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Processos Cognitivos

e Aprendizagem
Marilane Santos

Aula 04
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
Autora
MARILANE SANTOS

Olá, meu nome é Marilane Santos. Sou graduada em psicologia


e tenho mestrado em Psicologia da Educação. Possuo uma experiência
técnico-profissional de mais de 15 anos na área de docência em cursos
de graduação e pós-graduação. Trabalhei em instituições de ensino
como Faculdade Católica e PUC Minas, entre outras. Sou apaixonada
pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que
estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora
Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou
muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho.
Conte comigo!
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro-
jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de
aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo,
ou detalhado; se forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Compreendendo como funcionam os processos, objetivos e
domínios da aprendizagem 10
A aprendizagem e seus processos 10
Modelo Inatista 11
Modelo Ambientalista 13
Behaviorismo Metodológico 13
Behaviorismo Radical 14
Modelo Interacionista 15
Teoria Psicogenética de Piaget 15
Teoria Sócio-histórica 16
Teoria da Psicogênese de Henri Wallon 17
Teoria da Aprendizagem Significativa
de David Ausubel 17
Aprendizagem versus Representação 18
Aprendizagem 18
Representação 21
A avaliação nos processos de ensino- aprendizagem 24
Pedagogia Tradicional 25
Pedagogia Tecnicista 28
Propostas pedagógicas baseadas no modelo interacionista 29
Construtivismo 29
Pedagogia Socioafetiva 30
Pedagogia Socioconstrutivista ou Sociointeracionista 31
Aprendizagem Significativa 32
Dificuldades, Distúrbios e Transtornos de Aprendizagem 34
Dificuldades de Aprendizagem 34
Distúrbios de Aprendizagem 36
Transtornos de Aprendizagem 40
Processos Cognitivos e Aprendizagem 7

04
UNIDADE
8 Processos Cognitivos e Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Você sabia que a aplicação dos seus conhecimentos sobre
aprendizagem é um grande desafio? Isso pois você deverá compreender
e intervir nos processos de ensino-aprendizagem. O profissional que
irá se relacionar com os processos educacionais precisa conhecer
as diversas correntes teóricas da psicologia e sua aplicabilidade na
educação. Depois de conhecer todos os aspectos envolvidos nos
processos cognitivos e como ele será compreendido por diferentes
correntes teóricas, é possível compreender que toda proposta didática
tem uma concepção de desenvolvimento cognitivo que a fundamenta
para desenvolver determinadas formas para ensinar, avaliar, conceber
as dificuldades de aprendizagem, entre outros. Essa compreensão
amplia as possibilidades de se construir uma proposta educacional
que, na sua condução didática, promova uma atuação coerente com
a compreensão que se tem, atualmente, de como é possível construir
propostas mais potencializadoras de ensino-aprendizagem para auxiliar
na formação de pessoas com pensamento crítico e reflexivo e, portanto,
mais preparadas para responder as diferentes demandas sociais e
profissionais da atualidade.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 9

OBJETIVOS
Olá, seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até
o término desta etapa de estudos:
1. Compreender os modelos de desenvolvimento psicológico e
as teorias relacionadas a aprendizagem;
2. Compreender a relação entre representação e aprendizagem;
3. Conhecer as diversas formas de avaliação no processo ensino-
aprendizagem e suas aplicações;
4. Identificar as diferenças em conceito, características e intervenção
nas situações de dificuldades, distúrbios e transtornos de aprendizagem.
Então? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao
conhecimento? Ao trabalho!
10 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Compreendendo como funcionam os


processos, objetivos e domínios da
aprendizagem
OBJETIVO:
Ao término deste tópico você será capaz de entender quais
são os processos, objetivos e domínios da aprendizagem.
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão,
pois é preciso compreender a aprendizagem como um
todo e todas as suas áreas para dominar o tema Processos
Cognitivos e Aprendizagem.

A aprendizagem e seus processos


A psicologia como ciência sempre se interessou pelo tema
aprendizagem. Compreender como o indivíduo aprende como
acontecem os processos de desenvolvimento cognitivo, seja por meio da
experiência ou de propostas de ensino, sempre foi um tema desafiador e
muito pesquisado por diferentes teóricos da psicologia.
Apesar das teorias serem diferentes entre si, elas podem ser
reunidas em três grandes modelos de desenvolvimento psicológico,
sendo eles:
„„ Modelo Inatista: teoria do QI de Alfred Binet.
„„ ModeloAmbientalista (teorias do condicionamento):
Behaviorismo Metodológico de Ivan Pavlov e Behaviorismo Radical de
Burrhus Frederic Skinner.
„„ Modelo Interacionista (teorias cognitivistas e sociointera-
cionistas): Teoria Psicogenética de Jean Piaget, Teoria Sócio-histórica
de Lev Vygotsky, Teoria Psicogenética ou Socioafetiva de Henri Wallon
e Teoria de Aprendizagem Significativa de Ausubel.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 11

Figura 1: O Pensamento.

Fonte: Pixabay

IMPORTANTE:
Todas essas teorias, devido ao fato de terem como objeto
de estudo a aprendizagem, terão um impacto direto na
educação, em propostas pedagógicas baseadas nos
modelos de desenvolvimento psicológico.

Modelo Inatista
Podemos definir o termo “inatista” como:

IMPORTANTE:
“Inato” de nascimento, que já nasce desta forma, que já traz
do nascimento.

Alfred Binet (1857-1911) foi um dos principais pesquisadores deste


modelo de desenvolvimento psíquico. A denominação ”inatista” refere-
se à ideia de que a inteligência é determinada geneticamente, ou seja,
já é definida desde o nascimento e que seria necessário um ambiente,
com condições básicas, para que inteligência se desenvolvesse.
12 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Figura 2: Alfred Binet.

Fonte: Editorial Telesapiens

A teoria considera que cada pessoa tem, por definição genética,


maior ou menor predisposição para o desenvolvimento da inteligência
(GALVÃO, 2002).
Baseado neste modelo, Binet criou o teste de ‘coeficiente de
inteligência’, conhecido como teste de QI, com a proposta de avaliar a
inteligência conforme as capacidades esperadas para cada faixa etária.
Existem muitas ressalvas a respeito de utilizar os resultados do
teste de forma indiscriminada, mas seus estudos foram utilizados desta
forma, segregando as pessoas como se algumas tivessem capacidade
para a aprendizagem e outras não teriam grande êxito ou nem mesmo
aprenderiam.

EXPLICANDO DIFERENTE:
A teoria do Quociente de Inteligência (QI), por compreender
que a capacidade cognitiva teria atributos genéticos, serviu
como base para que muitas propostas segregadoras e
racistas fossem justificadas com base nos seus princípios.
A teoria era utilizada para justificar a supremacia de raças,
como a raça ariana, ou mesmo de que a raça branca
teria superioridade nos atributos psíquicos, determinados
pela genética, sobre a raça negra e até mesmo na escola
quanto a propagação da concepção de que alguns teriam
mais capacidade para aprender do que outros e que isso
poderia ser mensurado por testes.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 13

Modelo Ambientalista
O Modelo Ambientalista baseia-se em pesquisas que também
procuram compreender o desenvolvimento psicológico. Seus principais
pesquisadores, John Watson (1878-1958), Ivan Pavlov (1848-1936) e
Burrhus Skinner (1904-1990) conduziram experimentos com animais,
os quais poderiam ser estendidos à compreensão do comportamento
humano para demonstrar que os comportamentos são aprendidos
conforme são reforçados pelo ambiente. O behaviorismo se divide em
metodológico e radical (COUTINHO, 2000).

Behaviorismo Metodológico
No Behaviorismo metodológico Watson desenvolveu a teoria do
Condicionamento Clássico, a qual demonstra o controle das reações
orgânicas (reflexos) como salivação, sudorese, entre outras, por estímulos
ambientais.
O condicionamento clássico se baseia na apresentação de um
estímulo que naturalmente provoca uma reação orgânica, associado a
um estímulo que não tem a capacidade de gerar uma resposta orgânica.
A experiência do condicionamento demonstra que, inicialmente, se
forem apresentados os dois estímulos juntos, posteriormente o estímulo
que não tinha a capacidade de gerar a resposta orgânica conseguirá
fazer surgir esta resposta, mesmo que apresentado sozinho.
Figura 3: Esquema demonstrativo do condicionamento clássico.

Fonte: Editorial Telesapiens

Na figura acima temos o exemplo de um experimento de


condicionamento clássico: inicialmente é apresentado um estímulo (s) a
um cão, uma sirene, ao mesmo tempo que é apresentado um estímulo
14 Processos Cognitivos e Aprendizagem

(r), no caso a carne, que naturalmente faz o cachorro salivar. Os estímulos


eram apresentados emparelhados (ao mesmo tempo) e o cachorro, que
inicialmente não tinha uma resposta condicionada ao barulho de uma
sirene, passa a apresentar a resposta de salivação, mesmo quando a
sirene é tocada sozinha, sem apresentação da carne.
O ambiente, nesse modelo de desenvolvimento psicológico, é
o principal responsável pelos comportamentos do ser humano e era
demonstrado por esse experimento e sua extensão a compreensão do
comportamento humano, o quanto os comportamentos involuntários e
orgânicos podem ser condicionados e serem uma resposta a estímulos
involuntários.

Behaviorismo Radical
No Behavorismo Radical apresenta-se a proposta que o
pesquisador Skinner desenvolveu, por meio de diversos experimentos,
sobre o Condicionamento Operante em que ele descrevia que todos
os comportamentos, não somente os involuntários (condicionamento
clássico), conforme forem reforçados podem ser condicionados.
Figura 4: Esquema demonstrativo do condicionamento operante.

Fonte: Editorial Telesapiens

EXPLICANDO DIFERENTE:
Embora esses experimentos tenham sido realizados com
animais, sua compreensão foi estendida ao comportamento
humano. Nesse entendimento o comportamento é
mantido pela resposta do ambiente, se for uma resposta
comportamental favorável ao indivíduo, tende a reforçar
(estimular) a manutenção daquela forma de se comportar
caso as consequências ao comportamento emitido forem
desfavoráveis ao indivíduo, o comportamento tende a se
extinguir.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 15

Figura 5: Caixa de Skinner.

Fonte: Editorial Telesapiens

Modelo Interacionista
Teoria Psicogenética de Piaget

DEFINIÇÃO:
A Teoria Psicogenética representada por Jean Piaget (1896-
1980) compreende que o desenvolvimento cognitivo irá
se desenvolver por etapas, conforme a faixa etária do
indivíduo, a partir das suas capacidades de interação em
cada uma dessas fases e a potencialidade estimuladora do
ambiente em que estão.

Para Piaget, o indivíduo relaciona uma nova informação com algo


que ele já saiba e depois diferencia essa informação das que já possui,
realizando assim o processo de acomodação. Cada pessoa, conforme
sua faixa etária, terá diferentes recursos para interagir com o ambiente,
os movimentos, a linguagem, até que ocorra a formação conceitual do
pensamento e a cada contexto assimila e acomoda novas informações.
Assim, vai ampliando seu estado de menor conhecimento para maior
conhecimento e alcançando, para cada aprendizado, o equilíbrio que se
refere a transformar tudo que já se sabe a partir das novas aprendizagens
(LA TAYLLE,1992).
16 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Teoria Sócio-histórica

DEFINIÇÃO:
A teoria Sócio-histórica tem como base as pesquisas de
Lev Vygotsky (1896-1934) na compreensão de que as
características psicológicas superiores, como o pensamento
e a linguagem, se desenvolvem na interação do indivíduo
com o os grupos sociais que o interage, sendo que a
subjetividade psicológica individual se formaria nas relações
com a subjetividade psicológica social e, dessa forma,
o indivíduo se desenvolve ao longo de toda a sua vida
conforme o contexto sócio-histórico em que está inserido.

A teoria relaciona o desenvolvimento psicológico com as


mudanças sociais e históricas que o homem desenvolve ao longo da
humanidade (interação).
Desta forma, toda subjetividade está sempre em construção
e pode ser sempre enriquecida por vivências potencializadoras que
ampliam o mundo psíquico, como as artes e o estudo em geral.
Figura 6: Aprendizagem em grupo.

Fonte: Pixabay
Processos Cognitivos e Aprendizagem 17

Teoria da Psicogênese de Henri Wallon

DEFINIÇÃO:
A teoria da Psicogênese de Henri Wallon (1879-1962),
ou teoria Socioafetiva, descreve o desenvolvimento
psicológico conforme as capacidades de interação de cada
idade. Nas etapas descritas por Wallon vamos encontrar
não só a descrição do desenvolvimento das funções
cognitivas, mas também da formação de características
afetivas, construídas nas relações sociais (Galvão, 2002).

Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel

DEFINIÇÃO:
A Teoria de Aprendizagem Significativa de David Ausubel
(1918-2008) se opõe as teorias do condicionamento, partindo
do princípio de que o indivíduo irá construir sua cognição
por meio da ancoragem, trata-se de quando uma nova
informação fixa-se nas informações já existentes fazendo
sentido para o indivíduo e, por isso, sendo denominada
aprendizagem significativa. Ele diferencia o aprender de
forma significativa da aprendizagem mecânica, na qual se
acumula informações por memorização, sem fazer sentido
para o indivíduo.

A pessoa pode repetir o que foi aprendido, mas se não tiver


significado para ela, vai reter essas informações por aprendizagem
mecânica, por pouco tempo.

DEFINIÇÃO:
O modelo interacionista demonstra que a aprendizagem é
interpessoal, ou seja, inicia-se na relação com o outro para
se tornar intrapessoal, um processo interno e subjetivo que
nos faz seres sociais.
18 Processos Cognitivos e Aprendizagem

RESUMINDO:
Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste tópico, vamos resumir
tudo o que vimos. Você aprendeu que o estudo sobre
aprendizagem é baseado em modelos que reúnem
teorias que pesquisam e buscam compreender como o
indivíduo aprende. Essas teorias foram reunidas em três
grandes modelos de desenvolvimento psicológico. Você
aprendeu sobre o Modelo Inatista e sua compreensão de
que a aprendizagem é determinada por fatores orgânicos,
genéticos, já definidos desde o nascimento, devendo
somente serem oferecidas as condições básicas para que
o indivíduo se desenvolva dentro de suas potencialidades
e limitações. No Modelo Ambientalista você aprendeu que
o indivíduo é considerado uma ‘tábula rasa’, ou seja, que
não traz capacidades psíquicas já desenvolvidas, todas
elas serão formadas e determinadas pelo ambiente, nesse
modelo foi demonstrado como a aprendizagem se dá por
condicionamento do indivíduo, administrando reforçadores
ambientais. No Modelo Interacionista você aprendeu que o
desenvolvimento cognitivo se dá na interação do indivíduo
com o meio, ou seja, a relação interpessoal e com o
ambiente em geral será processada internamente e é nesta
construção que a cognição irá se desenvolver.

Aprendizagem versus Representação


AprendiZagem
DEFINIÇÃO:
A aprendizagem pode ser definida como o ato de aprender
ou adquirir conhecimento por meio da experiência ou
atividade de ensino-aprendizagem. Várias teorias da
psicologia, reunidas em modelos teóricos, buscam
compreender como se dá o processo de aprendizagem ao
curso do desenvolvimento do indivíduo. Elas vão dar ênfase
a fatores diferentes neste processo, como o meio, ou fatores
genéticos, ou fatores cognitivos ou a interação de todos
estes fatores, mas todas vão relacionar as representações
e condições internas do indivíduo e as situações externas.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 19

Considerando a ação do sujeito sobre o ambiente e a forma


como cada pessoa organiza, aprende e interioriza as informações, a
aprendizagem será uma transformação baseada nas experiências do
sujeito no mundo a partir das interações com o meio.
Ao compreender que cada pessoa aprende de uma maneira
diferente, surgiu a concepção de estilos cognitivos. Essa concepção
não se limita à inteligência, há um padrão a ser mensurado, como
preconizava o modelo inatista. Entretanto, abrange o entendimento
de que existem diferentes formas de aprender, diferentes formas de
manifestar a inteligência.
São diferentes as formas de aprender os dados de uma dada
realidade, uma vez que a cognição está associada ao modo como “a
pessoa adquire, armazena e usa o conhecimento” (NATEL, 2013 p.5).
São três as dimensões mais estudadas sobre estilos cognitivos,
elas se caracterizam por (NATEL, 2013):
„„ Impulsividade e reflexividade da resposta: está relacionado
ao tempo de execução de uma tarefa; executa-se uma tarefa por impulso
ou após reflexão.
„„ Convergência e divergência de pensamento: utiliza-se mais
o pensamento lógico para convergência de ideias ou utiliza-se mais da
criatividade.
„„ Independência e dependência de campo: aprendizagem
com maior ou menor estruturação.
Compreender a forma que o indivíduo utiliza para aprender
favorece o estabelecimento de propostas didáticas mais coerentes,
visando estabelecer o processo de ensino- aprendizagem.
Esta visão mais ampliada sobre as diferentes formas de aprender
também ampliou a compreensão de que a inteligência não poderia ser
mensurada por testes que avaliassem uma única habilidade, como era
o teste de QI e sua propagação e utilização desmedida para classificar,
selecionar e segregar pessoas. Contrapondo esse pensamento é que se
concebe que existem diferentes formas de se relacionar com o contexto
de forma inteligente.
No estudo destas diferentes formas de manifestação da
inteligência, Gardner (1995) criou o conceito de Inteligências Múltiplas:
20 Processos Cognitivos e Aprendizagem

É uma visão pluralista da mente, reconhecendo muitas facetas


diferentes e separadas da cognição, reconhecendo que as pessoas
tem forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos contrastantes
(Gardner, 1995, p.13).
Se recusando a utilizar testes psicométricos e limitar a
compreensão da inteligência aos estudos do teste de QI, Gardner (1995)
e um grupo de pesquisadores estudaram diferentes grupos de perfis
cognitivos, em diferentes culturas, e mudaram o conceito de inteligência,
descobrindo várias habilidades para se relacionar com o meio. Na teoria
das inteligências múltiplas ele estabeleceu sete tipos de inteligência,
sendo elas: Inteligência linguística, Inteligência lógico-matemática,
Inteligência espacial, Inteligência musical, Inteligência corporal-
cinestésica, Inteligência interpessoal e Inteligência Intrapessoal.

IMPORTANTE:
Para Gardner (1995), a função da escola deveria ser
de reconhecer as diversas habilidades do indivíduo e
desenvolver suas inteligências, compreendendo que todos
temos formas inteligentes para lidar com as situações e
podemos aprender outras habilidades, ou melhor, outras
inteligências.

REFLITA:
E você? Qual considera ser sua inteligência já bem
desenvolvida e a que mais precisa desenvolver?

Além de se compreender que existem estilos cognitivos e


inteligências diferentes, que não se resumem a um único padrão,
pesquisadores também estabeleceram que existem estilos de
aprendizagem. Natel (2013) apresenta uma revisão bibliográfica sobre a
definição de Estilos de Aprendizagem:
O modo pessoal e distinto de como cada um aprende constitui-
se como a característica básica do estilo de aprendizagem, como indica
Lozano define estilo como “o conjunto de preferências, tendências
Processos Cognitivos e Aprendizagem 21

e disposições de uma pessoa para fazer algo, isto é, um padrão de


conduta que o distingue das demais”. Da mesma forma, Labour14 define
estilo como “o conjunto constituído por diferentes elementos que o
ambiente permite ao indivíduo desenvolver de um modo preferido
quando identifica, executa ou avalia uma tarefa particular, numa dada
situação de aprendizagem” (NATEL, 2013 p.04).
Figura 7: Pessoas em diferentes situações de aprendizagem.

Fonte: Pixabay

Tem pessoas que aprendem melhor ao ler um livro, outras ao


assistir uma aula, outras na exemplificação trazida por um filme ou uma
música. Há aquelas que aprendem quando tem que explicar sobre um
assunto, outras quando escrevem, enfim, esta multiplicidade de formas
de aprender, de inteligência e de estilo de funcionamento cognitivo
demonstra que o universo da aprendizagem é cheio de possibilidades e
que todos podemos aprender e ensinar melhor quando identificamos a
forma que mais corresponde as potencialidades de cada pessoa.

Representação
Ao compreendermos as diferentes formas como o indivíduo pode se
posicionar em relação as condições de aprendizagem, compreende-se a
importância de uma representação do “eu” que caracterize a compreensão
que temos sobre nós e sobre as outras pessoas.
A representação que cada um tem sobre suas características
pessoais pode auxiliar ou dificultar os processos de ensino aprendizagem.
Conforme a teoria de atribuição de causalidade em relação a aprendiza-
gem, Chabane (2006):
22 Processos Cognitivos e Aprendizagem

[...] define a aprendizagem como uma atribuição causal, ou


seja, a pessoa tem uma representação de si próprio que
reúne elementos de sua personalidade, de sua afetividade
e de suas motivações e emoções e irá atribuir o fracasso e o
sucesso na aprendizagem em questões externas ou internas,
no que ele chamou de atribuição de causalidade. As pessoas
que tendem a atribuir a questões internas, tem mais chances
de sucesso. Definido desta forma o ato de aprender como um
ato individual e solitário (CHABANE, 2006 p.95).

A compreensão da representação pessoal e a atribuição de


causalidade, realizada pelo aluno, pode levar à uma compreensão
equivocada, retirando a dimensão social envolvida na aprendizagem e
estabelecendo ao indivíduo culpa ou fracasso por sua aprendizagem.
Contrapondo esse modelo e concepção de indivíduo,
característica das teorias comportamentalistas, as teorias do modelo
interacionista vão considerar as várias dimensões para o processo
do ensino-aprendizagem, além das características individuais que
estudamos sobre a aprendizagem.
Entre essas teorias podemos destacar a da Aprendizagem
Significativa de Ausubel que estudamos no primeiro tópico desta
unidade, ao conceituar essa teoria foi possível estabelecer a importância
que ela atribui ao fato do conteúdo a ser aprendido adquirir significado
para o indivíduo. Para tanto, contrapondo a representação, enquanto
somente considera o pessoal para a aprendizagem, a compreensão
que pode nos auxiliar na busca de construção de uma aprendizagem
significativa é o estudo sobre Representação Social.

DEFINIÇÃO:
O termo representação social refere-se a estudos realizados
no âmbito da Psicologia Social e foi desenvolvido por
Moscovici na década de 60, na França, para se referir às
representações construídas nas relações sociais e que
passam a compor a subjetividade de cada pessoa.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 23

O conhecimento e as formas de se comportar vão sendo


construídas pelo grupo e cada indivíduo apresenta esse conhecimento
construído socialmente.

[...] a representação [social] funciona como um sistema


de interpretação da realidade que rege as relações dos
indivíduos, com o meio físico e social ao seu redor, já que
determina seus comportamentos ou suas práticas. É um
guia para a ação, orienta as ações e as relações sociais. É
um sistema de prédecodificação da realidade posto que
determina um conjunto de antecipações e expectativas.”
(Higer, 2016 apud Abric, 2001, p. 13).

Compreender as representações sociais de um grupo nos permite,


mesmo sabendo das particularidades do funcionamento cognitivo e
múltiplas formas de inteligência, organizar o conteúdo no que ele tem
de social, ou seja, foi construído pelo grupo e é comum a todos.
A representação social se propõe a tornar familiar algo que
não é familiar: enquadrar algo estranho, conferindo- lhe sentido e
significado. Para que a aprendizagem seja significativa, pretende-se o
mesmo objetivo, relacionar um novo conhecimento à estrutura cognitiva
preexistente, tornando-o familiar (Hilger, 2016, p. 6).
Uma mesma pessoa frequenta diferentes grupos e pode, sobre
uma mesma informação, construir diferentes representações sociais, o
que torna mais rico o processo didático. O professor precisa conhecer
quais as representações existem nos grupos com os quais vai trabalhar,
sobre os assuntos a serem discutidos e como utilizar as representações
existentes para criar concepções e aprendizados.
As representações sociais podem, portanto, ser uma modalidade
de conhecimento, construída pelos grupos nas interações e serem
utilizadas para favorecer os processos de aprendizagem.

[...] estrutura cognitiva significa, portanto, uma estrutura


hierárquica de conceitos que são representações de
experiências sensoriais do indivíduo. De modo análogo,
24 Processos Cognitivos e Aprendizagem

é possível relacionar a estrutura das RS com a estrutura


conceitual de conteúdos escolares (HILGER, 2016, p.13).

Desta forma, para o professor é essencial estabelecer relações


com o conteúdo a ser ensinado, com as representações prévias existentes
no aluno e, principalmente, fazer isso de forma que consiga despertar
motivação no aluno para aprender determinado assunto, para que ele
estabeleça uma relação afetiva com o conteúdo. Compreendidas desta
forma, as representações sociais podem auxiliar a aprendizagem.

RESUMINDO:
Você aprendeu que existem diferentes estilos cognitivos,
diferentes formas de aprendizagem e que a inteligência
pode se manifestar de diversas forma, como na teoria
das Inteligências Múltiplas, que estabeleceu sete
tipos de inteligência. Você também aprendeu que as
representações não devem ser consideradas somente
como pessoais, mas como representações sociais que
demonstram o conhecimento do indivíduo, construído
nas relações sociais que ele estabelece com os diversos
grupos com que se relaciona. Você viu que compreender
as representações sociais de um grupo facilita a tarefa de
tornar a aprendizagem mais interessante e significativa.

A avaliação nos processos de ensino-


aprendizagem
DEFINIÇÃO:
A avaliação educacional pode ser definida como uma
verificação do processo de ensino-aprendizagem. Em
algumas concepções é tida como uma mensuração ao fim
de uma etapa e, em outras, como importante etapa deste
processo.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 25

A avaliação vai variar em concepção e instrumentos e, também,


de acordo com os objetivos para os quais ela for utilizada. Cada modelo
de desenvolvimento psicológico, quando aplicado à educação, influencia
uma proposta pedagógica diferente e cada uma destas propostas terá um
formato didático, com concepções diferentes sobre a avaliação.
Mas, de forma geral, podemos classificar as formas de avaliação em:
„„ Avaliação Somativa: forma de avaliação utilizada na Pedagogia
Tradicional e na Pedagogia Tecnicista, pode ser definida como:

[...] realizada ao final de um curso, período letivo ou unidade


de ensino, consiste em classificar os alunos de acordo com os
níveis de aproveitamento. Geralmente tem em vista a promoção
do aluno de uma série para outra (HAYDT, 1988, p. 18).

„„ Avaliação Formativa: forma de avaliação utilizada nas propostas


pedagógicas baseadas no Modelo Interacionista; ”(...) a avaliação que
auxilia o aluno a aprender e a se desenvolver, ou seja, que colabora para
a regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um
projeto educativo” (PERRENOUD, 1999 apud HADJI, 2001, p. 20).

Pedagogia Tradicional
O modelo Inatista de desenvolvimento psíquico influenciou a
proposta pedagógica denominada Pedagogia Tradicional, essa tem
como fundamento a ideia de que para o indivíduo aprender, a escola
deve somente apresentar os conteúdos escolares e a aprendizagem vai
acontecer conforme capacidades já determinadas em cada pessoa.
Neste modelo pedagógico o professor é a autoridade que
repassa os conteúdos a serem memorizados pelos alunos, o professor
lidera e os alunos seguem. As disciplinas são apresentadas sem uma
preocupação com contextualização, adequação à realidade do aluno e
sem ter como objetivo uma análise crítica do conteúdo e estudos sobre
sua aplicabilidade.
26 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Figura 8: Cartilha Caminho Suave.

Fonte: Wikipedia

Baseado no modelo inatista de desenvolvimento, a Pedagogia


Tradicional tem como concepção de avaliação instrumentos que
quantificam a capacidade de memorização, reprodução de conteúdo
idêntico ao ensinado, quantidade de erros e acertos para gerar uma nota
que classifique o aluno. Essa nota geralmente era divulgada e passava
a representar o aluno, o que levava à prática do professor de separar
os alunos por salas, com base nas notas obtidas por cada um, criando
estigmas como a sala dos fracos. Para esse objetivo eram utilizados
mecanismos como: provas (escrita, oral), exames, exercícios e até
mesmos castigos e formas humilhantes de repreender comportamentos
ou baixo desempenho observado nas notas. Luckesi (2002) descreve com
clareza as etapas que envolvem a avaliação na Pedagogia Tradicional:
Processos Cognitivos e Aprendizagem 27

[...] 1. Elaborar um questionário, após certo período das aulas,


para coletar dados sobre o desempenho dos alunos.
2. Ao determinar que os estudantes vão responder ao
questionário, seguir o mesmo procedimento: dispor todos
sentados e distantes uns dos outros para não colarem,
distribuir o questionário, fiscalizar os alunos durante a
realização da atividade para evitar a “cola” e recolher o
documento com as respostas.
3. Corrigir cada um dos questionários, atribuindo-lhes nota
classificatória.
4. Por último, registrar tudo na caderneta (ou livro de
chamada)” (LUCKESI, 2002, p.223-224).

Exercícios como ler o livro ‘Marcelo e o barquinho amarelo’


e responder questões como: qual a cor do barquinho do Marcelo?
Exemplificam que tipo de aluno e aprendizado se espera nesse contexto
de formação e avaliação. As avaliações são periódicas e sempre no final
de um ciclo, para encerrar o conteúdo ensinado.
Atualmente o desenvolvimento psíquico é compreendido de
forma mais ampla do que somente a concepção de que a inteligência é
determinada pela genética, nesse sentido, o que se espera é que outros
modelos da psicologia influenciem novas práticas pedagógicas para
superar as concepções do Modelo Inatista.

REFLITA:
Considerando o Modelo Inatista, eu pergunto para vocês:
na sala de aula, na contemporaneidade, conseguimos
superar a condução pedagógica baseada em um formato
de Pedagogia Tradicional? Ao acessar suas lembranças
sobre seus professores, você consegue se lembrar de
exemplos de aulas que eram ministradas conforme a
Pedagogia Tradicional?
28 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Pedagogia Tecnicista

DEFINIÇÃO:
O modelo ambientalista influenciou uma concepção
de Pedagogia denominada Pedagogia Tecnicista, nesta
proposta várias formas de reforçadores, como notas e
frequência, são utilizadas para condicionar o comportamento,
valorizando o ambiente escolar para formar nos indivíduos
os comportamentos desejáveis. Os objetivos são modelar e
treinar o indivíduo para adequá-lo ao meio.

Nessa proposta pedagógica vários recursos foram sendo


inseridos no cotidiano escolar e muitos permanecem, tais como: livros
didáticos, notas, mudanças de níveis (fases), recompensas, livro de
ensinar e aprender. O uso da técnica sem reflexão, avaliação como fim
e condições didáticas que não proporcionem relações interpessoais,
traduzem a avaliação na Pedagogia Tecnicista que busca comparar o
aluno, através de notas, com padrões estabelecidos ou mesmo como
acompanhamento individual, através de fichas.
A concepção de avaliação, nesta perspectiva, é a de que a escola
deveria promover formas de condicionamento que possam modelar o
comportamento do aluno.
Figura 9: Filme Laranja Mecânica.

Fonte: Wikipedia
Processos Cognitivos e Aprendizagem 29

REFLITA:
No filme ‘Laranja Mecânica’ é possível verificar o uso de vários
reforçadores para condicionamento, propondo a mudança
radical do comportamento do personagem principal. Mas a
grande reflexão que o filme traz é o questionamento sobre
se os reforçadores são suficientes para a manutenção da
mudança do comportamento humano. Assista e reflita a
respeito em https://bit. ly/2YVMIYj

Propostas pedagógicas baseadas no modelo


interacionista
Construtivismo

DEFINIÇÃO:
As pesquisas de Piaget que caracterizaram sua teoria
da Psicogênese tiveram grande influência sobre a
Pedagogia Construtivista e sua concepção de construção
do conhecimento, compreendendo o processo ensino-
aprendizagem como uma experiência ativa do indivíduo
que se relaciona com o meio, construindo as suas estruturas
mentais. Tem como proposta o desenvolvimento de um
pensamento autônomo, crítico e criativo.

A avaliação deve ser dinâmica e oferecer oportunidades de


reflexão. Esse formato vai demandar um acompanhamento permanente
do professor, diversificando os formatos e demandas a serem feitas
aos alunos. Dessa maneira, a avaliação não será ao fim do processo
educativo, como acontece atualmente, ela passa a acontecer no curso do
processo, demonstrando uma busca incessante pela compreensão de
possíveis dificuldades do educando e a criação de novas oportunidades
de aprendizagem (HOFFMANN, 2005).
Nesta perspectiva, a avaliação se modifica bastante, sendo
considerada parte da construção do conhecimento, é utilizada como
diagnóstico e não como rótulo ou forma de exclusão, seu papel é
direcionar, modificar e refletir sobre o processo ensino-aprendizagem.
30 Processos Cognitivos e Aprendizagem

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para


sua própria produção ou sua construção” (FREIRE, 1996, p. 47).

Pedagogia Socioafetiva
Com base na teoria da Psicogênese de Henri Wallon se
desenvolveu a proposta de uma Pedagogia Socioafetiva, em que as
potencialidades do indivíduo devem ser consideradas durante o processo
de ensino-aprendizagem. A relação interpessoal deve ser compreendida
e potencializada e a educação será um meio para organização psíquica
do indivíduo e do grupo.
Nesta concepção, a avaliação deve considerar as características
de cada estágio para que o professor possa planejar atividades
adequadas ao período vivenciado pela criança e que as avaliações
também sejam coerentes com esse momento.
A Pedagogia Socioafetiva considera os aspectos cognitivos, motores
e afetivos para o desenvolvimento e à atenção a todos esses aspectos
tanto nas atividades propostas como na forma de avaliar, o que demanda
sensibilidade do professor para todas as etapas vivenciadas pelo aluno
e para o estabelecimento de um vínculo com o aluno e entre alunos,
considerando a importância das relações interpessoais neste processo.
Assim, ao lado dos conhecimentos teóricos, assumem relevância a
sensibilidade, a curiosidade, a atenção, o questionamento e a habilidade
de observação do professor sobre o que se passa no processo ensino-
aprendizagem (MAHONEY, 2005, p. 12)
Esta proposta pedagógica avança e se diferencia das demais,
pois era comum o entendimento de que na escola somente se deveria
dar atenção aos aspectos cognitivos, à aprendizagem de conteúdos e
‘deixar as emoções em casa’. No entanto, não podemos fazer isso pois
todos os processos estão diretamente envolvidos, se desenvolvem
juntos, um aspecto favorecendo o desenvolvimento do outro.
A emoção, no âmbito da prática pedagógica, pode fortalecer a
afetividade na relação professor e aluno, além de favorecer a autoestima, o
diálogo e a socialização. É preciso considerar, também, que a afetividade é
importante no processo de avaliação, retirando o caráter ameaçador destes
momentos. Se para Wallon a emoção e a cognição são indissociáveis e
Processos Cognitivos e Aprendizagem 31

potencializadas pela socialização, priorizar a afetividade nas interações


ocorridas no ambiente escolar contribui para dinamizar o trabalho educativo.

DEFINIÇÃO:
Vocês já perceberam que quando se tem um problema, ou
não se sente bem emocionalmente, isso pode influenciar a
capacidade de aprender? Mas que conforme o contexto de
aprendizagem, o ambiente de interações auxilia o indivíduo
a se sentir melhor e até pode trazer insights para ajudar a
resolver o problema?

Pedagogia Socioconstrutivista ou Sociointeracionista


A Pedagogia Socioconstrutivista ou Socionteracionista baseia-se
na proposta de uma escola como um lugar privilegiado para favorecer
interações que ampliem a capacidade de compreensão do indivíduo
para construir respostas para diferentes demandas, desenvolvendo a
capacidade de análise e senso crítico.
Neste formato o professor será um mediador do processo
de ensino-aprendizagem e o aluno constrói seus conhecimentos
com base no desenvolvimento da capacidade de análise crítica, no
desenvolvimento de capacidades que ele não domina (denominado
de desenvolvimento proximal), aproveitando as aprendizagens que já
domina (desenvolvimento real) e sendo provocado pelas mediações
apresentadas pelo professor para atingir um novo aprendizado.
Considera-se, portanto, que o professor atua no que a teoria chama de
zona de desenvolvimento proximal, ou seja, entre o que o indivíduo já
sabe e o que ele tem potencialidade para aprender.

[...] em contato com pessoa mais experiente e com o quadro


histórico-cultural, as potencialidades do aprendiz são
transformadas em situações em que ativam nele esquemas
processuais cognitivos ou comportamentais. A educação será
um meio para a formação de consciência crítica (Coutinho,
2000, p. 34).
32 Processos Cognitivos e Aprendizagem

A teoria sociointeracionista propõe uma escola dinâmica, com


diferentes formas de interação e na valorização de toda a potencialidade
do aluno, o papel do professor mediador é de organizar formas de
mediação do conhecimento socialmente produzido e do aluno, como um
sujeito desse processo de construção do conhecimento pela interação.
Nesta abordagem considera-se que a avaliação é uma constante
que de forma interativa, dialógica, realizada por mediação, com trocas
de informações, encontros de significado, confrontos de ideias em busca
de um conhecimento maior.
O professor (...) deve dominar os núcleos de conhecimento,
considerando o conceito de aprendizagem mediada: os conteúdos
específicos de sua disciplina e seu contexto as características
psicossociais e cognitivas do aluno; e as habilidades e competência do
mediador do processo da aprendizagem (MORETO, 2003, p. 112).

Aprendizagem Significativa
Em sua aplicação para o contexto escolar, a Aprendizagem
Significativa de Ausubel traz a orientação de que se desenvolvam
propostas didáticas que considerem o aluno como sujeito, levando
em consideração sua história, apresentando o conteúdo de forma que
ele possa relacioná- lo com outros conhecimentos, transformando o
aprender em algo revelador. A aprendizagem significativa demanda um
contexto educacional motivador, preparado pelo professor e um aluno
com predisposição para aprender.
Com relação a avaliação, em uma perspectiva da Aprendizagem
Significativa, ela acontece com o professor sendo um mediador que
busca conhecer o que o aluno sabe sobre o assunto a ser ensinado,
e que construa exemplos e situações que o aluno possa relacionar o
novo conhecimento com informações que já tem, criando significados
que auxiliem-no a ancorar uma nova informação a outra informação já
existente. A avaliação será processual e sempre será para indicar se as
situações mediadoras que o professor utilizou para a ancoragem foram
suficientes ou se é preciso diversificar o formato.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 33

Figura 10: Professor como mediador, ancorando novas informações ao aluno.

Fonte: Pixabay

Então, primeiramente, o professor pergunta o que os alunos


já conhecem sobre o tema, quais os fatos a ele relacionados e qual a
linguagem já conhecida, para depois apresentar o assunto novo, sempre
relacionado com as representações que o aluno manifestou. Nesse
processo, espera-se que os alunos analisem os novos conceitos propostos,
estabeleçam relações com seus conhecimentos e ressignifiquem suas
representações. (MORETO, 2008, p. 40)

RESUMINDO:
Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir
tudo o que vimos. Você aprendeu que as formas de
Avaliação nas situações de ensino-aprendizagem vão variar
conforme os modelos de desenvolvimento psicológico.
Cada modelo reúne teorias que pesquisam e que buscam
compreender como o indivíduo aprende. Estas teorias,
conforme a concepção de indivíduo e seus objetivos,
vão apresentar propostas avaliativas diferenciadas. Você
conheceu cada uma delas e viu que podemos agrupá-
las como Avaliação Formativa (propostas pedagógicas
baseadas no Modelo Interacionista) e Avaliação Formativa
(Pedagogia Tradicional e Pedagogia Tecnicista).
34 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Dificuldades, Distúrbios e Transtornos


de Aprendizagem
DEFINIÇÃO:
Dificuldades, Distúrbios e Transtornos de Aprendizagem
são conceitos ligados à alteração na condição de aprender,
mas são conceitos que as vezes são utilizados sem muito
critério pela literatura, referindo-se a fenômenos diferentes,
com características particulares e vão demandar diferentes
formas de intervenção.

Como foi estudado neste livro, aprender envolve percepção,


memória, atenção, funções superiores, linguagem, afetos, emoções,
motricidade, cognição, interação, cultura, contexto social e significado.
Quando se trata de educação escolar, a didática, os professores, a
escola, sua concepção didática, a família e a comunidade, tudo isso
deve ser considerado para se compreender o fenômeno do aprender e
do não aprender.

Dificuldades de Aprendizagem
As dificuldades de aprendizagem, também denominadas
de problemas de aprendizagem, são situações vivenciadas pelo
aluno no percurso do processo de ensino-aprendizagem e que para
serem analisadas deve-se considerar, de forma sistêmica, todas as
variáveis envolvidas no processo de aprender. “Se caracterizam pela
impossibilidade ou dificuldade momentânea para a aprendizagem,
por motivos internos ou externos que, quando resolvidos, deixam de
obstacularizar ou impedir o aprendizado (CIASCA, 2003 p.43)”.
São consideradas dificuldades de aprendizagem situações
como desmotivação para estudar, problemas emocionais, inadequação
didática, conflitos interpessoais, atraso no desempenho escolar,
dificuldades com as exigências escolares, ou seja, alterações no
processo evolutivo.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 35

Pain (1985) considera que as dificuldades de aprendizagem devem


ser compreendidas acessando todos os processos que utilizados para
aprender, ou seja, a dificuldade pode estar relacionada a alguns desses
processos:
„„ Fatores orgânicos: funcionamento dos órgãos dos sentidos
(visão, audição) e do sistema nervoso central (ritmo, plasticidade,
equilíbrio), funcionamento glandular, nutrição, sono;
„„ Fatores específicos: relacionados a dificuldades na adequação
perceptivo-motora, que não podem ser detectados no funcionamento
orgânico, mas que podem se manifestar na linguagem e na escrita ou na
organização espacial e temporal, dentre outros;
„„ Fatores psicógenos: as dificuldades de aprendizagem podem
ser em função de um sintoma ou de uma inibição. “Quando relacionado a
um sintoma, o não aprender possui um significado inconsciente; quando
relacionado a uma inibição, trata-se de uma retração intelectual do ego”
(PAIN, 1985, p.31), uma defesa, ocorrendo uma diminuição das funções
cognitivas que acaba por acarretar os problemas para aprender;
„„ Fatores ambientais: As condições ambientais que o sujeito
vive e a forma como se relaciona com elas, ou seja, “(...) à quantidade, à
qualidade, frequência e abundância dos estímulos que constituem seu
campo de aprendizagem habitual” (PAIN, 1985, p. 33). Na consideração
à esse fator é importante pesquisar as condições de moradia, as
especificidades do território que mora, acesso a cultura, lazer,
esporte, canais de comunicação, tecnologias, vocação, condições de
empregabilidade.

REFLITA:
Pain (1985) ao chamar nossa atenção aos fatores ambientais
envolvidos nas dificuldades de aprendizagem, nos provoca
à uma observação que vai além de ter ou não recursos,
mas a forma como o indivíduo lida com esse ambiente.
Reflita sobre a frase “não basta situar a pessoa numa classe
social, é necessário além disso elucidar qual é o grau de
consciência e participação.”
36 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Nesta perspectiva, a compreensão das dificuldades de aprendiza-


gem não se limita a relação causal (causa-efeito), a dificuldade como um
problema inerente ao aluno. Chabane (2006) dá outra dimensão para o
conceito de Dificuldade quando o define como:

(...) um termo que caracteriza momentaneamente o


procedimento de uma relação a um objetivo. A dificuldade
se manifesta quando, em sua trajetória, a pessoa encontra
obstáculos” (p.12).

Esta forma de compreender a dificuldade de aprendizagem não


foca somente o problema, pois não posso dizer que a pessoa que não
aprende tal habilidade está com dificuldades para aprender, mas algo a
respeito ela aprende, por isso tem também suas potencialidades. Sendo
necessário dimensionar ao que exatamente está se referindo, quando se
usa a afirmação que o aluno está com dificuldades de aprendizagem, essa
generalização não permite um enfoque para a compreensão exata sobre
qual dificuldade se refere e a coloca como algo inerente e patológico ao
indivíduo. “É preferível dizer que ele está com dificuldade para aprender
a ler a afirmar que ele tem dificuldade de ler da mesma forma que nos
referimos a alguém que tem escarlatina” (CHABANE, 2006, p. 15)
Compreendendo, portanto, com mais abrangência as dificuldades
de aprendizagem, sabemos que elas podem ser decorrentes de vários
fatores e que a intervenção nestas situações, devem considerar todos
esses fatores e sua interrelações, como as condições sociais, a escola
e sua proposta metodológica, a família, a comunidade, as condições de
saúde, emocionais e cognitivas.

Distúrbios de Aprendizagem
O termo distúrbio, as vezes, é utilizado de forma ampla e sem
critérios para designar dificuldades ou transtornos. Para nos afastarmos
desse uso indiscriminado do termo, vamos nos basear na definição
etimológica e, portanto, aos quadros específicos aos quais esta definição
compreendida vai se referir.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 37

(...) a palavra distúrbio compõe-se radical turbare - significa


“alteração violenta na ordem natural” e pode ser identificado
também nas palavras turvo, turbilhão, perturbar e conturbar.
prefixo dis - tem como significado “alteração com sentido
anormal, patológico” e possui valor negativo. O prefixo dis
é muito utilizado na terminologia médica (por exemplo:
distensão, distrofia). A palavra distúrbio pode ser traduzida como
“anormalidade patológica por alteração violenta na ordem
natural” Etimológica, a expressão distúrbios de aprendizagem –
“anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural
da aprendizagem”, obviamente localizada em quem aprende.
Portanto, um distúrbio de aprendizagem obrigatoriamente
remete a um problema ou a uma doença que acomete o aluno
em nível individual e orgânico (NUTTI, 2002, p. 2).

“O termo distúrbio de aprender tem sido usado para indicar uma


perturbação ou falha na aquisição e utilização de informações ou na
habilidade para soluções de problemas (CIASCA, 2003, p. 22) ”.
A utilização sem critérios do termo, para classificar situações de
dificuldades de aprendizagem, pode gerar uma patologização do ‘não
aprender’. Por isso é importante a conceituação e o entendimento de que
para se caracterizar um distúrbio de aprendizagem é necessário que seja
diagnosticado, uma disfunção no sistema nervoso central, responsável
pelo armazenamento, elaboração e processamento da informação.
Figura 11: Sistema Nervoso Central.

Fonte: Pixabay
38 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Os distúrbios de aprendizagem podem ser caracterizados por


distorções em processos como sensações, percepções, memória,
motores, atenção, linguagem que podem ser caracterizados por dificulda-
des significativas em habilidades como linguagem, escrita, leitura,
matemática ou na relação entre essas habilidades (CIASCA, 2003).
Se focarmos nos aspectos neuropsicológicos envolvidos no
processo ensino-aprendizagem é possível compreender a dependência
de um pleno funcionamento de toda estrutura cerebral para o
desenvolvimento das funções cognitivas. Como definiu Luria (1977):

[...] o comportamento se realiza por meio de sistemas


funcionais ou módulos constituídos por áreas distintas e inter-
relacionadas do córtex cerebral. Cada área desempenha uma
determinada função, que lhe é própria e necessária para
determinado sistema funcional. (LURIA, 1977 p.41)

Os distúrbios específicos da aprendizagem são:


„„ Dislexia: Dificuldade de leitura e, consequentemente na escrita,
por algum déficit sensorial ou alteração no funcionamento cerebral.
Existem 03 tipos de Dislexia (CIASCA 2003 p. 59, apud PINHEIRO):
a. Dislexia Disfónetica ou Fonológica: dificuldade na conversão
letra-som na leitura de palavras pouco familiares.
b. Dislexia Diseidética: dificuldade de leitura por um problema
no processamento visual.
c. Dislexia Mista: apresentam problemas disfonéticos e
diseidéticos.
„„ Disgrafia: Dificuldade na expressão escrita que se manifesta
ao copiar e/ou estabelecer sequência de letras e/ou na caligrafia. A
disgrafia pode ser classificada em 3 subtipos (CIASCA, 2003 p. 60 apud
ROURQUE, 1995):
a. Disgrafia baseada na linguagem: dificuldade para construir
corretamente a palavra escrita.
b. Disgrafia de execução motora: dificuldade de precisão
motora para a escrita.
c. Disgrafia visuoespacial: dificuldade para distribuir a escrita
no espaço gráfico e na correta separação de palavras.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 39

„„ Discalculia: alteração na capacidade de compreender a


matemática que pode se manifestar desde a incompreensão de cálculos
simples, ou a incapacidade de relacionar a expressão matemática
com a realidade. A compreensão da matemática, no que diz respeito
ao desenvolvimento cognitivo, vai exigir que a criança já seja capaz de
pensar com lógica e com abstração, categorias de pensamento que
podem ser afetadas caso exista alguma disfunção no funcionamento do
Sistema Nervoso Central. Dificilmente existe uma dificuldade específica
com a matemática, ela pode aparecer em comorbidade com outras
dificuldades, às vezes, na leitura e na escrita.
Figura 12: Dificuldades na Matemática.

Fonte: Editorial Telesapiens

Deve-se sempre observar que algumas dificuldades na


compreensão da linguagem podem afetar a capacidade de compreensão
da matemática. Por exemplo, a criança pode não conseguir compreender
o enunciado de uma questão e errar um exercício de matemática, o que
não seria uma discalculia, mas uma dificuldade de leitura.
40 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Transtornos de Aprendizagem

DEFINIÇÃO:
Relacionado ao funcionamento biológico, trata-se de um
transtorno no desenvolvimento neurológico que pode se
manifestar nas habilidades da leitura, escrita ou compressão
matemática abaixo do esperado para a idade. Pode estar
relacionado à interação de fatores genéticos, ambientais e
epigenéticos que influenciam o funcionamento do cérebro
seja em receber ou processar informações tanto verbais
como não verbais (DSM – V, 2002).

Alguns manuais vão classificar a dislexia, disgrafia e discalculia,


estudadas anteriormente, também como transtornos de aprendizagem,
considerando que os dois grupos teóricos vão se referir essencialmente
a fatores orgânicos de funcionamento cerebral.
Para um diagnóstico diferencial sobre transtorno de aprendizagem,
é importante eliminar as seguintes situações, que dizem respeito a
dificuldades de aprendizagem, e não um transtorno de aprendizagem,
são elas (CID 10,1993):
a. Falta de oportunidade de aprender;
b. Descontinuidades educacionais resultantes de mudanças de
escola;
c. Traumatismos ou doença cerebral adquirida;
d. Comprometimento na inteligência global;
e. Comprometimentos visuais ou auditivos adquiridos.
f. Neste tópico vamos caracterizar transtornos que podem
influenciar na aprendizagem, sendo eles:
„„ Transtorno de Déficit de Atenção/hiperatividade: padrão
de conduta que as crianças e adolescentes apresentam, em relação a
dificuldade no desenvolvimento da manutenção da atenção, controle de
impulsos, assim como controle motor adequado. A dificuldade em manter
a atenção pode ou não ser acompanhada de hiperatividade (GARCIA, 1998).
As formas de se manifestar podem ser: somente como falta de atenção, ou
somente hiperatividade, ou combinando as duas formas de sintomas.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 41

O TDA/H é um transtorno de difícil diagnóstico que deve envolver


avaliação médica, pedagógica e psicológica e não pode ser confundido
com a inquietação, manifestada por algumas crianças quando expostas
a situações didáticas, que não permitem suas expressões corporais. A
criança se desenvolve pelos movimentos, precisa deles para se expressar
e organizar cognitivamente, as situações ambientais que impedem
essas manifestações, pode levar a comportamentos de impulsividade
e descontrole motor, sendo essas uma reação normativa e não um
transtorno.
„„ Transtornos de Linguagem: podem se manifestar no ritmo da
fala, como a disfemia (gagueira), que se caracteriza pela dificuldade na
expressividade da linguagem. Mutismo eletivo, que seria a incapacidade
de se manifestar pela linguagem expressiva, em ambientes que não lhe
trazem sensação de segurança, se trata de um aspecto que envolve
também fatores emocionais e de organização da personalidade (GARCIA,
1998).
„„ Transtorno do Espectro Autista: não é necessariamente um
transtorno de aprendizagem, mas por apresentar prejuízos persistentes
na comunicação e interação social, bem como nos comportamentos
que podem incluir os interesses e os padrões de atividades, sintomas
que estão presentes desde a infância e limitam ou prejudicam o
funcionamento diário do indivíduo, podem vir a prejudicar a condição de
aprendizagem. (DSM V,2002).
„„ Transtornos invasivos do desenvolvimento não autísticos:
referem-se a transtornos como:
a. Síndrome de Rett: desordem do desenvolvimento neurológico
relativamente rara, tendo sido reconhecida pelo mundo no início da
década de 1980. Desde então, diversos estudos já apontaram que pode
ocorrer em qualquer grupo étnico com aproximadamente a mesma
incidência. (CID 10, 1993).
b. Transtorno Desintegrativo da Infância: transtorno
desintegrativo da infância (TDI), também conhecido como síndrome de
Heller, é uma doença grave, rara, de causa desconhecida, que provoca
perda das habilidades já adquiridas nas áreas da linguagem, interação
social e capacidades motoras (CID,1993).
42 Processos Cognitivos e Aprendizagem

c. Transtornos Invasivos do Desenvolvimento não autístico:


O TID-SOE é uma categoria diagnóstica de exclusão e não possui regras
especificadas para sua aplicação. Alguém pode ser classificado como
portador de TID-SOE se preencher critérios no domínio social e mais um
dos dois outros domínios (comunicação ou comportamento). Além disso, é
possível considerar a condição mesmo se a pessoa possuir menos do que
seis sintomas no total (o mínimo requerido para o diagnóstico do autismo),
ou idade de início maior do que 36 meses (SCHWARTZMAN. 2006, p. 49)
São transtornos, cada qual com sua especificidade compor-
tamental, mas que tem em comum alterações expressivas no desenvol-
vimento normativo nos aspectos motores, comunicacionais e cognitivos
e, portanto, podem desencadear transtornos de aprendizagem.
„„ Deficiências Intelectuais, Sensoriais, Motoras: não são e
não podem ser confundidas com transtornos de aprendizagem, mas
podem, devido as áreas de comprometimento em função da deficiência,
desencadearem transtornos ou dificuldades de aprendizagem.
A intervenção nas situações de transtornos de aprendizagem
deve ser sempre multidisciplinar e construída de forma específica para
cada indivíduo, considerando a forma que se manifesta e as adequações
metodológicas e didáticas que vai demandar, para que garantidas as
condições de interação o comprometimento devido ao transtorno ou a
deficiência seja superado por outra área sensorial e de funcionamento
cerebral, sendo possível em algumas situações, principalmente quando
se trata de pessoas com deficiência, a garantia da plena capacidade de
aprendizagem.
Pessoas com deficiência não são e não podem ser consideradas,
pelas características da deficiência, incapazes ou com problemas para
aprender. Adequadas propostas pedagógicas garantem a aprendizagem
diante de vários quadros de deficiência mental, motora ou sensorial.

REFLITA:
Para Refletir sobre a importância das interações, assista
o documentário ‘As borboletas de Zagorzk ‘que mostra o
trabalho de uma escola, na Bielo Rússia criada por Vygostky,
que ensina crianças cego-surdas a desenvolverem sua
plena capacidade cognitiva.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 43

RESUMINDO:
Você aprendeu que Dificuldades, Distúrbios e Transtornos
de Aprendizagem são termos que se referem a
caracterizações bem diferenciadas e, embora exista
muita confusão e uso indiscriminado destes termos. De
forma resumida podemos dizer que as dificuldades de
aprendizagem são situações vivenciadas por fatores
que podem ser relacionados ao indivíduo, a escola, a
família, entre outros, ou mesmo na relação entre eles.
Sobre distúrbios de aprendizagem, você aprendeu que
se trata de uma alteração no funcionamento do Sistema
Nervoso Central e pode se manifestar na dificuldade da
leitura (dislexia), na dificuldade da escrita (disgrafia) ou na
dificuldade na matemática (discalculia). Sobre transtornos
de aprendizagem você aprendeu que são muito utilizados
para se referir aos distúrbios de aprendizagem, mas
que diferenciamos, explicando sobre transtornos como
um conjunto de sintomas que se manifesta de forma
acentuada causando várias alterações no aprender. Você
aprendeu que alguns transtornos de desenvolvimento
como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade,
transtorno do espectro autista, transtornos de linguagem
podem apresentar transtornos de aprendizagem. Além
da caracterização você aprendeu as especificidades da
intervenção e da potencialidade do aprender para além de
qualquer alteração neste percurso.
44 Processos Cognitivos e Aprendizagem

REFERÊNCIAS
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avaliação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
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LURIA, A. R. El cérebro em acción. Barcelona: Editora Manole, 1977.
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