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1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
6 CONCEITUALIZAÇÃO.............................................................................. 28
8 PSICANÁLISE E A PSICOSSOMÁTICA................................................... 31
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 ARTETERAPIA: A ARTE COMO INSTRUMENTO NO TRABALHO DO
PSICÓLOGO.
Fonte: Pixabay.com
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também o educacional, o comunitário e o organizacional. No entanto, o
desenvolvimento da arteterapia como área específica de trabalho deu-se na
Psicologia, ligado primordialmente à questão da saúde mental, como veremos
adiante.
Hoje a arteterapia não está mais restrita aos consultórios, revelando-se um
valioso instrumento para intervenções também nas áreas da Psicologia social,
escolar, organizacional, da saúde e hospitalar. O que se quer mostrar aqui é que a
arte é um poderoso canal de expressão da subjetividade humana, que permite ao
psicólogo e a seu cliente, seja ele um indivíduo, seja um grupo, acessar conteúdos
emocionais e retrabalhá-los através da própria atividade artística. Uma grande
diversidade de temas, desde traumas e conflitos emocionais, aspectos das relações
interpessoais em um grupo, expectativas profissionais, gênero e sexualidade,
identidade pessoal e coletiva, entre outros, podem ser abordados pelo psicólogo
através da arte. Ela é uma ferramenta que amplia as possibilidades de expressão,
indo além da abordagem tradicional, que é baseada na linguagem verbal.
A mediação da arte na comunicação apresenta algumas vantagens, entre as
quais a expressão mais direta do universo emocional, pois não passa pelo crivo da
racionalização que acompanha o discurso verbal. Além disso, com a atividade
artística, facilitamos o contato do sujeito com suas questões por um viés criativo, e
não apenas dando forma a determinado conteúdo subjetivo, mas também podendo
reconfigurá-lo em novos sentidos. O modo como esse processo acontece encontra
diferentes explicações em função da perspectiva teórica considerada, como será
analisado adiante, mas a ideia central é essa: a atividade criadora como um
instrumento e a arte como um caminho de transformação subjetiva.
Como método de trabalho do psicólogo, a arteterapia poderá ser adaptada a
diferentes objetivos, bem como sustentada sobre diferentes abordagens teóricas,
cabendo ao psicólogo a escolha da linha com que mais se identifique. Neste artigo,
serão enfocadas as abordagens consideradas principais e que foram as primeiras a
marcar presença no desenvolvimento da arteterapia: psicanálise, junguiana, gestalt.
Embora cada uma delas tenha seu modo próprio de trabalhar com o fazer criativo,
todas reconhecem que a arte promove o autoconhecimento e potencializa a
criatividade, habilidades essenciais ao desenvolvimento, tanto de um indivíduo como
de um grupo com quem o psicólogo esteja trabalhando.
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2.1 Pressupostos fundamentais na Arteterapia
Acredito que o autor utilize aspas quando remete à arte porque, no âmbito da
arteterapia, as atividades expressivas não têm uma finalidade estética, ou seja, a
produção artística não é realizada e analisada por seu valor estético como obra de
arte, ainda que muitas vezes seja posteriormente reconhecida como tal pelo público,
a exemplo do desenho seguinte:
O autor do trabalho, RAPHAEL DOMINGUES (1912-1979, apud REIS, 2014, p.
148), foi um dos pacientes-artistas de Engenho de Dentro que participaram de
importantes exposições, dentre as quais uma realizada em 1949, no Museu de Arte
Moderna de São Paulo, cuja repercussão na imprensa e no meio artístico é examinada
por DIONÍSIO (2001, apud REIS, 2014, p. 148). O autor lembra que, nessa ocasião,
o crítico de arte Mário Pedrosa cria o termo arte virgem para designar os trabalhos
dos nove participantes, então pacientes da Dra. Nise da Silveira. Entre eles, Raphael
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e Emygdio de Barros (1895-1986) são hoje vistos como grandes artistas
esquizofrênicos.
À parte a discussão sobre a qualidade artística ou não dos trabalhos produzidos
em arteterapia, o importante para o psicólogo é que a atividade expressiva se torne
um instrumento à expressão e à reflexão dos sujeitos. Como atividade terapêutica, o
que aqui se pretende não é propriamente fazer arte, mas sim, exercitar a criatividade,
proporcionar que no fazer criativo se produzam outros modos de objetivação e de
subjetivação. Desse modo, ela pode ser utilizada como recurso no contexto da clínica,
da educação, da comunidade, da saúde pública, das empresas, em intervenções na
área de dificuldades físicas, cognitivas, emocionais e sociais junto a indivíduos,
famílias, grupos sociais e equipes de trabalho. Uma característica comum às terapias
com arte é que, por meio da vivência expressiva, o sujeito pode dar-se conta do que
de fato sente e, durante esse processo, pode verdadeiramente fazer algo que assim
o represente e a ele faça sentido (ANDRADE, 2000, apud REIS, 2014, p. 148).
Portanto, na arteterapia, o fazer artístico se constitui como mediação no processo de
autoconhecimento e de (re) significação do sujeito acerca de si próprio e de sua
relação com o mundo.
Outro ponto compartilhado entre as diferentes abordagens é o reconhecimento
da função terapêutica inerente à própria atividade artística e diretamente ligada à
criatividade. Para OSTROWER, criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma
a algo novo, é tanto estruturar quanto comunicar-se, é integrar significados e é
transmiti-los (2004, apud REIS, 2014, p. 149). Assim, o sentido da arte como
ferramenta para o psicólogo não se restringe à sua função meramente expressiva,
mas amplia-se pelo poder transformador da arte como ação criadora. E aqui
compreendo arte como um processo de formatividade, ideia desenvolvida pelo filósofo
italiano LUIGI PAREYSON (1918-1991), que definiu a atividade artística como um
formar, cujo resultado é um ser, uma forma inteiramente nova, pois a arte é um tal
fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer (1984, apud REIS,
2014, p. 149).
Na perspectiva histórico-cultural em Psicologia, a atividade criadora é
compreendida como um processo no qual o sujeito reorganiza diversos elementos de
sua experiência, combinando-os de modo diferenciado e, com isso, produzindo o novo
(VYGOTSKI, 1990, apud REIS, 2014, p. 149). Nessa atividade, ele parte do que está
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dado, do que é conhecido, reconfigurando-o em uma nova forma a partir da
imaginação, o que culmina na objetivação do produto da imaginação, a qual, ao
materializar-se na realidade, traz consigo uma nova força, que se distingue por seu
poder transformador frente à realidade da qual partiu (ZANELLA, DA ROS, REIS, &
FRANÇA, 2003, apud REIS, 2014, p. 149). VYGOSTKI, na obra Psicologia da Arte
(escrita entre 1924 e 1926 apud REIS, 2014, p. 149), salienta a função transformadora
dessa atividade, que extrai da vida o seu material, produzindo algo acima desse
material, pois a arte está para a vida como o vinho para a uva (1998, apud REIS, 2014,
p. 149). Embora esse não seja um autor de referência na arteterapia, a ideia de que o
fazer criativo é transformador perpassa esse campo.
Na visão de CIORNAI, o propósito fundamental da arteterapia é resgatar a
criatividade na vida, ou seja, contribuir para que o sujeito aprenda a lidar criativamente
com os limites que a vida lhe impõe (1995, apud REIS, 2014, p. 149), transformando-
se assim em artista da própria vida. Isso é possível porque a arte nos abre a uma
realidade alternativa (1995, apud REIS, 2014, p. 149), na qual o homem pode
perceber, figurar e reconfigurar suas relações consigo, com os outros e com o mundo
(1995, apud REIS, 2014, p. 149). Portanto, no trabalho do psicólogo mediado pelo
fazer artístico, destaco como princípios fundamentais a concepção da arte como
atividade expressiva e criativa: não se trata apenas da expressão da subjetividade, da
objetivação de emoções, sentimentos e pensamentos em uma forma artística
(desenho, pintura, modelagem, etc.), mas especialmente da sua transmutação pela
arte, da sua reconfiguração em novas formas e em outros sentidos, em um processo
no qual, ao criar na arte, o sujeito se recria na vida.
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Margaret se baseou em suas conquistas para fazer da arte um instrumento terapêutico
(ANDRADE, 2000, apud REIS, 2014, p. 150).
Na visão de Naumburg, a expressão artística é como um espelho, que reflete
diversas informações, estabelecendo uma ponte no diálogo entre consciente e
inconsciente (ANDRADE, 1995, apud REIS, 2014, p. 150). Baseada na concepção
freudiana do determinismo do inconsciente, cujos pensamentos e sentimentos se
expressariam mais em imagens do que palavras, como comprovado por Freud na
teoria dos sonhos, Naumburg considera que a atividade pictórica favorece a projeção
de conteúdos inconscientes, favorecendo, por uma via simbólica, a comunicação entre
paciente e terapeuta.
As imagens produzidas no fazer artístico são assim abordadas como em um
procedimento psicanalítico, podendo ser ligadas a conteúdos de sonhos, fantasias,
medos, memórias infantis e conflitos atuais vividos pelo sujeito. Uma vez que
geralmente as pessoas, ao iniciarem um processo psicoterapêutico, se encontram
com o próprio discurso muito bloqueado devido às resistências, a arte vem a ser um
canal que facilita a comunicação, pois, conforme Andrade, através do uso da
expressão gráfica ou plástica começam a desenvolver a verbalização ao explicar e
falar a respeito de suas produções artísticas (2000, apud REIS, 2014, p. 150).
Naumburg trouxe como princípio básico da arteterapia psicanalítica o
reconhecimento de que todo indivíduo, independentemente de possuir ou não um
treinamento artístico, tem a capacidade de projetar seus conflitos interiores em formas
visuais. Nessa abordagem, a interpretação da expressão artística acontece sempre
na relação transferencial, na qual o sujeito é incentivado pelo terapeuta a descobrir
por si mesmo o significado de suas produções, estimulando-se o uso da livre
associação, a fim de que ele expresse em palavras os sentimentos e os pensamentos
projetados nas imagens pictóricas. Segundo NAUMBURG, a arteterapia pode auxiliar
na redução do tratamento e na diminuição da transferência negativa, pois as imagens
objetivadas atuam então como uma comunicação simbólica imediata que sobrepuja
as dificuldades inerentes na linguagem verbal (1991, apud REIS, 2014, p. 150).
Na arteterapia psicanalítica, outro ponto fundamental é a concepção da arte
como uma forma de sublimação, tal como postulado por Freud. A sublimação designa
o processo no qual as pulsões são desviadas de seu objetivo original, de ordem
sexual, e utilizadas em atividades culturais, tais como a criação artística ou a
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investigação intelectual, visando objetos socialmente valorizados (LAPLANCHE &
PONTALIS, 1998, apud REIS, 2014, p. 150). A ideia de sublimação, aceita por
Naumburg, é mais representativa no trabalho de arteterapia de Edith Krammer, artista,
professora de arte e psicanalista nascida em Viena, Áustria, em 1916, e que emigrou
para Nova York em 1938. A visão de Krammer diferencia-se da de Naumburg, porque
ela não praticava a interpretação, dando prioridade ao processo de fazer arte sem a
necessidade de verbalização (ANDRADE, 1995, apud REIS, 2014, p. 150).
A ênfase de Krammer estava no valor terapêutico do processo criativo e do
fazer artístico em si mesmo, que propõe a arte como terapia, em vez de uma
psicoterapia que utiliza a arte como ferramenta (CIORNAI, 2004, apud REIS, 2014, p.
150). O fundamento de seu trabalho está no reconhecimento do papel da arte como
sublimação, entendendo-se por sublimação a transformação dos impulsos
antissociais, agressivos e sexuais em um ato socialmente produtivo, de modo que o
prazer produzido pelo resultado desse ato social substitui, pelo menos em parte, o
prazer que a gratificação original teria proporcionado (ANDRADE, 1995, p.45).
Na visão de Krammer, a criação artística é em si mesma terapêutica, porque
contribui para o equilíbrio psíquico e o fortalecimento do ego, mediante a resolução
do conflito entre forças contrárias (id x superego), que encontram, via sublimação,
uma possibilidade de síntese na atividade criadora. Ela definia o artista como alguém
que aprendeu a resolver, mediante a criação artística, os conflitos estabelecidos pela
oposição entre as demandas dos impulsos e as demandas do superego (KRAMMER,
1982, apud REIS, 2014, p. 150). Nessa perspectiva, compreende-se que, na arte, se
torna possível a expressão de desejos, impulsos, sentimentos e pensamentos que,
muitas vezes, são inaceitáveis socialmente, sendo mais saudável encontrarem uma
via de escape na arte do que serem recalcados, retornando na forma de sintomas.
Assim, para Krammer, o papel do arteterapeuta, que deveria possuir também aptidões
de artista e professor, era tornar disponível às pessoas esse valioso recurso: O poder
da arte de contribuir para o desenvolvimento de uma organização psíquica capaz de
funcionar sob pressão sem fragmentar-se ou recorrer a medidas defensivas nefastas
(KRAMMER, 1971 como citado em CIORNAI, 2004, apud REIS, 2014, p. 151).
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2.3 Arteterapia junguiana
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essência do ser metamorfoseado, que é abundante como metáforas nas artes, mas
vivenciada como experiências reais nos delírios dos loucos. Um exemplo é o da
metamorfose vegetal, recorrente em diversas imagens nas quais pacientes se
retratavam na forma de árvore ou de flor.
Para Silveira, essas imagens evocam o mito de Dafne, ninfa grega que foi
transformada em uma árvore para fugir ao assédio de Apolo. Ela entende que, na
linguagem mítica, própria do inconsciente, esse tema estaria vinculado ao temor da
mulher acerca da realização completa de seu ser feminino, representando, no caso
da autora da imagem acima ilustrada, a sua dificuldade em estruturar-se
subjetivamente como mulher.
Existem inúmeras técnicas que podem ser usadas pelo psicólogo em um
trabalho de arteterapia na linha junguiana, propondo-se atividades específicas ou
simplesmente disponibilizando ao indivíduo diferentes materiais à sua escolha
(papéis, giz pastel, tintas diversas, aquarela, argila, etc.). Embora Nise da Silveira
trabalhasse apenas com a expressão livre e espontânea dos pacientes, na arteterapia,
o psicólogo pode também estruturar as atividades expressivas a partir de alguns
objetivos ou temas pertinentes ao caso em questão, visando com isso a auxiliar a
pessoa em seu processo de individuação. Tal como postulado por Jung, a
individuação designa o processo no qual um ser se torna realmente uma unidade,
uma totalidade, pela integração consciente de seus vários aspectos inconscientes,
manifestando a sua unicidade: trata-se da realização de seu si mesmo, no que tem de
mais pessoal (2001, apud REIS, 2014, p. 152).
O processo de individuação é o crescimento psíquico, o constante
desenvolvimento da personalidade, no qual cada pessoa deve encontrar seu modo
único de se realizar (VON FRANZ, 1977, apud REIS, 2014, p. 152). Na arteterapia
junguiana, o psicólogo acompanha a pessoa em seu caminho para a auto realização,
dialogando e procurando facilitar essa jornada através da arte.
Uma técnica muito utilizada na arteterapia junguiana é o desenho ou a pintura
de mandalas. O termo mandala vem do sânscrito e significa círculo mágico, e designa
figuras geométricas formadas a partir do centro de um círculo ou de um quadrado,
configurando um espaço sagrado (RAFFAELLI, 2009, p.47, apud REIS, 2014, p. 153).
Na teoria junguiana, a mandala é um símbolo do self, isto é, do si-mesmo,
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representando ao mesmo tempo o centro e a totalidade psíquica (JUNG, 2001, apud
REIS, 2014, p. 153).
A função terapêutica de desenhar mandalas está ligada à autodescoberta, pois
elas registram o estado psíquico do indivíduo em diferentes momentos,
representando, a partir de linhas, cores e formas, sua energia psíquica e a
organização de seu mundo interno. A partir daí, podem proporcionar insights
profundos, conduzindo a pessoa em sua jornada rumo ao self. Em seu livro
autobiográfico, Memórias, Sonhos e Reflexões, Jung relata a importância das
mandalas em sua própria vida profissional e pessoal:
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Gestalt é uma palavra alemã que significa forma, uma configuração, o modo
particular de organização particular das partes individuais que entram em sua
composição (PERLS, 1988, p.19). Rhyne utiliza o termo para se referir à percepção
de uma configuração total, por exemplo, a pessoa perceber sua personalidade como
um todo, cujas diversas partes formam, em seu conjunto, a realidade daquilo que ela
é, lembrando que o todo é mais do que a simples soma de suas partes. Nessa
abordagem, a função terapêutica do fazer artístico é a aquisição de insights sobre
como percebemos, nas formas criadas, tanto o mundo como a nós mesmos. Trata-se
de um processo em que a arte promove awareness, termo chave na Gestalt-terapia,
para o qual não há uma tradução exata em português, mas cujo sentido seria dar-se
conta ou aperceber-se do que se passa consigo no momento vivido, levando a um
ganho de consciência. Conforme define RHYNE:
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busca do cliente, utilizando os processos artísticos para intensificar o contato do
sujeito consigo mesmo, com os outros e com o mundo, de modo que a arte seja para
ele uma fonte no aprendizado de si mesmo. E aprendendo uma nova forma de se
expressar dentro de uma atividade artística, o sujeito poderá encontrar também novos
caminhos em sua vida (CIORNAI, 1995, apud REIS, 2014, p. 155).
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medida que, na atividade criadora, o sujeito também se redescobre em novas formas,
podendo reinventar-se como outro.
Não seria essa reinvenção de si mesmo, ou seja, essa transformação pessoal,
o objetivo final de qualquer processo psicoterapêutico?
Ora, na atividade artística, o sujeito encontra uma possibilidade concreta de
expressar não só aquilo que ele é mas também o que ainda pode vir a ser, construindo
na arte outros modos de objetivação e subjetivação e, a partir daí, reconstruindo-se
na vida, a partir de um novo olhar sobre si mesmo e sobre o mundo. Isso ocorre porque
a vivência da arte traz sempre uma abertura do eu ao outro; de acordo com Reis, a
experiência estética proporciona ao sujeito o contato com a alteridade, com o
diferente, com o inesperado, com o novo, engajando o sujeito em uma forma de
percepção diferente da cotidiana, uma percepção sensível e criativa (2011).
Acredito que a noção da arte como uma ferramenta à reconstrução de si mesmo
atravesse as diferentes práticas em arteterapia, porque, sem isso, ela teria apenas
uma finalidade lúdica, e não terapêutica. Se A arte cura? como questionado no título
do livro organizado por Carvalho, creio que essa cura não possa ser pensada
desvinculada da função criadora que qualquer atividade artística deveria ter, quando
apropriada como instrumento pela Psicologia. Independentemente do contexto
específico de atuação do psicólogo, entendo que ele tenha um compromisso ético no
sentido de contribuir para que os sujeitos se reconheçam como criadores, não só
como atores sociais mas também como autores que podem participar criativamente
na sociedade de que são parte. Na arteterapia, procuramos realizar isso na interface
entre a Psicologia e a arte, pautados em uma concepção estética do sujeito, cuja
própria vida pode ser transformada em uma obra de arte.
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3 A ARTE NO CONTEXTO DA SAÚDE MENTAL: RELATO DE UMA INOVAÇÃO
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A história da arteterapia no CAPS Geral SER III/ UFC teve início com a criação
dos primeiros grupos arteterapêutico em junho de 2007. Houve a formação de dois
grupos, com encontros semanais nas manhãs e tardes de quintas-feiras. Cada sessão
tinha duração média de duas horas e meia. Atualmente, existem dez grupos em
funcionamento, utilizando-se das mais variadas linguagens artísticas, como pintura,
escultura, modelagem e música. Em janeiro de 2011, teve início o grupo de arteterapia
intitulado Arte & Amizade. O nome foi escolhido pelos próprios participantes e engloba
em seu significado a construção dos laços afetivos a partir do fazer artístico.
Inicialmente, o grupo teve composição de 15 membros, homens e mulheres com
idades de 20 a 35 anos.
O contrato terapêutico pactuado foi de seis meses. Cabe dizer que o período
estabelecido para a finalização das atividades do grupo foi ampliado, passando de
junho de 2011 para setembro do mesmo ano. A alteração no calendário se deu em
função de os resultados alcançados terem apresentado empiricamente um nível
satisfatório no que se refere à estabilidade psíquica dos usuários. Além disso, foi
considerada a necessidade de preparar e construir coletivamente no grupo a
aceitação das altas terapêuticas, uma vez que eles expressam apego especial a esse
tipo de terapia.
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Salienta-se que, embora não tenha havido critérios rígidos para o ingresso
nesse grupo, procurou-se priorizar as pessoas que expressassem algum tipo de
interesse pela arte. Outro fator tido como prioritário ao acesso às atividades diz
respeito aos diagnósticos médicos dos usuários, em casos como esquizofrenia,
transtorno afetivo bipolar e alguns quadros de depressão. Usuários com esses
transtornos foram estimulados a fazer parte do grupo, desde que estivessem em
condições mínimas de frequentar as sessões (ausência de crises) e o mais
importante: manifestar o desejo de participar das atividades.
A prioridade dada às pessoas com interesse e afinidade com o fazer criativo e
a arte não se constitui necessariamente um critério para inclusão ou exclusão no
grupo, mas se apresenta como aspecto facilitador e norteador do processo. Isso
também não significa dar ênfase às técnicas e aos aspectos estéticos, ao contrário:
as nossas intenções vão ao encontro dos processos criativos e da livre expressão. A
arte é, então, vista como um instrumento de enriquecimento dos sujeitos, valorização
de expressão e descoberta de potencialidades singulares.
A experiência tem mostrado que o desejo e a admiração pelo fazer artístico são
fundamentais na inserção no grupo: há casos em que a pessoa, por mais que seja
estimulada, não demonstra interesse em participar desse tipo de atividades. Desse
modo, respeita-se o desejo do usuário naquele momento, para que em uma nova
ocasião possa ser feita outra abordagem.
O grupo Arte & Amizade tem encontros semanais, às segundas-feiras, das
13h30 às 16h, tendo como facilitadoras uma assistente social com formação em
arteterapia e uma psicóloga com experiência em expressão musical.
É um grupo do tipo semiaberto marcado pela rotatividade relativa, no qual os
participantes se ausentam por algum período e posteriormente retornam. Segundo os
relatos dos participantes, tais ausências decorrem de motivos diversos, como doença
na família, acúmulo de atividades domésticas e, em alguns casos menos frequentes,
novos episódios da doença mental (crises). Cabe notar a existência de uma espécie
de apego especial dos usuários a esse tipo de grupo, que a nosso ver poderia, em
alguma medida, justificar o retorno às sessões (COQUEIRO, et al, 2009, p. 5).
As atividades são realizadas em espaço destinado especificamente a esse fim,
a partir da adaptação de uma das salas do CAPS em ateliê. Nos encontros grupais,
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frequentemente utilizamos equipamento de som, cadeiras, mesas e colchonetes,
sendo estes últimos dispostos em posição circular.
No ateliê de arteterapia, ficam disponíveis os diversos materiais utilizados nos
encontros: tintas, telas para pintura, papel, giz de cera, argila, pincéis, material
reciclável.
Os trabalhos realizados pelos participantes em cada sessão ficam expostos
para secagem, dando ao local um aspecto visual de efusão de cores. Posteriormente,
os criadores podem levar suas obras.
As primeiras sessões foram basicamente de apresentações e discussão das
expectativas do grupo, com a realização de várias experiências vivenciais distribuídas
ao longo dos encontros iniciais para integrar e, simultaneamente, quebrar resistências.
Geralmente, iniciamos as atividades com exercícios de relaxamento ao som de
músicas instrumentais seguidos de alongamentos. O objetivo é reduzir o nível de
tensão e angústia, permitindo que as emoções fluam com maior intensidade e a
sessão passe a ser um momento de profundo contato com os sentimentos.
O grupo Arte & Amizade já executou, até o momento, várias propostas,
trabalhos desde pintura em tela, técnicas de pinturas em tecido, monotipia (técnica de
impressão com uso de tinta), até criação de escultura em argila, pintura e colagem
sobre telha, técnicas de pintura sobre gesso. São produzidos objetos a partir de
material de sucata, como garrafa PET ou canos de papelão.
Importante salientar que, ao final de todo o fazer criativo, os participantes são
estimulados a observar seus trabalhos, fazendo reflexões sobre seus significados,
percebendo o processo desde o primeiro momento da representação artística. Um
exemplo é a utilização de sucata como expressão em arteterapia, que resgata a
edificação, a estruturação, a organização e a elaboração da matéria, estimulando a
pessoa a construir de modo pessoal e, simultaneamente, a criar uma consciência
socioambiental.
Ao término dos trabalhos, são levantadas questões sobre o que sentiram
durante o processo de criação, bem como as emoções vivenciadas. Estão aí implícitos
dois dos objetivos da arteterapia: proporcionar o aumento da consciência e o
autoconhecimento (COQUEIRO, 2010 apud PEREIRA, et al, 2010 p.10).
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4 ARTETERAPIA COM IDOSOS
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seus sentimentos, emoções, medos e angústias, em relação ao seu processo de
envelhecimento.
Através da arte, o idoso pode resgatar situações de vida que não foram
devidamente elaboradas, e a partir dos recursos artísticos e expressivos, pode
configurar tais situações e elaborá-las e integrá-las na sua consciência.
Fazer e vivenciar a arte promove relaxamento, redução do nível da ansiedade,
inquietude, impaciência e angústia - que é normal no indivíduo idoso. É uma
oportunidade de ser escutado, de receber atenção, que em muitos casos é o que
muitos idosos precisam. É também uma forma de lazer, onde o idoso preenche o
tempo de forma prazerosa. Recuperam a sua autoestima, pois são capazes de pintar,
desenhar, modelar...
Através da arteterapia, a produção plástica facilita a abertura de canais de
comunicação, de percepção e de sensibilidade, proporcionando ao idoso uma melhor
aceitação de si e da sua realidade.
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teria um sentido mágico, se referia ao mundo invisível dos espíritos. Talvez o temor,
ou uma forma de controle da natureza fez o homem construir utensílios, moradias... A
arte foi associada à forma e função, o trabalho do homem como construção de sua
própria cultura. No mundo árabe, em hospitais destinados somente a loucos, por volta
do século XII, eram utilizadas manifestações artísticas como dança música, narrativas
de contos e espetáculos como forma de cura da alma (FOUCAULT, 1978, apud
PEREIRA, et al, 2010 p.10).
Desde o século XVIII alguns artistas iam aos asilos e faziam desenhos de
observação dos loucos. Em vários destes desenhos há cenas representando o
cotidiano dos internos, em que estes desenhavam nas paredes das celas (BARBOSA,
1998, apud PEREIRA, et al, 2010. p.10). Percebe-se que estes alienados buscavam
formas de expressão mesmo antes de haverem propostas terapêuticas neste sentido.
Pode-se entender que, uma condição fundamental para a criação construtiva
em arte é estabelecer uma reflexão de sentido, talvez um centro interior avaliador.
Então a criação construtiva tornar-se-á terapêutica. Neste sentido, entende-se que as
oficinas de arte podem funcionar como terapia, pois, a viabilidade e importância das
oficinas como tratamento na área de saúde mental é uma prática que vem somar ao
acompanhamento medicamentoso e tratamento psicoterápico individual, propondo
uma ruptura das práticas psicológicas tradicionais. Esta importância é maior ainda
quando estas atividades são desenvolvidas por uma equipe de saúde mental. Estas
oficinas buscam promover o ser humano como um todo, aspectos psíquicos e sociais,
respeitando as suas individualidades. Assim, as oficinas terapêuticas são
fundamentais para o paciente restabelecer relações. Eles podem fazer trabalhos em
pintura, arte em papel e tecidos, entre outros, sempre considerando atividades
individuais e coletivas que trazem o conteúdo da sociedade para dentro dos grupos.
Neste aspecto a arteterapia entra no processo deste descobrimento interior
através da produção artística nas oficinas.
Na teoria Junguiana, a arte propicia o encontro com materiais expressivos e
adequados para a criação que está presente na imaginação do indivíduo. E este
universo é traduzido em símbolos que retratam estruturas psíquicas internas do
inconsciente pessoal e coletivo. Na arteterapia, através da linha Junguiana, o
surgimento dos símbolos abre caminho para o trabalho do arteterapeuta
(VALLADARES, 2003, apud PEREIRA, et al, 2010, p.11). Através da psicologia
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analítica, pode-se entender que o artista é um indivíduo que transita permeando
consciente-inconsciente. Então os artistas trazem à tona sua produção inconsciente
através da sua arte. Para Jung, na arte, produto da neurose, o artista busca inspiração
em seu inconsciente pessoal e está inspiração pode se extinguir ao dissolverem-se
os conflitos. Segundo Jung “A neurose não cria arte. Ela é não criativa e inimiga da
vida. Ela é o fracasso e a não realização” (JUNG, 2001 p. 337, apud PEREIRA, et al,
2010, p.11). Desta afirmação pode-se deduzir o papel purgativo da arte na neurose.
A expressão da emoção e da sensação através da arte é a própria expressão do
inconsciente, pois ao produzir o indivíduo pode estabelecer uma linguagem com o
meio. Através da produção artística poderá haver uma reinvenção do cotidiano e a
aproximação do indivíduo doente ao mundo social (VALLADARES, A. C. A. (Org.)
2004, apud PEREIRA, et al, p.11).
No Brasil a Dra. Nise da Silveira usou a terapia ocupacional como proposta
terapêutica. O processo terapêutico só poderia se desenvolver se o paciente fosse
acolhido com afeto, afirmava Nise. Segundo LIMA (2009), Nise utilizou o conceito de
afeto de Spinoza e o associou a ideia de um disparador do processo de cura, tomando
a noção de catalisador da química. Mesmo que Dra. Nise não abordasse o valor
estético dos trabalhos, criou-se uma atmosfera cultural em torno da sua aventura
teórico-prática, possibilitando a alguns artistas se desprenderem do rótulo de loucos.
Foi o caso de Emygdio que entrou no rol dos artistas brasileiros representando o Brasil
na Bienal de Veneza. Se o objetivo maior da Dra. Nise era buscar acesso ao mundo
interno do psicótico surpreendeu-se ao perceber que o próprio ato de pintar poderia
adquirir, por si mesmo, qualidades terapêuticas. Ela observou intensa criatividade e
uma pulsão configuradora de imagens:
Dra. Nise percebeu grande harmonia nas imagens produzidas, sobre isto se
comunicou com Dr. Jung para discutir os significados. Jung esclareceu que algumas
imagens eram mandalas, estas buscavam compensar o caos interior sofrido pelo
paciente na tentativa de reconstruir a personalidade dividida. A partir da explicação do
Dr. Jung, pode-se entender a função terapêutica na produção artística do paciente.
24
Os símbolos, presentes nas criações plásticas, poderão estar presentes também nos
sonhos destes pacientes. A interpretação destes símbolos facilitará a compreensão
dos conflitos deste indivíduo por parte do arteterapeuta. O uso terapêutico da arte está
no fato de ser uma expressão simbólica da psique. Portanto, os símbolos são uma
forma de acessar o inconsciente e funciona como uma ponte para o consciente
(JUNG, 1987, apud PEREIRA, et al, p.12).
Pode-se inferir a partir do exposto acima que, para facilitar o trabalho em
arteterapia é importante a utilização de materiais expressivos diversos, pois assim,
abrange muitas possibilidades e atende ao gosto de cada paciente. Esses materiais
podem servir para estimular a criatividade, e posteriormente desbloquear e trazer à
consciência informações guardadas na sombra. Este lado desconhecido da psique
humana ao se manifestar poderá contribuir para a expansão de toda a estrutura
psíquica. Através destes materiais, tintas, pincéis, dos materiais para colagens, da
modelagem, da dobradura, máscaras, de materiais naturais, como folhas, flores,
sementes, cascas de árvores ou da aproximação e experimentação com elementos
vitais como a água, o ar, a terra e o fogo e inúmeras outras possibilidades criativas,
talvez assim surjam os símbolos necessários, para que cada indivíduo entre em
contato com aspectos a serem compreendidos e transformados. As modalidades
expressivas podem ser tão variadas permitindo facilitar a melhor compreensão dos
símbolos. CIORNAI (2005, apud PEREIRA, et al, p.13) nos conta que:
26
A linguagem, os materiais e os instrumentos em muito vão estimular à
produção. É a relação do ser humano com essa matéria que a potencializa e
transforma. O homem e a matéria interagem e atuam em sua energia criativa,
e ambos se modificam nessa relação. Há um diálogo, às vezes uma "briga",
encontros e desencontros, em que o tempo e a dimensão espacial se
transformam. Entre embates e buscas, a criação se processa e o indivíduo
vai podendo ver na matéria o que vem de seu mundo subjetivo e de seu olhar
mais consciente, percebendo sua atuação em outros momentos da vida,
sentindo e se conscientizando do que aquelas imagens que se formam ali à
sua frente significam (CIORNAI, 2004, apud PEREIRA, et al, 2010, p.14).
27
pensamentos e a partir deste ponto é possível estabelecer uma linguagem com o
externo, a realidade.
6 CONCEITUALIZAÇÃO
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28
A psicossomática é a ciência que estuda as doenças orgânicas com descarga
no corpo, isto é, uma lesão de órgão ou sistema provocado por alguma disfunção do
sistema nervoso. Na psicossomática, pensa-se a realidade na sua unidade,
considerando os aspetos biológicos e psicológicos. Interessa-se pelos aspetos de
interação causa/efeito, a pessoa como um todo na sua perspectiva biológica e
relacional, isto é, pensar a realidade na sua totalidade: a entidade biológica e a
entidade psicológica.
De acordo com HOLMES (1997, apud LOPES 2012) há uma diferença entre os
transtornos somatoformes e transtornos psicossomáticos: nos dois tipos de
transtornos as causas são psicológicas, e os sintomas são físicos. A distinção entre
eles é que nos distúrbios somatoformes não há lesão física (ex., um indivíduo reclama
de dor no estômago e na verdade não há nada fisicamente errado com o órgão),
enquanto com os distúrbios psicossomáticos, há lesão física (ex., úlceras envolvem
lesões no revestimento do estômago) (MOURA, 2008, apud LOPES 2012).
7 BREVE HISTÓRICO
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29
Segundo MOURA (2008, apud LOPES 2012) o termo “psicossomático” foi
utilizado pela primeira vez em 1818 por Heinroth, psiquiatra alemão, ao fazer
referência a insônia e a influência das paixões na tuberculose, epilepsia e cancro. No
século seguinte as descobertas de Freud permitiram uma melhor compreensão
desses fenômenos. Em 1922 Deutsch reintroduziu esse termo em Viena.
Antes da psicanálise, entendia-se que as doenças eram causadas por agentes
externos. Havia, é claro, muitas iniciativas em tentar compreender a relação corpo e
mente. O próprio surgimento do termo psicossomática em 1828 por Johann Heinroth
testemunha isto. Ele postula que paixões sexuais são importantes para a
manifestação de doenças como tuberculose, epilepsia e câncer, ressaltando a
importância dos aspectos físicos e psíquicos integrados nos processos de adoecer
(VOLICH, 2000, p. 43, apud LOPES 2012).
A psicossomática evoluiu das investigações psicanalíticas que contribuem para
o campo com informações acerca da origem inconsciente das doenças, e mais
especificamente dos estudos das paralisias e anestesias histéricas originados das
contribuições pré - psicanalíticas de Jean-Martin Charcot e Josef Breuer.
A expressão doença psicossomática foi utilizada inicialmente para referir-se
apenas a certas doenças como a úlcera péptica, asma brônquica, hipertensão arterial
e colite ulcerativa onde as correlações psicofísicas eram muito nítidas posteriormente
foi-se percebendo que tal concepção é potencialmente válida para todas as doenças
(MELLO FILHO, 2005, apud LOPES 2012).
Segundo CARDOSO (2005, apud LOPES 2012), a história da psicossomática
poderia ser dividida em duas grandes correntes: de um lado, as correntes inspiradas
nas teorias psicanalíticas e com base no conceito de doença psicossomática; de outro
lado, a inspiração biológica, alicerçada no conceito de stress.
Já MELLO FILHO (1992, apud LOPES 2012), considera três fases distintas na
evolução da Psicossomática: a inicial ou psicanalítica, em que foi estudada, entre
outros assuntos, a origem inconsciente das doenças e o fenômeno de regressão; a
intermédia ou behaviorista, na qual houve uma tentativa para enquadrar os estudos
feitos em humanos e animais nas ciências exatas; e a atual ou multidisciplinar, em
que é dada importância às influências sociais e se considera a Psicossomática como
atividade de interação e integração de dados de diferentes áreas do saber.
30
Segundo CARDOSO (1995, apud LOPES 2012), no fim do século XIX o campo
da psicossomática veio a estender por dois grandes ramos de investigação. O primeiro
ramo da história da psicossomática se refere à Escola Americana, representada por
Franz Alexander e Dunbar, cuja via de investigação tem como ponto de partida o
modelo médico, onde estes procuram correlacionar determinados tipos de
personalidades com doenças orgânicas específicas. As contribuições da Escola
Psicossomática Americana, especificamente Alexander e Dunbar, e as de Cannon e
Selye foram fundamentais para a consolidação do movimento psicossomático, assim
como para a influência sobre uma medicina integral e humanista.
O segundo grande ramo das investigações psicossomáticas foi formado pelos
integrantes da chamada Escola Psicossomática de Paris, composta entre outros por
Pierre Marty, de M’Uzan, David e Fain, tentaram elaborar uma teoria da economia
psicossomática atribuindo uma grande parte da etiologia a um determinismo
multifatorial com forte participação biológica. Para eles, falar de “doenças
psicossomáticas” é um equívoco, preferindo chamar de “pacientes psicossomáticos”
àquela cuja manifestação sintomática preponderante aparece no plano orgânico e não
no psíquico. A falta de recurso psíquico para a elaboração dos conflitos decorreria a
sua característica preponderantemente “psicossomática” e o consequente
desequilíbrio psicossomático com a ocorrência de desorganizações orgânicas
progressivas (CARVALHO, apud LOPES 2012).
8 PSICANÁLISE E A PSICOSSOMÁTICA
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31
A psicanálise não só deu origem a psicossomática e criou as bases para a
terapia psicossomática, mas permanece sendo também para esta uma referência
permanente e essencial. Embora a Psicossomática e Psicanálise estejam
estreitamente ligadas, as duas ciências não se confundem (PRIMO, 2011, apud
LOPES, 2012).
As indagações sobre as relações entre o psíquico e o somático percorrem toda
a obra de Freud. Os primeiros trabalhos sobre a histeria permitiram-lhe reconhecer a
influência do funcionamento psíquico nos sintomas somáticos, onde se evidencia a
relação entre histeria e sexualidade, apresentando-se também a noção de conversão,
através da qual o conflito psíquico seria transposto para a soma, carregando o sintoma
de significado simbólico. Freud partiu daqui para construir uma teoria metapsicológica
em que o corpo recebeu progressivamente lugar de destaque, podendo ser
simultaneamente fonte da pulsão e agente da sua satisfação (GANHÃO, 2009, apud
LOPES 2012).
De acordo com CARDOSO (1995, apud LOPES 2012), o maior legado de Freud
para as investigações psicossomáticas se deve ao conceito de conversão individual.
Esse termo conversão foi utilizado por Freud para explicar a transposição de um
conflito psíquico na tentativa de resolvê-lo em termos de sintomas somáticos, motores
ou sensitivos.”
Na obra de Freud, as formulações que mais se aproximam do que se conhece
atualmente como psicossomática estão em sua definição de neuroses atuais. Freud
mencionou um grupo de neuroses de transferência que se assemelham às afecções
psicossomáticas denominando-as neurose atuais e classificando-as em neurastenia
e neurose de angústia. A neurastenia tinha origem na satisfação sexual realizada de
forma inadequada e nas neuroses de angústia, o sujeito não obtém uma descarga de
excitação sexual, produzindo angústia diante da relação sexual incompleta
(GERMANO 2010, apud LOPES 2012).
GERMANO (2010, apud LOPES 2012) salienta ainda que Freud, ao pensar
sobre o corpo, acabou por desenvolver o conceito de conversão somática, que seria
uma junção do psíquico e do físico remetendo a outra cena. Freud denominou
conversão a uma manifestação somática idêntica ao desejo em que está em jogo uma
satisfação substitutiva de uma fantasia de conteúdo sexual e onde está outra cena
fala do sujeito através de seu corpo.
32
Com a introdução do conceito de Inconsciente, Freud pôs em causa
definitivamente a dicotomia clássica corpo-alma, revelando uma nova leitura das
relações entre soma e psique. Como afirma Lionço (2008, apud LOPES 2012): “o
inconsciente seria uma espécie de lugar de passagem, processo no qual se tornaria
impossível distinguir o corporal do psíquico, que estariam articulados numa espécie
de curto-circuito”.
Segundo EKSTERMAN (1992, apud LOPES 2012), “quando o id se transforma
em ego é o ponto central da intersecção da Psicanálise com a Psicossomática”. Nas
palavras do autor: “se pudéssemos dissecar todos os componentes comprometidos
na transformação do id em ego, teríamos provavelmente respondido aos enigmas que
subsistem entre a mente e o corpo”. Ainda em Eksterman, ao falar sobre a origem da
mente, Freud afirmou que a atividade corporal origina o id e este, por sua vez,
diferencia uma camada mais superficial – o ego –, quando em contato com o mundo
exterior.
Aparentemente, Freud não se interessou pelas consequências efetivamente
psicossomáticas de suas descobertas, pelo ao menos no sentido de enveredar pela
medicina clínica e incluir na fisiologia das doenças físicas uma psicopatologia
psicodinâmica, em outros termos, questões psicológicas relativas ao balanço
consciente/ inconsciente presentes nas doenças do corpo. Foram seus discípulos
imediatos que perceberam essa relação com a Medicina em geral, notadamente Felix
Deutsch, Otto Fenichel, Georg Groddeck e finalmente um emigrante para os Estados
Unidos, também discípulo direto de Freud, Franz Alexander (EKSTERMAN, apud
LOPES 2012).
Passados mais de cem anos do surgimento da psicanálise, atualmente há um
campo de conhecimento denominado hoje como psicossomática psicanalítica do qual
compartilham diversos autores e posicionamentos, em que há um acordo em se
considerar uma multiplicidade de causas para o adoecer relacionados com conflitos
inconscientes (MELLO, 2009, apud LOPES 2012).
33
9 ARTETERAPIA NO NOVO PARADIGMA DE ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL
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sujeito, de tal forma que faz-se necessário levar em consideração toda história de vida
que essa pessoa já construiu. O sofrimento mental tem que ser adaptado à essa
história que é composta de relações sociais.
O autor Thomas Josué Silva escreveu o capítulo dois, "Caleidoscópias
narrativas: a outra desinstitucionalização da loucura", narrando sua experiência de
trabalho com doentes mentais em um atelier de expressão, ou seja, expressões por
meio de desenhos, modelagem em argila, bordados, entre outras técnicas manuais.
O objetivo do capítulo é atentar para a importância dos trabalhos de reabilitação, como
o atelier de expressão, fora da institucionalização e também mostrar que essas
técnicas expressivas explicitam o diálogo entre a pessoa com sofrimento mental e
suas angústias, seu mundo social e sua biografia. No entanto, esse diálogo não deve
ser visto apenas como um diagnóstico clínico, pois ele é uma forma de compreender
a pessoa com sofrimento mental como um todo, ou seja, nas suas esferas biológicas,
psicológicas e sociais.
"Da vida sem arte a arte como promoção da vida: momentos da arte na
psiquiatria", é o título do capítulo três de Cláudia Mara de Melo Tavares que discorre
sobre três formas de perceber a arte como técnica de intervenção para o tratamento
do doente mental. A primeira, que a autora chama de arte hospitalizada, tem a função
de combater a ociosidade dos internados, até mesmo propondo atividades laborais
para a manutenção das instituições, ou seja, colocar esses internos para trabalhar em
serviços, como por exemplo a limpeza do hospital. O segundo tipo de concepção vem
em decorrência da Reforma Psiquiátrica nas oficinas dos Centros de Apoio
Psicossocial (CAPS), fora de hospitais, nas quais a arte é vista como um instrumento
de enriquecimento dos sujeitos, valorização de expressão e descobertas de potenciais
singulares. Já a terceira maneira de perceber a arte é usando-a para tornar esses
indivíduos com sofrimento mental ativos no mundo social, possibilitando ações e
reinvenção do cotidiano.
Segundo Denize Bouttelet Munari (apud VALLADARES, 2004 p. 101) em seu
livro, no capítulo que chama "Arte, arteiros e artistas: uma reflexão acerca da arte
como instrumento de cuidado humano em saúde mental". Embasada em suas práticas
profissionais em hospitais psiquiátricos, a autora discute sobre a função da arte,
justificando que além de permitir que os doentes se expressem livremente e de modo
criativo, também possibilita uma comunicação melhor entre paciente e profissional.
35
Mas, para isso, o profissional precisa perceber o paciente de maneira mais global (bio-
psico-social), tendo um olhar mais humano e menos acadêmico e não apenas rotulá-
lo e diagnosticá-lo. Ainda para a autora é imprescindível que haja profissionais
capacitados para intervir com essas técnicas expressivas, sendo elas têm como o
propósito a aproximação do indivíduo doente ao mundo social. A autora também
ressalta que é preciso mudar o modo de ver, sentir e agir com o sofrimento mental e
que o profissional faz parte do processo de reabilitação, não podendo atuar apenas
como um mero observador.
Com vistas a responder sobre qual o papel das técnicas expressivas,
especialmente da arteterapia, nesse novo contexto de acesso, qualidade e
humanização de atenção à saúde mental. Ângela Philippine elaborou o capítulo
"Arteterapia e outras terapias expressivas no novo paradigma de atenção em saúde
mental". Fundamentada pela teoria Junguiana, a autora, que também é arteterapeuta,
pontua a importância da arteterapia para a compreensão e para o tratamento do
doente mental, apresentando também como o arteterapeuta deve agir nessas
intervenções.
O sexto capítulo, intitulado "A arteterapia e a reabilitação psicossocial das
pessoas em sofrimento psíquico" é de autoria de Ana Cláudia Afonso Valladares. O
manuscrito procura esclarecer e contextualizar o leitor, de forma breve e clara, sobre
o que é arteterapia, qual a trajetória dessa técnica expressiva, quais as modalidades
de arteterapia existentes, em quais contextos ela é utilizada, qual o público alvo da
arteterapia, e os princípios norteadores da arteterapia na reabilitação psicossocial.
"Arte por dentro e por fora: da implantação à consolidação do projeto
arteterapia" é o título do capítulo sete, elaborado por Carmem Lúcia Albuquerque de
Santana. A autora relata como surgiu o Projeto Arteterapia do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O
projeto já existe há seis anos, com diversos tipos de atividades e pesquisas em
andamento, assim como há três anos é exibida anualmente uma exposição para a
comunidade dos trabalhos realizados no ateliê terapêutico pelos pacientes. A autora
relata que a implantação do projeto foi possível, pois se pode mostrar com dados
empíricos por meio de uma pesquisa realizada, também descrita no capítulo, a
melhora clínica dos pacientes que fazem arteterapia.
36
As dinâmicas das sessões de arteterapia também foram abordadas no livro. O
capítulo oito, intitulado "Saúde mental: uma vivência de arte e criatividade", escrito por
Flora Elisa de Carvalho Fussi, além de reforçar a ideia da necessidade de
compreender a pessoa com sofrimento mental como bio-psico-social e ter uma
relação horizontal com ele, ou seja, sem haver superioridade, também descreve
algumas dinâmicas ocorridas durante as sessões de arteterapia administradas por ela.
Nesses relatos das sessões, a autora mostra como ela conduz uma sessão mediante
as emoções que vão surgindo dos pacientas, assim como narra as modificações que
ocorrem nos sentimentos. O capítulo traz reflexões sobre a eficácia da arteterapia
para a reestruturação emocional desses indivíduos.
Sinval Avelino dos Santos, (apud VALLADARES, 2004 p. 102) escreveu sobre
"Atividade física: viabilidades e parcerias no contexto da saúde mental". Nesse
capítulo, a técnica expressiva abordada é a atividade física, vista também como uma
facilitadora do processo de reabilitação do indivíduo com sofrimento mental, que está
alicerçada na visão do indivíduo como um todo (bio-psico-social). O autor faz um
levantamento bibliográfico argumentando e pontuando os benefícios ocasionados aos
doentes mentais em decorrência da atividade física. Como um dos exemplos, cita que
atividades aeróbicas agem como antidepressivos em indivíduos que estão na fase
inicial de um quadro depressivo. Posteriormente apresenta uma pesquisa que realizou
para compreender melhor essa técnica da atividade física como recurso terapêutico
ao paciente internado. Outro objetivo da pesquisa foi entender o que os profissionais
da saúde que trabalham com esse tipo de população pensam a respeito da atividade
física.
A autora Cláudia Regina de Oliveira Zanini (apud VALLADARES, 2004 p. 102)
fala sobre "Musicoterapia e saúde mental: um longo percurso" de. Ela trata
especificamente da musicoterapia na saúde mental, também como uma técnica
expressiva facilitadora do processo de reabilitação psicossocial. Para procurar mostrar
a dimensão da importância dessa técnica, a autora retoma a historicidade da música
associada à sua função terapêutica e ressaltando que, apesar de advir de uma longa
história, a musicoterapia é uma ciência em emergência. A autora também relata a
formação, o papel e as áreas de atuação, principalmente em saúde mental, dos
musicoterapeutas.
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Os dez capítulos do livro apresentam uma escrita de fácil compreensão,
procurando ressaltar o novo paradigma para a área saúde mental proposto na
Reforma Psiquiátrica, a qual enfatiza principalmente a humanização dessa área.
Dessa forma, o livro é indicado não apenas para profissionais que atuam na área da
saúde mental com técnicas expressivas. Qualquer pessoa que queira se inteirar
melhor sobre esse novo contexto da saúde mental encontrará informações e reflexões
interessantes sobre o assunto.
10 HISTÓRIA DA ARTETERAPIA
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38
conhecimento e atuação, determinada pela crise da modernidade, em meio às
mudanças que marcaram essa época.
TOMMASI (2005, apud MENDONÇA, 2013, p.6) destaca que a arte sempre
esteve vinculada à existência humana, como meio de diálogo, interação social,
registro histórico, desenvolvimento da estética, do belo e harmônico. A importância da
arte, sobretudo do desenho e da pintura, incide na relação do homem com o mundo,
e de como os estímulos externos agem no imaginário humano.
De acordo com CIORNAI (2004, apud MENDONÇA, 2013, p.6), Margareth
Naumburg – artista plástica, educadora e psicóloga americana – foi quem primeiro
interessou‐se pelo elo entre o trabalho desenvolvido na sua escola, onde utilizava‐se
o método Montessori e o campo da psiquiatria e da psicoterapia. Naumburg, apesar
de não ter sido a primeira a empregar o termo arteterapia, ficou conhecida como “mãe”
da técnica por ter sido a primeira a diferenciá‐la claramente como um campo
específico, estabelecendo os fundamentos teóricos sólidos para seu
desenvolvimento.
A referida autora afirma ainda que em suas palestras, livros e doutrinas,
Naumburg sempre deixou clara sua crença na seriedade da atividade criativa e
expressiva para o desenvolvimento pleno de cada ser humano e de cada comunidade
social. Muitos foram seus seguidores, culminando na fundação da Associação
Americana de Arteterapia (AATA) em 1969.
De acordo com ACHTERBERG (2000, apud MENDONÇA, 2013, p.6), na
década de 1980, a arteterapia chega ao Brasil por Selma Ciornai, psicoterapeuta
gestáltica com formação em Arteterapia em Israel e nos Estados Unidos, que a
apresentou a São Paulo, criando o primeiro curso de Arteterapia do país, no Instituto
Sedes Sapientiae.
A Associação Brasileira de Arteterapia (2009) define essa técnica como um
estilo de trabalhar empregando a linguagem artística como alicerce da comunicação
cliente profissional.
Seu cerne seria a criação estética e a elaboração artística a favor da saúde.
De acordo com Ferraz (1988, apud MENDONÇA, 2013, p.7), dois psiquiatras
se destacaram por suas contribuições na fundamentação teórica da arteterapia no
Brasil: Osório César, em 1923, e Nise da Silveira, em 1946. Osório César trabalhou
com arte no hospital do Juquery, em São Paulo, sob a influência da Psicanálise.
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TOMMASI (2005, apud MENDONÇA, 2013, p.7) destaca que Osório Cesar
trabalhou por 40 anos no Complexo Hospitalar de Juquery. Em seu artigo intitulado A
arte primitiva dos alienados (1925), apresentou informações sobre a arte dos doentes
mentais. Osório Cesar adquiriu grande conhecimento por meio da observação, sem
caráter científico, dos pacientes trabalhando de forma espontânea. Averiguou que o
material produzido tinha natureza própria, com deformações e distorções figurativas,
de caráter simbólico. A produção artística dos pacientes incitou Osório Cesar a fundar
a Escola Livre de Artes na década de 50, que tinha como desígnio expor habilidades
plásticas e musicais. A Escola Livre de Artes funcionou por 20 anos. Durante este
período foram realizadas várias exposições, que acenderam polêmicas em torno
dessa nova técnica terapêutica.
Em 2001, segundo TOMMASI (2005, apud MENDONÇA, 2013, p.7), movida
pela pesquisa de doutorado, Sonia Maria Bufarah Tomasi ofereceu à Dra. Maria
Tereza Giardini Freire, diretora do complexo Hospitalar de Junqueira, uma proposta
de montar um ateliê de arteterapia, para atender pacientes graves. O material
produzido no ateliê, em 2 anos de trabalho, foi analisado por Sonia Maria que verificou
que a participação dos pacientes nas oficinas do ateliê lhes proporcionou que
expressassem conteúdos de intensa relação com as experiências pessoais de vida
de cada um. Assim, a pesquisa comprovou a hipótese de que as afinidades entre
saúde mental e arte podem cooperar para a melhoria dos serviços de saúde e para o
incremento de tratamento mais humano aos doentes mentais.
Outra figura que se destacou por sua contribuição no desenvolvimento da
arteterapia no Brasil foi Nise da Silveira. Segundo SILVEIRA (1981), ela desenvolveu
um trabalho no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro sob a influência
junguiana, procurando compreender as imagens produzidas pelos pacientes.
TOMASI (2005, apud MENDONÇA, 2013, p.7) destaca que Dra. Nise era
inteiramente contra os métodos de tratamento exercidos na época, tais como
eletrochoque e lobotomia, fator este, decisivo para sua luta em favor dos pacientes,
possibilitando outras formas de tratamento. Dra. Nise percebeu na linguagem não
verbal instigada por intervenção das expressões artísticas como desenho, pintura,
modelagem e dança, a possibilidade para penetrar no mundo psíquico dos pacientes.
Os pacientes, no ateliê, podiam expressar conteúdos internos, afirmando a si e aos
40
outros, que mesmo estando internamente desorganizados, apresentavam aspectos
conservados e intactos em sua estrutura psíquica.
De acordo com SILVEIRA (1981, apud MENDONÇA, 2013, p.8), em 1952 foi
criado o Museu do Inconsciente, na cidade do Rio de Janeiro, por Dra. Nise, que
reuniu trabalhos realizados pelos pacientes do Centro Psiquiátrico Dom Pedro II. O
Museu do Inconsciente é considerado um acervo de grande estima nacional e
internacional.
Em 1981, de acordo com TOMASI (2005, apud MENDONÇA, 2013, p.8), Dra.
Nise escreveu o livro “Imagens do Inconsciente”, expondo sua metodologia de
trabalho, a sua análise, o respeito e cuidado com o ser humano, reconhecendo que a
doença e o doente mental estão arraigados no contexto social, cultural e econômico.
Assim, percebemos a importância da utilização da arte como forma de
expressão para doentes mentais, uma vez que possibilita ao indivíduo a manifestação
de sentimentos inconscientes, bem como a organização de tais sentimentos que
podem ser expressos por desenhos, pintura, modelagem, entre outras formas de
aplicação de materiais em oficinas e ateliês de arteterapia.
É dentro dessa perspectiva que os CAPS vêm desenvolvendo um trabalho
articulado à arte na saúde mental, propondo-se a viabilizar e dinamizar os processos
em grupos terapêuticos, empregando as variadas expressões artísticas, sendo
executado por artistas, arteterapeuta, arte-educadores e profissionais de saúde
mental com formação em arteterapia.
Dessa forma, a arteterapia é inserida no CAPS como forma de tratamento. Há
várias formas de conceituá-la, mas para FILIPINA (2004, apud MENDONÇA, 2013,
p.9), trata-se de um método terapêutico que se utiliza de modalidades expressivas
distintas, que servem a materialização de símbolos. Essas criações simbólicas
representam níveis profundos e inconscientes da psique, possibilitando o confronto,
no nível da consciência, destas informações, propiciando insights e posterior
transformação e expansão da estrutura psíquica. Em outras palavras, trata-se de
terapia através da Arte.
Segundo CARVALHO (2001, apud MENDONÇA, 2013, p.9), a arteterapia é um
meio de estimulação à expressão artística, proporcionando que os pacientes possam
se auto-observar, gerando reflexões sobre o desenvolvimento pessoal, aptidões,
preocupações e conflitos.
41
Para GEHRINGER (2005, apud MENDONÇA, 2013, p.9) não se trata apenas
da junção da arte com a psicologia, mas de uma abordagem fundamentada num corpo
teórico e metodológico próprios, envolvendo conhecimentos em história da arte e dos
pioneiros e contemporâneos de maior proeminência na arteterapia; dos processos
psicológicos gerados tanto no decorrer da atividade artística como na observação dos
trabalhos de arte; das relações entre processos criativos, terapêuticos e de cura e das
propriedades terapêuticas dos diferentes materiais e técnicas.
O trabalho em Arteterapia pode ser desenvolvido individualmente ou com um
grupo de pessoas. A tarefa do arteterapeuta incide em estimular e auxiliar o paciente
e/ou grupo a empregar técnicas expressivas, podendo ser verbais ou não-verbais, por
interferência do corpo, ou ainda, com materiais expressivos tais como lápis coloridos,
papel de variados tipos, tintas de várias cores, tela, massa de modelar, argila. Todo o
processo tem grande importância, desde a escolha do material até o produto final. O
resultado não habita na beleza do trabalho e sim no processo como um todo. O
paciente, ao desenhar, escrever e pintar, utiliza desses recursos para travar um
diálogo que o conduzirá ao autoconhecimento.
A arte está presente nos diversos CAPS do país, com a criação de grupos de
arteterapia e de acordo com diversos estudos (COQUEIRO, 2010, apud MENDONÇA,
2013, p. 10) vêm apresentando excelentes resultados quanto à promoção do ser
humano como um todo, o que inclui aspectos psíquicos e sociais, respeitando as suas
individualidades e os ajudando a restabelecer relações. O eixo central é a influência
mútua organismo-meio e essa interação acontece por meio de dois processos
concomitantes: a organização interna e a adaptação ao meio. O processo de criação
provoca essa reorganização interna de sentimentos e pensamentos e a partir desse
ponto é possível estabelecer uma linguagem com o externo, a realidade.
Dessa forma, notamos a aplicabilidade da arteterapia no contexto do CAPS,
bem como a sua relevante contribuição para a melhora do quadro dos usuários, uma
vez que proporciona um desenvolvimento no autoconhecimento e enriquecimento na
expressão de sentimentos e emoções que podem contribuir com a saúde mental do
paciente.
A arteterapia vem ganhando espaço cada vez maior no campo da saúde
mental, apresentando-se como uma das ferramentas fundamentais para amenizar os
efeitos negativos da doença mental. É central a promoção do bem-estar da pessoa
42
com sofrimento psíquico, uma vez que a arteterapia propicia mudanças nos campos
afetivo, interpessoal e relacional, melhorando o equilíbrio emocional ao término de
cada sessão.
Avaliamos que, mediante a interpretação e a reflexão das experiências na
relação terapêutica, a pessoa vai se ajustando aos seus próprios conteúdos,
conhecendo a si mesma e se tornando sujeito ativo do processo terapêutico.
A partir dessa reflexão podemos perceber que a arte e a loucura sempre
estiveram juntas através da história, porém na atualidade é entendida com um novo
olhar.
Esse novo paradigma em Saúde Mental valoriza a multidisciplinaridade. Os
novos substitutivos em saúde mental somam-se numa sugestão de um projeto
terapêutico que respeita as individualidades e singularidades do sujeito. Portanto não
é prioridade o produto final de uma oficina, mas sim as trocas que se estabelecem e
o ganho oriundo disso, uma vez que a possibilidade de criação se dá na produção de
sentido para a vida e a sociabilidade. Esse novo protótipo responderá às perspectivas
da desinstitucionalização, se priorizar a possibilidade de o artista constituir laços com
o mundo.
Dessa forma, reforçamos a importância de um profissional habilitado para
trabalhar com arteterapia nos CAPS, dada a importância e relevância da técnica na
melhora do quadro de pacientes com transtornos mentais. Notamos ainda, um vasto
campo para profissionais em Saúde Mental, sobretudo psicólogos, que encontram
uma nova porta de entrada no mercado se especializando em arteterapia. Existem no
Brasil cursos de especialização em arteterapia, que proporcionam habilitação e
qualificação a estes profissionais. Ressaltamos que se trata de um trabalho
recompensador para o arteterapeuta, visto que possibilita aos pacientes ganhos de
suma importância na qualidade de vida.
Em suma, a arterapia vem ganhando espaço não só no campo da saúde
mental, como também em diversas áreas, uma vez que é uma técnica indicada para
crianças, adolescentes, adultos, portadores de necessidades especiais motoras ou
mentais, pessoas sadias e enfermas. Tratando-se especificamente do campo da
saúde mental, ressaltamos que a arteterapia apresenta um novo olhar e uma nova
forma de cuidar e proporciona uma evolução no quadro de doentes mentais.
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11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PEREIRA, S. et al. Arteterapia na saúde mental: uma reflexão sobre este novo
paradigma. s/d.
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