. Fazer sua vontade é realizar-se de modo pleno como humano.
INFORMAÇÃO:
Reveja o conceito de “novo adão”
nos cadernos das disciplinas
de Antropologia teológica, nas
Como São Paulo afirma, Jesus é o ser humano novo, o novo Adão (etiológico e/ Unidades 3 e 5, e Introdução
Geral à Bíblia e História de
ou histórico). Israel. Deus antevia em Cristo
Jesus o ser humano perfeito,
por antonomásia. Assim, volte
Na verdade, Nele nós encontramos não só o “ser humano novo”, mas, o iniciador ao seu caderno de Antropologia
da humanidade nova. Nele temos a origem e o destino final do ser humano pessoal e Teológica e releia, na Unidade 3,
sobretudo, os tópicos 2, 3, 4 e 5.
coletivo. Nisto, Jesus humano-divino é o modelo e o exemplo da filiação divina.
É por isto, que o Vaticano II, na Gs, 22, ensina que só Ele nos revela quem
verdadeiramente somos. Por estar totalmente aberto a Deus, e isto faz a diferença entre
nós, Ele pode pôr-se a serviço dos homens e mulheres de seu tempo (Ele é de todos os
tempos), (cf. Mc 10,45).
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UNIDADE 5
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Se o povo de então se sentia atraído por Ele, procurando até tocá-lo para ser
curado, o ouvia por saber que Ele falava com autoridade e reconhecia Nele alguém vindo
de Deus. Porque percebia Nele alguém tão humano, se divisava, em sua pessoa, os traços
divinos que Deus sonhou para todo ser humano. Primogênito dentre os irmãos revelava
isto em sua vida toda dedicada a Deus, toda em favor dos irmãos. Enfim, era realmente
humano, mas de um modo diferente. Diferente por que foi verdadeiro e profundamente
humano.
INFORMAÇÃO:
Para você se aprofundar no Um teólogo alemão, H. Schürmann, caracterizando esta solidariedade de Jesus
assunto, confira o conceito de
Schürmann, que já é clássico em pelos outros, cunhou o termo “pró-existência”. Da vida totalmente voltada para o Pai, Jesus
cristologia, no respectivo verbete viveu o amor de Deus inesgotável para o ser humano. Ele fez-se livre para servir.
“pró-existência” do Dicionário
Crítico de Teologia, p. 1452, ou
em Hans. Kessler, op.cit. p.363/4. Jesus não apenas testemunhou o tão grande amor de Deus por nós, mas deu
o exemplo de viver por nós e para nós. Existiu para Deus e para nós. Mais que atos de
benevolência e/ou bondade, Ele viveu movido pela solidariedade radical, que não substitui
o outro, nem o limita. Mas, viveu para promover, elevar e dignificar o outro a ponto de dar
a vida por nós e por Deus.
Os cristãos provenientes do hinduísmo olham para este homem Jesus que olha
para eles e o reconhecem como o grande líder espiritual (guru) ou um grande
avatar, capaz de como Deus universal, encarnar-se para eliminar os males do
mundo e despertar a bondade por toda parte.
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A tão inaudita dedicação de Jesus por nós o levou a se tornar homem sem
pecado. Condiciona-se a si mesmo e a sua causa por Deus e pelos outros: não há espaço
para idolatrias, interesses próprios. Tudo Nele se torna de Deus e para Deus, por nós e
para nós.
É por isto que se pode dizer: em tudo, Ele foi igual a nós, menos no pecado. Como
Deus não poderia pecar. Mas, como homem sim. Não pecou porque viveu inteiramente
para Deus e por nós. Todavia, foi tentado como nós o somos. Ninguém está isento da
tentação. Mas, todo ser humano pode também, como Jesus, não pecar porque se é livre.
Neste homem a Igreja descobriu não só o messias de Deus, mas Deus mesmo
entre nós, o Emanuel. No homem Jesus, a Igreja descobriu Deus encarnado.
Não foram os apóstolos, nem a Igreja que divinizaram o homem Jesus. Não o ATENÇÃO!
Vale salientar que neste estudo,
fizeram um deus, como procediam os romanos, os gregos e outros mais. Ao contrário
se deve ter presente não
descobriram que no Homem Jesus, Deus se fizera um de nós, por nós e para nós. Foram apenas a história dos dogmas
os apóstolos e a Igreja nascente que precisaram de novos critérios e conceitos para cristológicos, mas também, deve
estar aberto para compreender
compreender Jesus e o próprio Deus. o significado da Trindade Una
ou da Unidade Trina, que alguns
dizem: ‘Tri-unidade’. Este tema
será desenvolvido em outra
disciplina no decorrer do nosso
Para muitos cristãos, a morte de Jesus, na cruz, para nos salvar de nossos
pecados é a razão última de Ele ter-se feito humano entre nós. Só pela cruz Ele seria o
nosso salvador. No entanto, esta reflexão (estaurologia), utilizada sobretudo no segundo
milênio, e a piedade popular deram uma importância tal que parece isto ser a verdade
plena e quase única.
Hoje, um número significativo de cristólogos tem preferido fazer seus estudos ATENÇÃO!
É importante que você neste
centrados no significado global da vida de Jesus, desde seu nascimento até a ressurreição. momento, retorne ao tema
Mas, isto é questão para outro momento de nosso estudo. E agora importa ver este grande estudado nas unidades bíblica
tema do destino de Jesus, detalhando as teologias de sua morte e ressurreição, que será e dogmática sobre a morte
de Jesus. Feito isto, retome o
analisado no próprio contexto do Verbo feito um de nós, para nossa salvação. O tema está estudo, porém, com uma ótica
localizado no todo da vida de Jesus. mais abrangente, como resposta
para o nosso tempo.
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UNIDADE 5
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Muitos cristãos creem que o Verbo eterno se fez humano para morrer na cruz,
a fim de reparar a tão grande ofensa feita a Deus por nossos pecados. Só um ser perfeito
(na verdade, o próprio Filho de Deus) poderia satisfazer, por nós, a ira divina (teoria da
satisfação, cujo autor mais importante é Santo Anselmo).
Outros cristãos pensam que a morte de Jesus tornou-se um mérito nosso junto
a Deus também para conquistar o preço do perdão (teoria do mérito). Fundamentados
na Bíblia, outros preferem enfatizar a morte de Jesus como um sacrifício pelos nossos
pecados. Um sacrifício que poderia selar a aliança nova e definitiva dos homens e Deus (A
ênfase na eucaristia traz esta ideia muito viva).
Estas teorias têm grande valor para interpretar a ação salvifica de Jesus. Elas
podem ser estudadas em muitos textos e livros, como se indicará ao final desta unidade.
É importante ressaltar: elas têm sua validade ainda hoje; porém, são encontrados muitos
limites nelas – que não podem ser ignorados.
Todas elas enfatizam a morte na cruz, por causa do pecado, o que não deixa
de ter sua verdade. Elas, porém tem o limite de perceber o significado de vida de Jesus,
apenas em sua morte. Ele existiu por causa dos pecados a serem redimidos pela sua
morte. Hoje, também, continua-se percebendo a riqueza de cada uma delas. Nota-se,
porém, que elas devem ser assumidas de modo conjunto e não isolado para manterem a
validade global, mesmo que ainda limitadamente.
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Aqui, de modo algum, se quer negar o valor salvífico da morte de Jesus na cruz.
Apenas está se chamando atenção critica para a insuficiência das teorias históricas e/ou
da não exclusividade das duas predominantes teorias bíblicas.
Mas, era ela necessária? Santo Tomás já respondeu a questão: não se trata de
uma possibilidade. Ela é o fato, a realidade. Poder-se-ia perguntar então: ela foi querida
por Deus e buscada por Jesus? E a resposta absoluta é: “não”.
a) teoria do sacrifício;
c) teoria da satisfação;
d) teoria do mérito.
Teorias bíblicas
Teoria do sacrifício
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UNIDADE 5
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divina junto ao povo. Também por meio do sangue da vítima se julgava aplacar (ainda que
provisoriamente) a ira de Deus, ferida pela maldade humana. Inocente era a vítima a ser
sacrificada pelo pecador, apesar de que Deus, por meio dos profetas, insistia na pureza de
coração, na hombridade dos atos pessoais: corações puros! Os cânticos isaianos do Servo
sofredor expressam bem o significado do sacrifício. Sua teologia se torna clara, sobretudo,
no texto de Is 53.
No caso da morte de Jesus, o sangue derramado “por nós homens e pela nossa
salvação” como iniciativa de amor de Jesus em oferta ao Pai, tornou-se, em realidade, o dom
supremo do Pai à humanidade (cf. Rm 3,24-26). Seu valor implica no oferecimento de nossas
vidas, como sacrifício vivo, santo e aceito por Deus (Rm 12,1), em favor dos irmãos.
Cristo é o parente mais próximo do ser humano, que está escravizado pelo seu
pecado. Só Cristo é livre, porque vem de Deus, e por isto pode pagar o preço devido. Aliás,
o próprio Jesus se apresentou como resgatador e libertador (cf. Mc 10,45; Mt 20,28). Isto
também fica claro nos textos de 1Tm 2,5-6; Tt 2,14.
Teorias teológicas
Teoria da satisfação
ATENÇÂO: Este tema já foi comentado anteriormente ao se falar da cristologia de São
Volte e releia o texto na Unidade
1, item2, para perceber melhor o Anselmo.
sentido desta teoria.
Se o homem ofendeu gravemente a Deus, é necessário que Deus se faça
humano para poder reparar de modo infinito a ofensa feita. Cristo, em nosso lugar (daqui
vai surgir a teoria da satisfação vicária). É o único capaz de satisfazer adequadamente
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
Deus ofendido. A pena do pecado é o sofrimento e a morte de cruz. Deus castiga o Cristo,
que morre por nós – em vista do nosso pecado – e assim a justiça divina é recomposta.
Fomos curados graças ao seu sacrifício e à sua morte na cruz.
Esta teoria, hoje, deixa de ter tanto valor, mesmo num ordenamento jurídico,
por enfatizar um mecanismo atroz de pagamento do mal por outra situação maldosa. Isto
não se harmoniza nem com a experiência humana de Jesus e nem com nossa experiência
diante de Deus. Entretanto, a teoria mantém seu significado permanente à medida que
se descobre a solidariedade de Cristo por nós, a ponto de dar sua vida em busca da mais
completa fidelidade ao Pai.
Teoria do mérito
A morte de Jesus obtém, alcança, para nós, não só o perdão dos nossos
pecados, mas também restaura a ordem perturbada pelo mal. A morte cancela, destrói, a
desordem do pecado e nos garante a renovação da ordem perdida, abrindo a possibilidade
da ressurreição, da vida nova. Deus aceita, como radical adesão humana à sua vontade
divina, a santidade de vida nossa vivida mesmo na dor e no extremo da morte de seu
PARA VOCÊ REFLETIR:
Filho, que nos “merece” assim a salvação. Se “adão” criara seu deus, seu ídolo, fazendo
Você poderá aprofundar estas
exatamente o contrário da vontade divina, agora, Cristo o recupera em amor tão grande, teorias, lendo entre, outros
assumindo a morte na cruz, e obtém, “merece”, obtem o perdão dos pecados e a salvação textos, BOFF, L. Paixão de cristo,
paixão do mundo. Petrópolis:
para todos. Vozes, 1977, p. 108-126 e
SERENTHA, M. Jesus Cristo,
ontem, hoje e sempre. Ensaio de
Estas quatro teorias, que predominaram e predominam na teologia e na vida cristologia. São Paulo: Salesiana,
da Igreja, nem sempre são “convincentes” na atualidade para muitos cristãos. 1986, p. 425-444.
A morte de Jesus só tem significado mediante sua relação de Jesus com Deus
INFORMAÇÃO:
e conosco. Nesta relação surge uma teologia da entrega ou da solidariedade, (significado Para aprofundar nossos estudos
antropológico), que foi o modo de Jesus viver e entender sua morte: A “entrega Dele por leia os textos: Mc 9,31; 10,33-
34; 14,41; 15,1.15; Mt 20,28;
Deus e por nos” é uma questão muito presente nos evangelhos. Lc 22,27; Jo 10,17. Pesquise
também em outros textos
neotestamentários como: Gl 1,4;
O próprio Jesus indica que o Filho do Homem vai ser entregue às mãos do
2,20; Ef 5,2.25; Tt 2,14; 1Tm 2,6.
Sinédrio, dos pagãos. Ele será escarnecido, flagelado e morto (cf. Mc 14,41). Ele viveu a
condenação e a morte como auto-entrega a Deus e a todos os homens, como consequência
de sua vida terrena (pro-existência). Jesus deixou-se levar de mão em mão: traído por
Judas é entregue aos soldados, que o entregam aos sumos sacerdotes, que o entregam
ao Sinédrio, que o entrega a Pilatos e Herodes, que o entregam aos soldados para o
crucificarem.
Abandonado por todos (incluídos aqueles a quem dedicara sua vida), e em sua
extrema solidão, Jesus entrega, num grito lancinante, seu “ruah” ao Pai (cf. Lc 23,46; Jo
19,30). Paulo, interpretando, para sua comunidade, sintetiza: “Minha vida presente na
carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por
mim” (Gl 2,20; cf. Ef 5,2.25; Tt 2,14).
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UNIDADE 5
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Significado da entrega
Nesta teologia da entrega ou da solidariedade descobre-se um segundo aspecto:
o significado teológico. Deus mesmo entregou seu Filho único. Deus o entregou ao mundo
para salvar o mundo. Não poupou o próprio Filho, para evidenciar o quanto nos ama
(cf. Rm 4,25; 8,22; Jo 3,16s; Rm 8,31s). No Filho, é Deus mesmo que se entrega aos
pecadores e às vitimas do pecado. Deus se entrega no seu Filho, não por uma prepotência
divina sobre o Filho, mas enquanto este radicaliza, como seu, o querer do Pai. Nem sua
vida, nem sua morte lhe pertencem; elas pertencem ao Pai.
Deus, ao mesmo tempo, se entrega pelo Filho às mãos dos pecadores, para que
estes consumam sua obra perversa. Sem os pecadores perceberem é, desde dentro da
morte e do pecado, que Deus vai lhes redimir. A fé cristã professa que um da Trindade
morreu na cruz. Jesus crucificado é a Segunda Pessoa da Trindade. Na morte do Verbo
encarnado, Deus entra em contato com o sofrimento sem se deixar sucumbir por ela
(Jesus é ressuscitado pelo Pai, que destrói a morte). Por esta entrega, Deus nos redime
da nossa morte.
Nesta radicalidade da morte, Deus se revela quem é: Ele é amor (1Jo 4,8). É
aquele que ama o ser humano, numa entrega total para que ninguém se perca (cf. Jo 3,16).
Deus é Jesus e Jesus é Deus. Nesta identificação profunda e absoluta, compreende-se a
relação exclusiva entre Deus e o homem Jesus, como Aquele que viveu por nós e para nós.
Esta entrega à morte para vencê-la por nós e para nós, significa a autocomunicação de Deus
para o “não-Deus” (o ser humano) de modo a atingir à plenitude na ressurreição do Filho.
Esta entrega resume o significado do ensino de Jesus, que antes de ser uma
dimensão ética, é teológica: “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la. E quem perder
a sua vida, a salvará” (Jo 12,25).
Teoria da representação
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
Jesus morre não apenas em favor de nós, mas também em nosso lugar.
Esta teologia tradicional, que mantém uma proveniência jurídica, tem sido
renovada em grandes teólogos atuais: Wolfgang Pannemberg, Walter Kasper,
Urs Von Balthazar, Joseph Ratzinger, entre outros.
A morte de Jesus como representação de um por muitos; não livra nem substitui
a morte dos outros e muito menos a responsabilidade pessoal de cada um. Ela significa:
Um dentre nós amou tanto a Deus quanto os seus irmãos, que se tornou capaz
de representar, em si mesmo, toda a possibilidade humana de amor a Deus
sobre todas as coisas, com todo entendimento, com todas as forças, de todo
o coração (cf. Lc 10,27). Um dentre nós foi capaz de transcender-se a ponto
de dar a vida para fazer a vontade de Deus (a de não perder de nenhum dos
irmãos).
Se “Ele se entregou por mim” como diz São Paulo (Gl 2,20), oferecido por Deus
a nós, também o caminho inverso ocorre. Nas atitudes deste filho da humanidade, nascido
de mulher sob a Lei (cf. Gl 4,4), foi feita, não a vontade de Adão (cf. Gn 3,6; Lc 22,42),
mas a do Pai (significado antropológico).
Visto que em sua vida e sua morte, Jesus é o ser humano verdadeiro que
corresponde inteiramente a Deus, sendo, portanto, em seu relacionamento
com Deus e os outros, o protótipo do ser humano, como tal, Ele representa
em si todos os demais seres humanos, não como eles sempre são, mas como
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O sacrifício de Jesus “pelos pecados do mundo inteiro (1Jo 2,2) é a mais pura
representação do amor humano a Deus. A oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada
uma só vez por todas”, na cruz (cf. Heb 10,5-10), não apenas nos santifica, mas também
nos apresenta como hóstias vivas de suave odor ao Pai (cf. Ef 5,2).
Amando-nos até o fim, dando a vida por nós, seus amigos, fazendo-se um
conosco, Ele se torna nosso representante junto ao Pai. Pois é seu desejo que onde Ele
estiver, nós estejamos com Ele. “Ele uniu a si, de certo modo, todo homem” (Gs 22,2).
Deu assim a todos a possibilidade de se associarem ao seu Mistério Pascal (cf. Gs 22,5).
Chama os seus a tomarem suas cruzes e O seguirem (cf. Mc 10,39), dando-lhes o exemplo
para que sigam os seus passos (cf. 1Pe 2,21).
Sem a cruz de Jesus deixa de ser um movimento primeiro de cima para baixo,
como diz Ratzinger (cf. Introdução ao cristianismo, p. 209). É nela que o Pai reencontra
o velho e o novo Adão e os chama de volta ao paraíso. Jesus sintetiza em si a realidade
humana (fizera-se até pecado por nós (cf. 2Cor 5,21) e era o Filho amado do Pai (cf. Mt
3,17; Mc 9,7). Numa síntese feliz, H. Kessler afirma:
Justamente em sua morte Ele representa, por isto, os muitos e os faz, através
do efeito ‘multiplicador’ da graça (2Cor 4,15), partícipes de sua própria justiça
de Deus (5,21). Esse, um ser humano, representa o lugar de Deus junto a todos
os seres humanos e o lugar destes junto a Deus; ao invés de nos substituir,
Ele mantém esse lugar permanentemente aberto para nós e nos introduz em
sua própria atitude interior. A representação de Jesus contém, assim, um
movimento exclusivo (que cabe unicamente a Jesus) e um inclusivo (que inclui
e convida os outros)”. (KESSLER, op. cit., p. 380/1).
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80 Claretiano – Batatais
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
a) Histórico:
• condenado politicamente, por desacato ao Estado Romano (subversão) e
messianismo/pretensão de realeza;
• religiosamente, a questão do “sábado”;
• a pretensão de filiação divina.
b) Bíblico:
• Morte como sacrifício, redenção (resgate);
• Figura do servo sofredor, profeta mártir escatológico.
c) Teológico:
• Deus o fez pecado por causa de nós;
• Como satisfação a Deus;
• Como mérito por nós junto a Deus;
• Por solidariedade e representação.
d) Sotereológico:
• para o perdão dos pecados (dimensão negativa);
• para nossa salvação (dimensão positiva).
Há uma imensa gama de interpretações. Todas elas têm (ou tiveram) sua
validade. Não há uma que seja suficientemente globalizante. Sempre são pontos de vistas
que podem partir de universos sócio-culturais, religiosos ou teológicos diversos.
Hoje, há uma forte ênfase em compreender toda a vida encarnada de Jesus Cristo
(não apenas sua morte), como ação sotereológica (salvifica). Particularmente, são postas duas
questões sobre a morte: o aspecto redentor dos pecados da humanidade e a solidariedade
representativa de Jesus (um amor pró-existente: por Deus e por nós, homens).
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Batatais – Claretiano
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Lembre-se que sem a ressurreição a nossa fé é vã, como já dizia São Paulo.
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se encontrassem o corpo de Jesus, dois mil anos depois? A nossa fé não se baseia num
cadáver morto, mas na realidade escatológica aceita pela fé.
A “ressurreição de Jesus” não é uma ideia absurda. Nela, e para além dela, os
cristãos encontram a explicação, racional e razoável, para os profundos anseios humanos.
Eles afirmam: “o ser humano existe a caminho da plenitude da vida humana, que só se
realiza em Deus, ao poder vê-lo face a face, sem nunca mais morrer”.
A ressurreição de Jesus tem a ver com o futuro, mas já é vivido na fé, hoje. Por
isto o modo de viver Dele é algo desconhecido para nós: sabermos, no entanto que Ele
mantém a integralidade de sujeito humano, vivendo junto de Deus e como Deus.
A fé pascal crê neste Jesus que passou pelo mundo fazendo o bem (At 10,38),
que Deus estava Nele e com Ele, reconciliando consigo o mundo (2Cor 5,18), que Nele Deus
esteve (e está) conosco (Emanuel, Mt 1,23). Ela crê que Ele nos revelou o Pai (cf. Jo 1,18)
e foi constituído para a nossa salvação. Crê-se que, por Ele, Deus reinicia a humanidade
e o cosmo de modo definitivo e último para a plenificação. E se crê, finalmente, por sua
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ressurreição, Deus nos deu o Espírito Santificador o que nos conduzirá à nossa plenitude
humana: viver em Deus.
A fé pascal, contudo, tem uma implicação radical, que, aliás, decorre das
próprias aparições do ressuscitado. É frequente esquecer que todas as
aparições estão vinculadas ao mandato missionário.
“Sei que meu redentor vive” é um brado de fé pascal. Mas, como encontrá-lo
hoje? Ao responder esta questão, Leonardo Boff diz com propriedade, lembrando, que “o
cristianismo não vive de uma saudade, mas celebra uma esperança”. O autor enumera
várias maneiras da presença do ressuscitado hoje:
INFORMAÇÃO:
b) no ser humano (o maior sacramento de Cristo);
É importante você ler agora,
em BOFF. Leonardo. Jesus
c) nos cristãos anônimos e latentes;
Libertador, Petrópolis: Vozes
(várias edições), os capítulos: d) nos cristãos explícitos e patentes;
“Onde encontramos o Cristo
ressuscitado hoje?” e “Como e) na Igreja (sacramento primordial da presença do Senhor).
vamos chamar Jesus Cristo
hoje?” Lembre-se que o contexto
As aparições de Jesus (1Cor 15,5-8), sua ascensão, exaltação, entronização à
sociocultural do livro, já não é
mais o do tempo atual, mesmo direita do Pai ou recuperação da glória que detinha antes da encarnação (cf. Jo 17,5; 1Tm
nas reedições do autor. 3,15) etc., são variações bíblicas que interpretam o mesmo fato básico da ressurreição,
em ângulos diferentes de tempo e objetivos, que a própria liturgia tem sabido em explorá-
los dentro do único mistério pascal.
Como diz C. Duquoc: “Nas experiências da Páscoa se ligam assim visão, audição,
êxtase. Páscoa, Ascensão e Pentecostes se juntam sob a força do Espírito” (In: LACOSTE,
2004. p. 1533).
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É por isto que se diz do Deus de Jesus: “Ele é senhor dos vivos e dos mortos”
(Mc 12,27), “Deus para nós é um deus de salvação; só o senhor Deus pode libertar
da morte” (Sl 68,21). Libertando da morte, Deus ressuscita, primeiramente seu Filho e
depois todos os outros (cf. 2Cor 1,9).
O Deus vencedor da morte é o futuro do ser humano, pois Ele é fiel à sua
palavra. Diante da ação do ressuscitamento de Jesus, todo homem e toda mulher podem
crer que o mal, o pecado (injustiça, miséria, opressão) e a morte não têm consistência em
si mesmos, apesar das aparências históricas. Esta ação de Deus revela de modo definitivo
que Ele é “Deus conosco” (Mt 1,23) e “estava no seu Cristo e reconciliou consigo o mundo
(cf. 2Cor 5,18);
Confirmadas por Deus, a pessoa, a vida e a obra de Jesus, Ele é revelado agora
como o Adão definitivo, primogênito dentre os vivos e mortos, dentre todos os irmãos. Ele
é o consumador da obra de Deus. Sua vida histórica terrena confirma também que Ele era
Deus conosco (Emanuel). Adentrado na história, inclusive na realidade do sofrimento, do
pecado e da opressão, Ele é o redentor e salvador da humanidade. Sua vida, não só vivida
a partir da vontade de Deus, mas de Deus encarnado evidencia que a comunhão vivida
em favor de Deus e dos irmãos, se torna indestrutível.
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UNIDADE 5
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Se a ressurreição revela que Jesus era Deus entre nós, ela revela também que
Ele entra na glória do Pai, que como Filho já a possuía antes da criação do mundo (Jo
17,5). É daí que surge a validade da fórmula teológica tão frequente: “Ele ressuscitou” por
sua própria força divina.
A criação e a história são contínuas e processuais. Mas, sem sentido, sua razão,
está no fim. Este processo é garantido pelo homem-Deus ressuscitado que vive em
Deus como Deus mesmo. Por isto para os cristãos, surge a certeza (não a esperança) da
fidelidade de Deus (Ele foi fiel para com seu Filho) e de Cristo (que foi fiel ao Pai e aos
homens): nosso futuro absoluto é Deus. Ele não só vence todo pecado, mas consuma seu
plano, traçado desde a origem do mundo: sermos santos e perfeitos por meio de seu Filho
(cf. Ef 1,3ss).
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UNIDADE 5 Bacharelado em Teologia
Se a ressurreição revela que Aquele homem era Deus desde toda a eternidade,
ela revela, por outro lado, que Naquele homem a humanidade se tornou inseparável
de Deus também na eternidade. Nele, permanecem as duas naturezas unidas junto a
Deus, mas inconfusas, imutáveis, indivisas e inseparáveis, conforme o próprio ensino de
Calcedônia.
Sem dúvida, a união não se desfaz (nunca mais), por isso a ressurreição atinge a
realidade total de Jesus Cristo, Aquele que é um só e o mesmo, aquele que é o crucificado-
ressuscitado.
Este é o mistério da vontade de Deus, o que quer que ninguém se perca, pois
em Cristo quer salvar a todos. O homem ressuscitado é a realização máxima e irreversível
das aspirações humanas mais profundas. Jesus, como primícias dos que morreram,
atingiu esta plenitude. Isto o faz garantia da fidelidade da promessa de Deus a todos os
homens.
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UNIDADE 5
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Quando isto acontecer, então se verá que Deus tinha razão ao ver o homem
criado como sua imagem e semelhança e exclamar que não apenas era “bom” com as
outras criaturas, mas “muito bom” (cf. Gn 1,31). E, então, seguirá o sétimo dia, o do
“descanso” de Deus. E seguirá porque a criação está consumada e Deus celebrará, com
todas as suas criaturas, a festa que no céu nunca se acaba. O fim é a festa eterna de Deus,
em que o homem continuará sendo aquele que Deus tendo-o levado à perfeição, há de
amar como sua criatura especial, por meio de seu Filho.
6 CONSIDERAÇÕES:
Nesta unidade, nos dedicamos ao estudo do significado teológico sistemático de
Jesus de Nazaré. Após a retomada conceitual de cristologia, procuramos entender como
Jesus se autocompreendeu a partir de Deus e em favor de nós.
Certamente estas ideias devem ter ficado bem claras para você. Caso contrário,
é convidado a revê-las e/ou ampliar sua leitura, até mesmo recorrendo a outras fontes
indicadas.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGER, K. Para que Jesus morreu na cruz? São Paulo: Loyola, 2005.
BINGEMER, M. Jesus Cristo: servo de Deus e messias glorioso. São Paulo: Paulinas Valência
(Espanha): Siquém. 2007.
BOURGEOIS, H. Libertar Jesus. Cristologias atuais. São Paulo: Loyola, 1989. Concilium.
Revista Internacional de Teologia 326 -2008/3. Petrópolis: Vozes.
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GOURGUES, M. Jesus diante de sua paixão e morte. São Paulo: Paulinas, 1985.
MOLTMANN, J. Quem é Jesus Cristo para nós hoje? Petrópolis: Vozes, 1997.
RODRIGUEZ, F. Jesus. Relato histórico de Deus. Cristologia para viver e rezar. São Paulo:
Paulinas, 1999.
SERENTHA, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. Ensaio de cristologia. São Paulo:
Salesiana, 1986, p. 425-444.
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Anotações
UNIDADE 6
O LUGAR E O PAPEL
DE CRISTO NO PLANO DE DEUS
Objetivos
• Justificar a pré e a pós-existência de Jesus, bem como
sua encarnação, como ação salvífica do Pai.
Conteúdos
• O lugar do salvador no plano de Deus.
• Teologia da salvação.
• Seguir Jesus.
UNIDADE 6
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1 INTRODUÇÃO
Seus estudos vão se encaminhando para o grande significado da revelação de
Deus e do mistério de Jesus desde sua encarnação (nascimento, vida, morte e ressurreição).
Agora, como que a concluir, você encontrará:
• Aquele que sendo humano, como nós, na verdade é Deus pré-existente desde
toda a eternidade e veio, entre nós, para nós salvar.
• Aquele que tendo vivido como um de nós, hoje continua vivo e vivificante, e
por isto nos levará à salvação plena em Deus.
Seria bem pequena se sua missão fosse apenas nos salvar de nossos pecados.
O significado de Jesus salvador é muito maior.
ATENÇÃO!
Para compreender melhor Espero que ao aprofundar o tema você possa (re)descobrir a grandeza Daquele
os conteúdos propostos é que, vivendo com o Pai e o Espírito, foi constituído iniciador e consumador de toda a obra
importante que você realize as
atividades e as interatividades criada.
propostas. Além disso, leia o
máximo possível dos textos
indicados complementarmente. Nós professamos a fé de que o Verbo eterno se fez um de nós. Encarnou-se,
para a nossa salvação.
Eterno com o Pai e o Espírito Santo, gerado antes de todo o tempo para ser
o Adão perfeito na história (que incluiu sua encarnação, morte e ressurreição), sem
deixar de ser Deus, é nosso salvador por ter recebido do Pai esta missão. Ele tem uma
originalidade tão própria, que mesmo sendo judeu do primeiro século da era cristã tornou-
se um homem universal.
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UNIDADE 6 Bacharelado em Teologia
Ele, em tudo, fez a vontade de Deus, pois a colocou como centro e fonte de sua
vida. Passou pela vida fazendo o bem. Foi tentado, como todos os outros seres humanos,
mas não capitulou, nem mesmo diante da última tentação, livrar-se da morte.
Este homem era Deus entre nós (Emanuel). Não fez, entretanto, desta condição
uma ocasião de privilégios. Esvaziou-se de si mesmo e foi reconhecido por alguns como
apenas o filho de carpinteiro, cujos irmãos e irmãs viviam entre eles. Outros se espantavam
de seu ensino com autoridade, acorriam a Ele para que os curasse de suas doenças, males
e outros poderes demoníacos. Anunciou que chegava o Senhorio de Deus e creu que
isto acontecia por meio de sua pessoa. Fez o bem e reintegrou os excluídos, perdoou os
pecadores e consolou os aflitos.
Tão humano foi que após a ressurreição começaram a reconhecer Nele Deus
entre nós (Emanuel). Na leitura retroativa de sua vida, obra e mensagem, descobriu-se
Nele, também, o messias prometido, o salvador único.
Ele exigiu silêncio sobre certos fatos de sua vida histórica, fatos estes
que poderiam explicitar quem Ele era [o conhecido segredo messiânico (cf. Mc 3,13;
5,43; 8,30; Mt 8,4-9; 9,30; 12,16; 17,9; Lc 5,15). No entanto, adversários, pagãos e,
sobretudo, “demônios”, reconheceram-no como “Filho de Deus”, Deus mesmo. Alguns
momentos de sua vida, como a transfiguração, as declarações do Pai sobre Ele como Filho
eleito, o perdão dos pecados (que só Deus podia conceder), a entrega de si como pão
partido e vinho derramado (última ceia) etc., poderiam evidenciar sua realidade divina,
compreendida após a ressurreição.
Todavia, esta kenose de Deus, que chegou a ponto de ser crucificado como
herege e subversivo, revelou-o, na ressurreição, como o Deus que salva seu povo. O nome
Jesus significa “Deus salva”. Ele realizou em si seu nome.
O vivente e o vivificar
Jesus continua vivo hoje, não apenas na memória. Ele está presente no universo
cósmico, quando dois ou três se reúnem em seu nome. Os pobres e excluídos, seus irmãos
menores, atestam sua presença kenótica. Todavia, Ele é encontrado em todo bem, ou
seja, na compaixão, na solidariedade de todos os homens e mulheres do mundo, que
mesmo sem o conhecerem, buscam a justiça e a paz. Ele é encontrado, de modo público,
quando se defendem os direitos humanos, se cuida da saúde e da educação; quando se
fortificam a liberdade, a igualdade e a fraternidade; quando se promove a justiça e a paz,
sem violência.
Hoje, Ele está vivo junto de Deus com os anjos e todos os irmãos que nos
precederam na vida. Está vivo, também, com contagiante poder de libertação, junto a
todos os homens e mulheres de boa vontade, que o acolhem na fé explicita ou implícita.
Ele está vivo, entre nós, na Igreja e, em particular, na Eucaristia.
Ele não só está vivo, como também vivifica homens e mulheres por meio de seu
Espírito, o que o torna contemporâneo nosso. O Espírito é seu defensor junto a nós, ao
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mesmo tempo que nos faz participar da sua condição filial. Milhares de cristãos, na força
do Espírito, o seguem como o Caminho, que leva à Verdade e à Vida.
Este homem ungido pelo Espírito foi proclamado na Páscoa, Senhor e Cristo. Por
isso, continua sendo o mesmo, ontem, hoje e sempre (Heb 13,8). Pré-existia como Deus
e fez-se humana imagem visível do Deus invisível (Cl 1,15). Nele tudo se sustenta e tudo
se encaminha para Ele.
Como pode o ser humano salvar-se, separado Dele, ignorando o significado pleno
de sua vida? Como pode o homem buscar a Deus e libertar-se dos males que o contagiam?
Como reconhecer estes males e reconciliar-se com Deus? Ele é, pois, o caminho.
Aquele que comeu com pecadores e publicanos (cf. Mc 2,16; Lc 15,2), que
conversou com pecadora pública (Jo 4,1-42), deixou lavar seus pés pela pecadora (Lc
7,36-50), que frequentou o “mau ambiente” dos marginalizados, dos cobradores de
impostos, dos endemoniados e por fim foi trocado na morte pelo criminoso Barrabás e
crucificado entre dois ladrões - é o Filho de Deus que viveu entre nó e se mantém atuante
entre nós. Ele nos vivifica.
3 TEOLOGIA DA SALVAÇÃO
A estaurologia
A cruz não foi buscada por Jesus. Ela é expressão da rejeição Dele e do plano
salvifico de Deus, pelos seres humanos. Ela é fruto de pecado contra Deus, mesmo que
Deus tenha tirado partido dela, convertendo-a em sinal de salvação, como compreenderam
os primeiros cristãos que nos legaram este patrimônio verdadeiro e consistente.
A teologia da cruz aponta a presença do pecado humano, que deve ser redimido
e reconhece que Jesus verdadeiramente mergulhou no mundo abjeto dos homens, que
não querem reconhecer e aceitar Deus, sobretudo pelas suas atitudes.
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Tais pecados permanecem sendo atos crucificatórios, que exigem, não apenas
o perdão salvifico (Pai, perdoai-lhes. Não sabem o que sabem – cf. Lc 23,24); exigem,
sobretudo, a conversão do coração dos opressores.
Quer dizer:
Convém recordar que se Jesus não pecou não foi porque era Deus. Não pecou
porque nem Ele e nem qualquer outro homem é obrigado a pecar.
Se assim não fosse, Jesus não seria igual a nós (e nós iguais a Ele).
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Convém recordar que “Deus amou tanto o mundo que de seu filho unigênito
para todo aquele que Nele crê seja salvo” (cf. Jo 3, 16; 16,27). Foi Deus quem tomou a
iniciativa de nos amar. É exatamente por isso que fomos criados. A promessa do salvador
ATENÇÃO!
é um desejo de Deus desde antes da criação. Portanto, antes de qualquer pecado.
Aqui valeria a pena aprofundar
a questão de justificação, não Reduzir a vinda de Jesus até nós ao fato do pecado, não só apequena o próprio
só pela fé e pelas obras, como
é a discussão que vem desde a Deus, mas também agiganta de tal modo o ser humano que se torna capaz de condicionar
Reforma, mas, o tema deve ser Deus.
refletido com mais profundidade
na Teologia da Graça. Vale,
igualmente, reencontrar e Se Deus torna justos seus filhos o faz não porque eles são necessariamente
consultar os discursos de Bento injustos e pecadores (ideia muito desenvolvida na teologia medieval). Deus não os criou
XVI em 20 e 27 de novembro de
2008, sobre este tema. assim, os homens e as mulheres concretos, necessariamente, não são assim. Se assim
fosse, ficaria desautorizado tanto o próprio Deus quanto o significado da solidariedade e
representação de Jesus Cristo no plano divino. Ao contrário, Deus ajuda, com sua graça,
o crescimento constante de seus filhos e filhas, que vão se tornando sempre mais justos e
santos até a perfeição de poderem viver com Ele. A salvação tem fundamentalmente um
aspecto positivo
ATENÇÃO!
Você pode retomar esta ideia
na Unidade 3 da disciplina
Antropologia Teológica.
O Verbo salvador foi constituído salvador antes de existirem as criaturas que
seriam salvas por Ele. Primeiro surgiu o salvador; depois surgiriam os que Ele haveria
de salvar. Muito antes do pecado, estava já decidido por Deus o papel salvífico do Verbo
eterno, considerando que só por meio Dele seríamos salvos. E esta é a razão primeira de
sua encarnação. Sem dúvida, é o nosso salvador quem nos faz criaturas novas, realizadas
na força do Espírito, para participação da vida da Trindade.
INFORMAÇÃO: Ao assumir nossa carne, nossa realidade humana, Jesus Cristo abre duas
Aqui surge a oportunidade
de outro importante tema perspectivas:
da cristologia: a dimensão
cósmica de Cristo. Desse • Vem santificar (além de sanar o pecado e suas consequências) toda a realidade
modo, você pode aprofundar cósmica, não apenas pela sua presença. Ele também se tornou matéria
seus conhecimentos lendo as cósmica (carne humana). A natureza cósmica e, particularmente, a humana,
seguintes obras:
a) BOFF, Leonardo. Evangelho detinha, por vontade do Criador (como dizia Santo Irineu) a capacidade de
de Cristo cósmico. A busca na conter o próprio Deus em forma humana. Aquele da Trindade que, saindo de
unidade do todo na criação e
si, desceu e se fez um dos nossos, na verdade, não precisava assim proceder
na religião. Rio de Janeiro/S.
Paulo: Record, 2008. para nos salvar. Mas, o fez em gesto de amor, esvaziando-se a si mesmo para
b) DUQUOC, Christian, O único nós enriquecer (cf. Fl 2,8).
Cristo. A sinfonia adiada. São
Paulo: Paulinas, 2008. • Nesta primeira perspectiva, ao se tornar cósmico pela encarnação no seio de
c) DUPUIS, Jacques. Rumo a
Maria, e, sobretudo, por sua ressurreição, Cristo aperfeiçoa e completa toda
uma teologia do pluralismo
religioso. São Paulo: Paulinas, a criação, dando-lhe de modo escatológico o acabamento (consumação) final.
1999. Ele leva o ser humano e a natureza toda ao cumprimento do plano salvifico
d) MALDONÈ, Jean Michel.
Cristo para o universo. Fé
de Deus.
cristã e cosmologia moderna.
São Paulo: Paulinas, 2005.
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• Por outro lado, Jesus Cristo é o nosso Salvador porque leva o ser humano e
toda a criação à sua plenitude, sendo o modelo exemplar e evidenciando toda
a possibilidade da carne humana assemelhar-se a Deus.
Ao constituir seu “corpo” do que tanto fala São Paulo eleva cada ser humano e
todos à perfeição que a ressurreição lhe confere (cf. Jo 12,32; Gl 3,28).
Nós preferimos dizer, em consonância com nosso tempo, à luz da fé: o salvador
os estava salvando para que eles atingissem sua meta, ver a Deus, ou seja,
serem salvos pelo que os santifica e os tornavam plenamente humanos.
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UNIDADE 6
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ATENÇÃO! Vale lembrar que o presente histórico é o tempo do “hoje, pois, a salvação entra
Para saber mais leia Helcion
Ribeiro. Por uma sotereologia
nesta casa”. Assim, a salvação tem e mantém uma incidência histórica.
com incidência histórica,
Studium. Revista Teológica, Se o Senhorio de Deus já está chegando, pela pessoa de Jesus Cristo, ele
Curitiba, ano 1, n. 1, 2007 p.
69-104. se prolonga por toda parte até os confins do mundo, não só porque é ordem/mandato
missionário (cf. Mt 28,19-20), mas porque o próprio Filho e o Espírito Santo levam adiante
este Senhorio salvador.
A presença salvadora de Cristo, seja pela Igreja, pelas religiões, seja por todos
os que fazem o bem, vai se evidenciando:
e) na produção da paz;
INFORMAÇÃO:
f) no amor ilimitado ao próximo.
O evangelho é ou deveria ter
uma força revolucionária, isto se Desse modo, o processo salvifico do Emanuel continua, sobretudo, na ação dos
os cristãos lhe dessem o crédito
devido e total. cristãos que, não apenas rezam o Pai nosso (venha o vosso reino, dá-nos o pão de cada
Experimente escrever dia, livrai-nos do mal). O Deus salvador está entre nós quando, em resumo, o evangelho é
um texto próprio em que vivido intensamente. Isto é tornar atuante a ação salvadora de Deus, que é dom e missão
envolva o libertário contido
simultaneamente nos seguintes pascal do Cristo ressuscitado.
textos:
a) Mt 5,3-11 (as bem- A totalidade do processo salvífico não se esgota no utópico aperfeiçoamento
aventuranças).
b) Lc 1,46-55 (o magnificat de deste mundo. O “meu reino não é deste mundo”, diz Jesus (cf. Jo 18,36), mas ultrapassa-o.
Maria). A fé em Cristo nos faz crer que a realização última do ser humano (salvação: ver a Deus)
c) Mt 5,9-15 (o Pai nosso). está em Deus, como espaço que Ele mesmo preparou desde sempre (cf. Jo 14,23). Aí
d) Mt 25,31-47 (o juízo final).
não haverá mais choro, nem lágrima (cf. Ap 1,4). Nossa salvação última será o resultado
da ação de Cristo que nos apresentará todos ao Pai, sem que nenhum dos que o Pai lhe
INFORMAÇÃO: dera tenha se perdido (cf. Jo 6,39). Então, será a festa eterna, o banquete de todos os
Você certamente conhece convidados do Pai. Assim, a “u-topia” se transformará um “topia”, homens e mulheres,
a palavra “topografia”, que
porque salvos por Cristo, encontrarão seguros o coração de Deus, morada definitiva e
significa a ciência que estuda os
lugares. Topos, palavra grega eterna.
que significa “lugar”; u-topos,
então vai significar “lugar
Cristo é o Caminho, para a Verdade e para a Vida (cf. Jo 14,6). Ele se faz o
nenhum”. Utopia também serve
para designar uma vontade caminho, pois é verdade Deus e verdadeiro homem. Tornou-se o mediador, por ser Deus
que não se realiza em lugar entre nós (Emanuel) e por ser homem pleno diante de Deus.
nenhum. A frase: “a ‘u-topía’ se
transformará em ‘topia’” quer
dizer: “o irrealizável tornar-se-á Nós professamos que não há outro salvador senão Jesus Cristo. Isto não implica
realizável”. dizer que Deus não se sirva de outras situações a pessoas para continuar o processo
salvífico. A singularidade salvífica de Jesus Cristo pertence ao centro do plano de Deus.
d) porque na Sabedoria divina foi reconhecido como dom salvador em prol dos
que eram tementes a Deus.
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Nós cristãos temos, na fé, a certeza de que a morte não põe fim à vida, mas a
transforma. Assim, nossos olhos se erguem para Deus e encontramos Cristo, o Salvador.
Ele é nossa esperança e nossa certeza. Ele revelou seu papel econômico-salvífico, desde
sempre. Ele é, para nós, o primogênito dos vivos e dos mortos. É nosso exemplo e
representante genuíno, pois sintetiza em si a história humana e cósmica que se apresenta
já salva por Deus. Ao mesmo tempo, atrai a si todos os irmãos (cf. Jo 12,32), a fim de
integrar o “corpo de Cristo”, como dizia São Paulo. O Verbo, que se fez humano em Maria,
se mostrou singular no processo de salvação que Deus quer (quis e há de querer) para
todos os homens.
5 SEGUIR JESUS
Nenhuma cristologia, hoje, pode negligenciar o apelo ao seguimento de Jesus.
Da interrogação de André sobre onde mora Jesus, decorreu a resposta: “vinde ver”. E ele
foi e passou à tarde com Jesus. Daí em diante não o abandonou mais (cf. Jo 1,35-42). O
contrário fez o jovem rico, que tinha muitos ídolos (cf. Lc 18,18-30).
Conhecê-lo para seguí-lo envolve fazer a vontade de Deus acima de tudo. Isso
significa saber centrar em Deus seu querer e seu agir, esvaziando-se de si mesmo ou
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“perdendo sua vida”, para ganhá-la enriquecida (cf. Mt 16,26). Desse modo, seguir Jesus
é amar como Ele amou a Deus e ao próximo, sobretudo aos mais necessitados. Seguir
Jesus é implantar o grande projeto de salvação de Deus, ali no cotidiano de cada um,
acolher o outro, porque todo o outro é imagem de Deus e irmão do próprio Jesus Cristo.
É comprometer-se, localmente, na construção do Reino de Deus.
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6 CONSIDERAÇÕES
Nesta última parte da unidade, estudamos sobre o significado salvador de Jesus
Cristo, homem e Deus verdadeiro e ao mesmo tempo, no plano de Deus.
Desse modo, no decorrer deste estudo, você deve ter percebido o quanto é
importante voltar a recuperar a tradição cristológica dos evangelhos e dos primeiros
séculos do cristianismo, bem como a integração de cristologia e sotereologia.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANSELMO, S. Porque Deus se fez homem? São Paulo: Novo Século, 2003.
DUPUIS, J. Rumo a uma teologia do pluralismo religioso. São Paulo: Paulinas, 1999.
FORTE, B. Jesus de Nazaré. A História de Deus, Deus da história. Ensaio de uma cristologia
como história. São Paulo:Paulinas, 1986, p. 326.
RIBEIRO, H. Por uma sotereologia com incidência histórica. Studium Revista Teológica,
Curitiba, ano 1, n. 1, p. 69-104, 2007.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final da nossa disciplina. Esperamos que você tenha ficado
duplamente satisfeito, por ter se empenhado profundamente em seus estudos e por ter-
se encontrado, enquanto estudava, com Aquele que é nosso único salvador e se fez um
de nós, por nós e conosco. Ele é o nosso Deus. Um dia haveremos de encontrá-lo e viver
eternamente com Ele, para a glória de Deus Pai.
Você pode continuar aprofundando seus estudos, pois a firmeza nesta disciplina
cria bases sólidas para toda a vida de fé, e não apenas durante este seu empenho na
graduação de Teologia. Assim, procure constantemente ler os novos livros e estudos de
cristologia, que forem surgindo.
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